1 I – INTRODUÇÃO A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é considerada uma doença crônicodegenerativa e representa sério problema de saúde pública, considerando a sua ampla incidência em indivíduos adultos. Deve ser acompanhada ao longo de seu curso com medidas de controle que visem à qualidade de vida do portador e a prevenção de complicações. Segundo o (Ministério da Saúde,2001) a Hipertensão Arterial é uma doença crônica, não transmissível, de natureza multifatorial assintomática, na grande maioria dos casos, que compromete fundamentalmente o equilíbrio dos mecanismos vasodilatadores e vasoconstritores, levando a um aumento da tensão sanguínea nos vasos, capaz de comprometer a irrigação tecidual e provocar danos aos órgãos por eles irrigados. A hipertensão arterial sistêmica é uma das doenças que cada vez mais acometem maior número de pessoas e que pode levar às complicações cardiovasculares resultando em óbito. Apesar do fácil diagnóstico e dos avanços expressivos na produção de novos medicamentos na indústria farmacêutica. Embora um problema de saúde pública percebe-se que ainda há um número muito grande de indivíduos hipertensos não tratados ou tratados inadequadamente (SARQUIS et al.,1998). Segundo (Castro,1999) há vários fatores que vem contribuindo para agravar a situação de pacientes que não realizam o seguimento das recomendações terapêuticas. Que embora estejam devidamente diagnosticados, apenas 50% dos pacientes utilizam medicação de forma regular. E que por se tratar de uma doença “silenciosa”, ou seja, em muitos casos assintomática faz com que o paciente não reconheça ser um risco potencial para as doenças cardiovasculares e que necessita mudanças no estilo de vida associado ao uso correto da medicação. No Brasil segundo o (Ministério da Saúde,2001) a Hipertensão Arterial Sistêmica é uma das doenças crônicas com maior prevalência. Cerca de 11 a 20 % da população é afetada com mais de 20 anos e isso representa um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares e principal causa de mobimortalidade na população brasileira. Cerca de 85% dos pacientes com acidente vascular encefálico(AVE) e 40% das vítimas de infarto agudo do miocárdio apresentam a patologia associada. 2 Em termos epidemiológicos a Hipertensão Arterial traz conseqüências negativas quanto ao aumento no quadro de morbidade e mortalidade nas doenças cardiovasculares. Os profissionais de saúde devem fortalecer a educação e saúde, incentivar o auto-cuidado dos pacientes para os mesmos obterem uma melhor qualidade de vida. Com atenção para o estilo de vida individual e para contextos culturais em que vivem. Buscando com isso evitar a não aderência ao tratamento tendo como conseqüências o abandono ou irregularidades durante o seu seguimento. Dentre os fatores que interferem na adesão ao tratamento estão a idade do paciente, sexo, nível social e econômico. Hábitos de vida e culturais entre outros. Em igual importância encontra-se o acesso aos serviços de saúde e especialidades médicas, o ambiente em que convivem com familiares ou seus cuidadores e as possibilidades para a prática de exercícios no ambiente em que vivem. Segundo (Car,1998) a prevalência aumenta com a idade, é maior entre negros e acomete mais pessoas de segmentos sociais mais pobres. Ainda ressalta que a pressão arterial normal é aquela capaz de garantir perfusão tecidual de todos os órgãos em diferentes situações, tais com estresse, exercícios ou mudanças de posição. Nos últimos anos as mudanças no sistema de saúde com relação à assistência ofertada aos hipertensos, pelo Programa Saúde da Família, embora tenha trazido melhorias na saúde dos mesmos. Com a oferta de melhor estruturação dos serviços, distribuição de medicamentos básicos e acompanhamento de profissionais médicos e de Enfermagem entre outros. Mas ainda assim há vários fatores que dificultam a adesão ao tratamento apresentando grande número de pacientes que não aderem ao tratamento da hipertensão arterial. A partir da educação do paciente para o auto-cuidado, espera-se a redução de seqüelas, o fortalecimento dos recursos do paciente em saúde, bem como, maior adesão do mesmo ao tratamento. Além do alcance nas metas dos níveis tensionais adequados. Os programas sociais e de saúde do governo para Hipertensão devem contemplar as classes sociais de menor poder aquisitivo e de baixa escolaridade. Embora o acesso aos serviços de saúde seja mais fácil ao público de maior renda. Sabe-se que há maior adesão entre os mais educados e de melhor escolaridade pois aceitam as medidas de promoção e proteção