contaminação do meio ambiente por fontes diversas e os agravos à

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CONTAMINAÇÃO DO MEIO AMBIENTE POR FONTES DIVERSAS E OS
AGRAVOS À SAÚDE DA POPULAÇÃO
Jacqueline Campos Borba de Carvalho1 Joice Vinhal Costa Orsine2
1. Mestranda em Genética e Melhoramento de Plantas da Escola de
Agronomia da Universidade Federal de Goiás, Brasil. MBA Perícia, Auditoria
e Gestão Ambiental – IPOG. e-mail: [email protected]
2. Professora Mestre do Instituto Federal Goiano – campus Urutaí
Data de recebimento: 07/10/2011 - Data de aprovação: 14/11/2011
RESUMO
Os problemas ambientais relacionados à poluição do solo, ar e água têm sido
aumentados com a industrialização e falta de tratamento e destinação inadequada
dos resíduos sólidos e líquidos. Muitas vezes o impacto ambiental somente é
verificado quando tem efeito sobre a saúde da população. O presente trabalho teve
como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre a contaminação do solo, ar e
água, com efeitos diretos e indiretos na saúde do homem. Foi observado que o uso
indiscriminado de agrotóxicos, o despejo de dejetos no meio ambiente sem
tratamento, a presença de micro-organismos e parasitas, além dos metais pesados
tem reflexo direto na saúde da população que reside nas áreas mais próximas das
fontes emissoras de poluentes. Atualmente tem sido observado o aumento dos
índices de doenças respiratórias, câncer de diversos tipos, doenças veiculadas por
água e alimentos. Percebeu-se que o monitoramento de áreas mais prováveis de
contaminação ambiental, além de uma fiscalização rigorosa por parte dos governos
e a educação ambiental devem ser utilizados como ferramentas para um maior
controle de qualidade do meio ambiente e também para qualidade de vida da
população.
PALAVRAS-CHAVE: Poluição da água, Poluição do solo, Poluição do ar, Impactos
ambientais.
CONTAMINATION OF ENVIRONMENT BY DIFERENT SOURCES AND HARM
THE HEALTH OF THE POPULATION
ABSTRACT
Environmental problems related to pollution of soil, air and water have been
increased with industrialization and lack of inadequate treatment and disposal of
waste. Entered elementary times the environmental impact is only seen when it is
observed effects on the population’s health. This study aimed to review literature on
the contamination of soil, air and water, with direct and indirect effects on human
health. It was observed that the indiscriminate use of pesticides, dumping of wastes
into the environment without treatment, the presence of microorganisms and
parasites, and heavy metals has a direct influence on the health of the population
living in areas closer to emission sources of pollutants. Today has been observed
increased rates of respiratory diseases, cancer of various types, diseases
transmitted by food and water. It was noticed that the most likely areas for
monitoring environmental contamination, as well as close monitoring by
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1107
governments and environmental education should be used as tools for greater
control of environmental quality and to quality of life.
KEYWORDS: Water pollution, Soil pollution, Air pollution, Environmental impacts.
INTRODUÇÃO
A geração e o destino dos resíduos sólidos resultantes das atividades
domiciliares e urbanas é um dos principais problemas ambientais identificados nos
pequenos, médios e principalmente nos grandes centros urbanos. Esses resíduos
quando não gerenciados tecnicamente passam a ser uma ameaça à saúde pública
e principalmente aos recursos naturais (SALAMONI et al., 2009).
Muitos estudos têm sido desenvolvidos com a finalidade de comprovação da
necessidade de redução dos limites de exposição aos impactos na saúde causados
por níveis de poluição próximos aos recomendados pela Resolução n.3/90 do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) (BRASIL, 1990).
Para que possam ser discutidos os danos à saúde humana provocados por
contaminantes ambientais é necessária a estruturação dos sistemas de
informação, para que se tornem capazes de gerar dados confiáveis sobre a saúde
da população, fornecendo assim os elementos essenciais para essa discussão
(ASMUS et al., 2008), levando-se em consideração a crescente preocupação da
sociedade com a relação entre a preservação do meio ambiente e a melhoria da
qualidade de vida (FERNANDES et al., 2007).
