20 UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIAGNÓSTICO GENÉTICO E MOLECULAR EFEITO DOS PRINCIPAIS METABÓLITOS ACUMULADOS NA ACIDEMIA ISOVALÉRICA SOBRE PARÂMETROS DE ESTRESSE OXIDATIVO EM CÉREBRO DE RATOS GIORGIA MOURA DE BORTOLI Orientador: Prof. Dr. MOACIR WAJNER Co-orientadora: Profa. Dra. ALEXANDRA SUSANA LATINI Dissertação para obtenção do título de Mestre apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Diagnóstico Genético Molecular Universidade Luterana do Brasil Canoas RS, 2007. da “Não passo pela vida e você também não deveria passar. Bom mesmo é ir luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder a classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante.” (Chaplin) AGRADECIMENTOS A todos do grupo de Erros Inatos do Metabolismo pelo excelente convívio. Às amigas, bolsistas, e futuras colegas biomédicas: Bianca, Ângela, Carol, Fernanda e Alana pela parceria sempre. Aos meus colegas de faculdade, profissão, pós-graduação e acima de tudo grande amigos: Vanessa, Paula, Silvana e Luis Fernando obrigado pela amizade. À Manu, por ser a minha família aqui em Porto Alegre, pelas conversas, desabafos, obrigada por ser uma amiga tão especial com quem pude contar em todos os momentos. Ao César, obrigado por ser sempre tão prestativo comigo. Aos queridos Gus, Pati, Carol Viegas, Anelise e Anna Laura pelas dicas, excelente convívio, e pelo clima alegre que sempre proporcionaram. À Lucila, pelo coleguismo e ajuda com os trabalhos. Aos queridos Rafa, Alexandre Solano e Carolzinha, pessoas incríveis, pelas conversas, risadas, e por tornar meus dias no laboratório mais divertidos. À Ana Paula, obrigada pelos conselhos, ajuda, carinho e amizade. Ao Guilhian, “o chefe do estresse oxidativo”, indispensável para realização desse trabalho, obrigada por estar sempre presente, ter paciência comigo, e principalmente por ser um amigo maravilhoso. Ao meu querido bolsista Alexandre, fundamental pela sua competência dedicação, obrigada por tudo. Ao professor Moacir, pela oportunidade maravilhosa de trabalhar em seu laboratório, pelo carinho e dedicação demonstrados desde o primeiro momento. Pelos ensinamentos, broncas, e elogios que com certeza me tornaram uma pessoa melhor. À Lali, minha amiga e co-orientadora, por estar sempre disposta a me ajudar, e por ter me dado todo o apoio que precisei, te adoro baby. Aos primos Débora e Luciano, por todo carinho. Às minhas irmãs, pela amizade, companheirismo, respeito, e amor incondicional... Ao meu querido namorado, pela disposição de pegar um ônibus todos finais de semana para ficar comigo, obrigado pela paciência, carinho e compreensão... por estar sempre ao meu lado, fazer todas as minhas vontades, me apoiar em tudo, e me fazer tão feliz. Aos meus pais, pelo exemplo de amor, caráter... Por confiarem em mim, acreditarem em mim, e acima de tudo por fazerem dos meus sonhos, os seus. Dedico minha conquista a vocês, os melhores pais do mundo. A Deus por ser tão generoso comigo. SUMÁRIO Lista de Abreviaturas Lista de Figuras RESUMO ABSTRACT 1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 19 1.1 Erros Inatos do Metabolismo.................................................................. 19 1.1.1 Acidemias Orgânicas.............................................................................. 21 1.1.1.1 Acidemia Isovalérica............................................................................. 22 1.1.1.1.1 Aspectos Clínicos.............................................................................. 25 1.1.1.1.2 Aspectos Bioquímicos....................................................................... 26 1.1.1.1.3 Deficiência da enzima....................................................................... 27 1.1.1.1.4 Aspectos moleculares........................................................................ 27 1.1.1.1.5 Diagnóstico....................................................................................... 28 1.1.1.1.6 Tratamento....................................................................................... 29 1.2 Radicais livres.......................................................................................... 30 1.2.1 Lipoperoxidação...................................................................................... 32 1.2.2 Defesas antioxidantes............................................................................. 33 1.2.3 Estresse Oxidativo................................................................................... 33 1.2.4 Estresse Oxidativo em mitocôndrias ...................................................... 35 1.2.5 Estresse Oxidativo e doenças neurodegenerativas................................ 36 2 OBJETIVOS DO ESTUDO........................................................................... 39 2.1 Objetivo Geral............................................................................................. 39 2.2 Objetivos Específicos................................................................................. 39 3 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................ 41 3.1 Reagentes.................................................................................................. 41 3.1.2 Reagentes utilizados............................................................................. 41 3.1.3 Equipamentos e outros materiais............................................................ 42 3.2 Caracterização da amostra........................................................................ 43 3.3 Estudos in vitro........................................................................................ 43 3.3.1 Preparação de frações enriquecidas de mitocôndrias............................ 43 3.3.2 Preparação de membranas mitocondriais............................................... 44 3.4 Estudos ex vivo........................................................................................ 44 3.4.1 Cirurgia Cerebral..................................................................................... 44 3.4.1.1 Procedimentos cirúrgicos..................................................................... 44 3.4.1.2 Anestesia.............................................................................................. 44 3.4.1.3 Coordenadas do ventrículo lateral........................................................ 45 3.4.1.4 Craniotomia e injeção da substância estudada.................................... 45 3.4.1.5 Sacrifício dos animais e isolamento das substancias estudadas......... 46 3.4.1.6 Preparação dos homogeneizados de córtex, estriado e hipocampo cerebral............................................................................................................. 46 3.5 Parâmetros de estresse oxidativo.......................................................... 46 3.5.1 Lipoperoxidação.................................................................................... 46 3.5.1.1 Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS)........................ 46 3.5.1.2 Quimiluminescência induzida por Ferro e Ácido Ascórbico.................. 47 3.5.2 Medida da oxidação de proteínas........................................................ 47 3.5.2.1 Medida de grupamentos sulfidrila em membranas mitocondriais......... 47 3.5.2.2 Formação de carbonilas....................................................................... 48 3.5.3 Medida das atividades antioxidantes não enzimáticas...................... 48 3.5.3.1 Potencial antioxidante total (TRAP)...................................................... 48 3.5.3.2 Determinação das concentrações de glutationa reduzida (GSH)................................................................................................................ 49 3.5.4 Medida das atividades das enzimas antioxidantes............................ 49 3.5.4.1 Glutationa Peroxidase (GPx)................................................................ 49 3.5.4.2 Catalase (CAT)..................................................................................... 50 3.5.4.3 Superóxido Dismutase (SOD).............................................................. 50 3.6 Dosagem de proteínas ............................................................................ 51 3.7 Análise estatítica...................................................................................... 51 4 RESULTADOS.............................................................................................. 52 4.1 Estudos in vitro........................................................................................... 52 4.1.1 Efeito in vitro dos metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre as substancias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos 52 jovens................................................................................................................ 4.1.2. Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre a quimiluminescência induzida por íon ferroso (Fe2+) e ácido ascórbico (ASC) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens...................................................................................................... 54 4.1.3 Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre o conteúdo de grupamentos sulfidrila em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens........................................... 56 4.1.4 Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre a formação de carbonilas em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens ................................................................ 58 4.1.5 Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre o potencial antioxidante total (TRAP) em preparações mitocondriais isoladas de ratos jovens............................................................. 60 4.1.6 Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre as concentrações de glutationa reduzida (GSH) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens................................................................................................................ 62 4.1.7. Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre a atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) em preparações mitocondriais isoladas de cérebros de ratos jovens................................................................................................................ 64 4.1.8 Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre a atividade da enzima superóxido dismutase (SOD) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens................................................................................................................ 66 4.2 Estudos ex vivo......................................................................................... 68 4.2.1 Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico sobre a medida de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em córtex cerebral, hipocampo e estriado de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção........................................................................ 4.2.2 Efeitos da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido 68 isovalérico sobre o conteúdo de grupos sulfidrila em córtex cerebral, estriado e hipocampo de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção..... 70 4.2.3 Efeitos da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre as concentrações de glutationa reduzida (GSH) em homogeneizado de córtex cerebral, estriado e hipocampo de ratos jovens 24 horas após a injeção......................................................................................... 71 4.2.4 Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre a atividade da glutationa peroxidase (GPx) em córtex cerebral, hipocampo e estriado de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção.............................................................................................................. 72 4.2.5 Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre a atividade da catalase (CAT) em córtex cerebral, estriado e hipocampo de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção .... 73 4.2.6 Efeitos da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico sobre a atividade da superóxido dismutase (SOD), em córtex cerebral, estriado e hipocampo de cérebro de ratos jovens 24 horas após a 74 injeção.............................................................................................................. 5 DISCUSSÃO.................................................................................................. 76 6 CONCLUSÕES.............................................................................................. 80 BIBLIOGRAFIA................................................................................................ 82 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS 3- OHIVA – ácido 3-hidroxiisovalérico ABAP- 2, 2´-azo-bis-(2-amidinopropano) ANOVA – análise de variância de uma via ASC - ácido ascórbico CAT- catalase CG - cromatografia gasosa DCF - 2, 7-diclorofluoresceína DCFH-DA - diacetato de 2,7-diclorofluoresceína DTNB – ácido 5,5’-ditio-bis (2-nitrobenzóico) EDTA – ácido etileno-diamino-tetra-acético EIM – erros inatos do metabolismo ERN – espécies reativas de nitrogênio ERO – espécies reativas de oxigênio Fe II – íon ferroso Fe III – íon férrico GSH – glutationa reduzida GSSG – glutationa oxidada ICV - intracerebroventricular IVA – ácido isovalérico IVG – isovalerilglicina LDL – lipoproteína de baixa densidade L-NAME – N -nitro-L-argininametiléster LOOH – hidroperóxido lipídico LOO – radical peroxila NAD+ – nicotinamida adenina dinucleotídeo SNC – sistema nervoso central SOD – superóxido dismutase SPSS – pacote estatístico para ciências sociais TBA – ácido tiobarbitúrico TBA-RS – Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico TCA – ácido tricloroacético TRAP – potencial antioxidante total TRO – trolox LISTA DE FIGURA Figura 1.1 Catabolismo da leucina......................................................... Figura 1.2 Formação de espécies reativas de oxigênio via complexos da cadeia respiratória............................................................ Figura 4.1 24 36 Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre as substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens.................................................................................... Figura 4.2 53 Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre as substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens........................................................................... Figura 4.3 Efeito in vitro da isovalerilglicina (IVG) sobre 53 as substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens.................................................................................... Figura 4.4 Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre a quimiluminescência em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens.................................................... Figura 4.5 isoladas de cérebro de ratos jovens...................................... Efeito in vitro da isovalerilglicina (IVG) sobre 55 a quimiluminescência em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens.................................................... Figura 4.7 55 Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre a quimiluminescência em preparações mitocondriais Figura 4.6 54 56 Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre a medida de grupos sulfidrila em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens......................................................... 57 Figura 4.8 Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre a medida de grupos sulfidrila em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens............... Figura 4.9 57 Efeito in vitro da isovalerilglicina (IVG) sobre a medida de grupos sulfidrila em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens......................................................... Figura 4.10 58 Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre a formação de carbonilas em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens......................................................... Figura 4.11 59 Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (30HIVA) sobre a formação de carbonilas em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens...................................... Figura 4.12 59 Efeito in vitro da isovaleriglicina (IVG) sobre a formação de carbonilas em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens......................................................... Figura 4.13 60 Efeito do ácido isovalérico (IVA) sobre o potencial antioxidante total (TRAP) em preparações mitocondriais isoladas de cérebros de ratos jovens.................................... Figura 4.14 61 Efeito do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre o potencial antioxidante total (TRAP) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens............... Figura 4.15 Efeito da isovalerilglicina (IVG) sobre o potencial antioxidante total (TRAP) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens..................................... Figura 4.16 62 Efeito do ácido isovalérico (IVA) sobre as concentrações de glutationa reduzida (GSH) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens............... Figura 4.17 61 63 Efeito do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre as concentrações de glutationa reduzida (GSH) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos...... 63 Figura 4.18 Efeito da isovalerilglicina (IVG) sobre as concentrações de glutationa (GSH) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens.................................................... Figura 4.19 64 Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre a atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens............... Figura 4.20 65 Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre a atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens.................................................................................... Figura 4.21 65 Efeito in vitro da isovalerilglicina (IVG) sobre a atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens............... Figura 4.22 66 Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre a atividade da enzima superóxido dismutase (SOD) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens............... Figura 4.23 67 Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre a atividade da enzima superóxido dismutase (SOD) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens................................................................................... Figura 4.24 67 Efeito in vitro da isovalerilgicina (IVG) sobre a atividade da enzima superóxido dismutase (SOD) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens............... Figura 4.25 68 Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) de ácido isovalérico sobre os níveis das substancias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em córtex cerebral (A), hipocampo (B) e estriado (C) de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção............................................................ Figura 4.26 Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) sobre a formação de grupamentos sulfidrila em córtex cerebral (A), hipocampo (B) e estriado (C) de cérebro de 69 ratos jovens 24 horas após a injeção................................... Figura 4.27 70 Efeito da administração I.C.V. do ácido isovalérico sobre os níveis de glutationa reduzida (GSH) em homogeneizado de córtex cerebral (A), estriado (B) e hipocampo (C) de ratos jovens 24 horas após a injeção................................... Figura 4.28 72 Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) sobre a atividade da enzima antioxidante glutationa peroxidase (GPx) em homogeneizado de córtex (A), estriado (B) e hipocampo (C) de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção............................................................. Figura 4.29 73 Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) sobre a atividade da enzima antioxidante catalase (CAT) em homogeneizado de córtex (A), estriado (B) e hipocampo (C) de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção................................................................................... Figura 4.30 74 Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) sobre a atividade da enzima antioxidante superóxido dismutase (SOD) em homogeneizado de córtex (A), hipocampo (B) e estriado (C) de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção............................................................. 75 RESUMO A acidemia isovalérica é uma doença hereditária neurometabólica causada pela deficiência da isovaleril-CoA desidrogenase da rota de degradação da leucina. É caracterizada bioquimicamente pelo acúmulo nos tecidos e líquidos biológicos dos pacientes principalmente dos ácidos isovalérico (IVA) e 3-hidroxiisovalérico (3OHIVA), bem como da isovalerilglicina (IVG). Os pacientes apresentam também acidose metabólica, acidúria lática, cetonúrica, e hiperamonemia moderadas. Clinicamente a doença caracteriza-se por sintomas neurológicos severos, tais como convulsões, coma e letargia. Tendo em vista que os mecanismos envolvidos no dano cerebral dessa doença até o momento são pouco conhecidos, o presente trabalho teve por objetivo verificar se os principais compostos acumulados nos tecidos de pacientes com acidemia isovalérica provocam dano oxidativo celular in vitro e ex vivo em cérebro de ratos jovens (30 dias) com o intuito de contribuir para uma melhor compreensão da fisiopatogenia do dano neurológico dessa doença. Nossos resultados in vitro demonstraram que a presença de IVG no meio de incubação provocou um aumento seletivo dos níveis de quimiluminescência em preparações mitocondriais de cérebro de ratos jovens, indicando que a IVG induz a lipoperoxidação. Além disso, os IVA e 3-OHIVA foram capazes de aumentar significativamente a formação de carbonilas, indicando dano oxidativo a proteínas em preparações mitocondriais. Os outros parâmetros estudados não foram alterados por estes metabólitos. Estudamos também os efeitos da administração intracerebroventricular I.C.V. do IVA sobre vários parâmetros de estresse oxidativo em homogeneizado de córtex cerebral, estriado e hipocampo de ratos jovens. Verificamos um aumento significativo nos níveis da substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em homogeneizado de córtex e estriado, sem alteração no hipocampo. Encontramos também um aumento significativo na oxidação de proteínas, através da medida de grupamentos sulfidrila em homogeneizado de córtex cerebral, sem que houvesse alteração dessa medida em hipocampo e estriado. Além disso, a administração I.C.V. do IVA não alterou os níveis de glutationa reduzida (GSH) (a principal defesa antioxidante não enzimática do cérebro) em todos os tecidos estudados. No que se refere às defesas antioxidantes enzimáticas, as atividades da glutationa peroxidase e da superóxido dismutase também não foram alteradas pelo IVA nas estruturas cerebrais estudadas, enquanto a atividade da catalase foi significativamente aumentada em estriado pelo IVA. Os aumentos de TBA-RS (lipoperoxidação) e da atividade da catalase no córtex cerebral ex vivo indicam que radicais peróxidos ou derivados possam estar atuando neste efeito. A análise conjunta dos resultados in vitro e ex vivo indica que os principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica não provocam um dano oxidativo extenso em cérebro de ratos jovens. Entretanto, é possível que as pequenas alterações encontradas nos parâmetros de estresse oxidativo identificados no presente trabalho possam agir sinergicamente com outros mecanismos, como por exemplo, uma disfunção energética para explicar a disfunção neurológica encontrada pelos pacientes afetados pela acidemia isovalérica. ABSTRACT Isovaleric acidemia is an inherited neurometabolic disorder caused by deficiency of isovaleryl-CoA dehydrogenase of the catabolism of leucine. It is biochemically characterized by accumulation of isovaleric acid (IVA), 3- hydroxyisovaleric acid (3-OHIVA), as well as isovalerylglycine (IVG) in tissues and biological fluids of the affected individuals. Patients also present metabolic acidosis, lactic aciduria, ketonuria and moderate hiperammonemia. Clinically, it is characterized by severe neurological symptoms, such as convulsions, coma and lethargy. Since the mechanisms involved in the cerebral damage in this disorder are still poorly known, the present work aimed to investigate whether the major compounds accumulating in tissues of isovaleric academic patients cause cellular oxidative damage in vitro and in vivo in brain of young (30-day-old) rats in the hope to contribute to the understanding of the pathogenesis of the neurologic damage in this disorder. Our in vitro data showed that the presence of IVG in the incubation medium provoked a selective increase of quimiluminescence levels in mitochondrial preparations, indicating that IVG induces lipid peroxidation. Furthermore, IVA and 3OHIVA significantly increased carbonyl formation, suggesting a protein oxidative damage in mitochondrial preparations. The other parameters evaluated were not altered by these metabolites. We also evaluated the effects of intracerebroventricular (I.C.V.) administration of IVA on various oxidative stress parameters in homogenates from cerebral cortex, striatum and hippocampus of young rats. We verified a significant increase of reactive substances to barbituric acid (TBA-RS) in cerebral cortex and striatum homogenates, with no alteration in the hippocampus. We also found a significant increment of protein oxidation, determined by sulfhydryl groups in cerebral cortex homogenates, but no alteration of this measure in hippocampus and striatum. Besides, ICV administration of IVA did not alter reduce glutathione (GSH) (the main nonenzymatic antioxidant brain defense) in all tissues studied. Regarding the enzymatic antioxidant defenses, the activities of glutathione peroxidase and superoxide dismutase were not altered by IVA in all brain tissues, whereas that of catalase was significantly increased in the cerebral cortex by this organic acid. The increases of TBA-RS (lipid peroxidation) ex vivo and of catalase activity ex vivo indicate that peroxide radicals or their derivatives may be involved in this effect. Taken together our in vitro and ex vivo results, it may be presumed that the metabolites accumulating in isovaleric acidemia do not provoke a substantial oxidative damage in brain of young rats. However, it is feasible that the little alterations found in the oxidative stress parameters detected in the present study may synergistically act with other mechanisms, such as energetic dysfunction in order to explain the neurologic dysfunction found in patients affected by isovaleric acidemia. 1 INTRODUÇÃO 1.1. Erros inatos do metabolismo Erros inatos do metabolismo são distúrbios hereditários, na maioria dos casos de herança autossômica recessiva, cuja característica bioquímica principal é a deficiência ou ausência da atividade de uma enzima específica de uma rota metabólica (WABER, 1999). O termo erros inatos do metabolismo (EIM) foi utilizado pela primeira vez por Archibald Garrod em 1908 durante estudos realizados com pacientes com alcaptonúria, doença em que os pacientes afetados excretam grandes quantidades de ácido homogentísico na urina. O pesquisador observou que, freqüentemente, um ou mais indivíduos da mesma família eram afetados sem que seus pais ou demais parentes apresentassem a doença. Baseado também na observação da maior incidência de consangüinidade entre os pais dos pacientes e nas leis de Mendel, Garrod propôs um modelo de herança autossômica recessiva para este distúrbio. Através da determinação do ácido homogentísico na urina de pacientes com alcaptonúria e da observação de que esta substância era um metabólito normal da degradação da tirosina, ele relacionou este acúmulo a um bloqueio na conversão do ácido homogentísico até fumarato e acetoacetato. Verificou-se mais tarde que tais alterações resultavam da síntese qualitativa ou quantitativamente anormal de uma proteína, enzimática ou não (SCRIVER et al., 2001). EIM ocorrem na maioria das vezes devido a um defeito enzimático específico que determina um bloqueio de uma via metabólica. Este bloqueio, por sua vez, ocasiona o acúmulo do substrato ou a deficiência do produto da reação, ou então o desvio da rota metabólica com formação de outro produto final. Individualmente raros, têm uma incidência em conjunto estimada em 1:500 a 1:1000 recém-nascidos vivos (TRIFILETTI & PACKARD, 1999;TOUATI et al., 2003). Mais 20 de 500 erros inatos do metabolismo foram descritos e a maioria deles, envolve processos de síntese, degradação, transporte e armazenamento de moléculas no organismo (SCRIVER et al., 2001). Os pacientes portadores de EIM apresentam sintomatologia variada e inespecífica, mesmo aqueles que possuem o mesmo distúrbio. Essa variação fenotípica deve-se a diferentes graus de deficiência enzimática, áreas do metabolismo envolvidas e tecidos afetados. No entanto, as manifestações clínicas mais comuns são as disfunções neurológicas com retardo neuropsicomotor e neurodegeneração progressiva (BURTON, 1987). Os EIM foram classificados por Sinclair (1982), em quatro grupos, dependendo da função exercida pela enzima deficiente e do tecido envolvido, bem como dos aspectos clínicos, bioquímicos, patológicos e terapêuticos: 1) Desordens de transporte: afetam basicamente o transporte renal e/ou intestinal de moléculas orgânicas ou inorgânicas. Exemplos: deficiências de dissacaridases, defeito no transporte de magnésio e Doença de Hartnup. 