à saúde mais facilmente. Para aderir às orientações desse porte é 3 necessário um bom nível de escolaridade e renda, um adequado conhecimento da doença e rigorosa autodisciplina do paciente (LESSA,1998). Estudos sobre não aderência, de pacientes hipertensos, ao tratamento demonstram que o fator mais relevante é o aspecto pessoal, que envolve relacionamentos com as pessoas responsáveis pelo atendimento. Assim o relacionamento enfermeirapaciente, psicólogo-paciente, farmacêutico-paciente, ou a inclusão de uma terceira pessoa no relacionamento médico-paciente, melhora os níveis de aderência (ARAÚJO, 1998). Durante a consulta ocorrem situações peculiares e o fato do paciente assumir a responsabilidade de que já havia deixado de tomar os medicamentos significa que o paciente está confiando no profissional, que estabeleceu um vínculo de confiança e segurança com o paciente e este se sente seguro em relatar suas dificuldades em relação à não aderência ao tratamento medicamentoso. O paciente pode referir que se esqueceu de tomar o medicamento, faltou remédio na farmácia, não dispõe de recursos para a aquisição dos medicamentos que não são fornecidos pelo posto, não teve apoio da família, não foi bem instruído pelo profissional de saúde sobre o modo de preparo e tomada das medicações nos horários estabelecidos e que não entendeu as instruções recebidas. Situações estas que dificultam o controle dos níveis tensionais do paciente hipertenso e que pode leva-los a riscos de complicações. Ainda situações como a distância do local de atendimento, o tempo de espera, o horário aprazado ou não, o breve e rápido tempo de consulta, o custo da terapêutica, os efeitos colaterais, a complexidade do esquema posológico, o número de comprimidos e de tomadas são fatores importantes que determinam à aderência e maior participação do paciente no tratamento. Além dos princípios educacionais e crenças de saúde individuais e coletivos. O conhecimento dos riscos de complicações pelo uso inadequado de antihipertensivos contribuem também para maior aderência. Diante desta problemática e considerando um problema de saúde pública e que vem sendo alvo de estudos em nosso meio, a participação da equipe de saúde pública é fundamental em sua atuação junto a esta clientela, sente-se a necessidade de conhecer esta situação. O Objeto do presente estudo é identificar os fatores que dificultam o controle da pressão arterial em pacientes no município de Caridade. 4 Assim, essa pesquisa busca verificar como o paciente de Caridade realiza o seguimento ambulatorial, identificando o auto-cuidado em relação ao tratamento medicamentoso e dietético e estudar as influências que interferem na prática assistencial, baseada nos resultados encontrados. 2- REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Hipertensão Arterial: Conceito, fatores predisponentes, complicações e tratamento. A Hipertensão Arterial conforme III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (CONSENSO, 1998) é uma síndrome caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados, associados a alterações metabólicas e hormonais e a fenômenos tróficos ( hipertrofia cardíaca e vascular). Dentre os fatores de risco predisponentes ao seu surgimento da hipertensão arterial encontram-se a idade, sexo, obesidade, hereditariedade e raça. Além do estresse, da ingesta de sal e calórica em excesso e de hábitos como alcoolismo e tabagismo. Com o conseqüente processo de envelhecimento a idade é um fator de risco para a hipertensão arterial. Há estudos que comprovam a relação entre o aumento dos níveis pressóricos e o aumento da idade. O fato está relacionado às alterações na musculatura lisa e no tecido conjuntivo dos vasos com o acúmulo dos anos (CARVALHO, 1996). Quanto ao sexo a hipertensão é mais presente nos indivíduos do sexo masculino. À medida que a faixa etária avança, a doença se manifesta em maior escala e com maior gravidade nas mulheres, principalmente após a menopausa. Os índices de morbimortalidade cardiovasculares são menores em mulheres que em homens (MARTINS, 1996). Quanto à obesidade a hipertensão arterial é mais comum em pessoas obesas. Segundo (Telles,1999) o peso está diretamente relacionado com o nível de pressão arterial, uma vez que nos casos de obesidade há prevalência elevada desses índices. A redução de peso, por conseguinte, incide na diminuição dos níveis de tensão arterial. Sendo mais comum o aumento do risco de desenvolver doença cardíaca isquêmica. 