universidade candido mendes pós

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
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AS CONEXÕES NEURAIS NO PROCESSO DA APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA
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Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Neurociência Pedagógica
Por: Ana Angelica Tinoco de Sá Vieira
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me dado força e coragem para vencer as
dificuldades diante da realização deste trabalho.
Ao corpo docente do curso de Pós Graduação em Neurociência
Pedagógica da Universidade Cândido Mendes – AVM que contribuiu para a
minha formação profissional e pessoal e em especial a Professora Simone
Ferreira pelo apoio, dedicação e incentivo.
As amigas Leticia e Ana Regina
pelos momentos de troca,
aprendizado e parceria tornando a jornada menos árdua. Muito obrigada!
Agradeço ainda a todos que de alguma forma influenciaram direta ou
indiretamente para realização desta monografia.
3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de pesquisa: Ao meu filho
Alexandro, que estando distante, se faz presente
incentivando a realização desta empreitada.
E
a
minha
filha
Aniele,
pela
paciência
e
companheirismo. Sem você, esta conclusão não
seria concretizada.
Amo vocês!
4
RESUMO
Os cursos de graduação em pedagogia precisam incorporar ao currículo
o estudo sobre neurociência a fim de embasar e atualizar os profissionais que
atuam na área de educação. As funções executivas essenciais ao aprendizado
são constituídas na interação sócio cultural, permeadas pela emoção, fazendo
de cada individuo um ser humano único, diferente dos demais. A aprendizagem
exerce influência sobre o sistema nervoso alterando sua estrutura, que é
mutável. É o efeito da plasticidade. Entender que um estímulo de qualidade
atrai a atenção, ativa a percepção, excita neurônios, libera substâncias
químicas, formas sinapses, arquiva na memória, amplia a rede de conexões
neurais e produz aprendizagem, é instigante. Na área educacional, este estudo
contribuirá para expandir as possibilidades da prática pedagógica em sala de
aula, proporcionando melhores resultados no processo de ensino e de
aprendizagem. Conhecer a base biofisioquímica do funcionamento cerebral no
processo de construção da aprendizagem pode representar um instrumento de
grande importância aos professores ao planejar suas aulas e avaliar os alunos.
5
METODOLOGIA
O presente trabalho foi elaborado tendo como base a pesquisa
bibliográfica através de leitura e análise de diferentes livros e artigos de
revistas referentes ao assunto, a fim de subsidiar a realização do estudo.
Dentre os autores consultados encontram-se Damásio, Lent e Vygotsky.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULO I - Neurociência e o Cérebro Humano
11
CAPÍTULO II - Cérebro e Aprendizagem
21
CAPÍTULO III – Plasticidade e Aprendizagem Significativa
31
CONCLUSÃO
40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
42
ÍNDICE
44
FOLHA DE AVALIAÇÃO
46
7
INTRODUÇÃO
A construção de uma escola inclusiva, cidadã e de qualidade; o respeito
pela singularidade do desenvolvimento humano e, principalmente, o aumento
da escolarização assegurando maiores oportunidades de aprendizagem, são
alguns
compromissos
assumidos
por diferentes
governos,
visando o
fortalecimento do sistema público de ensino.
Mudanças constantes na educação fundamental do Município do Rio de
Janeiro evidenciam o interesse público em obter um ensino mais qualificado,
porém, apesar dos investimentos e a experimentação de diferentes
concepções teórico pedagógicas aplicadas a este segmento, não há uma
efetiva melhoria da aprendizagem.
A pluralidade de situações que surgem no ambiente escolar e as
especificas necessidades dos alunos, exigem do professor ações pedagógicas
mais abrangentes, objetivas e adequadas à construção do conhecimento.
O conhecimento de que o aprendizado organizado resulta em
desenvolvimento mental, surgiu no inicio do século XX, quando Lev Vygotsky
(1896-1934), postulou que as funções psicológicas são um produto da
atividade cerebral, sendo este desenvolvimento regulado por forças internas e
externas dos sujeitos que interagem entre si; sendo esta construção realizada
pela próprio sujeito, modifica e provoca transformações, onde o professor é o
agente mediador da aprendizagem.
Os escritos deixados por Vygotsky há um século, são reafirmados pelas
recentes descobertas no campo neurocientífico. A utilização de técnicas de
imageamento funcional por ressonância magnética durante a realização de
atividades cognitivas demonstra o funcionamento dos circuitos neurais,
facilitando o entendimento sobre a construção do conhecimento.
Observa-se que o progresso nessas pesquisas tem sido aplicados em
diferentes campos da medicina, psicologia, informática, marketing, economia,
gestão de pessoas e tantos outros que à luz da neurociência, percebem uma
fonte inesgotável de possibilidades na melhor qualidade de vida para as
8
pessoas; porém, são pouco difundidas e distanciadas da área educacional, não
constando ainda, do currículo dos cursos de formação de professores.
Entender como o cérebro reage aos estímulos ativando o processo
neural, formando sinapses, pode representar um passo importante na obtenção
de resultados mais consistentes do trabalho desenvolvido nas escolas.
Neste cenário educacional, esta pesquisa é de grande relevância para
professores e demais profissionais que desejam obter um aprofundamento
sobre a aquisição da aprendizagem sob uma abordagem neurocientífica,
permeada pelas teorias de Lev Vygotsky e David Ausubel.
O trabalho apresentado tem como objetivo conhecer o processo de
construção
das
conexões
neurais
em
decorrência
da
Aprendizagem
Significativa, proporcionando compreensão acerca de como os indivíduos
aprendem, reconhecendo que a investigação sobre o assunto pode contribuir
para o aprimoramento da fundamentação teórico pedagógica.
O processo do estudo terá como base pesquisa bibliográfica, revistas
científicas, incluindo no decorrer do trabalho dados recentes sobre as
descobertas neuropedagógicas.
Com intuito de esclarecer e desenvolver o tema “As Conexões Neurais
no Processo de Aprendizagem Significativa”, a pesquisa se constitui por três
capítulos.
O primeiro, Neurociência e o Cérebro Humano, oferece ao leitor um
histórico sucinto sobre a evolução do estudo da função cerebral desde a
antiguidade aos nossos dias, apresentando o processo fisiológico que ocorre
na comunicação entre o cérebro e o meio externo, através de um estimulo
recebido, formando sinapses, indispensáveis para aprendizagem.
O Segundo capítulo, Cérebro e Aprendizagem, apresenta as funções
cognitivas complexas; a atenção, percepção, emoção e os diferentes tipos de
memórias e ainda, as regiões cerebrais envolvidas, focando a importância da
interação social na construção desses processos internos e como estes
influenciam na aquisição da aprendizagem.
O terceiro capítulo, Plasticidade e Aprendizagem Significativa, consiste
em demonstrar o processamento químico pelo qual as sinapses são
9
construídas, ampliando os circuitos neurais, realizando mudanças na estrutura
do cérebro – A neuroplasticidade, sob o efeito de uma aprendizagem
significativa.
O presente estudo não se esgota em si; ao contrário, pode ser
considerado como ponto de partida para outros estudos, uma vez que as
pesquisas neurocientíficas no campo educacional se constituem lentamente.
Grande parte deste trabalho tem como base os resultados recentes de
pesquisas realizadas por neurocientistas, mas a falta de respostas para
questões importantes indica que esta trajetória está apenas começando
10
CAPÍTULO I
NEUROCIÊNCIA E O CÉREBRO HUMANO
1.1
Um Breve Histórico
O conhecimento que se possui atualmente sobre Neurociência, é o
resultado de um longo processo histórico originado, segundo registros, nas
civilizações antigas há, pelo menos, sete mil anos.
