o material didático e o ensino de línguas

Propaganda
O MATERIAL DIDÁTICO E O ENSINO DE LÍNGUAS
SANTOS, GUILHERME DA SILVA DOS
Formado em letras – língua portuguesa / língua espanhola. Acadêmico do curso de especialização
em Gestão Educacional – CE/UFSM, membro do CEPESLI (Centro de Ensino e Pesquisa de Línguas
Estrangeiras Instrumentais) UFSM ([email protected])
RESUMO
Este artigo possui como objetivo tecer algumas observações acerca da elaboração de material
didático para o ensino de línguas; seja estrangeiras ou a nossa língua materna, baseado na
abordagem do ensino instrumental. Para isso, faz-se importante abordar questões que envolvam,
além da produção em si desse material; elucidações sobre etapas de produção e nuances
pedagógicas que as mesmas exigem.
Palavras-chave: Material didático; Ensino Instrumental; Ensino de línguas.
INTRODUÇÃO
A seleção de materiais para o ensino de línguas seja ela a nossa língua materna ou
alguma língua estrangeira, possui como base de apoio pedagógico a utilização de algum
material didático. Este material didático, utilizado como um norte pelo professor na aplicação
dos conteúdos em sala de aula passa por critérios de elaboração que objetivam lograr, no
final, a aprendizagem desses alunos. A primeira etapa pela qual esse material enfrenta é a
da escolha. Essa etapa de escolha de material de ensino não é uma tarefa simples, pois é
determinada pelo perfil do público alvo e de um contexto real de ensino onde dado material
será utilizado. A seleção e a escolha desses materiais pressupõem uma minuciosa análise a
partir de critérios e objetivos que visem um adequado enquadramento do material ao perfil
do grupo que dele irão se beneficiar.
Sendo assim, neste artigo pretende-se tecer algumas considerações acerca dos
passos enfrentados para a elaboração de material didático que servirá como apoio para o
ensino instrumental de línguas (materna e estrangeiras).
SOBRE MATERIAL DIDÁTICO
Vilaça (2001) define como material didático toda a criação que ajude no ensino de
aprendizes de uma língua. Por esta definição que Vilaça oferta, nos permite entender que o
material didático depende, logo, de um agente para administrar tal ensino.
Bandeira (2011, p.14) apresenta que “material didático pode ser definido amplamente
como produtos pedagógicos utilizados na educação e, especificamente, como material
instrucional que se elabora com finalidade didática”. Numa óptica ao encontro dessas
definições, Vilaça (2011) defende um posicionamento no qual menciona que um texto não
existe fora dos suportes materiais que permitem sua leitura.
Assim sendo, ao ser objetivado para uma atividade educativa, o material didático,
conjunto de textos e recursos visuais, implica na escolha de um suporte impresso. Por fim, a
definição de material didático está agregado ao tipo de suporte que possibilitará materializar
o conteúdo que nele estará imerso para que o agente (professor) seja capaz de utilizar-se
desse material.
A CONCEPÇÃO DO INSTRUMENTAL DO ENSINO DE LÍNGUAS
O ensino de línguas instrumentais vem desenvolvendo um espaço cada vez maior
em nossa sociedade acadêmico-profissionalizante; seja esse ensino voltado às línguas
estrangeiras ou o ensino da nossa língua portuguesa em caráter de atualização; formação
ou como PLE (Português como Língua Estrangeira). Adquirir e/ou aprimorar uma língua
tornou-se uma ferramenta desejável e indispensável nesse mundo globalizado em que
vivemos (Martins; Rochebois; Paula, 2009). E, por estar em um mundo globalizado é que o
ensino de línguas instrumentais vem ganhando força – também chamado de Ensino de
Línguas para Fins Específicos. No Brasil, de acordo com Martins; Rochebois e Paula (2009),
o ensino instrumental de línguas teve seu início nos anos 70 com a adoção do projeto
Ensino de Inglês Instrumental em Universidades Brasileiras. A partir daí, percebeu-se a
necessidade de um ensino voltado para a habilidade de leitura de textos científicos,
auxiliando os alunos acadêmicos na realização de leituras, interpretação e compreensão de
textos. Atualmente, para Nardi (2005) o ensino instrumental abrange diversas línguas
estrangeiras e não mais está centrado somente para leitura da língua inglesa, e tem como
foco outras habilidades - como escrita, fala e compreensão, estando, com isso, diretamente
ligado a interesses específicos de determinado grupo, podendo atender a necessidade
lingüístico-comunicativo em situações reais de uso da língua em estudo. “O instrumental
pode ser voltado para qualquer habilidade, contanto que esteja baseado na análise das
necessidades dos alunos, por exemplo, se um aluno quer ser guia de turismo, vai fazer
instrumental oral”.(NARDI, 2005, s/p).