Como exemplo de uma região que deve ser constantemente monitorada
está a Cidade dos Meninos, área localizada no Município de Duque de Caxias-RJ,
onde ocorreu contaminação ambiental por deposição de pesticidas organoclorados.
A área é caracterizada pela pobreza e falta de infra-estrutura urbana, com grandes
áreas para plantio de cana-de-açúcar, mandioca e outros vegetais, além de
atividades como criação de suínos, gado de leite e gado de corte. Dentre os
compostos utilizados como pesticidas estudados por ASMUS et al. (2008), com
exceção dos triclorofenóis, na situação de exposição crônica, as doses estimadas
estavam acima dos níveis mínimos de risco à saúde, para crianças e adultos,
sendo estes moradores do local. A área foi classificada como de perigo urgente
para a saúde pública por exposição de alta intensidade e grave a substâncias
nocivas à saúde humana, como riscos do desenvolvimento de câncer ou de efeitos
tóxicos sistemáticos.
Outra região brasileira com grande preocupação dos pesquisadores devido à
contaminação ambiental é a cidade de Cubatão-SP. TAGAWA et al. (2009)
realizaram estudo com objetivo de avaliar se a poluição por fluoreto observada em
1996 no município, utilizando a vegetação como biomarcador, teve alterações em
10 anos. Folhas de Terminalia cattappa (chapéu do sol), localizadas na região das
indústrias de fertilizantes e na área urbana municipal, foram coletadas em 1996 e
2006. As folhas foram desidratadas, pulverizadas e fluoreto extraído com água foi
analisado com eletrodo específico. A concentração de fluoreto encontrada nas
folhas das árvores localizadas ao redor do pólo de fertilizantes foi 12 vezes maior
do que naquelas da área urbana, tanto em 1996 como 2006. Dessa forma, os
autores sugeriram que a poluição ambiental por fluoreto em Cubatão não
apresentou melhoria no tempo de 10 anos.
OLYMPIO et al. (2010), objetivando analisar fatores de risco no ambiente
domiciliar associados com altos níveis de chumbo no esmalte dentário superficial
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1108
observaram que este pode funcionar como marcador de exposição ambiental
passada ao chumbo. Os autores obtiveram resultados que sugerem que os jovens
avaliados foram expostos a fontes de chumbo durante seus primeiros anos de vida.
Os fatores de risco associados com o desfecho foram residir em área contaminada
por chumbo ou nas suas proximidades e ter convivido, no mesmo domicílio, com
pessoa que trabalhava em fábrica de tintas, pigmentos, cerâmicas ou baterias.
Além disso, foram ainda indicados como fatores de risco o fato de ter usado, em
casa, cerâmica vitrificada, brinquedos de baixa qualidade ou piratas, ter aplicado
zarcão em portões de ferro sem cobertura esmaltada ou armazenar baterias de
carro usadas na residência e hábito de fumar não foram associados com altas
concentrações de chumbo no esmalte dentário neste estudo.
A partir da necessidade de realização de estudos de avaliação de riscos
ambientais para a saúde humana, por serem uma importante ferramenta para a
tomada de decisões para ações de saúde pública (ASMUS et al., 2008), o presente
trabalho teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre a
contaminação ambiental provocada pela ação do homem no meio ambiente, cujos
efeitos incidem direta e indiretamente sobre a saúde da população.
CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA
A degradação dos recursos naturais e a contaminação da água por
fertilizantes e outros químicos vem crescendo e trazendo graves conseqüências
para o ambiente e para a saúde humana. O crescimento da atividade agropecuária
e a perda de sedimentos por meio do escoamento superficial afetam a qualidade
das águas superficiais não apenas no local de origem da contaminação, mas
também em outros pontos de interferência dos recursos hídricos (MARCHESAN et
al., 2009).
A contaminação de águas superficiais e subterrâneas tem um potencial
extremamente poluente, pois se, por exemplo, o local onde for aplicado o
agrotóxico for próximo a um manancial hídrico que abasteça uma cidade, a
qualidade dessa água captada também deverá estar comprometida (SOARES &
PORTO, 2007).
