ANALGÉSICOS & ANTI-INFLAMATÓRIOS ESQUEMAS TERAPÊUTICOS Revisão em 2012 – Prof Solange Maria Dieterich Referências consultadas: WANNMACHER; FERREIRA, 2007 (a); FUCHS, WANNMACHER, 2010 (b); ANDRADE, 2006 (c); BRUNTON, LAZO, PARKER (Goodman & Gilman), 2010 (d); PANUS et al., 2011 (e); RANG et al., 2007 (f); DEF 2010/11 (g). Algumas Considerações: Analgésicos não-opioides (AÑOs) e Anti-inflamatórios Não-esteroidais (AINEs) 1 Ácido acetilsalicílico (aas). Derivado dos salicilatos. A meia-vida do aas é curta (±15 min); seus metabólitos ativos apresentam meia-vida dose-dependente (2,4 h p/ 300 mg; 6 a 19 h, p/ 1.000 mg; 19 a 30 h p/ doses tóxicas). Evitar d em crianças e adolescentes com sintomas de infecção viral ativa, pelo risco de síndrome de Reye. Evitar em b,d,e,f gestantes. Muito utilizado, em doses de 75-300 mg/dia (geralmente 100 mg), para proteção tromboembólica. 2 Diflunisal. Derivado dos salicilatos, assim como o ácido acetilsalicílico. Difere deste, por ser mais ativo como analgésico e anti-inflamatório, mas não ser bom antipirético. Além disso, diflunisal apresenta menores efeitos b,d adversos e tem meia-vida mais longa, podendo ser administrado de 12 em 12 horas. 3 Paracetamol. Derivado paraminofenólico. É, atualmente, o analgésico e antipirético mais usado no mundo, em função de eficácia e segurança. Com o uso de doses apropriadas, raramente causa RAM (reação adversa a medicamentos). Na Europa, entretanto, é o agente mais envolvido em intoxicação medicamentosa, o que reforça a b necessidade de uso racional, a fim de preservar sua segurança . Pode ser usado em crianças, gestantes e idosos. Não induz distúrbios gastrintestinais, nem interfere com as funções plaquetárias e cardiovasculares. No controle de a dor pós-operatória dentária, 1 (um) grama a cada seis horas (não compromete a segurança) e é considerado eficaz. b Para dores leves a moderadas, paracetamol tem igual eficácia que anti-inflamatórios não-esteroidais. Administrar em jejum (a absorção também aumenta se usado após metoclopramida). Paracetamol + codeína (ou tramadol ou AINE) b,d pode melhorar a resposta em alguns casos mais resistentes. 4 Ibuprofeno. Derivado do ácido propiônico. É considerado, entre os AINEs, o representante de primeira escolha para substituir AÑO (ex: paracetamol) para controle de dor pós-operatória. Ensaios clínicos randomizados, meta-análises e revisões sistemáticas indicam que AINEs podem ser superiores a paracetamol para o controle da dor pósoperatória. Ibuprofeno (assim como diversos outros AINEs e AÑOs) induz, frequentemente, sonolência, cuja explicação biológica permanece desconhecida. Em crianças, a eficácia analgésica do ibuprofeno é similar ao paracetamol. Entretanto, paracetamol permanece como primeira escolha em crianças, em função de segurança. 10b,d 15% interrompem o uso por efeitos adversos. 5 Naproxeno. Derivado do ácido propiônico. Apresenta eficácia e risco intermediário de RAM, especialmente b,d gastrintestinais. Pode propiciar cardioproteção em alguns indivíduos. Menor ligação proteica e demora na excreção d renal podem aumentar a toxicidade pelo naproxeno, em idosos. Naproxeno (500 mg) e naproxeno sódico (550 mg) b d são eficazes no controle de dor pós-operatória (Revisão Sistemática). Efeitos podem tardar por até 2 a 4 semanas. 