5 Comidas rápidas com refeições bastante calóricas, sedentarismo, poucas atividades físicas e hábitos de passar bastante tempo em frente a tv contribuem para o aumento de peso. Nos dias de hoje é necessário um trabalho educativo nas escolas na prevenção da obesidade e do sedentarismo e quanto aos pacientes hipertensos obesos incentivar hábitos alimentares saudáveis com maior atividade física e criação de programas para redução de peso semelhante ao desenvolvido pelo Corpo de Bombeiros em alguns municípios do Estado do Ceará. O sobrepeso e a obesidade constituem, atualmente, o desvio nutricional que mais aumenta no mundo, assumindo proporções de uma pandemia. Está associado aos novos estilos de vida: hábitos alimentares e sedentarismo dos tempos modernos. Conforme Rouquayrol(1999) a obesidade atinge entre 10 e 20 % da população adulta americana e que, entre mulheres negras dos Estados Unidos, na população feminina do leste Europeu e dos países mediterrâneos, pode alcançar 40%. A obesidade, definida como índice de massa corporal igual ou superior a 30, está estreitamente relacionada com as doenças crônicas não–transmissíveis, como diabetes, a hipertensão arterial e as intercorrências cardiocirculatórias de maior gravidade, nos países ricos. Estas situações, inclusive, já assumem uma participação ponderável e ascendente nos países subdesenvolvidos (ROUQUAYROL,1999) apud (BRAY,1991). Ainda conforme Telles (1999) no que se refere a hereditariedade o fator genético oferece uma importante contribuição na hipertensão arterial. Segundo estudos algumas pessoas apresentam uma predisposição desde o nascimento embora ainda não se saiba qual o mecanismo genético responsável pela evidência. Conforme o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (CONSENSO,1998), a Hipertensão Arterial é mais presente na raça negra e segundo o Ministério da Saúde do Brasil (2001) é neste grupo onde se encontra a sua maior gravidade. Um dos aspectos mais influentes na elevação dos níveis pressóricos é o consumo excessivo de sal o que torna um fator preocupante pelo crescente uso de enlatados e defumados, sanduíches em fast- foods como alimentação rápida no dia a dia das pessoas. Vale ressaltar que as gorduras saturadas presentes nos alimentos consumidos atualmente contribuem para elevar os níveis pressóricos além de favorecer o surgimento de doenças cardiovasculares e outras complicações. 6 Para (Cooper,1996) a moderação do consumo de sódio, diminui o nível pressórico pela redução do volume de líquidos do corpo e do cálcio presente nas células. Segundo o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial (CONSENSO, 1998), acrescenta que o benefício da menor ingestão de sal reduz a mortalidade, por acidente vascular encefálico e regride a hipertrofia ventricular esquerda, podendo, ainda, reduzir a excreção de cálcio pela urina, contribuindo para prevenir a osteoporose, em idosos. Brunner e Suddarth (2006) relatam que o consumo de álcool tem um fator de risco importante na Hipertensão Arterial, pois reduz os efeitos dos medicamentos antihipertensivos. Os efeitos do álcool comprometem órgãos nobres, ao exemplo do coração, cérebro, fígado e pâncreas. Dados do Ministério da saúde do Brasil (2001) confirmam que, mesmo quando a hipertensão é de difícil controle, há uma boa resposta ao tratamento, após a eliminação do uso excessivo de álcool e que o consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, pode elevar a pressão arterial e em grande quantidade, pode ser responsável por um significativo número de casos de hipertensão. As bebidas alcooólicas são drogas lícitas na nossa sociedade e embora haja campanhas educativas por parte do governo há bastante material publicitário divulgando e estimulando o consumo do álcool na sociedade seja durante comemorações ou festinhas o que pode levar à hábitos nocivos e prejudiciais. O tabagismo também é um fator que influência na elevação dos níveis pressóricos. Conforme o III Consenso Brasileiro de Hipertensão arterial (CONSENSO, 1998) o tabagismo altera a freqüência cardíaca e contribue para a arteriosclerose, doenças cardiovasculares e morte súbita além do acidente vascular cerebral. O risco de doenças cardiovasculares nos hipertensos fumantes é três vezes maior que nos hipertensos não fumantes. O cigarro também influencia no efeito adverso da redução dos lipídios séricos, provocando resistência ao efeito das drogas anti-hipertensivas. O uso de contraceptivos orais é provavelmente a causa mais comum de hipertensão secundária nas mulheres, dentre as quais cerca de 5% desenvolvem hipertensão dentro de cinco anos de uso. Isto é mais do que duas vezes a incidência entre mulheres que não usam esses medicamentos (MARTINS, 1996). 