Câncer de Pele: Aspectos do Ter e Não Mais Ter Alice Mochel 1, Luciano dos Santos Flores 2 Jussara Nogueira Terra Burnier3 1,2 3 Alunos do Curso de Especialização em Perícia Oficial em Saúde Docente do Curso de Especialização em Perícia Oficial em Saúde Resumo Nesta revisão de literatura foram apurados dados epidemiológicos que confirmam as epidemias das doenças malignas de pele no Brasil e em outros países, atentando-se para a subnotificação. Foram atualizados os quadros clínicos dos carcinomas basocelular, espinocelular e o melanoma, especificando os seus agravantes histológicos (espessura, ulceração e índice mitótico) e clínicos (metástase ganglionar e à distância). Foram levantadas curvas de sobrevivência de vinte anos para diferentes estádios do melanoma e dos subgrupos da doença localizada. Foram apresentadas diretrizes especializadas para os seguimentos dos pacientes com neoplasias malignas de pele. À luz dos prognósticos, analisou-se a adequação pericial dos atendimentos aos portadores dessas doenças, variando da imediata concessão de benefícios à orientação expectante condicionada a agravantes. Enfatizaram-se os benefícios dos conhecimentos atualizados e a sua aplicação de forma moderadora nos pleitos do servidor e do médico assistente. In this literature review were determined epidemiological data confirming the epidemics of skin malignancies in Brazil and other countries, paying attention to underreporting. Were updated clinical cases of basal cell carcinomas, squamous cell and melanoma, specifying their histologic aggravating features (thickness, ulceration and mitotic index) and clinical (lymph node metastasis and at distance). Twenty years survival curves for different stages of melanoma and subgroups of localized disease were collected. Guidelines were presented to follow-up of patients with malignant neoplasms of skin. In light of the prognosis, we analyzed the appropriateness of expert care to patients with these diseases, ranging from the immediate award of benefits up to subject to expectancy orientation depending on emerging aggravating. Benefits of updated knowledge were stressed and its application in a moderator way vis-à-vis the worker demands and his attending physician. Introdução As perícias dos servidores com diagnóstico de carcinoma basocelular (CBC), espinocelular (CEC) e melanoma (MM) detém relevância humana, técnica e científica. Dado a vigência das epidemias dessas neoplasias maligna de pele (NMP), importa conhecer, dentre outros parâmetros, a incidência, prevalência, idade média de acometimento e sobrevivência de cada uma para se programar ar perícias do trabalhador e do aposentado. Torna-se necessário conhecer o quadro clínico das doenças e o impacto dos achados da biópsia excisional, a uma só tempo medida diagnóstica e terapêutica. Em situações especiais, inteirar-se da pesquisa do linfonodo sentinela (LNS), procedimento maiormente diagnóstico. O conhecimento dos prognósticos para cada estágio das doenças permitirá compreender os protocolos de seguimento. No tocante ao MM, detentor de maior potencial maligno, procede focalizar suas fases iniciais, que propicia maior tempo livre da doença e de sobrevivência. Para o CBC e CEC, de menor agressividade, cabe englobar os estágios de prognóstico mais reservados. Dado os direitos legais para o portador de neoplasia maligna incapacitante (afastamento do trabalho por incapacidade laboral, aposentadoria, integralização de vencimentos e isenção do imposto de renda), 1 cabe discutir em que medida o servidor com história de câncer de pele possa ser incluído. Com base na experiência pericial, importa refletir sobre as visões dos médicos pesquisador, assistente e perito sobre as NMP, antes e após medidas diagnósticas de terapêuticas, quais a biópsia excisional e a pesquisa do LNS. Metodologia Revisão de trabalhos clínicoepidemiológicos estruturados por meio de buscas em bases de dados da Biblioteca Cochrane, Medline, Lilacs e CAPES, sob os descritores “skin cancer”, “malignant melanoma” “non-melanoma cancer” “basal cell carcinoma”, “squamous