2a GUERRA MUNDIAL E GUERRA FRIA - EJA

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3
2a Guerra Mundial
e Guerra Fria
Nesta Unidade, você estudará a 2a Guerra Mundial e a oposição
entre as potências mundiais que dela emergiu: a Guerra Fria.
Revendo a história, parece inconcebível que, cerca de 20 anos depois
de encerrada a Grande Guerra, as principais potências mundiais tenham
se envolvido em um novo confronto armado. E esse confronto foi ainda
mais devastador do que o anterior: os mortos na 1a Guerra Mundial são
estimados em mais de 8,5 milhões, enquanto na 2a Guerra são cerca de
50 milhões. Como entender tamanha destruição?
Na Unidade anterior, você estudou a crise do capitalismo mundial
e sua relação com a ascensão do fascismo na Itália e do nazismo na
Alemanha. Você viu que esses regimes reprimiram duramente a organização autônoma dos trabalhadores, principalmente as comunistas,
ao mesmo tempo que estimularam os negócios capitalistas, sobretudo
por meio da indústria bélica.
Você também estudou que a ideologia desses regimes, combinando um nacionalismo agressivo com o racismo, logo justificou um
expansionismo militar. E assim, quando a 2a Guerra Mundial estourou, nacionalismo, racismo, expansionismo, anticomunismo e economia de guerra haviam atingido o ápice.
Esta Unidade mostrará que, em virtude do grande poderio militar do
regime de Hitler, uma aliança inédita foi mobilizada para combatê-lo.
Soviéticos, estadunidenses, ingleses e franceses somaram forças contra os
alemães, que foram apoiados por italianos e japoneses.
No entanto, logo que foi encerrado o conflito militar mais destrutivo
da história da humanidade, a aliança entre os vencedores se rompeu,
dando início a uma oposição que marcou a segunda metade do século
XX: a Guerra Fria. Como é possível entender essa inversão radical?
São esses assuntos que você estudará na Unidade 3.
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História – Unidade 3
Para iniciar...
Veja qual foi o alinhamento dos principais países que se enfrentaram na 2a Guerra Mundial:
Aliados
Eixo
União Soviética
Alemanha
Estados Unidos
Itália
Inglaterra
Japão
França
Agora, converse com seus colegas e o professor.
•
Como se alinharam os principais países que combateram na
1a Guerra Mundial?
•
Que mudanças você identifica no alinhamento dos países entre a
1a e a 2a Guerra Mundial? Quais países estiveram envolvidos em
ambos os confrontos? Qual deles mudou de lado? Quem era o
novo protagonista?
•
Localize em um mapa-múndi os países listados. Quantos continentes estavam envolvidos? O que isso pode dizer sobre essa guerra?
Debatendo os antecedentes da guerra
A 2a Guerra Mundial teve, de fato, um alcance global, diferentemente da 1a Guerra Mundial, considerada por muitos um conflito
europeu. Mas o que levou o mundo a se envolver em outra guerra, de
tamanha dimensão, e em tão pouco tempo?
A dedução mais imediata a que se pode chegar é a de que os problemas que haviam gerado a 1a Guerra Mundial não estavam solucionados. De fato, os países protagonistas foram praticamente os
mesmos, o que indica que as contradições e as disputas que caracterizavam o imperialismo tiveram um papel importante também nesse
segundo confronto.
No entanto, ainda que similares, tais questões estruturais adquiriram uma expressão muito particular na 2 a Guerra. O Império
Alemão do Kaiser Guilherme II e o Terceiro Reich de Hitler eram
muito diferentes. No nazismo, a associação entre nacionalismo e
racismo engrenou-se a uma indústria de guerra que assombrou o
108
História – Unidade 3
mundo, motivando algo que parecia impossível: uma aliança militar
entre potências capitalistas e a União Soviética, de modo a combater
o poderio militar nazista.
Essa aliança não foi fácil nem imediata. Muitos historiadores
entendem que as potências liberais (como Inglaterra, França e Estados
Unidos) toleraram a ascensão do nazismo e seus primeiros movimentos de guerra na expectativa de que eles pudessem reprimir a agitação da esquerda na Europa e destruir o Estado soviético. Todavia,
quando ficou evidente que os nazistas ambicionavam mais do que
isso, pois pretendiam instaurar uma nova ordem mundial sob seu
comando, a aliança finalmente aconteceu.
Assim, na dinâmica da 2a Guerra Mundial, associaram-se:
•
rivalidades intraimperialistas (disputa por territórios e mercados
durante a expansão capitalista);
•
contradições sociais, em um contexto de crises, inflação, desemprego e mobilização dos trabalhadores, apoiada na difusão das
ideias socialistas e comunistas;
•
ideia crescente de que os comunistas europeus e a União Soviética
representavam um mal a ser extirpado pelo mundo capitalista.
A expansão nazista e o início da 2a Guerra Mundial
Em 1938, a Alemanha de Hitler começou sua expansão para o
resto da Europa: anexou a Áustria e ocupou a região dos Sudetos na
Tchecoslováquia, onde viviam cerca de 3 milhões de pessoas de origem germânica.
Embora inicialmente contrárias à ocupação alemã, França e Inglaterra acabaram adotando uma política de apaziguamento na Conferência de Munique, realizada em fins de setembro desse mesmo ano, convocada por Hitler. Esses países acreditavam que, cedendo na questão
da Tchecoslováquia, os nazistas se aquietariam. Estavam enganados.
Por sua vez, ao saber dos resultados da Conferência de Munique, a União Soviética sentiu-se temerosa de que a complacência das
democracias liberais significasse um sinal verde para que a máquina
de guerra nazista se voltasse para a sua direção. Essa foi a justificativa mais provável para a assinatura do Pacto Nazi-Soviético de Não
Agressão, firmado cerca de um ano depois da Conferência, em agosto
de 1939. Quando divulgado, esse pacto causou repúdio em militantes
socialistas em todo o mundo.
Apaziguar
[...]
2. Pôr(-se) de acordo;
pôr(-se) em concórdia;
harmonizar(-se) [td.:
Apaziguar os países em
guerra.] [tr.: Os grupos
antagônicos não se
apaziguaram.]
© iDicionário Aulete. http://
www.aulete.com.br. Acesso
em: 12 nov. 2012.
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História – Unidade 3
No entanto, também os soviéticos se equivocaram ao se sentir
protegidos pelo acordo com a Alemanha. Em 1o de setembro desse
ano, poucos dias após a assinatura do pacto, os nazistas invadiram
a Polônia, aproximando-se da fronteira com a União Soviética. Esta,
por sua vez, entrou na Polônia e, posteriormente, na Estônia, na
Lituânia, na Letônia e na Finlândia.
Com a invasão da Polônia, Inglaterra e França declararam
guerra à Alemanha. Estava iniciada a 2a Guerra Mundial, em 1o de
setembro de 1939.
Atividade 1 Expansão nazista
1. No mapa a seguir, localize a Alemanha, a Tchecoslováquia, a
Polônia e a União Soviética.
ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 27. Mapa original (mantida a grafia).
A URSS seria constituída apenas a partir de 1922 [nota do editor].
2. De acordo com o texto da seção “A expansão nazista e o início da
2a Guerra Mundial”, indique no mapa em que direção, a partir da
Alemanha, avançaram os nazistas.
110
História – Unidade 3
3. Considerando a direção da expansão nazista, a União Soviética
tinha motivos para se preocupar? Justifique.
O desenrolar da 2a Guerra Mundial
Ao longo do conflito, foram formados dois blocos opositores: o
Eixo e os Aliados.
1. O Eixo foi formado por países de desenvolvimento capitalista relativamente tardio, que quase não possuíam colônias ou áreas de influência
geopolítica: Alemanha, Itália e Japão. Isso quer dizer que, quando se
industrializaram, encontraram parte importante dos mercados internacionais já ocupados por potências rivais. Embora diferentemente da 1a
Guerra, a 2a Guerra Mundial também tinha motivações imperialistas.
© Collection Roger-Viollet/Glow Images
2. O bloco dos Aliados reuniu países que representavam projetos sociais opostos: de um lado,
Estados Unidos, Inglaterra e França eram, e
ainda são, potências capitalistas, defensoras
do liberalismo; de outro lado, estava a União
Soviética, produto da Revolução Russa e defensora do comunismo.
O Exército alemão teve um êxito notável no
primeiro ano do conflito. Depois dos ataques à
Europa Oriental, foi a vez de os vizinhos do Norte
e do Ocidente sofrerem a investida alemã: Dinamarca, Noruega, Holanda, Luxemburgo e Bélgica
foram ocupados em maio de 1940.
Tropas francesas e inglesas tentaram resistir
ao avanço nazista em direção à França, mas foram
derrotadas em junho de 1940: cerca de 350 mil soldados aliados cruzaram o Canal da Mancha, que
separa a França da Inglaterra, em direção à ilha
britânica, com o auxílio de todo tipo de embarcação. Nesse mesmo mês, os alemães entraram em
Paris: a França havia se rendido. Em seguida, na
cidade de Vichy, foi instalado um governo francês –
comandado pelo marechal Pétain – disposto a colaborar com os invasores.
Hitler, acompanhado por oficiais do exército alemão e por
membros do alto escalão nazista, passeia pelas ruas de
Paris após a rendição francesa à Alemanha.
