UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS/UNIFAL-MG ANDRÉA VIEIRA MEGDA UMA ANÁLISE HISTÓRICA DOS BANCOS DO SUL DE MINAS GERAIS (1900-1930) VARGINHA/MG 2012 ANDRÉA VIEIRA MEGDA UMA ANÁLISE HISTÓRICA DOS BANCOS DO SUL DE MINAS GERAIS (1900-1930) Trabalho de Conclusão do Programa Integrado de Ensino, Pesquisa e Extensão (PIEPEX) apresentado como requisito para conclusão do curso Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia pela Universidade Federal de Alfenas. Orientador: Thiago Fontelas Rosado Gambi. VARGINHA/MG 2012 ANDRÉA VIEIRA MEGDA UMA ANÁLISE HISTÓRICA DOS BANCOS DO SUL DE MINAS GERAIS (1900-1930) A banca examinadora, abaixo-assinada, aprova o Trabalho de Conclusão do PIEPEX apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel Interdisciplinar em Ciência e Economia pelo Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Alfenas - campus Varginha. Aprovada em: Prof. Thiago Fontelas Rosado Gambi Universidade Federal de Alfenas – campus Varginha Assinatura:___________________ Prof. Daniel do Val Cosentino Universidade Federal de Alfenas – campus Varginha Assinatura:____________________ Prof. Roberto Pereira da Silva Universidade Federal de Alfenas – campus Varginha Assinatura:___________________ RESUMO Na primeira metade do século XX o estado de Minas Gerais experimentou uma expansão do sistema bancário acompanhado de um desenvolvimento da região, que até então era dependente da província do Rio de Janeiro, no que se refere aos aspectos bancários. Muitos estudos já foram realizados com o intuito de identificar a origem dos bancos na região e justificar este crescimento, porém a historiografia sobre os bancos mineiros ainda é pouco desenvolvida e não conclusiva em muitos de seus aspectos. Os trabalhos destinados a entender as transformações ocorridas no setor bancário em Minas Gerais no final do século XIX e início do XX ainda são muitos divergentes. Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica em que se pretende recuperar, a partir da historiografia sobre os bancos de Minas Gerais, alguns aspectos da história dos bancos no sul do estado, com o objetivo de contribuir com os estudos desta área. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 5 2. BANCOS NO BRASIL .......................................................................................................... 7 3. BANCOS EM MINAS GERAIS ......................................................................................... 10 4. BANCOS NO SUL DE MINAS GERAIS .......................................................................... 11 5. OBSERVAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 14 6. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 14 5 1. Introdução A Revolução Industrial teve inicio em meados do século XVIII e, a partir desse período, surgiram condições de possibilidade de consolidação de um sistema econômico em que o capital se concentrava na busca de um excedente cada vez maior (HOBSBAWM, 1979). Com a expansão do processo produtivo, também surgiu a necessidade de se desenvolver um sistema financeiro que fosse capaz de satisfazer uma demanda nova por crédito, favorecendo assim a acumulação de capital e o crescimento da economia. Essas importantes transformações no processo produtivo chegaram tardiamente ao Brasil, mas a formação de bancos nacionais, no início do século XIX, se deu quase ao mesmo tempo em que na Europa. Contudo, desde a extinção do primeiro Banco do Brasil, em 1829, e da tentativa fracassada de 1833, não havia um banco oficial no país que pudesse promover o crédito e ajudar o governo na solução dos problemas monetários. Em 1838 foram apresentados os estatutos do Banco Comercial do Rio de Janeiro, porém sua aprovação ocorreu somente em 1842. Devido à falta de interesse por parte do governo em relação aos bancos, iniciativas de caráter privado começaram a surgir com o propósito de solucionar o problema de escassez de meio circulante e de ofertar