Naquela época, as trepanações feitas em cérebros humanos buscando a
cura para doenças, dissecações em crânios de cadáveres e remoção de partes
do cérebro de animais (método de ablação experimental), eram os principais
caminhos para as observações realizadas pelos filósofos da antiguidade,
médicos e anatomistas, cuja idéia sustentada era que o sistema nervoso
desempenhava algum papel na consciência e na cognição (Lent, 2008).
Galeano, médico romano (130-200 dC), supunha que a imaginação, o
intelecto e a memória estivessem depositados nos ventrículos cerebrais,
afirmando:
“[...] forneci demonstrações que provam que a alma
racional fica alojada no encéfalo; que esta é a parte com a
qual raciocinamos; que ela contém uma quantidade muito
grande de pneuma psíquico; e que esse pneuma adquire
sua qualidade especial própria através da sua elaboração
no encéfalo.” (LENT, 2008, p.4).
Ainda que o estudioso não tenha proposto um esquema sobre a
localização dessas áreas no encéfalo, provavelmente foi a primeira teoria a
atribuir ao cérebro, a função cognitiva.
A célula como unidade componente de todos os tecidos de animais e
vegetais; o cérebro considerado como órgão gerador do comportamento,
pensamento e emoção; a identificação da localização de uma área específica
11
no córtex cerebral responsável pela fala; o cérebro como estrutura complexa e
organizada formada por células especializadas; a comprovação da existência
de impulsos nervosos; a formação de sinapses; a identificação de cinquenta e
duas áreas cerebrais diferentes e suas respectivas funções; elaboração de
teorias sobre a aprendizagem humana, foram alguns trabalhos propostos no
decorrer do século XIX. Este período foi marcado por discordâncias e
contradições entre as ideias apresentadas pelos estudiosos, mas de enorme
valor para as experiências futuras.
A partir de 1950, novas técnicas foram aplicadas durante a realização de
exames de eletroencefalograma, permitindo a comprovação de muitas
proposições feitas anteriormente e que, até então, circulavam no campo das
ideias. As constatações permitiram um avanço considerável das pesquisas
sobre o comportamento dos neurônios em diferentes partes do córtex cerebral
humano.
A maior evolução nas investigações neurocientíficas, deve-se a
apresentação de imageamento funcional por ressonância magnética aplicada
ao homem, pela primeira vez, em 1992. Este recurso possibilitou olhar para
dentro do cérebro, mostrando que as ações como falar, memorizar, ouvir ou
ver, acompanham atividades neuronais em pontos diferentes do cérebro. (Lent,
2008).
As técnicas de neuroimagem introduzidas à prática científica nas últimas
duas décadas continuam em plena evolução, trazendo contribuições que
permitem aprofundar o conhecimento sobre o complexo sistema cerebral.
A revista americana Current Biology, publicou em novembro de 2011 um
experimento liderado pelo neurocientista Jack Gallant que consistia em
reconstruir imagens arquivadas no cérebro. Três voluntários assistiram a um
mesmo filme e, depois, com auxilio do scanner de ressonância magnética e um
programa de computador, as imagens deste filme guardadas na memória
dessas pessoas foram decodificadas e reconstruídas.
Apesar de inúmeras descobertas, o cérebro ainda está cercado de
mistérios. Muitas indagações continuam sem respostas, demonstrando que a
12
muito por descobrir sobre o órgão mais complexo do organismo humano e suas
funções.
1.2
Sistema Nervoso
Os neurônios e as células gliais constituem a base de comunicação do
sistema nervoso percebendo e identificando as condições ambientais externas
e as internas do próprio corpo, capacitando o organismo na elaboração de
respostas adequadas para adaptar-se a estas condições.
Lent (2008) adota uma maneira simples e esclarecedora em relação à
terminologia básica do sistema nervoso. Segundo o neurocientista, o primeiro
nível de classificação divide-o em sistema nervoso central (SNC) e sistema
nervoso periférico (SNP). O SNC é definido como o conjunto de componentes
do sistema nervoso contidos em caixas ósseas (o crânio e a coluna vertebral),
enquanto o SNP apresenta seus elementos distribuídos por todo o organismo.
Em seguida, considera um segundo nível de classificação, dividindo-se o SNC
em encéfalo (contido dentro do crânio) e medula espinhal (contida no interior
da coluna vertebral). Num terceiro nível, divide o encéfalo em cérebro, cerebelo
e tronco encefálico; sendo que o tronco encefálico compreende três divisões:
mesencéfalo, ponte e bulbo. A secção mediana do tronco encefálico permite a
visualização do diencéfalo, que é composto pelo tálamo e hipotálamo.
O SNP é constituído pelas vias que conduzem os estímulos ao SNC ou
que levam até os órgãos efetuadores as ordens emanadas da porção central,
formado pelos nervos espinhais e cranianos, gânglios e terminações nervosas.
Os nervos transportam impulsos do cérebro para o corpo e do corpo
para o cérebro. Os nervos sensoriais ou aferentes levam informações dos
receptores ou órgãos dos sentidos até o SNC; enquanto que, os nervos
motores ou eferentes, levam informações do SNC para os músculos e
glândulas, conduzindo sinais estimulatórios.
13
1.3
Cérebro
O cérebro humano é considerado o mais complexo sistema do universo;
encontra-se altamente interconectado, e a arquitetura das principais conexões
entre seus núcleos e regiões oferece uma vista panorâmica útil do sistema
inteiro (Goldberg, 2001).
Situa-se dentro do crânio, protegido por um conjunto de membranas que
são as meninges. Encontra-se dividido em dois hemisférios, esquerdo e direito,
ligados longitudinalmente por um feixe de fibras nervosas, denominado corpo
caloso, possuindo a função de permitir a transferência de informações entre os
dois lados do cérebro, fazendo com que funcionem harmonicamente.
A superfície cerebral é constituída por saliências chamadas giros e
reentrâncias conhecidas como sulcos. Esta forma irregular recebe o nome
circunvoluções, sendo uma característica dos cérebros humanos, podendo
variar de pessoa para pessoa.
Os anatomistas, por convenção, dividiram o cérebro em quatro lobos,
denominando-os conforme a localização dos ossos do crânio que estão acima
deles. Estes lobos encontram-se na parte externa: lobo frontal, na porção mais
interior
do
crânio,
controla
o
comportamento
motor
especializado
(planejamento) e a linguagem; lobo temporal, que fica na parte lateral do
cérebro, gerando recordações e emoções, permitindo que os indivíduos se
reconheçam entre si e diferenciem os objetos, responsável em processar e
recordar eventos distantes; lobo parietal, encontrado na região posterior ao
lobo frontal,
responsável pela
interpretação dos estímulos sensoriais
provenientes do restante do corpo; lobo occipital, na região caudal do cérebro,
interpreta os sinais captados pelos olhos; e o lobo da ínsula, sendo o único
lobo não visível, monitora o estado funcional e as emoções para ajustar o
comportamento ao estado interno corpo.
14
1.4
Cerebelo
O cerebelo corresponde a uma pequena porção situada sobre a
superfície dorsal do tronco encefálico. Anatomicamente, é parecido com o
cérebro; possui giros e sulcos, dois hemisféricos e três lobos envolvidos pelo
córtex cerebelar.
As principais funções do cerebelo são a manutenção do equilíbrio
corporal, a regulação do tônus muscular e o controle da harmonia e precisão
dos movimentos, com informações sensoriais. (Lent, 2008)
1.5
Tronco Encefálico
Localiza-se na parte posterior do cérebro, sendo parcialmente encoberto
pelo cerebelo. Tendo o formato de um tronco, sua principal função é a ativação
de áreas especificas do cérebro através de um intrincado sistema de caminhos.
