Danos Provocados por Gafanhotos (Orthoptera: Acrididae) em Eucalyptus Urograndis em Vitória da Conquista-Ba Liliane Roque Pinto(1); Rita de Cássia Antunes Lima de Paula(2) ; Denys Matheus Santana Costa Souza(3); Adalberto Brito de Novaes(2) (1) Graduanda em Engenharia Florestal, UESB/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, [email protected]; (2) Professora, Departamento de Fitotecnia e Zootecnia, UESB/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, [email protected] ; (3) Graduando em Engenharia Agronômica, UESB/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, [email protected]; Professor, Departamento de Fitotecnia e Zootecnia, UESB/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, [email protected]. RESUMO Frequentemente muitos plantios florestais são atacados por pragas, os gafanhotos, por exemplo, que historicamente estão associados a viveiros de mudas, têm chamado a atenção quanto à relevância dos danos ocasionados em plantios novos de eucalipto em diversas regiões do país, causando danos em diversas partes da planta. Por se tratar de um fato pouco investigado este estudo teve como objetivo registrar a ocorrência e caracterizar os danos provocados por gafanhotos, no campo, em plantio de Eucalyptus urograndis, no município de Vitória da Conquista-BA. A pesquisa foi conduzida no plantio experimental no Campo Agropecuário da Universidade Estadual do Sudoeste da BahiaUESB, campus de Vitória da Conquista, BA, no período de abril a julho de 2013. A coleta dos insetos foram realizadas por um período de 80 dias, num total de 25 coletas, sendo que a cada coleta foi realizada a quantificação das mudas atacadas. O trabalho se baseou na catação manual como uma técnica que poderia contribuir para a diminuição dos insetos no plantio. As mudas atacadas com 90 dias após o plantio e que apresentaram um diâmetro médio de quase 10 cm representaram 58% do total de das plantas atacadas, demonstrando que a partir desse período mudas de E. urograndis podem ser atacadas por gafanhotos, podendo provocar danos como a mastigação superficial e até mesmo o anelamento do coleto. Palavras-chave: Bahia, tombamento, anelamento; INTRODUÇÃO Com a crescente demanda de produtos florestais, aliado a necessidade de conservação dos ecossistemas e proteção de florestas nativas, o plantio de florestas vem cada vez ganhando mais espaço no cenário nacional. Segundo a ABRAF (2013) a área ocupada por plantios de eucalipto no Brasil totalizou 5.102.030 ha em 2012, representando 76,6% do total de florestas plantadas. O elevado número de espécies e clones do gênero Eucalyptus o confere uma grande possibilidade de expansão geográfica e econômica, uma vez que estes materiais genéticos são adaptados às mais diversas condições edafoclimáticas e atendem a inúmeros tipos de exploração econômica (ANDRADE et al., 1994). IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013. - Resumo Expandido [413] ISSN: 2318-6631 Segundo Anjos et al (1986) a entomofauna associada aos plantios de eucalipto é vasta e estima-se que das 300 espécies de insetos associadas a essa cultura, 10% são pragas, causando perdas consideráveis desde a fase de viveiro até a madeira processada. Entre estes insetos, os gafanhotos (Ordem Orthoptera e família Acrididae) merecem destaque pela grande capacidade de multiplicar-se rapidamente e pelos danos que são provocados por se alimentarem das folhas e dos tecidos jovens das plantas. Trabalhos relatando danos de gafanhotos em espécies florestais, ainda são escassos, merecendo mais investigações e quando são voltados para plantios de eucalipto são retratados, na sua maioria, danos com grilos. Tais insetos causam danos às plantas ao consumirem raízes, caules e folhas de mudas novas e tenras (ANJOS et al., 1986) gerando confusão no diagnóstico pela semelhança dos sinais de ataque. Gafanhotos já foram constatados em plantios experimentais de paricá, teca e mogno-africano no Município de Pau d’Arco, sul do Pará (Lunz et al. 2008) e a espécie Eutropidacris cristata, atacando plantas de Eucalyptus urophylla de dois anos de idade em Minas Gerais (ZANETTI et al. 2003). Este último autor, inclusive, afirma que deve-se incluir este inseto entre os herbívoros associados à eucaliptocultura. Diante disso, este estudo teve como objetivo registrar a ocorrência e caracterizar os danos provocados por gafanhotos, no campo, em plantio de Eucalyptus urograndis, no município de Vitória da Conquista-BA. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado no campo experimental da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, no município de Vitória da Conquista, BA, no período de abril a julho de 2013. Três meses após o plantio de 744 mudas de E. urograndis numa área de 1.683 m² verificouse a presença de insetos entre e dentro das linhas de plantio. A catação manual foi o método empregado, sendo realizado com base no monitoramento na área. O local onde apareciam os insetos era o fator que determinava o ponto para a realização desta técnica. As coletas dos insetos foram quinzenais e ocorreram sempre no período vespertino do dia, entre às 15:00 e 17:00 horas. Durante a catação manual foi utilizado luvas de látex e posteriormente, os insetos foram acondicionados em potes de acrílico contendo álcool 70 % a fim de conservá-los em bom estado até a identificação (Figura 1). Além da identificação e da quantificação dos insetos coletados e das mudas atacadas, observou-se a ausência de danos, os possíveis sinais de mastigação superficial, profunda e corte do caule. Figura 1- Recipiente plástico, devidamente etiquetado, contendo álcool 70% e os insetos coletados. IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013. - Resumo Expandido [414] ISSN: 2318-6631 RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante o período entre abril e julho de 2013 foram capturados 416 indivíduos da família Acrididae. Os insetos apresentaram diferentes estágios de desenvolvimento. Observou-se que aquelas mudas que apresentaram um diâmetro médio de quase 10 cm representaram 58% das plantas atacadas e 42% das mudas atacadas apresentaram um diâmetro médio de cerca de 27 cm, respectivamente possuíram 90 e 160 dias de plantio. É importante salientar que não foi verificado ataque em mudas com diâmetro médio em torno de 5 cm, as quais estavam com menos de dois meses e meio de plantadas. Entre o primeiro e o segundo mês de catação manual ocorreu uma redução de 30% nas mudas atacadas por gafanhoto e do segundo para o terceiro mês foi de 11%, sendo que depois passou a ser nula a ação dos insetos. Foi verificada a mastigação superficial como o dano de maior ocorrência num ponto único da planta, estendendo-se no sentido longitudinal, com aproximadamente 0,4 a 0,6 centímetros de comprimento, como verificado na Figura 02. Figura 2 - Muda de Eucalyptus urograndis com três meses de idade com sinais de mastigação superficial ocasionada por gafanhotos. A mastigação profunda também foi observada ocasionando o anelamento do caule e o consequente tombamento das plantas. Este último fator ocorre devido a interrupção da seiva das partes vitais da planta e a dificuldade de sustentação do caule (Figura 03). IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013. - Resumo Expandido [415] ISSN: 2318-6631 Figura 3 - À direita: Muda de E. urograndis tombada. À esquerda: Muda de E. urograndis apresentando total anelamento do caule. Em todos os casos a mastigação ocorreu na parte inferior das mudas, bem próximo ao solo, na região do colo da planta, ou seja, entre o caule e a raiz. Não foi observado corte em folhas como relatado em Eucalyptus urophylla por Zanetti et al. (2003). A primeira catação manual realizada foi a que apresentou o maior número de insetos coletados, num total de 46, tendo uma redução considerável nos demais dias subsequentes, ficando este valor abaixo de 14 indivíduos. Por outro lado, o mês de junho apresentou 37% dos insetos coletados na área sendo a maior quantidade de gafanhotos coletados. Foi verificado ao longo do período da pesquisa que mudas atacadas superficialmente conseguiram regenera-se, confirmando assim com as hipóteses de Barbosa et al. (2009) em estudos em plantios de Eucalyptus grandis, mas atacadas por grilos. Já mudas que sofreram anelamento total do caule não conseguiram manter a sustentação deste, tendo assim o tombamento, porém posteriormente observou as emissões de novas brotações. CONCLUSÕES Mudas de E. urograndis, a partir de 90 dias, podem ser atacadas por gafanhotos que podem provocar danos como a mastigação superficial e até mesmo o anelamento do coleto. Este trabalho retifica que ortópteros da família Acrididae também merecem atenção em plantio de eucalipto, pois podem até se tornarem praga, na ausência de monitoramento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAF. Anuário Estatístico da Associação Brasileira de Florestas Plantadas 2011. Ano Base 2006. Brasília, 2006, 81 p. ANDRADE, H.B. et al. Avaliação de espécies eprocedências de Eucalyptus L’ Héritier (Myrtaceae) nas regiões norte e noroeste do Estado de Minas Gerais. Revista Árvore, v.18, n.3, p.215-229, 1994. IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013. - Resumo Expandido [416] ISSN: 2318-6631 ANJOS, N. Entomologia Florestal Brasileira (2003 - I SEMESTRE - 2a. Parte) - Principais pragas florestais. Disponível em: < http://www.ebah.com.br/content/ABAAABjA8AH/principais-pragasflorestais-norivaldo-dos-anjos >. Acesso em: 15/09/2013. ANJOS, N.; SANTOS, G. P.; ZANÚNCIO, J. C. Pragas de eucalipto e seu controle. Informe Agropecuário , Belo Horizonte, v. 12, n. 141, p. 50-58, 1986. BARBOSA, L. R.; IEDE, E. T.; SANTOS, F. Biologia, Caracterização de Danos e Ocorrência de Grilos em Plantios de Eucalipto. Comunicado Técnico n° 189. 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