2) Desordens de armazenamento, degradação e secreção: envolvem proteínas de organelas celulares como o aparelho de Golgi ou os lisossomas. Ocorre o acúmulo de macromoléculas em tecidos específicos. Exemplos: doenças lisossômicas de depósito, glicogenoses e cistinose. 3) Desordens de síntese: deficiência na síntese de proteínas ou outras substâncias com funções importantes tais como hormônios, proteínas plasmáticas e de defesa imunológica. Exemplos: hiperplasia adrenal congênita por deficiência da enzima 21-hidroxilase da rota da síntese do cortisol. 4) Desordens do metabolismo intermediário: caracterizam-se por deficiências enzimáticas das rotas do metabolismo intermediário de moléculas pequenas, comprometendo importantes rotas, como o ciclo do ácido tricarboxílico, o ciclo da uréia, ou outras rotas. Assim, o substrato da enzima deficiente se acumula e, a menos que haja uma rota alternativa para metabolizá-lo, o produto final da reação 21 não será formado. Os mecanismos de dano tecidual podem ocorrer pela ação do substrato acumulado que pode ser tóxico, levando a alterações bioquímicas e danos em determinados tecidos por ser liberado na circulação e transportado para todo o organismo, por seus metabólitos tóxicos ou pela falta de substâncias essenciais ao desenvolvimento do organismo, causada pelo bloqueio metabólico. Considerados os mais freqüentes EIM, esse grupo de desordens têm como exemplo as acidúrias orgânicas, as aminoacidopatias, as desordens do metabolismo das purinas e pentoses, e outros. 1.1.1. Acidemias Orgânicas As acidemias ou acidúrias orgânicas são erros inatos do metabolismo nos quais um ou mais ácidos orgânicos acumulam-se nos tecidos dos pacientes afetados devido à deficiência da atividade de uma enzima do metabolismo de aminoácidos, lipídeos ou carboidratos (CHALMERS & LAWSON, 1982; SCRIVER et al., 2001). Vários ácidos orgânicos estão presentes no sangue e na urina de indivíduos normais, porém em concentrações reduzidas. Nos pacientes com estes distúrbios, estes ácidos encontram-se em altas concentrações no sangue e, principalmente, na urina. Devido ao desconhecimento da classe médica, pela falta de laboratórios especializados e pela dificuldade de diagnóstico, a freqüência destas doenças na população em geral é pouco conhecida. Na Holanda, país considerado referência para o diagnóstico de erros inatos do metabolismo, a incidência destas doenças é estimada em 1: 2.200 habitantes, enquanto que na Alemanha, Israel e Inglaterra é de aproximadamente 1:6.000 – 1:9.000 recém-nascidos (HOFFMANN et al., 2004). Na Arábia Saudita, onde a taxa de consangüidade é elevada, a freqüência é de 1: 740 nascidos vivos (RASHED et al., 1994). No início da década de 80, foi demonstrado que estes distúrbios eram os erros inatos do metabolismo mais freqüentes em crianças severamente enfermas 22 (CHALMERS et al., 1980), o que motivou maiores estudos clínico-laboratoriais e epidemiológicos nos anos que se seguiram. As acidemias orgânicas provocam principalmente manifestações neurológicas que incluem o retardo mental, desordem de movimentos, epilepsia e leucoencefalopatia (BARTH et al., 1992; HÜMER et al., 1998; KÖLKER et al., 2006). Há um subgrupo de acidemias orgânicas chamado “acidemias orgânicas cerebrais”, porque o quadro clínico dos afetados é exclusivamente neurológico. Entretanto os mecanismos responsáveis pelo dano cerebral das acidemias orgânicas são pouco entendidos (HOFFMANN et al., 1994). Clinicamente os pacientes afetados apresentam regressão neurológica, convulsões, coma, ataxia, hipotonia, hipertonia, irritabilidade, tremores, movimentos coreatetóticos, tetraparesia espástica, atraso no desenvolvimento psicomotor e outros. As mais freqüentes manifestações laboratoriais são cetose, cetonúria, neutropenia, trombocitopenia, acidose metabólica, baixos níveis de bicarbonato, hiperglicinemia, hiperglicinúria, hiperamonemia, hipo/hiperglicemia, acidemia lática, aumento dos níveis séricos de ácidos graxos livres, bem como cheiro peculiar na urina e/ou suor (SCRIVER et al., 2001). A tomografia computadorizada e ressonância magnética nuclear mostram que os pacientes afetados por estas doenças freqüentemente apresentam alterações de substância branca (hipomielização e/ou desmielização), atrofia cerebral generalizada ou de gânglios da base (necrose ou calcificação), megaencefalia, atrofia frontotemporal e atrofia cerebelar (MAYATEPEK et al., 1996). 1.1.1.1. Acidemia Isovalérica A acidemia isovalérica (IVA [MIM 243500]) é um erro inato do catabolismo da leucina causado pela deficiência da atividade da enzima isovaleril-CoA desidrogenase (IVD), uma flavoproteína mitocondrial que transfere elétrons via cadeia respiratória (Figura 1.1) (TANAKA et al., 1966). O defeito enzimático resulta no acúmulo de derivados de isovaleril-CoA que se converte em ácido isovalérico, o 23 qual está geralmente aumentado no plasma e na urina. As concentrações de isovalerilglicina e do ácido 3-hidroxiisovalérico também se elevam na urina dos pacientes afetados (BAULNY e SAUDUBRAY, 2002). Foi o primeiro distúrbio do metabolismo de ácidos orgânicos diagnosticado por cromatografia gasosa (GC), sendo esta técnica até o momento o melhor método analítico disponível para ácidos orgânicos (TANAKA et al., 1966; VOLCKEY & ENSENAUER, 2006). Mais de 70 casos de acidemia isovalérica já foram relatados. A tecnologia da espectrometria em massa em Tandem (MS/MS ou MS em Tandem) também tem se tornado útil para o diagnóstico da acidemia isovalérica pela detecção da elevação da isovalerilcarnitina no sangue. 24 Enzima Metabólitos L-Leucina Transaminase Ácido 2-Oxo-Isocapróico Ácido 2-Oxo Desidrogenase Isovaleril-CoA Isovaleril-CoA Desidrogenase 3-Metilcrotonil-CoA 3-Metilcrotonil-CoA Carboxilase 3-Metilglutaconil-CoA 3-Metilglutaconil-CoA Hidratase 3-Hidroxi-3-Metilglutaril-CoA 3-Hidroxi-3-Metilglutaril-CoA Liase* Redutase * Ácido Isovalérico Isovlerilglicina Ácido 3-OH-Isovalérico Ácido 4-OH-isovalérico Ácido Mesacônico Ácido Metilsuccinico Isovalerilglucoronídeo Ácido Isovalerilglutâmico Isovalerilalanina Isovalerilsarcosina Ácido3-OH-Isoheptanóico Isovalerilcarnitina Ácido 3-Metilcrotônico 3-Metilcrotonilglicina Ácido 3-OH-Isovalérico 3-OH-Isovalerilcarnitina Ácido3-Metilglutacônico Ácido 3-Metilglutárico 3-Metilglutarilcarnitina Ácido 3-OH-3-Metil glutárico * Ácido Acetoacético Acetil-CoA Ácido Mevalônico Colesterol Figura 1.1- Catabolismo da Leucina (adaptado de Scriver et al., 2001) Mevalono Lactona 25 1.1.1.1.1 Aspectos Clínicos A acidemia isovalérica pode apresentar fundamentalmente dois fenótipos diferentes (TANAKA, 1990; SWEETMAN & WILLIANS, 2001). O primeiro é a forma aguda, no qual os pacientes têm sintomas neurológicos severos nos primeiros dias de vida (TANAKA et al., 1966; BUDD et al., 1967; EFRON, 1967; LOTT et al., 1972; LEVY et al., 1973; ELSAS & NAGLAK, 1988). O segundo grupo é caracterizado por sintomas relativamente não específicos e de apresentação crônica (forma intermitente crônica) (LEVY et al., 1973; SHIH et al., 1984; BERRY et al., 1988; ELSAS & NAGLAK, 1988, MEHTA et al., 1996). Aproximadamente metade dos pacientes apresenta a doença neonatal severa e aguda e a outra metade a forma intermitente e crônica. As duas formas são devidas ao mesmo defeito bioquímico, ou seja a deficiência da atividade da desidrogenase da isovaleril-CoA. Na forma severa aguda, 3 a 6 dias após o nascimento as crianças começam a recusar o alimento, iniciam a vomitar, tornando-se desidratadas, desatentas e letárgicas. Podem também se apresentar hipotérmicas, com tremores e convulsões (COHN et al., 1978). Um odor de pés suados devido à elevação do ácido isovalérico é descrito. Também ocorrem acidose metabólica com suave a moderada cetonúria, acidemia lática, hiperamonemia, trombocitopenia, neutropenia ou pancitopenia e hipocalcemia (FISCHER et al., 1981). Após, os pacientes tornam-se cianóticos e entram em coma seguido de morte. Mais da metade dos pacientes inicialmente relatados com a forma aguda não sobreviveram, mas com o rápido diagnóstico e as recentes melhoras na terapia, com a administração de glicina e carnitina, o resultado do tratamento tem sido muito mais favorável nos últimos anos. Na forma crônica é menos grave. O primeiro episódio da doença geralmente ocorre durante o primeiro ano de vida. Os episódios subseqüentes freqüentemente ocorrem após infecções respiratórias ou aumento da ingestão de alimentos ricos em proteínas. Tipicamente envolvem vômitos, letargia progredindo para o coma, acidose com cetonúria e o característico odor de pés suados (SHIH et al., 1984). Nestas 26 situações, é necessária a restrição de proteínas e infusão de glicose. Achados adicionais que podem ocorrer durante os episódios incluem diarréia, trombocitopenia, neutropenia, pancitopenia, e em alguns casos alopecia e hiperglicemia; o último pode ser erroneamente confundido com cetoacidose diabética. Hiperglicemia pode ocorrer em várias acidemias orgânicas, incluindo a acidemia isovalérica. Alguns pacientes com a forma crônica intermitente da acidemia isovalérica tem desenvolvimento psicomotor normal, mas alguns têm o desenvolvimento atrasado e lento ou mesmo retardo mental severo. Muitos pacientes adquirem uma aversão natural para alimentos ricos em proteínas. Recentemente, um terceiro grupo de indivíduos com anormalidades bioquímicas leves foi identificado através da análise de sangue de recém nascidos por espectrometria em massa em Tandem (MS/MS) (triagem neonatal em massa). Estes pacientes assintomáticos apresentam mutações no gene da IVD e apresentam pequenas alterações bioquímicas e estão sendo identificados em um numero cada vez maior, podendo, portanto, representar um fenótipo adicional da acidemia isovalérica (ENSENAUER, 2004). 1.1.1.1.2 Aspectos bioquímicos O nome acidemia isovalérica deriva da concentração elevada de ácido isovalérico encontrada no sangue dos pacientes (TANAKA et al., 1966). A concentração normal de ácido isovalérico no plasma é menor do que 10 M. Durante a remissão da doença em tratamento os pacientes podem ter uma concentração de ácido isovalérico normal ou até 10 vezes o normal (10-100 M), mas durante episódios severos os níveis alcançam até 100 a 500 vezes os níveis normais (600 a 5.000 M). A quantidade do ácido isovalérico na urina dos pacientes afetados é na ordem de 8 a 300 mol/dia (normal menos que 2 mol/dia). Por outro lado, o metabólito da isovaleril-CoA que mais se acumula devido à deficiência de atividade da isovaleril-CoA desidrogenase não é o seu produto da hidrólise, o ácido isovalérico, mas um composto amido produzido pela conjugação com a glicina, a isovalerilglicina. Essa reação é catalizada pela enzima mitocondrial 27 glicina N-acilase, a qual também forma benzoilglicina (ácido hipúrico) a partir de benzoil-CoA. A excreção urinária de isovalerilglicina por pacientes com acidemia isovalérica varia de 2.000 a 15.000 mol/dia, comparado com excreções normais de menos do que 15 mol/dia. A excreção é maior durante episódios agudos, mas é ainda muito alta durante a remissão. Durante episódios agudos, quando a quantidade de isovaleril CoA é muito aumentada, a capacidade da glicina N-acilase é excedida, e o ácido isovalérico livre se torna elevado. Um segundo metabólito do ácido isovalérico que foi identificado é o ácido 3-hidroxi-isovalérico. Ele é excretado em quantidades anormais durante episódios agudos, quando pode estar tão alto quanto 3.000 mol/dia. A isovaleril-CoA pode formar também isovalerilcarnitina. No plasma ou em sangue em papel de filtro, a detecção de isovalerilcarnitina elevada é importante para o diagnóstico da doença (ROE et al., 1984). 1.1.1.1.3 Deficiência da Enzima A enzima isovaleril-CoA desidrogenase é um homopolímero de quatro subunidades idênticas. A oxidação do ácido isovalérico para CO2 em leucócitos e a oxidação da leucina para CO2 em fibroblastos é deficiente em pacientes com acidemia isovalérica. Uma técnica sensível para medir a atividade da isovaleril-CoA desidrogenase baseia-se na liberação de trício da isovaleril-CoA. A atividade da enzima na mitocôndria isolada de fibroblastos de pacientes com acidemia isovalérica é da ordem 0 a 3,5% do normal (SHIH et al., 1973). 1.1.1.1.4 Aspectos moleculares A acidemia isovalérica é uma doença autossômica recessiva. O gene da isovaleril-CoA desidrogenase está localizado no cromossomo humano 15q14-q15, consistindo de 12 exons e aproximadamente 15 kb de DNA (PARIMOO & TANAKA, 1993). Análises moleculares do gene IVD em pacientes com sintomática acidemia isovalérica tem identificado diferentes mutações (DUBIEL et al., 1983; VOCKLEY et al., 2006). A apresentação aguda neonatal e a forma intermitente crônica podem ocorrer na mesma família, sugerindo que a heterogeneidade clínica é causada por 28 fatores não genéticos ou por genes reguladores. Porém, os estudos genéticos complementares indicam que os pacientes afetados com a doença apresentam envolvimento de um único locus. 