cell carcinoma”, “prognosis”, “early melanoma”, “high-risk” e “aggressive behavior” nos últimos doze anos Resultados Epidemiologia do câncer de pele não melanoma. O CBC e o CEC estão agrupados sob o título CPNM (câncer de pele não melanoma). A despeito de seu impacto para a saúde pública e das altas taxas de incidência, permanece subnotificado pela maioria dos registros de câncer no mundo. No Brasil, figura como o tumor mais incidente em ambos os sexos e é bastante provável que exista um sub-registro devido ao subdiagnóstico (Brasil, 2011). Estimativa do INCA para 2012 assinala que a incidência de casos novos dos CPNM será de 134.170, e os de melanomas, 6.230. Em Portugal, pesquisas oncológicas reproduzem a crescente frequência de neoplasias malignas observadas em todo o mundo (Andrade et al, 2012). Epidemiologia do CBC. Corresponde, no Brasil, a cerca de 80% dos casos de CPNM. Mais comum entre os idosos, está tornando-se frequente em pessoas abaixo de 50 anos (Carucci et al, 2008). É a neoplasia maligna mais comum em pessoas brancas. Sua incidência está aumentando em todo o mundo até 10% ao ano. Embora a mortalidade seja baixa, pois o CBB raramente metastatiza, a doença provoca considerável morbidade e impõe um grande peso aos serviços de saúde em todo o mundo. Ademais, pessoas com essa condição têm alto risco de desenvolver outros basocelulares e outras malignidades (Wong et al, 2003). Indivíduos com CBC tem um risco aumentado em 3 vezes para MM mas sem apresentar risco para outros tipos de câncer. Na população branca da América do Norte, a incidência tem aumentado mais que 10% ao ano, acarretando risco de 30% de desenvolvimento de CBC durante a vida. Com uma crescente população idosa, há previsão da doença tornar-se um grande problema. Quadro clínico e prognóstico do CBC. Para prever o comportamento tumoral e assim melhorar o tratamento, o padrão de crescimento histológico é mais relevante que o tipo de diferenciação (nodular, ulcerativo e infiltrativo). Distingue-se primariamente entre lesões circunscritas e difusas; secundariamente, de acordo com o tipo e grau de diferenciação e profundidade de invasão (especialmente se aderido a estruturas profundas) (Netscher et al, 2011). O acompanhamento é muito importante para detecção precoce de recidiva (quem já teve um CBC tem altas chances – 44% em três anos – de desenvolver um novo tumor primário). A maioria dos tumores recidiva dentro de 5 anos, porém, têm muitas chances de desenvolver novos tumores, devem ser acompanhados por toda a vida, especialmente aqueles com lesões de alto risco ou múltiplas (Terzian, 2009). CBC típicos são indolentes e de lenta progressão. Uma importante, e ainda não explicada, característica é que localmente podem ser extensamente destrutivos, mas tem um potencial muito limitado para metastatizar. A taxa de metástase varia de 0,0028 a 0,55%. Tumores que metastatiza tendem a serem maiores, agressivos localmente, lesões negligenciadas, recorrentes apesar de repetidos tratamentos (Wong et al, 2003). 2 Paciente com CBC tem risco aumentado de desenvolver novos CBC. O risco cumulativo variou entre 33% e 77% (Wong et al, 2003). Epidemiologia do CEC. Pode ocorrer em qualquer faixa etária, com aumento significativo da incidência a partir da quarta década, mais frequentemente após a sexta década de vida, sendo responsável por cerca de 15% das NMP. O risco atual entre brancos é de aproximadamente 15%, quase o dobro daquela de duas décadas atrás. Leva o risco de metástases, respondendo pela maioria das mortes atribuídas aos CPNM (Grossman et al, 2008). Após um diagnóstico de CEC, pacientes tem de 44 a 50% de risco cumulativo de desenvolver outro CPNM (18 % a 30% risco de CEC) nos 3 a 5 anos subsequentes (Grossman et al, 2008). Nos EUA, o risco de CEC durante a vida é de 9 a 14% entre os homens e de 4 a 9% entre as mulheres (Alam et al, 2001).. Quadro clínico e prognóstico do CEC. O principal precursor do CEC é a ceratose actínica. Pacientes com muitas lesões devem ser acompanhadas de perto, de modo que os CEC em evolução possam ser detectados