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Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina - Número 3.
Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT (Cáceres). 2015 jan.-jul. (p. 10-24)
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DO MELANOMA CUTÂNEO
EPIDEMIOLOGICAL ASPECTS OF CUTANEOUS MELANOMA
Luiz Guilherme de Moraes Matheus1, Beatriz Helena de Mattos Araujo Verri2
RESUMO
Introdução: o melanoma cutâneo tem aumentado sua incidência em todo o mundo. Dentre os
tumores, aqueles que acometem a pele são os de maior incidência no Brasil e no mundo. O
melanoma cutâneo é um tipo de tumor de pele que apresenta origem neuroectodérmica e
caracteriza-se por apresentar elevados índices de mortalidade, embora seja responsável por
apenas 4% dos tumores cutâneos. Metodologia: a pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases
de dados SciELO, LILACS, Medline. Foram utilizados os descritores melanoma, pele, neoplasias
cutâneas, diagnóstico. A pesquisa estendeu-se para livros na área de dermatologia. Resultados e
discussão: o melanoma cutâneo é um tumor que apresenta grande capacidade de metástase
linfática e hematogênica, apresenta etiologia ainda incerta, entretanto os fatores de risco
intrínsecos e extrínsecos são conhecidos. Apresenta formas de apresentação clínica variadas que
estão correlatas com a prognose da patologia, sendo o tratamento baseado na excisão cirúrgica do
tumor. Diagnóstico precoce confere elevados índices de cura. Conclusão: considerado um tumor
de inexorável importância médica, o melanoma vem apresentando maiores incidências no mundo,
conhecer suas variáveis e promover maior alcance das políticas de promoção de saúde acerca
deste tumor cutâneo é de extrema importância na tentativa de diminuir o número de indivíduos
acometidos pelo melanoma.
Palavras-chave: Melanoma. Pele. Neoplasias Cutâneas. Diagnóstico.
1. Acadêmico do curso de Medicina da Universidade São Francisco - Bragança Paulista – SP
2. Professora Doutora da Faculdade de Medicina da Universidade São Francisco - Bragança Paulista – SP
Correspondência
Luiz Guilherme de Moraes Matheus - Av. São Francisco de Assis, 218 Jardim São José, CEP: 12916-350,
Bragança Paulista – SP
E-mail: [email protected]
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ABSTRACT
Introduction: cutaneous melanoma incidence is rising worldwide. Among the tumors, which affect
the skin have the highest incidence in Brazil and worldwide. Cutaneous melanoma is a skin tumor
with neuroectodermal origin and it is characterized by having high mortality rates, even accounting
for only 4% of skin tumors. Methods: a literature search was conducted in the databases SciELO,
LILACS, Medline. Descriptors melanoma, skin, skin cancer, diagnosis were used. The research
was extended to books in the field of dermatology. Results and discussion: cutaneous melanoma
is a tumor with a large capacity of lymphatic and hematogenous metastasis, it has yet uncertain
etiology, however the factors of intrinsic and extrinsic risk are known. It presents different forms of
clinical presentation that are correlated with the prognosis of the tumor and treatment based on
surgical excision of the tumor. Early diagnosis gives high cure rates. Conclusion: considered a
tumor of inexorable medical importance, melanoma has shown higher incidences in the world, and
it is extremely important to know its variables and develop greater range of policies to promote
health around this cutaneous tumor to try to reduce the number of affected individuals by
melanoma.
Keywords: Melanoma. Skin. Skin Cancer. Diagnosis.
INTRODUÇÃO
O câncer de pele é o tipo de câncer mais frequente na população brasileira,
sua incidência vem aumentando consideravelmente nas últimas três décadas em
todo o mundo1. É comum classificar os cânceres de pele em não-melanoma
(carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular) e melanoma. Os não-melanoma
são os mais incidentes no Brasil, sendo responsáveis por aproximadamente 20%
dos novos casos de câncer2. De forma geral a maioria dos cânceres de pele
apresentam um bom prognóstico, com índices de cura acima de 95% dos casos
quando diagnosticado precocemente e tratado de forma adequada3. O melanoma é
uma neoplasia maligna e representa cerca de 4% de todos os tumores da pele,
tendo sua origem a partir dos melanócitos. Apesar da baixa representatividade, o
melanoma apresenta inexorável importância, pois se pode mostrar muito agressivo,
tendo alta capacidade de realizar metástases linfática e hematogênica. Cerca de
14% dos pacientes acometidos por melanoma metastático sobrevivem após cinco
anos, sendo o melanoma cutâneo responsável por aproximadamente 79% das
mortes por câncer de pele. Devido às crescentes taxas de incidência e a alta
mortalidade, o melanoma cutâneo é considerado o câncer de pele de maior
importância médica3,4,5,6.
