O teatro contra o espetáculo? (parte 2) 1 Uma análise do espetáculo Bom Retiro 958 metros realizado pelo Teatro da Vertigem Antonio Luiz Gonçalves Junior 2 Resumo A partir das análises efetuadas por Guy Debord e Helga Finter, este estudo visa refletir sobre a possibilidade da arte em resistir aos processos hegemônicos operados pela cultura do espetáculo, especialmente no que diz respeito ao excesso das imagens que circulam, responsáveis, em sua medida, pelo enfraquecimento da capacidade de simbolização. Para isso, serão examinados alguns aspectos da execução do espetáculo Bom Retiro 958 metros, realizado pelo Teatro da Vertigem, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, entre 2012 e 2013. Palavras-chave: cultura e sociedade do espetáculo; teatro; dramaturgismo; processos de criação; experiência estética; teatralidade crítica; espaço urbano. 1 Esta "parte 2" indica a continuação de uma análise anterior com o mesmo título que teve como objeto de estudo a intervenção artística Cidade Submersa, realizada pelo Teatro da Vertigem, em 24 de junho de 2011, no terreno baldio onde existiu a antiga estação rodoviária da cidade de São Paulo, no bairro da Luz. A intervenção visou dar visibilidade aos aspectos escondidos e “submersos” da cidade por meio da criação de um ambiente arqueológico e, assim, propiciar uma experiência sensorial, lúdica e afetiva aos participantes que pudesse estimular possíveis reflexões acerca da complexidade e dinâmica dos processos urbanos e da vida na metrópole. 2 Mestre em Comunicação e Mercado e pesquisador do Grupo de Pesquisa da Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo da Faculdade Cásper Líbero. No campo das artes é ator, diretor e dramaturgista (Antonio Duran), pós-graduado em Fundamentos da Cultura e das Artes pela UNESP (IASP). Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Da perspectiva do dramaturgismo (dramaturg), função inscrita no processo de criação da obra teatral que tem, entre suas tarefas, encarregar-se da pesquisa conceitual e "alimentar" as demais áreas criativas, assim como exercitar o olhar crítico sobre o próprio processo de criação, este estudo visa refletir sobre a possibilidade de resistência da arte aos processos hegemônicos operados pela cultura do espetáculo. Especialmente no que diz respeito à proliferação e ao excesso das imagens que circulam, responsáveis pelo enfraquecimento da capacidade de simbolização, entendida como uma ação reflexiva dentro da experiência capaz de ressignificá-la. As análises e prognósticos realizados por Guy Debord sobre a lógica de operação da sociedade de sua época continuam sendo uma ferramenta eficaz, que ajuda a distinguir certas peculiaridades de funcionamento da cultura do espetáculo na contemporaneidade, particularmente o que Debord denominou de "Espetacular Integrado", posteriormente aos modelos de "Espetacular Concentrado" e "Espetacular Difuso". O espetacular integrado se manifesta como concentrado e difuso e, desde essa proveitosa unificação, conseguiu usar mais amplamente os dois aspectos. O anterior modo de aplicação destes mudou bastante. No lado concentrado, por exemplo, o centro diretor tornou-se oculto; já não se coloca aí um chefe conhecido, nem uma ideologia clara. No lado difuso, a influência espetacular jamais marcara tanto quase todos os comportamentos e objetos produzidos socialmente. Porque o sentido final do espetacular integrado é o fato de ele ter se integrado na própria realidade à medida que falava dela e de tê-la reconstruído ao falar sobre ela. Agora essa realidade não aparece diante dele como coisa estranha. Quando o espetacular era concentrado, a maior parte da sociedade periférica lhe escapava; quando era difuso, uma pequena parte; hoje, nada lhe escapa. O espetáculo confundiu-se com toda a realidade ao irradiá-la. Como era teoricamente previsível, a experiência prática da realização sem obstáculos dos desígnios da razão mercantil logo mostrou que, sem exceção, o devir-mundo da falsificação era também o