O mesencéfalo reúne as informações que chegam através dos sentidos
biológicos, formulando as respostas motoras necessárias; composto por um
conjunto de núcleos onde é encontrada a substância negra, responsável pela
produção de dopamina, importante neurotransmissor para a modulação da
motivação e controle dos movimentos.
A ponte, por onde passar um grande número de feixes de fibras para
alcançar as partes mais distantes do corpo.
O bulbo, importante pela concentração de massa cinzenta; controla a
excitabilidade das regiões corticais, algumas funções orgânicas e coordena o
ciclo sono-vigília.
1.6 Diencéfalo
Em continuidade ao mesencéfalo, se apresenta o diencéfalo, ligado ao
cérebro por núcleos e robustos feixes de fibras, formando o tálamo e o
hipotálamo. O tálamo controla o meio externo, abriga núcleos responsáveis
pelo processamento de informação sensorial visual e auditiva, estabelecendo
15
um circuito de comunicação do córtex cerebral, dos núcleos de base e o do
cerebelo; outros núcleos estão envolvidos no sistema límbico. (Lent, 2008).
O hipotálamo controla os estados internos do organismo e ajuda a
mantê-los em equilíbrio (Goldberg, 2001).
1.7
Telencéfalo
O telencéfalo ocupa a maior parte do cérebro humano, podendo ser
divido em córtex cerebral e núcleos de base.
A parte evolutivamente moderna do córtex cerebral é designada por
neocórtex; enquanto que, a maior parte do córtex mais antiga é conhecida
como córtex límbico (Damásio, 2010) ou sistema límbico.
Entre os núcleos de base, destacam-se o núcleo caudado e o núcleo
putâmen. Os núcleos de base desempenham importante função no controle
dos movimentos, mantendo estreita relação com as áreas motoras do cerebelo.
1.8
Neurônios
Os
neurônios
são
células
nervosas
funcionais,
altamente
especializadas. São constituídas por um corpo celular de onde partem dois
prolongamentos, dendritos e axônios.
“[...] os dendritos, que são antenas receptoras de
informações proveniente de outros neurônios; e um
axônios por célula, que é o “cabo” de saída da informação
que cada neurônio emite para os demais na seqüência do
circuito”. (LENT, 2008, p.38)
Ainda que todos os neurônios do sistema nervoso apresentem o corpo
celular dendritos e axônios há muitas variações quanto à forma e a função a
qual desempenha. De acordo com as características apresentadas, é possível
identificar a região a que pertencem.
16
Em 1906, quando Santiago Ramón Y Cajal recebeu o prêmio por
reconhecer o neurônio como unidade fundamental do funcionamento do
cérebro, estimava-se que estas células correspondiam apenas quinze por
cento, e o restante das células pertenciam a uma massa de preenchimento,
denominado neuroglia.
Por mais de um século acreditou-se que as neuróglias não possuíssem
função sobre a comunicação entre os neurônios, mas pesquisas realizadas a
partir de 1980, utilizando vídeos e microscópios iluminados, comprovaram que
as neuróglias, conhecidas também como astrócitos, transportavam nutrientes e
detritos, assumindo as tarefas de nutrir e remover resíduos, além de possuírem
a capacidade de liberar neurotransmissores.
Em 2005 Philip Haydon comprovou que os astrócitos se comunicam
com as sinapses do hipocampo, sem o auxilio de impulso nervoso, além de
controlar o processamento de dados das sinapses, estão envolvidas em
processos da visão, contratura muscular e funções inconscientes, como sono e
sede. (Revista MenteCérebro, número 232, Maio de 2012, O Brilho do Cérebro
Escondido)
Um estudo feito por Norio Matsuki, na Universidade de Tóquio em
2011, demonstrou que os neurotransmissores liberados pelos astrócitos
aumentam a intensidade do impulso elétrico no axônio. (Revista Mente
Cérebro, número 232, Maio de 2012, F.R. Douglas Fields).
Diferentes dos astrócitos, os neurônios produzem impulso nervoso ou
potencial de ação para transmitir informações. O sinal gerado dentro de um
neurônio é elétrico, mas a comunicação entre eles é resultado de mecanismos
químicos, a despolarização e a repolarização que acontecem na membrana
plasmática. Em um primeiro instante, abrem-se as “portas de passagem” de
Na+ (cálcio), permitindo a entrada de grande quantidade destes íons na célula.
Desta forma aumenta a quantidade relativa de carga positiva na região interna
da membrana, provocando a sua despolarização. Em seguida, abrem-se as
“portas de passagem” de K+ (potássio), permitindo a saída de grande
quantidade destes íons. Assim, o interior da membrana volta a ficar com
excesso de carga negativa (repolarização). A despolarização de uma região da
17
membrana dura um milésimo de segundo. O estímulo provoca, então, uma
onda de despolarizações e repolarizações que percorrem a membrana
plasmática do neurônio. Esta onda de propagação é o impulso nervoso, que
segue em único sentido da fibra nervosa.
A transmissão rápida do potencial de ação é garantida pela bainha de
mielina, que é constituída por camadas concêntricas de membranas
plasmáticas de células da glia, principalmente células de Schwann. Entre as
células gliais que envolvem o axônio, existem pequenos espaços, os nódulos
de Ranvier, onde a membrana do oxônio fica exposta. Nas fibras nervosas
mielinizadas, o impulso nervoso, em vez de se propagar continuamente pela
membrana do axônio, pula diretamente de um nódulo de Ranvier para outro. O
impulso é transportado célula a célula, através de sinapses.
A sinapse é uma região de contato muito próxima entre a extremidade
do axônio e a superfície de outras células, que podem ser tanto outros
neurônios como células sensoriais, musculares ou glandulares. As terminações
de um axônio podem estabelecer muitas sinapses simultâneas. Na maioria das
sinapses nervosas as membranas das células que podem efetuar sinapses,
embora a proximidade, elas não se tocam; há um pequeno espaço entre as
membranas denominado espaço sináptico ou fenda sináptica. Quando os
impulsos nervosos atingem as extremidades do axônio da cédula pré sináptica,
substâncias químicas são liberadas nestes espaços que têm a capacidade de
se combinar com receptores presentes na célula pós sináptica, desencadeando
o impulso nervoso.
1.9
Córtex
Os hemisférios cerebrais são recobertos por camadas de massa
cinzenta, o córtex cerebral, correspondendo em grande parte, a grupo de
corpos celulares dos neurônios. Situada abaixo do córtex encontra-se uma
farta camada de substância branca, derivada de feixes de axônios
mielinizados.
18
“[...] a espessura deste cobertor de múltiplas camadas é
de cerca de três milímetros, e as camadas são paralelas
entre si respectivamente à superfície do cérebro. Toda a
massa cinzenta abaixo do córtex (núcleos grandes e
pequenos e o córtex cerebeloso) é conhecida como
substância cortical. A parte evolutivamente moderna do
córtex cerebral é designada por neocórtex.” (DAMÁSIO,
2008, p.49).
A maior região do telencéfalo é ocupada pelo córtex sendo responsável
pelo desempenho de funções motoras, sensitivo motoras, auditivas ou visuais,
coordenação de ações muito elaboradas como o raciocínio abstrato, atividades
gestuais, memória, interpretação e emissão da fala e linguagem que
correspondem as funções cognitivas superiores.
A citoarquitetura do córtex cerebral utilizada até os dias atuais foi
proposta pelo médico Korbinian Brodman, em 1909. O estudioso descreveu
sobre as diferenças celulares e seus limites anatômicos, determinando funções
especificas para cada região cortical. Como resultado, apresentou cinqüenta e
duas áreas distintas, identificando-as numericamente, conhecidas como áreas
de Brodman. Estas áreas podem ser classificadas em áreas de projeção
primária, áreas de associação secundária e áreas de associação terciária,
sendo esta última, responsável por receber e integrar as informações
sensoriais já elaboradas pelas áreas secundárias, criando estratégias de
comportamento.
