Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra – Um Século Depois”, Academia Militar, 2015, pp. 165-172. Alianças e Planos de Guerra David Martelo Coronel A unificação da Alemanha Das guerras da unificação alemã resultou um ajustamento de fronteiras que rompeu o existente “equilíbrio de poder”. Derrotada a França, em 1871, o que fora um conjunto de pequenos Estados à volta de um Estado de média grandeza, transformara-se num império de grandes dimensões, com uma população que, na Europa, só era superada pela da Rússia. A vitória germânica serviu, também, para alertar as restantes potências para a necessidade de reformas nos seus exércitos, modernizando os estados-maiores e generalizando a conscrição e a manutenção de grandes efectivos nas fileiras. As outras potências tomariam boa nota de que, quando se iniciou a guerra Franco-Prussiana, ao 14.º dia do conflito, os Franceses, de acordo com os seus planos de mobilização, já deveriam ter mais de 385.000 homens junto da fronteira. Todavia, só 200.000 estavam em posição. Em contrapartida, ao 18.º dia, os Prussianos já tinham cerca de 1 milhão de homens prontos a combater. A mobilização tornava-se, assim, num preliminar decisivo, onde a rapidez era essencial. 166 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois” Seguir-se-ia um luzido período de Altos Estudos Militares, com particular relevo para as Escolas alemãs e francesas, salientando-se a publicação de estudos e artigos que antecipavam, com aparente brilhantismo, os contornos de uma futura guerra europeia. Bismarck e as alianças Bismarck percebeu que, para um Império de recente formação, a paz seria um bem precioso. Começou por procurar um aliado que oferecesse algo mais do que um compromisso de neutralidade. O Império Austro-Húngaro fora inimigo da Prússia em 1866, mas as afinidades eram evidentes e, apesar do ressentimento dos Austríacos, a aproximação interessava às duas partes. Em 1873, Bismarck logrou um entendimento tripartido com o czar Alexandre II da Rússia, constituindo, com Francisco José da Áustria, a Liga dos Três Imperadores, órgão de consulta visando a manutenção da paz. Em 1878, a Alemanha acolheu o Congresso de Berlim, gerando a impressão de que o equilíbrio europeu, a solução de diferendos e a paz continental passavam a ser intermediados pelo novo Império. Conquistado esse protagonismo, Bismarck entendeu que chegara o momento de firmar uma sólida aliança com outra das Grandes Potências europeias. Entre a França e a Áustria, a preferência foi, naturalmente, para os vizinhos de língua alemã. Quando começou a ser patente a inclinação de Bismarck, Guilherme I manifestou as suas reservas, parecendo-lhe que não fazia sentido colocar a hipótese de um confronto com a Rússia por causa de qualquer conflito da Áustria com aquela potência. Mas o chanceler logrou levar a sua ideia avante, convencendo o kaiser de que a Áustria, não podendo sozinha fazer frente à Rússia, acabaria por se aliar com ela ou com a França, em qualquer caso provocando o isolamento da Alemanha. O acordo de Dupla Aliança com a Áustria seria, assim, firmado em 7 de Outubro de 1879 e iria vigorar até à eclosão da Grande Guerra. Tratava-se do primeiro acordo defensivo permanente, celebrado em tempo de paz entre duas grandes potências, desde os tempos do Antigo Regime. Todavia, no plano diplomático, afastava da Alemanha uma Rússia que já se sentira prejudicada pelas decisões do Congresso de Berlim. Bismarck considerava, no entanto, que, sendo uma aliança de carácter defensivo, seria útil como travão a uma guerra entre a Áustria-Hungria e a Rússia. Além disso, o chanceler contava com o distanciamento ideológico entre a França e a Rússia para gorar qualquer entendimento. No entanto, no imediato, a Rússia aproximar-se-ia dos dois impérios centrais, reconstituindo-se, em Junho de 1881, a Liga dos Três Imperadores, com a validade de três