A SUBSTANTIVAÇÃO DO ADJETIVO E A RELAÇÃO DE

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IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação
Múltiplos Olhares
05, 06 e 07 de junho de 2013
ISSN: 1981-8211
A SUBSTANTIVAÇÃO DO ADJETIVO E A RELAÇÃO DE REMISSÃO: A
SINONÍMIA
Cristina SILVA DOS SANTOS (UEM)
Introdução
A coesão referencial é um dos mecanismos que permite ao usuário da língua
garantir a progressão do sentido, tanto em textos orais quanto nos escritos. Sendo assim, o
uso da coesão remissiva é de extrema importância para que um texto atinja seus propósitos
comunicativos e não seja somente um amontoado de frases.
Desse modo, são variados os processos utilizados pelo produtor de um discurso,
para conduzir a cadeia referencial de um texto. Dentre esses recursos encontra-se a
sinonímia, processo caracterizado pela retomada de um termo já especificado, por outro
com sentido “semelhante”.
Esse recurso coesivo, no entanto, pode manifestar-se por meio de palavras cujo
sentido não é idêntico ao do termo retomado, e é desse fato que surge a discussão sobre o
emprego da sinonímia. Além disso, há um processo muito utilizado para esse fim, que é o
uso de adjetivos substantivados para retomar os termos já expostos. Esse assunto também é
controverso, pois para alguns autores, o que acontece é uma omissão do substantivo
presente na oração.
O objetivo deste trabalho, todavia, é analisar as propriedades referenciais presentes
nas estruturas em que aparecem esses adjetivos substantivados, evidenciando que,
ocorrendo a substantivação do adjetivo, ou estando elíptico o substantivo, a propriedade
referencial é mantida na estrutura da frase.
Objetiva-se, também, observar se há
equivalência total de sentido entre o referente e a sinonímia utilizada para retomá-lo. Caso
não haja, pretende-se analisar se a relação entre o termo que retoma e o que é retomado é
prejudicada, ou se o contexto permite tal associação. Para alcançar tais objetivos, utiliza-se
o referencial teórico do Funcionalismo.
1. Referencial teórico: o Funcionalismo
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A linguagem é considerada pelo Funcionalismo um instrumento, cuja forma adaptase às funções que exerce. Sendo assim, pode-se dizer que uma das grandes contribuições
dessa vertente teórica é a integração da pragmática, que estuda a língua na interação social,
à teoria gramatical.
Essa corrente é, então, segundo Neves (1994), “uma teoria da
organização gramatical das línguas naturais que procura integrar-se em uma teoria global
da interação social”.
Nesse âmbito, o Funcionalismo considera as expressões linguísticas como
governadas por dois tipos de regras estudadas ao mesmo tempo, que determinam sua
formação. Uma dessas regras determina a formação de expressões linguísticas e a outra
regra diz respeito à pragmática, ou seja, domina os padrões da interação verbal em uso.
Assim, texto e discurso passam a ser considerados como objetos de investigação, pois o
falante não se comunica por meio de frases isoladas.
Apesar de o Funcionalismo ser uma vertente teórica que apresenta diferentes
correntes, o ponto comum entre essas principais correntes é o fato de considerarem a
interação social como a principal função da linguagem (VAN VALIN, 2002).
Assim, é com base nesses pressupostos teóricos que se desenvolve este artigo, uma
vez que, os mecanismos referenciais escolhidos pelos falantes, a fim de se comunicarem,
dependem da situação comunicativa na qual eles estão inseridos.
2. Referência e Referenciação
Ao se falar de retomada e/ou inserção de elementos no discurso, sempre surge a
dúvida: como classificar essa ocorrência? Isso ocorre, porque, na maioria das vezes, as
diferenças entre referência e referenciação não são conhecidas por todos. Por esse motivo, é
válido abordar as diferenças existentes entre o uso desses dois termos.
Quando se iniciaram os estudos sobre a referência, ela era vista como uma
representação dos objetos do mundo. Pode-se dizer, então, que representava, por meio das
palavras, tudo o que existia. É a partir desse ponto de vista que surge o conceito de
referência, definida como a correspondência entre uma expressão linguística e algo que ela
nomeia no mundo real ou conceitual, ou seja, o seu referente.