devir–falsificação do mundo. (Debord, 1997:173) Para Debord não é possível distinguir entre o que é a realidade espetacular e a atividade social efetiva, uma vez que "a realidade vivida é materialmente invadida pelacontemplação do espetáculo e retoma em si a ordem espetacular à qual adere de Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 forma positiva." (...) "a realidade surge no espetáculo, e o espetáculo é real. Essa alienação recíproca é a essência e a base da sociedade existente" (Dedord, 1997:15). Esta impossibilidade de discernimento dificulta o acesso às camadas mais próximas do acontecimento real, e por sua vez do seu significado, visto que a proliferação das imagens e, geralmente, a explicação que vem junto com elas banalizam e naturalizam seu sentido, podendo provocar certa apatia da sensibilidade. O que poderia ser dito, de outro modo, nas palavras de Debord: "À medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho se torna necessário. O espetáculo é o sonho mau da sociedade moderna aprisionada, que só expressa afinal o seu desejo de dormir. O espetáculo é o guarda desse sono". (Debord, 1997:19). Para Guy Debord, vive-se uma vida adormecida, uma pseudo-vida que aceita reconhecer-se nas imagens dominantes, e quanto mais isso se dá, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo. (Conf. Debord, 1997:24) Desse ponto de vista sobre a sociedade contemporânea, em seu domínio espetacular integrado, que este estudo pretende mapear e refletir, a partir de três dimensões da execução do espetáculo Bom Retiro 958 metros, realizado pelo Teatro da Vertigem no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, como o domínio das artes, em particular o teatro, o espaço da ficção e representação, pode se relacionar com o espaço da realidade espetacular. Essas três dimensões referem-se, primeiramente, a fase anterior à estreia do espetáculo, ao seu processo de criação, em especial o momento dos exercícios de experimentação, ensaios, improvisações e workshops3 no bairro, que na sua fase mais intensa teve uma duração aproximada de 13 meses. Numa segunda dimensão, a partir da estreia do trabalho, o momento da experiência do espectador quando a cena acontece. Por fim, em sua dimensão após o término da temporada de aproximadamente 10 (dez) meses, depois que o grupo de teatro partiu do bairro, o que totalizou cerca de 02 (dois) anos entre o início dos ensaios mais intensos e o final da temporada. 3 Workshops são cenas mais completas ou mais acabadas do que as improvisações dos atores como uma resposta a temas ou perguntas propostas durante os ensaios. Estas experimentações dos atores/performers se estendem a todas as áreas de criação. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Incisões na realidade espetacular? A hipótese mais geral é que nessas três dimensões ocorreram operações que efetuaram incisões na realidade espetacular. Primeiramente, durante o processo de criação, especialmente em sua etapa de pesquisa de campo e pesquisa prática, tentou-se estabelecer contato com situações que pudessem revelar e aprofundar algum tipo de leitura da complexidade do bairro. Nesse sentido, a investigação levou o grupo a acessar certa realidade objetiva ligada às condições materiais de produção da vida do bairro, como por exemplo: as visitas realizadas nas oficinas de costura que prestam serviços ao comércio e a indústria de produtos têxteis e que se utilizam de mão de obra de trabalhadores bolivianos; os laboratórios de observação do consumo de "crack", nas ruas da região do bairro da Luz; assim como as vivências no agitado ambiente comercial das ruas do Bom Retiro. Desse modo, pode-se entender tais atividades como uma operação de incisão na camada mais superficial da realidade espetacular que, ao mesmo tempo que possibilitou o envolvimento do grupo com certo tipo de atividade social efetiva, tais atividades transformavam-se em material sensível para a elaboração de improvisações e micro-cenas dos atores, onde grande parte era