6 Cetoprofeno. Derivado do ácido propiônico. É um AINE que inibe COX (de forma não-seletiva) e LOX. Apesar do duplo mecanismo de ação, não se mostra superior aos demais representantes do grupo (ex: ibuprofeno). Em doses b d diárias de 100-300 mg, sua eficácia equivale à de outros AINEs. 30% experimentam efeitos gastrintestinais leves. 7 d Fenoprofeno. Derivado do ácido propiônico. 15% experimentam efeitos colaterais; poucos interrompem o uso. 8 Diclofenaco. Derivado do ácido fenilacético. Agente eficaz e de segurança aceitável. Em Revisão Cochrane de 15 ensaios clínicos: NNTs p/ diclofenaco potássico (2,1 p/ 50 mg e 1,9 p/ 100 mg); NNT p/ diclofenaco sódico (6,7 p/ 50 mg e 4,5 p/ 100 mg). Assim, diclofenaco potássico mostrou-se melhor do que diclofenaco sódico para controle de dor aguda pós-operatória. Embora diclofenaco seja normalmente visto como AINE mais eficaz que ibuprofeno, resultados b de estudos diversos indicam que essa é apenas uma questão de dose. Diclofenaco sofre importante efeito de 1ª passagem (metabolismo hepático: 50% da dose); a administração parenteral fornece níveis sanguíneos mais elevados que a via oral; os alimentos não influenciam na quantidade de diclofenaco absorvida, mas retardam o início a e a taxa de absorção; deve ser administrado antes da refeição. AINE com alguma seletividade para COX-2. 20% d experimentam efeitos colaterais; 2% interrompem o uso. 9 Cetorolaco. Derivado do ácido acético. Bom analgésico e antipirético, mas fraco anti-inflamatório; constitui um dos b poucos AINEs aprovados pela FDA para uso IV e IM; também usado por VO. Alternativa para a morfina para uso por período curto (5 dias) em casos de dor pós-operatória moderada à intensa. Não recomendado para dores leves ou crônicas, em função de baixa segurança. A alta incidência de RAM (distúrbios gastrintestinais e renais, especialmente com doses altas e em pacientes idosos) pelo uso de cetorolaco justificou sua retirada em alguns a,d países e recomendações de uso limitado, em outros. 10 Meloxicam. Derivado do ácido enólico. AINE com longa meia-vida e com alguma seletividade para COX-2. Assim, d espera-se menor distúrbio gastrintestinal. 11 Nimessulida. Derivado sulfonanilida. AINE com alguma seletividade para COX-2. Assim, espera-se menor distúrbio d gastrintestinal. Cuidar com o risco de reação alérgica cruzada com sulfonamidas. 12 Dipirona. É largamente utilizada no Brasil, Rússia, Espanha e alguns países da África. Seu uso foi banido nos Estados Unidos, Reino Unido e em outros 30 países (aproximadamente), devido à ocorrência de reações alérgicas graves (edema de glote e anafilaxia) e idiossincráticas (agranulocitose potencialmente fatal). Por ter igual eficácia e b menor segurança em relação a outros analgésicos, considera-se que não há razão para seu emprego. *** Diclofenaco, meloxicam, nimessulida (> seletividade pela COX2); maior risco eventos adversos cardiovasculares. *** Coxibes (seletividade pela COX2) (ex: celecoxibe) é contraindicado em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização coronariana e alérgicos a sulfonamidas. *** Qualquer AINE (inibidor de