créditos para os comerciantes. No período que se estende de 1838 a 1850 diversas intituições financeiras surgiram, entre elas o Banco do Ceará (1836-1839), o Banco Comercial do Rio de Janeiro (1838), o Banco Comercial Bahia (1845) e o Banco Comercial do Maranhão (1847), proporcionando assim casas de crédito que, se não chegavam a constituir um sistema bancário, serviam como um estímulo à economia mercantil brasileira. Com o propósito de facilitar as transações financeiras, os bancos surgiram para oferecer crédito aos capitalistas ou negociantes. De acordo com Cairu, os negociantes no império seriam aqueles que empregavam grandes fundos em tráficos e manufaturas, colocando em rápido movimento e extensão a indústria nacional. São “os que fazem comércio de especulação, bancos e seguros, e precisam de grande penetração, sagacidade, inteligência teórica e prática para bem calcularem as circunstâncias vantajosas aos negócios que projetam” (LISBOA, 1874, p.510). Esses negociantes estavam dispostos a investir na economia mercantil nacional, proporcionando uma ampliação de vários de seus setores. Tornaram-se assim, instituições importantes para o crescimento econômico e para o fornecimento de crédito no país. O marco inicial da história bancária do Brasil se deu em 12 de outubro de 1808, com a publicação do 6 alvará de criação da primeira instituição bancária no país, o Banco do Brasil, com características de um banco de crédito que tinha como finalidade financiar as despesas do Estado ( FRANCO & PACHECO, 1979; FREIRE, 1907; VIANA, 1926). Especificamente no estado de Minas Gerais, até meados do século XIX o sistema bancário ainda era precário. Somente em 1° de janeiro de 1819 foi que se instalou no estado o seu primeiro banco, a caixa filial do Banco do Brasil, em Vila Rica, que possuía como função única a compra de ouro e prata (BESSA, 1981). Depois foi criada uma caixa econômica em Ouro Preto, em 1838, e uma nova caixa filial do Banco do Brasil, em 1856. Em 1860 foi inaugurado em São João Del Rei um dos primeiros estabelecimentos de crédito de iniciativa particular do Brasil, a Casa Bancária Custódio de Almeida Magalhães & Cia. Já na última década do século XIX é criado em Minas Gerais o Banco de Crédito Real de Minas, com sede na cidade de Juiz de Fora, cuja assembleia de instalação ocorreu em 23 de janeiro de 1889. Posteriormente foi instalado na capital mineira, em 11 de junho de 1922, o Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais. Estes dois bancos tiveram uma ligação muito grande com estado, servindo e amparando diversas atividades agrícolas, inclusive o próprio café (COSTA, 1978). Na região do sul de Minas Gerais, o sistema bancário começou a se desenvolver a partir da década de 1910, quando se observa o surgimento de muitos bancos em diversas cidades da região, entre eles o Banco de Guaxupé (1909), Casa Bancária Alves Pereira e Cia (1915), Banco Santaritense (1917), Banco de Monte Santo SA (1918), Casa Bancária Campos Lima e Cia (1921), Casa Bancária Alves Pereira e Cia (1921), Banco Machadense (1921),Casa Bancária Odilon Freire e Cia (1922), Ferreira Alves e Cia Ltda (1922), Banco J.O Rezende e Cia (1922), Casa Bancária Lima, Bernardes, Forli e Cia (1922), Banco Popular do Sul de Minas (1924), Banco Comercial e Agrícola A.C Pinho e Cia Ltda (1924), Casa Bancária Alves Lima e Cia (1924). Não é possível afirmar categoricamente a relação entre bancos e desenvolvimento econômico, pois existem duas concepções predominantes que estabelecem relações de causa e efeito simetricamente opostas. Hugh Patrick (1996) denominou essas duas concepções predominantes de “demand following” e “supply leading”, onde entre essas, existem as concepções que tentam negar a relação de bancos e desenvolvimento (MODIGLIANI, 1958) e as que tentam demonstrar que esta relação seria total, pois não seria possível instituir uma relação de causa e efeito, sendo que o processo para se chegar ao desenvolvimento econômico seria duplamente determinado (GOLDSMITH, 1969). 