e tratados em boa hora (Alam et al, 2001). O CEC invasivo tem o potencial de recorrer e metastatizar. A taxa de recorrência em cinco anos de lesões cutâneas primárias é de 8%, e a de metástase em cinco anos é de 5 por cento(Alam et al, 2001). Entre os fatores relacionados ao risco estão o tamanho e localização do tumor. Lesões maiores (> 2 cm de diâmetro) recorrem numa taxa de 15%, a qual é duas vezes aquela de lesões menores, e elas metastatizam numa taxa de 30%, três vezes aquelas das pequenas lesões. A taxa de cura em cinco anos nos pacientes com tumores maiores é 70%, independente do tratamento escolhido. CEC dos lábios e orelhas são também lesões agressivas, com taxa de recorrência e metástases variando de 10 a 25%. CEC surgidos em pele danificada ou cronicamente afetada estão associados com um risco de metástase que aproximam de 40 por cento (Alam et al, 2001). Outros aspectos clínicos associados com a recorrência e metástase incluem o crescimento rápido e o local de recorrência do tumor, bem como com a imunossupressão. As características histológicas preditivas de recorrência ou metástase incluem uma profundidade maior que 4 mm, envolvimento da derme reticular ou gordura subcutânea, ou penetração na fáscia, músculos, osso ou cartilagem. CECs pobremente diferenciados recorreram numa taxa de 28.6 %, e a taxa de cura de cinco anos após o tratamento foi de 61.5%; de outro lado, tumores bem diferenciados têm uma taxa de recorrência local de 13.6%, e a taxa de cura de cinco anos de 94.6 % (Alam et al, 2001). A classificação de Broders baseia-se na diferenciação dos queratinócitos: grau I: 75%, grau II: >50%, grau III >25% e grau IV<25%. Sendo expressiva a diferenciação há menor progressão para a malignidade (quanto mais desdiferenciada, maior sua malignidade). A invasão perineural é um achado nefasto. A disseminação neurotrófica resulta do movimento contíguo das células tumorais ao longo das fibras nervosas. A invasão dos nervos pode não ser aparente clinica ou histologicamente até que o tumor esteja extensamente disseminado. Embora a disseminação perineural ocorra em somente 5% dos CECs, ele confere um alto risco de recorrência e metástase. A maioria dos pacientes com invasão perineural morre da doença dentro de cinco anos após a apresentação (Alam et al, 2001). Existe um risco de 30 por cento de se ter um CEC primário dentro de cinco anos após o tratamento do primeiro tumor. Considerando que cerca de 90 por cento das recorrências e metástases ocorrem durante os cinco primeiros anos pós-tratamento, o seguimento durante estes períodos deve ser mantido (Alam et al, 2001). A maioria dos pacientes com CEC primários tem um excelente prognóstico. Para aqueles com doença metastática, entretanto, o prognóstico em longo prazo é extremamente pobre. A taxa de 3 sobrevivência de dez anos é menor que 20% para pacientes com envolvimento linfonodal regional e menos que 10 por centro para pacientes com metástases à distância. Se a metástase ocorre, os linfonodos regionais estão envolvidos em cerca de 85 por cento dos casos; aproximadamente 15 por centos dos casos envolvem sítios distantes, inclusive pulmões, fígado, cérebro, pele e osso (Alam et al, 2001). Em seminário sobre câncer de pele não melanoma, os autores apontam que vários complexos genótipos, fenótipos e fatores ambientais contribuem para a patogênese desses tumores. Indicando que os prognósticos dependem das características da lesão e do hospedeiro apresentaram os fatores que concorrem para um pior prognóstico, na tabela I, a seguir (Madan e Szeimies, 2010). Tabela I - Fatores Indicativos de Pior Prognóstico em Cânceres de Pele – CBC e CEC Subtipos clínicos Tamanho do tumor Profundidade do tumor Local do tumor Subtipo histológico Carcinoma Basocelular Morfético > 5 cm (gigante) Carcinoma Espinocelular ----- + Face central e orelhas Infiltrativo e micronudular Envolvimento perineural ou perivascular ou ambos + > 2 cm > 2 mm* Todas as áreas de radiação, sequela de queimadura, ulcerações, seios da face, inflamação, cicatrizes ou Doença de Bowen, locais não