Compondo as áreas de Brodman, encontram-se as áreas de Broca e
Wernicke, ambas relacionadas com a linguagem.
Paul Broca, neurologista francês, em 1861, pesquisando casos de
pacientes que apresentavam comprometimento da linguagem, descobriu que
esses indivíduos apresentavam lesões no lobo frontal esquerdo. Devido à
recorrência dos casos estudados Broca definiu a região cerebral responsável
pela emissão da fala.
19
Na Alemanha, o neurologista Karl Wernircke, realizando autópsias nos
cérebros de doentes que apresentavam dificuldade na compreensão da
linguagem, constatou a presença de lesões na poção posterior do lobo
temporal esquerdo.
Segundo Lent (2002), o modelo neurolinguístico de Wernicke
considerava que a área de Broca conteria os programas motores da fala, ou
seja, a memória dos movimentos necessários para expressar os fonemas,
compô-los em palavras e estas em frases. A área de Wernicke, por outro lado,
conteria as memórias dos sons que compõem as palavras, possibilitando a
compreensão. Assim, se as duas áreas fossem conectadas, o individuo poderia
associar a compreensão das palavras ouvidas com a sua fala.
Durante o processo da evolução, a extensão e complexidade do córtex
aumentaram progressivamente, atingindo maior desenvolvimento na espécie
humana, o que provavelmente está relacionado com grande aumento das
funções intelectuais, necessárias à capacidade de aprender.
20
CAPÍTULO II
CÉREBRO E APREDIZAGEM
A aprendizagem é um processo interno e extremamente complexo,
podendo ocorrer durante toda a existência do homem.
Estudos sobre o progresso da vida uterina demonstram que antes do
nascimento já existe uma capacidade intelectual precoce, quando algumas
características de linguagem e reconhecimento de dimensões sensoriais são
aprendidas. (Lent, 2008).
“O desenvolvimento da criança pode ser comparado com
o de uma planta: revela-se por si próprio e processa-se
em uma seqüência inata. É necessário, porém, ter em
mente que os fatores ambientais são fortemente capazes
de modificar a progressão do desenvolvimento.” (LENT,
2008, p.107)
De acordo com a teoria de Vygotsky, os fatores biológicos
preponderam sobre os sociais apenas no inicio da vida. Gradativamente, o
bebê se integra na história e na cultura de todas as pessoas de seu convívio
próximo ou distante. As atitudes, as experiências, a linguagem, os hábitos e os
valores de todos os estes sujeitos, governam o desenvolvimento do
pensamento e o próprio comportamento da criança.
Através de continua interação, o sujeito constitui seu conhecimento e
sua consciência; é um progresso que ocorre no plano social para o plano
individual interno. Desta maneira, ele participa ativamente da construção de
sua própria cultura e sua história modificando-se e provocando transformações
naqueles que com ele interagem.
Segundo Lent (2008), a aprendizagem do recém nascido é inata. O
sistema nervoso desenvolve-se aos poucos; as conexões necessitam ser
estabilizadas e as sinapses fortalecidas. A criança inserida no ambiente que a
estimule, pode ter a progressão de seu desenvolvimento alterado.
21
A linguagem ocupa importante papel nas formulações de Vygotsky.
Através da fala e do comportamento dos mais experientes, a criança começa a
formar conceitos importantes sobre o objeto do conhecimento e na medida em
que se desenvolve, passa a agir por sua própria influência. Assim, a linguagem
intervém no processo de desenvolvimento intelectual desde o nascimento.
Quando a criança se apropria da linguagem, mudanças radicais ocorrem no
pensamento. As funções psíquicas até então elementares, começam a se
transformar em funções psíquicas superiores, que envolvem a percepção e a
atenção, armazenamento e uso da memória, desenvolvimento da vontade
interna e a capacidade para resolver problemas.
2.1 Atenção
A atenção é uma função mental superior inata podendo manifestar-se e
sofrer modificações durante toda a existência do individuo, correspondendo à
condição básica para o pleno funcionamento dos processos cognitivos.
A possibilidade e manter-se atento progride na medida em que a
criança interage socialmente e os circuitos neuronais se desenvolvem.
Quando o processamento seletivo da informação está intimamente
ligado aos sentidos, a atenção é denominada sensorial, mas quando o
processo de pensamentos é o responsável pela direção e seletividade, a
atenção é intelectual. (Lent, 2005)
Para Vygotsky, conforme a criança utiliza a função indicativa das
palavras, ela começa a dominar sua atenção.
Dentre os elementos que se encontram numa determinada situação, a
criança avalia sua importância, destaca os objetos através de um sistema de
seleção e transfere sua atenção para este ou aquele lugar, deslocando-se do
campo perceptivo para o campo da atenção, por meio de um processo de
escolha.
A atenção envolve alterações em diversas partes do cérebro
simultaneamente. Os estímulos recebidos ativam a participação do córtex pré-
22
motor, córtex parietal posterior, do lócus coeruleus no tronco encefálico e
também a produção do neurotransmissor, denominado noradrenalina.
“intuitivamente todo mundo sabe o que é atenção. Prestar
atenção é focalizar a consciência, concentrando os
processos mentais em uma única tarefa principal e
colocando as demais em segundo plano. É natural intuir
que esta ação focalizadora só se torna possível porque
conseguimos sensibilizar seletivamente um conjunto de
regiões cerebrais que executam a tarefa principal, inibindo
as demais. Isto significa que a atenção tem dois aspectos
principais: a criação de um estado geral de sensibilização,
conhecido atualmente como alerta e a focalização deste
estado de sensibilização sobre certos processos mentais
neurobiológicos – a atenção propriamente dita.” (LENT,
2004, p.579)
Luria (1981) exibe outra forma para diferenciar atenção elementar
daquela mais elaborada. A atenção involuntária está presente nos primeiros
anos de vida da criança, tem origem biológica depende dos estímulos externos.
A atenção voluntária é um ato social, está intimamente ligada à maturação do
sistema nervoso e relaciona-se à capacidade de responder a instruções falada,
mesmo que diante de estímulos distrativos. O caráter seletivo da atitude
consciente, que é função da atenção voluntária, ocorre igualmente nos
processos motores, no pensamento complementar e também na percepção.
2.2 Percepção
A função dos sentidos biológicos é captar as informações daquilo que
vemos, degustamos, ouvimos, cheiramos e sentimos, enviando-as ao encéfalo
para que sejam interpretadas.
23
Assim, o sistema nervoso recebe muitas informações sobre o meio
externo e também do próprio organismo, a fim de produzir o comportamento
mais adequado à situação daquele momento.
Segundo Lent (2008) a informação recebida percorre o sistema
nervoso, fluindo entre quatro grandes divisões: os sistemas sensorial,
intrínseco, cognitivo e motor.
O sistema motor elabora as respostas determinando o comportamento
do individuo de acordo com o que foi recebido pelo sistema sensorial intrínseco
e cognitivo. Por sua vez, o comportamento ativa o sistema nervoso em
decorrência
do
efeito
produzido
inicialmente
pelo
sistema
sensorial.
Trabalhando de maneira integrada, as áreas influenciam e sofrem influencia
entre si.
A movimentação neuronal provocada pela percepção é muito mais
complexa.
“envolve a maneira pela qual as células se associam e
influenciam
a
atividade
uma
das
outras.
