Efeito do treinamento por exercício aeróbio sobre a sensibilidade à insulina e controle glicêmico em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2. Rodrigo da Rosa Iop* Tamires dos Reis Borges** Ana Claudia Tonelli Teixeira** RESUMO O presente estudo teve como objetivo analisar os efeitos da prática regular de exercício aeróbio sobre a sensibilidade à insulina e o controle glicêmico em pessoas portadoras de diabetes mellitus do tipo 2 do município de Tubarão/SC. Foram selecionados dez portadores de diabetes tipo 2, de ambos os gêneros, sedentários, com idade entre 47 e 73 anos. Foram coletados dados referentes controle glicêmico (glicose em jejum, glicose pós-prandial e qualidade de vida através do protocolo SF-36. Para realização da análise e interpretação dos dados foi utilizado o software STATDISC 11.0. Foi feito o teste de Shapiro - Wilk para observar se as amostras tinham distribuição normal. Como todas demonstraram tendência gaussiana, foi utilizado o teste estatístico de Wilcoxon, para amostras dependentes com nível de significância de 5% na determinação das variações antes e após programa de exercício físico. De acordo com os resultados deste estudo, o exercício aeróbio revelou alteração significativa no comportamento da glicemia capilar demonstrando reduções substancias durante o programa de exercício. O comportamento da variável glicose em jejum apresentou diferenças significativas, com redução substancial durante o programa de exercício. No que diz respeito a glicose pós prandial não apresentou diferenças significativas, mas proporcionou redução positiva na sua concentração. O exercício aeróbio não apresentou capacidade de promover variação significante na qualidade de vida. Esses resultados demonstraram que a prescrição de um programa de exercício aeróbio consiste numa importante ferramenta no controle do diabetes, proporcionando um comportamento positivo no controle metabólico e na qualidade de vida dos portadores de diabetes tipo 2. Palavras-chave: Diabetes mellitus tipo 2.. Exercício físico. Qualidade de vida. * Professor Orientador. Graduado em Fisioterapia ** Alunas do Curso de Fisioterapia 1. Introdução O Diabetes Mellitus (DM) é definido pela Associação Americana de Diabetes como um grupo heterogêneo de doenças metabólicas caracterizadas pela hiperglicemia, causada por um dos defeitos na secreção da insulina ou na ação desta, ou por ambas as coisas. (EXPERT COMMITTEE... 1997) O diabetes não é uma doença única e sim um grupo heterogêneo de síndromes caracterizadas por uma elevação da glicemia no jejum, a qual é causada por uma deficiência relativa ou absoluta de insulina. Os pacientes com diabetes tipo 2 apresentam uma combinação de resistência a insulina e disfunção das células beta, mas não necessitam insulina para manter a vida, embora esta possa ser requerida para controlar a hiperglicemia em alguns pacientes. A resistência à insulina é caracterizada por uma produção descontrolada de glicose hepática e por uma captação diminuída de glicose pelo músculo e pelo tecido adiposo. Essa enfermidade atinge em todo o mundo grande número de pessoas de qualquer condição social e representa um problema pessoal e de saúde pública com grandes proporções quanto à magnitude e à transcendência. (ASSUNÇÃO; SANTOS; GIGANTE, 2001) Em termos do número de diabéticos, os dez principais países do mundo, são Índia, China, Estados Unidos, Indonésia, Rússia, Japão, Emirados Árabes Unidos, Paquistão, Brasil e Itália. (OPAN, 2006) Entre os tipos de diabetes, o Diabetes Mellitus tipo 2 é o de maior incidência, alcançando-se entre 90 e 95% dos casos, acometendo geralmente indivíduos de meia idade ou em idade avançada, podendo uma hiperglicemia estar presente por vários anos, anteriormente ao seu diagnóstico. (SILVA; LIMA, 2002) O diabetes tipo 2 é a forma mais comum da doença, atingindo aproximadamente 90% da população diabética dos Estado Unidos. (CHAMPE; HARVEY; FERRIER, 2006) 2. Objetivos Estudar os efeitos e as contribuições do exercício resistido com peso sobre os indicadores antropométricos e bioquímicos, em um grupo de pessoas portadoras de diabetes tipo 2. 