A indústria de mineração e de beneficiamento de minérios e as indústrias
petroquímicas, entre outras, são responsáveis pelo despejo ou descarga de
resíduos químicos letais (mercúrio, benzeno, enxofre, entre outros) nos solos e
rios, causando impactos muitas vezes irreversíveis na saúde das populações
residentes na região (RATTNER, 2009).
Segundo RATTNER (2009), a poluição de rios, lagos, zonas costeiras e
baías tem causado degradação ambiental contínua por despejo de volumes
crescentes de resíduos e dejetos industriais e orgânicos. O lançamento de esgotos
não tratados aumentou dramaticamente nas últimas décadas, com impactos
eutróficos severos sobre a fauna, a flora e aos próprios seres humanos.
Outro tipo de contaminação da água é por meio do despejo de dejetos
líquidos de suínos, que servem como fonte de nutrientes às plantas. Porém,
quando o seu uso é inadequado, podem causar o acúmulo de fósforo no solo, que
posteriormente pode ser transferido para o meio aquático, causando eutrofização
(BERWANGER et al., 2008).
A elevada concentração de metais na água, sedimentos e organismos
aumenta a vulnerabilidade da saúde humana por meio da bioacumulação. Essa
vulnerabilidade resulta na contaminação por metais pesados através de duas rotas:
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beber água contaminada que passou por tratamento inadequado, expondo a
população à ingestão de metais em doses toleráveis, ou a ingestão através de
alimentos contaminados, como por exemplo peixe (CHIBA et al., 2011). Porém, de
acordo com FERNANDES et al. (2007), a legislação brasileira, seja a ambiental ou
mesmo a referente aos aspectos sanitários alimentares, ainda é pouco contundente
com relação aos limites aceitáveis ou permitidos de metais pesados em solos,
águas e alimentos. Existe uma carência muito grande de dados nacionais que
subsidiem os legisladores e órgãos ambientais sendo, muitas vezes, utilizados
valores limites verificados e utilizados em outros países.
No Quadro 1 estão apresentados os resultados encontrados em trabalhos
publicados nos últimos cinco anos sobre a contaminação da água por fontes
diversas.
QUADRO 1. Resultados relacionados à contaminação da água por metais
pesados, pesticidas e esgoto doméstico.
Referência e Objetivo do
trabalho
Resultados encontrados
CHIBA et al. (2011)
objetivaram
avaliar
a
ocorrência espacial de
metais pesados (Al, Zn,
Cr, Co, Cu, Fe, Mn e Ni)
na água, sedimentos e
amostras
de
macroinvertebrados
bentônicos em uma subbacia no sudeste do Brasil,
na cidade de São CarlosSP. Os autores tinham o
objetivo de verificar a
interação dos metais do
ambiente
com
a
comunidade
bentônica
quanto à bioacumulação.
Anteriormente ao estudo havia a suspeita de
contaminação por metais nos ambientes aquáticos
do município de São Carlos devido à ausência de
tratamento de efluentes industriais. Com o estudo,
os autores observaram que a bacia apresenta
contaminação por metais tóxicos em águas
superficiais, sedimentos e macroinvertebrados
bentônicos. Foi verificado ainda que existe uma
tendência para a bioacumulação de metais por
organismos bentônicos para quase todas as
espécies de metal. Os resultados obtidos pelos
autores demonstram um potencial risco à saúde
humana e ao ecossistema, contribuindo com o
estudo de contaminação por metais em ambientes
aquáticos de áreas urbanas. Os níveis de níquel
detectados na água estão acima dos padrões
estabelecidos pela legislação brasileira, sendo esta
água distribuída para aproximadamente 50 mil
habitantes do município de São Carlos.
O objetivo da pesquisa
realizada por TOBÓNMARULANDA et al. (2010)
foi avaliar a qualidade da
água das fontes de água
na aldeia Monterredondo,
devido
a
constante
aplicação de pesticidas.