7 Na visão de Flávio Saes (1986), o crédito não possui um papel determinado no processo de desenvolvimento econômico e esse papel que ele desempenha na economia depende muito da especificidade de cada processo. É na tentativa de captar essa especificidade para o sul de Minas que se enquadra este trabalho. O crescimento do sistema bancário no sul de minas na sua transição para o capitalismo ainda foi pouco explorado, sendo que os trabalhos voltados para esse setor, mas referentes ao estado de Minas Gerais como um todo apresentam conclusões divergentes. Considerando que estudos nesta temática ainda são escassos na historiografia mineira, e que o Sul de Minas Gerais é uma região pouco explorada nessa historiografia, este estudo busca recuperar alguns aspectos da história dos bancos no sul de Minas Gerais, com o objetivo de contribuir com os estudos desta área. Nesse sentido, esta pesquisa procurou fazer uma revisão dos trabalhos ligados à história econômica de Minas e da região sul do estado, buscando contribuir para a valorização e divulgação da história local e regional. 2. Bancos no Brasil O sistema financeiro é formado por um conjunto de instituições, formais e informais, que tem por finalidade oferecer aos indivíduos serviços e produtos financeiros. Como vimos, a relação entre bancos e desenvolvimento econômico não é simples, mas é possível afirmar que o sistema financeiro pode estimular o crescimento econômico, já que este proporciona condições para o financiamento de projetos que exigem investimentos altos, de longo prazo de maturação e de risco elevado (ALCÂNTARA, 2010). O sistema bancário é parte do sistema financeiro. Atualmente, o sistema bancário nacional pode ser compreendido como aquele conjunto de instituições monetário-financeiras, públicas e privadas, que agem no atacado ou no varejo, oferecendo créditos tanto para o financiamento, quanto para o consumo. Embora o primeiro banco do Brasil tenha sido criado em 1808 e novos bancos tenham surgido na década de 1840, Nozaki (2009) diz que, no Brasil, essa formação inicia-se com a reforma bancária da década de 1920 e sua evolução só ocorreu a partir da expansão bancária da década de 1950. De fato, seria exagerado falar em sistema bancário brasileiro na primeira metade do século XIX, no entanto, o aparecimento dos bancos apoiou o funcionamento da economia mercantil nacional. A chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil em 1808 gerou novas demandas ao mercado interno. A região do sul de Minas, que já se havia se especializado no fornecimento de gêneros alimentícios de primeira necessidade, aproveitou a crise da 8 mineração para aprofundar essa especialização e expandir o seu mercado, vendendo inclusive para a Corte (LENHARO, 1979). O ano de 1808 foi marcado, não só pela vinda da Corte Portuguesa para o Brasil, mas também pelo inicio da história bancária no Brasil, pois em 12 de outubro foi publicado o alvará de criação do primeiro banco que viria a funcionar no país. O primeiro Banco do Brasil era definido como uma instituição que possuía amplas atribuições, já que operava como banco de depósitos, de desconto, de emissão e de câmbio ( FRANCO & PACHECO, 1979; FREIRE, 1907; VIANA, 1926). Devido à má administração e a emissão desregulada de notas, o primeiro Banco do Brasil teve sua extinção aprovada em 23 de setembro de 1829. Porém como previa a lei o banco só se extinguiria em 20 de dezembro do mesmo ano, dia em que completaria exatos vinte anos de funcionamento. Com a extinção do primeiro Banco do Brasil, iniciou-se uma discussão com o propósito de se criar um novo banco oficial, porém ao contrário do primeiro este banco teria como finalidade auxiliar o governo a solucionar os problemas relacionados com o meio circulante e, consequentemente, estabilizar o valor da moeda nacional (GAMBI, 2010). Alguns anos se passaram até que novos bancos se formassem no Brasil e, em