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Sendo assim, por mais que sejam próximos – referência e referente – são conceitos
distintos, pois a referência, segundo Koch (2005), é aquilo que se designa ou se representa
quando se utiliza um termo ou se cria uma situação discursiva referencial com essa
finalidade, ou seja, a referência determina a propriedade do signo linguístico de se remeter
a uma realidade. O referente, por sua vez, incide na realidade apresentada por essa
referência.
A visão utilizada com maior frequência emprega a referência como uma etiqueta
que se adapta aos objetos e que conduz a uma vinculação com o mundo real. Contrariando
essa visão, Mondada e Dubois (2003) afirmam que há uma modificação dos encadeamentos
entre as palavras e as coisas, que atinge a compreensão, uma vez que os objetos de discurso
surgem a partir de realizações discursivas e cognitivas.
Por outro lado, Koch (2005) compreende que a referenciação é uma atividade
discursiva que situa, na ocasião da interação verbal, o sujeito na ação sobre o material
linguístico que tem a sua disposição, podendo viabilizar alternativas proeminentes para
simular estados de coisas, a fim de efetivar sua proposta de sentido. Sendo assim, os
processos de referenciação são vistos como alternativas que um sujeito possui em função de
um querer-dizer, confirmando a maior relevância de determinados itens em relação a
outros.
A partir do exposto, pode-se afirmar que a referenciação efetiva-se no discurso, no
instante em que o sujeito atribui significação ao mundo e, por isso, constrói
discursivamente os referentes a que faz referência.
3. Definição dos nomes: adjetivo e substantivo
3.1 O adjetivo
Comumente, nas Gramáticas Tradicionais, o adjetivo é definido como o termo que
caracteriza ou completa um substantivo, atribuindo-lhe qualidades. De acordo com Lima
(1969), “o adjetivo é a palavra que modifica o substantivo, exprimindo aparência, modo de
ser ou qualidade”. Ainda sobre a definição de adjetivo, para Cunha (1972),
o adjetivo é a espécie de palavra que serve para caracterizar os seres ou os
objetos nomeados pelo substantivo, indicando-lhes:
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a) uma qualidade ou um defeito: inteligência lúcida, homem perverso;
b) o modo de ser: pessoa simples;
c) o aspecto ou aparência: céu azul;
d) o estado: laranjeiras floridas.
Em ambas as classificações, nota-se que para definir essa classe gramatical foi
utilizado apenas o critério semântico, pois afirmar que o adjetivo tem apenas a função de
modificar ou qualificar um substantivo, é defini-lo somente semanticamente. Desse modo, a
classificação dada ao adjetivo pela tradição gramatical mostra-se insuficiente, visto que
desconsidera os critérios morfológico e sintático, além de desconsiderar, também, qual é a
função que esse termo desempenha em uma oração.
Sendo assim, segundo Negrão et al (2008) para se classificar o adjetivo é importante
levar em consideração a divisão que se realiza entre os tipos de adjetivos, pois só assim, é
possível realizar uma análise mais completa. Para os referidos autores, a classe dos
adjetivos se subdivide em dois grupos: os adjetivos adnominais e os adjetivos predicativos.
O primeiro grupo dos adjetivos, os adnominais, são aqueles que atuam no interior de
um sintagma nominal, estabelecendo relações distintas com o nome-núcleo e se subdividem
em adjetivos argumentais e predicadores de núcleo, sendo que, cada um desses itens que se
subdividiram possuem, também, características próprias. Os adjetivos argumentais são
aqueles capazes de satisfazer as exigências temáticas estabelecidas pelo núcleo, sendo
assim, sua peculiaridade consiste no fato de que esses adjetivos argumentais preenchem
uma posição temática do substantivo com o qual estão relacionados.