Os autores verificaram que a produção agrícola,
suína e de aves na área de estudo gera impactos
negativos sobre os recursos hídricos, como a
poluição do solo, erosão, poluição do ar, a
produção de resíduos sólidos e proliferação de
vetores. O tratamento de efluentes leva a um
registro na qualidade da água superficial, apenas
com avaliações de pH e Cloro. Além disso, não há
um método, após o tratamento para verificar a
precisão dos indicadores de avaliação. O tanque
de armazenamento de água do local estudado
apresenta condições insalubres, uma vez que
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mostra a presença de lodo e mofo.
Amostras de água e
cirrípedes Amphibalanus
amphitrite foram coletados
por FARRAPEIRA et al.
(2010) em Recife, Brasil,
para avaliar se estes
acumulam
coliformes
totais e termo-tolerantes
relacionados à poluição
por esgoto doméstico.
Os resultados obtidos pelos autores indicam que
há contaminação orgânica nas localidades de
amostras e que esta espécie pode ser um bom
bioindicador de poluição orgânica, uma vez
encontrada uma maior concentração de coliformes
dentro dos cirrípedes do que na superfície da
água. Foi ainda observado no estudo que a
composição de bactérias dentro do cirrípedes, com
exceção de Escherichia coli, que também foi
encontrada em amostras de água, todas as outras
espécies
de
coliformes
foram
apenas
amostrados nos cirrípedes, independentemente da
sua
ocorocorrência em outros rios.
FERNANDES et al. (2007)
realizaram estudo com
objetivo de avaliar os
teores totais de metais
pesados (Cd, Pb, Cu, Cr,
Fe, Mn, Mo, Ni e Zn), em
água
de
irrigação
provenientes de áreas com
intensa atividade olerícola
no Estado de Minas
Gerais.
As amostras de água avaliadas apresentaram-se,
de forma geral, livres de contaminação significativa
de metais pesados. Porém, em algumas destas
foram detectados teores preocupantes de metais
pesados, o que indica a necessidade de um
programa de monitoramento dos pontos de coleta
para identificação da possível fonte de
contaminação.
Porém, segundo MAYERHOFF (2007), tecnologias visando garantir a
qualidade da água dos mananciais têm sido alvo de pesquisa e desenvolvimento
há várias décadas em todo o mundo. A demanda por novas tecnologias para o
tratamento de efluentes industriais e municipais é cada vez maior, diante da
crescente conscientização da sociedade com relação aos altos níveis de poluição e
à conseqüente escassez da água do planeta.
CONTAMINAÇÃO DO SOLO
A degradação de solos por erosão, salinização e o avanço da agricultura
irrigada em grande escala, os desmatamentos e a remoção da cobertura vegetal
natural, o uso de máquinas pesadas, as monoculturas e o uso de sistemas de
irrigação inadequados, além de regimes de propriedade arcaicos, contribuem para
a escassez crescente de terras aráveis e, assim, comprometem a segurança
alimentar da população mundial (RATTNER, 2009).
No que diz respeito à contaminação no solo, o acúmulo dos agrotóxicos
pode fragilizar e desencadear absorção de elementos minerais, principalmente em
solos desnudos, concorrendo para a redução do grau de fertilidade do mesmo
(SOARES & PORTO, 2007). Com base em sua presença no solo, alimentos,
poços, e ar, esses compostos podem ser absorvidos por ingestão, contato com a
pele, ou inalação (ASMUS et al., 2008).
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1111
Já os metais pesados, que estão naturalmente presentes na constituição de
solos e rochas, têm se apresentado cada vez mais próximos da cadeia alimentar
dos animais e, em especial, da do homem. No tocante ao solo agrícola, recurso
natural que suporta a produção de alimentos além de componente importante do
ciclo hidrológico, a elevação dos teores de metais pesados vem sendo associada à
aplicação de corretivos e adubos agrícolas, utilização de água de irrigação
contaminada ou de produtos como lodo de esgoto, compostos de lixo urbano e
resíduos diversos de indústria ou mineração. Uma vez nos solos agrícolas, esses
elementos podem, ainda, sob determinadas circunstâncias, ser absorvidos pelas
plantas, que fazem parte da alimentação humana ou animal (FERNANDES et al.,
2007).