meados do século XIX, fosse possível a expansão da atividade bancária (ALMEIDA, 2010). Entre as décadas de 1830 e 1840, foram criados, tanto na Corte como nas províncias, bancos privados, todos eles emissores de vales. Dentre estes novos bancos, destacavam-se os dois maiores, que eram o Banco Comercial e o Banco do Brasil, de Irineu Evangelista de Souza, ambos localizados na Corte. Esses dois bancos se fundiriam, em 1853, para formar um novo Banco do Brasil, com monopólio de emissão no império. Em seguida vinham os bancos das províncias da Bahia, Pernambuco, Maranhão e Pará (GAMBI, 2010). A década de 1850 também foi decisiva para a história econômica do país, uma vez que se observou neste período o primeiro surto de exportação de café (PELÁEZ & SUZIGAN, 1981). Porém neste contexto de aumento das exportações de café, nota-se uma escassez de créditos para os setores produtivos nacionais. Com a crise de 1864 e o inicio da guerra do Paraguai o governo passou a depender das emissões do Banco do Brasil para financiar suas despesas, criando uma relação de ambiguidade com o banco. Ao mesmo tempo em que restringia suas emissões, autorizava o aumento na medida exata dos títulos que o próprio governo lhe enviava. Diante desse cenário, em 12 de setembro de 1866 foi criada a lei 1.349, que previa um acordo entre o Banco do 9 Brasil e o governo, onde este retirava o direito de emissões do Banco do Brasil. Desta maneira a emissão voltaria ser de responsabilidade do governo por meio da caixa de amortização (GAMBI, 2010). Com a Proclamação da República em 1889, o país iniciou uma fase de agitação econômica. Foi estabelecida uma nova legislação financeira (lei bancária de 1890), posta em prática pelo então ministro da fazenda Rui Barbosa, que acabava com as leis bancárias do período imperial, adequando a antiga regulação financeira ao novo contexto econômico do país. Com isso o governo esperava ampliar a rede bancária e consolidar bancos de emissão regionais no país1. A consequência dessa reforma seria a expansão do crédito bancário, com a finalidade de desenvolver a economia e possibilitar a criação de recursos suficientes para prover remuneração do trabalho assalariado no campo, uma vez que a escravidão havia sido abolida um ano antes, ainda no império. Desta forma o aumento do meio circulante seria capaz de atender a grande demanda dos cafeicultores por créditos, possibilitando também o fornecimento de recursos necessários para a constituição, ampliação e diversificação das demais atividades produtivas do país (CHAVANTES, 2004). A nova lei bancária resultou numa multiplicação bancária, ou seja, fez com que o números de agências triplicasse, promovendo uma expansão no setor bancário (PIRES, 2009). Porém no período que se estende de 1890 a 1914 não houve no país condições estruturais para a consolidação de um sistema bancário brasileiro, pois antes da abolição (1888) e da república (1889), a falta de mercado de trabalho e a inexistência da burguesia agiram como obstáculos para o avanço moderno da industrialização e da urbanização, desse modo impossibilitando a ampliação da circulação de crédito e da moeda na escala necessária ao desenvolvimento do capital (NOZAKI, 2009). A falta de articulação entre empresas e bancos fez com que o sistema bancário brasileiro servisse apenas de intermediário entre as empresas nacionais e o crédito externo (TAVARES, 1999). Em relação ao crédito para o consumo, ao longo de sua historia da evolução dos bancos e do crédito, o Brasil enfrentou os limites de um país que possuía uma das piores concentrações de renda e de riqueza e uma das maiores dimensões populacional e territorial do mundo (COSTA, 1978). Se no império eram as velhas oligarquias que controlavam e influenciavam o governo, agora na República Velha (1889-1930) serão os cafeicultores do Oeste de São Paulo e de Minas Gerais que tomariam a frente, tornando-se o setor mais moderno e dinâmico da elite 1 Rui Barbosa estava preocupado com a viabilização da indústria no país. Por isso é considerado por Heitor Ferreira Lima como um industrialista brasileiro, ao lado de Mauá e Roberto Simonsen (LIMA, 1976). 