expostos, orelhas, lábios, locais expostos ao sol excluindo lábios e orelha Células fusiformes, acantolítico, desmoplásico Graus de Broders 3 e 4, envolvimento perineural + Aspectos histológicos de agressão Imunossupressão do hospedeiro Lesão recorrente + + Envolvimento de linfonodo + + ou metástase à distância CEC maior que 2,0 mm de espessura, e especialmente os maiores que 6,0 mm, estão associados com o alto risco de metástase e recorrência local. Fonte: Madan e Szeimies, 2010. Epidemiologia do melanoma. Temse observado um expressivo crescimento das taxas de incidência nas populações de fototipos claros em todo o mundo - em função da interação de fatores ambientais, comportamentais e fenotípicos. Segundo o INCA, para 2012 foram estimados 6.230 novos casos no Brasil. O número de mortes registrado em 2008 foi de 1.311 (Brasil, 2013). Representando 3% a 4% da frequência dos cânceres de pele, é o de maior morbidade e mortalidade, sendo responsável por 79% dos óbitos por tumores cutâneos (Almeida et al, 2009). A taxa de incidência brasileira é de 3,47/100.000 habitantes. As maiores taxas encontram-se na região Sul. Afeta principalmente pessoas na faixa etária dos 30 aos 60 anos. A idade média de diagnóstico é por volta dos 50 anos, a qual é 10 a 15 anos mais cedo que a média de idade dos diagnósticos dos tumores mais comuns. A incidência tem apresentado um aumento exponencial entre indivíduos da raça caucasiana em todo o mundo, um aumento de 6% ao ano nos EUA, com 55.100 novos casos anuais. Este aumento já demonstrou que independe dos avanços na acuidade diagnóstica (Almeida et al, 2009). 4 Nos EUA o risco durante a vida de desenvolver um MM invasiva era de 1 em 1500 para pessoas nascidas em 1935, 1 para 600 pessoas para aqueles nascidos em 1960, 1 em 150 pessoas para os nascidos em 1980, e estima-se ser 1 em 62 pessoas nascidas em 2006 (1 em 34 incluindo melanoma in situ). MM teve a maior mudança percentual na incidência de câncer entre as dez maiores localidades (Paek et al, 2008). Quadro clínico e prognóstico do melanoma. Nos últimos anos, devido à detecção precoce, houve uma grande melhora na sobrevida dos pacientes com melanoma. A sobrevida média em 5 anos é de 73% nos países desenvolvidos e de 56% nos países em desenvolvimento (Brasil, 2013). A Sociedade Americana de Câncer prevê 137.990 novos casos em 2013 – 61.300 não invasivos (in situ) e 76.690 invasivos (ACS, 2013). Na apresentação inicial, cerca de 85 % dos pacientes tem doença localizada (estágios I e II), 10% têm doença metastática regional e 5% tem doença metastática à distância (Paek et al, 2008). Na Nova Zelândia, país com maior incidência de MM no mundo (97,7/100.000 habitantes), 64% dos casos são diagnosticados com espessura menor que 0.76 mm e apenas 7% com espessura acima de 3 mm, projetando um alto índice de cura (Almeida et al, 2009). Melanomas finos (<1 mm de espessura Breslow) respondem por aproximadamente 70 % de novos casos. Estadiamento para melanoma localizado (estágios I e II). A base de dados do grupo de estadiamento do melanoma da AJCC (American Joint Committee on Cancer) inclui dados prospectivamente acumulados de mais de 27.000 pacientes em estágio I e II. Dados de sobrevivência de cinco e dez anos baseados na classificação TNM varia de 97 a 93% para pacientes com melanoma T1aN0M0, a 53% e 39% respectivamente para pacientes com T4bN0M0 (Balch et al. 2009). Expõem-se a seguir trechos adaptados de Balch CM et al. (Final version of 2009 AJCC melanoma staging and classification. J Clin Oncol. 