Por fim, a contaminação do solo com ovos de helmintos pode ocorrer por
meio de fezes de animais domésticos, durante as quatro estações do ano. A
confirmação da presença destes parasitas de grande importância médica em
ambientes onde circulam pessoas servem como aviso, uma vez que é possível
aplicar políticas sanitárias com intuito de reduzir os riscos aos quais a população
está exposta (GALLINA et al., 2011).
Os exemplos de contaminação do solo por formas diversas estão
apresentados no Quadro 2.
QUADRO 2. Estudos sobre a contaminação biológica e química do solo.
Referência e Objetivo do
Resultados encontrados
trabalho
GALLINA
et
al.
(2011)
estudaram a contaminação
ambiental
por
formas
parasitárias na área do
campus
universitário
no
município
de
Pelotas-RS,
onde
circulam
aproximadamente
12
mil
pessoas, sendo a maioria
estudantes.
Os autores analisaram 200 amostras de solo
para identificação de formas parasitárias. A
presença de ovos de nematóides foi verificada
em 62% das amostras. Entre os parasitos
observados destacam-se a presença de ovos de
Toxocara spp. e de ancilostomatídeos em todo
período estudado. Em 25,5% das amostras foi
detectada a presença de nematóides com
capacidade de infectar o homem por meio de
ingestão acidental ou penetração pericutânea. Os
resultados
encontrados
pelos
autores
demonstram que há contaminação ambiental
significativa, o que representa risco de infecção
zoonótica aos humanos que frequentam a região
estudada.
O
objetivo
do
trabalho
realizado por MATTIAS et al.
(2010)
foi
avaliar
a
acumulação de Cu, Zn e Mn
em solos sob aplicação
sistemática de dejeto líquido
de suínos.
Os autores
coletaram amostras de solos
de
duas
das
mais
representativas
microbacias
Os
autores
verificaram
que
sucessivas
aplicações de dejeto suíno aumentam a
disponibilidade de Cu, Zn e Mn no solo, o que
requer um monitoramento constante do seu
conteúdo. Foi possível observar que o cobre
pode chegar ao conteúdo total do solo acima de
valores críticos mais rapidamente do que o zinco.
Foi mostrado ainda pelos autores que alguns
tipos de solos são mais propensos a possíveis
contaminações, uma vez que podem alcançar
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hidrográficas
de
Santa
Catarina, onde a atividade
predominante é a suinocultura.
Em cada microbacia foram
escolhidas 12 propriedades
que
representassem
os
diferentes sistemas de criação
de suínos.
mais rapidamente o conteúdo total de cobre na
concentração crítica. Estes resultados indicam
que o tipo de solo pode ser um atributo
subjacente à determinação das políticas públicas
relativas a criação de suínos e de gestão de
resíduos.
SAKUMA
et
al.
(2010)
realizaram
trabalho
cujo
objetivo foi avaliar a exposição
de 398 crianças, com idade
entre sete e 14 anos, ao
arsênio proveniente de fontes
ambientais na região dos
municípios de Cerro Azul-PR,
Adrianópolis-PR, Ribeira-SP e
Iporanga-SP.
As
análises
foram realizadas por meio de
detecção
de
substâncias
tóxicas na urina.
Os autores observaram que as crianças da
população estudada mostraram diferentes níveis
de exposição ao arsênio, considerando o local
em que moram como a única variável
significativa apresentada. O grupo que morava
nas vizinhanças de Iporanga foi o único que
apresentou altos níveis de arsênio na urina,
sendo seguido pelos grupos que moram em
Adrianópolis/Ribeira
e
Vila
Mota,
respectivamente. A presença natural de arsênio
em Iporanga, aliada à contaminação antrópica
resultante da atividade na mina pode explicar os
altos níveis de arsênio na urina das crianças
avaliadas. Porém, os valores médios de arsênio
encontrados nos grupos populacionais avaliados
não carecem de preocupação imediata.
Entretanto, é necessário o estabelecimento de
um monitoramento regular do nível de arsênio na
urina da população da região, por ainda existirem
duas fontes ambientais de contaminação no meio
ambiente:
arsênio
residual
antropogênico
proveniente de atividades na mina, e arsênio
geológico naturalmente contaminante do solo,
devendo receber maior atenção o desmatamento
e a erosão do solo.