[...].
o
processamento paralelo de informação, a organização
hierárquica dos vários estágios deste processamento e a
representação distribuída dos eventos sensoriais. [...] a
informação, então é conduzida por circuitos neurais que
compreendem
neurônios
situados
cada
vez
mais
centralmente até que uma representação cerebral do
evento sensorial seja formada.” (LENT, 2008, p.135)
Assim, a percepção que os indivíduos têm sobre o mesmo objeto, fato
ou ainda uma situação, difere entre si porque depende das experiências
anteriores com as quais ela se associa, da necessidade e dos registros de
memória que se possui sobre aquilo que gerou a percepção.
Em seus experimentos, Vygotsky traçou uma estreita relação entre o
uso do instrumento e a fala da criança como base para o desenvolvimento da
atenção e percepção.
24
Ao entrar em contato com o meio que a cerca, a criança não percebe
apenas os objetos propriamente ditos; ela percebe o nome do objeto que tem
um sentido e também um significado. A linguagem além da função
comunicativa é representativa.
Linguagem e percepção estariam ligadas, mesmo antes da criança
aprender a falar. A percepção, então, compõe um sistema dinâmico do
comportamento, onde a criança percebe o mundo com sentido e significado.
Os estímulos sensoriais, então, são informações que chegam ao
sistema nervoso central representando as experiências que as pessoas
possuem. O encéfalo processa essas informações comparando-as com outras
que estejam registradas, podendo não identificá-las com qualquer um dos
registros prévios. Este mecanismo envolve também a comparação de
diferentes aspectos, incluindo dos sentimentos e as emoções, que podem ser
positivas ou negativas.
2.3 Emoções
As emoções exercem importante influência na comunicação dos
significados e na cognição, sendo indispensáveis para a vida racional.
Em 1937 o neuroanatomista James Papez demonstrou que a emoção
não era função de centros cerebrais específicos, mas de um sistema composto
por diversas conexões do hipotálamo com o tálamo, giro cingulado e
hipocampo.
Anos mais tarde, em 1952, Paul McLean introduziu o termo sistema
límbico, complementando as áreas propostas por Papez incluindo outras
regiões que participariam na percepção das emoções, como amígdala, o septo
e o córtex pré-frontal.
O conjunto de todas as estruturas responsáveis pelas emoções é
conhecido até hoje como circuito de Papez. Segundo Lent (2008) ainda
existem questionamentos sobre a participação de algumas destas estruturas,
como o hipocampo por não ter sua atuação comprovada no mecanismo das
emoções.
25
O giro cingulado, também conhecido como córtex cingulado recebe as
projeções de diversas áreas corticais associativas, fornecendo a base para
experiência subjetiva das emoções; hipocampo, comprovadamente, possui
importante função na consolidação da memória; amígdala é uma estrutura
complexa que possui um mecanismo de disparo de toda experiência
emocional. Integra as informações sensoriais às respostas comportamentais e
fisiológicas, principalmente em relação aos estímulos relacionados com o
perigo; o hipotálamo, intimamente ligado ao sistema límbico e encefálico. Esta
estrutura exerce a função de controlar as manifestações fisiológicas que
acompanham as emoções, através do sistema nervoso autônomo e o sistema
endócrino; o tálamo que representa um centro de transmissão de informações
sensoriais ativando o córtex cerebral, relacionadas a sensibilidade, motricidade
e comportamento emocional.
Segundo Damásio, as emoções têm origem em um processo mental,
que consiste numa variação psíquica e física, desencadeada por um estímulo.
O autor classifica as emoções em primárias ou inatas, secundárias ou de
fundo.
As emoções primárias ligadas à sobrevivência, à preservação, que se
manifestam desde a infância, estão presentes em todos os indivíduos. São
quatro: medo, tristeza, raiva e alegria. As emoções primárias são detectadas
pelo córtice sensorial e processada pelo sistema límbico do cérebro
principalmente a amígdala e o cíngulo.
As emoções secundárias são aprendidas, envolvem representações de
estímulos e estão associadas à respostas passadas, as experiências
individuais, consideradas como boas ou ruins; variam de acordo com o meio
social e a cultura, regulando o comportamento e gerando sentimentos.
Implicam numa avaliação cognitiva das situações. Neste processo, além dos
córtices sensoriais iniciais, também participam os córtices de associação, redes
do córtex pré-frontal, sistema endócrino e peptídico, gânglios basais, córtex
cerebral e o tronco cerebral.
As emoções de fundo relacionam-se com o bem estar ou com o mal
estar sendo geradas por estímulos internos.
26
“[...] a essência da emoção como a coleção de mudanças
no estado do corpo que são induzidas numa infinidade de
órgãos por meio de terminações das células nervosas
sobre um controle de um sistema cerebral dedicado, o
qual responde ao conteúdo dos pensamentos relativos a
uma determinada entidade ou acontecimento. Muitas das
alterações do estado do corpo – na cor da pele, postura
corporal, expressão facial, por exemplo - são efetivamente
perceptíveis para um observador externo... Em conclusão,
a emoção é a combinação de um processo avaliatório
mental, simples ou complexos com respostas dispositivas
a este processo, em sua maioria dirigidas ao corpo
propriamente dito, resultando num estado emocional do
corpo, mas também dirigidas ao próprio cérebro (núcleos
neurotransmissores no tronco cerebral), resultando em
alterações mentais adicionais.” (DAMÁSIO, 2001, p.168)
A emoção modula a forma pela qual os dados e os acontecimentos são
guardados na memória.
2.4 Memória
Memória é a capacidade de adquirir, reter e evocar informações
através de processos cerebrais permitindo que os indivíduos situem-se no
presente, saibam sobre si, sua linguagem, sua cultura, considerando aspectos
do passado.
Pela memória é possível relembrar mentalmente situações sendo elas
reais ou não, conhecimentos, conceitos, pensamentos, sensações e emoções.
A memória, portanto, se constitui com o fundamento do desempenho
cognitivo humano.
27
O estudo desenvolvido por Vygotsky destaca a função primordial da
memória no processo da aprendizagem.
À medida que o nível de desenvolvimento aumenta, as relações
interfuncionais responsáveis por conectar a memória a outras funções, sofre
alterações bastante significativas.
A memória se apresenta desde os primeiros estágios, quando a criança
é bem pequena; inicialmente, a manifestação representa alguma coisa que é
lembrada; o processo de lembrança corresponde a buscar relações lógicas
sobre os objetos, constituindo-se na forma mais elementar da memória ou
memória natural, sob influência dos estímulos externos.
Ao final da infância, as ideias, os conceitos e todas as estruturas
mentais vão se organizando com a utilização de conceitos abstratos, onde o
ato de lembrar associa-se a elementos complexos de outras funções
cognitivas.
Os estímulos externos que produzem na criança em idade escolar a
ação de lembrar são internalizados num processo prolongado e complexo,
incorporando-se às estruturas do sistema nervoso, gerando estímulos artificiais
ou autogerados (signos). A essência da memória humana consiste em lembrar
com o auxilio dos signos.
Enquanto que pensar para criança pequena é a mesma coisa que
lembrar, para o adolescente, lembrar significa pensar.
Segundo Iván Antônio Izquierdo, neurocientista e pesquisador sobre os
fenômenos da memória, o cérebro possui limites para guardar e processar as
informações.
O
esquecimento
de
dados
de
pouca
importância
ou
desnecessários é tão importante quanto o armazenamento. O estudioso
considera que esquecer possibilita registros de novas informações ou até
mesmo o resgate daquilo que esteja na memória.
A construção da memória está intimamente ligada ao fato da pessoa
manter-se atenta em determinado foco; a atenção está relacionada com a
emoção do momento; então, a memória é modulada pela emoção sendo
gerada por um estímulo, ativando os neurônios, formado sinapses por meio de
uma seqüência de eventos bioquímicos, que são processados do estímulo à
28
fixação da memória. Desta forma, sob forte influência das emoções, os
neurônios codificam a memória que é armazenada em redes neurais.
