Interbio v.9 n.2, Jul-Dez, 2015 - ISSN 1981-3775 34 ORIENTAÇÃO E MOTIVAÇÃO EM SAÚDE BUCAL COMO ALIADAS NO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO DO DEFICIENTE MENTAL GUIDANCE AND MOTIVATION IN ORAL HEALTH AS ALLIED IN DENTAL TREATMENT OF MENTALLY DISABILITY JARA, Anna Flavia Bogarim1; MOTTA, Eduardo Ferreira2 Resumo As pessoas com deficiência mental, em virtude da sua dependência e vulnerabilidade possuem maior suscetibilidade a problemas bucais, apesar dos cuidados bucais para estas pessoas não diferirem muito do que é realizado para outras pessoas, certas dificuldades, assim como encontrar serviços apropriados as suas demandas, faz com que haja um aumento dos distúrbios bucais entre pacientes com deficiência mental. Deste modo este estudo teve por objetivo buscar o que a literatura tem abordado a respeito das orientações e motivação em saúde bucal como aliadas a terapêutica odontológica do deficiente mental, nas bases de dados Scielo, BBO-odontologia Brasil, para busca de estudos publicados a partir de 2003. Os estudos encontrados relataram que as principais alterações dentárias encontradas em portadores de deficiência mental é a cárie. Assim estratégias simples, como a capacitação do cirurgião-dentista desde sua graduação é importante para que o protocolo de atendimento do paciente com deficiência mental seja seguido de modo correto, atendendo as necessidades específicas de cada um. Palavras-chave: Orientação, motivação em saúde bucal, deficiente mental. Abstract People with mental disabilities because of their dependency and vulnerability are more susceptible to oral health problems, despite oral care for these people do not differ much from what is done to others, certain difficulties, as well as finding appropriate services to their demands, means that there is an increase of oral disorders among patients with mental disabilities. Therefore, this study aimed to seek what the literature has discussed about the advice and motivation in oral health and dental therapy combined with the mentally deficient in the Scielo data, BBO-dentistry Brazil, to search for studies published from 2003 onwards. the studies found reported that major dental abnormalities found in patients with mental disabilities is the decay. So simple strategies, such as dentist training since graduation is important for the treatment protocol for patients with mental disabilities is followed correctly, meeting the specific needs of each. Keywords: Guidance, motivation in oral health, mentally deficient. 1 Graduanda do curso de Odontologia do Centro Universitário da Grande Dourados/MS - UNIGRAN. email: [email protected] 2 Docente do curso de Odontologia do Centro Universitário da Grande Dourados/MS - UNIGRAN. JARA, Anna Flavia Bogarim; MOTTA, Eduardo Ferreira Interbio v.9 n.2, Jul-Dez, 2015 - ISSN 1981-3775 35 Introdução Antes de discorrermos a respeito da orientação e motivação em saúde bucal para os pacientes com deficiência mental, é importante conceituarmos saúde mental, e transtorno mental, conforme Silva et al., (2011) a Organização Mundial de Saúde, define o bem estar como a esperteza da oportuna eficácia autonomia, competência e auto realização de capacidades intelectuais e emocionais a partir de uma perspectiva transcultural. Já transtorno mental é definido como distúrbio, seja por alterações no cérebro ou em outras partes do corpo, que influenciam para a alteração de conduta e enfraquecimento da memória. A International Association of Dentistry for Desabilites and Oral Health (IADH) distribuiu os pacientes portadores de deficiência mental em dez grupos, conforme os comprometimentos ou áreas afetadas pela doença que apresenta. Assim há: desvios de inteligência, deficiências físicas, deficiências congênitas, desvios comportamentais, desvios psíquicos, deficiências sensoriais de áudio comunicação, doenças sistêmicas crônicas, doenças endócrino-metabólicas, desvios sociais e estados fisiológicos especiais (CARVALHO; ARAÚJO, 2004). Portanto, deficiência mental é definida em três condições, a primeira