111
História – Unidade 3
Depois dessa conquista, os alemães mobilizaram sua força de guerra
contra a Inglaterra. Com aviões, bombardearam várias cidades, incluindo
a capital, Londres. Porém, a reação da Força Aérea Real britânica
(Royal Air Force – RAF) foi eficaz, e a invasão não se concretizou.
Com a entrada da Itália no lado alemão da guerra, em setembro
de 1940, abriram-se novas frentes de combate na Europa. Alguns países aliaram-se ao Eixo, como Romênia, Bulgária e Hungria, enquanto
outros foram ocupados por tropas nazistas.
Em outros países, como França, Holanda e Noruega, os alemães
estabeleceram governos colaboracionistas, que encontravam apoio em
setores da sociedade simpáticos ao regime nazista, embora também
enfrentassem a resistência heroica de muitos patriotas que organizaram a guerrilha, principalmente os militantes comunistas.
Assim, vista no seu conjunto, em meados de 1941 a Europa estava
dominada pelo Eixo. Foi nesse contexto que Hitler desencadeou uma
ofensiva massiva contra os soviéticos, conhecida como Operação Barbarossa. As batalhas nessa frente seriam decisivas para o desfecho da guerra.
DUBY, George. Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2001, p. 99. Tradução: Renée Zicman.
112
História – Unidade 3
Em pouco tempo, ficou evidente que os planos do Terceiro Reich
para o Leste Europeu eram diferentes dos propostos para o restante do
continente. Assim como acontecia com outros povos, como os judeus,
a ideologia nazista considerava os eslavos uma raça inferior. Por isso,
o “espaço vital” alemão deveria estender-se aos territórios do Leste
Europeu, e a população eslava precisaria ser subjugada e, até mesmo,
escravizada. Essa foi, portanto, a finalidade inicial de diversos campos
de concentração: prover mão de obra para o esforço da indústria de
guerra alemã. No entanto, conforme a Alemanha avançava para o leste
e impunha seu domínio sobre outros povos, os campos instalados na
região começaram a ter outras finalidades: limpeza étnica e extermínio,
tanto por motivos racistas como por razões políticas.
Campos de Concentração e Extermínio e Principais Centros de “Eutanásia”
Königsberg
MAR BÁLTICO
Kiel
S
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Erfurt
Lodz
no
ALEMANHA
Leipzig
Buchenwald Dresden Gross-Rosen
Sonnenstein
POLÔNIA
Breslau
Sobibor
Lublin
Majdanek
Belzec
Katowice
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Luxemburgo
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Mannheim
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Hadamar
Limburg
Eichberg
Frankfurt
Varsóvia
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Treblinka
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Bydgoszcz
Sachsenhausen
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Berlim
Hanover
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Brandemburgo
Magdeburg
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Amsterdã
PRÚSSIA
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Hamburgo
Neuengamme
Elb
Bremen
Ravensbrück
a
UN
MAR DO NORTE
Danzig
Stutthof
Cracóvia
Auschwitz
Praga
Lvov
Brno
Estrasburgo
Natzweiler
FRANÇA
Stuttgart
Grafeneck
SUÍÇA
Berna
Ulm
Zurique
Centros de “Eutanásia”
Campos de Concentração
Campos de Extermínio
Campos de Concentração
e Extermínio combinados
TCHECOSLOVÁQUIA
Danúbio
Dachau
Munique
Eglfing-Haar
Linz
Hartheim
Mauthausen
Salzburgo
Viena
Danúbio
Inn
Budapeste
N
0
ÁUSTRIA
HUNGRIA
200 kms
124 mi
NOAKES, J.; PRIDHAM, G. (Org.), Nazism, 1919-1945. v. 3. Exeter: University of Exeter Press, 1998, p. 645. Disponível em:
<http://germanhistorydocs.ghi-dc.org/map.cfm?map_id=3432>. Acesso em: 12 nov. 2012. Tradução: Renée Zicman.
Os poloneses experimentaram cedo essa realidade, que então ameaçava os soviéticos. O caso dos soviéticos mostrava-se ainda mais difícil,
pois ao racismo nazista somava-se um anticomunismo visceral. Diante
dessas circunstâncias, o povo russo percebeu que não lutava apenas por
sua pátria, mas por sua própria sobrevivência.
113
História – Unidade 3
A vitória soviética
Fica a dica
Inicialmente, os nazistas avançaram rapidamente sobre o território
soviético. Há indícios de que Stálin tenha sido surpreendido pelo ataque alemão, demorando inclusive para se convencer de que a invasão
de fato acontecia. Do lado alemão, a facilidade do avanço inicial deixou os nazistas eufóricos. Impulsionados pelo rápido êxito que tiveram
na Europa Ocidental, acreditavam que logo marchariam sobre Moscou. Dessa vez, porém, foram os alemães que se enganaram.
FRANK, Anne. O Diário de
Anne Frank. 31. ed. Rio
Janeiro: Record, 2011.
Esse livro, publicado
originalmente em 1947,
conta as vivências de
uma adolescente judia
durante os anos de
perseguição nazista,
enquanto esteve
escondida com sua
família em cômodos
secretos e no sótão de
uma casa em Amsterdã,
na Holanda. O diário foi
escrito entre os anos
de 1942 e 1944 e é um
comovente relato sobre
o que foi a 2a Guerra
Mundial e o nazismo.
© Ria-novosti/Easypix
Nos campos de batalha, após uma derrota inicial que quase dizimou
o exército soviético, uma reestruturação foi bem-sucedida. O Exército
Vermelho comandado pelo marechal Zhukov, apoiado em uma eficiente
produção industrial baseada no planejamento estatal, e na determinação nacionalista de seus soldados, ofereceu uma tenaz resistência aos
nazistas. Dessa forma, as tropas de Hitler sofreram sua primeira derrota
importante na guerra, na cidade de Stalingrado, no começo de 1943.
Na Batalha de Stalingrado, o exército soviético impôs às tropas alemãs sua primeira derrota.
Mas como os soviéticos conseguiram inverter a situação, tornando-se os principais responsáveis pela derrota alemã?
Um dos grandes fatores que explica essa reviravolta foi a tarefa
monumental, realizada pelos soviéticos, que dificilmente poderia ser feita
em um país no qual prevalecesse a propriedade privada da grande indústria: transferiram grande parte de seu parque produtivo para o leste do
país, na retaguarda do Exército Vermelho. Com isso, colocada a salvo
das tropas alemãs, a indústria soviética pôde se dedicar à produção bélica.
114
História – Unidade 3
No entanto, apesar dos apelos de Stálin pelo apoio dos Aliados,
o exército soviético teve de esperar até o dia 6 de junho de 1944 pelo
desembarque das tropas aliadas nas praias da Normandia, na França.
Esse fato ficou conhecido na história ocidental como “Dia D”.
Você sabia que
brasileiros também
combateram na guerra?
No começo da 2a
Guerra Mundial, o Brasil
adotou uma posição de
neutralidade. Na época,
o País vivia uma ditadura
comandada por Getúlio
Vargas, simpático ao
regime fascista. No
entanto, a pressão dos
Estados Unidos acabou
se impondo e, em
1943, foi criada a Força
Expedicionária Brasileira
(FEB). No ano seguinte,
cerca de 25 mil soldados
brasileiros foram
enviados à Itália, onde
combateram ao lado do
exército estadunidense.
O desfecho da guerra
Até a invasão da Normandia, as principais tropas aliadas combateram em territórios marginais ao espaço europeu:
•
os estadunidenses, envolvidos na guerra desde dezembro de 1941,
quando do ataque japonês a Pearl Harbor, combatiam sobretudo
no Pacífico;
•
as tropas inglesas lutavam principalmente no Mediterrâneo e no norte da África, onde conseguiram abrir caminho para invadir a Itália.
Em julho de 1943, o líder fascista Benito Mussolini foi deposto.
Capturado quando tentava fugir para a Suíça, ele foi julgado e condenado à morte pelos partigiani (guerrilheiros antifascistas). A rendição
de alemães e japoneses tardaria mais do que a dos italianos.
Em 1944, os soldados aliados desembarcaram na França, o que favoreceu o avanço das tropas soviéticas, que vinham pressionando o exército alemão de volta ao seu território, desde a Batalha de Stalingrado.
Fica a dica
© Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock
Quando os soviéticos ocuparam a capital alemã Berlim, em abril
de 1945, o líder nazista cometeu suicídio.
Olga (direção de
Jayme Monjardim,
2004) é um filme sobre
a judeu-alemã Olga
Benário Prestes, jovem
militante comunista
que vivia no Brasil.
Durante o governo
de Getúlio Vargas ela
foi deportada para
a Alemanha e lá foi
executada pelo regime
nazista em um campo
de extermínio.
Soldado russo ergue a bandeira de seu país sobre o antigo Parlamento alemão após a invasão de
Berlim pelas forças soviéticas.
115
História – Unidade 3
Era o fim do nazismo, mas não da guerra: ainda restava a frente
do Pacífico, na qual se enfrentavam, principalmente, Estados Unidos
e Japão desde 1941, quando as tropas japonesas destruíram uma base
estadunidense sediada em Pearl Harbor, no Havaí.