10 rural brasileira. O Coronelismo2 deve ser lembrado aqui, como maneira de ressaltar como o estado de São Paulo e Minas influenciaram as estruturas políticas e econômicas da época. Assim a economia brasileira, nas três primeiras décadas do século XX, era baseada na agricultura e no latifúndio, com alguns centros urbano-industriais. A crise do café que ocorreu a partir de 1897, combinando superprodução e queda dos preços e, posteriormente, mantendo uma tendência declinante nos preços até 1910 (COSTA, 1978), serviu para que essas oligarquias criassem políticas voltadas para a valorização do produto, ou seja, políticas voltadas para o setor interno do país. Desta maneira nota-se que houve uma necessidade de expandir o crédito no país. 3. Bancos em Minas Gerais Somente em 1° de janeiro de 1819 foi que se instalou no estado o seu primeiro banco, a caixa filial do Banco do Brasil, em Vila Rica (BESSA, 1981). Posteriormente veio a ser criada uma caixa econômica em Ouro Preto, em 1838, e uma nova caixa filial do Banco do Brasil, em 1856 (GAMBI, 2008). No entanto, em meados do século XIX, o sistema bancário mineiro ainda era precário (HASENBALG & BRIGAGÃO, 1970). A origem do sistema bancário em Minas possui muitas interpretações diferentes, já que até o final do século XIX eram os bancos do estado do Rio de Janeiro que ofereciam créditos e serviços bancários aos mineiros (WIRTH, 1982). Grandes transformações ocorreram no estado de Minas Gerais, desde a transição de uma economia mineradora para uma economia mercantil de gêneros alimentícios na Região Sul, até o desenvolvimento da cafeicultura mineira para a Zona da Mata (PAULA, 2001). Porém, pela ausência de estudos empíricos e até mesmo inexistência de documentação adequada, permanece a discussão sobre o desenvolvimento do sistema bancário em Minas. Mascarenhas (1954) e Albino (1957) defendem a ideia que a origem do sistema bancário estaria ligado ao surto industrial ocorrido na Zona da Mata nas duas últimas décadas do século XIX. Ao analisar a atividade bancária como pré-abolição, tudo indica que esta estaria ligada a agricultura, mas especificamente para a produção de café (BASTOS, 1997; PIRES, 1993). Porém ao discordar que a produção de café seria responsável pela expansão dos bancos, Costa (1978) argumenta que os lucros dos produtores de café seriam incapazes de extravasar para outros setores da economia mineira, portanto a produção de café não poderia ser responsável pelo capital bancário mineiro. 2 Para coronelismo, ver LEAL (1975). 11 Outras explicações para a origem do capital dos bancos mineiros são indicadas, porém não são apontadas, mas de certa forma o vinculo exclusivo com o surto industrial e com a economia cafeeira em Minas é negado (LIMA, 1977). Sobretudo o capital comercial, de pequenos e médios comerciantes do interior do estado, também é indicado como possível responsável pela expansão bancária de minas (HASENBALG & BRIGAGÃO, 1970). Wirth (1982) reforça esta ideia acreditando que a expansão do comércio foi fundamental para a expansão do sistema bancário mineiro numa economia em desenvolvimento. Paiva (1996) ressalta que mesmo antes da decadência da produção mineradora, Minas Gerais já se destinava a se dedicar a várias outras atividades econômicas. O estado de Minas Gerais possuía um setor exportador agropecuário não cafeeiro muito importante, que era responsável pela formação de uma renda monetária significativa (SLENES, 1988). Desta maneira o centro-dinâmico que foi responsável pelo crescimento de Minas Gerais ao longo do século XIX seria o setor exportador da Província, e a acumulação de capital do estado se dava na esfera mercantil (SLENES, 1988; PAIVA, 1996). O avanço das relações de crédito entre grandes e pequenos proprietários seria o ponto principal