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METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão bibliográfica. Para o levantamento dos artigos da
literatura, realizou-se uma busca nas bases de dados: Scientific Eletronic Library
Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem Online (Medline). Os
seguintes descritores e suas combinações nas línguas portuguesa, inglesa e italiana
foram usados: melanoma, pele, neoplasias cutâneas, diagnóstico. Para a seleção
dos artigos foram utilizados os seguintes critérios: 1) artigo de relevância na temática
da presente revisão; 2) data recente de publicação (últimos 15 anos); e 3) artigo de
relevância independente da data de publicação. Foi realizada ainda pesquisa em
livros de dermatologia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
EPIDEMIOLOGIA
No mundo, o melanoma apresenta uma alta na sua incidência, de forma geral,
as taxas aumentam na medida que se aproxima geograficamente da linha do
Equador, de forma inversa ao que ocorre na Europa, onde os maiores índices do
câncer estão na região norte, tendo como provável explicação o fototipo de pele de
tal população7. Os Estados Unidos e a Austrália se destacam entre os países onde
se observa alta nos números de novos casos. Segundo estatísticas do The National
Cancer Institute Surveillance, Epidemiology and End Results (SEER), os Estados
Unidos registraram um aumento de 619% na incidência do tumor entre os anos de
1950 a 20008. Estima-se, ainda, que no ano de 2014 os Estados Unidos irão
apresentar
76,1
mil
novos
casos
de
melanoma
cutâneo,
sendo
que
aproximadamente 9,71 mil pacientes irão morrer em decorrência do tumor9. Na
população italiana a incidência de melanoma cutâneo aumentou mais de 4% ao ano
nos últimos 20 anos. Segundo a Associazione Italiana Registri Tumori (AIRTUM)
entre os anos de 2003 e 2005 foram detectados uma média anual de 14,3 casos por
100 mil homens/ano e uma média de 13,6 casos por 100 mil mulheres/ano,
evidenciando uma maior incidência no sexo masculino10. Na variável sexo, estudos
evidenciam homogeneidade na ocorrência de melanoma cutâneo em ambos os
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sexos no Brasil; estudo prospectivo realizado no Rio de Janeiro com 65 casos
mostrou que 50,8% dos pacientes eram do sexo feminino e 49,2% masculino11. No
Brasil, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), por meio
da sua estimativa de incidência de cânceres no país, estima que no ano de 2014
existam 2.960 novos casos de melanoma cutâneo no sexo masculino e que a
doença acometa 2.930 mulheres brasileiras. As regiões brasileiras que irão
apresentar maior incidência de melanoma cutâneo serão a região sul e sudeste
respectivamente12. O melanoma cutâneo é incomum em populações com menos de
quarenta anos de idade. Depois da quarta década, a incidência específica por idade
se eleva de forma constante, atingindo picos na sétima e oitava década de vida.
Pode acometer tanto homens quanto mulheres, afeta todas as raças, tendo maior
prevalência nos caucasianos. Com relação à localização primária do tumor, observase que a localização preferencial do tumor em homens é no tronco e nas mulheres
nos membros inferiores. Alguns estudos indicam que a idade está também
associada para a localização do tumor além do sexo, evidenciando que o pico de
incidência do tumor no tronco ocorre em idades mais jovens, na quinta, sexta
década, e melanomas originados na cabeça e pescoço em pacientes com idade
mais avançada, aproximadamente na oitava década de vida8,13.