Nesse sentido, Negrão et al (2008) ainda expõem que dentre as propriedades que
caracterizam o uso do adjetivo argumental destaca-se
a) estabelecem uma relação temática com o substantivo-núcleo (no caso,
pode-se evidenciar essa relação temática mostrando que há um paralelo
entre “pesquisar a bibliografia” e “pesquisa bibliográfica”; em ambos os
casos, sabemos que a bibliografia é o alvo da pesquisa);
b) aceitam a comutabilidade por expressão nominal: “pesquisa
bibliográfica” = “pesquisa da bibliografia”;
c) não aceitam a anteposição, fato possivelmente explicado por exigências
da relação núcleo-complemento.
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Por sua vez, os adjetivos predicadores de núcleo são aqueles que impõem as
exigências a serem satisfeitas pelo núcleo. Desse modo, ainda segundo Negrão et al (2008),
os adjetivos predicadores de núcleo possuem as seguintes propriedades:
a) são parafraseados por sentença relativa: “uma casa que é grande”
[...];
b) poderiam ser usados como predicativos do objeto: “eu considero
grande a casa” [...];
c) aceitam a anteposição: “uma grande casa” [...];
d) podem variar em grau: “uma casa muito grande” [...].
O segundo grupo dos adjetivos diz respeito aos adjetivos predicativos, que assim
como os adjetivos adnominais, possuem características semânticas diferentes, de acordo
com os espaços sintáticos em que aparecem. Em outras palavras, a descrição desse grupo de
adjetivos abrange aspectos não só lexicais, mas também distribucionais e composicionais.
Geralmente, o emprego dos adjetivos predicativos está associado a verbos
copulares, visto que, esses adjetivos “controlam” a seleção dos verbos ser e estar. Desse
modo, pode-se dizer que, ao associar-se com o verbo ser, o adjetivo atribui qualidades
permanentes, por exemplo, “A mulher é bonita”; já com o verbo estar, essas qualidades são
temporárias, por exemplo, “A mulher está bonita”.
Um processo recorrente, e até controverso, é a substantivação de alguns adjetivos.
Esse processo diz respeito à mudança de classe, uma vez que, o adjetivo passa a ser
considerado um substantivo, fato que ocorre quando esse adjetivo passa a ocupar posição
central em uma frase. Quando isso ocorre, o adjetivo substantivado passa a possuir as
mesmas propriedades de um substantivo, dentre elas está a propriedade de referência.
É valido lembrar, no entanto, que para alguns autores, como Câmara (1977), não há
uma mudança de classe, o que acontece é que o substantivo encontra-se elíptico na frase,
ficando, assim, subentendido. Por mais que haja divergências de opiniões sobre se é um
adjetivo substantivado, ou se o substantivo está elíptico, em ambos os casos a propriedade
referencial existe, e é para esse fato que este artigo se atenta.
Desse modo, por se falar de substantivação e das propriedades referenciais do
substantivo, faz-se necessário descrever as características dessa classe, a qual se encontra
na próxima seção.
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3.2 O substantivo
Os substantivos, segundo Sarmento e Tufano (2005) “são palavras que dão nomes
aos seres vivos (reais ou imaginários), coisas, sentimentos, estados, qualidades ou defeitos e
desejos”. Para Cereja e Magalhães (1999), “Substantivos são palavras que designam tanto
seres – visíveis ou não, animados ou não – quanto ações, estados, sentimentos, desejos,
ideias”. Nas duas classificações expostas, pertencentes à Gramática Tradicional, nota-se
que, para definir essa classe gramatical, os autores citados utilizam termos e expressões,
muitas vezes, imprecisas, que dizem respeito somente ao critério semântico, deixando de
lado os critérios morfossintáticos e funcionais.
Desse modo, evidencia-se que essa classificação não se mostra completa, visto que
pode confundir quem está aprendendo a definição dessa classe. Sendo assim, para uma
definição satisfatória, há de se considerar tanto os critérios semânticos, morfossintáticos e
funcionais, como também o contexto de uso de determinado termo, uma vez que, a
classificação isolada pode ser errônea.
