20-05-2016 “Há um conjunto vasto de projectos estratégicos” em Angola Para o presidente da Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores, a situação que vive a economia angolana actualmente não deverá ser particularizada. “O problema é bem mais abrangente”, destaca Vítor Carneiro, referindo que esta situação afecta os países dependentes da exploração de recursos energéticos, como petróleo ou carvão. Todavia, relativamente ao mercado de Angola, Carneiro frisa que, para as empresas ligadas à consultoria em engenharia e arquitectura, “a situação é particularmente complexa” Pedro Cristino P D.R. ara o presidente da APPC, Vítor Carneiro, “é consensual que a dependência de mercados externos únicos ou quase únicos é contraproducente e as empresas trabalham para evitar ou reverter essa situação. Vítor Carneiro presidente da Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores Quais são os principais desafios que os associados da Assocação Portuguesa de Projectistas e Consultores (APPC) enfrentam, de momento, no mercado angolano? Não desvalorizando a delicadeza da situação, entendemos não dever particularizar o mercado angolano. O problema é bem mais abrangente, afectando os países cuja capacidade de financiamento depende da exploração de recursos energéticos, como sejam o petróleo, gás e carvão. Trata-se de Angola, mas também da Argélia, do Brasil, de Moçambique, da Venezuela e de alguns outros países para os quais as empresas do sector exportam e que se incluem na mesma categoria de dependência das cotações das matérias-primas energéticas. A verdade é que a drástica e repentina redução das cotações destas matérias-primas vieram colocar um novo padrão na economia mundial e tem-se vindo a observar sucessivas reduções em baixa das expectativas de crescimento dos países em desenvolvimento. Compare-se as projecções actuais com as de há 2 anos e veja-se a enorme diferença. Para as empresas portuguesas do sector da consultoria, em particular as ligadas à consultoria em engenharia e arquitectura, a situação é particularmente complexa. Após uma redução do mercado interno superior a 50% ocorrida entre 2010 e 2015, com a inerente degradação das condições de contratação, as empresas orientaram-se para o mercado internacional, exportando mais de 60% da sua actividade. Naturalmente que Angola é o principal mercado, mercê da sua própria dinâmica de investimento e capacidade de financiamento das operações. Alterando-se esta situação, evidentemente que as empresas vão ter de se adaptar, por forma a não ficarem tão dependentes do mercado angolano e de outros mercados com idênticas características. Que medidas poderão adoptar as empresas deste sector de forma a minimizarem os impactos negativos da crise angolana? É consensual que a dependência de mercados externos únicos ou quase únicos é contraproducente e as empresas trabalham para evitar ou reverter essa situação. A APPC sabe que têm tentado entrar, ou reforçar presença, em novas geografias, sendo que a dúvida reside em saber se esse processo de diversificação já se traduz em volume de actividade. A APPC não consegue, por ora, ter dados relevantes a 20-05-2016 esse propósito. Tenhamos também noção de que o investimento em Angola não parou. Há um conjunto vasto de projectos considerados estratégicos pelo Governo de Angola, sobretudo em infra-estruturas de diversa índole, que não pararam e tudo indica que não vão parar. Por outro lado, as empresas conhecem bem os mecanismos de suporte ao investimento e ao desenvolvimento com apoio internacional, sobretudo das multilaterais financeiras como o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento e as associadas à cooperação com a União Europeia (Fundo Europeu para o Desenvolvimento), bem como algumas cooperações bilaterais particularmente activas, como por exemplo a cooperação dos EUA, da Alemanha e da França. As empresas associadas na APPC conhecem bem estes mecanismos de financiamento, muitas delas acompanham este mercado das multilaterais desde há pelo menos 30 anos e sabem que este é um “mercado” que não é afectado pela emergência de crises de pagamentos dos países. Trata-se de um mercado porventura menos rentável mas mais seguro, e que apresenta oportunidades interessantes também noutras geografias. Claro está que a minimização dos impactos negativos também dependerá muito da estratégia e posicionamento das empresas, não sendo irrelevante os seus projectos de localização nos mercados. Como vêem o pedido de ajuda ao FMI? Poderá a entrada do FMI significar um impulso à diversificação da economia do país? Em primeiro lugar, é importante realçar que se trata de um assunto da esfera de competência do Governo de Angola. A decisão de acionar o pedido de ajuda está seguramente baseada numa cuidada avaliação da situação e manifesta certamente uma vontade de maior controlo sobre as finanças públicas e a determinação de empreender reformas económicas. O desígnio de diversificação da economia, vem sendo perseguido desde há muito, embora com resultados insuficientes já que, como se vê, a economia continua muito dependente do petróleo. Em termos gerais, dir-se-á que a intervenção do FMI acabará por racionalizar o investimento público, dando segurança às operações que prosseguirem. A eventual diversificação da economia de Angola poderá originar mais oportunidades para os vossos associados? A prazo, sem dúvida que a diversificação da economia, na acepção de melhoria da qualidade de vida das populações e de crescimento económico, reduzindo a dependência do sector petrolífero, ampliará e diversificará as oportunidades no país. Trata-se portanto de uma inevitável e boa aposta do país. Tudo tem os seus tempos, sendo que a actual dinâmica de investimento tem estado muito centrada na construção e reconstrução de infra-estruturas, cujas necessidades tenderão a reduzir-se a prazo. Mesmo perante o cenário de crise, em Angola, dados os problemas com divisas e cancelamento de projectos, existem oportunidades para a fileira da construção no país, actualmente? Certamente que existem essas oportunidades, sendo certo que as empresas têm de olhar para todo o ciclo do projecto, incluindo portanto a necessidade de assegurar que há condições para serem pagas nos momentos correctos. Aguardemos pela racionalização do investimento público que o Governo terá de fazer. A partir daí será mais fácil (re)definir a estratégia de abordagem do mercado. Preocupante é também o elevado montante de serviços já prestados e que permanecem por liquidar. Esperemos que seja dada prioridade à regularização dessas operações. I