1.1.1.1.5 Diagnóstico O diagnóstico da acidemia isovalérica requer análise de ácidos orgânicos, porque os aspectos clínicos são comuns para várias acidúrias orgânicas. Um odor de pés suados durante os episódios agudos pode ser sugestivo de acidemia isovalérica, mas deve ser distinguido de um odor similar que pode ocorrer na acidúria glutárica tipo II devido ao acúmulo dos ácidos isobutírico, 2-metilbutírico e isovalérico. A acidemia isovalérica deve ser considerada no diagnóstico diferencial de recém nascidos ou crianças mais velhas em que ocorre uma combinação de recusa alimentar, vômitos, letargia, coma, acidose metabólica, cetose, hiperamonemia, hipocalcemia, neutropenia, trombocitopenia, e pancitopenia. A análise de ácidos orgânicos de cadeia curta voláteis no plasma mostra elevação do ácido isovalérico sem elevação dos outros ácidos de cadeia curta, sugerindo o diagnóstico de acidemia isovalérica. No entanto, análises confiáveis de ácidos de cadeia curta no plasma são difíceis, e com freqüência não são prontamente disponíveis. Assim, prefere-se a análise do perfil geral de ácidos que mostra elevações da isovalerilglicina e do ácido 3-hidroxi-isovalérico (TANAKA et al., 1980; LOOTS et al., 2005). Além disso, também se encontra elevações não específicas de lactato, bem como dos ácidos 3-hidroxibutírico e acetoacético (corpos cetônicos). Durante a remissão, o único metabólito observado comumente é a isovalerilglicina (1000 a 3000 mmol/mol de creatinina). A análise dos ésteres de carnitina no sangue e urina é complementar à análise de ácidos orgânicos para o diagnóstico da acidemia isovalérica. As acil-CoAs estão em equilíbrio com as suas acilcarnitinas, sendo as últimas presentes no plasma e prontamente excretadas na urina. A isovalerilcarnitina, portanto, em pequenas quantidades (10 a 20 mmol/mol de creatinina) tem sido identificada por tandem MS na urina de pacientes com acidemia isovalérica, mesmo durante a remissão. A administração oral 100mg/kg de Lcarnitina aumenta a excreção de isovalerilcarnitina até aproximadamente 3200 29 mmol/mol de creatinina, sugerindo que a administração de L-carnitina aumentaria a confiabilidade do diagnóstico da acidemia isovalérica por detecção de acilcarnitinas na urina. O diagnóstico da acidemia isovalérica pode ser confirmado pela deficiência severa da atividade da isovaleril-CoA desidrogenase em fibroblastos pela liberação de trício (HYMAN et al., 1986; LOOTS, 2005). O diagnóstico pré-natal da acidemia isovalérica pode ser feito pela detecção da atividade da isovaleril-CoA desidrogenase em cultura de amniócitos ou pela detecção do ácido isovalérico e da isovalerilglicina em concentrações elevadas no líquido amniótico colhido durante amniocentese (HINE et al., 1986; SHIGEMATSU et al., 1991). 1.1.1.1.6 Tratamento O tratamento de pacientes afetados por acidemia isovalérica durante os episódios agudos é praticamente o mesmo dos afetados por outras acidúrias orgânicas e consta fundamentalmente de hidratação, infusão de glicose para prover calorias e reduzir o catabolismo protéico endógeno e infusão de bicarbonato de sódio para controlar a acidose. O tratamento durante a recuperação e remissão geralmente consiste na restrição de uma dieta natural protéica (1,5 g/Kg de proteína por dia), bem como de leucina na dieta que é precursora do ácido isovalérico. Este tratamento tem sido efetivo na diminuição da freqüência dos episódios de descompensação metabólica. Por outro lado, a concentração de glicina no plasma de pacientes com acidemia isovalérica tende a diminuir durante episódios agudos, sugerindo que quantidades insuficientes de glicina estão disponíveis para a síntese da isovalerilglicina. Assim, o aumento da concentração de glicina plasmática através da ingestão de glicina (250 mg/Kg por dia de glicina dividida em 3 doses) é aconselhável no tratamento desses pacientes à longo prazo, o que provocaria um aumento da razão isovaleril-glicina/ácido isovalérico por aumento da concentração 30 de isovalerilglicina. Quando a glicina foi dada oralmente com um competidor da leucina para um paciente com acidemia isovalérica o usual aumento do ácido isovalérico no plasma foi prevenido e a excreção de isovalerilglicina dobrado (DE SOUZA et al., 1986; ELSAS & NAGLAK, 1988). Além disso, vários pacientes com acidemia isovalérica apresentam uma deficiência de carnitina total e alta percentagem de carnitina esterificada no plasma e na urina. Daí ser aconselhável tratá-los rotineiramente com L-carnitina (100 mg/Kg por dia). 1.2. Radicais livres Um radical livre (RL) é uma estrutura química que possui um elétron desemparelhado, ou seja, ocupando um orbital atômico ou molecular sozinho. Isso o torna muito instável, extraordinariamente reativo e com enorme capacidade para combinar-se inespecificamente com as diversas moléculas (HALLIWELL & GUTERIDGE, 2000; HALLIWELL & GUTERIDGE, 2006). Os radicais livres podem ser formados pela perda de um elétron de um não-radical ou pelo ganho de um elétron por um não-radical. Radicais podem também ser formados em um processo de fissão homolítica, no qual uma ligação covalente é quebrada e cada elétron do par compartilhado permanece com cada um dos átomos envolvidos (HALLIWELL & GUTTERIDGE, 1999; HALLIWELL & GUTERIDGE, 2006). Quando um radical livre reage com um composto não-radical, outro radical livre pode ser formado; assim, a presença de um único radical pode iniciar uma seqüência de reações em cadeia de transferência de elétrons (redox) (MAXWELL, 1995). Nas reações em cadeia induzidas pelos radicais livres, um radical reativo leva à formação de um produto que também é um radical livre e que, por sua vez, reage produzindo um terceiro radical. Em condições fisiológicas do metabolismo celular aeróbio, o oxigênio molecular (O2) sofre redução tetravalente, com aceitação de quatro elétrons, resultando na formação de água (H2O). No entanto, aproximadamente 5% do oxigênio utilizado na cadeia respiratória 31 mitocondrial não é completamente reduzido à água, podendo ser convertido a intermediários reativos como o radical superóxido (O2•−) e hidroxila (OH•), e também o peróxido de hidrogênio (H2O2), processo esse que pode ser exacerbado em condições patológicas (BOVERIS & CHANCE, 1972). O termo genérico espécies reativas de oxigênio (ERO) é usado para incluir não só os radicais formados pela redução do O2 (O2•− e OH•), mas também alguns não-radicais derivados do oxigênio, como o peróxido de hidrogênio (H2O2), o oxigênio singlet (1O2) (HALLIWELL & GUTTERIDGE, 1999). Além dessas, existem ainda as espécies reativas de nitrogênio (ERN), sendo o óxido nítrico (NO•) e o peroxinitrito (ONOO-) as principais representantes. As ERO e ERN ocorrem tanto em processos fisiológicos quanto patológicos do organismo. Fisiologicamente essas espécies reativas apresentam diversas funções (BERGENDI et al., 1999). Assim, um aumento da liberação local de radicais livres pode ser benéfico, como é o caso da liberação de espécies tóxicas oxidantes pelos neutrófilos, que podem atuar na defesa do hospedeiro contra uma infecção (DELANTY & DICHTER, 1998; HALLIWELL & GUTTERIDGE, 2000). Participam ainda de processos de sinalização celular e também estão envolvidos na síntese e regulação de algumas proteínas (WARD & PETERS, 1995). Por outro lado, quando formadas em excesso, essas espécies altamente reativas tem o potencial de oxidar moléculas biológicas incluindo proteínas, lipídios e DNA (MAXWELL, 1995). Com relação aos efeitos prejudiciais das reações oxidantes ao organismo, os radicais livres podem promover lipoperoxidação; podem causar a oxidação de lipoproteínas de baixa densidade (LDL); podem reagir com proteínas, levando à sua inativação e conseqüente alteração de sua função; e podem também reagir com o DNA e RNA, levando a mutações somáticas e a distúrbios de transcrição (DELANTY & DICHTER, 1998), entre outros efeitos. 32 1.2.1 Lipoperoxidação Antes de ser vista como um mecanismo de dano oxidativo, a lipoperoxidação deve ser considerada como um processo fisiológico contínuo que ocorre normalmente nas membranas celulares. Além de ser um fator de renovação da membrana, este processo é essencial na síntese de prostaglandinas e leucotrienos, bem como na fagocitose e pinocitose. No entanto, por serem formadas em grande parte por lipídios insaturados e proteínas, as membranas são particularmente vulneráveis ao ataque oxidativo. Assim, quando a produção de espécies reativas aumentar além da capacidade de detoxificação, esse processo será exacerbado, e com isso, a lipoperoxidação poderá acarretar profundas alterações na estrutura e na permeabilidade das membranas celulares. Isso irá causar perda de seletividade na troca iônica, liberação do conteúdo de organelas e formação de produtos citotóxicos como o malondialdeído e o 4-hidroxinonenal, entre outros eventos (FERREIRA & MATSUBARA, 1997; BECKMAN & AMES, 1998). A lipoperoxidação é representada pelas etapas de iniciação, propagação e terminação. A iniciação é causada pelo ataque a um lipídio de membrana por parte de qualquer espécie que tenha reatividade suficiente para abstrair um átomo de hidrogênio de um grupo metileno (-CH2-). Nesse contexto, radicais hidroxila podem prontamente iniciar a lipoperoxidação. Já que o átomo de hidrogênio tem apenas um elétron, a abstração de H• de um grupo metileno deixa um elétron desemparelhado no carbono (-•CH-). Esse radical formado é geralmente estabilizado por um rearranjo molecular, formando um dieno conjugado. O destino mais provável desse radical é reagir com o O2, formando um radical peroxila (ROO•). Os radicais peroxila, por sua vez, são capazes de abstrair um próton de outra molécula lipídica, sendo esta fase conhecida como a fase de propagação. O radical de carbono formado pode reagir com o O2 para formar outro radical peroxila, e assim sucessivamente. A abstração de um hidrogênio de outro lipídio por parte do radical peroxila gerará um hidroperóxido lipídico (LOOH). O término da reação poderá ocorrer quando dois radicais produzidos nas etapas anteriores reagirem entre si, formando um produto estável (HALLIWELL & GUTTERIDGE, 1999; HALLIWEL & GUTTERIDGE, 2006). 33 1.2.2 Defesas Antioxidantes Para evitar os efeitos danosos das espécies reativas, existem mecanismos eficientes para a detoxificação das mesmas, entre os quais a produção endógena de enzimas antioxidantes e alguns antioxidantes não-enzimáticos. Embora diferindo na composição, as defesas antioxidantes estão amplamente distribuídas no organismo e compreendem: * agentes que removem cataliticamente os radicais livres, como as enzimas superóxido dismutase, catalase, glutationa peroxidase, entre outras; * proteínas que minimizam a disponibilidade de pró-oxidantes (íons de ferro e cobre, por exemplo), ao se ligarem aos mesmos como as transferrinas; * proteínas que protegem biomoléculas de danos (incluindo dano oxidativo) por outros mecanismos; * agentes de baixo peso molecular que aprisionam espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, como glutationa, α-tocoferol, ácido ascórbico e a bilirrubina. 1.2.3 Estresse Oxidativo Em condições normais em organismos saudáveis, a produção de espécies reativas é em sua maior parte balanceada pelos sistemas de defesa antioxidante do organismo. No entanto, em determinadas condições patológicas pode haver um desequilíbrio entre a produção de oxidantes e as defesas antioxidantes, favorecendo a ocorrência de estresse oxidativo. Assim, o termo “estresse oxidativo” é usado para se referir à situação na qual a geração de espécies reativas ultrapassa a capacidade das defesas antioxidantes teciduais disponíveis. Pode resultar tanto de uma diminuição das defesas antioxidantes quanto de uma produção aumentada de oxidantes, bem como da 34 liberação de metais de transição ou a combinação de quaisquer desses fatores (HALLIWELL, 2001). O estresse oxidativo pode promover adaptação, dano ou morte celular: * Adaptação: as células podem geralmente tolerar um estresse oxidativo moderado, que geralmente resulta em aumento da síntese dos sistemas de defesa antioxidante a fim de restaurar o balanço oxidante/antioxidante. Apesar disso, nem sempre o estresse oxidativo precisa envolver defesas antioxidantes aumentadas. * Dano celular: o estresse oxidativo pode danificar todos os alvos moleculares incluindo DNA, proteínas, carboidratos e lipídios (HALLIWELL & GUTTERIDGE, 1999; HALLIWELL & GUTTERIDGE, 2007). * Morte celular: pode ocorrer tanto por necrose quanto por apoptose. Na morte celular por necrose, a célula incha e se rompe, liberando seu conteúdo para o meio extracelular. Pode haver a liberação de antioxidantes, como a catalase e a glutationa, e também de pró-oxidantes, como os íons cobre e ferro e proteínas do grupo heme, agentes esses que podem afetar as células adjacentes, podendo até mesmo impor a elas um estresse oxidativo. Já na apoptose, o mecanismo intrínseco de suicídio celular é ativado, e não há a liberação do conteúdo celular. A morte celular por apoptose pode ser acelerada em certas doenças, como as desordens neurodegenerativas, havendo envolvimento do estresse oxidativo. Além da indução de necrose e apoptose, o estresse oxidativo pode levar a um aumento da lipoperoxidação cujos produtos, malondialdeído e 4-hidroxinonenal, entre outros, são altamente neurotóxicos, e a um dano oxidativo tanto às proteínas, inibindo a atividade de diversas enzimas e alterando a função celular, quanto ao DNA, causando alteração de bases púricas e pirimídicas (HALLIWEL & GUTTERIDGE, 1999; HALLIWEL & GUTTERIDGE, 2007). 35 1.2.4 Estresse oxidativo em mitocôndrias As espécies reativas de oxigênio (ERO) são produzidas no citosol e principalmente na mitocôndria. Cada mitocôndria é capaz de gerar cerca de 10-7M radicais livres por dia e alterações na cadeia de transporte de elétrons podem elevar ainda mais os níveis de radicais livres dentro da mitocôndria. Além disso, uma disfunção mitocondrial causada por diminuição da atividade dos complexos da cadeia respiratória com um conseqüente prejuízo no transporte de elétrons, o que pode levar a uma dispersão dos elétrons na forma de radicais livres potencialmente danosos à célula levando a necrose e apoptose neuronal (DUARTE et al., 2005). Recentemente tem sido observado que os prováveis sítios de formação do radical O2•- seriam o complexo I e complexo III da cadeia respiratória (Figura 2). Durante o processo de transferência de elétrons, a coenzima Q é oxidada gerando a ubisemiquinona, um radical intermediário que pode entrar em contato com o oxigênio e produzir radicais O2•- (NICHOLLS & FERGUSON, 2001). Juntamente com a geração de O2•-, existem evidencias da formação de outras ERO na mitocôndria, como H2O2 e o radical OH•. Estudos também levaram a descoberta de que a mitocôndria é capaz de produzir também NO• através de uma oxido nítrico sintase (NOS) cálcio dependente, localizada na membrana interna mitocondrial (GIULIVI et al., 1998). A geração desses oxidantes levaria a oxidação de proteínas e a liberação do citocromo c para o citoplasma, dando início a apoptose celular (GHAFOUIFAR et al., 1999). 