© Bettmann/Corbis/Latinstock
© Diomedia
Em uma circunstância em que era iminente a derrota do Japão, os
Estados Unidos jogaram uma bomba atômica na cidade japonesa de
Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, causando a morte imediata de
milhares de civis. A rendição japonesa já se anunciava, mas, mesmo
assim, três dias depois, os EUA atiraram uma segunda bomba atômica, dessa vez na cidade de Nagasaki. As duas bombas mataram instantaneamente mais de 300 mil pessoas, além de deixarem milhares
de sobreviventes com graves sequelas, como mutilações, queimaduras,
mutações genéticas e diversos tipos de câncer.
Bomba atômica lançada pelos EUA em Nagasaki,
no Japão.
Hiroshima, no Japão, arrasada depois da bomba atômica lançada pelos EUA.
Muitos historiadores acreditam que o objetivo dos Estados Unidos
ao atirar essas bombas já não era a vitória sobre os japoneses, uma vez
que ela estava garantida. O propósito real seria enviar uma mensagem
intimidatória aos soviéticos, que, aos olhos do mundo, saíam como os
principais responsáveis pela derrota do nazismo. A forma como terminava a 2a Guerra Mundial era um prenúncio da Guerra Fria.
116
História – Unidade 3
Atividade 2 O conflito no Pacífico
O Japão, assim como a Alemanha, industrializou-se tardiamente.
E, como potência industrial que precisava expandir seus mercados e
explorar fontes de matérias-primas, militarizou-se para conquistar
novos territórios na Ásia e no Pacífico.
No entanto, outras potências industriais, como a Grã-Bretanha
e os Estados Unidos, já tinham, ou pretendiam ter, colônias nesses
territórios.
Nesse contexto, o Japão aliou-se à Alemanha, tornando-se um
membro do Eixo. Como o Japão conquistava mais e mais territórios,
Grã-Bretanha e Estados Unidos decretaram embargo econômico a
esse país. Em resposta, o Japão atacou a base naval estadunidense de
Pearl Harbor, no Havaí. Com esse acontecimento, os Estados Unidos
declararam guerra ao Japão e o conflito foi deflagrado, com ações tão
destrutivas quanto as que ocorriam na Europa.
ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Editora Ática, 2008, p. 31. Mantida a grafia original.
117
História – Unidade 3
Com seus colegas, pesquise esse importante conflito da 2a Guerra
Mundial e responda:
1. Quais foram os países envolvidos na guerra da Ásia e do Pacífico?
2. O que motivou cada um desses países a entrar na guerra?
3. Quais foram as consequências dessa guerra para cada um dos
países envolvidos?
Atividade 3 Guerras e negócios
Durante a 2 a Guerra Mundial, foi necessária a produção de
milhões de armas, aviões, foguetes, veículos, uniformes para soldados,
a construção de prisões e de campos de extermínio, o fornecimento
de combustível etc. Para tudo isso, os países envolvidos precisaram de
financiamento de bancos e da produção de empresas.
Em grupos, pesquisem quais foram as empresas que produziram
os itens mencionados, tanto para o lado dos Aliados como para o
Eixo, e respondam:
1. Quais dessas empresas existem até hoje?
2. O que elas produziram e para quem?
3. Quem produz e financia esses itens mencionados para as guerras atuais?
4. Vocês acham que as guerras são bons negócios? Para quem?
118
História – Unidade 3
Um novo equilíbrio
Pouco tempo depois de encerrado o conflito mais destrutivo
da humanidade, a aliança formada para enfrentar o Eixo se desfez.
Emergindo como as grandes potências mundiais ao final da 2a Guerra
Mundial, Estados Unidos e União Soviética polarizariam a política
global ao longo das décadas seguintes.
Como explicar que países antes aliados, em função de um conflito
dramático, se tornassem inimigos tão rapidamente?
É necessário lembrar que as alianças construídas no período da
2 Guerra não foram estáveis nem fiéis. Ingleses e franceses fizeram
concessões aos nazistas em Munique, Stálin pactuou com Hitler logo
depois, e os alemães agrediram os três. Quando a máquina de guerra
alemã dirigiu todo o seu poder contra os soviéticos, os Aliados não
mostraram determinação em auxiliá-los. Foi somente quando ficou
evidente a recuperação do Exército Vermelho e o apuro vivido pelos
alemães é que os Aliados efetivamente dialogaram com Stálin.
a
Os principais líderes do bloco aliado, Josef Stálin (União Soviética), Winston Churchill (Inglaterra) e Franklin Roosevelt (Estados Unidos) encontraram-se pela primeira vez em Teerã (Irã), em
novembro de 1943. No ano de 1945, houve novas reuniões em Yalta
(URSS, atual Ucrânia) e, depois, em Potsdam (Alemanha), quando os
alemães já estavam derrotados.
O principal motivo desses encontros era discutir como ficaria o
equilíbrio entre as potências mundiais no mundo do pós-guerra. Em
outras palavras, os vencedores discutiam sua influência nas diferentes
regiões do planeta.
Os governos dos Estados Unidos e da Inglaterra, expoentes do
liberalismo, logo se entenderam. O mesmo, porém, não aconteceu
com os soviéticos, que representavam um projeto diferente e, em certos aspectos, oposto ao capitalismo liberal.
Nesse sentido, o que estava em discussão não era uma divisão
geopolítica entre iguais, mas uma disputa entre distintos modelos
sociais, na qual se interpretava, do lado dos Aliados, uma eventual
concessão aos soviéticos como sendo uma ameaça ao capitalismo.
Tratava-se, portanto, de uma negociação tensa.
Tensa, mas também desigual. Veja a diferença entre os dois países
no quadro a seguir.
119
História – Unidade 3
Estados Unidos
União Soviética
Emergiam da guerra com um poderio
econômico indisputado. Novamente,
seu território foi preservado das batalhas e
a economia do país cresceu aceleradamente
para atender às demandas do bloco
aliado ao longo da guerra.
Estima-se que tenham morrido cerca de
300 mil estadunidenses na guerra,
cerca de 0,22% da população do país.*
O território do país foi o principal palco do enfrentamento
com os nazistas. Durante a guerra, praticaram a tática
conhecida por “terra arrasada”, na qual se destruía
voluntariamente tudo o que pudesse ser utilizado pelo
exército inimigo em seu avanço na direção de Moscou.
Isso significa que os soviéticos realizaram um esforço de
guerra total, empenhando sua riqueza, seu território e
seus cidadãos contra os alemães. Como resultado,
ao final da guerra a economia soviética encontrava-se
prostrada, e parte de seu território, devastado.
As perdas humanas foram superiores a 25 milhões
(cerca de 80 vezes maiores do que as estadunidenses),
o que equivale a quase 15% da população.*
Contavam com amplos recursos materiais
para investir na reconstrução da Europa do
pós-guerra.
Ao final do embate, elaboraram um
“Programa de Recuperação Europeia”, mais
conhecido como Plano Marshall, por meio
do qual investiram mais de 13 bilhões de
dólares em assistência técnica e econômica
aos países europeus.
Contavam, principalmente, com o prestígio acumulado
como vencedores do nazismo e com as tropas que
ocupavam Berlim, e outras partes do Leste Europeu.
Embora precisassem desesperadamente de auxílio para
a reconstrução nacional, recusaram o Plano Marshall, por
entender que as condições exigidas implicavam uma
submissão direta aos Estados Unidos.
* Fontes: WEINBERG, Gerhard. A world at arms: A Global History of World War II. Cambridge: Cambridge University Press, 1994, p. 894; KNAPP,
Wilfrid. “Europa em ruínas”. In: História do Século XX. São Paulo: Abril Cultural, tomo V, p. 2233. Population Statistics. Disponível em:
<http://www.populstat.info/>. Acesso em: 12 nov. 2012.
Apesar do desequilíbrio social e econômico, se comparados aos
Estados Unidos, os soviéticos conseguiram, ainda durante a guerra,
ampliar a área sob sua influência no Leste Europeu. Seu objetivo inicial
era romper o isolamento imposto pelos países capitalistas em decorrência do triunfo da Revolução Russa de 1917, firmando, assim, relações
de cooperação com os países na sua fronteira europeia. Os demais aliados cederam a esse ensejo no calor do confronto, mas logo se arrependeram, em função de seus temores ideológicos. No entanto, a presença
do Exército Vermelho garantiu o futuro poder soviético na região.
Ao contrário do que se pode imaginar, os soviéticos, sob a liderança de Stálin, nem sempre se interessaram pelo triunfo de revoluções populares em outros países, especialmente quando não estavam sob sua tutela direta. Na Iugoslávia, por exemplo, triunfou uma
revolução socialista independente dos soviéticos. O mesmo ocorreria
depois com a China, também governada pelo Partido Comunista, e
com a Albânia. Esses casos demonstram que, de maneira diferente do
que se pode acreditar, o bloco socialista nunca foi homogêneo.
Assim, é possível dizer que a oposição entre Estados Unidos e
União Soviética não significou necessariamente uma disputa entre
120
História – Unidade 3
capitalismo e comunismo. Muitas vezes, os discursos anticapitalista
e anticomunista foram utilizados para justificar, perante a opinião
pública interna, as políticas adotadas pelos países desses dois blocos.
A propaganda anticomunista
Segundo essas análises, o
agressivo nacionalismo estimulado constantemente pela mídia
estadunidense ajudou a justificar os gastos na indústria bélica
diante da população, assim como
o envolvimento concreto do país
em conflitos no mundo. As altas
somas investidas na corrida
armamentista também estariam
relacionadas a essas motivações
ideológicas e econômicas.