realizada nos mais diversos espaços espalhados pelo bairro. Uma operação que inseria e, simultaneamente, friccionava as subjetividades da equipe de criação, especialmente dos atores, diretamente com as circunstâncias da realidade viva do bairro. Um espaço urbano que servia como espaço de ensaio onde se exercitava teatralmente formas e conteúdos que diziam respeito à realidade "sombria" do bairro, em especial àquela menos visível na vida diurna do bairro. Trabalho esse, que acabou por constituir parte significativa do substrato dramatúrgico que compôs o espetáculo. Em outra dimensão, após a estreia do espetáculo, no que diz respeito ao momento da cena, em especial quanto a experiência do espectador, este acompanhava por quase um quilômetro a sequência das cenas do espetáculo que foram distribuídas por três espaços do Bom Retiro (um centro comercial, shopping center4, a rua e um teatro5 abandonado e 4 Lombroso Fashion Mall Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 deteriorado). Esta deambulação cênica pelo bairro fazia com que o espectador tivesse que discernir de dentro de sua experiência entre o que era o espaço-tempo da ficção e o espaço-tempo da realidade do bairro. Um modo de incisão na realidade espetacular que se dava por meio de uma vivência limítrofe entre o real e a ficção, e por isso diversa da cotidiana, que produzia certo tipo de deslocamento da percepção, especialmente na rua, uma vez que o espetáculo era também uma intervenção que abdicou de exercer um controle sobre o espaço. Isto é, a intenção do trabalho foi instaurar diretamente a materialidade da cena na materialidade da vida do bairro sem que houvesse o isolamento do espaço da rua6 para que a cena acontecesse ou para que o público acompanhasse7. O que colocava o espetáculo a mercê de todo tipo de acontecimento inerente a vida do bairro, seja do maior fluxo de ônibus às sextas-feiras, em que muitas vezes paravam ou diminuíam a velocidade em atenção à cena, ou dos trabalhadores noturnos e taxistas do bairro que se tornavam espectadores assíduos, ou mesmo a reação de pessoas que chegaram a atirar ovos na cena, como também, frequentemente, transeuntes ou até famílias inteiras que se incorporavam ao público e passavam a acompanhar a peça. Em um outro momento, numa dimensão mais ampla desta produção artística, após o término da temporada, é possível pensar também num outro tipo de incisão que o trabalho operou. Uma intervenção no campo das forças simbólicas constitutivas do Bom Retiro, em particular no que diz respeito à interferência no significado do Teatro TAIB e do ICIB (Casa do Povo), um teatro e centro cultural ligados à comunidade judaica progressista, que após se constituírem como espaços de ensaio e do próprio espetáculo, passaram a ser alvo de maior atenção da comunidade, e que atualmente vivem um processo de retomada de suas atividades em ampla campanha de restauração 8. Tanto para a recuperação do teatro, como para tornar a Casa do Povo um espaço cultural que 5 Teatro TAIB (Teatro de arte israelita brasileiro), inaugurado em 1960, instalado no edifício do Instituto Cultural Israelita Brasileiro, também conhecido como Casa do Povo, construído em 1953, marcando o fim da Segunda Guerra e também em homenagem aos judeus mortos no Holocausto. 6 O máximo de controle exercido, se podemos falar assim, foi certo direcionamento antecipado para que os carros diminuíssem a velocidade em dois cruzamentos. 