diz respeito ao funcionamento intelectivo subnormal, a segunda refere-se quando a deficiência mental que tem origem durante o período de desenvolvimento adaptativo e a terceira pode ainda ser definida como, quando há detrimento sobrevindos em condições que surgem sob forma de retardamento maturacional, existindo lentidão como andar, sentar, deficiências de aprendizagens ou de relacionar-se com outras crianças (SOUZA; BOEMER, 2003). Desse modo Campos et al., (2009) preconizaram que ao atender um paciente com problemas mentais na consulta durante o atendimento odontológico deverá ser realizado um questionário de saúde minucioso, registrando no prontuário odontológico os tipos de medicamentos utilizados, como por exemplo, sedativos, ansiolíticos e anticonvulsivantes, que podem ocasionar xerostomia e hiperplasia gengival, estabelecendo laços de confiança e vínculo para evitar a insegurança e medo, divulgando aos pais os meios de proteção da saúde bucal para o paciente, orientar a higiene oral do paciente, para ele mesmo e para sua família; caso seja necessário devese recomendar o uso de escovas com adaptadores, dedeiras e passa-fio, indicar a escova elétrica para pacientes com dificuldade de coordenação motora e no atendimento odontológico explicar o que será feito e como será executado. Em casos de atendimento Odontológico às crianças portadoras de deficiência mental é necessário que os cirurgiões-dentistas além de receber o paciente no consultório, também recebam sua família, pois é sabido que em algumas situações pais de crianças com algum tipo de deficiência mental devem realizar modificações em sua estrutura social para conviver com uma criança especial, assim a ansiedade e superproteção ou rejeição em relação ao filho são frequentemente encontradas, logo o bom relacionamento do cirurgião-dentista com os pais é essencial, para que os procedimentos odontológicos realizados sejam compreendidos (SILVA et al., 2005a). A capacitação do cirurgião-dentista para lidar com pacientes portadores de necessidades especiais requer dedicação. São poucos profissionais que atuam nessa área, sendo uma especialidade odontológica reconhecida mais recente em relação às outras. Muitas instituições ainda não ingressaram esse conteúdo em seus currículos, e isso interfere na formação profissional, habilidade no atendimento e conhecimento sobre esse grupo de pacientes especiais. É necessário que o cirurgiãodentista busque interagir com os pacientes, procure informações e convivência para obter melhor desempenho em seu atendimento odontológico (CARVALHO et al., 2004). JARA, Anna Flavia Bogarim; MOTTA, Eduardo Ferreira Interbio v.9 n.2, Jul-Dez, 2015 - ISSN 1981-3775 36 Celeste et al., (2012) acrescenta, que antes do cirurgião-dentista julgar os pacientes com deficiência mental em pacientes difíceis e agressivos, deve entender que eles na verdade são pacientes diferentes, que requerem que o profissional possua conhecimentos técnicos e científicos, além de ser tolerante e possuir espírito humanitário. Para atendimento odontológico do paciente portador de deficiência mental é necessário que primeiramente o cirurgiãodentista busque conhecimentos básicos relativos à deficiência, saiba suas características, diagnostico, classificação, já que são pacientes que necessitam de uma atenção especial. O profissional deve agir com paciência, compreensão, boa vontade, saber os limites de acordo com cada paciente e garantir melhor habilidade para realizar o tratamento (PERES et al., 2005). Segundo Jamelli et al., (2010) apesar de algumas barreiras encontradas durante o tratamento odontológico, tanto pela dificuldade do profissional em saber lidar com o paciente bem como por parte do mesmo em colaborar com os atendimentos, os portadores de deficiência mental necessitam de atenção odontológica, pois estão sujeitos a várias alterações bucais, apresentando alto índice de cárie, necessidade protética, doença periodontal e elevada perda dental, e por consequência desses fatos exibem elevado número de dentes cariados, perdidos e obturados (CPOD). A doença periodontal é uma das patologias mais encontradas na cavidade oral de pacientes com deficiência mental, sendo este um dos motivos de indícios de inflamação e perda dentária que prejudica a mastigação, fonética e estética do paciente. A presença dessa afecção bucal desenvolvese com frequência por apresentarem déficit intelectual e motor tornando-se precária a realização da higiene oral e a eliminação de seu fator etiológico (ROMANELLI, 2006). A alta prevalência da doença periodontal depende de vários fatores como a idade do paciente, utilização de vários medicamentos que resultam na diminuição do fluxo salivar, grau de deficiência, porque quanto mais severa é maior sua debilidade motora. Mesmo com o controle da placa bacteriana os pacientes portadores da deficiência mental estão propensos a desenvolver a doença periodontal, esse fato pode influenciar em doenças sistêmicas, principalmente doenças cardiovasculares, portanto é necessário acompanhamento odontológico para eliminar possíveis focos de infecção que colocará em risco tanto a saúde oral como a saúde geral do paciente (FERREIRA, 2010). Conforme Abreu et al., (2004) as manifestações bucais em indivíduos com deficiência mental irão variar segundo o grau de comprometimento neuropsicomotor e a conduta dos responsáveis, no que concerne a ajuda do controle preventivo, evitando ou diminuindo a incidência de doenças bucais, como cáries e doença periodontal, assim como maloclusões decorrentes de hábitos bucais deletérios. Caso a patologia mental esteja integrada à epilepsia, poderá haver hiperplasia gengival em virtude do desequilíbrio nos hábitos de higiene, renovação de fibroblastos e uso de fármacos que contenham definilidantoína, fenobarbital e ácido valpróico. A orientação e motivação em saúde bucal de pacientes especiais, incluindo deficientes mentais é um método preventivo muito eficaz, auxilia a melhorar as condições orais dos pacientes, reduzindo a incidência de placa bacteriana, sendo este um dos fatores de desenvolvimento da doença periodontal. A assistência odontológica deve ser realizada de maneira simples, eficiente e rápida, através de orientação, reforço de escovação, aplicação de flúor e acompanhamento (RESENDE et al., 2007). Neste sentido, o propósito é incentivar o profissional a orientar e motivar seu paciente com deficiência mental, para um tratamento básico, eficiente e acessível economicamente, acreditando-se que desta forma se consiga proporcionar uma boa condição de saúde bucal e geral, com JARA, Anna Flavia Bogarim; MOTTA, Eduardo Ferreira Interbio v.9 n.2, Jul-Dez, 2015 - ISSN 1981-3775 37 métodos simples e preventivos, garantindo dessa forma redução da necessidade de técnicas invasivas e também o custo do tratamento (FLÓRIO et al., 2007). Portanto, destaca-se que para o atendimento às pessoas portadoras de deficiência mental é necessário obter maior conhecimento das características, diagnóstico e classificação desse distúrbio neurológico, sendo que o intuito de realizar essa revisão de literatura é proporcionar mais informações a todos os profissionais da área de odontologia, especificamente aos que se dedicam a este tipo de atendimento. Diante deste contexto onde por muito tempo os portadores de patologias mentais eram segregados e excluídos da sociedade, muitos eram simplesmente internados e destituídos do seu direito de conviver em família e com a sociedade. Com a odontologia caracterizada por uma prática cirúrgico-restauradora, não considerando as condições de vida dessa população, ou mesmo não sabiam ao certo como proceder diante do atendimento a pacientes com problemas mentais, é algo que vem sendo modificado. Atualmente na área de odontologia apesar de poucos, já existem cirurgiões-dentistas capacitados para tratar da saúde bucal de pessoas com transtorno mental. Assim este estudo buscou o que a literatura tem abordado a respeito das orientações e motivação em saúde bucal como aliadas a terapêutica odontológica do deficiente mental. Materiais e Métodos As informações foram coletadas por meio de