EDITORIAIS :: CORREIO BRAZILIENSE (DF) :: OPINIÃO :: 4/9/2011 No caminho certo » Maurício Corrêa Quem enfrenta uma disputa qualquer sabe que pode ganhar ou perder. O conceito se aplica às competições que em geral se travam por aí, destinadas a saber quem serão os vencedores. Há dezenas de eventos desportivos de grande repercussão internacional que se organizam no país objetivando conhecer os campeões das categorias disputantes. Como essas disputas, pode-se dizer que quase tudo que gravita em torno dos homens se reduz a ganhar ou perder. Na política, especialmente, as lutas entre contendores se resumem a vencer ou a perder. Na Justiça, as partes sempre esperam ganhar as causas levadas à apreciação dos juízes. No plano internacional, não sendo possível a solução de conflitos entre nações por via diplomática, recorre-se às armas. É o que sucedeu com a Segunda Guerra Mundial, que foi deflagrada porque Hitler invadiu e ocupou países livres da Europa, como fez com a Polônia e a Tchecoslováquia, com a força de seus exércitos. Sob a liderança da Inglaterra, da União Soviética e dos EUA e, posteriormente, dos países com os quais formaram o bloco dos aliados, tornaram-se vencedores do confronto. Não há país que não tenha histórias para contar acerca de seu passado. O Brasil é fértil de acontecimentos que mostram a trajetória de lutas de seu povo. Pinço o clássico exemplo do estado do Acre, cuja ocupação se deu pelos nordestinos que se fixaram naquelas lonjuras em busca do látex das seringueiras. Pela aplicação do princípio do uti possidetis, pôde a diplomacia do Barão do Rio Branco resolver a questão a favor do Brasil, mediante compensações financeiras e materiais concedidas à Bolívia. Em consequência, todo o território objeto da controvérsia passou a integrar o que é hoje o estado do Acre. Situação distinta foi dada a favor da Inglaterra na virada do século 19 pelo rei Victor Emanuel 3º, da Itália, árbitro da pendência do Brasil com aquele país, com relação ao território que vai da fronteira leste do estado de Roraima com a Guiana antiga possessão britânica até o Rio Essequibo. Joaquim Nabuco foi o advogado contratado para defender o país. Mudou-se para a Itália para se dedicar integralmente à causa. Construiu uma das mais belas defesas sobre a legitimidade da pretensão brasileira. Defesa, aliás, que foi também em parte fundada no ius possidetis, em virtude da presença de colonos brasileiros e portugueses fixados na área. Apesar de notáveis juristas da época reconheceram a procedência dos argumentos de Nabuco, o país perdeu a decisão do rei proferida na arbitragem. Um dos fenômenos mais extraordinários da formação dos EUA, a partir das 13 colônias confederadas, se deu, pouco a pouco, com a caminhada rumo ao Oeste. Consolidada a conquista da Lousiania, que foi vendida pela Espanha à França e, depois, comprada pelos EUA de Napoleão Bonaparte, que se desencantou com a América, logo após a derrota que lhe infligiram os negros do levante no Haiti, sob a liderança de Toussaint L'Ouverture. O país ampliou ainda mais o tamanho, com a aquisição do território do Texas, e daí foi se estendendo sobre as vastas áreas intermediárias que se transformaram em estados, passando sobre os peles vermelhas, até as terras da Califórnia. Finalmente, os problemas de fronteira com o Canadá foram resolvidos com a assinatura do Tratado de Oregon, de 1846, firmado com a Inglaterra, em que se instituiu o paralelo 49 como divisa permanente entre os dois países. Os EUA estavam se arrumando e àquela época já se projetavam ser uma das grandes nações do planeta. Nessa perspectiva de ganhar e perder, não se pode deixar de lado passagem de comovente parte da história da África do Sul. País rico de terras para a agricultura e prolífico de recursos minerais, prestou-se sempre à cobiça de europeus. Primeiramente, ao redor da Cidade do Cabo calvinistas huguenotes holandeses, alemães e franceses tomaram conta da região. A cidade crescia e se desenvolvia graças à disciplina herdada de leis e costumes holandeses. Os ingleses começaram a chegar e a se impor sobre as populações originárias. Milhares de colonos ingleses passaram a morar na cidade, trazidos pelo governo britânico. A convivência entre as populações calvinistas e inglesas tornou-se (Continuação...) impossível. Costumes e regulamentos britânicos substituíram os modelos holandeses. A solução encontrada pelos calvinistas africanos, os bôeres, foi abandonar a região e realizar a Great Trek, na verdade uma caminhada de mais de 1.600 quilômetros na busca de terras onde pudessem se fixar. Após o ano de 1838, depois de vencerem disputas contra os zulus, fundaram a República de Natal. Em 1852 a Inglaterra reconheceu a independência dos colonos do Transvaal. Dois anos depois, abandonou a contenda e permitiu que se criasse o Estado Livre de Orange. A epopeia dos bôeres, depois de heroica campanha se transformou em realidade. Penso que o país saiu da malemolência do passado e principia a pôr os pés em terra firme. Nossas leis têm se aperfeiçoado e possuímos uma boa Constituição. Ora, num país em que o presidente do Supremo Tribunal Federal não aceita cortes no orçamento do poder e o governo se curva, é sinal de que uma centelha de luz ilumina o horizonte. É prenúncio de que passamos sobre o Cabo da Boa Esperança. Maurício Corrêa Opinião/ Pág.21 - Advogado