©Leslie Illingworth/Daily Mail, 29 out. 1962/British Cartoon Archive, University of Kent
Muitos autores entendem que a escalada da propaganda anticomunista nos Estados Unidos esteve vinculada à formação do chamado complexo militar industrial. Para tais autores, foi a economia de
guerra, no final dos anos 1930, que possibilitou aos estadunidenses que
superassem a Crise de 1929. Por esse motivo, entendem que a manutenção e o desenvolvimento de um
extraordinário aparato militar
tornou-se uma necessidade política e econômica da hegemonia
daquele país.
A queda de braço entre os líderes da URSS (Nikita Kruchev) e dos EUA (John
Kennedy) na década de 1960 representa a disputa pela hegemonia mundial entre
esses dois países durante a Guerra Fria.
No entanto, o risco de um conflito envolvendo potências nucleares
era uma possibilidade real, ainda que as motivações dos principais contendentes da Guerra Fria não fossem necessariamente aquelas que divulgavam para os seus cidadãos.
Havia uma disputa real por influência geopolítica, em que se misturavam motivos de natureza diversa, principalmente:
•
nacionais: o desenvolvimento econômico das duas potências
apoiava-se na hegemonia sobre regiões do planeta, ao mesmo
tempo que a disputa ideológica reforçava internamente a fidelidade da população ao seu respectivo país;
•
de classe: embora a experiência concreta da União Soviética se
distanciasse cada vez mais do comunismo tal qual pensado pelo
líder revolucionário russo Lênin, a mera existência de uma “república de operários e camponeses” era considerada um estímulo
para uma revolução anticapitalista em todo o mundo.
121
História – Unidade 3
Você sabia que uma das expressões da Guerra Fria foi a formação de dois blocos de aliança militar?
• Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), constituída em 1949 sob a liderança dos Estados Unidos.
• Pacto de Varsóvia, aliança constituída em 1955 sob a liderança da União Soviética, como resposta do bloco socialista à Otan.
Observe o mapa a seguir, que representa as respectivas áreas de influência.
ALIANÇAS MILITARES DURANTE A GUERRA FRIA, 1948-1989
Oceano Glacial Ártico
Bloco socialista
Pacto de Varsóvia
(criado em 1955)
Pacto sino-soviético
(anos 1950)
U R SS
ESTADOS UNIDOS
DA AMÉRIC A
CHINA
CUBA
Oceano
Atlântico
IUGOSLÁVIA
ALBÂNIA
ÍNDIA
EGITO
JAPÃO
COREIA DO SUL
COREIA DO NORTE
MONGÓLIA
Tratados bilaterais
de segurança com a URSS
Oceano
Pacífico
França e Reino Unido
(territórios do Pacífico)
Tratados cancelados
durante o período
Aliados da URSS que
não assinaram um tratado
de segurança
Ateliê de Cartografia da Sciences Po, 2010
Bloco ocidental
Pacto do Rio (criado em 1947)
Cuba foi membro, mas foi
suspensa a partir de 1962
SOMÁLI A
Oceano
Índico
OTAN (criada em 1949)
AU S T R ÁLI A
ANZUS (criado em 1951)
N O VA Z E LÂN D I A
SEATO (criada em 1954,
dissolvida em 1977)
Aliados dos Estados
Unidos da América
Fontes: compilação dos autores
a partir de anuários estatísticos
dos anos 1980.
ATELIER de Cartographie da Sciences Po. Mapa original. Tradução: Benjamin Potet.
E por que essa guerra era “fria”?
Geografia
8o ano/3o termo
Unidade 2
Quando os Estados Unidos jogaram as duas bombas atômicas no Japão no final da 2a Guerra Mundial, ficou evidente para o
mundo que qualquer novo conflito seria letal para quem os enfrentasse. Intimidados pela ameaça que isso significava, os soviéticos
responderam de maneira semelhante e, em poucos anos, também
desenvolveram a bomba atômica. Iniciou-se então uma corrida
armamentista entre as potências, que se desdobrou em direção a
uma corrida espacial.
Com o crescimento do poder destrutivo das armas, ficou claro que
um conflito direto entre os Estados Unidos e a União Soviética ameaçaria a própria humanidade. Dessa forma, a criação da ONU (Organização das Nações Unidas), em 1945, na cidade de São Francisco, nos
Estados Unidos, deveria auxiliar na manutenção da paz mundial. Na
visão de muitos, contudo, a organização tornou-se em pouco tempo
122
História – Unidade 3
um instrumento ineficaz, principalmente por sua falta de autonomia
em relação à política externa dos Estados Unidos.
© Bettmann/Corbis/Latinstock
Neste contexto, a expressão “Guerra Fria” significava que a disputa entre Estados Unidos e União Soviética não deveria chegar, de
fato, a um embate militar, mesmo em seus momentos mais acalorados.
© NASA
A URSS saiu na frente na
corrida espacial. Em 1957, a
cadelinha Laika foi o primeiro
ser vivo lançado ao espaço.
Na corrida pela conquista
do espaço, durante
a Guerra Fria, os EUA
apressaram-se para enviar
o primeiro homem à Lua, o
que conseguiram em 1969.
123
História – Unidade 3
Atividade 4 Guerra Fria
Leia atentamente o trecho retirado de um discurso feito por Harry
Truman, presidente dos Estados Unidos, dirigido ao Congresso de seu
país, em 12 de março de 1947. As ideias nele apresentadas ficaram
conhecidas como Doutrina Truman. Em seguida, responda às questões.
[...] Atualmente, na história mundial, quase todas as nações devem escolher
entre estilos de vida alternativos. Com frequência, essa escolha tem um preço.
Um estilo de vida é baseado na vontade da maioria e distingue-se por ter
instituições livres, governo representativo, eleições livres, garantias de liberdade individual, liberdade de expressão e religião, e por ser livre de repressão política.
O segundo estilo de vida é baseado na vontade de uma minoria que se impôs
sobre a maioria. Ele se sustenta pelo terror e pela opressão, pelo controle da
imprensa e do rádio; eleições restritas e a supressão de liberdades individuais.
Eu acredito que a política dos Estados Unidos deve apoiar os povos livres
que estejam resistindo à tentativa de subjugação por minorias armadas ou
pressões externas [...]
President Harry S. Truman’s address before a joint session of Congress, March 12, 1947.
The Avalon Project. Documents in Law, History and Diplomacy. Yale Law School. Disponível em:
<http://avalon.law.yale.edu/20th_century/trudoc.asp>. Acesso em: 12 nov. 2012. Tradução: Eloisa Pires.
1. A quais países se referem as descrições feitas pelo presidente em
seu discurso?
2. Esse discurso é considerado por muitos historiadores como uma
declaração formal de abertura da Guerra Fria. Quais elementos
no texto podem sustentar esta interpretação?
124
História – Unidade 3
A fim de evitar as atrocidades cometidas ao longo da 2a Guerra Mundial e de tentar
promover a construção de um mundo mais justo e democrático para todos os povos, os
países-membros da Organização das Nações Unidas envolveram-se em um debate com o
objetivo de construir parâmetros para mediar a relação entre os governos de todas as nações
e destes com seus cidadãos. Liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética, e sob sua
influência, os representantes de diversas nações se organizaram para a criação da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, na perspectiva de que seja garantido a todas as pessoas
do mundo o acesso a certos direitos. Essa declaração terminou por combinar as orientações
ideológicas do bloco liberal-capitalista (direitos civis e políticos) com as do bloco socialista
(direitos econômicos e sociais).
Essa Declaração tornou-se muito importante como marco e referência para a
construção de muitas Constituições nacionais (inclusive a última Constituição brasileira,
de 1988) e para estabelecer parâmetros internacionais em relação à organização de várias
esferas da vida, construídos por órgãos internacionais como a Organização Internacional
do Trabalho (OIT), em relação ao trabalho; a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em relação à educação; a Organização Mundial
da Saúde (OMS), em relação à saúde; etc. Para conhecer seus artigos na íntegra, acesse
o site da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão: <http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/
institucional/encontros-nacionais-dos-procuradores-dos-direitos-do-cidadao-enpdc/xiv_
encontro-nacional/descarte/bibliografia-basica/programa-nacional-de-direitos-humanos/
Declaracao_Universal_dos_DH.pdf>. (Acesso em: 12 dez. 2012.)
Você estudou
Cerca de 20 anos após o final da 1a Guerra, eclodiu um
novo confronto mundial. Dessa vez, a destruição causada foi
ainda maior e o seu alcance geográfico, mais amplo.
As causas da guerra são diversas e incluem: tensões imperialistas não resolvidas na 1a Guerra Mundial; ambições expansionistas
da Alemanha, do Japão e da Itália, países de desenvolvimento capitalista relativamente tardio; e a intenção de sufocar a União Soviética, exemplo incômodo de berço da revolução dos trabalhadores.
Apesar dos sinais de que uma guerra estava para acontecer,
as potências liberais praticaram uma política de apaziguamento,
enquanto a União Soviética assinava um pacto de não agressão
125
História – Unidade 3
com os nazistas. Mas, quando os alemães atacaram a Polônia
em 1939, França e Inglaterra declararam guerra à Alemanha.