anos. Cada um dos estados signatários adoptaria uma neutralidade benévola se algum dos outros dois entrasse em guerra com outra potência. Para Bismarck, a Liga afastava a hipótese de uma aliança entre a Rússia e a França e, consequentemente, o pesadelo de uma guerra em duas frentes. Em 1882, quando a Itália temeu que as ambições da França no Norte de África pusessem em risco a sua presença naquele continente, procurou aproximar-se da Alianças e Planos de Guerra 167 Alemanha. Com o assentimento da Áustria, o acordo designado por Tripla Aliança foi assinado em 20 de Maio, com validade por cinco anos. Ainda assim, permanecia a determinação de evitar uma guerra em duas frentes. Por esse motivo, Bismarck quis garantir outro instrumento de segurança que protegesse a Alemanha em caso de guerra com a França. Secretamente, estabeleceu com a Rússia, em 18 de Junho de 1887, um Tratado de Ressegurança, no qual se acordavam regras de neutralidade. A Alemanha abster-se-ia de apoiar a Áustria em caso de ataque desta à Rússia. Em contrapartida, se a França atacasse a Alemanha, a Rússia permaneceria neutral. O compromisso tinha a validade de três anos, podendo ser revalidado. Quando, em 1890, cumpria decidir sobre a revalidação do tratado, surgiram notícias segundo as quais a Rússia estaria a concentrar tropas na região de Kiev para uma ofensiva contra a Alemanha. Apesar de essa ameaça se não ter concretizado, o novo kaiser, Guilherme II, deu a essas notícias o maior crédito, impedindo a renovação do acordo. Bismarck acabaria por pedir a demissão de chanceler, imediatamente aceite pelo kaiser. A aliança franco-russa A não-revalidação do Tratado de Ressegurança abriu caminho a uma ligação de carácter formal, aparentemente improvável, entre um regime republicano de vanguarda e uma monarquia absolutista. Em Julho de 1891, uma esquadra francesa foi recebida com todas as honras, no porto de Kronstadt, pelo próprio Czar. Ergueu-se em França uma onda de entusiasmo pela percepção de que o país iniciava a saída do seu isolamento. No ano seguinte, seria a vez de, entre os dois países, ser celebrado um tratado de auxílio militar recíproco, o qual, na sua cláusula principal, estabelecia um compromisso que iria influenciar decisivamente o processo de declarações de guerra de 1914 e o planeamento estratégico das operações. Segundo essa cláusula, «se a França fosse atacada pela Alemanha ou pela Itália apoiada pela Alemanha, a Rússia empregaria todas as forças disponíveis para atacar a Alemanha; se a Rússia fosse atacada pela Alemanha ou pela Áustria apoiada pela Alemanha, a França empregaria todas as forças disponíveis para atacar a Alemanha.»1 Por fim, em Janeiro de 1894, os dois governos formalizavam a aliança, com a mesma duração da Tripla Aliança. A aproximação franco-britânica Enquanto as principais potências europeias recorriam às alianças, a Grã-Bretanha, na sua condição de primeira potência mundial, sentia-se segura dos seus próprios meios e nada vocacionada para assumir compromissos com outros Estados. Todavia, na viragem do século, surgiram constrangimentos relacionados com o Império GOOCH, George, History of modern Europe – 1878-1919, Henry Holt and Company, Nova Iorque, 1922, p. 183. 1 168 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois” Britânico que ameaçavam tornar incerta a política do Esplêndido Isolamento. O desejo da Alemanha em assumir uma política mundial comparável à da Grã-Bretanha acabaria por empurrar o governo de Londres para um entendimento com a França. Em Maio de 1903, em visita a Paris, Eduardo VII deixava transparecer o carinho com que via a aproximação entre os dois históricos inimigos. Por fim, em Abril de 1904, acertadas as divergências anteriores em matéria colonial, os dois governos assinaram o acordo que ficaria conhecido como Entendimento Cordial, o qual se estenderia à Rússia, em 1907. Não se tratava, porém, de