2009), expressivo estudo multicêntrico que apresentou recomendações de estadiamento com base em análise de 30.946 paciente com melanoma em estágios I, II e III e 7.972 paciente com estágio IV da doença para fins de revisar e clarificar a classificação TNM e os critérios de agrupamento por estágios. Ao final deste tópico, constam duas figuras com curvas de sobrevivência por vinte anos para categorias do tumor e subgrupos de melanoma localizados. Espessura do tumor primário. Os limites das categorias de espessura do melanoma são definidos em números inteiros (1.0, 2.0 e 4.0). Conforme aumenta a espessura do tumor, existe um significante declínio nas taxas de sobrevivência dos 5 e 10 anos. Entre os pacientes com melanoma T1 (≤ 1.00 mm de espessura), a sobrevivência de 10 anos foi de 92%, enquanto foi de 80% nos pacientes T2 com melanoma 1.01 a 2.00 mm de espessura, 63% nos pacientes com estágio T3 com melanomas 2.01 a 4.00 de espessura, e 50% nos pacientes com melanomas maiores de 4.00 mm de espessura. Ulceração do tumor primário. Recomenda-se o uso da condição da ulceração na definição das categorias TNM e grupos de estadiamento. As taxas de sobrevivência de pacientes com melanomas ulcerados são mais baixas que aquelas dos pacientes sem ulceração da categoria T equivalente. São, entretanto, notavelmente similares àquelas dos pacientes com MM não ulcerado da próxima categoria mais elevada. Índice mitótico do tumor primário. A proliferação do melanoma primário medida pelo índice mitótico é preditor independente de sobrevivência. Ele integra às exigências do sistema de estadiamento. A correlação mais significativa com a sobrevivência é o limite de 1/mm2. Existe correlação altamente significativa entre o seu aumento e o declínio nas estatísticas de sobrevivência. Entre os melanomas localizados, é o segundo preditor mais expressivo, após a espessura tumoral. Definindo melanoma T1. Embora os melanomas de 1 mm ou menos de espessura 5 constituam um grupo de bom prognóstico, encontrou-se que o resultado da sobrevivência de 10 anos foi variável, oscilando entre 85% a 99%, dependendo da presença de características secundárias de índice de mitose e ulceração tumoral. Numa análise multivariada de 4.861 melanomas T1, a espessura tumoral, a taxa de mitose, e ulceração foram os preditores mais potentes para a sobrevivência de pacientes com melanoma T1. O índice de sobrevivência de 10 anos foi 95% para melanomas T1 não ulcerados com um índice mitótico menor que 1/mm2 e caía para 88% se este índice era ao menos 1/mm2. Os melanomas T1a (aproximadamente 60% dos pacientes da base de dados) estarão restritos àqueles que encontram os três seguintes critérios: ≤1.0 mm de espessura, ausência de ulceração, e índice mitótico menor que 1/mm2. Melanomas T1b (aproximadamente 40% do paciente T1) são definidos como aqueles cuja espessura tumoral seja ≤1.0 mm e que tenha ao menos uma mitose por mm quadrado ou ulceração tumoral. Os estágios patológicos 0 (tumor in situ) ou estágio IA (tumor com espessura < 1.00, sem ulceração tumoral e mitoses < 1/mm2) não requerem avaliação patológica dos linfonodos. Estadiamento para melanoma metastático regional (estágio III). A base de dados para estadiamento do melanoma contém 3.037 pacientes em estágio III que tinham informações para definir estágio, cuja vasta maioria apresentou com micrometástases identificadas por biópsia do NLS e completa linfadenectomia. O número de nódulos afetados pelo tumor, a carga tumoral (i.e., microscópico versus macroscópico), a presença ou ausência de ulceração tumoral primária, e espessura do melanoma primário foram os fatores preditivos mais independentes para a sobrevivência destes pacientes. Detecção imunohistoquímica de metástases. Com a crescente disponibilidade de corantes imunohistoquímicos, é possível a detecção consistente de nódulos metastático em nível microscópico consistindo de agregados de somente poucas células. O corante somente será aceito se o diagnóstico estiver baseado em ao menos um marcador associado ao melanoma (eg, HMB45, Melan-A/MART1) e as células tenham características morfológicas malignas que possam ser detectadas no tecido corado. O Comitê recomenda que a biópsia no LNS seja feita como um procedimento de estadiamento em pacientes para os quais a informação seja útil no planejamento de tratamento e regime de seguimento. Especificamente, deve ser recomendado para melanomas T2, T3, e T4 (espessura de 1.012.0, 2.01-4.00 e >4.00 mm) e nódulos linfáticos regionais clinicamente não envolvidos. Evidências sugerem que melanomas T1 com um índice mitótico ≥ 1/mm2 e uma espessura ≥ 0.76 mm estão