base de dados: Biblioteca virtual da saúde e Scielo. O descritor utilizado foi: “Orientação e motivação em saúde bucal como aliadas no tratamento odontológico do deficiente mental”. Quanto aos critérios adotados para este estudo foram utilizados artigos científicos e tese de doutorado com tema referente ao trabalho. O tipo usado foi a Pesquisa bibliográfica, pois o trabalho foi desenvolvido com o objetivo de conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre o tema proposto e é comum a presença de citações a respeito do assunto. Esse tipo de pesquisa usa como metodologia referência bibliográfica já existente, e através de citações indiretas expõem-se as ideias de vários autores, ampliando o conhecimento do leitor. É muito utilizado pela maioria dos pesquisadores e alunos de faculdades, sendo uma boa maneira de assimilação seja qual for o conteúdo (LIMA; MIOTO, 2007). Nesse caso especifico traz de forma direta o desenvolvimento e a conclusão sobre o assunto tratado nesse trabalho. Neste estudo foram incluídos, teses, dissertações, livros e artigos publicados entre 2003 a 2013. Foram excluídos estudos publicados anteriores a 2003, mesmo que tratem sobre o assunto a ser pesquisado. Como se trata de um estudo bibliográfico não teve riscos físicos para a pesquisadora, podendo apenas, não haver todas as informações necessárias nos estudos para responder aos objetivos específicos da pesquisa, já que dependerá do que já está publicado sobre o tema. Sobre os benefícios, a pesquisa trouxe mais conhecimentos aos profissionais e acadêmicos que se interessam pelo assunto. Foi feito um levantamento nas bases de dados BBO-odontologia Brasil, periódicos da Capes e Scielo a fim de se buscar os estudos publicados a partir de 2003 sobre o assunto, foram utilizadas as seguintes palavra-chave: transtorno mental, odontologia, prevenção, cuidados bucais. Discussão De acordo com Fernandes (2011), em sua pesquisa realizada com 25 pacientes portadores de deficiência mental, atendidos na clínica odontológica da Universidade Federal de Paraíba, em relação às alterações orais houve maior ocorrência de cáries 80%, 8% neoplasias benignas, 4% dente decíduo retido, fenda palatina e mesiodente JARA, Anna Flavia Bogarim; MOTTA, Eduardo Ferreira Interbio v.9 n.2, Jul-Dez, 2015 - ISSN 1981-3775 38 respectivamente. Como a cárie foi a mais prevalente o autor referido optou pela indicação terapêutica exodontia (remoção cirúrgica de um dente), também utilizada por Fernandes et al., (2011) Lee et al., (2009) que adotaram esse procedimento como forma de remoção dos elementos muito cariados, por ser menos complexo e evitar complicações ou a necessidade de um possível retratamento. Crall (2007), Davis (2009), Gallagher (2007) e Council (2012) concordam que a cárie é o tipo de alteração odontológica mais encontrada entre os portadores de problemas mentais, porque eles possuem maior propensão a uma higiene bucal deficiente. Além do fato da utilização de algumas medicações para controlar a deficiência que influenciam o fluxo salivar e ainda pelo fato de alguns fármacos possuírem grandes quantidades de sacarose. Abreu et al., (2004) também compartilha da mesma ideia dos autores acima citados, quanto ao fato da prevalência de cárie, ser em virtude da higienização oral precária, além do que em alguns graus da deficiência mental a falta de coordenação motora também dificulta a higienização, assim como a dieta inadequada dos pacientes. Na dentição decídua a hipoplasia do esmalte também pode estar presente, sobre a ocorrência de hiperplasia gengival, é ocasionada pelo uso dos medicamentos anticonvulsivantes a base de hidantoína. Já no caso de indivíduos portadores de síndrome de Down, não há prevalência de cárie, porém a outros tipos de alterações orais, como palato ogival, língua fissurada, subdesenvolvimento da maxila com protusão da língua, microdentes decíduos e permanentes e hipocalcificação do esmalte dentário. Portanto o tipo de alterações orais irá depender do tipo de deficiência mental que o paciente possui (CALVANCANTE et