7 Anexo I - Fotos (a), (b), (c), (d), (e) e (f) 8 Anexo II - Matéria Folha de São Paulo - 10 Agosto de 2013 Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 abrigará manifestações da arte contemporânea. Desta forma, temos uma incisão que interveio no campo simbólico e que tem gerado uma consequência real. Uma teatralidade crítica? Diante do levantamento desses diferentes momentos na realização do espetáculo Bom Retiro 958 metros, em que é possível identificar situações que operaram certo tipo de incisão nas camadas da realidade espetacular, o momento da experiência do espectador será privilegiado, uma vez que parece condensar em si elementos mais discerníveis para se pensar um tipo de operação que possibilitaria colocar à prova a espetacularização da vida cotidiana. Para isso, a ideia de uma teatralidade analítica e crítica, discutida por Helga Finter9, servirá como referencial teórico. Utilizando-se também do conceito de "Espetacular Integrado", de Guy Debord, para pensar o que pode o teatro numa sociedade que se tornou a abrangência do próprio teatro em sua dimensão espetacular, ela analisa a cena contemporânea alemã no início do século XXI, em especial os trabalhos teatrais da geração de artistas mais recente, entre eles os integrantes do selo Rimini Protokoll e Christoph Schlingensief, e estabelece algumas distinções entre o que seria a teatralidade do campo estético e do campo cotidiano. Ela destaca que a teatralidade do campo estético, em vez do caráter afirmativo do espetáculo que confirma o espectador no seu imaginário, ela permite a este uma crítica da sociedade do espetáculo, já que o espectador não só pode fazer nela a experiência de seu desejo de olhar, como também - graças à dialética cênica entre presença e ausência - pode experimentar o pacto performativo e o horizonte de discursos. Na mesma direção que Debord, para Finter a realidade espetacular se dá como natureza, contudo, acrescenta, "o espetáculo não é consciente de sua teatralidade", e "o teatro, por outro lado, procede dela conscientemente por seu pacto simbólico constitutivo do "como se". Instaura um diálogo com o ausente da imagem, uma dialética entre presença e ausência". (Finter, 2003). Citando as teorias francesas, em particular de Roland 9 Professora de teoria, estética e história do teatro no Instituto de Artes Cênicas Aplicadas de Giessen, na Alemanha. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Barthes sobre punctum, Finter refere-se à dialética cênica entre presença e ausência para instituir uma concepção diferente de teatralidade. Nesta operação seria possível nascer uma teatralidade analítica e crítica "diante de uma teatralidade convencional, da realidade espetacular, que reflete apenas passivamente o olhar do meio. (Cf. Finter, 2003). Uma teatralidade crítica que operaria certo tipo de códigos sensoriais que desestabilizaria os sentidos e que tornariam incertas as atribuições do que é familiar (heimlich) e do que é sinistro (unheimlich). Em Bom Retiro 958 metros, essa desestabilização dos sentidos é possível ser pensada antes mesmo do início da peça quando o público se deslocava do ponto de encontro, a Oficina Cultural Oswald de Andrade, até o lugar onde começava o espetáculo, na rua Prof. Cesare Lombroso, 259. No programa da peça10, que o público recebia no ponto de encontro, havia um pequeno mapa 11 onde indicava o lugar do início do espetáculo para o qual as pessoas tinham a opção de se deslocar livremente12. Muitos, e dos mais variados, foram os relatos daqueles que tiveram que discernir, durante o percurso pela rua, o que fazia ou não fazia parte da peça, mesmo não havendo nenhum tipo de proposição cênica: um grafite num muro, um catador de lixo que trabalhava, um amontoado de lixo em algum canto da rua, a presença de taxistas, seguranças ou vigias das lojas, algum odor mais acentuado, um carro com o som mais alto que passava etc. Nesta situação, deslocado de um lugar familiar de uma teatralidade convencional, de um estado mais seguro e confortável de uma experiência que estaria sob o controle da peça, estabelecia-se para o espectador uma condição de estranhamento que lhe solicitava um discernimento, uma operação de reflexão dentro da experiência capaz de significá-la como realidade ou ficção. Desta forma, é possível pensar que nesse estado se opera uma desestabilização dos sentidos, um outro regime deslocado da percepção do cotidiano promovido pela iminência de uma fruição estética que ao mesmo tempo abre uma 10 ver anexo III ver anexo IV 12 Esse procedimento proposto ao público foi inspirado a partir