Versão integral de artigo previamente publicado na Revista Marketeer, III(22), 1998, p.11 NOVOS INDICADORES APRESENTADOS PELO MARKETING PARA A AVALIAÇÃO DA PERFORMANCE Por Luís Filipe Lages No complexo mundo de negócios dos nossos dias a determinação da performance desempenho) torna-se indispensável para avaliar o nível de sucesso de qualquer empresa, tanto no mercado nacional como internacional. No entanto, a utilidade efectiva da avaliação da performance depende sobretudo dos métodos utilizados para se medir esta variável. Reconhecidos autores costumam medir performance essencialmente com base numa perspectiva financeira e quantificável, nomeadamente através do lucro (ex. Lysonski e Pecotish, 1992; Samiee e Walters, 1990), rendimento e retorno versus investimento efectuado (ex. Lysonski e Pecotish, 1992). No entanto, a crescente complexidade dos mercados fez com que o mundo académico, e gradualmente o mundo empresarial, tenham vindo a sentir a necessidade de deixar de considerar unicamente o lucro ou retorno a curto prazo como factores de sucesso, passando a reconhecer a importância de novos indicadores não financeiros identificados com o longo prazo. Vários estudos (ex. Kotabe e Okoraroafo, 1990; Doyle e Hooley, 1992; Shaw, 1992, 1994; Lages, 1996) vieram mostrar que empresas de sucesso, quer operem em termos nacionais ou internacionais, apostam (também) na rentabilidade a longo prazo, apresentando um melhor posicionamento em termos de mercado e uma melhor performance financeira do que aquelas que são orientadas exclusivamente para o curto prazo. Igualmente, o guru Peter Doyle da Warwick Business School (R.U.), numa entrevista à revista britânica “Marketing” (Davidson, 1989), considerou que nos nossos dias as melhores empresas têm que ser “ambidextrous” (ambidextras). As empresas que são “left-handed” (esquerdinas) procuram lucro a curto prazo, sacrificando tudo para o alcançar. A sua total orientação financeira impedeas de serem criativas. Por outro lado, empresas orientadas para o marketing, que apresentam objectivos a longo prazo em termos de quota de mercado, são empresas “right-handed” (destras). A empresa ideal terá que ser “ambidextrous” (ambidextras). Acompanhando a natural evolução das empresas para uma orientação de longo prazo, o marketing sugere novos indicadores, que não os financeiros, como complemento eficaz para medir performance. Evangelista (1994) e Bonoma e Clark (1988) sugeriram que performance poderia ser medida através do nível de satisfação do consumidor. Bradley (1995) acrescenta ainda os seguintes indicadores: modificação e introdução de novos produtos por ano, tempo de resposta às solicitações do consumidor, cumprimento de prazos de entrega, níveis de segurança, montante de cancelamentos e multas, reclamações, defeitos de produto e níveis de lealdade do consumidor. Herremans e Ryans (1995) propõem uma análise baseada nos investimentos efectuados em marketing, o que inclui os activos intagíveis como um dos indicadores para se avaliar performance. Quota de mercado (ex. Fraser e Hite, 1990) e crescimento das vendas (Carpano e Chrisman, 1995; Lee e Yang, 1990) são outros possíveis indicadores. Como o guru Philip Kotler, da Kellogg Graduate School of Management (EUA), recentemente defendeu em Lisboa, muitos destes indicadores de marketing “constituem a solução para um lucro futuro e sustentado” (ver Marketeer de Outubro de 1997: p.1). Versão integral de artigo previamente publicado na Revista Marketeer, III(22), 1998, p.11 Para ser abrangida na sua globalidade, performance tem que ser medida de uma forma credível. A perspectiva financeira revela-se insuficiente para a empresa moderna avaliar o seu desempenho. Embora o marketing proponha novos indicadores qualitativos para se ultrapassarem estas limitações, estes também não são suficientes, pelas suas características subjectivas. Em conclusão, a avaliação da performance deverá ser efectuada através do uso dos indicadores financeiros tradicionais, marcadamente quantitativos e de curto prazo, mas com o imprescindível complemento de indicadores de marketing, marcadamente qualitativos e de longo prazo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS · Bonoma, Thomas V.; Clark, Bruce H. (1988), Marketing Performance Assesment, Boston, Mass., Harvard Business School Press, 35-37 · Bradley, Frank (1995), Marketing Management - Providing, Communicating and Delivering Value, London, Prentice Hall · Carpano, Claudio; Chrisman, James J. (1995), “Performance Implications of International Product Strategies and the Integration of Marketing Activities”, Journal of International Marketing, 3 (1), 9-27 · Davidson, Andrew (1989, Mar 9), “Marketing Interview: Peter Doyle”, Marketing, London, p.24 · Doyle, Peter; Hooley, Graham J (1992, Mar), “Strategic Orientation and Corporate Performance”, International Journal of Research in Marketing, 9(1), 59-73 · Evangelista, Felicitas U., (1994), “Export Performance and its Determinants: Some Empirical Evidence from Australian Manufacturing Firms”, Advances in International Marketing, 6, 207-229 · Fraser, Cynthia; Hite, Robert E. (1990, May), “Impact of International Marketing Strategies on Performance in Diverse Global Markets”, Journal of Business Research, 20 (3), 249-262 · Herremans, Irene M.; Ryans, John K. Jr. (1995, Sep/Oct), “The Case for Better Measurement and Reporting of Marketing Performance”, Business Horizons, 38 (5) , 51-60 · Kotler, Philip (1997, Out.), “Editorial: O Novo Marketing”, Marketeer, 2 (16), 1 · Kotabe, Masaaki; Okoroafo, Sam C. (1990), “A Comparative Study of European and Japanese Multinational Firms' Marketing Strategies and Performance in the United States”, Management International Review, 30 (4, Fourth Quarter), 353-370 · Lages, Luis (1996), The Role of Both Strategic Objective and Strategic Focus in the Marketing Strategies Practiced by Portuguese Wine Companies, Master of Arts in Marketing Dissertation, Coventry Business School, Coventry University · Lee, Chong S.; Yang, Yoo S. (1990), “Impact of Export Market Expansion Strategy on Export Performance”, International Marketing Review, 7 (4), 4151 · Lysonski, S.; Pecotich, A. (1992), “Strategic Marketing Planning, Environmental Uncertainty and Performance”, International Journal of Research in Marketing, 9 (3, Aug), 247255 · Samiee, Saeed; Walters, Peter G. P (1990), “Influence of Firm Size on Export Planning and Performance”, Journal of Business Research, 20 (3, May), p: 235248 · Shaw, Vivienne (1992), Marketing Strategies and Organizational Characteristics of British and German Machine Tool Manufacturers, PhD Warwick Business School, Warwick University · Shaw, Vivienne (1994), “The marketing strategies of British and German Companies”, European Journal of Marketing, 28(7), 30-43