De acordo com Martins; Rochebois e Paula (2009), faz-se necessário diferenciar o
que é o ensino de línguas instrumental do ensino geral de línguas. A diferença entre o
primeiro e o segundo está no fato de que, no ensino instrumental de línguas os objetivos são
delimitados, enquanto que no ensino geral de línguas não há uma definição exata dos fins a
serem alcançados.
O ensino para fins específicos tem como objetivo capacitar o aluno para uma
determinada necessidade, e isso em curto tempo. Assim o aluno “vai aprender a língua para
desempenhar tarefas específicas em situações pré-determinadas, e ainda, nesta
abordagem, [a do instrumental], a língua é vista como um meio, um instrumento para
alcançar algo” (DINIZ; MARCHESAN, 2011, s/p).
As autoras trazem, então, algumas características do ensino instrumental como “a
definição de objetivos; a produção de material didático específico; o grupo de alunos ser
homogêneo em relação aos objetivos a serem alcançados e, geralmente, ser constituído por
pessoas adultas”.
Nardi, (2005, s/p), ainda destaca o papel do professor. Enquanto no ensino “geral” o
professor geralmente não interfere no programa do curso que vem praticamente pronto, no
ensino instrumental;
“o professor é responsável pela montagem do programa. Ele interfere,
interage, divide em grupos [...]. O papel do professor não é apenas ater-se
ao aspecto lingüístico, mas fazer toda uma pesquisa das reais
necessidades do aluno naquele momento, para ser ele o conhecedor dos
fins específicos” (NARDI, 2005, s/p).
No ensino instrumental, depois de analisadas as necessidades dos alunos, cabe ao
professor verificar qual habilidade irá trabalhar e qual parte da gramática irá enfocar.
“Geralmente falar e compreender estão juntos, mas nem sempre ler e escrever são
trabalhadas em conjunto. Se a habilidade exigida é escrever, a leitura é necessária, já o
inverso não se aplica”.(NARDI, 2005, s/p).
Assim, deve-se tomar cuidado para a elaboração do material didático para fins
específicos, pois o professor irá elaborar seu próprio material e a autenticidade dos
materiais é um fator importante.
A relação professor x aluno no ensino de línguas para fins específicos requer mais
interação. Conforme Nardi (2005), o professor tem o conhecimento lingüístico, mas contará
com o conhecimento prévio do aluno. Ainda segundo essa autora, deve-se estabelecer entre
professor e aluno uma relação de cumplicidade e respeito, pois o professor não terá o
mesmo conhecimento técnico do aluno, e o aluno deve reconhecer a importância do
professor.
O MATERIAL DIDÁTICO APLICADO AO ENSINO INSTRUMETAL DE LÍNGUAS
A elaboração de material didático destinado ao ensino instrumental de línguas
requer, em primeira instância, respostas para as seguintes perguntas: Quem será o aluno?
Quem busca esse curso de língua na abordagem instrumental? Qual seu objetivo com esse
curso instrumental de língua? Com essas respostas, o produtor do material didático passa a
determinar os conteúdos a serem trabalhados na elaboração do material didático. “Materiais
didáticos são codificações de experiências com uma língua-alvo organizadas em unidades
de trabalho, acompanhadas ou não por notas e planos constantes de manual do professor e
cadernos de exercícios” (ALMEIDA FILHO, 1994, p.44).