ETIOLOGIA
O melanoma cutâneo é um tumor de origem neuroectodérmica5. Os
melanócitos são células derivadas da crista neural, que migram na embriogênese
por toda a epiderme, sendo encontrados principalmente em sua camada basal. Os
melanócitos saudáveis têm como função produzir e transferir para os queratinócitos
um pigmento escuro, a melanina. A melanina concentra-se nos espaços
perinucleares dos queratinócitos protegendo o núcleo celular de possíveis danos
causados pela radiação UV14. Apesar de a etiologia ser incerta, muitos estudos
indicam que existe uma forte associação entre o desenvolvimento do melanoma
cutâneo com a predisposição genética e a exposição solar 8. De forma ampla, a
variação de um melanócito saudável para uma célula tumoral está diretamente
relacionada com a interação entre fatores ambientais, acúmulo de alterações
gênicas, ativação de oncogenes, inativação de genes supressores de tumor e um
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reparo deficiente do DNA14. A biologia molecular do melanoma cutâneo é vasta. O
tumor
apresenta
marcadores
imuno
histoquímicos
(Mel-CAM),
enzimáticos
(tirosinaquinase), genéticos (CDKN2A, p53, p21), proteicos (integrinas, ICAM-1,
ciclina D1); o conhecimento de tais marcadores é relevante não só para o
conhecimento da etiologia e patogênese, mas também para o auxílio ao diagnóstico
e prognóstico15.
FATORES DE RISCO
Os fatores de risco para o desenvolvimento do melanoma cutâneo incluem
fatores intrínsecos, genótipo e fenótipo, e fatores extrínsecos, fatores ambientais ou
de exposição16. Os fatores de risco intrínsecos, são fatores que não são modificáveis
e que estão relacionados ao desenvolvimento do tumor, incluem nesta classificação
a idade e a classificação de fototipo de pele segundo Fitzpatrick, esta classificação
leva em conta tanto características fenotípicas da pele como características
atribuídas pelo próprio paciente com relação aos efeitos de resposta da pele à
exposição solar17,18.
História familiar e pessoal: ocorrência de melanoma cutâneo em familiar de
primeiro grau confere um risco aproximadamente duas vezes maior de
desenvolvimento do tumor se comparado aos que não apresentam histórico
familiar14. O histórico familiar mostrou-se ser um fator de risco para o
desenvolvimento de um segundo melanoma primário19. O histórico pessoal de
neoplasia cutânea, melanoma ou não-melanoma, também é caracterizado como
fator de risco. Um estudo retrospectivo revelou que o risco relativo de desenvolver
um segundo melanoma após cinco anos do desenvolvimento do melanoma primário
é de cerca de 11,4% 14.
Exposições à radiação UV: a radiação ultravioleta é o principal fator
desencadeante para o desenvolvimento do melanoma em pacientes geneticamente
predispostos, pois tem a capacidade de romper cromossomos e realizar alterações
no DNA celular. É classificada pela Agência Internacional para Pesquisa sobre o
Câncer (IARC) como um agente carcinogênico para humanos14,20,21. A concentração,
intensidade e quantidade de radiação solar recebida irão variar em função de
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condições geográficas, como a altitude e latitude e condições climáticas, como o
aumento das alterações na camada de ozônio que produzem aumento na radiação.
O antecedente de queimadura solar nos primeiros anos de vida pressupõe um risco
duplicado para o desenvolvimento do tumor. Estudos evidenciam que queimaduras
solares antes dos vinte anos de idade se associam a um maior risco de melanoma e
de suas lesões precursoras, sendo que o histórico de cinco ou mais queimaduras
solares severas antes dos quinze anos de idade aumenta a incidência de melanoma
cutâneo em 2,7 vezes8,20. Alguns estudos ainda mostram que a presença de apenas
uma queimadura, ou mais, eleva em duas vezes as chances de desenvolvimento do
tumor21.
Nevo: o número de nevos que uma pessoa tem está diretamente relacionado
com o aparecimento do melanoma. Clinicamente, os nevos displásicos são
relativamente comuns, sendo sua relevância clínica relacionada com o surgimento
do tumor16. Estudos indicam que 25% dos melanomas são atribuíveis a presença de
um ou mais nevos atípicos, displásicos14. Quando analisado o nevo melanocítico na
sua variável tamanho, observa-se que a transformação de um nevo melanocítico
congênito gigante em um melanoma cutâneo ocorre geralmente até os vinte anos de
idade, com risco estimado de 6,3%. A transformação do nevo melanocítico
congênito médio e pequeno em melanoma cutâneo ainda é incerta. Estudo realizado
no Brasil e comparado com dados da literatura mundial conclui que existe
associação entre os nevos pequenos e médios, assim como os nevos gigantes. Do
ponto de vista prático o nevo displásico deve ser retirado como medida profilática22.
Outros
fatores:
existem
outros
possíveis
fatores
associados
ao
desenvolvimento do tumor. A ocupação profissional, relacionada à exposição a
radiação ionizantes, exercício profissional em algumas indústrias como a petroleira,
de pesticidas e policlorobifenilos, vem apresentando indícios de associação, ainda
que os resultados obtidos não sejam suficientes para confirmar tal evidência.
