78 COMUNICAÇÃO BREVE Mario Eliseo Maiztegui Antunez¹ Célia Regina de Jesus Caetano Mathias² Saúde oral e doenças sexualmente transmissíveis Oral health and sexually transmitted diseases > RESUMO O profissional de saúde deve estar atento às manifestações orais das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e AIDS, visando o diagnóstico precoce, o tratamento necessário e as orientações preventivas a serem implementadas, em adolescentes. > PALAVRAS-CHAVE DST/AIDS, prevenção & controle, comportamento sexual, adolescente. > ABSTRACT Healthcare practitioners must be alert for oral indications of Sexually Transmitted Diseases (STDs) and AIDS, in order to ensure early diagnoses, the necessary treatment and preventive guidance for adolescents. > KEY WORDS STD/AIDS, prevention & control, sexual behavior, adolescent. O início de sinais e sintomas (manifestações primárias) das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e AIDS pode ocorrer na cavidade oral, assim como as manifestações secundárias. As DST mais importantes que podem ter manifestação oral são: sífilis, gonorreia, herpes genital, candidíase, condiloma acuminado, e AIDS. Quando houver suspeita de lesões orais, ligadas às DST/AIDS, o diagnóstico é confirmado através de exames clínicos e laboratoriais. Portanto, é fundamental que os profissionais de saúde estejam atentos a isto, visando o diagnóstico precoce, o tratamento necessário e as orientações preventivas a serem implementadas em adolescentes. O sexo oral corresponde ao contato direto da boca, dos lábios e da língua com os órgãos genitais. A felação (sexo oral, feito no homem pela mulher; vem do latim fellare que significa sugar) e a cunilíngua (feita na mulher pelo homem; vem de uma palavra alternativa para vulva em latim, cunnus, e da palavra latina para lamber, lingere) são consideradas preliminares importantes na prática sexual, porém devem ser acompanhadas de medidas para evitar a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. Há, ainda, o anilingus, que se relaciona à prática do sexo oral no ânus1, 2. É importante destacar que nenhuma das relações sexuais sem proteção é isenta de risco. Em relação à cavidade oral, o poder de infectividade depende da integridade das mucosas (ausência de feridas abertas na boca, úlceras, machucados, garganta inflamada e doenças nas gengivas, cáries com exposição pulpar, ou seja, cáries profundas). Podem ocorrer microlesões, imper- ¹Cirurgião-dentista do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NESA/UERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil. ²Doutoranda em Saúde Coletiva - Instituto de Medicina Social/UERJ. Cirurgiã-dentista do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (NESA/UERJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Mario Eliseo Maiztegui Antunez ([email protected]) – Avenida 28 de Setembro, 109, fundos, Vila Isabel – Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20551-030. Recebido em 02/02/2013 – Aprovado em 14/03/2013 Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 1, p. 78-79, abril 2013 Adolescência & Saúde ceptíveis, na boca (como, por exemplo, trauma de escovação), que também elevam o risco de contaminação. Quem pratica sexo oral sem preservativo entra em contato direto com o sêmen e com as secreções vaginais, que, originalmente, parecem não fazer mal à saúde. A recomendação é que, independente da forma praticada, o sexo deve ser feito sempre com proteção (camisinha) ou com proteção para mucosas3, 4. Há quatro formas de transmissão de doenças por meio do sexo oral: transmissão por contato, transmissão sanguínea, transmissão por secreções e transmissão vertical5, 6. Patologias e vias de transmissão3: Por contato3 As doenças mais frequentes são HPV e Herpes. No caso de infecção pelo HPV, há o aumento do risco, posterior de ocorrência de câncer de boca e orofaringe6. Pelo sangue5 Através do sangue, podem ser transmitidos o HIV, a hepatite B, a hepatite C e a sífilis. Pela secreção5 Através das secreções, pode ser transmitida a gonorreia. Pela transmissão vertical3 O vírus do HPV adquirido da mãe pode se estabelecer na cavidade oral do filho(a), podendo, assim, ser transmitido, posteriormente, ao(à) 79 SAÚDE ORAL E DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS parceiro(a). O vírus HIV também pode ser adquirido da mãe, e sem ser soronegativado no bebê, pode ser transmitido ao (à) parceiro (a). PREVENÇÃO/DICAS3, 4, 7 > Antunez e Mathias Aconselha-se: 1. Evitar sexo oral se tiver alguma lesão ou inflamação na boca (inclusive gengivite). Ou ainda, se houver algum sangramento na boca, afta ou se acabou de escovar os dentes e houve sangramento. 2. Evitar o uso de fio dental e realização de escovação antes da prática do sexo oral, porque estes podem machucar a gengiva, elevando o risco de infectividade. Nesta situação, é recomendado o uso de enxaguatórios bucais. 3. Usar preservativo e proteção para mucosas (camisinha cortada - formando um retângulo - ou filme de PVC, usado na cozinha). 4. Deve-se evitar a ejaculação na boca. 5. Deve-se evitar o sexo oral durante o período menstrual. A prática do sexo oral – uma variação da prática sexual – se constitui em tabu em nossa sociedade, tendo em vista que esta prática sexual não está relacionada à capacidade de reprodução da espécie. Portanto, frequentemente, é pouco abordada pelos profissionais de saúde. > REFERÊNCIAS 1. RevBras Sex Hum [Internet]. 1991 [citado 2013 Mar 14];2(1). Disponível em: http://www.sbrash.org.br/ portal/images/stories/pdf/rsbh-v2n1. 2. Opinião de estudantes universitárias sobre sexo oral em relações heterossexuais.RevBras Sex Hum [Internet]. 1991 [citado 2013 Mar 14];2(1):52-68.Disponível em: http://www.sbrash.org.br/portal/images/stories/pdf/rsbh-v2n1. 3. Portal sobre AIDS, doenças sexualmente transmissíveis e hepatites virais. Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais [Internet]. [citado 2013 Mar 14]. Disponível em: http://www.aids.gov.br/. 4. Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais. Dúvidas frequentes [Internet]. [citado 2013 Mar14]. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pagina/duvidas-frequentes#prevencao. 5. Terra sexo oral. Cuidados [Internet]. [citado 2013 Mar 14]. Disponível em:http://www.terra.com.br/sexo/ infograficos/sexooral/cuidados.htm. 6. Tinoco JÁ, Silva AF, Oliveira CAB, Rapoport A, Fava AS, Souza RP. Correlação da infecção viral pelo papilomavírus humano com as lesões papilomatosas e o carcinoma epidermóide na boca e orofaringe. RevAssocMedBras2004;50(3): 252-6. 7. Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais. Cuidados com sexo oral evitam contrair doenças [Internet]. 2003 Set 30 [citado 2013 Mar 14]. Disponível em: http://www.aids.gov.br/noticia/cuidados-com-sexo-oralevitam-contrair-doencas. Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 1, p. 78-79, abril 2013