As provas da existência de Deus em Descartes. Caio Cezar Pontim Scholz (PIBIC/CNPq-UEM), Paulo Ricardo Martines (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Filosofia/Maringá, PR. Ciências Humanas Filosofia Palavras-chave: metafísica, argumento ontológico, sujeito pensante. Resumo: Descartes formulou um método com o objetivo de bem conduzir sua razão, para que fosse possível distinguir com segurança o verdadeiro do falso. Utilizando o exercício da dúvida, Descartes rejeita todas as coisas que possuem a mínima possibilidade de serem duvidosas, deste modo, o cogito (penso, logo existo) é o primeiro conhecimento indubitável encontrado e o princípio da filosofia cartesiana. A partir do cogito Descartes encontra outras verdades, a existência da alma inteiramente distinta do corpo cuja essência consiste apenas no pensar e, depois, a existência de Deus. É sobre Deus, como fundamento de verdade, que versa este projeto de pesquisa, especialmente sobre as três provas de sua existência demonstradas por Descartes na terceira e quinta meditações da obra Meditações sobre a Filosofia Primeira. As duas primeiras provas são demonstradas por meio do Princípio de Causalidade e a terceira prova é um argumento ontológico. A prova da existência de Deus é necessária, pois, somente a existência de um Deus perfeito e infinito é capaz de garantir a verdade e a existência de outras naturezas imperfeitas. Deste modo, Deus é o fundamento da metafísica cartesiana. Introdução Pode-se dizer que uma das tarefas de Descartes nas Meditações sobre a Filosofia Primeira é aquela de provar a existência das coisas. Essa prova é necessária, pois, depois da formulação do método e a conquista de várias idéias claras e distintas encontradas no pensamento do sujeito pensante (subjetividade), é necessário verificar se essas idéias possuem uma correspondência com realidades exteriores e independentes do pensamento, isso significa estabelecer uma relação entre a essência (idéia e representação) e a existência. Essa passagem da essência para a existência é necessária, pois, se a verdade é universal, as representações subjetivas devem ser válidas também para as realidades exteriores à subjetividade. Porém, a prova da existência das coisas aponta para duas questões centrais e fundamentais para a metafísica cartesiana: [a] provar a existência de Deus por meio da razão, [b] estabelecer uma demonstração filosófica da imortalidade da alma. Nosso objeto de estudo nesta pesquisa Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. volta-se para as provas da existência de Deus, presentes de modo claro e conciso na terceira e quinta meditações. Sobre essa questão temos o seguinte: Descartes apresenta na terceira Meditação duas provas da existência de Deus por meio da aplicação do Princípio de Causalidade, ou seja, Deus é a causa de determinados efeitos; por sua vez, na quinta meditação, a existência de Deus é provada por meio de um argumento a priori ou ontológico, ou seja, a prova da existência de Deus tem como ponto de partida o próprio conceito de Deus. Materiais e métodos Leitura e análise das obras de Descartes e de comentadores da obra cartesiana, como Raul Landim Filho e Franklin Leopoldo. Resultados e Discussão Em linhas gerais as provas da existência de Deus, objeto de nosso estudo neste projeto, são demonstradas por Descartes da seguinte maneira: Em um primeiro momento Descartes aplica o princípio de causalidade na idéia de infinito presente na consciência do sujeito pensante; como o sujeito pensante não possui o infinito formalmente no seu ser, ele não pode ser a causa desta idéia, logo, a causa da idéia de infinito deve ser externa ao sujeito pensante. O infinito é representado por uma idéia de um Deus perfeito, como a causa dessa idéia está além do sujeito pensante, deve existir, necessariamente, uma realidade formal perfeita e infinita (Deus) que seja a causa desta idéia de infinito na consciência do sujeito pensante. Mais ainda, como o sujeito pensante é uma realidade finita e imperfeita, ele não possui perfeição o suficiente para ser causa de si mesmo, logo, o sujeito pensante depende de uma realidade perfeita e infinita para existir, ou seja, o Deus perfeito e infinito também é causa das outras realidades finitas. A prova ontológica não depende do princípio de causalidade, ela tem como ponto de partida o próprio conceito de Deus e o objetivo de garantir a sua transcendência, deste modo, ela é demonstrada da seguinte maneira: Partindo do princípio de que a existência é uma perfeição. Pensar Deus como não existindo é pensar em um Ser perfeito que carece de uma perfeição. Um Ser sumamente perfeito que carece de alguma perfeição implica em contradição. Logo, pensar em Deus é pensar em uma idéia clara e distinta de um Ser sumamente perfeito cuja natureza é verdadeira e imutável. Se a existência é uma perfeição, então, a idéia de Deus perfeito implica em sua existência como um atributo, ou seja, é mais perfeito existir do que não existir. Como a realidade formal de Deus garante a realidade objetiva da idéia de Deus, fica estabelecida uma relação de correspondência entre a realidade objetiva (interna ao pensamento) e a realidade formal (externa ao pensamento), ou seja, com isso Descartes pode estabelecer a passagem da essência (idéia e representação) para a existência. Portanto, Deus agora é Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. considerado como garantia da verdade e legitima a evidência como critério de verdade, como também, é criador de todas as naturezas imperfeitas. Conclusões A verdade em Descartes corresponde a uma passagem ou correspondência entre a subjetividade e a objetividade, isto é, se o valor objetivo das idéias claras e distintas do sujeito pensante corresponde a realidades formais exteriores ao pensamento, ou seja, uma passagem da essência para a existência de fato, uma vez que, na obra Meditações sobre a Filosofia Primeira, Descartes tem como objetivo provar a existência das coisas. Porém, a verdade e as idéias claras e distintas, necessárias para a prova da existência das coisas, só são possíveis e garantidas devido à prova da existência de um Deus perfeito, infinito e não enganador. Referências BEYSSADE, M. A dupla imperfeição da idéia segundo Descartes. In Analytica.v.2. 1997, 37-49. CURLEY, E. De Volta ao Argumento Ontológico. In Analytica.v.2. 1997, 5181. DESCARTES, R, Meditações in Os Pensadores, volume XV. Trad. GUISBURG, J. e PRADO, B.J. 1ª. Ed.; São Paulo: Abril Cultural: 1973. DESCARTES, R. Obra Escolhida. Trad. 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