dessa expansão, deixando assim de enfatizar o comércio como causa principal da expansão bancária mineira (COSTA, 1978). A expansão do sistema bancário em Minas no final do século XIX, não significou apenas uma transformação importante na economia, serviu também como rompimento com os bancos do Rio de Janeiro. Essas diversas interpretações em relação à origem do capital bancário dizem respeito aos bancos do estado de Minas como um todo, e algumas delas se referem especificamente á Zona da Mata. A origem deste capital no Sul de Minas ainda precisa ser mais explorada, deste modo pretendemos fazer uma análise voltada para esta região, com o intuito de entender melhor de que maneira esta expansão do sistema bancário ocorreu no Sul de Minas e quais fatores da economia contribuíram para isso, já que a partir de 1910 a região se fortaleceu e criou condições para que se instalasse nos seus municípios um número razoável de bancos e agências bancárias. 4. Bancos no Sul de Minas Gerais Minas Gerais, que teve sua plantação de café superada pela do estado de São Paulo entre 1888 e 1908, tornou-se então o principal produtor de alimentos de subsistência do país. Desse modo o vinculo estabelecido com o Rio de Janeiro que era capital da Corte e o principal centro comercial, se fortaleceu (LENHARO, 1979; FURTADO, 1983). Com isso, a 12 região do Sul esteve voltada especialmente para o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro, e dessa maneira os bancos da capital abafavam o surgimento de bancos no estado de Minas, fazendo com que os recursos mineiros se voltassem para o Rio de Janeiro (IGLÉSIAS, 1958). Portanto até o final do século XIX eram os bancos do estado do Rio de Janeiro que ofereciam créditos e serviços bancários aos mineiros (WIRTH, 1982). Especificamente no sul de Minas Gerais, o sistema bancário começou a se desenvolver a partir da década de 1910, já na década de 1920 o desenvolvimento bancário se torna ainda mais marcante e se consolida (COSTA, 1978). Foi neste contexto de expansão dos bancos em Minas, que ocorreu também o enfraquecimento da economia fluminense perante a economia paulista. Com isso o estado de Minas Gerais passa a se desenvolver com mais intensidade num ambiente economicamente ligado ao estado de São Paulo (GAMBI, 2011). Embora haja necessidade de estudos mais aprofundados, o esgarçamento dos laços que ligavam a economia mineira ao estado do Rio de Janeiro e a mudança do centro da economia nacional para o estado de São Paulo parecem ser elementos importantes para explicar o aumento do número de bancos na região do sul de Minas na década de 1920 (GAMBI, 2011). Gráfico 2 – Nº de Bancos Criados no Sul de Minas e na Zona da Mata (1889-1908) Fonte: BASTOS (1997) e COSTA (1977) Gráfico 3 – Nº de Bancos Criados no Sul de Minas, na Zona da Mata e em Belo Horizonte (1909-1930) Fonte: BASTOS (1997) e COSTA (1977) Como a maioria destes bancos foram criados no Sul de Minas, é correto supor que a região dispunha de uma razoável rede de atendimento bancário. O Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais fundado em 1911 é um exemplo disto, pois este tinha agências em Varginha, São Sebastião do Paraíso, Guaxupé, Formiga, Barbacena, Araguari, Curvelo, Muriaé, Carangola e Ubá (GAMBI, 2011). O Banco do Brasil, mais antigo que o banco 13 Hipotecário (PACHECO, 1979), também ampliou seu número de agências na região do Sul de minas e contava com agências em Três Corações e Varginha. Costa (1978), ao sugerir que a origem do capital bancário mineiro teria ligação com o capital comercial do mercado interno, seja pela comercialização de gado, seja nos “negócios urbanos”, propôs uma análise das principais características econômicas dos municípios onde se instalaram os novos bancos, já que estes não possuíam filiais ou agências. A casa Bancária Cia. Industrial Sul Mineira tinha sua sede na cidade de Itajubá no sul de Minas. Nesta cidade, por exemplo, eram produzidos