uma aliança para fins de segurança mútua. Todavia, no final de 1905, crescia no governo britânico a convicção de que havia a maior utilidade em prosseguir a política de colaboração com as potências continentais que poderiam opor-se à Alemanha. Liderando essa atitude encontrava-se a figura de Edward Grey, ministro dos Negócios Estrangeiros. Grey entendia que fora criada uma ligação moral com a França, e foi essa ligação que, na prática, justificou um entendimento militar, mesmo inexistindo uma aliança formal. Em 1910, entre os exércitos britânico e francês, havia já uma colaboração visando uma intervenção britânica no continente. Os pontos de desembarque das forças britânicas e a área do Norte da França onde era de esperar que viessem a actuar foram objecto de minuciosos reconhecimentos. Em Março de 1912, a Grã-Bretanha e a França deram novo passo na cooperação militar. Temendo o crescente poderio da esquadra alemã, o primeiro-lorde do Almirantado, Winston Churchill, decidiu transferir para o Mar do Norte a maior parte dos meios navais do Mediterrâneo. Em contrapartida, a quase totalidade da esquadra francesa do Atlântico reunia-se no Mediterrâneo. A Grã-Bretanha assumia o compromisso de defender a costa francesa do Canal da Mancha enquanto a França protegeria os interesses britânicos no Mediterrâneo. Na ausência de uma aliança formal, não deixava de ser um compromisso de defesa comum. Qualquer diplomata bem-intencionado diria que se tratava de um acordo de extrema gravidade. Era-o, sem dúvida, para a França; não o era, porém, para o governo britânico, o qual achava que, mesmo depois de tomar esta medida, mantinha “as mãos livres”. Na perspectiva das outras duas potências do Entendimento, esta atitude inviabilizava, perante a Alemanha, o efeito dissuasor de uma aliança defensiva. A este propósito, em 19 de Fevereiro de 1914, Sazonov escrevia para Benckendorff, embaixador russo em Londres: «A paz mundial só estará garantida quando o Triplo Entendimento [...] for transformado numa aliança defensiva sem cláusulas secretas. Então, o perigo de uma hegemonia alemã dissipar-se-á e cada um de nós poderá dedicar-se aos seus próprios assuntos...»2 A diplomacia britânica entendia, porém, que uma aliança não servia para garantir a paz, mas sim como um compromisso para fazer a guerra. Em contrapartida, TAYLOR, A.J.P., The Struggle for Mastery in Europe, 1848-1918, Oxford University Press, Nova Iorque, 1971, p. 511. 2 Alianças e Planos de Guerra 169 os militares britânicos, mais habituados a valorizar o sentido da palavra honra, tinham a perfeita noção do que representavam os compromissos que, sucessivamente, iam sendo assumidos. A Alemanha e a guerra em duas frentes Foi no contexto da viragem política resultante do afastamento de Bismarck que, em 1891, Alfred von Schlieffen ascendeu às funções de Chefe do Grande Estado-Maior Alemão. Abandonando a estratégia de Moltke, o Velho, na qual, em caso de guerra em duas frentes, se defendia a oeste para permitir um ataque a leste, Schlieffen inverteu as prioridades, apontando a manobra principal contra o inimigo mais poderoso, mais capaz de uma rápida mobilização e com menos espaço para recuar: a França. Argumentava, para o efeito, que a inferioridade numérica da Alemanha tornava esta estratégia NECESSÁRIA e que a lenta mobilização russa, conjugada com uma manobra rápida e envolvente, a tornava POSSÍVEL. O novo plano estipulava um período de seis semanas para a vitória a ocidente, utilizando sete oitavos do potencial de combate germânico. Com o restante oitavo, procuraria conter o inimigo na Frente Oriental, tarefa que se antevia facilitada pela lenta mobilização russa. Vencida a França, seria a vez de transferir o grosso dos meios para leste. Para o sucesso do ataque à França, era forçoso passar logo da mobilização ao estado de guerra, violar a neutralidade belga, cruzar o saliente de