associado com um risco aproximado de 10% de risco de metástase oculta nos seus NLS. Estes dados podem ser úteis para a discussão das indicações para a biópsia de NLS para estadiamento de pacientes individuais com melanoma T1b. O Grupo Brasileiro de Melanoma adotou 0,76 mm de profundidade de índice de Breslow como fator determinante para realização da biópsia do LNS, procedimento que ajuda na determinação do prognóstico da doença. A positividade do NLS, por biópsia ou punção, enquadra o paciente no estágio clínico III e estágio patológico IIIA da doença. O estágio III tem taxa de recorrência significativamente maior do que com o LNS negativo (15,5 vs 6.0 %) (Paek et al, 2008). O melanoma tipicamente recorre de um modo previsível, primeiro numa distribuição local e regional, depois para sítios distantes. Também ocorre que o MM possa contornar os nódulos regionais com disseminação hematogênica direta. A vasta maioria de recorrências manifesta nos primeiros 1 a 5 anos após o diagnóstico e tratamento, dependendo da espessura tumoral e outros fatores prognósticos da lesão primária (Paek et al, 2008). 6 As figuras A e B abaixo retratam curvas de sobrevivência das diversas categorias do tumor (T) e os subgrupos para os estágios do melanoma localizado (I e II). Estágio clínico IIB: espessura 2.01 4.00 com ulceração ou espessura > 4.00 sem ulceração. Estágio clínico IIC: espessura > 4.00 com ulceração Figura A - Curva de sobrevivência para estágios do melanoma cancerígeno comparando diferentes categorias do tumor (T) as Fonte: BALCH, et al. 2009, adaptado. Figura B - Curva de sobrevivência para estágios do melanoma cancerígeno comparando agrupamentos de melanomas de estágios I e II. Fonte: BALCH, et al. 2009, adaptado. Estágio clínico IA: tumor com espessura ≤ 1,00mm, sem ulceração e índice mitótico < 1/mm2. Estágio clínico IB: espessura ≤ 1,00mm com ulceração e/ou índice mitótico ≥ 1/mm2 ou espessura 1 - 2.00 sem ulceração. Estágio clínico IIA: espessura 1.01 2.00 com ulceração ou espessura de 2.01 – 4.00 sem ulceração. Discussão e Conclusões Papel da saúde pública. A identificação de fatores de risco e da doença em seu estágio inicial e o ágil encaminhamento para o atendimento especializado dá à Atenção Básica um caráter essencial para um melhor resultado terapêutico e prognóstico dos casos. À exemplo da efetividade das políticas de saúde na mulher, como a prevenção de câncer de colo uterino, as neoplasias maligna de pele reclamam precoce intervenção. Felizmente, o diagnóstico das formas iniciais vem crescendo. Em consequência, maiormente pelo emprego da biópsia excisional, se interrompe a história natural da doença e advém um curso clínico modificado. Crescem as possibilidades de retirada do tumor em fase prematura, antes de, em nível histológico, se desencadear linhagens celulares mais agressivas. Protocolos de acompanhamento. Os casos de câncer de pele submetidos à exérese tumoral com finalidade curativa merecerão um tempo de observação clínico-pericial antes da concessão do benefício. O acompanhamento é necessário para monitorar a recorrência ou persistência do tumor e a presença de novas lesões. Os pacientes seguem protocolos de vigilância para cada tipo de tumor, preconizados pelas sociedades de especialistas e comissões acreditadas. Neste artigo levantaram-se algumas dessas recomendações. Os achados aqui apresentados demonstram a importância de se conhecer as evidências atinentes ao estágio clínico do periciando. Com efeito, as patologias enfocadas podem apresentar remissão ou metástase. Enquanto a primeira, incidente no mesmo sítio primário, pode receber um tratamento pericial similar ao da lesão 7 primária, a última costuma impor pior prognóstico. Conforme diretrizes comumente aceitas, pacientes que têm história de câncer de pele não melanoma (CPNM) ou que tenham condições predisponentes devem ser avaliados um ou duas vezes ao ano. Para pacientes de baixo risco pode ser examinado a cada 18 ou 24 meses. O seguimento dos pacientes com melanoma depende, basicamente, da espessura do tumor, da presença de nevos atípicos