36 e- ee-ee- e- H+++H++2OH H H +` H+` O2 .OH Ciclo de Krebs OH-- .. OO- MnSOD H2O2 Fe2+ GPx Cat H2O + O2 Figura 1.2. Formação de espécies reativas de oxigênio via complexos da cadeia respiratória (adaptada de Mandavilli et al., 2002). 1.2.5 Estresse Oxidativo e Doenças Neurodegenerativas O cérebro é muito dependente de energia para o seu funcionamento normal e a mitocôndria é a estrutura intracelular responsável pela produção dessa energia. Para a produção eficiente de energia na forma de ATP, a mitocôndria possui uma alta demanda por oxigênio, já que utiliza uma grande quantidade de O2 em uma massa de tecido relativamente pequena, o que torna esse tecido altamente susceptível à ação de espécies reativas (KOKOSZKA et al., 2001; CHONG et al., 2005). Outros fatores também contribuem para essa susceptibilidade como o alto conteúdo de ferro presente no cérebro, que pode favorecer a lipoperoxidação, o seu alto conteúdo lipídico em relação aos outros tecidos, principalmente lipídios de cadeia lateral altamente poliinsaturadas, que são extremamente suscetíveis a lipoperoxidação e suas reduzidas defesas antioxidantes, sendo os níveis de catalase particularmente baixos em muitas HALLIWELL & GUTTERIDGE, 2007). regiões cerebrais (HALLIWELL, 1996; 37 Espécies reativas de oxigênio geradas no cérebro podem oxidar lipídios de membrana, proteínas ou DNA, induzindo apoptose ou necrose (HALLIWELL, 2001). Vários estudos já demonstraram a relação existente entre a apoptose induzida por aumento de radicais livres e a patogênese das doenças neurodegenerativas (YUAN & YANKNER, 2000; JUNN & MOURADIAN, 2001). Estudos postmortem demonstraram uma diminuição na atividade do complexo I da cadeia respiratória em cérebros de pacientes portadores de doença de Parkinson. Essa inibição do complexo I acarreta a geração de espécies reativas, tais como ânion superóxido, radicais hidroxila e peroxinitrito, as quais poderiam causar um prejuízo ainda maior na cadeia transportadora de elétrons. Dessa forma, é possível que o estresse oxidativo e a disfunção mitocondrial formem um ciclo vicioso na doença de Parkinson (SCHAPIRA et al., 1989, SCHAPIRA et al., 1990; GU et al., 1998; JANETSKY et al., 1994;). Na doença de Alzheimer, a mais comum dentre as doenças neurodegenerativas, é possível que o estresse oxidativo tenha um papel chave na morte neuronal. Têm sido proposto que o chamadas placas senis, tenha a peptídeo capacidade -amilóide, o formador das de gerar radicais livres espontaneamente. Estudos posmortem in vivo também evidenciaram um dano oxidativo em cérebros humanos com doença de Alzheimer através da observação de aumento de 8-hidroxi-2’-deoxiguanosina (8-OHdGA), produtos de oxidação de outras bases e de RNA, carbonilas de proteínas, nitrotirosina e marcadores de peroxidação lipídica (SMITH et al., 1991; MARKESBERY et al., 1999; NOUROOZ-ZADEH et al., 1999; LOVELL et al., 2000). Por outro lado, vários estudos têm evidenciado um dano oxidativo importante em pacientes portadores da doença de Huntington, particularmente representado pela formação de 3-nitrotirosina nas áreas cerebrais afetadas (ALEXI et al., 2000). Entretanto, o dano oxidativo observado nessa doença aparentemente tem menor importância do que nas doenças de Parkinson e Alzheimer. 38 Considerando a importância dos radicais livres e do estresse oxidativo como importante mecanismo fisiopatogênico de doenças neurodegenerativas, têm surgido diversas drogas para a terapia de pacientes portadores dessas doenças baseadas em um mecanismo antioxidante, tais como seqüestradores de ânion superóxido, análogos da vitamina E, inibidores da peroxidação lipídica e inibidores da enzima óxido nítrico sintase, entre outras. Apesar da acidemia isovalérica ser caracterizada predominantemente por disfunção neurológica e atrofia cerebral, praticamente nada se sabe sobre os mecanismos etiopatogênicos nesta doença e não há até o presente momento tratamento eficaz para essa patologia. Tendo em vista que os mecanismos de neurotoxicidade na acidemia isovalérica são pouco conhecidos e que dano oxidativo tem sido sugerido em várias doenças neurodegenerativas, no presente trabalho estudamos as ações in vitro e ex vivo dos principais metabólitos acumulados nesta doença sobre parâmetros importantes de estresse oxidativo em homogeneizado e mitocôndrias isoladas de cérebro de ratos jovens, com a expectativa de elucidar, ao menos parcialmente, os mecanismos responsáveis pelo dano cerebral nesta doença. 39 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Verificar se os principais compostos acumulados nos tecidos de pacientes com acidemia isovalérica provocam dano oxidativo celular em cérebro de ratos jovens com o intuito de contribuir para uma melhor compreensão da fisiopatogenia do dano neurológico dessa doença. 2.2 Objetivos Específicos a) Determinar os efeitos in vitro dos ácidos isovalérico (IVA) e 3hidroxiisovalérico (3-OHIVA), bem como da isovalerilglicina (IVG) sobre a peroxidação lipídica medida através das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) e da quimiluminescência em mitocôndrias isoladas de cérebro de ratos de 30 dias de vida. b) Determinar os efeitos in vitro dos ácidos isovalérico (IVA) e 3hidroxiisovalérico (3-OHIVA), bem como da isovalerilglicina (IVG) sobre a oxidação de proteínas, determinadas através da formação de carbonilas e da medida de grupamentos sulfidrila em mitocôndrias isoladas de cérebro de ratos de 30 dias de vida. c) Determinar os efeitos in vitro dos ácidos isovalérico (IVA) e 3hidroxiisovalérico (3-OHIVA), bem como da isovalerilglicina (IVG) sobre as defesas antioxidantes não enzimáticas, medidas pelo potencial antioxidante total (TRAP) e glutationa reduzida (GSH) em mitocôndrias isoladas de cérebro de ratos de 30 dias de vida. 40 e) Determinar os efeitos in vitro dos ácidos isovalérico (IVA) e 3hidroxiisovalérico (3-OHIVA), bem como da isovalerilglicina (IVG) sobre as atividades das enzimas antioxidantes glutationa peroxidase (GPx) e superóxido dismutase (SOD) em mitocôndrias isoladas de cérebro de ratos de 30 dias de vida. f) Determinar os efeitos da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre a peroxidação lipídica medida através dos níveis da substancias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em homogeneizado de córtex, hipocampo e estriado de cérebro de ratos de 30 dias de vida. g) Determinar os efeitos da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre a oxidação de proteínas, através da medida de grupamentos sulfidrila em homogeneizado de córtex, hipocampo e estriado de cérebro de ratos de 30 dias de vida. h) Determinar os efeitos da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre a defesa antioxidante não enzimática (GSH) em homogeneizado de córtex, hipocampo e estriado de cérebro de ratos de 30 dias de vida. i) Determinar os efeitos da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre as atividades das enzimas antioxidantes glutationa peroxidase (GPx), catalase (CAT) e superóxido dismutase (SOD) em homogeneizado de córtex, hipocampo e estriado de cérebro de ratos de 30 dias de vida. 41 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Reagentes Todos os reagentes utilizados no presente trabalho foram de grau de pureza pró-análise (p.a.). Os ácidos isovalérico e 3-hidroxiisovalérico, bem como a isovalerilglicina, foram sempre dissolvidos e diluídos na solução tampão específica para cada técnica, no dia da realização dos ensaios. 3.1.2. Reagentes Utilizados • 2-Deoxi-D-Ribose – Sigma • 2, 2’-Azo-Bis-(2-Amidinopropano) (ABAP) – Wako • 2, 7-Diclorofluoresceína – Sigma • Ácido 6-Hidroxi-2, 5, 7, 8-Tetrametil-Cromano-2-Carboxílico (Trolox) – Sigma • Ácido Ascórbico – Sigma • Ácido Isovalérico – Prof Dr Ernesto Brunet (Universidade Autonoma de Madrid, Espanha) • Ácido 3-hidroxiisovalérico- Prof Dr Ernesto Brunet (Universidade Autonoma de Madrid, Espanha) • Isovalerilgicina - Prof Dr Ernesto Brunet (Universidade Autonoma de Madrid, Espanha) • Ácido Metafosfórico – Aldrich • Ácido Tiobarbitúrico – Merck • Ácido Tricloroacético – Synth • Albumina – Sigma • Carbonato de Sódio – Isofar • Cloreto Férrico – Synth 42 • Cloreto de Potássio – Nuclear • Diacetato de 2, 7-Diclorofluoresceína – Sigma • Etilenodiaminotetracético (EDTA) – Sigma • Fosfato de Sódio Dibásico – Vetec • Fosfato de Sódio Monobásico – Vetec • Hidróxido de Sódio – Synth • Glicina – Sigma • Glutationa – Sigma • L-Quinurenina – Sigma • Luminol – Sigma • Orto-Ftaldialdeído – Sigma • Sulfato Cuproso – Merck • Tartarato de Potássio – Merck 3.1.3. Equipamentos e outros materiais - Agitador de tubos modelo Maxi Mix Plus (Thermolyne). - Agitador magnético modelo 1005 (Fisaton). - Balança analítica digital (Sartorius Basic). - Balança digital modelo 430-21 (Kern). - Banho metabólico (Dubnoff). - Banho-maria modelo 1052 (Biomatic). - Centrífuga modelo 5403 (Eppendorf). - Contador de cintilação líquida modelo 1409 (Wallac). - Deionizador. - Destilador. - Espectrofotômetro de leitura cinética e com controlador de temperatura modelo U-2001(Hitachi). - Espectrofotômetro modelo Spectronic Genesys 5 (Milton Roy). - Freezer -20° modelo H5 Electrolux (Prosdócimo). - Freezer -70°C (Scien Temp). - Geladeira (Brastemp). 43 - Guilhotina. - Homogenizador elétrico modelo Potter S (B. Braun Biotech International). - Máquina de fazer gelo (Everest). - Material cirúrgico: tesouras, bisturis e espátulas. - Micropipetas de volume regulável (Gilson). - Microultracentrífuga modelo Himac CS 120 GX (Hitachi). - Potenciômetro modelo Tec-2 (Tecnal). - Tubos plásticos (Eppendorf). - Vidraria: provetas, pipetas graduadas, potter de vidro, balões volumétricos, placas de PetrI, pipetas Pasteur, tubos de ensaio, béqueres, funis, cubetas, vials. 3.2. Caracterização da amostra Foram utilizados 150 ratos Wistar de 30 dias de idade, machos, fornecidos pelo Biotério do Departamento de Bioquímica, ICBS, UFRGS. Os ratos foi mantidos em ciclos de claro-escuro de ±12 horas a uma temperatura de 24±1°C. Os animais tiveram livre acesso à água e ao alimento (ração Supra ou Purina, São Leopoldo, RS). A utilização dos animais seguiu um protocolo experimental aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e os Princípios de Cuidados de Animais de Laboratório (Principles of Laboratory Animal Care, Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos da América, NIH, publicação número 85-23, revisada em 1985). 3.3 Estudos in vitro 3.3.1 Preparação de frações enriquecidas de mitocôndrias No dia do experimento os animais foram sacrificados por decapitação e o cérebro total separado e homogeneizado a 700 x g em tampão fosfato de sódio pH 7,4 contendo 0,3 M de sacarose, 5 mM de MOPS, 1 mM de EGTA e 0,1% de 44 albumina sérica humana, na proporção de 1:10 (peso/volume). Posteriormente o homogeneizado foi centrifugado durante 10 minutos a 1500 x g a 4°C. O sobrenadante desta primeira centrifugação foi novamente centrifugado a 13.000 x g durante 10 minutos a 4°C e o sedimento ressuspenso no tampão de homogeneização (CASSINA et al., 1996). 3.3.2 Preparação de membranas mitocondriais No dia do experimento os animais foram sacrificados por decapitação e o cérebro separado e homogeneizado a 700 x g em tampão Tris 10mM pH7,4 contendo 0,25M de sacarose, na proporção 1: 5 (peso/volume). Posteriormente o homogeneizado foi centrifugado durante 10 minutos a 750 x g a 4°C. O sobrenadante foi centrifugado a 25000 x g a 4°C por 15 minutos. Depois dessa nova centrifugação o sedimento contendo as mitocôndrias foi ressuspendido novamente em tampão Tris 0,1M pH 8,0 e armazenado em alíquotas de 500 L, em tubos do tipo Eppendorf, a -70°C. No dia do experimento as alíquotas foram congeladas e descongeladas 3 vezes e centrifugadas a 15000 x g por 2 minutos para separar as membranas mitocondriais. O sedimento foi lavado três vezes com TCA 6,5% e centrifugado a 15,000 x g por 2 minutos. O sedimento final foi ressuspendido em 200 L de tampão Tris 0,5M, pH 8,3, contendo 0,5mM de EDTA e utilizado para a medida de grupos sulfidrila em membranas de mitocôndria (KOWALTOSKI et al, 1997). 3.4 Estudos ex vivo 3.4.1 Cirurgia cerebral 3.4.1.1 Procedimento cirúrgico 3.4.1.2. Anestesia Antes da cirurgia os animais foram anestesiados com a mistura de cetamina (Francotar, Virbac) e xilazina (Coopazine; Coopers). O anestésico Cetamina foi administrada por via intraperitoneal (i.p.) conjuntamente com o 45 sedativo/miorrelaxante/analgésico xilasina, respectivamente nas doses de 75mg/kg e 10mg/kg (FLECKNELL, 1996). 3.4.1.3 Coordenadas do ventrículo lateral As coordenadas para injeção do ácido isovalérico (IVA), medidas a partir do bregma, foram: AP: antero-posterior; LL: látero-lateral; DV: dorso-ventral, sempre com inclinação da cabeça de -0,33 cm, a partir de indicações do Atlas de Paxinos & Watson (1996). Ventrículo lateral: AP= ± 0,6mm; LL= ± 1,0mm; DV= ± 3,2mm A posição correta das coordenadas foi verificada através de cirurgias-piloto, com injeção de azul de metileno 4% dissolvido em solução salina. 3.4.1.4 Craniotomia e injeção do ácido isovalérico Cada animal operado foi cuidadosamente colocado em um aparelho estereotáxico (David Kopf, modelo 1404), sua cabeça imobilizada com barras interauriculares e a barra de pressão do incisivo (inclinação de -0,33cm), sendo, então, a superfície de seu crânio exposta mediante incisão sagital com um bisturi com lâminas de número 20 ou 21. Uma craniotomia bilateral foi realizada com o emprego de uma broca odontológica nos locais (sobre o crânio exposto) correspondentes às coordenadas antero-posteriores (AP) e látero-laterais (LL) da estrutura. O ácido isovalérico (IVA, 5 µmol, 2 µL) foi injetado lentamente durante 3 minutos em ambos os ventrículos laterais, utilizando-se uma agulha fina (calibre 30) conectada por um tubo de polietileno a uma seringa Hamilton de 10 µL. A agulha foi mantida no local por mais um minuto antes de ser suavemente removida, sendo o tempo cirúrgico de aproximadamente 4 minutos para cada hemisfério. O grupo 46 controle recebeu injeção i.c.v. de solução de NaCl (5 µmol, 2 µL) de maneira semelhante. 