II Simpósio Paulista de Nanotecnologia, Bauru , SP. Nanotecnologia e o meio ambiente: Nanopartículas metálicas no tratamento de águas e solos contaminados por organoclorados Eduardo M. Saccoccio1*(PQ), Camila P. M. Zeitune1(PQ), Sandra L. de Moraes1(PQ). 1 Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT - Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas(CETAE) – Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas. e-mail: [email protected] Palavras-Chave: Compostos Orgânicos Halogenados, Nanoremediação, Nanopartículas Metálicas, Ferro. Introdução Tecnologias emergentes como a nanotecnologia têm sido incorporadas às tecnologias ambientais atualmente disponíveis, e pode ser aplicada para a remediação de uma grande variedade de contaminantes, promovendo reduções nos custos e com maiores eficiências de remediação. Recentemente, houve um aumento nos investimentos em nanotecnologia para proteção ambiental, utilizando-a principalmente na prevenção da poluição e no tratamento e descontaminação de 1 áreas contaminadas . Esta tecnologia apresenta uma série de vantagens quando comparada aos métodos tradicionais de remediação, no entanto, foram realizados poucos estudos de avaliação dos seus riscos ao ambiente, o que leva a algumas incertezas sobre a utilização desse tipo de tratamento1. Micro x Nanopartículas Os primeiros estudos realizados com partículas metálicas focavam na utilização de macro partículas como base para a remediação química. Essas macropartículas apresentavam como vantagem o fato de serem facilmente obtidas e com menores custos de produção. A partir dos resultados apresentados, novos estudos foram realizados centrados na utilização de menores tamanhos de partículas, chegando, atualmente, ao uso de -9 partículas na nanoescala (10 m). Um exemplo de aplicação das micropartículas é na construção de barreiras reativas permeáveis (BRPs), exemplificada na Figura 1. Nesse método de tratamento a água atravessa uma barreira constituída de uma mistura de areia e metais (geralmente ferro), saindo tratada pelo outro lado. Remediação Por Materiais Metálicos Estudos evidenciaram que alguns metais sofrem corrosão acelerada devido à presença de compostos orgânicos em meio aquoso, acarretando, assim, a degradação desses contaminantes (Tabela 1)2. A partir da análise desses experimentos, novos estudos foram realizados com o objetivo de desenvolver métodos de tratamento mais eficazes. Tabela 1. Metais utilizados no tratamento de contaminantes. Metais alcalinos Outros metais Sódio Índio Potássio Silício Estanho Alcalino terrosos Sistemas bimetálicos Cálcio Magnésio Fe/Pd Fe/Cu Fe/Ni Metais de transição Fe/Si Ferro Mg/Pd Níquel Zinco Vanádio II Simpósio Paulista de Nanotecnologia, Bauru , SP. Figura 1. Representação do funcionamento da barreira reativa permeável. Com relação às nanopartículas de ferro, além de possuírem maiores taxas de descontaminação, elas também apresentam outras vantagens: (1) as partículas nanométricas de ferro são redutores eficientes, e conseguem promover a redução de uma grande quantidade de contaminantes; (2) possuem uma grande área de contato que favorece sua alta energia e reatividade superficial. (3) Por possuírem um pequeno tamanho, apresentam uma maior mobilidade, permanecendo em suspensão por um longo período de tempo, dessa forma, estabilizando uma maior zona de tratamento. Alem II Simpósio Paulista de Nanotecnologia, Bauru , SP. disso, (4) apresentam uma grande flexibilidade para aplicações in situ e ex situ podendo ser injetadas 5,6 diretamente em solos contaminados (Figura 2) . 2) Por ser um forte agente redutor, o ferro atua na redução de uma série de compostos (Tabela 2), tornando-os menos tóxicos ou isentos de toxicidade. A reação geral de redução de compostos orgânicos halogenados é dada por4: 0 + Fe + RX + H Figura 2. Descontaminação de solo e água subterrânea por injeção de nanopartículas7. Ferro Zero Valente – Zero Valent Iron (ZVI) Dentre os metais utilizados para a descontaminação, o mais estudado é o ferro zero valente. Estudos comprovam sua no tratamento de uma grande variedade de compostos, incluindo os compostos orgânicos halogenados, metais pesados e os compostos nitroaromáticos (Tabela 2). As partículas de ferro vêm sendo alvo de muito interesse ao longo das ultimas décadas, contudo ainda são necessários estudos mais detalhados sobre os fatores que influenciam a reatividade das partículas e parâmetros que possam acelerar os 3 processos de degradação (Figura 3) . Aspectos Gerais 1) O ferro é um agente redutor relativamente forte com um potencial padrão de oxi-redução de -0,440V em relação ao eletrodo de hidrogênio. 