e do estádio da doença. Pacientes com lesões de até 0,76 mm de espessura e estádio I devem ser acompanhados a cada 6 meses durante o primeiro ano e a cada 12 meses nos anos subsequentes. Aqueles que apresentaram lesões de 0,76 a 1,49 mm ou que apresentaram tumores entre 1,5 a 4,0 mm, com um estádio II da doença devem ser acompanhados a cada 4 meses nos três primeiros anos e a cada 12 meses nos anos subsequentes, sendo necessária a realização de radiografias torácicas de controle anuais para os dois últimos. As recomendações do acompanhamento clínico dos estágios I e II são de exame físico a cada 3 meses nos primeiros 2 anos; após, a cada 6 meses até o quinto ano. Radiografia simples de tórax e dosagem de DHL a cada 6 meses nos primeiros 2 anos; após, anualmente até 5 anos - Após o quinto ano, apenas exame físico anual. No geral, após 5 anos, todos os pacientes devem ser seguidos em um programa anual - a menos que tenham nevos displásicos, casos que recomendam consultas a cada 6 meses. O risco de um segundo tumor primário aumenta significativamente nos pacientes com nevos displásicos e história familiar de melanoma. O exame anual deve continuar por pelo menos 10 anos (mas provavelmente para toda a vida) porque as recidivas tardias surgem em aproximadamente 3% dos pacientes. Visões específicas. O conjunto de evidências disponíveis num determinado momento, embora não retrate o eventual desfecho de toda evolução clínica, é suficiente para a formulação da decisão pericial. Espécie de corte vertical, volta-se para estado atual do curso clínico e a sua base de análise é sobretudo a capacidade laboral. A análise do pesquisador é mais extensa, longitudinal, levando em conta possíveis intercorrências descritas nos estudos de larga escala. Assim, o paciente com história de melanoma estágio I, para efeitos estatísticos, será sempre citado como tal. A visão laboral e a científica não são contraditórias. Atendem a razões distintas. Por sua parte, o médico assistente, solidário, pode emitir parecer favorável à obtenção de benefício, deixando entrever a hipótese de estágio mais avançado da doença Do mesmo modo, o assistente pode suscitar a apreciação da isenção do imposto de renda para uma pessoa idosa. Atento e humilde cabe ao perito solicitar circunstanciado relatório e comprovação. A maior demanda gastos se dá em estágios avançados e incapacitantes da doença e não das limitações decorrentes da provectude em si. Destoante que, ao abrigo da concessão de direitos para o portador de neoplasia maligna incapacitante, o portador de um câncer de pele em fase inicial, com estimativa de longos períodos livres da doença e reais chances de cura, fosse a ele equiparado. De outro lado, por último, mas não menos importante, cabe à perícia definir no momento admissional as condições laborais das pessoas que tiveram história de neoplasias malignas de pele. Referências ALAM M; RATNER D. Cutaneous squamous-cell carcinoma. 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Secretaria de Assistência à Saúde. Portaria Nº 357 de 8 de abril de 2013. Anexo - Diretrizes diagnósticas e terapêuticas do melanoma maligno cutâneo. CARUCCI JA, LEFFELL DJ. Basal cell carcinoma. In: Wolff K et al. Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine. 7th ed. New York: McGraw-Hill; 2008. GROSSMAN D, LEFFEL DJ. Squamous cell carcinoma. In: Wolff K et al. Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine. 7th ed. New York: McGraw-Hill; 2008 MADAN V; LEAR JT; SZEIMIES RM. Non-melanoma skin cancer. Lancet; 375(9715):673-85, 2010 Feb 20. NETSCHER DT et al. Cutaneous malignancies: melanoma and nonmelanoma types.Plast Reconstr Surg;127(3):37e-56e, 2011 Mar. PAEK SC et al. Cutaneous melanoma. In: Wolff K et al. Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine. 7th ed. New York: McGraw-Hill; 2008. TERZIAN, RL. Carcinoma Basocelular. In: Ramos-e-Silva M, Castro MCR. Fundamentos da Dermatologia. 1ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Atheneu. 2009. WONG CS; STRANGE RC; LEAR JT. 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