Maastricht, na Holanda, e atravessar o pequeno Luxemburgo. Não haveria, portanto, negociações após a mobilização. Deste modo, enquanto uma guerra com a França permitia uma posição expectante relativamente à Rússia, uma guerra com a Rússia implicava, de imediato, uma guerra preventiva contra a França. Quando Moltke, O Jovem, substituiu Schlieffen, foi introduzindo algumas alterações no plano: desistiu do atravessamento da Holanda e foi modificando o balanceamento de forças entre as duas alas do dispositivo a ocidente, tirando da direita e reforçando a esquerda. Moltke esforçou-se por convencer o chanceler Bethmann-Hollweg da necessidade de aumentar os efectivos do Exército para atingir o potencial relativo de combate que o plano exigia. Numa conversa de 21 de Dezembro de 1912, o general chegou mesmo a afirmar-lhe: «A posição central da Alemanha compele-a a [...] aguentar uma das frentes defensivamente, com forças comparativamente fracas, de modo a ser capaz de tomar a ofensiva na frente francesa. Neste flanco, podemos aspirar a uma decisão rápida, enquanto uma ofensiva contra a Rússia constituiria uma tarefa interminável. Mas se queremos mesmo lançar uma ofensiva contra a França, será necessário violar a neutralidade da Bélgica. Só progredindo através do território belga podemos ter esperanças de atacar e derrotar o exército francês em terreno aberto.»3 Moltke to Bethmann Hollweg, 21 Dec 1912, reproduced in Ludendorff, ed., The General Staff and its Problems, pp. 1: 57-69, pp. 61-62. 3 170 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois” Não logrando obter o grau de crescimento de efectivos que preconizava, Moltke ficou obrigado a uma manobra de envolvimento de menor amplitude do que a imaginada por Schlieffen, com a consequente perda do efeito estratégico. O Plano de Guerra francês Em 1911, o general Michel, vice-presidente do Conselho Superior de Guerra, cargo que automaticamente o apontava para Comandante-Chefe do exército em tempo de guerra, endereçou ao ministro da Guerra, Messimy, um documento no qual chamava a atenção para a inevitabilidade de o ataque principal alemão se operar através da Bélgica. Esta visão encontraria a viva oposição da maioria dos outros generais. Em Julho de 1911, em plena crise de Agadir, Messimy decidiu convocar o Conselho Superior de Guerra, de modo a que ficassem patentes as diferenças de opinião entre Michel e os seus pares. Na sequência dessa sessão, o ministro considerou a proposta do general como «uma insanidade» e não tardou a afastá-lo das funções que exercia, substituindo-o pelo general Joffre. Em Outubro de 1911, Joffre encontrou-se com o director do Departamento de Assuntos Políticos do Ministério dos Negócios Estrangeiros, ao qual entregou um documento em que colocava diversas questões relacionadas com os países confinantes com a França. Na parte dedicada à Bélgica, referia as vantagens que qualquer dos contendores teria em manobrar através do pequeno país. Adiantava-se que, sendo certo o respeito da neutralidade da Bélgica por parte da França, o mesmo se não esperava da parte da Alemanha, pelo que seria útil conhecer a opinião do Conselho Superior de Defesa Nacional acerca de uma autorização a dar ao comandante-chefe para estender à Bélgica a sua zona de operações, assim que houvesse notícia da violação deste país pelos Alemães. Em resposta, o Estado-Maior-General recebeu uma série de notas sobre as questões anteriormente colocadas. No que respeitava à neutralidade da Bélgica, era dito: «Temos o dever de não assumir qualquer iniciativa que possa ser considerada como uma violação da neutralidade. Porém, parece adquirido que a Alemanha levará as suas tropas a atravessar o território belga, e teremos, então, que tomar todas as medidas que possam ser necessárias para a boa condução da nossa defesa.»4 Joffre voltaria a este assunto a propósito de um relatório da espionagem francesa, de Março de 1913, no qual se anunciava o reforço dos efectivos do exército alemão. No essencial, o conceito da mobilização que dele transparecia apontava para um ataque de um grande exército, seguido por fortes unidades da landwehr, através da Bélgica. Já depois da guerra, Joffre recordaria, assim, a impressão deixada por esse relatório: «O novo plano de mobilização alemão, quando chegou ao nosso conhecimento, despertou em nós uma dúvida. Mas, considerando que os corpos de exército de reserva JOFFRE, Joseph, Mémoires (1910-1917), vol. I, Plon, Paris, 1932, p. 111. 