25a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química - SBQ - Tabela 2. Lista de contaminantes tratados por nanopartículas de ferro. Metano clorados Trihalometanos Tetracloreto de carbono Bromofórmio Clorofórmio Dibromoclorometano Dibromoclorometano Diclorobromometano Clorometano Etano Clorados Benzeno clorados Tetracloroeteno Hexaclorobenzeno Tricloroeteno Pentaclorobenzeno cis-Dicloroeteno Tetraclorobenzeno trans-Dicloroeteno Triclorobenzenos 1,1-Dicloroeteno Diclorobenzenos Cloreto de vinila Clorobenzeno Outros Policlorados Pesticidas Hidrocarbonetos DDT PCB’s Lindano Pentaclorofenol 1,1,1-Tricloroetano Dioxinas Corantes orgânicos Alaranjado II Chrysoidin Outros Contaminantes Tropaeolin O Orgânicos Laranja ácido N-nitrosodioetilamina Vermelho ácido TNT Metais Pesados Mercúrio Níquel Cádmio Chumbo Cromo Figura 3. Esquema ilustrativo das reações de descontaminação de metais posados e 3 organoclorados por ferro metálico . + Fe² + RH + X Anions Inorgânicos Perclorato Nitrato Dicromato Arsenato 3) Os mecanismos de reação mais aceitos atualmente para a redução de compostos orgânicos halogenados foram propostos por MATHESON e TRATNYEK (1994): na primeira rota (A) a desalogenação ocorre pela transferência direta de elétrons da superfície do metal para o composto organoclorado adsorvido na superfície da partícula. Na segunda rota (B) a reação ocorre a partir da redução do organoclorado pelo Fe2+ gerado no processo de corrosão do ferro metálico e na terceira rota (C) há a hidrogenação do poluente pelo H2 em condições anaeróbias (Figura 4). 2 II Simpósio Paulista de Nanotecnologia, Bauru , SP. Conclusões Figura 4. Representação das três rotas básicas de desalogenação de compostos organoclorados. Sistemas bi-metálicos Apesar das boas eficiências de reação apresentadas pelas nanopartículas, novos estudos foram realizados na busca por partículas ainda mais eficientes. Neste contexto surgem os sistemas bimetálicos. São várias as combinações de metais que podem ser exploradas para remediação ambiental (Tabela 1). O princípio fundamental dessas partículas se baseia principalmente na utilização de um metal “base”, que será consumido para promover a degradação do contaminante, e outro metal associado, que age como "promotor" ou parceiro catalítico, que não é consumido, de forma a maximizar a velocidade e a eficiência da reação 8 (Figura 5) . A partir dessas combinações metálicas é possível obter melhores resultados, de forma mais rápida e com a formação de sub produtos menos nocivos. Figura 5. Exemplo de sistema nanopartículas de ferro e paládio. A nanoremediação implica na utilização de nanopartículas metálicas no tratamento de áreas contaminadas. Estes metais por possuírem algumas propriedades características (como suas propriedades redutivas, por exemplo) promovem a atenuação dos poluentes. Devido seu pequeno tamanho, os nanomaterias podem ser injetados diretamento nos solos contaminados, não sendo necessário o bombeamento de águas ou a remoção de solo para realização dos tratamentos necessários. Por serem eficazes a uma grande variedade de contaminantes há uma grande possibilidade dos métodos de nanoremediação substituírem os tradicionais métodos de descontaminação. Porém, ainda não são muito bem compreendidos os seus potenciais riscos ao meio ambiente e sua ecotoxicidade, o que tem restringido sua aplicação. Apesar destes problemas apresentados, a nanoremediação continua sendo uma área de muito interesse, já que promove maiores eficiências de descontaminação em menores tempos de aplicação. Sendo assim, cabe apenas a realização estudos mais detalhados sobre seus impactos ao ambiente antes de sua utilização em uma grande área contaminada. Agradecimentos Os autores agradecem ao BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – pelo auxílio financeiro. ____________________ 1 Karn, B., Kuiken, T., Otto, M., Environmental Health Perspectives. 2009, 117, 1823. 2 Gillham, R.W. e O’Hannesin, S.F., Ground Water, 1994, 32, 958. 3 Agrawal, A. e Tratnyek P.G., Environmental Science Technology, 1996, 30, 153. 4 Elliot, D.W., Lian H. L. e Zhang, W.X., J. Environ. Qual., 2008, 37, 2192. 5 Elliot, D.W. e Zhang, W.X., Environmental Science Technology, 2001, 35, 4922. 6 Li, X. Q., Elliott, D. W. e Zhang, W. X., Critical Reviews in Solid State and Materials Sciences, 2006, 31, 111. 7 Zhang, W., Journal of Nanoparticle Research, 2003, 5, 323. 8 Nagpal, V., Bokare A.D., Chikate, R.C., Rode, C.V. e Paknikar, K.M. journal of Hazardous Materials, 2010, 175, 680. bi-metálico: 25a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química - SBQ 3