Trabalhadores da construção civil e rurais também apresentam pré-disposição ao
desenvolvimento de câncer de pele de natureza ocupacional. Estudos realizados em
dois municípios do Brasil, sendo um no estado do Rio de Janeiro e outro no estado
de Sergipe, concluíram que existe a necessidade de maiores investimentos e de
maior instrução aos trabalhadores quando se trata de exposição solar e seus efeitos
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deletérios. Outro fator de risco relaciona-se a pacientes imunodeprimidos, que foram
submetidos a transplantes de órgãos, pacientes portadores do vírus da
imunodeficiência adquirida, com deficiência na reparação do DNA como ocorre no
xeroderma pigmentoso. O número de melanomas cutâneos mostra-se maior em
indivíduos com nível socioeconômico mais elevado. Acerca disso, estudos
evidenciam que uma vez realizado o diagnóstico da doença, a probabilidade de cura
é maior nos indivíduos de nível socioeconômico mais elevado, podendo justificar tal
fato pela maior facilidade de acesso que este grupo da população tem aos serviços
de saúde16,23,24,25.
FORMAS CLÍNICO-PATOLÓGICAS
Em função de variáveis como características clínicas, histológicas e a
progressão do tumor, o melanoma é classificado em diferentes tipos26.
Melanoma extensivo superficial: de todas as formas de apresentação do
melanoma, é a mais frequente, representa cerca de 70% dos casos da doença,
frequentemente está associado a lesões névicas precursoras. Geralmente acomete
indivíduos na 4ª e 5ª década de vida 26. Quanto ao local de apresentação tumoral
observa-se maior incidência no tronco de homens e nos membros inferiores em
mulheres. O tumor apresenta evolução lenta, em média um a cinco anos, com
crescimento radial, clinicamente apresenta-se com margens irregulares e denteadas,
bordas ligeiramente elevadas, é assimétrico. A coloração é variável, podendo variar
em tons de preto ao marrom, com coloração rósea, acinzentada e esbranquiçada.
Diâmetro é maior que 6mm27.
Melanomas nodular: depois do melanoma extensivo superficial é a forma
clínico patológica mais frequente. Acomete mais homens que mulheres, em uma
proporção de 2:1. A faixa etária que predomina este tumor é a dos 40 anos,
geralmente
se
desenvolve
em
região
de
cabeça,
pescoço
e
tronco.
Anatomopatologicamente, tem crescimento vertical de evolução rápida (seis a oito
meses), com agressão predominantemente dérmica, acometendo secundariamente
a epiderme. O desenvolvimento se dá mais em pele que é aparentemente normal do
que em pele com lesão pré-existente. É frequentemente mal diagnosticado, pois
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assemelha-se a uma bolha de sangue, nevo dérmico ou ceratose seborreica por
exemplo. Clinicamente se apresenta com tamanho de 1 a 2 cm, coloração escura ou
em tom de cinza. Pode desenvolver-se com aspecto polipoide26,27,28.
Lentigo melanoma maligno: surge geralmente por volta da sétima década de
vida, é comum ser localizado na face, sendo que em 10% das vezes pode
desenvolver em outras regiões de exposição solar. A fase de crescimento radial
denomina-se Lentigo maligno e pode durar anos até iniciar a fase de crescimento
vertical, quando passa a ser denominado Lentigo melanoma maligno28. Clinicamente
a lesão é maculosa, de coloração variável (cinza, marrom, preto), as bordas são
irregulares medindo de 3 a 6cm27.
Melanoma lentiginoso acral: surge nas palmas das mãos, plantas dos pés,
nas falanges terminais e nas membranas mucosas, sendo a planta dos pés o local
preferencial de desenvolvimento em indivíduos não brancos. É mais frequente em
indivíduos negros e asiáticos e menos frequente em caucasianos. A média de
acometimento é entre os 55 e 65 anos de idade. Clinicamente, a lesão é macular e
pode desenvolver com nódulos e pápulas, mede de 2 a 3 cm geralmente e tem
coloração enegrecida. O sinal de Hutchinson, faixa pigmentada na prega ungueal
proximal, pode surgir e deve ser encarado como sendo sinal sugestivo de melanoma
lentiginoso acral27,28.