al., 2009). Jung (2011) complementa que o portador de deficiência mental, pode apresentar hipo ou hiperfonia da musculatura de lábios, bochechas, macroglossia, má oclusão e morfologia dental alterada. Também é comum os mesmos serem respiradores bucais e apresentarem bruxismo. Diante das características apresentadas o portador de deficiência mental, faz parte de um grupo mais incidente de cáries, doença periodontal e má oclusão. Diante deste contexto a realização de atividades educativas, sejam de ordem preventiva ou curativa, necessita de uma abordagem individual e coletiva e deve ser embasada na realidade de cada paciente, a fim de atingir os objetivos propostos. Assim o cirurgião-dentista tem um papel importante no contexto de tratamento e ação terapêutica. A Resolução 22/2001 do Conselho Federal de Odontologia, no artigo 31 destaca que para os pacientes especiais, faz parte da função da odontologia o diagnóstico, prevenção, tratamento e controle de problemas bucais dos pacientes que apresentam deficiência mental. Portanto, a primeira medida a ser tomada no atendimento odontológico para pacientes especiais é a assinatura do termo de consentimento informado, assinado e aprovado pelos pais ou responsáveis autorizando o tratamento, e posteriormente deverão ser explicados para eles todos os procedimentos a serem realizados e o porquê é importante realiza-los (JUNG, 2011). Pois isto está descrito no Código Civil Brasileiro (2002) no artigo 3º: “são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente sobre seus atos da vida civil: os que por enfermidade, ou deficiência mental não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos” (COHEN et al., 2006). Oliveira; Giro (2011) acrescentam que a ausência de preparo dos cirurgiõesdentistas para atender pacientes com deficiência mental conduz a desacertos importantes de diagnóstico, induzindo os profissionais a assumir uma postura inadequada e um plano de terapêutica incorreto. O tratamento odontológico de um deficiente mental deve iniciar-se, assim que sua condição sistêmica seja avaliada, JARA, Anna Flavia Bogarim; MOTTA, Eduardo Ferreira Interbio v.9 n.2, Jul-Dez, 2015 - ISSN 1981-3775 39 devendo o plano de tratamento odontológico abranger um programa de escovação supervisionada, e educação de saúde voltada para pais ou cuidadores permitindo a menor intervenção de procedimentos atingidos em ambiente clínico odontológico ou até mesmo hospitalar sob anestesia geral, proporcionando a estas pessoas a chance de viverem com a saúde bucal adequada. A promoção de saúde por meios preventivos está direcionada à educação e motivação, incentivando o paciente a criar hábitos de higiene oral e manter sua saúde em dia. É importante o profissional criar uma relação de cumplicidade com o paciente, procurar meios esporádicos, recursos visuais para chamar atenção, trabalhar com espelho, usar técnicas de reforço e uma linguagem acessível ao paciente a fim de facilitar seu atendimento (ALVES et al., 2004). Em seus estudos Silva et al., (2005b) avaliaram a efetividade do tratamento odontológico em pacientes motivados, constataram assim que o índice de placa bacteriana reduz significativamente, pois quando são motivados os pacientes respondem melhor à expectativa esperada do tratamento, melhoram sua frequência de higiene, diminuindo assim as chances de desenvolver doença periodontal, cárie, halitose e outras doenças que podem acometer a cavidade oral. Diniz (2012) concorda com a educação para realização dos cuidados profiláticos em relação à higienização oral dos pacientes com deficiência mental, porque a falta de cuidados com a higiene bucal desencadeia graves problemas, já que o organismo do paciente portador de deficiência mental é comovido pelo desequilíbrio metabólico geral, onde os descuidos geram lesões no organismo sendo a boca a cavidade onde se conjeturam as implicações deste descaso. A ideia de abordar assuntos relativos à orientação e motivação em pacientes com necessidades especiais na odontologia originou-se pelo fato da dificuldade de preparação dos