Há evidências de que os mecanismos envolvidos na aquisição da
memória, ou seja, aqueles que consolidam a aprendizagem, diferem dos
mecanismos responsáveis pela evocação, ou acesso dos fatos guardados na
memória.
Segundo Lent (2008), é possível distinguir, quanto à natureza, dois
tipos de memória: declarativas ou explicitas e as memórias procedimentais ou
implícitas. Estes dois tipos de memórias dependem de estruturas cerebrais
diferentes.
As memórias procedimentais armazenam dados relativos à aquisição
de habilidades mediante a repetição de um mesmo padrão, sem acesso
consciente, incluem atividades motoras complexas e todas as formas de
condicionamento e habituação, considerada a forma mais elementar de
aprendizado, processada por estímulos condicionados ou estímulos neutros.
As memórias declarativas são aquelas que conseguimos verbalizar;
guardam e evocam a informação de dados e fatos que foram adquiridos
através dos sentidos; está submetida à prática da recordação; podem envolver
diferentes regiões corticais: pré-frontal, entorrinal parietal, o hipocampo e,
principalmente, circuitos subcorticais. Este tipo de memória opera ao nível
consciente, por meio de associações de informações.
Quanto ao tempo de duração, as memórias podem ser classificadas
em memória de trabalho ou operacional, de curta ou de longa duração. A
memória operacional é sustentada pela atividade elétrica dos neurônios do
córtex pré-frontal e sua interação com o córtex entorrinal, o hipocampo e a
amígdala. Este tipo de memória não forma arquivo. Mantém a informação
durante o período em que está sendo percebida ou processada.
A memória de curta duração, que dura até seis horas, mantém os
dados durante este tempo, até que estes registros possam ser consolidados
pela memória de longa duração.
As memórias de longa duração podem ser declarativas ou explícitas,
envolvem o armazenamento de informações referentes a eventos, fatos,
29
palavras, faces, músicas e todos os fragmentos do conhecimento adquirido. A
consolidação das memórias de longa duração é lento e frágil; requer tempo
para sua concretização, está relacionada a processos básicos como
codificação, que consiste no modo pelo qual o material que é o alvo da atenção
é
processado
e
preparado
para
ser
armazenado
na
memória;
o
armazenamento, que depende de diversas estruturas encefálicas relacionadas
à percepção inicial e no processamento daquilo que será lembrado; a evocação
que é a recuperação do que está sendo arquivado na memória, sendo córtex
pré-frontal o principal responsável e o período de consolidação, ou seja, o
tempo necessário para que o traço de memória alcance uma forma estável de
longa duração, que ocorre no hipocampo e cerebelo.
O
hipocampo
é
imprescindível
na
construção
das
memórias
declarativas. Está conectado com todas as regiões responsáveis pelo
processamento emocional das experiências, atuando em conjunto com as
áreas de processamento sensorial localizadas em diversas áreas do córtex
identificando se as informações recebidas são novas ou não.
Quando uma lembrança é formada pela primeira vez, os elementos que
a compõem são fracionados pelas diferentes regiões corticais correspondentes.
Assim, as informações visuais, por exemplo, são processadas pelo córtex
visual primário; as informações auditivas processadas pelo córtex auditivo
primário, e assim por diante. É função do hipocampo reunir todas as
informações formando uma única memória.
Izquierdo criou recentemente um novo termo para caracterizar a
memória de longa duração, denominada por ele de persistência, consistindo
num
período
de
transformações
moleculares
que
ocorre
depois
da
consolidação, envolvendo mudanças morfológicas. Neste caso, memória é
registrada por anos. Se ela dura mais de seis horas foi consolidada; se dura
dois dias ela tem persistência. O neurocientista afirma ainda que o
processamento da memória de longa duração depende da qualidade da
síntese protéica; formando as sinapses para guardar a memória, sendo estas
proteínas reguladas pelos neurotransmissores próprios da emoção.
30
CAPÍTULO III
PLASTICIDADE E APREDIZAGEM SIGNIFICATIVA
Plasticidade neural ou neuroplasticidade é a capacidade que sistema
nervoso possui de modificar sua função ou estrutura diante das condições
ambientais que o afeta.
Até bem pouco tempo, acreditava-se que o cérebro do bebê ao nascer,
estaria totalmente formado, sendo possível, apenas, aprimorar as capacidades
congênitas deste indivíduo. Os mapas corticais se constituiriam de formações
rígidas e, portanto, praticamente imutáveis.
A criação de técnicas avançadas permite observar o dinamismo do
cérebro vivo da pessoa em ação, registrando os sinais emitidos pelos
neurônios isolados, circuitos neurais e até mesmo de regiões inteiras do
cérebro.
“[...] o aprimoramento cognitivo pode realmente mudar a
estrutura
cerebral
e
melhorar
sua
capacidade
de
processamento de informação. O crescimento de novas
células foi especialmente evidente no giro dentado do
hipocampo, uma estrutura na superfície mediana do lobo
temporal
considerado
especialmente
importante
na
formação da memória.” (GOLDBERG, 2002, p.248)
Por intermédio de pesquisas, foi possível, então, concluir que o
cérebro pode sofrer alterações, onde a representação cortical modifica-se
mesmo na fase adulta por meio das necessidades exigidas pelo ambiente
externo e também através de operações mentais.
A plasticidade opera de diferentes maneiras, ao nível das conexões
sinápticas, podendo ser: morfológica, a modificação acontece nos axônios,
dendritos e nas sinapses; funcional, altera a fisiologia neuronal e sináptica;
comportamental, muda os mecanismos de aprendizagem e memória. Ainda
31
que a plasticidade possa apresentar-se de modos diferentes, elas geralmente
ocorrem paralela e simultaneamente. (Lent, 2008)
3.1 Mecanismo de Neurotransmissão Química
A propagação das informações que percorre os axônios dos neurônios
pré-sinápticos consiste em uma atividade elétrica a qual não atinge os
dendritos do neurônio seguinte, pós-sináptico, devido a um espaço existente
entre eles denominado fenda sináptica.
Na fenda sináptica, o primeiro neurônio libera neurotransmissores que
percorrem pelo meio intercelular até atingir os receptores sinápticos do
segundo neurônio, desencadeando um potencial de ação ou impulso nervoso.
Os neurotransmissores são sintetizados no soma do neurônio e
armazenados em vesículas, que são pequenas bolsas.
A quantidade de vesículas que adere à membrana para liberar o
neurotransmissor depende da duração da despolarização da membrana; por
sua vez, a chegada do potencial de ação determina a aderência das vesículas
que contém estas moléculas químicas. Então, a liberação do neurotransmissor
é proporcional à quantidade de potencial de ação. Baixa freqüência do
potencial de ação corresponde a pouca liberação de neurotransmissor;
enquanto que, potencial de alta freqüência despolariza a membrana présináptica, grande número de vesículas se abrem liberando maior quantidade de
neurotransmissor.
A informação é conduzida por estas substâncias químicas até a
membrana pós-sináptica. Nesta membrana, existe grande concentração de
receptores moleculares com os quais os neurotransmissores realizam contato,
reconhecem suas moléculas e interagem, provocando uma alteração
conformacional das suas estruturas. A combinação dessas moléculas consiste
numa reação química no terminal pós-sináptico, podendo excitar ou inibir o
potencial de ação. Esta variação é determinada pela associação entre o
neurotransmissor e o receptor.
32
“Não se pode afirmar que um mediador ou um receptor
sejam excitatório ou inibitório, porque isso dependerá da
combinação entre eles. Por exemplo, a acetilcolina,
quando é reconhecida por um tipo de receptor chamado
nicotínico, produz potenciais excitatórios, mas quando é
reconhecido por um receptor do tipo muscarínico pode
provocar potenciais inibitórios.” (LENT, 2008, p.75)
3.2 Principais Neurotransmissores
A
aprendizagem
tem
a
ver
com
o
funcionamento
dos
neurotransmissores que ativa a memória e aceleram o processo de pensar.