Na elucidação de Ticks (2003), cabe ao professor de línguas pensar o material
didático através da ótica do seu público e do contexto ao qual ele pertence. Nesse sentido,
faz-se necessário organizar um material de apoio que ao ser ensinado se torne significativo
para o aluno. É fundamental que o ensino instrumental de línguas - bem como o material
didático instrumental de línguas - seja contextualizado e relevante para a faixa etária dos
alunos contribuindo para sua formação crítica, pois, um ensino de qualidade deve
aumentar a auto percepção do aluno como ser humano e como cidadão.
A metodologia do ensino instrumental de línguas, segundo Sedycias (2002), tem
como premissa básica levar o aluno a descobrir suas necessidades acadêmicas e
profissionais dentro de um contexto autêntico, oriundo do mundo real. A partir dessa prática
educativa, para Sedycias (2002), o aluno é auxiliado a superar dificuldades dentro de um
contexto determinado, o que o ajuda no desenvolvimento de destrezas específicas em uma
determinada língua.
Sendo assim, devido às características do ensino instrumental ser bastante
especificas para determinados fins, é necessário que se produza um material didático
adequado aos interesses para determinada ocasião de ensino. Segundo Leffa (2003) esses
interesses partem de uma análise das características do público-alvo, levando em
consideração anseios, expectativas, preferências e gostos pessoais. Esse exame analítico
das necessidades dos alunos são os ingredientes que devem ser atendidos em primeiro
lugar.
Após a análise dos interesses, a segunda etapa é o desenvolvimento dos objetivos
do curso instrumental de língua na elaboração do material didático. “A definição clara dos
objetivos dá uma direção à atividade que está sendo desenvolvida com o uso do material”.
(Leffa, 2003, p. 14). Esses objetivos podem ser gerais ou específicos. Objetivos gerais são
elaborados para períodos maiores de aprendizagem, como, por exemplo, o planejamento do
próprio curso instrumental de línguas e os objetivos específicos são utilizados para períodos
menores, envolvendo, por exemplo, uma tarefa da aula introduzida para alguma finalidade
nesse mesmo curso (Leffa, 2003).
Uma vez definidos os objetivos de aprendizagem, é necessário selecionar
os conteúdos pelos quais os objetivos serão alcançados. Se o objetivo, por
exemplo, for levar o aluno a compreender um texto de uma determinada
área de conhecimento, o conteúdo selecionado pode ser um texto, uma
amostra do léxico típico da área, uma lista de determinados mecanismos
retóricos ou uma integração de diferentes conteúdos. A opção por um
desses aspectos é determinada pela filosofia de aprendizagem a que se
filia o professor. (Leffa, 2003, p. 24)
Richter (2012) contribui afirmando que o relacionamento entre o docente, o material
didático e o aluno deve ser positivo; um complementando o outro numa parceria que
compartilhe objetivos em comuns. Para isso, o autor apresenta algumas considerações que
contribuem para essa interação no momento do emprego pedagógico do ensino de línguas
como, por exemplo, o feedback (ou seja; o retorno ao aluno acerca dos objetivos do
aprendizado e sua positiva ou negativa interação) que, segundo Richter (2012), pode ser
dado de forma gradativa. Inicialmente o feedback pode ser explicito; dar a resposta para o
aluno do seu erro, por exemplo. Ao longo do ensino este pode ser de forma implícita; ou
seja, mostrar meios para o aluno averiguar por sua conta própria onde esta seu erro e
buscar melhoras para seu aprender. Este feedback e interação aluno x professor pode estar
contido no próprio material didático desenvolvido para o ensino de línguas, pois ao elaborar
atividades centradas em itens gramaticais, por exemplo, o produtor do material pode apelar
para:
Instruções explícitas (o professor emprega metalinguagem gramatical) e
implícitas (o aluno manipula reflexivamente itens gramaticais) são, ambas,
proveitosas para o ensino de línguas, cada uma a seu modo. Instrução
explícita é mais eficaz se a regra a ser aprendida é complexa e a
