IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 A SUBSTANTIVAÇÃO DO ADJETIVO E A RELAÇÃO DE REMISSÃO: A SINONÍMIA Cristina SILVA DOS SANTOS (UEM) Introdução A coesão referencial é um dos mecanismos que permite ao usuário da língua garantir a progressão do sentido, tanto em textos orais quanto nos escritos. Sendo assim, o uso da coesão remissiva é de extrema importância para que um texto atinja seus propósitos comunicativos e não seja somente um amontoado de frases. Desse modo, são variados os processos utilizados pelo produtor de um discurso, para conduzir a cadeia referencial de um texto. Dentre esses recursos encontra-se a sinonímia, processo caracterizado pela retomada de um termo já especificado, por outro com sentido “semelhante”. Esse recurso coesivo, no entanto, pode manifestar-se por meio de palavras cujo sentido não é idêntico ao do termo retomado, e é desse fato que surge a discussão sobre o emprego da sinonímia. Além disso, há um processo muito utilizado para esse fim, que é o uso de adjetivos substantivados para retomar os termos já expostos. Esse assunto também é controverso, pois para alguns autores, o que acontece é uma omissão do substantivo presente na oração. O objetivo deste trabalho, todavia, é analisar as propriedades referenciais presentes nas estruturas em que aparecem esses adjetivos substantivados, evidenciando que, ocorrendo a substantivação do adjetivo, ou estando elíptico o substantivo, a propriedade referencial é mantida na estrutura da frase. Objetiva-se, também, observar se há equivalência total de sentido entre o referente e a sinonímia utilizada para retomá-lo. Caso não haja, pretende-se analisar se a relação entre o termo que retoma e o que é retomado é prejudicada, ou se o contexto permite tal associação. Para alcançar tais objetivos, utiliza-se o referencial teórico do Funcionalismo. 1. Referencial teórico: o Funcionalismo IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 A linguagem é considerada pelo Funcionalismo um instrumento, cuja forma adaptase às funções que exerce. Sendo assim, pode-se dizer que uma das grandes contribuições dessa vertente teórica é a integração da pragmática, que estuda a língua na interação social, à teoria gramatical. Essa corrente é, então, segundo Neves (1994), “uma teoria da organização gramatical das línguas naturais que procura integrar-se em uma teoria global da interação social”. Nesse âmbito, o Funcionalismo considera as expressões linguísticas como governadas por dois tipos de regras estudadas ao mesmo tempo, que determinam sua formação. Uma dessas regras determina a formação de expressões linguísticas e a outra regra diz respeito à pragmática, ou seja, domina os padrões da interação verbal em uso. Assim, texto e discurso passam a ser considerados como objetos de investigação, pois o falante não se comunica por meio de frases isoladas. Apesar de o Funcionalismo ser uma vertente teórica que apresenta diferentes correntes, o ponto comum entre essas principais correntes é o fato de considerarem a interação social como a principal função da linguagem (VAN VALIN, 2002). Assim, é com base nesses pressupostos teóricos que se desenvolve este artigo, uma vez que, os mecanismos referenciais escolhidos pelos falantes, a fim de se comunicarem, dependem da situação comunicativa na qual eles estão inseridos. 2. Referência e Referenciação Ao se falar de retomada e/ou inserção de elementos no discurso, sempre surge a dúvida: como classificar essa ocorrência? Isso ocorre, porque, na maioria das vezes, as diferenças entre referência e referenciação não são conhecidas por todos. Por esse motivo, é válido abordar as diferenças existentes entre o uso desses dois termos. Quando se iniciaram os estudos sobre a referência, ela era vista como uma representação dos objetos do mundo. Pode-se dizer, então, que representava, por meio das palavras, tudo o que existia. É a partir desse ponto de vista que surge o conceito de referência, definida como a correspondência entre uma expressão linguística e algo que ela nomeia no mundo real ou conceitual, ou seja, o seu referente. IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 Sendo assim, por mais