(Izquierdo, 2006).
De acordo com a sua composição estas substâncias são agrupadas
em três categorias; as aminas, os aminoácidos e as purinas; a maior parte
destes
componentes
está
intimamente
relacionada
à
construção
da
aprendizagem, sendo os principais:
No grupo das aminas encontram-se: Acetilcolina, liberada nas
transmissões dos neurônios motores da medula espinhal, é o neurotransmissor
encontrado em maior quantidade no corpo, está envolvido com a atenção,
memória e aprendizagem. Baixos níveis de acetilcolina contribuem para a falta
de concentração e o esquecimento; Dopamina, sua maior concentração é
encontrada no núcleo acumbente (grupo de neurônios relacionados ao sistema
de recompensa e motivação). Produz sensação de prazer. Regula o
comportamento emocional, os movimentos, o pensamento abstrato. Ligado à
consolidação da memória; Noradrenalina, sintetizada no cérebro e no sistema
límbico. Encontrada no sistema nervoso central, tronco encefálico, hipotálamo,
córtex cerebral e cerebelo. Relacionado com o raciocínio, emoção, atenção,
memória,
aprendizagem,
ansiedade,
estímulo
sensorial
inesperado
e
manutenção do tônus muscular; Serotonina, encontrada no tronco cerebral,
amígdala, mesencéfalo, núcleos talâmicos e hipotálamo. Regula as funções
cognitivas complexas, o nível de atenção, humor, o apetite e a temperatura
33
corporal; Adrenalina atua principalmente, em resposta ao stress físico ou
mental, provocando aumento dos batimentos cardíacos, sudorese, dilatação
dos brônquios e pupilas.
No grupo dos aminoácidos: GABA (ácido gama aminobutírico),
sintetizado a partir do glutamato, presente em toda sistema nervoso central, em
diversas interconexões (interneurônios) e na medula espinhal. Atua na
substancia negra e núcleo caudado. Regula os processos de ansiedade e
tônus muscular; Glutamato, relacionado com a memória e aprendizagem. Sua
ativação aumenta a sensibilidade aos estímulos de outros neurotransmissores.
“Esses neurônios moduladores estão localizados no
tronco
cerebral
e
no
prosencéfalo
basal
e
são
influenciados pelas interações dos organismos que
ocorrem
a
todo
momento.
Eles
distribuem
neurotransmissores por regiões dispersas do córtex
cerebral e dos núcleos subcorticais. Esse inteligente
arranjo pode ser descrito da seguinte maneira: 1) os
circuitos reguladores inatos têm como função principal a
sobrevivência do organismo e, em conseqüência, são
inteirados do que está acontecendo nos setores mais
modernos do cérebro; 2) o aspecto bom e mau das
situações é-lhes regularmente assinalado; e 3) eles
expressaram a sua reação relativa a essa qualificação
influenciando a forma como o resto do cérebro é
modelado,
de
sobrevivência
modo
da
que
esse
possa
apoiar
a
maneira
mais
eficaz
possível.”
(DAMÁSIO, 2010, p. 139)
34
3.3 Potencial de Longa Duração
A expressão potenciação de longa duração é conhecida através da
sigla LTP, derivada do Inglês, correspondendo a long term potentiation.
A potenciação de longa duração foi identificada, pela primeira vez, na
região do hipocampo, área responsável pela consolidação da memória de
longo prazo.
Estudos revelam que este mecanismo pode manifestar-se não apenas
no hipocampo, mas em diferentes regiões do sistema nervoso central: no
córtex cerebral, amígdala e cerebelo. (Lent, 2008)
A LTP é produzida a partir de um estimulo forte, de alta frequência;
este estímulo é capaz de ativar receptores específicos no neurônio póssináptico, aumentando a sensibilidade neste neurônio. A eficiência e o número
dos
receptores
tornam-se
maiores,
evidenciando
maior
eficácia
da
comunicação sináptica.
3.4 Fortalecimento Sináptico
O estímulo de alta frequência produz estimulação tetânica, ou seja,
uma ativação intensa fazendo com que a potenciação de longa duração ocorra.
Este
mecanismo
é
responsável
pela
liberação
de
glutamato,
um
neurotransmissor que pode ligar-se a diferentes tipos de receptores tornandoos ativos.
Este processo químico causa um aumento na amplitude da resposta
sináptica após a estimulação, podendo durar horas ou até dias. Desta maneira,
a excitação mantida de forma persistente, além de provocar alteração na
estrutura das espinhas dendríticas, aumenta o número de sinapses na mesma
região ou áreas muito próximas. (Kandel, 2000)
As células gliais, especificamente os astrócitos, desempenham função
de estrema importância no processo de formação das sinapses. Mesmo não
produzindo potencial de ação, estas células liberam substâncias que são
reconhecidas pelos receptores, influenciando na estrutura das espinhas
35
dendríticas que aceleram a transferência da informação entre os neurônios;
são responsáveis, também por eliminar o excesso de glutamato acumulado na
fenda sináptica, o que poderia ocasionar um resultado excitotóxico, dificultando
a comunicação entre os neurônios. Os astrócitos, então, contribuem para a
realização das conexões entre os neurônios, permitindo o fortalecimento das
sinapses. (Lent, 2008)
Estudos recentes demonstram que sinapses consideradas imaturas,
instáveis e frágeis sob efeito da estimulação tetânica podem tornar-se
maduras, estáveis e fortes.
Diferente dos estudiosos de sua época que valorizavam o nível de
desenvolvimento real das crianças, através de aplicação de testes e escalas,
Vygotsky preocupou-se mais com o processo de construção da aprendizagem
e não apenas com o desempenho final deste processo, postulando que a
aprendizagem favorece o desenvolvimento das funções mentais superiores.
Vygotsky em seus experimentos, verificou que enquanto algumas
crianças executavam tarefas de forma independente, outras não eram capazes
de tal realização; entretanto, com a ajuda do professor, de um adulto ou de um
parceiro mais experiente, estas crianças obtinham sucesso nas tarefas.
Baseado nestas observações, ele considerou que o nível de
desenvolvimento mental não pode ser determinado apenas pela produção
independente da criança; é preciso conhecer o quanto este individuo pode
realizar, mesmo necessitando da ajuda de outras pessoas. Esta interação é
apontada como uma oportunidade para entender o processo que a criança
utiliza para pensar.
Desta
forma
o
estudioso
apresenta,
então,
dois
níveis
de
desenvolvimento. O primeiro, chamado de desenvolvimento real, corresponde
ao desenvolvimento mental; revela o nível das funções mentais. É determinado
pelas tarefas as quais a criança realiza sozinha.
O segundo nível é denominado como zona de desenvolvimento
proximal; refere-se à distância existente entre o nível de desenvolvimento real
determinada pela independência na resolução de problemas e o nível de
desenvolvimento potencial. Ou seja, a zona de desenvolvimento proximal é
36
representada pelo intervalo existente entre o desenvolvimento mental
retrospectivo e o prospectivo.
Assim, através da independência demonstrada pela criança na solução
de problemas é possível perceber as funções mentais as quais já
amadureceram, definidas pelo nível de desenvolvimento real; enquanto que, as
funções mentais ainda em processo de maturação, correspondem à zona de
desenvolvimento proximal, devendo ser este o foco principal dos educadores
no processo de construção da aprendizagem.