Depois de dominar a Europa Ocidental continental em poucos meses, as tropas alemãs se deslocaram na direção do que se
converteria no principal palco da guerra, a União Soviética, cuja
resistência desequilibraria a balança do conflito. O papel decisivo dos soviéticos na vitória sobre o nazismo e o fascismo foi
reconhecido, inclusive, por muitos contemporâneos. Enquanto
o Exército Vermelho pressionava os alemães de volta para o
seu território, os Estados Unidos enfrentavam o Japão na Ásia e
comandavam o desembarque dos Aliados na Europa Ocidental
em junho de 1944, embora a Itália de Mussolini já tivesse sido
invadida no ano anterior.
No entanto, a aliança que derrotou Hitler se dissolveria logo
após a 2a Guerra. As disputas entre os vencedores dariam início à
chamada Guerra Fria, na qual a rivalidade entre Estados Unidos
e União Soviética se desenrolava sob a ameaça de um conflito nuclear. Nessa circunstância, os principais confrontos armados da
segunda metade do século XX aconteceriam na periferia do capitalismo e seriam marcados pelo antagonismo entre capitalismo e
comunismo, que caracterizava a ideologia da Guerra Fria.
Pense sobre
Conta-se que Albert Einstein (1879-1955), um dos mais brilhantes cientistas do século XX, foi questionado por um jornalista a respeito de que armas
seriam usadas em uma 3a Guerra Mundial. Pacifista que era, teria respondido
que não sabia como seria lutada essa guerra, mas que na 4a Guerra seriam usadas somente pedras.
Fonte: Interview. Liberal Judaism, Apr.-May 1949. Apud SHAPIRO, F. (Ed.). The Yale Book of Quotations.
New Haven; London: Yale University Press, 2006, p. 229.
126
4
Revolução e
Contrarrevolução no
mundo da Guerra Fria
Na Unidade anterior, você viu que a 2a Guerra Mundial foi um
conflito devastador: nunca antes uma guerra tinha atingido tantos
pontos do planeta ao mesmo tempo, nem causado tantas mortes, entre
militares e civis. Ainda assim, foi discutido que, embora nada de iguais
proporções tenha acontecido desde então, o final do conflito não anunciou uma época de paz. Por exemplo, as explosões das bombas atômicas no Japão, ao final da 2a Guerra, foram interpretadas por muitos
como um gesto intimidatório dos Estados Unidos para com a União
Soviética. Assim, em pouco tempo, a aliança dos dois países contra o
nazismo e o fascismo se desfez, e a rivalidade entre os defensores do
capitalismo e os adeptos do regime soviético polarizou o mundo. Tinha
início a Guerra Fria, que ficou assim conhecida por não ter sido um
embate bélico direto entre essas superpotências mundiais.
Na presente Unidade você verá como a Guerra Fria foi bastante
“quente”. Na realidade, o mundo continuou vivendo uma intensa violência, agora expandida da Europa para os demais continentes. Você
discutirá, inicialmente, os movimentos de descolonização na Ásia e na
África para, depois, ver como a Guerra Fria justificou golpes de Estado
e o estabelecimento de ditaduras em países da América Latina.
Para iniciar...
Em um século de tantas transformações, o final da 2a Guerra e o
início da Guerra Fria configurou um novo cenário mundial que estava
longe de poder ser chamado de pacífico, conforme você estudou na
Unidade anterior.
Converse com seus colegas e professor.
•
Em sua opinião, como essa nova configuração política do mundo
influenciou os acontecimentos em todos os continentes e, em especial, na América Latina? E no Brasil?
•
Apesar de novas potências mundiais, os Estados Unidos e a União
Soviética não tinham colônias como as antigas potências (como a
Inglaterra). Você diria que, na Guerra Fria, esses países possuíam
outras formas de garantir sua hegemonia sem a dominação direta
de colônias? Quais?
127
História – Unidade 4
Os conflitos no contexto da Guerra Fria
A Guerra Fria não se limitou às palavras. Ao contrário, a segunda
metade do século XX foi marcada por conflitos violentos em várias partes do mundo, principalmente em continentes “periféricos” no quadro
do desenvolvimento econômico mundial: África, Ásia e América Latina.
Ocorreram, portanto, fora do território dos Estados Unidos e da União
Soviética, como também distantes dos principais centros do capitalismo
europeu que haviam protagonizado as duas guerras mundiais.
A violência inerente à rivalidade entre Estados Unidos e União
Soviética, que muitas vezes representava uma disputa entre capitalismo e socialismo, influenciou a política em outros países, em conflitos nos quais estas potências frequentemente intervieram.
A descolonização na Ásia
Com o início da 2 a Guerra Mundial, os japoneses decidiram
aproveitar-se da posição vulnerável das potências coloniais europeias
encurraladas pela Alemanha nazista e invadiram diversos territórios nas regiões vizinhas, alguns deles controlados pela França e pela
Inglaterra. Nessa época, o Japão ampliou também seu domínio na
China, o que já vinha fazendo desde o século XIX.
Insular
Território que é uma ilha
ou um conjunto de ilhas.
Nipônico
Japonês.
Você sabia que
em alguns países da
Europa também houve
revoluções no final da 2a
Guerra Mundial?
A maioria delas
foi derrotada pela
intervenção dos Estados
Unidos e da Inglaterra,
como, por exemplo,
na Grécia. No entanto,
na vizinha Iugoslávia,
a revolução triunfou.
Liderado pelo marechal
Tito, esse país realizou
uma experiência socialista
diferente da soviética
durante várias décadas.
128
Em decorrência de seu acelerado desenvolvimento como país capitalista, iniciado no final do século XIX, o Japão desejava superar as
limitações geográficas de seu território insular e expandir-se em direção aos territórios vizinhos. Foi inclusive em função dessa expansão
nipônica que os Estados Unidos, também interessados em exercer sua
hegemonia no Pacífico, entraram na 2a Guerra.
Com a derrota japonesa no confronto, emergiram movimentos
nacionalistas vigorosos em regiões da Ásia afetadas pela guerra, em
alguns casos mesclados a ideários sociais revolucionários, sob influência da União Soviética. Em uma conjuntura em que as potências coloniais europeias estavam enfraquecidas, esses movimentos triunfaram
em várias situações, embora sempre ao custo de muita luta, uma vez
que era de interesse dos Estados Unidos manter esses países capitalistas. Os casos da China, Índia e Vietnã são bons exemplos para
ilustrar as ações das duas superpotências nesse continente.
China
Depois da Revolução Russa, houve outra revolução conduzida
por comunistas em um grande país, logo após a 2 a Gerra Mundial.
Foi a Revolução Chinesa, liderada por Mao Tsé-tung (1893-1976).
Ela representou o triunfo final dos comunistas no país, em 1949.
A China vinha de um processo revolucionário que derrubou seu
império milenar e o último imperador dinástico, em 1912, e em seu lugar
História – Unidade 4
instituiu a república. No entanto, durante esse período, o país foi invadido pelo Japão, o que forçou uma aliança entre o partido do governo
(capitalista) e o partido comunista, que dominavam diferentes regiões do
país. A resistência conduzida pelos chineses comunistas na zona rural foi
decisiva para consolidar a liderança política e militar do partido.
No entanto, também como no caso russo, os comunistas tiveram
de derrotar militarmente os contrarrevolucionários chineses apoiados
pelos Estados Unidos ao longo de uma guerra civil.
Fontes: compilação a partir de Georges DUBY,
Atlas historique mondial, Paris, Larousse, 1987;
Putzger, Historischer Weltatlas. Berlim, Cornelsen, 1992;
Jean SELLIER, Atlas des peuples d’Asie méridionale et
orientale, Paris, La Découverte, 2004.
Atelier de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/chineoccupation-trang-re-premi-re-moiti-du-xxe-si-cle>. Acesso em: 19 dez. 2012. Tradução: Renée Zicman.
129
História – Unidade 4
Índia
Fica a dica
Na Índia, o movimento pela libertação do colonialismo inglês
tornou-se mundialmente famoso por meio da atuação de Mohandas
Karamchand Gandhi, conhecido simplesmente como Gandhi (1869-1948). Inspirado por um ideário que mesclava aspectos da religião
hindu à desobediência civil como forma de luta, a atuação de Gandhi
combinou resistência cultural e crítica econômica da dominação inglesa.
Gandhi (Gandhi,
direção de Richard
Attenborough, 1982).
Esse filme ajuda a
conhecer mais sobre a
vida e a atuação política
de Ghandi, um dos
líderes mais importantes
da história recente,
durante o processo de
independência da Índia.
Como uma ilustração de suas ideias, Gandhi tecia as próprias vestimentas que usava. Esse gesto significava uma defesa das roupas e
costumes tradicionais da Índia, ao mesmo tempo que se convertia em
um protesto contra as indústrias têxteis inglesas, que deixavam milhares de tecelões indianos sem trabalho.
© Bridgeman Art/Keystone
Embora Gandhi pregasse a não violência como forma de resistência,
os nacionalistas indianos foram brutalmente reprimidos pelo governo
colonial, e seu líder esteve encarcerado inúmeras vezes. Após décadas de
luta, a Inglaterra foi obrigada a abrir mão do território indiano, resultado do seu enfraquecimento como potência mundial e da consequente
dificuldade em manter sua dominação no extenso território indiano.