3.4.1.5 Sacrifício dos animais e isolamento das estruturas estudadas Os animais foram divididos em dois grupos experimentais e sacrificados por decapitação 24 horas após o procedimento cirúrgico. O cérebro foi rapidamente retirado, o sangue removido e as estruturas estudadas (córtex, estriado e hipocampo) foram rapidamente dissecadas, e congeladas a -80°C até o momento da realização dos testes. O período máximo entre o isolamento das estruturas e a determinação dos parâmetros de estresse oxidativo foi sempre menor do que sete dias. 3.4.1.6 Preparação de homogeneizados de córtex, estriado e hipocampo cerebral No dia do experimento as estruturas cerebrais congeladas foram cortadas manualmente com o uso de um bisturi e depois foram pesadas e homogeneizadas em tampão fosfato de sódio 20 mM, contendo cloreto de potássio 140 mM, pH 7,4, na proporção de 1:10 (peso/volume) e o homogeneizado obtido foi levado à centrifugação a 650 g durante 10 min a 4 ºC. O sobrenadante foi empregado para a medição dos diferentes parâmetros de estresse oxidativo. 3.5. Parâmetros de estresse oxidativo 3.5.1. Lipoperoxidação 3.5.1.1 Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) Os níveis de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) foram determinados de acordo com o método de Yagi (1998) modificado. Uma alíquota de amostra foi adicionada a dois volumes de ácido tricloroacético 10 % e de um volume de ácido tiobarbitúrico 0,67 % preparado em sulfato de sódio. Os tubos contendo a 47 mistura foram incubadas durante 90 min em banho de água fervente e após a incubação resfriados durante 5 min. A formação de TBA-RS gera uma coloração rósea que foi extraída com 450 µL de butanol. A fluorescência da fase orgânica lida a 515 nm e 553 nm como comprimentos de onda de excitação e emissão, respectivamente, em fluorímetro. A curva de calibração realizada utilizando-se 1,1,3,3-tetrametoxipropano e submetida ao mesmo tratamento que as amostras. Os níveis de TBA-RS foram calculados como nmol / mg de proteína. 3.5.1.2. Quimiluminescência induzida por Ferro e Àcido Ascórbico A determinação da quimiluminescência, que representa a emissão espontânea de luminescência, principalmente de lipídios peroxidados, foi realizada de acordo com GONZALEZ-FLECHA e colaboradores (1991). Foram adicionados 3,5 mL de tampão fosfato de sódio 20 mM contendo KCl 140 mM, pH 7,4 em frascos de cintilação. Esses frascos colocados durante cinco minutos em cintilador líquido beta (Tri-carb 2100TR) para a medida da quimiluminescência basal. Após esta leitura, foi adicionada uma alíquota de amostra, 10µl de ácido ascórbico [0,4mM] e 10µl de Ferro [50mM]. Essa mistura foi deixada no escuro por 10 minutos e em seguida a luminuscência foi medida por mais 30 minutos (GUTIÉRREZ et al., 2001). O procedimento foi realizado em sala escura e a temperatura ambiente. A contagem basal foi descontada do valor total e o resultado calculado como cpm / mg de proteína, e foram expressos em percentual do controle. 3.5.2. Medida da oxidação de proteínas 3.5.2.1 Medida de grupamentos sulfidrila em membranas mitocondriais A medida de grupos sulfidrilas em membranas mitocondriais foi feita utilizando um ensaio baseado na redução de tiois a partir do ácido 5,5´- ácido ditio bis (DTNB), gerando um produto final amarelo medido espectrofotometricamente a 412nm (KOWALTOWSKI et al., 1997). 48 Uma alíquota de 40µL das membranas mitocondriais foi incubada a 370C por 30’ minutos com IVA, 3-OHIVA e IVG. Após a incubação, 1mL de DTNB 0,1mM preparado em tampão TRIS 0,5M contendo 0,5mM de EDTA, pH 8,0 foi adicionado, e incubado a temperatura ambiente e no escuro por 30 minutos. A absorvancia foi medida a 412nm, o conteúdo de sulfidrilas é tido como um dano oxidativo irreverssível a proteínas, e o resultado foi expresso nmolsTNB/mg de proteínas. 3.5.2.2 Formação de Carbonilas A formação de carbonilas, um marcador de oxidação a proteínas, foi medida em espectrofotômetro de acordo com REZNICK & PACKER (1994). Uma alíquota de 100 L da incubação foi tratada com 400µL de 10mM 2,4-(DNFH) dissolvida em 2,5N HCL e para o branco 2,5N HCl, e colocada no escuro por uma hora. A amostra foi precipitada com 500µL de TCA 20% e centrifugada por 5 minutos a 10.000 x g. O sedimento foi lavado com etanol: acetato de etila (1:1, V/V) e dissolvido em 550µL de guanidina 6M preparada em HCl, e incubado a 370C. A diferença entre as amostras tratadas com DNFH e tratadas com HCL (branco) foi usada para determinar o conteúdo de carbonilas a 365nm. O conteúdo de carbonilas foi calculado em nmol/mg de proteína, e os resultados expressos em percentual do controle. 3.5.3. Medida das atividades antioxidantes não enzimáticas 3.5.3.1 Potencial Antioxidante Total (TRAP) A medida da capacidade antioxidante total (TRAP) do tecido foi realizada segundo o método de LISSI et al. (1992). Esta determinação é dada pela medida da intensidade de quimiluminescência do luminol induzida pelos radicais peroxila gerados através da decomposição térmica do 2, 2’-azo-bis-(2-amidinopropano) (ABAP) a temperatura ambiente. Para a preparação das soluções de uso (ABAP 10 mM, luminol 4 mM e Trolox 80 µM) foi utilizado tampão glicina 0,1 M, pH 8,6. A solução de ABAP foi utilizada como formadora de radicais livres, a de luminol como amplificadora do sinal de quimiluminescência e a de Trolox (α-tocoferol) como padrão antioxidante. Os tubos utilizados para o ensaio permaneceram vazios no 49 escuro por pelo menos 30 minutos. Para a contagem basal (120 segundos), foram adicionados 4 mL de solução de ABAP 10 mM a um frasco de cintilação. A seguir, 10 µL da solução de luminol foram acrescentados e lidos por mais 120 segundos. Posteriormente a contagem basal, foram adicionados 10 µL de solução de Trolox 80 µM (padrão antioxidante) ou de amostra o que provocará uma diminuição de luminescência por determinado tempo até retornar a valores próximos dos iniciais. O tempo necessário para a luminescência retornar ao valor inicial foi considerado o tempo de indução. O tempo indução é diretamente proporcional à capacidade antioxidante do tecido comparado com o tempo de indução do Trolox. O resultado calculado como nmol de Trolox / mg de proteína, e foram expressos em percentual do controle. 3.5.3.2. Determinação das concentrações de glutationa reduzida (GSH) As concentrações de GSH foram determinadas através do método descrito por BROWNE & ARMSTRONG (1998). As amostras, foram diluídas em 10 volumes de tampão fosfato de sódio, pH 8,0 contendo EDTA 5mM. Foram adicionados a 100 µL dessa preparação 100 µL de o-ftaldeído (1mg / mL preparado em metanol) e a mistura será incubada durante 15 minutos a temperatura ambiente e posteriormente lida em fluorímetro a 350 nm (emissão) e 420 nm (excitação). As concentrações de GSH foram calculadas a partir de uma curva padrão de GSH (0,01 – 1 mM) como nmol / mg de proteína. 3.5.4. Medida das atividades das enzimas antioxidantes 3.5.4.1. Glutationa peroxidase (GPx) A atividade da GPx foi determinada pelo método de WENDEL (1981) usando hidroperóxido de tert-butila como substrato. Em uma cubeta de quartzo foram adicionados os seguintes reagentes: 600 µL de tampão fosfato de potássio 100 mM, pH 7,0, contendo EDTA 1 mM, 10 µL de azida sódica 40 mM, 15 µL de glutationa 100 mM, 15 µL glutationa redutase 10 U / ml, 10 µL NADPH 10 mM e 10 µL de amostra (0,1 – 0,3 µg de proteína). Esta mistura foi incubada a 25 0C durante 1 minuto, a fim de estabilizar o meio e após foram adicionados 50 µL de hidroperóxido 50 de tert-butila 10 mM para iniciar a reação. Os brancos foram preparados substituindo a amostra por tampão fosfato. A queda da absorvância a 340 nm foi lida durante 240 segundos e a atividade da GPx calculada utilizando-se o coeficiente de extinção do NADPH a 340 nm de 6,2 mM-1 cm-1. A atividade da GPx foi calculada como U / mg de proteína (1U = 1 µmol NADPH consumido / min). 3.5.4.2 Catalase (CAT) A atividade desta enzima foi determinada através do método de AEBI (1984). Em 100 µL do sobrenadante serão adicionados 10 µl de Triton 0,1 % seguido de agitação, esta mistura será conservada em banho de gelo durante 15 minutos. Em 50 mL de tampão fosfato de potássio 10 mM pH=7,0 serão adicionados 100µl de H2O2 30% (V/V). Foram pipetados 600 µl deste meio em cubeta de quartzo, e o aparelho estabilizado contra um branco corrido separadamente de tampão fosfato. Após adição de 25 µl de amostra foi realizada a leitura da queda da absorvância do H2O2 em espectrofotômetro a 240nm, em temperatura ambiente (220C ± 2), durante 100 segundos. Para o cálculo da CAT foi utilizará o coeficiente de extinção do H2O2 de 43.6 mM-1cm-1. Os resultados da atividade da CAT foram expressos em U / mg proteína (1U =1 µmol H2O2 consumido / min 3.5.4.3 Superóxido Dismutase (SOD) A atividade da SOD foi medida mediante a utilização do Kit Randox. O método baseia-se na formação do vermelho de formazan através da reação do ânion superóxido (produzido no meio a partir de um sistema xantina-xantina oxidase) e do cloreto de 2-(4-iodofenil)-3-(4-nitrofenol)-5-feniltetrazolio gerando um complexo rosa que é lido a 505 nm. A inibição de formação do cromôgeno foi proporcional à atividade da SOD. 51 3.6 Dosagem de Proteínas A determinação da concentração de proteínas foi feita através do método de LOWRY et al. (1951) e pelo método de BRADFORD et al. (1976) usando como padrão a albumina sérica bovina. 3.7 Análise estatística Os dados foram analisados através da análise de variância de uma via (ANOVA) seguida pelo teste de raios múltiplos de Duncan quando o valor de F for significativo. O teste t de Student para amostras pareadas e a análise de variância com regressão linear também foram aplicados. A análise estatística foi realizada através do programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) em um computador PC-compatível. Valores de P < 0,05 foram considerados significativos. 52 4 RESULTADOS 4.1. Estudos in vitro Inicialmente estudamos o efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA), ácido 3hidroxiisovalérico (3-OHIVA) e da isovaleriglicina (IVG) sobre vários parâmetros de estresse oxidativo. Começamos pelos parâmetros de peroxidação lipídica verificados pela determinação dos níveis de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) e quimiluminescência em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. 4.1.1 Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre as substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens A figura 4.1 mostra que o IVA, mesmo na concentração de 10 mM, não alterou significativamente os níveis de TBA-RS [F(4,15)= 0,457; P=0,766] em preparações mitocondriais de cérebro de ratos. O mesmo ocorreu para o 3-OHIVA em concentrações de até 5 mM [F(4,15) =0,066; P=0,991] (Figura 4.2) e para a IVG em doses de até 1 mM [F(4,15) =0,066; P=0,991] (Figura 4.3). 53 TBA-RS (nmol / mg de proteína) 3 2 1 0 CC o ontrol ntro le 0.1 m M IV A 0 ,1 1 m M1 IV A 5 mM 5 IV A 10 m1M0 IV A IVA (m M) Figura 4.1 – Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre as substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa entre os grupos. 4 ,0 TBA-RS (nmol/mg de proteína) 3 ,5 3 ,0 2 ,5 2 ,0 1 ,5 1 ,0 0 ,5 0 ,0 le C Coonntrtro o le 11 mM 5m 5M 3 O H IV A (m M ) Figura 4.2 – Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre as substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa entre os grupos. 54 4,0 TBA-RS (nmol/mg de proteína) 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 ontrole Co n tro le 0,1m 0 ,1 M 1m 1M IVG (m M ) Figura 4.3 – Efeito in vitro da isovalerilglicina (IVG) sobre as substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 4.1.2. Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre a quimiluminescência induzida por íon ferroso (Fe2+) e ácido ascórbico (ASC) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens Os resultados demonstram que o IVA [t(4)= 0,340; P= 0,756] (Figura 4.4) e o 3-OHIVA [t(4)= 0,217; P= 0,842] (Figura 4.5) não modificaram significativamente a quimiluminescência induzida por Fe2+ e ASC em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Contudo, podemos observar que a IVG [F(2,14)=8,202; P=0,004], na concentração de 1 mM, aumentou significativamente (47%) a quimiluminescência induzida nestas preparações (Figura 4.6). 55 120 Quimiluminescência (% do controle) 100 80 60 40 20 0 Controle Controle IVA 10 10 mM Figura 4.4– Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre a quimiluminescência em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4) e foram expressos em percentagem dos controles (11655,7±1724,7cpm/min). A diferença entre as médias foi calculada pelo teste t de Student para amostras pareadas. Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 140 Quimiluminescência (% do controle) 120 100 80 60 40 20 0 Controle Controle 5 3OHIVA 5 mM Figura 4.5 – Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre a quimiluminescência em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4) e foram expressos em percentual do controle (13112,2±1854,7cpm/min). A diferença entre as médias foi calculada pelo teste t de Student para amostras pareadas. Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 56 195 ** 180 165 Quimiluminescência (% do controle) 150 135 120 105 90 75 60 45 30 15 0 Controle 0,1 1 IVG (mM ) Figura 4.6 – Efeito in vitro da isovalerilglicina (IVG) sobre a quimiluminescência em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4) e foram expressos em percentual do controle (2449 ±151 cpm/min). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA) seguida do teste de Duncan (**P<0,01 comparado ao controle). Estudamos então o efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre a oxidação de proteínas, medida através da determinação do conteúdo dos grupamentos sulfidrila e carbonilas em preparações mitocondriais isoladas de ratos jovens. 