Os tipos que apresentam melhor prognóstico são o Lentigo melanoma
maligno e o melanoma extensivo superficial29.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Como regra geral, qualquer lesão cutânea que apresente mudanças na
coloração, tamanho, forma e bordas requer atenção médica 20. Neste contexto a
regra do ABCD é empregada para a ajuda na suspeita e detecção precoce de um
possível melanoma cutâneo, sendo que a letra A corresponde à assimetria da lesão,
B a bordas irregulares, C à coloração e D a um diâmetro maior do que 6mm30.
Acerca desta regra, estudo realizado na cidade de Porto Alegre (RS) mostrou que a
regra é de grande valia inclusive para leigos, que, devido à relativa facilidade de
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observação da lesão podem estar engajados na identificação do melanoma. A regra
do ABCD foi bem empregada quando os mesmos são alfabetizados, maiores de 17
anos e tem acesso a meios de comunicação como rádio, televisão e jornais. No
estudo citado foi revelado que o aproveitamento da regra do ABCD foi independente
do sexo e renda mensal30,31. No intento de melhorar o diagnóstico do melanoma
cutâneo, hoje é rotineiro o uso da dermatoscopia no exame da pele, técnica não
invasiva que tem por objetivo analisar a epiderme e a derme por meio de um sistema
de amplificação e iluminação da imagem, conseguindo analisar estruturas da pele
que seriam imperceptíveis ao olho nu20. A confirmação de melanoma cutâneo a
partir de uma lesão suspeita se dá através da biópsia, podendo esta ser excisional,
remoção completa da lesão suspeita, ou incisional, remoção parcial da lesão para
fins diagnósticos. Sempre que possível, a lesão deve ser retirada de forma
excisional, com margens de 2 a 4 mm e profundamente até o tecido adiposo, a
biópsia incisional é recomendada apenas em casos em que a suspeita da lesão ser
melanoma seja remota9,32.
Tratando-se de tumor geralmente pigmentado, o cirurgião deve ter cuidado e
evitar fazer uso de fios de cor escura na profundidade, essa prática pode dificultar o
diagnóstico diferencial de uma possível recidiva, por ocorrer uma possível
visualização por transparência do fio utilizado9. O exame anatomopatológico deve
trazer consigo alguns parâmetros histológicos que se relacionam com a prognose,33
sendo imprescindível o laudo apresentar a espessura do tumor (índice de Breslow),
presença ou não de ulcerações, número de mitoses por milímetro quadrado, nível de
Clark, presença ou não de satelitose e margens cirúrgicas9. O índice de Breslow é o
fator de prognóstico mais importante, ele tem a função de predizer a capacidade
metastática do tumor, avaliando o grau de invasão tumoral, já o índice de Clark
indica a capacidade de invasão tumoral segundo a camada da pele afetada,
devendo, portanto, sempre que possível dar preferência ao índice de Breslow21,23.
Existem indícios de que o número de mitoses por milímetro quadrado possa predizer
o acometimento do linfonodo sentinela, indicando que o tumor apresenta
agressividade biológica e capacidade elevada de metastatizar5,23.
Presença de ulceração tem se mostrado como fator de pior prognóstico23.
Outros fatores de prognose como a regressão tumoral, infiltrado inflamatório,
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angiogênese e marcadores imunohistoquímicos também podem contribuir para o
tratamento
do
paciente
com
melanoma.
Vale
salientar
que
o
processo
histopatológico de regressão tumoral apresenta grande controvérsia na literatura,
sendo duvidoso seu papel benéfico ou maléfico na prognose33.