que sejam próximos – referência e referente – são conceitos distintos, pois a referência, segundo Koch (2005), é aquilo que se designa ou se representa quando se utiliza um termo ou se cria uma situação discursiva referencial com essa finalidade, ou seja, a referência determina a propriedade do signo linguístico de se remeter a uma realidade. O referente, por sua vez, incide na realidade apresentada por essa referência. A visão utilizada com maior frequência emprega a referência como uma etiqueta que se adapta aos objetos e que conduz a uma vinculação com o mundo real. Contrariando essa visão, Mondada e Dubois (2003) afirmam que há uma modificação dos encadeamentos entre as palavras e as coisas, que atinge a compreensão, uma vez que os objetos de discurso surgem a partir de realizações discursivas e cognitivas. Por outro lado, Koch (2005) compreende que a referenciação é uma atividade discursiva que situa, na ocasião da interação verbal, o sujeito na ação sobre o material linguístico que tem a sua disposição, podendo viabilizar alternativas proeminentes para simular estados de coisas, a fim de efetivar sua proposta de sentido. Sendo assim, os processos de referenciação são vistos como alternativas que um sujeito possui em função de um querer-dizer, confirmando a maior relevância de determinados itens em relação a outros. A partir do exposto, pode-se afirmar que a referenciação efetiva-se no discurso, no instante em que o sujeito atribui significação ao mundo e, por isso, constrói discursivamente os referentes a que faz referência. 3. Definição dos nomes: adjetivo e substantivo 3.1 O adjetivo Comumente, nas Gramáticas Tradicionais, o adjetivo é definido como o termo que caracteriza ou completa um substantivo, atribuindo-lhe qualidades. De acordo com Lima (1969), “o adjetivo é a palavra que modifica o substantivo, exprimindo aparência, modo de ser ou qualidade”. Ainda sobre a definição de adjetivo, para Cunha (1972), o adjetivo é a espécie de palavra que serve para caracterizar os seres ou os objetos nomeados pelo substantivo, indicando-lhes: IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 a) uma qualidade ou um defeito: inteligência lúcida, homem perverso; b) o modo de ser: pessoa simples; c) o aspecto ou aparência: céu azul; d) o estado: laranjeiras floridas. Em ambas as classificações, nota-se que para definir essa classe gramatical foi utilizado apenas o critério semântico, pois afirmar que o adjetivo tem apenas a função de modificar ou qualificar um substantivo, é defini-lo somente semanticamente. Desse modo, a classificação dada ao adjetivo pela tradição gramatical mostra-se insuficiente, visto que desconsidera os critérios morfológico e sintático, além de desconsiderar, também, qual é a função que esse termo desempenha em uma oração. Sendo assim, segundo Negrão et al (2008) para se classificar o adjetivo é importante levar em consideração a divisão que se realiza entre os tipos de adjetivos, pois só assim, é possível realizar uma análise mais completa. Para os referidos autores, a classe dos adjetivos se subdivide em dois grupos: os adjetivos adnominais e os adjetivos predicativos. O primeiro grupo dos adjetivos, os adnominais, são aqueles que atuam no interior de um sintagma nominal, estabelecendo relações distintas com o nome-núcleo e se subdividem em adjetivos argumentais e predicadores de núcleo, sendo que, cada um desses itens que se subdividiram possuem, também, características próprias. Os adjetivos argumentais são aqueles capazes de satisfazer as exigências temáticas estabelecidas pelo núcleo, sendo assim, sua peculiaridade consiste no fato de que esses adjetivos argumentais preenchem uma posição temática do substantivo com o qual estão relacionados. Nesse sentido, Negrão et al (2008) ainda expõem que dentre as propriedades que caracterizam o uso do adjetivo argumental destaca-se a) estabelecem uma relação temática com o substantivo-núcleo (no caso, pode-se evidenciar essa relação temática mostrando que há um paralelo entre “pesquisar a bibliografia” e “pesquisa bibliográfica”; em ambos os casos, sabemos que a bibliografia é o alvo da pesquisa); b) aceitam a comutabilidade por expressão