Gandhi tecendo a
própria roupa
130
História – Unidade 4
Vietnã
Assim como na China, a resistência vietnamita à invasão japonesa
durante a 2a Guerra Mundial foi conduzida pelos comunistas. Quando
a guerra terminou, eles declararam a independência do país, que era
colônia francesa. Apesar das dificuldades internas que enfrentava, a
França não cedeu ao movimento nacionalista. Pelo contrário, assim
como fariam no norte da África, os franceses desencadearam uma
cruenta guerra civil que se estendeu até 1954, quando foram vencidos.
Após a derrota da França, estabeleceu-se uma divisão do país,
segundo a qual o Norte ficou sob o governo dos comunistas e o Sul,
chefiado por um impopular imperador, sustentado pelos Estados Unidos. Ante o crescimento do movimento de guerrilha, apoiado pelos
vietnamitas do Norte, o governo dos Estados Unidos decidiu intervir
maciçamente no Vietnã, provocando um dos conflitos antiimperialistas mais sangrentos do século.
Após enfrentarem durante anos a irredutível resistência dos vietnamitas, somada à impopularidade nacional e internacional da guerra, os
Estados Unidos retiraram-se do país em 1975, assumindo, portanto, sua
derrota no confronto. Como resultado de quase trinta anos enfrentando a
França e os Estados Unidos, o Vietnã tornava-se, enfim, um país soberano.
Fica a dica
Apocalypse Now
(Apocalypse Now, direção
de Francis Ford Coppola,
1979). Há diversos
filmes produzidos por
Hollywood que se
referem à Guerra do
Vietnã. Muitos deles
estão marcados pelo
discurso anticomunista
característico da Guerra
Fria, mostrando os
vietnamitas como
inimigos desumanos
e os soldados
americanos como
heróis. Evidentemente,
essa não é a versão
vietnamita da história
e nem daqueles que se
opunham à intervenção
dos Estados Unidos no
país. Nesse sentido, esse
filme é um dos exemplos
de discussão crítica
da guerra feita pelos
próprios estadunidenses.
© Bettmann/Corbis/Latinstock
Platoon (Platoon, direção
de Oliver Stone, 1986).
O filme é outra amostra
do pensamento crítico
estadunidense a respeito
da guerra no Vietnã.
Crianças vietnamitas
fugindo em pânico de
ataque aéreo com napalm
(arma química inflamável)
a seu povoado, em 1972.
131
História – Unidade 4
Atividade 1 Os processos de independência na Ásia
1. Leia o diálogo a seguir e responda à questão proposta.
Diálogo entre um jornalista francês e o líder vietnamita Ho Chi Minh
James de Coquet: [...] A questão que se coloca é: Seu povo é politicamente
maduro para se autogovernar?
Ho Chi Minh: Se um aluno ficar quarenta anos com o mesmo professor, se
depois desse tempo todo ele não aprender nada, quem vai ser acusado pela ignorância, o aluno ou o professor? [...] Não queremos romper com a França. Também
não queremos pagar com a nossa liberdade as vantagens de sua civilização. Não
queremos mais ser oprimidos. [...] Nossa decisão é inabalável: queremos a nossa
independência. [...] Não queremos ser integrados pela força na órbita da França.
O reconhecimento da nossa independência em primeiro lugar, depois seria mais
fácil elaborar um estatuto de entendimento [...].
SERRANO, Carlos, MUNANGA, Kabengele. A revolta dos colonizados: o processo de descolonização e as
independências da África e da Ásia. São Paulo: Atual, 1995, p. 19.
Qual é o argumento do líder Ho Chi Minh para defender que seu
povo é politicamente maduro para se autogovernar?
2. Em grupos, estabeleçam semelhanças e diferenças entre os processos de independência dos países estudados (Índia, China e Vietnã),
considerando também os principais fatores que levaram à independência desses países. Para isso, retomem o que vocês estudaram sobre a descolonização da Ásia após a 2a Guerra Mundial e
tenham em mente o diálogo lido.
132
História – Unidade 4
A descolonização na África
Se o movimento de descolonização asiático decolou logo após a
2 a Guerra Mundial, a África seguiria o seu rastro pouco tempo
depois. Na Conferência Afro-asiática de Bandung, realizada na Indonésia em 1955, com a participação de chefes de 29 Estados desses
continentes, foi dado um importante impulso para esse processo.
O objetivo desse encontro foi promover a cooperação dos países participantes como alternativa à hegemonia dos Estados Unidos ou da
União Soviética no contexto da Guerra Fria.
Em uma atitude pioneira, a conferência afirmou que o imperialismo e o racismo eram crimes, propondo a criação de um “Tribunal
da Descolonização” para julgar os responsáveis pelas políticas imperialistas, interpretadas como crimes contra a humanidade. Também
foram lançados os princípios da política de “não alinhamento”, que
propunham defender uma posição de neutralidade dos países participantes da conferência em relação às superpotências.
Posteriormente, Bandung recebeu a adesão de países de outros
continentes, como Iugoslávia e Cuba, representando uma consciência generalizada do chamado “Terceiro Mundo” sobre as relações de
dominação entre os países industrializados e os países exportadores
de produtos primários.
A luta pela independência na África começaria pelos países do
Norte do continente, uma região onde predominam a língua árabe
e a religião muçulmana. O primeiro processo de libertação ocorreu
na Tunísia, em 1956. O movimento anticolonial espalhou-se, em
seguida, pela África Subsaariana. Ao longo dos anos 1960, mais de
30 países africanos conquistaram sua independência.
Em muitos casos, alguns elementos presentes no conjunto das
lutas anticoloniais na África também se observavam na Ásia, a saber:
•
o declínio das potências colonizadoras europeias e a ascensão dos
Estados Unidos;
•
as tensões ideológicas, políticas e militares características da
Guerra Fria;
•
uma aproximação frequente entre nacionalismo e socialismo;
•
a dificuldade em converter a independência política em genuína
soberania.
Terceiro Mundo
Originalmente, o termo
referia-se aos países que
adotaram uma posição
neutra na Guerra Fria
e que deveriam se unir
para revolucionar o
mundo, assim como o
Terceiro Estado havia
feito na Revolução
Francesa, quando os
estratos desprivilegiados
daquela sociedade se
uniram. No entanto, o
termo foi popularizado
como uma referência
aos países dependentes
e subordinados ao
capitalismo central. De
acordo com essa visão,
os países capitalistas
industrializados
integrariam o chamado
“Primeiro Mundo”,
e os socialistas
industrializados
comporiam o
“Segundo Mundo”.
África Subsaariana
Parte da África ao sul
do Deserto do Saara,
em que predomina a
população negra, em
contraste com o norte
do continente, banhado
pelo Mar Mediterrâneo e
de maioria branca.
133
História – Unidade 4
Ateliê de Cartografia da Sciences Po, 2012
Cronologia das independências africanas
Tunísia
Marrocos
Argélia
Saara
Ocidental*
Senegal
Cabo
Mauritânia
Verde
Gâmbia
GuinéBissau
Mali
Burkina
Faso
Guiné
Serra Leoa
Libéria
Costa do Marfim
Gana
Togo
Benin
São Tomé e Príncipe
Guiné Equatorial
Congo
Líbia
Níger
Egito
Chade
Eritreia
Sudão
Djibuti
Nigéria
Etiópia
República
Centro-africana
Camarões
Gabão
RDC
Tanzânia
Angola
Sudão
do Sul
Somália
Uganda
Quênia
Ruanda
Burundi
Seicheles
Comores
Zâmbia
Malauí
Maurício
Madagascar
Moçambique
Zimbábue
Namíbia
Botsuana
Países não colonizados
Independências:
Antes de 1922
Afrique contemporaine,
2010/3 (n. 235),
Agence Française de
Développement, De Boeck.
Tradução: Renée Zicman.
1951 - 1958
1960
1961 - 1968
1974 - 1980
1990 - 1993
2011
África
do Sul
Suazilândia
Lesoto
* Território não autônomo
Fontes:
F. W. Putzger, Historischer Weltatlas, Berlin, Cornelsen, 1995 ;
J. Sellier, Atlas des peuples d’Afrique, Paris, La Découverte, 2011.
D’après Afrique contemporaine, 235, 2010.
A particularidade da África Subsaariana no contexto das lutas anticoloniais foi a baixa integração econômica e social desses novos países,
inclusive em comparação com outras regiões do chamado “Terceiro
Mundo”. Essa região sofreu com a exploração e o preconceito europeus
desde o tempo do tráfico de escravos, e suas fronteiras foram definidas
sem levar em conta as identidades culturais dos povos que habitavam o
território. Essa herança colonial representa um desafio suplementar para
concretizar a soberania e a justiça social no continente até os dias de hoje.
134
História – Unidade 4
Atividade 2 Neocolonialismo
1. Leia o texto abaixo e responda às perguntas.
O fim da dominação colonial não significa o fim da influência dos antigos
colonizadores. Para salvaguardar seus interesses, eles continuam a orientar as
evoluções políticas econômicas de suas antigas colônias. Esse fenômeno tem um
nome: neocolonialismo. Ele se manifesta de diversas maneiras: relações privilegiadas entre os antigos colonizadores e as elites dirigentes das novas nações
progressivamente colocadas por eles no poder, manutenção de quadros e técnicos europeus em alguns postos-chave, dependência econômica (transferência
de tecnologia, investimento de capitais etc.), acordos militares e de cooperação
científico-cultural etc. Muitas vezes, a antiga potência colonial interfere para eliminar homens políticos considerados nacionalistas e pouco compreensivos aos
interesses do Ocidente – os que são contra a ordem neocolonial. [...] Dessa forma,
foram assassinados, entre outros, Patrice Emery Lumumba, que foi primeiro-ministro do primeiro governo independente do atual Zaire*, Amilcar Cabral e
Eduardo Mondlane, líderes das independências da Guiné-Bissau e de Moçambique. Foram derrubados o presidente Kuame Nkrumah, líder da independência de
Gana, e Milton Obote, primeiro-ministro de Uganda.