O melanoma cutâneo segue o sistema TNM de estadiamento, estabelecido
pela American Joint Committee on Cancer Staging5 (TABELA 1). O tratamento
baseia-se na ampliação das margens cirúrgicas e no acompanhamento da base
linfática de drenagem9. O tratamento cirúrgico do melanoma cutâneo possui duas
etapas. Na primeira delas obtém-se o diagnóstico e delimita-se o microestadiamento
do tumor, sendo para isso realizada uma excisão com 1 a 2cm de margem. Para
melanomas in situ considera-se suficiente uma margem de 0,5 a 1,0cm; para
melanomas com índice de Breslow ≤ 1,0mm aceita-se margens de 1cm. Em casos
de melanomas que apresentem um índice de Breslow de 1,01 a 2,00mm é
recomendado uma margem de 2cm; e tumores com Breslow de 2,01 a 4,00mm ou >
4 mm é preconizado margens ≥ 2cm5,34. Uma vez a lesão sendo confirmada como
melanoma, realiza-se a segunda etapa do tratamento cirúrgico, essa etapa tem
como objetivo a retirada de algum possível tumor residual, e para tanto requer
margens mais amplas, as margens estão novamente condicionadas à espessura do
tumor revelada no exame anatomopatológico e ao local anatômico. Para o
tratamento da base linfonodal leva-se em conta principalmente a espessura do
melanoma primário. O acompanhamento clínico dos linfonodos é indicado para
pacientes que apresentaram tumor com espessura menor que 0,76mm, ao passo
que pacientes que apresentem tumores de maior espessura é preconizado a biópsia
de linfonodo sentinela5. Linfonodos sentinela é o primeiro linfonodo responsável pela
drenagem linfática na área entre o tumor primário e a cadeia linfática35. Existe
grande controvérsia na indicação da biópsia do linfonodo sentinela.
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Tabela 1: Classificação TNM do melanoma cutâneo36
CLASSIFICAÇÃO T
ESPESSURA
ULCERAÇÃO
T1
≤ 1,0 mm
a: sem ulceração
b: com ulceração
T2
1,01 - 2,00 mm
a: sem ulceração
b: com ulceração
T3
2,01 - 4,00 mm
a: sem ulceração
b: com ulceração
T4
≥ 4,00 mm
a: sem ulceração
b: com ulceração
CLASSIFICAÇÃO N
NÚMERO DE LINFONODOS ACOMETIDOS
N1
1
MASSA LINFONODAL
METASTÁTICA
a: micrometástase*
b: macrometástase†
N2
2─3
a: micrometástase*
b: macrometástase†
Metástase em trânsito e/ou
satelitoses
sem
linfonodo
metastático
Igual a 4 ou metástases em trânsito e/ou
N3
satelitose com linfonodo metastático
CLASSIFICAÇÃO M
LOCAL
DHL SÉRICO
M1a
Pele, subcutâneo ou linfonodos distantes
Normal
M1b
Metástase pulmonar
Normal
M1c
Outras metástases viscerais
Normal
Qualquer metástase à distância
Elevado
*Micrometástases são diagnosticadas após linfadenectomia eletiva ou exérese do linfonodo sentinela
† Macrometástases são definidas como linfonodos metastáticos detectados clinicamente e confirmado após
linfanedectomia terapêutica ou quando metástases nodais possuem grande extensão.
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Atualmente preconiza-se que a biópsia de linfonodo sentinela seja realizada
em pacientes que apresentaram melanomas com mais de 1mm de Breslow e para
tumores que apresentaram uma espessura entre 0,76 a 1mm associados a fatores
histopatológicos indicativos de pior prognose como ulceração microscópica,
regressão histopatológica, nível de Clark  4, fase de crescimento vertical e mitoses.
Melanomas com índice de Breslow < 0,75mm dificilmente apresentarão evidências
histopatológicas de pior prognose, sendo baixos os índices de metástase de
linfonodos9,37. Pacientes que apresentam no exame físico comprometimento
linfonodal macroscópico e/ou punção aspirativa para melanoma positiva tem
indicação de realizar linfadenectomia regional radical com pesquisa de linfonodo
sentinela5. Nos pacientes citados, que não apresentaram linfadenomegalia clínica, é
preconizado após a devida propedêutica a realização dos seguintes exames: RX de
tórax, DHL (fosfatase alcalina) e ultrassom de fígado, e, havendo a possibilidade,
realizar tomografia computadorizada de abdome e tórax, ressonância nuclear
magnética do cérebro, cintilografia óssea e o PET-TC5.
CONCLUSÃO
O melanoma cutâneo tem apresentado aumento em sua incidência nos
últimos anos. É o tumor de pele que apresenta elevada capacidade metastática
apresentando fatores intrínsecos e extrínsecos que corroboram para o seu
desenvolvimento, sendo a exposição solar um dos maiores fatores para a prédisposição tumoral. Se diagnosticado precocemente e realizado o tratamento
adequado apresenta elevadas taxas de cura, sendo o tratamento da doença
baseado na excisão cirúrgica do tumor. Conclui-se que o melanoma cutâneo é uma
doença dermatológica que deve ser incansavelmente combatida, devendo haver
maiores políticas públicas de conscientização acerta deste tumor de inexorável
importância médica.
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