nominal: “pesquisa bibliográfica” = “pesquisa da bibliografia”; c) não aceitam a anteposição, fato possivelmente explicado por exigências da relação núcleo-complemento. IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 Por sua vez, os adjetivos predicadores de núcleo são aqueles que impõem as exigências a serem satisfeitas pelo núcleo. Desse modo, ainda segundo Negrão et al (2008), os adjetivos predicadores de núcleo possuem as seguintes propriedades: a) são parafraseados por sentença relativa: “uma casa que é grande” [...]; b) poderiam ser usados como predicativos do objeto: “eu considero grande a casa” [...]; c) aceitam a anteposição: “uma grande casa” [...]; d) podem variar em grau: “uma casa muito grande” [...]. O segundo grupo dos adjetivos diz respeito aos adjetivos predicativos, que assim como os adjetivos adnominais, possuem características semânticas diferentes, de acordo com os espaços sintáticos em que aparecem. Em outras palavras, a descrição desse grupo de adjetivos abrange aspectos não só lexicais, mas também distribucionais e composicionais. Geralmente, o emprego dos adjetivos predicativos está associado a verbos copulares, visto que, esses adjetivos “controlam” a seleção dos verbos ser e estar. Desse modo, pode-se dizer que, ao associar-se com o verbo ser, o adjetivo atribui qualidades permanentes, por exemplo, “A mulher é bonita”; já com o verbo estar, essas qualidades são temporárias, por exemplo, “A mulher está bonita”. Um processo recorrente, e até controverso, é a substantivação de alguns adjetivos. Esse processo diz respeito à mudança de classe, uma vez que, o adjetivo passa a ser considerado um substantivo, fato que ocorre quando esse adjetivo passa a ocupar posição central em uma frase. Quando isso ocorre, o adjetivo substantivado passa a possuir as mesmas propriedades de um substantivo, dentre elas está a propriedade de referência. É valido lembrar, no entanto, que para alguns autores, como Câmara (1977), não há uma mudança de classe, o que acontece é que o substantivo encontra-se elíptico na frase, ficando, assim, subentendido. Por mais que haja divergências de opiniões sobre se é um adjetivo substantivado, ou se o substantivo está elíptico, em ambos os casos a propriedade referencial existe, e é para esse fato que este artigo se atenta. Desse modo, por se falar de substantivação e das propriedades referenciais do substantivo, faz-se necessário descrever as características dessa classe, a qual se encontra na próxima seção. IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 3.2 O substantivo Os substantivos, segundo Sarmento e Tufano (2005) “são palavras que dão nomes aos seres vivos (reais ou imaginários), coisas, sentimentos, estados, qualidades ou defeitos e desejos”. Para Cereja e Magalhães (1999), “Substantivos são palavras que designam tanto seres – visíveis ou não, animados ou não – quanto ações, estados, sentimentos, desejos, ideias”. Nas duas classificações expostas, pertencentes à Gramática Tradicional, nota-se que, para definir essa classe gramatical, os autores citados utilizam termos e expressões, muitas vezes, imprecisas, que dizem respeito somente ao critério semântico, deixando de lado os critérios morfossintáticos e funcionais. Desse modo, evidencia-se que essa classificação não se mostra completa, visto que pode confundir quem está aprendendo a definição dessa classe. Sendo assim, para uma definição satisfatória, há de se considerar tanto os critérios semânticos, morfossintáticos e funcionais, como também o contexto de uso de determinado termo, uma vez que, a classificação isolada pode ser errônea. Uma definição mais apropriada para o substantivo é aquela que, considera as propriedades que designam essa classe, além da função que determinado termo desempenha em uma oração. Desse modo, são válidas as considerações feitas por Camacho, Dall’AglioHattnher e Gonçalves (2008), que expõem o fato de haver substantivos que, se analisados fora de um contexto, geram dúvidas ao leitor quanto a sua classificação, pois podem ser confundidos com os adjetivos. Isso evidencia a importância de, ao se definir uma classe gramatical, atentar-se a todos os critérios