das práticas do movimento da Internacional Situacionista, em particular a Deriva, que foi utilizado pelo Teatro da Vertigem como método de pesquisa do espaço urbano. A Deriva como técnica de passagem rápida por ambiências variadas para o reconhecimento dos efeitos de natureza psicogeográfica e à afirmação de um comportamento lúdico-construtivo. (Cf. Debord, 2003:87) Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 11 condição de possibilidade para o espectador decidir olhar conforme seu desejo, inclusive de teatralizar conscientemente o que vê e experimenta. Como aponta Finter, um olhar provocado pela experiência da teatralidade do campo estético e que o espectador tem a opção de efetuar um pacto simbólico ao decidir reconhecer, dentre as mesmas imagens e acontecimentos com os quais ele se depararia na realidade espetacular cotidiana, o que seria a ficção, o teatro, e o que não seria, configurando assim, uma espécie de jogo em que o espectador, a partir da dúvida gerada pelo estranhamento, opta por assumir a teatralização da imagem ou do acontecimento. Uma operação que traz em si um reconhecimento da linguagem da representação, isto é, da própria lógica de funcionamento da cultura espetacular. Segundo Finter, esta teatralidade do campo estético se distingue da teatralidade do cotidiano, da realidade espetacular e, que a partir dela, pode-se pensar num olhar teatral que decodificaria e separaria dois espaços distintos: o espaço potencial da arte e do teatro, e o campo da realidade social, o que constituiria seu potencial crítico. A possibilidade de nascer uma teatralidade crítica se sustentaria a partir do deslocamento de um olhar inocente e apático que, ao invés de aceitar reconhecer-se nas imagens dominantes, as transforma num "teatro íntimo", que ressignifica e desnaturaliza as imagens e os acontecimentos da realidade espetacular a partir de uma outra relação do espectador com seu imaginário. Desse mapeamento, portanto, de possibilidades de incisões na realidade espetacular que a realização do espetáculo Bom Retiro 958 metros efetuou, em particular nesta chave de uma experiência estética crítica-construtiva, que este estudo pretende continuar investigando modos de resistência da arte aos processos hegemônicos da cultura espetacular. Até o momento, esta análise parece apontar na direção de que quanto mais se sabe que a vida é teatro, mais possível se torna sua crítica. O conhecimento das estruturas teatrais ficcionais presentes na "fabricação" da realidade espetacular possibilitaria uma relação mais autônoma e crítica do espectador com seu imaginário e, consequentemente, com a realidade. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Referências DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo – Comentários Sobre a Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Ed. Contraponto, 1997. __________ . Teoria da deriva (1958). In: JACQUES, P. B. (Org.). Apologia da Deriva: Escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, p. 87-91. FINTER, Helga. A teatralidade e o teatro - espetáculo do real ou realidade do espetáculo? Notas sobre a teatralidade e o teatro recente na Alemanha. Teatro Al Sur, nº 25, out. 2003. Tradução autorizada para o evento Próximo Ato 2007, promoção Itaú Cultural, São Paulo, SP. Disponível em http://www.itaucultural.org.br/proximoato/pdfs/teatro%20coletivo%20e%20teatro%20politico/helga_fint er.pdf - Acesso em 20 de novembro de 2013 Todas as fotografias foram realizadas por Flavio Morbach Portella Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Anexo I - Fotos (a) e (b) Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Anexo I - Fotos (c) e (d) Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Anexo I - Fotos (e) e (f) Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Anexo II Folha de São Paulo SÁBADO, 10 DE AGOSTO DE 2013 Casa do Povo, 60, volta à cena cultural Centro cultural no Bom Retiro, que abrigava escola de primeiro grau e teatro, teve seu auge nos anos 1960-1970 Projeto para