4.1.3 Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre o conteúdo de grupamentos sulfidrila em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens A figura 4.7 mostra que o IVA não alterou significativamente a medida de grupamentos sulfidrila em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens [F(3,12)= 0,027; P= 0,994], o mesmo ocorrendo para o 3-OHIVA [F(3,12)= 1,173; P=0,361] (Figura 4.8) e para a IVG (Figura 4.9) [F(3,12)= 0,697; P= 0,572]. 57 50 Conteúdo de Sulfidrilas (nmol TNB/mg de proteína) 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Controle Controle 1 1mM 5 5mM IVA (mM ) 10 10mM Figura 4.7 – Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre a medida de grupos sulfidrila em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. Conteúdo de Sulfidrilas (nmol TNB/mg de proteína) 30 25 20 15 10 5 0 Controle Controle 0,1 M 0,1m 1M 1m 3O HIVA (m M) 5m5M Figura 4.8 – Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre a medida de grupos sulfidrila em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 58 Conteúdo de Sulfidrilas (nmol TNB/mg de proteína) 30 25 20 15 10 5 0 Controle Controle 0,01 0,01mM 0,1 0,1mM 1 1mM IVG (mM ) Figura 4.9– Efeito in vitro da isovalerilglicina (IVG) sobre a medida de grupos sulfidrila em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 4.1.4 Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre a formação de carbonilas em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens Na figura 4.10 demonstramos que o IVA, nas concentrações 1, 5 e 10 mM, aumentou significativamente (41%) a formação de carbonilas em preparações mitocondriais [F(4,15)= 19.270; P= 0,0001]. Verificamos que também que o 3-OHIVA aumentou significativamente (52%) a formação de carbonilas nestas preparações [F(3,12)= 4,932; P= 0,018] (Figura 4.11) de forma dose-dependente [ : 0,637; P= 0,008] e que a IVG não foi capaz de alterar a formação de carbonilas [F(3,12)= 2,311; P=0,128] em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens (Figura 4.12). 59 5 *** Formação de Carbonilas (% do controle) 4 *** *** 3 2 1 0 Controle Control 0.1 mM 0,1 IVA 1 mM 1 IVA 5 mM 5 IVA 10 mM 10 IVA IVA (mM) Figura 4.10 - Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre a formação de carbonilas em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4) e os resultados expressos em percentual do controle (2,07 ± 0,300nmol de carbonila/mg de proteína).. A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA), seguida do teste de Duncan (*** P<0,001, comparado ao controle). 180 Formação de Carbonilas (% do controle) 160 * 140 * 120 100 80 60 40 20 0 Controle 0,1 1 5 3OHIVA (mM) . Figura 4.11 - Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-0HIVA) sobre a formação de carbonilas em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4) e foram expressos em percentual do controle (1,02 ± 0,127nmol de carbonila/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA), seguida do teste de Duncan (**P<0,01 comparado ao controle). 60 120 (% do controle) Formação de Carbonilas 140 100 80 60 40 20 0 Con trole 0,01 0,1 1 IV G (m M ) Figura 4.12 - Efeito in vitro da isovaleriglicina (IVG) sobre a formação de carbonilas em membranas mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4) e os resultados expressos em percentual do controle (1,02±0,127nmol de carbonila/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa entre os grupos. O próximo passo de nossa investigação foi estudar o efeito in vitro dos metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre as defesas antioxidantes não enzimáticas, medidas através da determinação do potencial antioxidante total (TRAP) e glutationa reduzida (GSH) em preparações mitocondriais de córtex cerebral de ratos jovens. 4.1.5. Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre o potencial antioxidante total (TRAP) em preparações mitocondriais isoladas de ratos jovens Verificamos que o IVA [F(3,16)= 0,286; P= 0,848] (Figura 4.13), o 3-OHIVA [F(3,16)=0,298; P=0,826] (Figura 4.14) e a IVG [F(3,12)=0,640; P=0,604] (Figura 4.15) não alteraram significativamente o TRAP em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos. 61 120 TRAP (% do controle) 100 80 60 40 20 0 Controle 1 5 10 IVA (mM) Figura 4.13– Efeito do ácido isovalérico (IVA) sobre o potencial antioxidante total (TRAP) em preparações mitocondriais isoladas de cérebros de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4) e estão expressos em percentual do controle (5986±677 nmol de Trolox/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 140 120 TRAP (% do controle) 100 80 60 40 20 0 Controle Controle 0,1mM 0,1 1mM 1 5mM 5 3OHIVA (mM) Figura 4.14 – Efeito do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre o potencial antioxidante total (TRAP) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4) e estão expressos em percentual do controle (7174 ± 757 nmol de Trolox/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 62 140 120 TRAP (% do controle) 100 80 60 40 20 0 C ontrole Controle 0,01m M 0,01 0,1m M 0,1 1m 1M IVG (mM ) Figura 4.15 – Efeito da isovalerilglicina (IVG) sobre o potencial antioxidante total (TRAP) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4) e estão expressos em percentual do controle (9190± 1,133 nmol de Trolox/mg de proteína). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 4.1.6. Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre as concentrações de glutationa reduzida (GSH) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens A figura 4.16. Demonstra mostra que o IVA não alterou significativamente as concentrações de GSH [F(3,12)= 1,935; P= 0,178]. Também foi observado que o 3- OHIVA [F(3,16)=0,268; P=0,847] (Figura 4.17) e a IVG não alteraram as concentrações de GSH [F(3,12)=0,245; P=0,864] (Figura 4.18) em todas as doses utilizadas. 63 7 GSH (nmol/mg de proteína) 6 5 4 3 2 1 0 Controle C ontrole 1mM 1 5mM 5 10mM 10 IVA (m M ) Figura 4.16 – Efeito do ácido isovalérico (IVA) sobre as concentrações de glutationa reduzida (GSH) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. GSH (nmol/mg de proteína) 4 3 2 1 0 Controle 0,1 0,1mM 1 1mM 5 5mM 3OHIVA (m M ) Figura 4.17 – Efeito do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre as concentrações de glutationa reduzida (GSH) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 64 GSH (nmol/mg de proteína) 4 3 2 1 0 Controle Controle 0,01 0,01mM 0,1mM 0,1 1 1mM IVG (mM ) Figura 4.18 – Efeito da isovalerilglicina (IVG) sobre as concentrações de glutationa (GSH) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa. Estudamos também o efeito dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre as defesas antioxidantes enzimáticas glutationa peroxidase (GPx) e superóxido dismutase (SOD) em preparações mitocondriais isoladas de cérebros de ratos jovens. 4.1.7. Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre a atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) em preparações mitocondriais isoladas de cérebros de ratos jovens Verificamos que o IVA [F(2,9)=2,195; P=0,167] (Figura 4.19), o 3-OHIVA [F(3,12)=0,307; P=0,820] (Figura 4.20) e a IVG [F(3,12)=0,115; P=0,950) (Figura 4.20) não alteraram significativamente a atividade da glutationa peroxidase (GPx) em preparações mitocondriais isoladas de cérebros de ratos jovens. 65 5 GPx (U / mg de proteína) 4 3 2 1 0 Control Controle 10 mM IVA pré-incubação com 10 mM IVA 10 mM IVA com pré-incubação IVA 10 mM + adição de IVA 10 mM Figura 4.19 – Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre a atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle 14 GPx (U/mg de proteína) 12 10 8 6 4 2 0 Controle Control 1M 1m 5m5M 3OHIVA (mM ) Figura 4.20 – Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre a atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 66 10 GPx (U/mg de proteína) 8 6 4 2 0 Controle Controle 0,01 M 0,01m 0,1 0,1mM IVG (mM ) 1 1mM Figura 4.21 – Efeito in vitro da isovalerilglicina (IVG) sobre a atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 4.1.8. Efeito in vitro dos principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre a atividade da enzima superóxido dismutase (SOD) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens Os resultados demonstraram que o IVA [F(3,12)=0,016; P=0,997] (Figura 4.22), o 3OHIVA [F(3,12)=0,005; P=0,999] (Figura 4.23) e a IVG [F(3,12)=0,006; P=0,999] (Figura 4.24) não alteraram significativamente a atividade da SOD em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. . 67 SOD (U/mg de proteína) 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 Controle Controle 1 1mM 5 5mM 10 10mM IVA (mM) Figura 4.22 – Efeito in vitro do ácido isovalérico (IVA) sobre a atividade da enzima superóxido dismutase (SOD) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. SOD (U/mg de proteína) 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 Controle Controle 0,1mM 0,1 1mM 1 5 5mM 3OHIVA (mM) Figura 4.23 – Efeito in vitro do ácido 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA) sobre a atividade da enzima superóxido dismutase (SOD) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 68 SOD (U/mg de proteína) 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 Controle Controle 0,01 0,01mM 0,1 0,1mM 1 1mM IVG (mM ) Figura 4.24 – Efeito in vitro da isovalerilgicina (IVG) sobre a atividade da enzima superóxido dismutase (SOD) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos jovens. Os valores representam média ± erro padrão (n=4). A diferença entre as médias foi calculada por análise de variância de uma via (ANOVA). Não foi detectada nenhuma diferença significativa em relação ao controle. 4.2. Estudos ex vivo O presente estudo também teve por objetivo verificar o efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre parâmetros de estresse oxidativo em córtex cerebral, estriado e hipocampo de ratos jovens. 4.2.1. Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico sobre a medida de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em córtex cerebral, hipocampo e estriado de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção Inicialmente, estudamos o efeito da administração I.C.V do IVA sobre a medida de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) nestas estruturas cerebrais 24 horas após a injeção. A figura 4.25A e 4.25B mostra que a injeção I.C.V do IVA aumentou os níveis de TBA-RS no córtex cerebral (37%) [t(8)=5,005; P=0,001] e no estriado (53%) [t(7)=4,740; P=0,003], respectivamente. No hipocampo, 69 O IVA não alterou significativamente os níveis de TBA-RS [t(4)= 2,305; P=0,082], embora houvesse uma tendência de aumento desses (Figura 4.25C). TBA-RS (nmol/mg de proteína) A 10 Córtex Cerebral 5 0 NaCl TBA-RS (nmol/mg de proteína) B TBA-RS (nmol/mg de proteína) C ** IVA Estriado 10 ** 5 0 NaCl 10 IVA Hipocampo 5 0 NaCl IVA Figura 4.25 – Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) de ácido isovalérico sobre os níveis das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em córtex cerebral (A), hipocampo (B) e estriado (C) de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção. Os valores representam média ± erro padrão (n= 3 – 5). **. P<0,01, teste t de Student para amostras independentes. 70 4.2.2 - Efeitos da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico sobre o conteúdo de grupos sulfidrila em córtex cerebral, estriado e hipocampo de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção Podemos observar na figura 4.26 que a administração I.C.V. do IVA diminuiu (17%) o conteúdo de grupamentos sulfidrila 24 horas após a sua administração no córtex cerebral (A) [t(8)=2,651; P= 0,029], sem alterar este parâmetro no estriado (B) [t(6)= 0,355; P= 0,939] e no hipocampo (C) [t(6)=0,511; P= 0,628]. Conteúdo de Sulfidrilas (nmol TNB/mg de proteína) A (nmol TNB/mg de proteína) Conteúdo de Sulfidrilas B (nmol TNB/mg de proteína) Conteúdo de Sulfidrilas C C ó rte x C e re b ra l 50 * 40 30 20 10 0 NaC l IV A E s tria d o 50 40 30 20 10 0 N aCl 50 IV A H ip o c a m p o 40 30 20 10 0 N aC l IV A Figura 4.26– Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) sobre a formação de grupamentos sulfidrila em córtex cerebral (A), hipocampo (B) e estriado (C) de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção. Os valores representam média ± erro padrão (n= 6 – 8). **. P<0,01, teste t de Student para amostras independentes. O próximo passo de nossa investigação foi o de estudar o efeito da injeção intracerebroventricular do ácido isovalérico sobre as defesas antioxidantes não 71 enzimáticas e enzimáticas do cérebro. Como parâmetro de defesas antiantioxidantes não enzimáticas utilizamos a determinação de glutationa reduzida (GSH), o mais importante agente antioxidante do cérebro, e como parâmetros de defesas enzimáticas medimos a atividade das enzimas glutationa peroxidase, catalase e superóxido dismutase. 4.2.3 - Efeitos da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre as concentrações de glutationa reduzida (GSH) em homogeneizado de córtex cerebral, estriado e hipocampo de ratos jovens 24 horas após a injeção Na figura 4.27 verificamos que a administração I.C.V do IVA não alterou as concentrações de GSH em homogeneizado de córtex cerebral (A) [t(7)= 1,230; P= 0,260], de estriado (B) [t(7)= 1,843; P= 0,108]) e de hipocampo (C) [t(7)= 0,946; P= 0,378] 24 horas após sua administração, embora pode se observar que houve uma tendência para uma diminuição destes níveis no córtex cerebral e estriado. 72 GSH (nmol/mg de proteína) A Córtex Cerebral 20 10 0 N aC l GSH (nmol/mg de proteína) B Estriado 20 10 0 N aC l C GSH (nmol/mg de proteína) IVA IV A Hipocam po 20 10 0 N aC l IV A Figura 4.27 – Efeito da administração I.C.V. do ácido isovalérico sobre os níveis de glutationa reduzida (GSH) em homogeneizado de córtex cerebral (A), estriado (B) e hipocampo (C) de ratos jovens 24 horas após a injeção. Os valores representam média ± erro padrão (n= 6-7). Os resultados foram analisados por teste t de Student para amostras independentes. Não houve diferença significativa entre os grupos. 