classificatórios, incluindo (ou até priorizando) o critério funcional e a relação entre o substantivo e os demais termos da oração. Sendo assim, segundo Castilho (2010), corroborando a visão dos gramáticos gregos, o substantivo é “o que está debaixo, na base”, ou seja, ele é o principal elemento de um texto, isso quer dizer que sem essa classe, um texto não poderia ser construído. Ainda sobre esse assunto, Camacho, Dall’Aglio- Hattnher e Gonçalves (2008) expõem que, “o substantivo se caracteriza por ser autônomo e provido de um potencial de referência que lhe é próprio”. Essa definição é a de maior importância para o trabalho em IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 questão, pois por se tratar de um trabalho sobre a sinonímia como recurso remissivo, é, justamente, o potencial de referência o foco desta pesquisa. Sendo assim, de acordo com Perini (2010), não se pode referir-se às coisas do mundo usando a língua, senão por meio de um substantivo. Ainda nesse âmbito, Castilho (2010) ressalta que a propriedade básica do substantivo é referenciar, cabendo-lhe, então, o principal papel remissivo em um texto. É válido lembrar que dentre essas funções remissivas destaca-se o uso de hipônimos/hiperônimos, reiteração e sinonímia. No entanto, somente a sinonímia será analisada neste artigo. 3.3 Diferenças entre substantivo e adjetivo A classificação dada para as classes adjetivo e substantivo pela tradição gramatical, como já exposto, apresenta falhas, o que pode acarretar ao aprendiz da língua certa dificuldade ao se deparar com essas nomenclaturas. No entanto, é antiga a preocupação em se distinguir um termo do outro, a fim de evitar tais confusões terminológicas. Sendo assim, Arnauld e Lancelot (1992), na reedição da Gramática de Port-Royal expõem que: os objetos de nossos pensamentos são ou coisas, como a terra, o sol, a água, a madeira, o que comumente é chamado substância; ou a maneira das coisas, como ser redondo, vermelho, sábio etc. o que é denominado acidente. Existe a seguinte diferença entre as coisas e as substâncias, e a maneira das coisas ou dos acidentes: as substâncias subsistem por elas mesmas, enquanto os acidentes só existem pelas substâncias. É isso que fez a principal diferença entre as palavras que significam os objetos dos pensamentos: pois, os que significam as substâncias foram denominados nomes substantivos; e os que significam os acidentes, designando o sujeito ao qual esses acidentes convêm, nomes adjetivos”. Para os referidos gramáticos, a dicotomia entre substância/acidente, ou seja, substantivo e adjetivo, dá-se pelo fato de os adjetivos só existirem associados a um substantivo, enquanto que os substantivos possuem sentido completo. Por esse motivo, os adjetivos só aparecem quando estão completando o sentido de outros nomes. Para Camacho, Dall’Aglio- Hattnher e Gonçalves (2008), a confusão existente entre a designação dessas duas classes justifica-se pelo fato de ambas possuírem propriedades mórficas parecidas, no caso, a possibilidade de serem flexionadas em gênero, número e IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 caso. Sendo assim, ainda para esses autores, a distinção entre adjetivo e substantivo só é possível mediante critérios funcionais, ou seja, enquanto o substantivo apresenta-se como núcleo de um sintagma nominal, o adjetivo se caracteriza como termo periférico. 4. A sinonímia A sinonímia é interpretada pela Gramática Tradicional, como a relação que se estabelece entre dois (ou mais) termos que apresentam significados iguais ou semelhantes. Cunha (1985) expõe que as palavras podem ser sinônimas “quando apresentam uma semelhança geral de sentido”. Há de se observar, todavia, que o termo semelhança se apresenta de modo muito amplo, e, principalmente por esse motivo, a definição de sinonímia é um assunto questionável na área linguística. Para Lyons (1979), “há poucos sinônimos perfeitos nas línguas naturais”, sendo assim, para que haja sinonímia total, segundo o autor, são necessárias, a princípio, duas condições fundamentais: a primeira é a possibilidade de troca em todos os contextos e a segunda é a identidade tanto no sentido afetivo, quanto no cognitivo. No