reforma do edifício modernista, na rua Três Rios, foi oferecido de graça pelo arquiteto Isay Weinfeld IARA BIDERMANDE SÃO PAULO No bairro povoado desde sempre por imigrantes, o prédio de fachada modernista pode passar batido pelos que frequentam o Bom Retiro em busca de roupas baratas vendidas no atacado. Dentro do edifício, que completa 60 anos neste mês, a história é outra. Gente que viveu a época de ouro do lugar --onde funcionava uma escola, um teatro e um centro de cultura-- e pessoas que não viveram nada daquilo batalham para ocupar o local. A Casa do Povo, nome de guerra do Instituto Cultural Israelita Brasileiro, foi criada por imigrantes judeus progressistas e de várias correntes de esquerda que se estabeleceram no Bom Retiro a partir da Primeira Guerra. O auge do centro foram as décadas de 1960-1970 e a decadência, os anos 1980. Uma foto do prédio degradado postada no Facebook, há cerca de três anos, foi a deixa para que ex-alunos do Scholem Aleichem, a escola da Casa do Povo, voltassem ao local e iniciassem o projeto de revitalização. "Primeiro, tivemos que sanear financeiramente. Agora, a coisa ganhou vida, começou a pulsar de novo", diz o neurologista Jairo Degenszajn, presidente do conselho deliberativo da Casa do Povo. A ajuda surge de vários lados. O projeto de reforma do prédio está sendo feito gratuitamente pelo arquiteto Isay Weinfeld. O francês Benjamin Serousse, que foi curador do Centro de Cultura Judaica, soube do trabalho e juntou-se voluntariamente ao conselho. Serousse tem usado seus contatos na área cultural para atrair parceiros e atenção ao centro. Em 2012, o Teatro da Vertigem estreou "Bom Retiro 958", peça ensaiada no local e que acabava no cenário de um teatro em destroços: o Taib, da Casa do Povo. Grupos de dança começaram a usar o espaço para residência artística. Um deles, o Lote#2, que entrou para o projeto Rumos, do Itaú Cultural, fez sua apresentação do projeto lá, em junho. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 O enorme salão onde o grupo se apresentou, antigamente dividido em salas de aula, ganhou pintura nova e extintores de incêndio patrocinados pelo banco. Em julho, a Feira de Arte Impressa Tijuana reuniu mais de 50 expositores no prédio. Novas parcerias também alimentam o projeto de revitalização, diz Mila Zacharias, da Anamauê, empresa de produção e consultoria em artes que também se uniu voluntariamente ao grupo. Uma dessas parcerias, com a Bienal de Arquitetura e o Instituto Goethe, vai levar os expositores alemães da bienal para as salas da Casa do Povo, em outubro. VANGUARDA As origens do instituto cultural são anteriores à construção do prédio, projeto de Mange, Martins e Engel. Pai da Casa do Povo, o Centro Cultura e Progresso realizou, por exemplo, a primeira exposição de HQ no Brasil, em 1951, que contou com originais de autores como Alex Raymond ("Flash Gordon") e Al Capp ("Ferdinando"). A escola Scholem Aleichem, outra iniciativa do grupo, foi fundada em 1934, com uma proposta pedagógica vanguardista para a época. O teatro Taib veio depois. Projetado pelo arquiteto Jorge Wilheim, foi inaugurado em 1960. Naquela década e na seguinte, a atividade cultural e política era intensa. Nos anos 1980, por razões que vão do êxodo da comunidade judaica do bairro ao isolamento ideológico das esquerdas, a atividade minguou, a escola fechou e o centro se esvaziou. Na boa fase atual, os 60 anos da Casa do Povo serão comemorados nos dias 23 e 24 com seminários e debate com a urbanista Raquel Rolnik sobre as necessidades culturais da cidade. "A região voltou a entrar no circuito cultural de São Paulo, mas faltam espaços menos tradicionais. A Casa do Povo ressurge em boa hora", diz Degenszajn. Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Anexo III Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013 Anexo IV Grupo de Pesquisa da Comunicação e Sociedade do Espetáculo II Seminário Comunicação e Cultura na Sociedade do Espetáculo Faculdade Cásper Líbero – 18 e 19 de outubro de 2013