informação fornecida é ilustrada com exemplos. (RICHTER, 2012, p. 02-03)
Sendo assim, um material pensado e produzido para o ensino instrumental de
línguas deve estar de total acordo com um conjunto de procedimentos a serem
desenvolvidos de maneira a fomentar não apenas o aprendizado imediato; mas também
instigar para a curiosidade do aprender mais, pois, cabe ao elaborador desse material ficar
atento para que seja contemplado o maior número possível dessas características,
englobando sempre a tríade mestre – aprendiz – finalidade, pautando na proposta interativa
da comunicação, incorporando o pensar critico do aluno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com bases no que foi exposto, é possível perceber que a etapa de produção de
material de ensino para línguas é uma sequência de atividades que objetiva criar um
instrumento de aprendizagem (Leffa, 2003). Esse instrumento de aprendizagem deve dar
ênfase ao uso do ensino da língua de forma a propiciar uma reflexão sócio-critica por parte
dos alunos envolvidos nessa abordagem de ensino. “Acima de tudo, os materiais expostos
serão pontos de partida e fontes potenciais de insumo e apoio na construção de
experiências válidas, profundas, duradouras e memoráveis nas trajetórias díspares e
oscilantes dos que aprendem novas línguas” (ALMEIDA FILHO, 1994, p.50). Agregado a
este ensino de línguas, o instrumental também é de relevante caráter, pois é a partir desse
tipo de ensino que a aplicação desse material terá seu objetivo inicial consumado, uma vez
que antecipadamente os elaboradores desse material didático mencionam um público-alvo
para o ensino.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA FILHO, J. C. P. Escolha e produção de material didático para um ensino
comunicativo de línguas. In: CONTEXTURAS: ensino crítico de língua Inglesa. São
Paulo: APLIESP, 1994. v. 2.
BANDEIRA, Denise. Material didático: conceito, classificação geral e aspectos da
elaboração. Disponível em < http://www2.videolivraria.com.br/pdfs/24136.pdf> acesso em
08 de ago. 2011
DINIZ, D.F; MARCHESAN, M.T.N. Crenças sobre processo de aprendizagem de línguas
em
uma
abordagem
instrumental.
Disponível
em
http://www.reitoria.uri.br/~vivencias/Numero_010/artigos/artigos_vivencias_10/l8.htm Acesso
em 24 de jan. de 2011
LEFFA, V. J. Como produzir materiais para o ensino de línguas. In: LEFFA, V. J. (org.).
Produção de materiais de ensino: teoria e prática. Pelotas: Educat, 2003.
MARTINS, E. B; ROCHEBOIS, C. B; PAULA, M. M. de. A abordagem instrumental no
ensino de língua francesa na universidade federal de viscosa, MG. Disponível em:
www.fbpf.org.br/cd2/liste_des_auters/m/emili_barcellos_martins_christianne_bennati_rocheb
ois_maria_eugenia_matta_machado_paula.pdf. Acesso dia: 02/09/09.
NARDI, N. Como surgiu o projeto inglês instrumental no Brasil. Revista Voz das Letras.
Concórdia, SC, Universidade do Contestado, n.3, II Semestre 2005. Disponível em:
http://www.nead.uncnet.br/2004/revistas/letras/3/2.pdf. Acesso em 01 de abril de 2010.
PORTELA, Keyla Christina Almeida. Abordagem comunicativa na aquisição de língua
estrangeira.
Disponível
em
<
erevista.unioeste.br/index.php/expectativa/article/download/84/294> acesso em 02 ago. 2011
RICHTER, Marcos Gustavo. O material didático no ensino de línguas. Disponível em
http://www.ufsm.br/lec/02_05/Marcos.pdf. Acesso em 26 de maio 2012
SEDYCIAS, J. O que é inglês instrumental? Universidade Federal de Pernambuco. 2002.
Disponível em: http://www.sedycias.com/instrument_01e.htm. Acesso em 02 de setembro de
2009.
TICKS, L. K. O perfil identitário do professor de inglês pré-serviço subjacente a
narrativas
de
Histórias
de
vida.
Disponível
em
<http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/cd/Port/73.pdf>, Acesso em 15 jul.
2011.
VILAÇA, M.L.C. O material didático no ensino de língua estrangeira: definições,
modalidades
e
papéis.
Disponível
em
http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/reihm/article/viewFile/653/538. Acesso em 28
jul. 2011
Download