entanto, o referido autor se atenta para o fato de que considerar as conotações afetivas de uma palavra em seu emprego é um engano, e por esse motivo, afirma que somente a primeira condição é válida para classificar a sinonímia. Por sua vez, Johnson (apud Ullmann, 1987) afirma que “as palavras raras vezes são exatamente sinônimas”, pois é muito difícil uma palavra que não tenha seu sentido alterado quando usada em contextos distintos. Ou seja, para esse autor, o contexto é de extrema importância para definir uma palavra como sinônima de outra. No que diz respeito à classificação da sinonímia, Ilari e Geraldi (1999) dividem-na em dois grupos: sinonímia lexical e sinonímia estrutural. A primeira corresponde às palavras sinônimas e a segunda corresponde à equivalência que pode existir na estrutura sintática da oração. Há, ainda, um terceiro tipo de sinonímia que diz respeito à equivalência entre sentenças, esse tipo é denominado paráfrase. No entanto, o foco deste artigo dá-se no emprego da sinonímia lexical. A partir do exposto, fica evidente que é difícil haver sinonímia total, pois é o contexto que definirá se é pertinente o uso de uma ou de outra palavra para se retomar um IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 termo já citado. Além disso, há de se levar em consideração que, ao escolher uma palavra para retomar outra, o produtor do enunciado expõe suas marcas e opiniões, e por esse motivo, possui uma intenção ao recorrer a determinado sinônimo como mecanismo referencial. 5. Análise Para análise apresentada nesta seção, foram retirados trechos de uma revista e de sites, todos de comportamento. O principal objetivo desta análise consiste em observar se nos exemplos utilizados há a relação entre o termo citado e a sinonímia empregada. Além disso, objetiva-se constatar se quando temos um adjetivo substantivado (ou, como para alguns autores, substantivo elíptico), a sinonímia é “perfeita” ou se seu sentido pode ser depreendido somente naquele contexto específico. (1) “Gata do Paulistão posa seminua e mostra para os fãs no Facebook A morena posou ao lado de Sabrina Torres para a edição de julho da publicação masculina. Sabrina também participou do concurso para eleger a gata do futebol paulista, mas representando o Santos F.C.” (Yahoo! OMG!, 05/02/2012). No exemplo em questão, nota-se que o termo “Gata do Paulistão” (presente no título) foi retomado pelo adjetivo “morena” em um processo de sinonímia lexical. É possível evidenciar que não se trata de um sinônimo perfeito, pois “gata do paulistão” não tem o mesmo sentido que “morena”. No entanto, nesse caso, a troca de um termo pelo outro não acarreta prejuízo semântico ao texto, o que mostra que o contexto é que define se esse uso é aceitável ou não. É importante salientar, também, que ao utilizar a palavra “morena”, o autor teve a intenção de ressaltar a cor da pele da modelo, uma vez que poderia ter escolhido qualquer outro nome para caracterizá-la (jovem, moça, bela). Outro aspecto importante para se analisar é o fato de que, pode, realmente, ter um substantivo elíptico nessa retomada, no entanto, esse substantivo não está definido, podendo ser, entre outros termos, moça, mulher, modelo, por exemplo, “a modelo morena posou...”. IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 (2) “Estrela Negra [...] O primeiro papel de destaque de Taís Araújo na televisão foi como a protagonista da novela Chica da Silva[...] A nossa querida está celebrando o retorno para a televisão na nova trama das 19h[...]”. (Arrazze Magazine/Abril de 2012). Nesse exemplo, a jornalista Gracieli Coelho retoma o substantivo próprio “Taís Araújo” por meio dos termos “nossa querida”. Nota-se, com essa sinonímia lexical, que a jornalista manifesta sua opinião sobre a entrevistada, uma vez que, usa o adjetivo “querida” para, ao mesmo tempo, referenciar e caracterizar. A presença do pronome possessivo não influencia na caracterização da retomada, pois, só é utilizado com um grau afetivo, na tentativa de incluir o leitor nessa opinião. Mais uma vez, não há um caso de sinonímia perfeita, visto que “nossa querida” não se apresenta como um típico caso de sinonímia. No