3. Metodologia A pesquisa é considerada quali-quantitativa de intervenção. A pesquisa quantitativa é aquela que utiliza instrumentos de coleta de informações numéricas, medidas ou contatos, para fornecer resultados probabilístico, numérico e estatístico. (ALMEIDA; RIBES, 2000) A pesquisa de intervenção tem por característica a intervenção do pesquisador na realidade pesquisada. (RAUEN, 2002) A população do presente estudo foi constituída por indivíduos portadores de diabete tipo 2, de ambos os gêneros, pertencentes ao sistema único de saúde (SUS) do município de Tubarão, SC. O processo de amostragem ocorreu da seguinte maneira: 1) Foi realizado um levantamento do número de pessoas portadoras de diabetes tipo 2 cadastrada na secretaria de saúde do município de Tubarão, SC. 2) A amostra foi selecionada de forma intencional, pois os diabéticos deveriam apresentar características especificas: diagnóstico de diabete tipo 2, não insulino dependente, idade ≥ 40 anos e ≤ 75 anos, ter no mínimo 1 ano de patologia. 3) Os critérios de exclusão foram: diabetes tipo 2 insulino dependente, diabete tipo 1, diabete gestacional e diabete infanto-juvenil, idade inferior a 39 anos e superior a 76 anos. 4) Foi agendada uma reunião, com intuito de esclarecer os objetivos do estudo e os procedimentos que seriam adotados em todo o processo da pesquisa. Foi garantido a todos os indivíduos da pesquisa que não seriam expostos a riscos de nenhuma natureza, preservando suas integridades física, mental e emocional. Estavam cientes que poderiam desistir de participar a qualquer momento. Foi solicitado ao participante que assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, garantindo dessa forma os direitos dos pesquisados, conforme prescrito na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Para realização da análise e interpretação dos dados foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences - SPSS para Windows 12.0 2003. Foi feito o teste de Shapiro - Wilk para observar se as amostras tinham distribuição normal. Como todas demonstraram tendência gaussiana, foi utilizada a correlação linear de Spearman entre as variáveis. Todas as conclusões estatísticas foram realizadas a 1% de significância e intervalo de confiança de 99%. (WEIR, 1949) Os resultados foram apresentados em forma de gráficos e tabelas com estatística descritiva através do Microsoft Excel®. 4. Resultado e Discussão Os participantes do estudo eram compostos por 66,6% do sexo feminino e 33,4% do sexo masculino, com média de idade de 61,3 anos, idade mínima de 47 e máxima de 72 anos, conforme disposto na tabela 1 e 2. Tabela 1 - Distribuição da amostra quanto ao gênero Variável n % Feminino 8 66,6 Masculino 4 33,4 Tabela 2 - Distribuição da amostra quanto à faixa etária Variável Participantes n 12 Média da Idade 61,33 ± 7,74 Idade Mínima 47 Idade Máxima 72 Foi realizado o teste de correlação de Spearman, com 1% de nível de significância, que revelou existência de correlação positiva entre a % de gordura corporal e os indicadores antropométricos, demonstrando uma associação significativa. Entre os marcadores bioquímicos sangüíneos, o que melhor se correlacionou a % de gordura corporal foi a glicose pós prandial e a glicose em jejum, apresentando uma associação significatvia. Guedes e Guedes (1998) sugeriram que a variação da distribuição anatômica da gordura corporal é um importante indicador morfológico relacionado com complicações endócrinas e metabólicas predisponentes ao aparecimento e desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas, pois indivíduos com disposição centrípeta da gordura corporal tendem a apresentar maior incidência de diabetes mellitus, hipertensão