COX) deve ser empregado com cautela em pacientes com distúrbios cardiovasculares. *** Há a possibilidade de se prescrever inibidor da bomba de prótons (ex: omeprazol) com AINE não-seletivo quando houver maior risco de distúrbio gastrintestinal. Para pacientes recebendo ácido acetilsalicílico, os anti-histamínicos H2 (ex: ranitidina) devem ser preferidos, em substituição aos inibidores da bomba de prótons. ANALGÉSICOS NÃO-ESTEROIDES (ADULTOS) – Fármacos Pico (h) t½ (h) 1 1 2-3 1-2 2-3 1 12-19 8-12 2 30-60 (IM) 4-6 2-3 1-2 1 2-4 Fenoprofeno (VO) 2 2 Dor/Inflamação Naproxeno (VO) 1 14 Meloxicam (VO) 5-10 Nimessulida (VO) Ác. acetilsalicílico Ác. acetilsalicílico Diflunisal (VO) Cetoprofeno (IM, IV, VO) Cetorolaco (carboxilato de pirrolizina) (IM, IV, VO) Diclofenaco potássico (VO, IM, IV) Ibuprofeno (VO) 3 Oxaprozina (VO) Paracetamol (VO) 5 Celecoxibe (VO) Indicações Dose usual (mg) 325-650 1.000 250-500 25 50-75 2= < 65 anos: (VO) dose inicial: 20mg manutenção: 10mg /4-6 h > 65 anos: 10 (4 - 6 h) 50 75 200-400 300-800 Intervalo (h) 4 ou 6 4 ou 6 8 ou 12 6 ou 8 6 ou 8 4 ou 6 Máximo/ dia (mg) 5.000 5.000 1.500 300 8 12 4 ou 6 6 ou 8 150 Dor/Inflamação 200 300-600 250-500 4 ou 6 6 ou 8 6 ou 12 1.000 15-20 Dor/inflamação 7,5-15 24 15 1-4 3 Dor/inflamação 50-100 12 400 3-4 0,5-1 2-4 40-60 2h 3-6 Dor/inflamação Dor/febre Dor/inflamação 600-1.200 4 7-15 /Kg 100-400 24 4 12 ou 24 1.200 4.000 800 Dor/febre Inflamação Dor/inflamação Dor Inflamação Dor intensa Dor/Febre Inflamação Dor Inflamação 40 2.400 2.400 1- Meia-vida dos metabólitos do ácido acetilsalicílico. 1- Doses tóxicas de ác. acetilsalicílico podem elevar a meia-vida para 30 h. 2- O cetorolaco normalmente é usado por via IM (60 mg na primeira injeção + 30 mg a cada 6 h), ou 30 mg (IV) a cada 6 h. 3- Oxaprozina não é boa opção para analgesia em dor aguda em função de início de ação lento. 4- Doses elevadas de paracetamol podem originar metabólitos tóxicos ao fígado; utilizar no máximo 5 doses ao dia. 5- Celecoxibe pode ser iniciado com dose de 400 mg; as doses subsequentes não devem ultrapassar 200 mg. ANTI-INFLAMATÓRIOS ESTEROIDAIS EM SITUAÇÕES ODONTOLÓGICAS COMUNS Condição Edema pós-trauma Artrite de ATM Alergia aguda grave Pênfigo oral Líquen plano oral Dor endodôntica Aftas e ulcerações Fármaco Prednisona Betametasona Prednisona Hidrocortisona Prednisona Triancinolona Prednisona Triancinolona Dexametasona Betametasona Triancinolona Dose usual (mg) 5 4a8 5 100 20-60 Orabase 5 Orabase 4 1-3 gotas* Orabase Vias VO IM ou VO VO IV VO Bucal VO Bucal VO ou IM Intracanal Bucal Intervalo (h) 6 Dose única 6 8 24 8h 6 8 8 - 12 Dose única 8 Duração 3 dias 3-5 dias 24 h 3 dias 3 dias 24 h - Obs: Em caso de dose única diária, moderada ou elevada, os corticosteroides devem ser usados no período da manhã, para minimizar efeitos sobre o sono e o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. REF: adaptado de Wannmacher; Ferreira, 2007. Fármaco Ác. Acetilsalicílico Cetoprofeno Cetorolaco trometamol Diclofenaco potássico Apresentações comerciais Comprimidos: 100, 325 e 500 mg Cápsulas: 50 mg; Gotas 2% (20 mg/mL): 1 gota/Kg; Comprimidos: 150 mg; Comprimidos retard: 200 mg; Supositórios: 100 mg; Ampolas: 100 mg (2 