Uma definição mais apropriada para o substantivo é aquela que, considera as
propriedades que designam essa classe, além da função que determinado termo desempenha
em uma oração. Desse modo, são válidas as considerações feitas por Camacho, Dall’AglioHattnher e Gonçalves (2008), que expõem o fato de haver substantivos que, se analisados
fora de um contexto, geram dúvidas ao leitor quanto a sua classificação, pois podem ser
confundidos com os adjetivos. Isso evidencia a importância de, ao se definir uma classe
gramatical, atentar-se a todos os critérios classificatórios, incluindo (ou até priorizando) o
critério funcional e a relação entre o substantivo e os demais termos da oração.
Sendo assim, segundo Castilho (2010), corroborando a visão dos gramáticos gregos,
o substantivo é “o que está debaixo, na base”, ou seja, ele é o principal elemento de um
texto, isso quer dizer que sem essa classe, um texto não poderia ser construído.
Ainda sobre esse assunto, Camacho, Dall’Aglio- Hattnher e Gonçalves (2008)
expõem que, “o substantivo se caracteriza por ser autônomo e provido de um potencial de
referência que lhe é próprio”. Essa definição é a de maior importância para o trabalho em
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questão, pois por se tratar de um trabalho sobre a sinonímia como recurso remissivo, é,
justamente, o potencial de referência o foco desta pesquisa.
Sendo assim, de acordo com Perini (2010), não se pode referir-se às coisas do
mundo usando a língua, senão por meio de um substantivo. Ainda nesse âmbito, Castilho
(2010) ressalta que a propriedade básica do substantivo é referenciar, cabendo-lhe, então, o
principal papel remissivo em um texto. É válido lembrar que dentre essas funções
remissivas destaca-se o uso de hipônimos/hiperônimos, reiteração e sinonímia. No entanto,
somente a sinonímia será analisada neste artigo.
3.3 Diferenças entre substantivo e adjetivo
A classificação dada para as classes adjetivo e substantivo pela tradição gramatical,
como já exposto, apresenta falhas, o que pode acarretar ao aprendiz da língua certa
dificuldade ao se deparar com essas nomenclaturas. No entanto, é antiga a preocupação em
se distinguir um termo do outro, a fim de evitar tais confusões terminológicas. Sendo assim,
Arnauld e Lancelot (1992), na reedição da Gramática de Port-Royal expõem que:
os objetos de nossos pensamentos são ou coisas, como a terra, o sol, a
água, a madeira, o que comumente é chamado substância; ou a maneira
das coisas, como ser redondo, vermelho, sábio etc. o que é denominado
acidente.
Existe a seguinte diferença entre as coisas e as substâncias, e a maneira
das coisas ou dos acidentes: as substâncias subsistem por elas mesmas,
enquanto os acidentes só existem pelas substâncias. É isso que fez a
principal diferença entre as palavras que significam os objetos dos
pensamentos: pois, os que significam as substâncias foram denominados
nomes substantivos; e os que significam os acidentes, designando o
sujeito ao qual esses acidentes convêm, nomes adjetivos”.
Para os referidos gramáticos, a dicotomia entre substância/acidente, ou seja,
substantivo e adjetivo, dá-se pelo fato de os adjetivos só existirem associados a um
substantivo, enquanto que os substantivos possuem sentido completo. Por esse motivo, os
adjetivos só aparecem quando estão completando o sentido de outros nomes.
Para Camacho, Dall’Aglio- Hattnher e Gonçalves (2008), a confusão existente entre
a designação dessas duas classes justifica-se pelo fato de ambas possuírem propriedades
mórficas parecidas, no caso, a possibilidade de serem flexionadas em gênero, número e
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caso. Sendo assim, ainda para esses autores, a distinção entre adjetivo e substantivo só é
possível mediante critérios funcionais, ou seja, enquanto o substantivo apresenta-se como
núcleo de um sintagma nominal, o adjetivo se caracteriza como termo periférico.
4. A sinonímia
A sinonímia é interpretada pela Gramática Tradicional, como a relação que se
estabelece entre dois (ou mais) termos que apresentam significados iguais ou semelhantes.
Cunha (1985) expõe que as palavras podem ser sinônimas “quando apresentam uma
semelhança geral de sentido”. Há de se observar, todavia, que o termo semelhança se
apresenta de modo muito amplo, e, principalmente por esse motivo, a definição de
sinonímia é um assunto questionável na área linguística.