SILVA et al. (2009) realizaram
estudo com o objetivo de
avaliar a contaminação da
areia das praias de Porto de
Galinhas-PE, Muro Alto-PE e
Maracaípe-PE.
Os resultados dos autores indicaram que a
contaminação mais alta ocorreu na praia de
Porto de Galinhas, na qual 42% das amostras
estavam
contaminadas
com
larvas
de
Ancylostoma e 13% com ovos de Trichuris sp. Na
praia de Muro Alto, 30% das amostras estavam
contaminadas com larvas de Ancylostoma e 13%
com
Ascaris
lumbricoides.
Não
foram
encontrados parasitas patogênicos na praia de
Maracaípe, provavelmente porque existe a
dificuldade no acesso a esta praia, mais
comumente freqüentada por surfistas, e também
por não haver a presença de cães na área.
FERNANDES et al. (2007) Os autores observaram que algumas amostras
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realizaram
estudo
com
objetivo de avaliar a presença
dos metais pesados Cd, Pb,
Cu, Cr, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn,
em solos provenientes de
áreas olerícolas do estado de
Minas Gerais.
específicas de solo apresentavam-se com teores
totais mais expressivos de metais pesados,
sendo que a baixa disponibilidade desses
elementos sugere que tal verificação não
constitui problema de maior magnitude.
Em diversos estudos realizados com a finalidade de buscar alternativas para
revegetação de ambientes contaminados, a Brachiaria decumbens Stapf. tem sido
utilizada. Essa espécie pode ser
utilizada
em
programas
de
recuperação/revegetação de áreas degradadas e contaminadas com arsênio
(As), sendo este considerado o elemento mais tóxico à saúde humana (ARAÚJO et
al., 2011).
CONTAMINAÇÃO DO AR
A concentração de gás carbônico na atmosfera é um dos fatores que
provocam o efeito estufa. Apesar de amplamente documentado e reconhecido na
Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, posteriormente
reforçado pelo Protocolo de Quioto, nenhuma ação concreta foi iniciada, devido à
resistência dos Estados Unidos. O aumento do aquecimento global terrestre, em
razão do aumento de consumo de combustíveis fósseis na produção de aço,
cimento, energia termoelétrica e queimadas de biomassas, causou severos danos
à camada de ozônio, com severos impactos na saúde das populações afetadas por
câncer da pele (RATTNER, 2009).
MORAES et al. (2010) reforçam a relevância do monitoramento da qualidade
do ar e da saúde de grupos mais suscetíveis aos efeitos da poluição atmosférica no
entorno de unidades industriais, tanto no âmbito da gestão de saúde pública,
quanto da gestão de risco e responsabilidade socio-ambiental da indústria.
Na Quadro 3 estão apresentados os trabalhos cujas pesquisas envolvem a
contaminação do ar, nos últimos anos.
QUADRO 3. Estudos relacionados à contaminação do ar e efeitos à saúde da
população.
Referência e Objetivo do
trabalho
Resultados encontrados
IGNOTTI et al. (2010a),
realizaram estudo ecológico
utilizando o indicador de
exposição
ambiental
apresentado
como
percentagem anual de horas
(AH%) de PM2,5 acima de
80µg/m3 e como desfecho
taxas de hospitalização por
doenças respiratórias em
crianças, idosos e grupos
etários intermediários e taxas
Os autores observaram que o indicador de
poluição atmosférica mostrou associação com a
ocorrência de doenças respiratórias, em especial
nos grupos etários mais vulneráveis da Amazônia
brasileira, podendo ser utilizado na abordagem
dos efeitos da queima das florestas na saúde
humana. Foi verificado ainda uma maior
associação do indicador de exposição (AH%) para
os idosos do que para outros grupos etários (β =
0,10). Para cada ponto percentual de aumento no
indicador de exposição, houve aumento de 10%
na taxa de hospitalização de idosos, 8% em
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1114
de hospitalização por parto.
internações de crianças, e 5% para a faixa etária
intermediária, mesmo ajustando por IDH e número
médio de hemogramas. Não foi encontrada
associação entre AH% e a taxa de hospitalização
por parto.