e alterações desfavoráveis no perfil das lipoproteínas plasmáticas. Tabela 3. Correlação entre a % gordura corporal e indicadores antropométricos e marcadores bioquímicos Variáveis n r p* % Gordura Corporal x IMC 12 0,802 0,01 % Gordura Corporal x CQ 12 0,78 0,01 % Gordura Corporal x CC 12 0,627 0,01 % Gordura Corporal x GP 12 -0,52 0,01 % Gordura Corporal x GJ 12 -0,557 0,01 % Gordura Corporal x HDL 12 0,391 0,01 % Gordura Corporal x LDL 12 -0,157 0,01 Resultado estatístico da correlação de Spearman; Estatisticamente significativo. *p<0,01 IMC, índice de massa corporal; CQ, circunferência quadril; CC, circunferência cintura; GP, glicose pós prandial; GJ, glicose em jejum; HDL, HDL-colesterol; LDL, LDL-colesterol Foi realizado o teste de correlação de Spearman, com 1% de nível de significância, que revelou existência de correlação negativa entre a flexibilidade e a circunferência do quadril, demonstrando uma associação significativa. Segundo Shepard (1998), durante a vida ativa, adultos perdem em torno de 8 a 10 centímetros de flexibilidade na região lombar e no quadril, quando medido por meio do teste de alcance máximo “sit and reach”. Dentre os vários fatores que colaboram para isso estão a maior rigidez de tendões, ligamentos e cápsulas articulares, devido a deficiências no colágeno. Esse mesmo autor cita que a restrição na amplitude do movimento das grandes articulações torna-se mais pronunciada com o envelhecimento e, muitas vezes, a independência funcional é ameaçada porque o indivíduo não consegue utilizar um carro ou um banheiro normal, subir uma escada, ou combinar os movimentos de vestir-se e pentear os cabelos. Aponta ainda que uma das maneiras de conservar a flexibilidade é por meio de movimentos realizados em toda a amplitude das principais articulações. de tal capacidade, a ausência de significância estatística indica a necessidade de reprogramação dos exercícios destinados ao ganho da flexibilidade. Tabela 4. Correlação entre flexibilidade e indicadores antropométricos Variáveis n r p* Flexibilidade x % Gordura Corporal 12 -0,189 0,01 Flexibilidade x IMC 12 -0,389 0,01 Flexibilidade x CQ 12 -0,306 0,01 Flexibilidade x CQ 12 -0,483 0,01 Flexibilidade x Massa corpórea 12 -0,403 0,01 Resultado estatístico da correlação de Spearman; Estatisticamente significativo. *p<0,01 IMC, índice de massa corporal; CQ, circunferência quadril; CC, circunferência cintura; Massa corpórea (KG). 5. Conclusão De acordo com os resultados deste estudo, o exercício resistido com peso revelou existência de correlação positiva entre a % de gordura corporal e os indicadores antropométricos, demonstrando uma associação significativa. Entre os marcadores bioquímicos sangüíneos, o que melhor se correlacionou a % de gordura corporal foi a glicose pós prandial e a glicose em jejum, apresentando uma associação significatvia. No que diz respeito a correlação entre flexibilidade e indicadores antropométricos revelou existência de correlação negativa entre a flexibilidade e a circunferência do quadril, demonstrando uma associação significativa Esses resultados demonstraram que a prescrição de um programa de exercício físico consiste numa importante ferramenta no controle do diabetes, todavia o exercício resistido com peso proporcionou um comportamento positivo no controle metabólico dos portadores de diabetes tipo 2. 6. Referências ALMEIDA, T. L.; RIBES, L. Pesquisa quantitativa ou qualitativa: adjetivação necessária. Organizado por Ernani Lampert. Porto Alegre: Sulina, 2000. ASSUNÇÃO, M. C. F; SANTOS, I. S; GIGANTE, D. P. Atenção primária em diabetes no sul do Brasil: estrutura, processo e resultado. Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 35, n. 1, Fev. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em 03 out. 2008. CANADIAN GUIDELINES FOR BODY WEIGHT CLASSIFICATION IN ADULTS, Health Canada, 2003. 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