mL) (IM); Frascos-ampola: 100 mg (IV) Comprimido sublingual: 10 mg; Solução oral: 10 mL (20 mg/mL); Ampolas: 10 ou 30 mg/1mL; 30 mg/2 mL; Frascos (colírio): 5 mL (solução a 0,5%) Drágeas: 50 mg; Comprimidos: 50 e 100 mg; Suspensão oral: 120 mL (2 mg/mL); Gotas: 20 mL (15 mg/mL= 0,5 mg/gt); Supositórios: 12,5 e 75 mg; Ampolas: 75 mg (3 mL) Fenoprofeno Comprimidos: 300, 400 e 600 mg; Cápsulas: 400 mg; Drágeas: 600 mg; Gotas: frascos de 50 ou 60 mL (100 mg/mL) Cápsulas: 200 mg Meloxicam Comprimidos: 7,5 e 15 mg Naproxeno Comprimidos: 250, 275, 500 e 550 mg; Suspensão: 100 mL (25 mg/mL) Paracetamol Comprimidos: 500, 650 e 750 mg; Suspensão: 60 mL (160 mg/5 mL); Gotas: 15 mL (100 ou 200 mg/mL) Cápsulas: 100 e 200 mg Ibuprofeno Celecoxibe ANALGÉSICOS NÃO-OPIÓIDES (CRIANÇAS) Paracetamol (dose: 10-15 mg/kg) 1-6 meses: 30-60 mg a cada 6-8 h 6-12 meses: 60-120 mg a cada 4-6 h 1-2 anos: 120-250 mg a cada 4-6 h 2-6 anos: 250 mg a cada 4-6 h 6-12 anos: 250-500 mg a cada 4-6 h 12-18 anos: 500 mg a cada 4-6 h Máx/dia= 5 doses (50-75 mg/kg/dia) Ibuprofeno 1-6 meses: 5 mg/Kg a cada 6-8 h 6-12 meses: 50 mg a cada 8 h 1-2 anos: 50 mg a cada 6-8 h 2-6 anos: 100 mg a cada 6-8 h 6-12 anos: 200 mg a cada 6-8 h 12-18 anos: 300 mg a cada 6-8 h 1. Paracetamol: Suspensão: frasco de 60 mL (160 mg/5 mL) Gotas: frasco de 15 mL (100 ou 200 mg/mL) 2. Ibuprofeno: Comprimidos: 300 mg Suspensão: frascos de 100 mL (20 mg/ mL) Gotas: frascos de 20, 30, 40, 50, 60 mL (50 mg/mL); 10 gt = 1 mL Gotas: frascos de 20, 30, 40, 50, 60 mL (100 mg/mL) Gel oral: frascos de 50 mL e 150 mL (100 mg/5 mL) 3. Naproxeno: 5 mg/Kg Comprimidos: 250 mg Suspensão: frasco de 100 mL (25 mg/ mL) ANALGÉSICOS OPIÓIDES Nome genérico Dose equianalgésica aproximada Dose equianalgésica aproximada Dose inicial recomendada (adultos > 50 Kg) Dose inicial recomendada (crianças e adultos < 50 Kg) Via oral Via parenteral Via oral ou Parenteral Via oral ou Parenteral 30 mg/3-4 h; por 24 h 60 mg/3-4 h; dose única ou intermitente 10 mg/3-4 h VO: 30 mg/3-4 h VP: 10 mg/3-4 h VO: 0,3 mg/Kg/3-4 h VP: 0,1 mg/Kg/3-4 h Codeína 130 mg/3-4 h 75 mg/3-4 h VO: 60 mg/3-4 h IM/SC: 60 mg/2 h VO: 10 mg/Kg/3-4 h VP: não-recomendado Tramadol 100 mg 100 mg Opióides agonistas Morfina (VO, IM, IV, intratecal) VO: 50-100 mg/6 h VO: não-recomendado VP: 50-100 mg/6 h VP: não-recomendado * Doses de codeína acima de 65 mg podem ser inadequadas: perde-se o poder analgésico em função do aumento dos efeitos adversos. O tramadol induz risco de convulsões: não disponível nos EUA para via parenteral. FONTE: Goodman, 2010. Fármaco Morfina Apresentações comerciais Comprimidos: 10, 15 e 30 mg; Cápsulas: 30, 60 e 100 mg; Gotas: 60 mL (10 mg/mL= 26 gotas); Ampolas: 1 mL (0,2 mg ou 10 mg) Codeína Comprimidos: 30 e 60 mg; Cápsulas: 30, 60 e 100 mg; Gotas: 120 mL (3 mg/mL); Ampolas: 2 mL (30 mg) Codeína + paracetamol Comprimidos: 7,5 ou 30 mg de codeína + 500 mg de paracetamol Comprimidos revestidos: 10, 20 e 40 mg Oxicodona Tramadol + paracetamol Comprimidos: 37,5 mg de tramadol + 325 mg de paracetamol Tramadol Cápsulas: 50 mg; Comprimidos retard: 100 mg; Gotas: 10 mL (100 mg/mL; 40 gotas); Ampolas: 2 mL (100 mg) Naloxona Ampolas: 1 mL (0,4 mg); Ampola neonatal: 2 mL (0,02 mg)