*Antigo Zaire, atual República Democrática do Congo [nota do editor].
SERRANO, Carlos; MUNANGA, Kabengele. A revolta dos colonizados: o processo de descolonização
e as independências da África e da Ásia. São Paulo: Atual, 1995, p. 71.
a) O que os autores entendem por “neocolonialismo”?
Você sabia que, na
segunda metade do
século XX, Portugal
ainda mantinha colônias
na África?
Essas colônias estiveram
entre as últimas a obter
a independência no
continente, em meados
dos anos 1970, em
uma época na qual
cada vez mais jovens
portugueses morriam na
África defendendo uma
dominação que muitos
viam como injusta.
O descontentamento
com essa situação,
acrescido de uma
grave crise econômica
na década de 1960,
culminou em Portugal
na chamada “Revolução
dos Cravos”, um levante
de jovens militares de
ideias progressistas que
derrubou, em 1974, a
ditadura vigente. Com
o fim do regime de
inspiração fascista que
governava Portugal
desde os anos 1930,
Guiné-Bissau, Cabo
Verde, São Tomé e
Príncipe, Moçambique
e Angola conquistaram
a independência.
b) Em sua opinião, como o neocolonialismo influenciou os processos de independência dos países africanos?
2. Faça uma breve pesquisa sobre algum dos líderes africanos citados
no texto e escreva um texto sobre ele.
3. Debata com seus colegas: Em sua opinião, o Brasil atual tem elementos desse neocolonialismo? Por quê?
135
História – Unidade 4
América Latina
Revolução e Contrarrevolução na América Latina
Como é chamada a parte
do continente americano
ao sul dos Estados
Unidos, colonizada
principalmente por
povos latinos, como
espanhóis e portugueses,
e que coincide
geograficamente com o
México, a América Central
e a América do Sul.
Diferentemente do que ocorria com a Ásia e a África, na América quase não havia situações de dominação colonial no século
XX, com exceção de algumas ilhas do Caribe e da região das Guianas. Após a independência dos Estados Unidos (1776), a maior
parte das colônias na América Latina, incluindo o Brasil, alcançou
a independência nas primeiras décadas do século XIX. Como resultado, um conjunto de novas nações surgiu no continente até fins
desse mesmo século.
Emancipação
No entanto, a emancipação política não se traduziu em uma soberania plena para muitos desses países. Especialmente após o final do
século XIX, os Estados Unidos advogaram para si a hegemonia sobre
a América Latina, entendida como sua área de influência política e
econômica. Como resultado, intervieram militarmente muitas vezes
no continente, sobretudo na região da América Central e do Caribe.
Quando empregada em
um sentido histórico,
significa assumir o
comando do próprio
destino político.
Com a Guerra Fria, a intervenção dos Estados Unidos na política
dos países do continente se tornaria uma violenta rotina. Sob o pretexto de ameaça comunista, foram orquestrados diversos golpes de
Estado que abortaram processos de democratização em países latinos
marcados por profundas desigualdades.
Atividade 3 Intervenções dos Estados Unidos na
América Latina
1. Leia o texto abaixo para realizar as atividades solicitadas.
Entre 1895 e 1898, tropas norte-americanas intervieram em Cuba. Em 1898, fuzileiros navais dos EUA bombardearam San Juan de Porto Rico. No mesmo ano, a Casa Branca, intervindo na luta dos cubanos por sua independência da Espanha, impôs a Cuba, durante quatro anos, um governo militar encabeçado pelo general Leonard
Wood. Em 1903, a nação do Norte apropriou-se de uma faixa de 8 km de cada lado na região em que se construiu
o Canal do Panamá, entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Em 1905, a República Dominicana foi invadida pelos
marines, a pretexto de desajuste financeiro naquele país. No ano seguinte, Cuba sofreu uma segunda intervenção
militar, comandada pelo general Charles Magoon, e que durou três anos. Em 1909 foi a vez da Nicarágua sofrer
intervenção. Um ano depois, as tropas invasoras obrigaram o presidente José Santos Zelaya a abandonar o país.
Em 1911, a República Dominicana foi militarmente ocupada até 1914. Naquele mesmo ano, os marines desembarcaram na Nicarágua, onde permaneceram até 1924.
Cuba e Honduras sofreram mais uma intervenção dos EUA em 1912. Nova ocupação de Cuba ocorreu em
1917, e se prolongou por dois anos, sem que ainda houvesse sequer o pretexto do comunismo... E se repetiu
em 1922. Em 1924, Honduras sofreu sua quarta intervenção e, no ano seguinte, a quinta. Em 1926, os marines
invadiram de novo a Nicarágua.
Em 1947, por um acordo com os militares nativos, os EUA derrubaram, na Venezuela, o presidente Rómulo
Gallegos, como castigo por ter aumentado o preço do petróleo exportado. Em 1954, utilizando aviões de bombardeio e mercenários, os “paladinos da liberdade” puseram fim, na Guatemala, ao governo democrático de
Jacobo Arbenz. Em 1961, ocorreu a fracassada invasão de Playa Girón, em Cuba. Em 1964, no Panamá, soldados
dos EUA mataram 20 estudantes, ao reprimirem a manifestação em que os jovens queriam trocar, na zona do
canal, a bandeira estrelada pela bandeira de seu país! No mesmo ano, a CIA participou do golpe militar que
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História – Unidade 4
derrubou o governo João Goulart, no Brasil. Em 1965, num acinte ao Direito Internacional, o Congresso dos
EUA reconheceu unilateralmente o “direito” de os EUA intervirem militarmente em qualquer país do continente. No mesmo ano, para livrar a República Dominicana “do perigo comunista”, os marines ocuparam o país,
com a ajuda de tropas brasileiras, e impediram a posse de Juan Bosch.
Em 1973, a CIA arquitetou o plano que, em 11 de setembro, resultou no assassinato do presidente Salvador Allende, do Chile, e levou o general Augusto Pinochet ao poder. Em 25 de outubro de 1983, tropas da 82a
divisão aerotransportada invadiram Granada e assassinaram o presidente Maurice Bishop. Em 1984, para
reforçar a contrarrevolução nicaraguense, 11 mil soldados dos EUA se espalharam por Honduras. Em 1988 e
1989, pilotos americanos e a Guarda Nacional de Kentucky participaram de bombardeios à população civil do
interior da Guatemala, sob pretexto de combater guerrilhas. Em El Salvador, inúmeros oficiais dos EUA assessoraram as tropas do governo contra os combatentes da FMLN. Em 20 de dezembro de 1989, 25 mil soldados
dos EUA invadiram o Panamá, derrubaram e aprisionaram o presidente Manuel Noriega, sob pretexto de tráfico de drogas, e impuseram no poder o presidente Guillermo Endara. Mais de mil panamenhos foram mortos
durante a ocupação. E entre 1982 e 1990, o governo dos EUA patrocinou uma guerra de agressão à Nicarágua,
financiando e treinando mercenários e mantendo o bloqueio econômico.
Por onde andaram, as tropas de invasão dos EUA só deixaram miséria, desigualdade, corrupção e morte. Mas
fizeram bem, amado Teófilo, em colocar a Estátua da Liberdade à porta principal dos EUA. Assim, estamos todos
cientes de que ela delimita a esfera da liberdade. A todos nós, que não somos norte-americanos, resta-nos a liberdade
de jamais contrariar a liberdade de eles restringirem ou suprimirem a nossa.
BETTO, Frei. O paraíso perdido: nos bastidores do socialismo. São Paulo: Geração, 1993, p. 70-72.
a) Sistematize as informações apresentadas no texto na tabela abaixo.
País
Período da intervenção
República Dominicana
1905
Cuba
b) Em sua opinião, qual teria sido a razão dessas intervenções?
2. Faça uma pesquisa sobre um episódio ou um personagem mencionado no texto.
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História – Unidade 4
A Revolução Cubana
Mercenário
Termo militar utilizado
para se referir ao soldado
ou civil treinado que luta
por dinheiro.
Você sabia que uma
das primeiras medidas
da Revolução Cubana,
em 1959, foi organizar
uma campanha nacional
para acabar com o
analfabetismo?
Mais de 250 mil
professores e estudantes,
inclusive jovens de 10 a
19 anos, voluntariaram-se para essa ação.
A maioria deles atuava
na área rural, tornando
a campanha uma
oportunidade para
que os estudantes
conhecessem melhor
a realidade do país. A
taxa de analfabetismo,
que era superior a 20%
antes da Revolução,
baixou para menos de
4% em 1961. Pouco
tempo depois, Cuba foi
declarada território livre
de analfabetismo.
Fontes: IBGE. Países.
Disponível em: <http://
www.ibge.gov.br/paisesat/
main.php>; ALMANAQUE
Folha. Disponível em:
<http://almanaque.folha.
uol.com.br/mundo80.htm>.
Acessos em: 12 nov. 2012.