4.2.4 - Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre a atividade da glutationa peroxidase (GPx) em córtex cerebral, hipocampo e estriado de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção Podemos observar na figura 4.28 que a injeção I.C.V. do IVA não aumentou significativamente a atividade da GPx no córtex cerebral (A) [t(6)= 0,118; P= 0,910], 73 estriado (B) [t(6)= 1,146; P= 0,295] e hipocampo (C) [t(6)=0,870; P= 0,418] 24 horas após sua administração. Córtex Cerebral Atividade da Glutationa Peroxidase (U/mg de proteína) 30 20 10 0 NaCl Estriado Atividade da Glutationa Peroxidase (U/mg de proteína) 30 20 10 0 NaCl 30 Atividade da Glutationa Peroxidase (U/mg de proteína) IVA IVA Hipocampo 20 10 0 NaCl IVA Figura 4.28 – Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) sobre a atividade da enzima antioxidante glutationa peroxidase (GPx) em homogeneizado de córtex (A), estriado (B) e hipocampo (C) de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção. Os valores representam média ± erro padrão (n=4), (*P < 0,05) teste t de Student para amostras independentes. 4.2.5 - Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico (IVA) sobre a atividade da catalase (CAT) em córtex cerebral, estriado e hipocampo de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção 74 Na figura 4.29 observa-se que o IVA não alterou a atividade da CAT em córtex cerebral (A) [t(8)= 0,090; P= 0,930] e no hipocampo (C) [t(11)= 0,860; P= 0,408] 24 horas após a sua administração. No entanto, o IVA aumentou significativamente a atividade da CAT (40%) no estriado (B) [t(11)=3,048; P=0,011]. Catalase (U/mg de proteína) A 5 ,0 C ó rte x C e re b ra l 2 ,5 0 ,0 N aC l (U/mg de proteína) Catalase B IV A E s tria d o 5 ,0 ** 2 ,5 0 ,0 N aC l (U/mg de proteína) Catalase C 5 ,0 IV A H ip o c a m p o 2 ,5 0 ,0 N aC l IV A Figura 4.29– Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) sobre a atividade da enzima antioxidante catalase (CAT) em homogeneizado de córtex (A), estriado (B) e hipocampo (C) de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção. Os valores representam média ± erro padrão (n= 5 11). **P<0,01, teste t de Student para amostras independentes. 4.2.6 - Efeitos da administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido isovalérico sobre a atividade da superóxido dismutase (SOD), em córtex cerebral, estriado e hipocampo de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção 75 A figura 4.30 mostra que a injeção I.C.V do IVA não alterou a atividade da SOD em córtex cerebral (A) [t(5)=0,074; P=0,944], estriado (B) [t(4)= 1,515; P= 0,204] e hipocampo (C) [t(5)= 0,476; P=0,654] 24 horas após a sua administração. SOD (U/mg de proteína) A Córtex Cerebral 3,0 1,5 0,0 N aC l SOD (U/mg de proteína) B IVA Estriado 3,0 1,5 0,0 N aC l SOD (U/mg de proteína) C 3,0 IVA Hipocam po 1,5 0,0 N aC l IVA Figura 4.30 – Efeito da administração intracerebroventricular (I.C.V.) sobre a atividade da enzima antioxidante superóxido dismutase (SOD) em homogeneizado de córtex (A), hipocampo (B) e estriado (C) de cérebro de ratos jovens 24 horas após a injeção. Os valores representam média ± erro padrão (n=4 - 6). Os resultados foram analisados por teste t de Student para amostras independentes. Não houve diferença significativa entre os grupos. 76 5 DISCUSSÃO A acidemia isovalérica é uma doença neurometabólica autossômica recessiva do catabolismo do aminoácido leucina causada pela deficiência da atividade da enzima isovaleril-CoA desidrogenase (TANAKA et al., 1966), levando ao acúmulo preponderante dos ácidos isovalérico (IVA) e 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA), bem como da isovalerilglicina (IVG). As concentrações de IVA atingem 5 mM no sangue dos pacientes, principalmente durante episódios agudos, enquanto as do 3-OHVA e IVG são menores (TANAKA et al., 1966; SWEETMAN & WILLIAMS, 2001; VOCLEY & ENSENAUER, 2006). Existem dois fenótipos clínicos da acidemia isovalérica, ambos devidos ao mesmo defeito bioquímico. São eles a forma neonatal, severa aguda e a forma crônica, menos grave, com início de apresentação mais tardio (SWEETMAN & WILLIAMS, 2001; SCRIVER, 2001). Em ambos os variantes, os sintomas neurológicos, como hipotonia, letargia, coma e convulsões são predominantes. Os achados laboratoriais são de acidose metabólica, moderada cetonúria, acidemia/acidúria láctica e hiperamonemia (FISCHER et al., 1981). Apesar dos sintomas clínicos serem predominantemente neurológicos nesta doença, a fisiopatogenia do dano cerebral é pouco conhecida. Porém, o acúmulo de metabólitos tóxicos na acidemia isovalérica, bem como em outros erros inatos do metabolismo, tem sido postulado contribuir para a neuropatogênese dessas patologias. Assim, se faz necessária uma investigação do papel dos metabólitos acumulados na acidemia isovalérica sobre a função do sistema nervoso central. O presente trabalho teve como objetivo investigar os efeitos do IVA, 3-OHIVA, e da IVG sobre alguns parâmetros importantes de estresse oxidativo in vitro e in vivo em cérebro de ratos jovens. Nos experimentos in vitro, procuramos testar se estes metabólitos são capazes de alterar vários parâmetros de estresse oxidativo em 77 mitocôndrias de cérebro de ratos jovens, uma vez que essas organelas são importantes para a geração de radicais livres. Assim, preparações mitocondriais de cérebro de ratos jovens foram expostas por 30 min ao IVA (1-10 mM), 3OHVA (0,1-5 mM) e IVG (0,01-1 mM), seguidas da medida de lipoperoxidação (TBA-RS e quimiluminescência), dano oxidativo protéico (carbonilas e sulfidrilas), defesas antixidantes não enzimáticas (TRAP e GSH) e defesas antioxidantes enzimáticas (GPx e SOD). A medida da atividade da catalase não foi feita, tendo em vista que esta atividade não está presente nas mitocôndrias. Verificamos que de uma forma geral os três metabólitos examinados tiveram efeitos moderados sobre estes parâmetros em preparações mitocondriais. As únicas alterações destas medidas detectadas foram a quimiluminescência que foi significativamente aumentada pela IVG na concentração mais alta (1 mM) e a formação de carbonilas que foi estimulada pelo IVA nas concentrações de 1, 5 e 10 mM de forma dose-dependente e pelo 3-OHIVA nas concentrações de 1 e 5 mM, também de forma dose-dependente. Estes achados sugerem que o IVG possa ativar a lipoperoxidação em preparações mitocondriais e que o IVA e o 30HIVA causam dano oxidativo protéico. Tendo em vista que o conteúdo de grupos tióis (sulfidrilas) que também sinaliza oxidação de proteínas não foi afetado por estes metabólitos e que o mesmo ocorreu com a medida de TBA-RS (lipoperoxidação), podemos sugerir que estas medidas foram menos sensíveis à ação do IVA, 3-OHIVA e IVG. Por outro lado, as defesas antioxidantes não enzimáticas e enzimáticas também não se alteraram na presença das várias concentrações destes metabólitos, indicando que seu efeito foi leve. Também se poderia concluir que essas substâncias acumuladas na acidemia isovalérica não estimulam substancialmente a produção de radicais livres na mitocôndria, pois, caso contrário, teríamos encontrado alterações nos diversos parâmetros analisados nas preparações mitocondriais. Por outro lado, não se pode excluir a possibilidade de que no citoplasma celular ou em células intactas efeitos mais significativos desses metabólitos fossem encontrados nas medidas analisadas no presente trabalho. As doses do IVA utilizadas nos ensaios in vitro foram similares às encontradas no sangue dos pacientes afetados por acidemia isovalérica que se 78 aproximam de 5 mM durante as crises. Já o 3-OHIVA e a IVG foram utilizadas na dose máxima de 1 mM, visto que estas substâncias se acumulam em menores concentrações nesta doença. Resultados anteriores mostraram que o IVA, mas não o 3-OHIVA e o IVG, inibe marcadamente a atividade da Na+,K+-ATPase em cérebro de ratos jovens e que tal efeito deveu-se à produção de espécies ativas pelo IVA, uma vez que o uso de antioxidantes preveniu totalmente a ação provocada pelo mesmo (RIBEIRO et al., 2007). Desta forma, resolvemos investigar o efeito da injeção intracerebroventricular de IVA (5 µmol em cada ventrículo lateral) sobre alguns parâmetros de estresse oxidativo em homogeneizados totais de várias estruturas cerebrais (córtex, estriado e hipocampo) após 24 horas de sua administração. Observamos um aumento significativo na medida de TBA-RS no córtex cerebral e estriado dos animais causada pelo IVA, enquanto nenhuma alteração desta medida foi verificada no hipocampo. Demonstramos também um incremento da atividade da catalase no estriado e uma oxidação (diminuição do conteúdo) dos grupamentos sulfidrilas no córtex cerebral 24 horas após a injeção de IVA. Tais resultados sugerem que este ácido provoque um aumento da produção de radicais livres, provavelmente radicais peróxido (que ativam a produção e/ou atividade da catalase) e derivados que presumidamente poderiam induzir lipoperoxidação (TBA-RS elevado). O aumento da atividade da catalase poderia ter sido devido ao aumento da sua expressão para converter a produção acelerada de H2O2, em H2O e, portanto, proteger as células de dano mediado por radicais livres. Enfatize-se que o H2O2 pode, na presença de ferro, se converter no radical hidroxila que é o radical com maior toxicidade in vivo e que o estriado é a estrutura cerebral que possui o maior conteúdo deste metal no cérebro. Não podemos no momento interpretar com exatidão as causas da resposta diferencial da administração de IVA sobre as estruturas cerebrais cujas medidas de estresse oxidativo foram quantificadas. Por outro lado, é possível que o estriado e o córtex cerebral foram mais vulneráveis à ação deste ácido por serem mais vascularizados, permitindo, portanto, maior influxo do IVA com aumento de suas 79 concentrações nestas estruturas cerebrais. No entanto, devemos também considerar que a pequena quantidade de IVA administrada (10 µmol no total) poderia não ter sido suficiente para provocar um aumento significativo das concentrações deste ácido nos tecidos cerebrais examinados, assim deixando de causar efeitos significativos. De qualquer modo, a administração de doses semelhantes de outros ácidos orgânicos que se acumulam em algumas acidemias provocou efeitos próoxidantes significativos nos mesmos parâmetros analisados (LEIPINITZ et al., 2007). Concluindo, tomados em seu conjunto os resultados in vitro e ex vivo de nossa presente investigação, podemos concluir que os metabólitos IVA, 3-OHIVA e IVG não parecem provocar dano oxidativo relevante sobre o cérebro de ratos jovens. Seria interessante, no entanto, também avaliar os efeitos da administração intracerebroventricular dos outros metabólitos (3-OHIVA e IVG) acumulados na acidemia isovalérica sobre os mesmos e sobre outros parâmetros de estresse oxidativo para melhor esclarecer a fisiopatogenia do dano cerebral da acidemia isovalérica. Além disso, é também possível que as pequenas alterações encontradas nos parâmetros de estresse oxidativo analisados no presente trabalho possam agir sinergicamente com outros mecanismos, como por exemplo, uma disfunção energética (RIBEIRO et al., 2007) para explicar a disfunção neurológica causada pelos pacientes afetados pela acidemia isovalérica. Tendo em vista que estes pacientes apresentam freqüentemente crises convulsivas, a exicitotoxicidade causada por estes metabólitos também é uma possibilidade e deveria ser avaliada com experimentos in vitro e ex vivo. Finalmente, enfatizamos que nossos resultados devam ser interpretados cautelosamente, se fazendo necessária uma investigação de se o dano oxidativo atua na acidemia isovalérica, examinando parâmetros de estresse oxidativo em tecidos (sangue, eritrócitos e fibroblastos) de pacientes afetados. O entendimento dos possíveis efeitos de espécies ativas sobre o dano neurológico nesta doença pode levar ao desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para a prevenção e tratamento da mesma. 80 6 CONCLUSÕES 1) Os ácidos isovalérico (IVA) e 3-hidroxiisovalérico (3-OHIVA), bem como a isovalerilglicina (IVG) não afetaram in vitro a medida das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBA-RS) em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos de 30 dias de vida. 2) Os ácidos IVA e o 3-OHIVA também não alteram in vitro a quimiluminescência, enquanto a IVG na concentração de 1mM aumentou significativamente a quimiluminescência em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos de 30 dias de vida. 3) O IVA e o 3-OHIVA aumentaram significativamente e de maneira dosedependente a formação de carbonilas, sendo que a IVG não foi capaz de alterar significativamente este parâmetro em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos de 30 dias de vida. 4) O IVA e o 3-OHIVA bem como a IVG não alteraram a medida de grupamentos sulfidrila em mitocôndrias isoladas de cérebro de ratos de 30 dias de vida. 5) O IVA e o 3-OHIVA, bem com a isovaleriglicina (IVG) não alteraram as defesas antioxidantes não enzimáticas medidas pelo potencial antioxidante total e pela glutationa reduzida em preparações mitocondriais isoladas de cérebro de ratos de 30 dias de vida. 6) O IVA e o 3-OHIVA, bem como a IVG não alteraram a atividade das enzimas antioxidantes glutationa peroxidase e superóxido mitocôndrias isoladas de cérebro de ratos de 30 dias de vida. dismutase em 81 7) A administração intracerebroventricular (I.C.V.) do ácido IVA aumentou significativamente a peroxidação lipídica medida através dos níveis de TBA-RS em homogeneizado de córtex e estriado, mas não em hipocampo de cérebro de ratos de 30 dias de vida. 8) A I.C.V. do ácido isovalérico (IVA) aumentou significativamente a medida de grupamentos sulfidrila em homogeneizado de córtex cerebral, sem alterar esse parâmetro em hipocampo e estriado de ratos de 30 dias de vida. 9) A I.C.V. do IVA não alterou os níveis de glutationa reduzida em homogeneizado de córtex, hipocampo e estriado de ratos de 30 dias de vida. 10) A I.C.V. do IVA não alterou as atividades das enzimas antioxidante glutationa peroxidase e superóxido dismutase em homogeneizado de córtex, hipocampo e estriado de ratos de 30 dias de vida. 11) A I.C.V. do IVA não alterou a atividade da enzima antioxidante catalase em homogeneizado de córtex e hipocampo, mas aumentou significativamente a atividade desta enzima no estriado de ratos de 30 dias de vida. 12) A análise conjunta dos resultados in vitro e ex vivo indica que os principais metabólitos acumulados na acidemia isovalérica não provocam um dano oxidativo extenso em cérebro de ratos jovens. 82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AEBI, H. 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