4 Alianças e Planos de Guerra 171 estavam dotados de uma artilharia reduzida, ainda nos inclinámos, nas vésperas da guerra, a crer que esses corpos de exército, seguindo em segunda linha, não seriam utilizados senão no cerco das praças-fortes, na segurança das comunicações, na defesa de sectores passivos ou na ocupação de territórios conquistados. É preciso dizê-lo: este erro que cometemos pesou profundamente na maneira como organizámos a nossa concentração [...] e, consequentemente, no início das operações.»5 Importa sublinhar que, no planeamento francês para o início de uma guerra com a Alemanha, o compromisso com a Rússia, no sentido de colocar o Exército Alemão imediatamente entre dois fogos, teve um peso decisivo. Assim, em termos gerais, era seguro que as primeiras operações francesas teriam de incluir um empenhamento na fronteira comum. Em Maio de 1913, o Estado-Maior do Exército concluiu a preparação dos preliminares da sua manobra, consubstanciada no célebre Plano XVII. Ao contrário do plano alemão, o plano francês abstinha-se de calendarizar a ofensiva e de estabelecer metas na progressão. Esta opção decorria do entendimento de que a Alemanha era a potência agressora, detendo, portanto, a iniciativa das operações. As acções previstas no Plano XVII assumiam-se, por esse motivo, como uma manobra de mobilização e concentração de forças, destinada a proporcionar uma ofensiva em território alemão, mas cujo desenvolvimento dependeria da manobra do inimigo. Não havendo um plano de operações escrito, Joffre mandara preparar a Directiva n.º 1 e uma série de projectos, que o próprio classificaria em duas grandes categorias: projectos de ofensiva estratégica e projectos de defensiva estratégica. Para cada categoria, eram considerados os casos em que os Alemães respeitariam a neutralidade da Bélgica e os casos em que romperiam pelo Luxemburgo belga. Neste caso, imaginando uma manobra muito menos ampla do que a que constava no plano alemão. Da conjugação do Plano XVII com a Directiva n.º 1, aos cinco exércitos franceses eram atribuídos posicionamentos iniciais ao longo da linha Belfort-Épinal-Nancy-Toul-Verdun-Hirson. O espaço compreendido entre Hirson e o canal da Mancha – precisamente por onde o exército alemão executaria a sua manobra de envolvimento – ficava virtualmente indefeso. O que Schlieffen antevia como uma improvável oferta francesa perfilava-se como possível. O encaixe dos dois planos consentia um movimento de porta giratória que potenciaria o movimento alemão e geraria um vazio entre Paris e a retaguarda francesa. Iniciada a guerra na Frente Ocidental, às operações móveis do mês de Agosto – na pretendida aplicação dos planos de guerra laboriosamente concebidos –, seguiu-se, a curto prazo, um interminável impasse. Incapazes de manobrar debaixo de uma intensidade de fogos cujos efeitos não souberam antever, as tropas de ambos os lados JOFFRE, Joseph, Mémoires (1910-1917), vol. I, Plon, Paris, 1932, pp. 135-136. 5 172 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois” enterraram-se ao longo de uma autêntica fronteira da guerra que se estendia, desde o canal da Mancha até à fronteira suíça. Enterradas ficavam, igualmente, as ilusões doutrinárias e de planeamento geradas pelo que parecia ter sido um auspicioso período de Altos Estudos Militares.