acadêmicos durante o atendimento odontológico, que vai além da técnica de manejo com esses pacientes, pois é necessário adquirir experiência clínica, visão de saúde geral, bem-estar físico e psicológico, incluindo atendimento odontológico digno, satisfatório, voltado para suas necessidades individuais (MORAIS et al., 2006). A prática da odontologia preventiva melhora a condição de saúde bucal da população em geral, essencialmente nos pacientes com necessidades especiais, em cujo grupo pode enquadrar o deficiente mental objetivo deste estudo, que necessitam de tratamentos odontológicos e cuidados específicos, pois dependendo da severidade de sua deficiência, são considerados pacientes de difícil manejo e colaboração durante o tratamento odontológico. Portanto a prática da educação e motivação traz ao paciente de modo geral maiores benefícios na qualidade de vida e ao profissional melhor desempenho no atendimento. A confiabilidade do paciente frente ao profissional é fator fundamental para o sucesso do tratamento, pois a intenção final é sensibilizar o paciente, tomando como base a orientação e técnicas de reforço, visando o bem-estar futuro do paciente, evoluindo cada vez mais a pratica da odontologia através de métodos preventivos (HADDAD, 2007). Cabe ressaltar que em relação ao que a saúde pública tem feito para melhorar o atendimento odontológico aos pacientes portadores de deficiência mental, tem-se a Política Nacional de Saúde Bucal, Portaria n. 599 de 23 de março de 2006, que preconiza a atenção à saúde bucal dos sujeitos portadores de necessidades especiais de Especialidade Odontológica (CEOS). Porém antes destes pacientes irem para esses centros de especialidades, devem buscar primeiramente a atenção básica de saúde mental, que irá avaliar, acolher e tratar esse paciente e caso seja necessário o encaminhará para os CEOS (BRASIL, 2008). Apesar do avanço na assistência à JARA, Anna Flavia Bogarim; MOTTA, Eduardo Ferreira Interbio v.9 n.2, Jul-Dez, 2015 - ISSN 1981-3775 40 saúde bucal dos pacientes de deficiência mental, na prática este programa ainda possui falhas, pois na pesquisa qualitativa realizada com cirurgiões-dentistas de CEOS de João Pessoa-PB, observaram que não havia acolhimento, nem uniformidades das informações, e que muitos pacientes desconheciam os serviços odontológicos ofertados. Assim é preciso que haja maior divulgação a respeito desse serviço, além do que o treinamento dos cirurgiões-dentistas que irão trabalhar nestes locais também é importante, para que os mesmos além de enfocarem os serviços disponibilizados também atuem na prevenção dos problemas odontológicos (FERNANDES, 2011). Porque por ser a terapêutica restauradora em pacientes com deficiência mental mais complicada no que nos demais pacientes, é fundamental a prevenção. Porém é sabido que adoção de higiene bucal para pacientes especiais é um desafio para cirurgiões-dentistas, devido à incapacidade física de alguns e a incapacidade mental de compreender como deve ser realizado os movimentos necessários para escovação. Diante disto o correto treinamento e formação dos cirurgiões-dentistas é imprescindível (CASTILHO et al., 2013). Acrescentam que o atendimento odontológico a pacientes com deficiência mental deve ser realizado, considerando a realidade de cada um, assim a realização de anamnese com os pais a fim de levantar a história clínica do paciente, tipo de patologia, medicamentos utilizados, grau de estresse de medo e ansiedade, buscando um estreitamento na relação entre profissional, família e paciente, para que possa executar o exame bucal e desenvolver o plano de terapêutica adequado (RESENDE et al., 2007). Peres et al., (2005) concordam que para que as medidas preventivas e curativas destinadas a pacientes com deficiência mental surtam efeito é preciso que o cirurgião-dentista realize anamnese completa, que entregue o termo de consentimento aos pais e que insiram a família do mesmo, para que as mesmas saibam que possuem um papel fundamental no monitoramento da higienização bucal de seus filhos, portanto