3.5 Aprendizagem Significativa
Os
neurônios
dependem
da
excitabilidade
para
transmitir
as
informações, construindo as sinapses. Por sua vez, cada neurônio recebe
milhares de sinapses de outros neurônios. Este processo é modulado por
diferentes moléculas químicas que combinadas entre si, aumentam ou
reduzem a sensibilidade dos neurônios sob efeito da estimulação.
De neurônio a neurônio, a informação propaga-se provocando
ondulações e estabelecendo conexões neurais que se ampliam em extensão e
em número de ligações.
“[...] o cérebro é um supersistema de sistemas. Cada
sistema é composto por uma complexa interligação
de pequenas, mas macroscópicas, regiões corticais
e núcleos subcorticais, que por sua vez são
constituídos
por
circuitos
locais
microscópios,
formados por neurônios, todos eles ligados por
sinapses.” (DAMÁSIO, 2010, p.54)
Para Vygotsky, ao ingressar na escola, a criança tem suas próprias
generalizações
e
significados
construídos
durante
o
processo
de
desenvolvimento, na interação com o meio com o qual ela faz parte; são os
conceitos cotidianos. A partir da convivência no ambiente escolar ela entra em
37
contato
com
conceitos
fundamentais
da
organização
de
conteúdos,
estabelecendo relações lógicas através das atividades escolares e o
relacionamento com o professor e os amigos apropriando-se dos conceitos
científicos. Todavia, os conceitos iniciais formados antes de seu ingresso na
escola, permanecem com a criança internalizados, e são deslocados para um
novo processo, compondo uma nova relação cognitiva com o mundo, à medida
que constrói sua aprendizagem.
Assim, enquanto os conceitos cotidianos se desenvolvem do particular
para o geral, os científicos progridem do geral para o particular. Ambos seguem
uma trajetória de desenvolvimento e mantém-se interrelacionados.
Segundo a teoria cognitiva proposta por David Paul Ausubel, médico
psiquiatra e professor da Universidade de Columbia, em Nova York, denomina
Aprendizagem Significativa quando o material de aprendizagem pode conectarse à estrutura cognitiva do aluno de maneira organizada; ou seja, o novo
conceito deve associar-se ao conjunto global de ideias que o aprendiz possui
sobre o assunto.
Segundo a teoria de Ausubel, o conjunto de conhecimentos
preexistentes ou não que compõem a estrutura cognitiva do aluno recebe o
nome de subsunçor. Desta maneira, o subsunçor que já faz parte dessa
estrutura interna e possui um significado particular para o aprendiz, funciona
como âncora para o novo subsunçor ou conceito a ser assimilado. Os
conhecimentos agrupam-se reorganizando a estrutura cognitiva a cada
situação de aprendizagem.
A interação professor aluno é importante para identificar o que o aluno
já sabe e também reconhecer situações as quais os estudantes não possuem
os subsunçores prévios para ancorar o novo conteúdo. Neste caso, o professor
deve preparar a estrutura cognitiva dos alunos para aprender o novo tópico,
apresentando uma introdução sobre o novo conceito permitindo ao aprendiz
construir uma base que tenha alguma relação com o novo conceito que será
estudado. Esta é uma estratégia usada para facilitar a aprendizagem, através
de pseudo organizadores prévios.
38
O fator mais importante que influi na aprendizagem desta teoria é
investigar o que o aluno já sabe.
A proposta ausubeliana destaca a propensão do aluno em relacionar à
sua estrutura cognitiva, o novo conceito apresentado. Segundo as concepções
de Ausubel, o material apresentado precisa ser potencialmente significativo,
capaz de incorporar-se à estrutura cognitiva. Do contrário, a aprendizagem
será mecânica. Esta ênfase é baseada no fato de que a organização dos
elementos no cérebro humano de maneira hierarquizada, onde conceitos
específicos ancoram-se em conceitos mais gerais modificando e atribuindo um
novo significado, constituindo a aprendizagem significativa.
39
CONCLUSÃO
A cultura, a linguagem, as experiências vivenciadas nas interações
sociais e as emoções influenciam na dinâmica do funcionamento cerebral,
diferenciando os indivíduos entre si.
Múltiplas áreas corticais e subcorticais do cérebro são ativadas através
da aprendizagem. Essas regiões processam, integram e modulam as
informações recebidas pelo meio compondo conexões neurais que se ampliam
e se fortalecem na medida em que um conceito é aprofundado; ou seja,
havendo um significado para o individuo, o conteúdo é associado a outros
aprendidos anteriormente, fixando-o á memoria, pronto para ser evocado.
A aprendizagem é um processo biofisioquímico e construção interna e,
portanto, individual. E ainda que possa ser constituído em qualquer época da
existência humana por meio da plasticidade, aprender está intimamente
relacionado à qualidade dos estímulos externos. Um bom estímulo é aquele
que detém a atenção, proporcionando uma atividade cerebral mais intensa,
preparando o cérebro para aprender.
Independente da concepção teórico-pedagógica a qual o professor
sustenta sua prática de sala de aula, os conceitos expostos neste trabalho,
pode facilitar o processo de construção da aprendizagem.
Considerando-se as contribuições da neurociência alguns aspectos
relevantes podem ser levados em conta pelo professor no planejamento de
suas aulas.
Conhecer o meio sócio histórico cultural ao qual o aluno está inserido;
perceber cada aprendiz como um ser único, pensante, que aprende de maneira
particular e especial, pode potencializar a aquisição da aprendizagem; valorizar
o conhecimento aprendido, identificando aquele que precisa ser melhor
desenvolvido para alcançar a independência na realização das tarefas; propor
atividades significativas, desafiadoras e entender que para aprender é
necessário estabelecer relações interpessoais positivas, que sendo professor o
agente mediador do processo, atua nas transformações neurobiológicas que
produzem a aprendizagem do aluno.
40
A utilização de diferentes recursos e materiais diversos, podem servir
como estratégias pedagógicas, auxiliando os alunos a encontrar um sentido
para o conteúdo apresentado fazendo associações, construído a aprendizagem
significativa.
41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D. e HANESIAN, H. Psicologia Educacional. 2.
Ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.
DAMÁSIO, António R. O Erro de Descartes Emoção, Razão e Cérebro
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FONSECA, Vitor. Cognição, Neuropsicológica e Aprendizagem – Abordagem
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42
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São Paulo: Cortez, 2003.
Vygotsky, Lev Semyonovitch. A Formação Social da Mente. 7. Ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2007.
43
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO
02
AGRADECIMENTO
03
DEDICATÓRIA
04
RESUMO
05
METODOLOGIA
06
SUMÁRIO
07
INTRODUÇÃO
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CAPÍTULO I
NEUROCIÊNCIA E O CÉREBRO HUMANO
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1.1 – Um breve Histórico
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1.2 – Sistema Nervoso
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1.3 – O Cérebro
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1.4 – O Cerebelo
15
1.5 – Tronco Encefálico
15
1.6 – Diencéfalo
15
1.7 – Telencéfalo
16
1.8 – Neurônios
16
1.9 – Córtex
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CAPÍTULO II
CÉREBRO E APRENDIZAGEM
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2.1 – Atenção
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2.2 – Percepção
23
2.3 – Emoções
25
2.4 – Memória
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CAPÍTULO III
PLATICIDADE E APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
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3.1 – Mecanismos de Neurotransmissão Química
32
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3.2 – Principais Neurotransmissores
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3.3 – Potencial de Longa Duração
35
3.4 – Fortalecimento Sináptico
35
3.5 – Aprendizagem Significativa
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CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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ÍNDICE
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM FACULDADE INTEGRADA
AVALIAÇÃO FINAL DA MONOGRAFIA
AS CONEXÕES NEURAIS NO PROCESSO DA APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA
Aluna: Ana Angelica Tinoco de SÁ Vieira
Avaliador: Marta Pires Relvas
Data: 31 de julho de 2012
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