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Em 1959, um movimento guerrilheiro derrubou a ditadura de
Fulgencio Batista em Cuba e começou a implementar um programa
de reformas sociais radicais que não agradou aos Estados Unidos:
reforma agrária; reforma urbana; nacionalização dos bancos, de
algumas empresas estrangeiras e do ensino; campanha nacional para
erradicar o analfabetismo, entre outras medidas. Embora, em um primeiro momento, o programa do governo revolucionário fosse nacionalista, e não socialista, a ousadia dos cubanos não foi tolerada pelo
poderoso vizinho, que resolveu intervir.
Os Estados Unidos, governados naquela época por John Kennedy,
patrocinaram uma expedição de mercenários com o objetivo de derrubar
o governo iniciado por Fidel Castro. Imaginavam que seria uma empreitada fácil, mas não foi. Ao longo dos anos de vida guerrilheira nas montanhas e no início do governo, os revolucionários ganharam a confiança e o
apoio maciço do povo cubano, causando a rápida derrota dos invasores.
Desse momento em diante, Cuba iniciou uma aproximação com a União
Soviética motivada por razões militares, mas também econômicas, uma
vez que os Estados Unidos iniciaram um bloqueio comercial à ilha que,
cinquenta anos depois, continua vigente.
O triunfo de uma revolução que logo abraçou o socialismo, em
uma ilha situada a cerca de 160 quilômetros da costa dos Estados
Unidos, teve profundas repercussões no continente. A política latino-americana radicalizou-se, para a esquerda e para a direita: surgiram
movimentos revolucionários que buscaram tomar o poder político,
enquanto os grupos dominantes ampliaram a repressão aos movimentos sociais.
Em meio a essa agitação, foram abortados diversos processos
democráticos de mudança social no continente, dando lugar a ditaduras repressivas que asseguraram a manutenção da desigualdade social
e da dependência externa. O Brasil foi um dos países em que se instauraram uma ditadura militar, como você estudará no próximo Caderno.
América do Sul – Alguns países onde vigoraram regimes
ditatoriais após a Revolução Cubana
País
Início
Término
Brasil
1964
1985
Chile
1973
1990
Uruguai
1973
1985
Argentina
1976
1983
História – Unidade 4
A ditadura no Chile
No entanto, ao realizar suas propostas, que incluíam a reforma
agrária, a nacionalização do cobre (principal riqueza natural do país)
e dos bancos, os setores contrariados com o seu projeto começaram a
sabotar o governo. Com o objetivo de prejudicar o abastecimento das
cidades, empresários articularam uma poderosa greve dos transportes,
tentaram paralisar a produção de cobre ou simplesmente procuraram
boicotar a circulação dos produtos, por exemplo.
Para enfrentar o desabastecimento, gerir fábricas falidas e conter
o boicote patronal, trabalhadores organizados formaram “cordões
industriais”. Inevitavelmente, a sociedade chilena polarizou-se.
Uma vez que as táticas políticas e econômicas empregadas pela
oposição não surtiram o resultado esperado, recorreu-se à conspiração militar, com apoio dos Estados Unidos. Em 11 de setembro
de 1973, militares comandados pelo general Augusto Pinochet, que
até a véspera do golpe dera
mostras de fidelidade ao presidente, perpetraram o golpe
militar que encerrou a “via
chilena” ao socialismo.
Por causa da resistência
de Allende em renunciar, os
insurgentes invadiram o Palácio presidencial de La Moneda,
que estava em chamas por
causa das bombas atiradas.
Enquanto as tropas militares
tomavam a sede do governo,
Allende suicidou-se. Com isso,
iniciou-se a ditadura do general Pinochet, que durou até
1990 e vitimou mais de 40 mil
cidadãos, entre torturados,
mortos e desaparecidos.
Fica a dica
Os documentários
dirigidos por Patricio
Guzmán tratam do
governo de Salvador
Allende e do golpe
militar no Chile: El primer
año (1973); A batalha
do Chile (La batalla de
Chile, 1975, 1977, 1979
– trilogia); Salvador
Allende (2004); Chile, a
memória obstinada (Chile,
la memoria obstinada,
1997); Nostalgia da luz
(Nostalgia de la luz, 2010).
O filme Desaparecido
– Um grande mistério
(Missing, direção de
Costa-Gavras, 1982)
conta a história de um
jornalista e cidadão dos
Estados Unidos que
desaparece no Chile
durante o golpe militar.
© OFF/AFP/Getty Images
O Chile viveu uma das ditaduras de maior violação de direitos na
América do Sul. Em 1970, na quarta vez em que concorreu à presidência nas eleições nacionais, o candidato do Partido Socialista, Salvador Allende, venceu a disputa. Allende tinha um ambicioso programa de transformação da sociedade, propondo uma “via chilena”
ao socialismo. Sua proposta era construir lentamente, e por meio do
caminho eleitoral, as mudanças necessárias para superar a desigualdade social e a dependência externa do Chile.
Soldados chilenos posicionados em frente ao palácio presidencial de La Moneda,
em Santiago, no Chile, durante o golpe militar comandado pelo general Augusto
Pinochet, futuro ditador. Com a ajuda dos EUA, ele depôs Salvador Allende,
presidente eleito democraticamente.
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História – Unidade 4
Atividade 4 Conflitos bélicos na passagem do século XX
para o século XXI
Analise a lista dos conflitos bélicos ocorridos entre o final do
século XX e o início do XXI por região e responda às perguntas.
África
Ásia
América Latina
Saara Ocidental
Libéria
Serra Leoa
Angola
Cabinda
Somália
Sudão
Ruanda
República Democrática do Congo
Burundi
República Centro-Africana
República do Congo
Etiópia
China
Tibete
Indonésia
Timor Leste
Filipinas
Índia
Butão
Sri Lanka
Camboja
Mianmá
Tadjiquistão
Afeganistão
Guatemala
El Salvador
Nicarágua
Honduras
México
Colômbia
Haiti
Peru
Europa
Europa Oriental
Oriente Médio
Geórgia
Azerbaijão
Moldávia
Chechênia
Arábia Saudita
Irã
Iraque
Barein
Ilhas Hanish
Curdistão
Iêmen
Chipre
Macedônia
Kosovo
Albânia
Oceania
Papua Nova Guiné
OCHOA, José Maria Gonzales; PASCUAL, Ana Isabel Montes. Las guerras olvidadas. Madrid: Acento Editorial, 1977. Apud: SADER, Emir.
Século XX: uma biografia não autorizada. São Paulo: Perseu Abramo, 2000, p. 114-115.
1. Pesquise a situação de conflito vivida por algum dos países da
lista na virada do século XX para o XXI.
2. Julgando pela lista e pela pesquisa feita, responda: o mundo aproxima-se da paz? Por quê?
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História – Unidade 4
Você estudou
A segunda metade do século XX foi marcada por conflitos
sociais ocorridos ao redor do mundo, mas que raramente envolveram o território dos países mais industrializados. As duas
superpotências mundiais, Estados Unidos e União Soviética, desenvolveram um arsenal atômico tão poderoso, que um novo
confronto direto colocaria em risco a própria humanidade. Desse modo, a rivalidade geopolítica influenciou processos que opunham indiretamente os dois inimigos em todos os continentes,
muitos dos quais eram tentativas de mudança social radical.
Na Ásia e na África, produziu-se uma onda de lutas pela
libertação nacional, encerrando a dominação colonial direta dos
países europeus nesses continentes. Porém, quando surgiram
propostas de mudanças sociais mais profundas, ocorreram intervenções de potências estrangeiras, sob a alegação de combate ao
comunismo. Diante dessa realidade, a emancipação nem sempre
significou a integração nacional: o desafio de superar o legado
de desigualdade social e dependência econômica, reforçado pela
colonização, persiste até nossos dias.
A América Latina, apesar da independência política conquistada por seus países, sofreu a permanente ingerência dos
Estados Unidos nos assuntos nacionais ao longo do século XX.
Com o triunfo da Revolução Cubana, em 1959, aumentou a
pressão estadunidense no sentido de se bloquearem projetos políticos que pudessem tirar os países do continente da sua esfera
de influência. Assim sendo, processos pacíficos e democráticos
de mudança social, como ocorreu no Brasil (1964) e no Chile
(1973), foram abortados por golpes de Estado protagonizados
por militares, que instalaram regimes repressivos apoiados por
setores das classes dominantes locais e pelos Estados Unidos.
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História – Unidade 4
Pense sobre
Após sofrer três derrotas nas urnas, o candidato socialista Salvador Allende venceu as eleições presidenciais no Chile em 1970.
Fiel aos seus ideais, o novo presidente começou a realizar mudanças sociais importantes, com os objetivos de diminuir a desigualdade
social e fortalecer a soberania nacional.
Apesar da preocupação em dar cada passo respeitando as leis e a
Constituição do país, o governo socialista foi derrubado e seus apoiadores foram violentamente perseguidos, resultando em um número
elevado de mortos e torturados. O palácio do governo sofreu explosões e o presidente Allende preferiu se matar a deixar o país como
refugiado político.
O governo construiu recentemente o Museu da Memória e dos
Direitos Humanos a fim de registrar a história do país (disponível em:
<http://www.museodelamemoria.cl>, acesso em: 12 nov. 2012).
E você, o que pensa sobre o golpe que derrubou Allende? E sobre
a construção de um museu que trate da violação dos direitos humanos ocorrida durante a ditadura militar chilena?
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