café, fumo, cana, algodão, feijão, milho e arroz. Esses produtos eram exportados para o estado do Rio de Janeiro e São Paulo. O Banco Comércio e Lavoura tinha sua sede em Muzambinho, município situado numa região cafeeira e vinícola, que em 1907 já apresentava certo desenvolvimento, com bons comércios, fábricas de vinhos, móveis, massas alimentícias, usinas e engenhos. Santa Rita do Sapucaí era sede do Banco Santaritense, além de exportar café, cereais e gado. Alfenas também era um município com atividade econômica agrícola e pastoril. Monte Santo, na fronteira com São Paulo, fazia parte de um município cafeeiro. Por último, Poços de Caldas que era sede da Casa Bancária Moreira Salles & Cia, município que exportava café, cereais, vinhos e laticínios. Os exemplos acima indicam as principais atividades econômicas das cidades sulmineiras, a produção agrícola de gêneros alimentícios e café. Em algumas delas, nota-se também a presença de uma atividade industrial, atividade esta que de uma maneira geral mantinha alguma ligação com á economia de abastecimento ou com á economia agroexportadora cafeeira. Essas indústrias estariam voltadas para o ramo de alimentos e para o consumo local, possuindo uma estrutura com poucos trabalhadores e com uma baixa tecnologia. Se considerarmos os dados da produção de café e da produção industrial do Sul de Minas e relacionarmos essas informações da localização dos bancos na região, percebemos que as principais cidades produtoras de café em 1927 e que, ao mesmo tempo, tiveram algum tipo de produção industrial em 1907, tiveram algum banco criado entre 1909 e 1927. Além de que a maioria dessas cidades tinham acesso a linha de trem, através da Mogiana e a Rede Sul Mineira. A instalação da rede ferroriária do Sul de Minas mantinha ligação com o Rio de Janeiro e São Paulo, não promevendo um transporte entre suas próprias cidades. Assim o 14 século XX é marcado por um período de transição e avanços na economia sul mineira, tanto nos aspectos bancários, indústriais e de integração de suas ferrovias, porém estes avanços ocorreram de maneira lenta (SAES, COSENTINO, SILVA e GAMBI, 2010). 5. Observações Finais Seja pelo número de trabalhos, seja por problemas de documentação, o desenvolvimento dos bancos em Minas Gerais não possui ainda uma historiografia consolidada. Mascarenhas (1954) e Albino (1957) em seus trabalhos apoiavam na ideia de que o elemento responsável para tão expansão seria o surto industrial que houve na Zona da Mata no fim do século XIX. Mas em seu trabalho Lima (1977) nega este vinculo da criação dos bancos com o surto industrial, acreditando que existem outras perspectivas para a origem do capital dos bancos, embora não as aponte. Costa (1978) ressalta que as relações de crédito entre grandes e pequenos proprietários seriam o foco principal para ter ocorrido este desenvolvimento, deixando de lado o comércio, fator este que Wirth (1982) acreditava ser fundamental para a expansão dos bancos. Apesar da discussão sobre a origem dos bancos mineiros, pode-se afirmar que o século XIX foi marcado pelo inicio do avanço do sistema bancário estado e que, no século XX, essa expansão se consolida. Em relação ao Sul de Minas é possível que o avanço do sistema bancário se deu após o rompimento do estado com o Rio de Janeiro e neste mesmo momento a região passou a ter uma relação maior com o estado paulista. Os estudos ainda são escassos no que diz respeito à historiografia da região do Sul de Minas, porém podemos notar que a produção de café no século XX perdeu força e que na região havia uma economia diversificada. Devemos enfatizar também que os bancos criados no Sul de Minas teriam suas sedes em cidades próximas às cidades paulistas, o que remete a uma ligação mais forte entre as economias mineira e paulista. 6. Referências Bibliográficas ALCÂNTRA, Daniela Pires Ramos de. Instituições, sistema financeiro e desenvolvimento econômico. 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