Para Lyons (1979), “há poucos sinônimos perfeitos nas línguas naturais”, sendo
assim, para que haja sinonímia total, segundo o autor, são necessárias, a princípio, duas
condições fundamentais: a primeira é a possibilidade de troca em todos os contextos e a
segunda é a identidade tanto no sentido afetivo, quanto no cognitivo. No entanto, o referido
autor se atenta para o fato de que considerar as conotações afetivas de uma palavra em seu
emprego é um engano, e por esse motivo, afirma que somente a primeira condição é válida
para classificar a sinonímia.
Por sua vez, Johnson (apud Ullmann, 1987) afirma que “as palavras raras vezes são
exatamente sinônimas”, pois é muito difícil uma palavra que não tenha seu sentido alterado
quando usada em contextos distintos. Ou seja, para esse autor, o contexto é de extrema
importância para definir uma palavra como sinônima de outra.
No que diz respeito à classificação da sinonímia, Ilari e Geraldi (1999) dividem-na
em dois grupos: sinonímia lexical e sinonímia estrutural. A primeira corresponde às
palavras sinônimas e a segunda corresponde à equivalência que pode existir na estrutura
sintática da oração. Há, ainda, um terceiro tipo de sinonímia que diz respeito à equivalência
entre sentenças, esse tipo é denominado paráfrase. No entanto, o foco deste artigo dá-se no
emprego da sinonímia lexical.
A partir do exposto, fica evidente que é difícil haver sinonímia total, pois é o
contexto que definirá se é pertinente o uso de uma ou de outra palavra para se retomar um
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termo já citado. Além disso, há de se levar em consideração que, ao escolher uma palavra
para retomar outra, o produtor do enunciado expõe suas marcas e opiniões, e por esse
motivo, possui uma intenção ao recorrer a determinado sinônimo como mecanismo
referencial.
5. Análise
Para análise apresentada nesta seção, foram retirados trechos de uma revista e de
sites, todos de comportamento. O principal objetivo desta análise consiste em observar se
nos exemplos utilizados há a relação entre o termo citado e a sinonímia empregada. Além
disso, objetiva-se constatar se quando temos um adjetivo substantivado (ou, como para
alguns autores, substantivo elíptico), a sinonímia é “perfeita” ou se seu sentido pode ser
depreendido somente naquele contexto específico.
(1) “Gata do Paulistão posa seminua e mostra para os fãs no
Facebook
A morena posou ao lado de Sabrina Torres para a edição de julho
da publicação masculina. Sabrina também participou do concurso para
eleger a gata do futebol paulista, mas representando o Santos F.C.”
(Yahoo! OMG!, 05/02/2012).
No exemplo em questão, nota-se que o termo “Gata do Paulistão” (presente no
título) foi retomado pelo adjetivo “morena” em um processo de sinonímia lexical. É
possível evidenciar que não se trata de um sinônimo perfeito, pois “gata do paulistão” não
tem o mesmo sentido que “morena”. No entanto, nesse caso, a troca de um termo pelo outro
não acarreta prejuízo semântico ao texto, o que mostra que o contexto é que define se esse
uso é aceitável ou não.
É importante salientar, também, que ao utilizar a palavra “morena”, o autor teve a
intenção de ressaltar a cor da pele da modelo, uma vez que poderia ter escolhido qualquer
outro nome para caracterizá-la (jovem, moça, bela).
Outro aspecto importante para se analisar é o fato de que, pode, realmente, ter um
substantivo elíptico nessa retomada, no entanto, esse substantivo não está definido,
podendo ser, entre outros termos, moça, mulher, modelo, por exemplo, “a modelo morena
posou...”.
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(2) “Estrela Negra
[...] O primeiro papel de destaque de Taís Araújo na televisão foi como a
protagonista da novela Chica da Silva[...]
A nossa querida está celebrando o retorno para a televisão na nova trama
das 19h[...]”. (Arrazze Magazine/Abril de 2012).