entanto, essa permuta não prejudica a progressão do texto, porque, o contexto comunicativo permite ao leitor fazer a associação correta. (3) “Marcello é eliminado por menos de 1% dos votos e Anamara, Fani e Nasser se enfrentam no paredão Todas as enquetes apontavam a eliminação de Kamilla por uma diferença de mais de 10% para o Marcello, mas elas não se confirmaram. O moreno deixou o programa com 47,35% dos 50 milhões de votos. A paraense ficou com 46.55%” (Espiadinha/03/03/2013). A análise do terceiro item contempla dois exemplos de sinonímia lexical. O primeiro diz respeito ao termo “o moreno”, utilizado para retomar o substantivo próprio “Marcello”. Nota-se que a autora da notícia fez uso do termo “o moreno” com a intenção de valorizar a aparência do modelo (que é considerado um homem muito bonito, não só pelas mulheres participantes do programa, mas também pelo público feminino que o assiste), pois não há no programa do qual o jovem fez parte, um homem loiro, para que fosse necessário fazer essa distinção (loiro/moreno). Novamente, não há um caso de sinonímia perfeita, porque, as palavras “moreno” e “Marcello” não possuem sentidos equivalentes. Apesar disso, nesse caso, a retomada existe, porque é definida justamente pelo contexto da enunciação. IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 Em relação à segunda retomada presente no exemplo, percebe-se que “Kamilla” é retomada por “paraense”. Também não há uma sinonímia perfeita, visto que, não há correspondência exata entre “Kamilla” e “paraense”. Todavia, mais uma vez, o contexto permite essa associação e a relação entre o referente e o termo referenciado não é prejudicada. Uma hipótese para o uso de paraense como forma de retomar “Kamilla” é a que demonstra o fato de a autora, no decorrer do texto, demonstrar (mesmo que sutilmente) não simpatizar com a jovem. Por isso, é possível se remeter à crença popular que inferioriza pessoas pertencentes aos estados do norte do Brasil. Com base nas análises desenvolvidas nesta seção, percebe-se que os termos utilizados como sinônimos não possuem correferência com os termos retomados. Isso mostra que, quando tratamos de adjetivos substantivados (ou substantivos elípticos) dificilmente se conseguirá retomar um termo por meio de um sinônimo exato. Sendo assim, é o contexto que permite identificar se, em determinado uso, tem-se um sinônimo ou não. Em outras palavras, independentemente do fato de haver substantivação ou se há um substantivo elíptico, nota-se que o processo remissivo existe, mas que essa referência não é exata. Considerações finais Por meio das análises realizadas neste artigo, pode-se evidenciar que, ao contrário do que afirma a Gramática Tradicional, pode haver sinonímia em um texto, mesmo quando não há uma “semelhança geral de sentido”. Isso quer dizer que, apesar de nos exemplos utilizados nesta pesquisa não haver equivalência “real” entre o termo citado e o retomado, ainda assim, há a remissão, que ocorre por meio desse recurso. Sendo assim, a análise realizada evidenciou que as sinonímias encontradas decorrem do contexto comunicativo em que os enunciados foram produzidos e, também, da intenção do autor ao optar por determinado sinônimo. Além disso, constatou-se que, havendo substantivação do adjetivo, ou estando elíptico o substantivo, ainda assim, a propriedade referencial é mantida e o produtor de um texto atinge seus propósitos comunicativos. IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-8211 . Referências ARNAULD, Antoine; LANCELOT, Claude. A gramática de Port-Royal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Classificação dos vocábulos formais. In: ____ Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1977. CAMARA JUNIOR, Joaquim.Mattoso. Princípios de Linguístíca Geral. Rio de Janeiro: Lucena, 2004. CARDOSO, Sílvia Helena Barbi. A questão da referência: das teorias clássicas à dispersão dos discursos. Campinas: Autores Associados, 2003. CASTILHO, Ataliba Teixeira de; CASTILHO, Célia Maria Moraes. Adjetivos predicativos. In: Descrição do Adjetivo. Projeto apresentado pelo GT Sintaxe I. VI Seminário do PGPF, 1992. 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