IGNOTTI et al. (2010b)
objetivaram avaliar o efeito
da variação diária nas
concentrações de PM2.5 da
queima de biomassa sobre o
número
diário
de
hospitalizações de crianças e
idosos
por
doenças
respiratórias,
em
Alta
Floresta e Tangará da Serra,
Amazônia
brasileira,
em
2005.
Foi observado pelos autores que, para Alta
Floresta, os aumentos percentuais do risco relativo
(%RR) de internações por doenças respiratórias
em crianças foram significantes para todo o ano
de 2005 e para o período de seca, com
defasagens de 3-4 dias. No período de seca o
incremento foi de 6% (IC95%: 1,4-10,8). Para
médias móveis de 3-5 dias as associações
mostraram-se significantes. O %RR para idosos
foram significantes para o dia corrente na seca
com 6,8% (IC95%: 0,5-13,5) de incremento para
aumento de 10µg/m3 de PM2.5. Não foram
verificadas associações para Tangara da Serra.
As emissões de PM2.5 pela queima de biomassa
na Amazônia aumentaram as hospitalizações por
doenças respiratórias de crianças e idosos.
MORAES et al. (2010)
realizaram estudo com o
objetivo
de
verificar
a
associação entre relato de
sibilância em 209 crianças e
adolescentes e o local de
residência em relação à
dispersão dos poluentes
atmosféricos emitidos pelo
Pólo Petroquímico (PPQ) de
Guamaré-RN.
Foi observado pelos autores que mesmo em
baixas concentrações de poluentes atmosféricos,
a ocorrência de sintomas respiratórios em crianças
e adolescentes nas comunidades no entorno de
um PPQ esteve associada a residência na direção
preferencial dos ventos, mostrando-se mais
vulnerável o grupo de pré-escolares do gênero
masculino.
Estudo
realizado
por
CASTRO et al. (2009)
objetivou
investigar
a
associação entre exposição
diária à poluição do ar e
função pulmonar em 118
crianças do Complexo de
Manguinhos, da cidade do
Rio de Janeiro-RJ.
Os autores observaram que mesmo dentro de
níveis aceitáveis na maioria das vezes, a poluição
do ar, principalmente o PM10 (material particulado
com mais de 10 micrômetros de diâmetro) e o NO2
(dióxido de nitrigênio),
foi associada a uma
diminuição na funçao do pulmão no grupo de
crianças analisadas.
Segundo ASMUS et al. (2008), o processo de doença após exposição a
determinadas substâncias químicas é único para cada pessoa, resultante de
fatores ambientais, sociais, econômicos, além do contexto cultural de cada
sociedade. Dentre os fatores pessoais, estão a genética, os fatores nutricionais, o
ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 1115
desenvolvimento, maturidade e idade. A combinação destes fatores determina a
relação entre saúde e doença em uma pessoa e explica porque algumas são mais
vulneráveis quando expostas a determinadas substâncias químicas, e porque
diversos tipos de doença podem afetar uma pessoa, quando exposta a certa
substância.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram encontrados inúmeros trabalhos relacionando a ação do homem no
meio ambiente e sua saúde.
Percebeu-se através destes estudos uma
preocupação muito grande em desenvolver metodologias adequadas para cada
tipo de pesquisa, com a finalidade de se obter resultados mais próximos possíveis
da realidade de cada região. Através destes estudos são conseguidos diagnósticos
da saúde da população de determinada área e seu nexo com os problemas
ambientais, seja pela presença de riscos biológicos ou químicos, como parasitas e
micro-organismos patogênicos ou agrotóxicos e pesticidas, respectivamente.
Sendo assim, observa-se a necessidade de conscientização e sensibilização
da população, de forma geral, para os efeitos adversos da ação do homem ao meio
ambiente, cujos agravos são percebidos diretamente na saúde das pessoas que
vivem próximas às áreas de risco. É necessário o entendimento da educação
ambiental em todos os setores da sociedade (agrícolas, industriais, domésticos,
entre outros) para que haja uma melhor utilização dos recursos naturais e um
correto tratamento e destinação adequada dos resíduos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GUILHERME, L.R.G., LOPES, G., CAMPOS, M.L.
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