A linguagem é o instrumento com que o homem pensa

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2. AS DIFERENTES LINGUAGENS A linguagem é o instrumento com que o homem pensa e sente, forma estados de alma, aspirações, volições e ações, o instrumento com que influencia e é influenciado, o fundamento último e mais profundo da sociedade humana. L. Hjelmslev A linguagem nasce da necessidade humana de comunicação; nela e com ela, o homem interage com o mundo. Para tratarmos das diferentes linguagens de que dispomos, verbais e não verbais, precisamos, inicialmente, pensar que elas existem para que possamos estabelecer comunicação. Mas o que é, em si, comunicar? Se desdobrarmos a palavra comunicação, teremos: Comunicação: “ comum” + “ ação” , ou melhor, “ ação em comum” . De modo geral, todos os significados encontrados para a palavra comunicação revelam a idéia de relação. Observe: Comunicação: deriva do latim communicare, cujo significado seria “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “trocar opiniões”, “estar em relação com”. Podemos assim afirmar que, historicamente, comunicação implica em participação, interação entre dois ou mais elementos, um emitindo informações, outro recebendo e reagindo. Para que a comunicação exista, então, é preciso que haja mais de um pólo: sem o “outro” não há partilha de sentimentos e idéias ou de comandos e respostas. Para que a comunicação seja eficiente, é necessário que haja um código comum aos interlocutores. Tomemos, agora, o conceito apresentado por Bechara (1999:28) para fundamentar o conceito de linguagem:
Entende­se por linguagem qualquer sistema de signos simbólicos empregados na intercomunicação social para expressar e comunicar idéias e sentimentos, isto é, conteúdos da consciência. A linguagem é, então, vista como um espaço em que tanto o sujeito quanto o outro que com ele interage são ativos. Por meio dela, o homem pode trocar informações e idéias, compartilhar conhecimentos, expressar idéias e emoções. Desse modo, reconhecemos a linguagem como um instrumento múltiplo e dinâmico, isso porque, considerados os sentidos que devem ser expressos e as condições de que dispomos em dada situação, valemo­nos de códigos diferentes, criados a partir de elementos como o som, a imagem, a cor, a forma, o movimento e tantos outros. Vale salientar a idéia de que o processo de significação só acontece verdadeiramente quando, ao apropriarmo­nos de um código, por meio dele nos fazemos entender. 2.1 Linguagem verbal e linguagem não verbal Chamamos de linguagem a todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação. Certamente, você já observou que o ser humano utiliza as mais diferentes linguagens: a da música, a da dança, a da pintura, a dos surdos­mudos, a dos sinais de trânsito, a da língua que você fala, entre outras. Como vemos, a linguagem é produto de práticas sociais de uma determinada cultura que a representa e a modifica, numa atividade predominantemente social. Considerando o sistema de sinais utilizados na comunicação humana, costumamos dividir a linguagem em verbal e não verbal. Assim, temos: a. Linguagem verbal: aquela que utiliza as palavras para estabelecer comunicação. A língua que você utiliza, por exemplo, é linguagem verbal. b. Linguagem não verbal: aquela que utiliza outros sinais que não as palavras para estabelecer comunicação. Os sinais utilizados pelos surdos­mudos, por exemplo, constituem um tipo de linguagem não verbal. 2.2 Linguagem formal e informal Nossa língua apresenta uma imensa possibilidade de variantes lingüísticas, tanto na linguagem formal (padrão) quanto na linguagem informal (coloquial). Elas não são, assim, homogêneas. Especialmente no que se refere ao coloquial, as variações não se esgotam. Alguns fatores determinam essa variedade. São eles: • diferenças regionais: há características fonéticas próprias de cada região, um sotaque próprio que dá traços distintivos ao falante nativo. Por exemplo, a fala espontânea de um caipira difere da fala de um gaúcho em pronúncia e vocabulário; • nível social do falante e sua relação com a escrita: um operário, de modo geral, não fala da mesma maneira que um médico, por exemplo; • diferenças individuais. É importante salientar que cada variedade tem seu conjunto de situações específicas para seu uso e, de modo geral, não pode ser substituída por outra sem provocar, ao menos, estranheza durante a comunicação. O texto de Luis Fernando Veríssimo ilustra uma dessas situações inusitadas:
Aí, Galera Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não? ­ Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera. ­ Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares. ­ Como é? ­ Aí, galera. ­ Quais são as instruções do técnico? ­ Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contra­golpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo­nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação. ­ Ahn? ­ É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça. ­ Certo. Você quer dizer mais alguma coisa? ­ Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas? ­ Pode. ­ Uma saudação para a minha progenitora. ­ Como é? ­ Alô, mamãe! ­ Estou vendo que você é um, um... ­ Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação? ­ Estereoquê? ­ Um chato? ­ Isso. Correio Braziliense, 13/05/1998.
Podemos concluir daí que cada variedade tem seus domínios próprios e que não existe a variedade “certa” ou “errada”. Para cada situação comunicativa existe a variante “mais” ou “menos” adequada. É certo, no entanto, que é atribuída à variante padrão um valor social e histórico maior do que à coloquial. Cabe, assim, ao indivíduo – competente lingüisticamente ­ optar por uma ou outra variante em função da situação comunicativa da qual participa no momento. P or fim, citando Bechara (1999), a linguagem é sempre um estar no mundo com os outros , não como um indivídu o em particular, mas como parte do todo social, de uma comunidade.
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