Nesse exemplo, a jornalista Gracieli Coelho retoma o substantivo próprio “Taís
Araújo” por meio dos termos “nossa querida”. Nota-se, com essa sinonímia lexical, que a
jornalista manifesta sua opinião sobre a entrevistada, uma vez que, usa o adjetivo “querida”
para, ao mesmo tempo, referenciar e caracterizar. A presença do pronome possessivo não
influencia na caracterização da retomada, pois, só é utilizado com um grau afetivo, na
tentativa de incluir o leitor nessa opinião.
Mais uma vez, não há um caso de sinonímia perfeita, visto que “nossa querida” não
se apresenta como um típico caso de sinonímia. No entanto, essa permuta não prejudica a
progressão do texto, porque, o contexto comunicativo permite ao leitor fazer a associação
correta.
(3) “Marcello é eliminado por menos de 1% dos votos e Anamara,
Fani e Nasser se enfrentam no paredão
Todas as enquetes apontavam a eliminação de Kamilla por uma diferença
de mais de 10% para o Marcello, mas elas não se confirmaram. O moreno
deixou o programa com 47,35% dos 50 milhões de votos. A paraense
ficou com 46.55%” (Espiadinha/03/03/2013).
A análise do terceiro item contempla dois exemplos de sinonímia lexical. O
primeiro diz respeito ao termo “o moreno”, utilizado para retomar o substantivo próprio
“Marcello”. Nota-se que a autora da notícia fez uso do termo “o moreno” com a intenção de
valorizar a aparência do modelo (que é considerado um homem muito bonito, não só pelas
mulheres participantes do programa, mas também pelo público feminino que o assiste), pois
não há no programa do qual o jovem fez parte, um homem loiro, para que fosse necessário
fazer essa distinção (loiro/moreno).
Novamente, não há um caso de sinonímia perfeita, porque, as palavras “moreno” e
“Marcello” não possuem sentidos equivalentes. Apesar disso, nesse caso, a retomada existe,
porque é definida justamente pelo contexto da enunciação.
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Em relação à segunda retomada presente no exemplo, percebe-se que “Kamilla” é
retomada por “paraense”. Também não há uma sinonímia perfeita, visto que, não há
correspondência exata entre “Kamilla” e “paraense”. Todavia, mais uma vez, o contexto
permite essa associação e a relação entre o referente e o termo referenciado não é
prejudicada.
Uma hipótese para o uso de paraense como forma de retomar “Kamilla” é a que
demonstra o fato de a autora, no decorrer do texto, demonstrar (mesmo que sutilmente) não
simpatizar com a jovem. Por isso, é possível se remeter à crença popular que inferioriza
pessoas pertencentes aos estados do norte do Brasil.
Com base nas análises desenvolvidas nesta seção, percebe-se que os termos
utilizados como sinônimos não possuem correferência com os termos retomados. Isso
mostra que, quando tratamos de adjetivos substantivados (ou substantivos elípticos)
dificilmente se conseguirá retomar um termo por meio de um sinônimo exato. Sendo assim,
é o contexto que permite identificar se, em determinado uso, tem-se um sinônimo ou não.
Em outras palavras, independentemente do fato de haver substantivação ou se há um
substantivo elíptico, nota-se que o processo remissivo existe, mas que essa referência não é
exata.
Considerações finais
Por meio das análises realizadas neste artigo, pode-se evidenciar que, ao contrário
do que afirma a Gramática Tradicional, pode haver sinonímia em um texto, mesmo quando
não há uma “semelhança geral de sentido”. Isso quer dizer que, apesar de nos exemplos
utilizados nesta pesquisa não haver equivalência “real” entre o termo citado e o retomado,
ainda assim, há a remissão, que ocorre por meio desse recurso.
Sendo assim, a análise realizada evidenciou que as sinonímias encontradas
decorrem do contexto comunicativo em que os enunciados foram produzidos e, também, da
intenção do autor ao optar por determinado sinônimo. Além disso, constatou-se que,
havendo substantivação do adjetivo, ou estando elíptico o substantivo, ainda assim, a
propriedade referencial é mantida e o produtor de um texto atinge seus propósitos
comunicativos.
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