as condições físicas, mentais, sociais, as necessidades psicológicas e emocionais dos pacientes com deficiência mental, fazem parte da terapêutica odontológica, visto que será observando essas diferenças, que o tratamento será mais humanizado, acolhedor e integral atendendo as necessidades específicas de cada paciente e familiar. Colaboram com a ideia do autor acima citado de que na primeira consulta a realização da anamnese completa, observação do comportamento do paciente, família, história médica e tipo de patologia são essenciais para uma melhor interação entre profissional/paciente/família. Ainda faz-se necessário ao final da consulta explicar para os pais ou responsáveis o estado de saúde bucal do paciente, os procedimentos que deverão ser realizados, ressaltando a importância da cooperação familiar para que o tratamento surta efeito mais duradouro (CARVALHO, ARAÚJO, 2004). Mouradian e Corbin (2003) enfatizam a importância da terapêutica odontológica para pessoas que possuem deficiência mental, pois enfrentam inúmeras dificuldades, para encontrar serviços apropriados às demandas desses pacientes, problemas arquitetônicos, medo, negligência por parte dos responsáveis em relação à saúde bucal, mais especialmente a carência de profissionais especializados nesta área. Oliveira e Giro (2011) concordam que a reduzida quantidade de profissionais dispostas a atender os pacientes com transtorno mental, que pode ser devido à falta de no decorrer da graduação não haver bases teóricas satisfatórias e experiências clínicas que proporcionem motivação, conhecimento e confiança em trabalhar com pacientes especiais e sua família. Profissionais despreparados no conhecimento clínico e teórico, por sentirem-se inseguros e intimidados, não atendem pacientes com deficiência mental, assim estes passam a ter que procurar outro JARA, Anna Flavia Bogarim; MOTTA, Eduardo Ferreira Interbio v.9 n.2, Jul-Dez, 2015 - ISSN 1981-3775 41 profissional, o que pode acabar por aumento dos riscos de comprometimento da saúde mental e consequente diminuição de qualidade de vida desses pacientes (CANCINO et al., 2005). Diante deste contexto, onde pacientes com deficiência mental estão cada vez mais presentes nos consultórios odontológicos, em virtude do aumento da sua expectativa de vida, a especialização, ou mesmo a inserção de bases teóricas e práticas mais efetiva são essenciais durante a graduação, para que os futuros cirurgiõesdentistas saiam, sem medo ou insegurança e saibam como agir ao atender um paciente com deficiência mental (SILVA et al., 2005b). Moraes et al., (2006) concordam que somente com a adoção de uma capacitação dos alunos no decorrer da graduação, é que estes terão quando forem profissionais mais segurança em atender pacientes com deficiência mental e as peculiaridades de cada um. Conclusão Conforme os estudos pesquisados, dentre as principais alterações dentárias encontradas nos portadores de deficiência mental, tem-se a cárie em virtude da higiene bucal precária. Por isso é importante, buscar estratégias de atendimento na clínica regular junto aos pacientes sem deficiência a fim de efetivar a inclusão dos mesmos. Portanto, medidas simples como capacitação do profissional cirurgião-dentista desde sua graduação é necessária a fim de que o protocolo para atendimento dos portadores de deficiência mental seja seguido. Dentre as orientações do protocolo tem-se a realização da reunião com os responsáveis pelos pacientes, para melhor interação paciente/profissional, entrega do termo de consentimento esclarecido, anamnese e exame clínico, para planejar o tratamento mais adequado às necessidades de cada paciente. Diante deste contexto a preparação dos cirurgiões-dentistas e futuros profissionais para atender os portadores de deficiência mental, é fundamental, para que estes e seus familiares encontrem serviços apropriados que proporcionem motivação, conhecimento e confiança em trabalhar com eles. Referências Bibliográficas ABREU, K. C. S.; FRANCO, S. B. 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