7 No mundo moderno, com o planejamento familiar, em que há casais que pretender ter apenas dois filhos a pílula se torna indispensável para o uso feminino. Quanto ao estresse entendido como uma reação do organismo aos constantes níveis de tensões geradas no dia a dia contribue para a elevação dos níveis de pressão arterial (BRANDÃO, 1996). Situação financeira precária, pouco dinheiro e falta de lazer pode levar ao estresse. O tratamento da hipertensão arterial se constitui de duas vertentes: a terapia medicamentosa e a não medicamentosa. A Abordagem terapêutica do hipertenso inclui além da terapia farmacológica, a mudança no estilo de vida com hábitos alimentares e de vida saudáveis e prática adequada de exercícios físicos regulares. A prática de exercícios físicos diminui o estresse e reduz o peso além de ter ação coadjuvante no tratamento das dislipidemias. Assim como as ações terapêuticas se fazem necessárias as ações preventivas no controle da hipertensão arterial. Acompanhamento médico e de Enfermagem adequado, dieta, exercícios físicos e medicação se necessário. As intervenções preventivas podem ser dirigidas a indivíduos ou grupos nas comunidades. As estratégias clínicas e comunitárias, quando bem planejadas e implementadas, podem trazer benefícios à sociedade como um todo. 2.2 Acompanhamento ambulatorial de Enfermagem e a importância da atividade educativa nos programas de hipertensão O desconhecimento é parte das dificuldades no controle da doença. Muitos portadores não estão conscientes da necessidade do seu tratamento, das complicações decorrentes da doença e das suas medidas preventivas. Existem as medidas que devem ser tomadas para a prevenção de riscos, já conhecidas na literatura, mas que não são conhecidas pela maioria dos entrevistados. As ações dos cuidados com a doença dependem em parte desse conhecimento. Conforme (Resende,1998) apud (Santos e Clos,1992) o profissional enfermeiro é um elemento central e diretivo no acompanhamento e orientações individuais aos portadores de hipertensão arterial. A consulta de Enfermagem utilizada é um instrumento 8 em que consegue-se alcançar mais facilmente o atendimento das necessidades de saúde dessa clientela e, também, uma maior adesão destes ao tratamento. Tomasi (1996) relata que a modalidade grupal é uma estratégia importante para os portadores de hipertensão arterial que necessitam de mudanças em seu estilo de vida. Propicia, ainda, o ensino e a aprendizagem para o enfrentamento de situações de vida, através de trocas de experiências, com uma apropriação consciente e indissociável da vida das pessoas. Afirma que este aprendizado deve partir da necessidade de cada um, dando-se lentamente, de modo a minimizar os agravos à saúde e nunca imposto paternalista, coercitiva e verticalmente pelos profissionais de saúde. Observa-se, nesses estudos, uma preocupação dos profissionais de saúde com a melhoria da assistência aos doentes, voltada para ações educativas e para um melhor acompanhamento no decorrer de suas doenças, objetivando conseguir, assim, um controle mais eficiente da patologia por parte de seus portadores. Neste estudo, os fatores que dificultam o controle da doença por seus portadores estão focalizados na percepção do paciente quanto à hipertensão arterial, as dificuldades relatadas pelos portadores e os principais envolvidos no controle da hipertensão arterial. 9 3 – OBJETIVOS Objetivo Geral: - Identificar os fatores que dificultam o controle da Hipertensão Arterial por seus portadores visando à inovação da prática assistencial baseada nos resultados esperados. Objetivos Específicos: - Identificar o auto cuidado em relação ao tratamento medicamentoso e dietético. - Caracterizar os hipertensos entrevistados segundo as variáveis: sexo, idade e perfil sócio-econômico. - Verificar como o paciente realiza o seguimento ambulatorial no município de Caridade. 10 4 – METODOLOGIA 4.1 – Tipo de Estudo Considerando a relevância da temática abordada, foi construído um estudo que possibilite verificar como o paciente hipertenso realiza o acompanhamento ambulatorial, identificando os fatores que dificultam o seu controle pressórico e ainda o autocuidado em relação ao tratamento medicamentoso e dietético dos mesmos. Trata-se de um estudo de natureza exploratório-descritiva, pois, de acordo com (Trivinos,1995), estes estudos permitem ao investigador aumentar sua experiência em torno de determinado problema e descrever “com exatidão” os fatos e fenômenos de determinada realidade. Empregamos uma abordagem quantitativa e qualitativa, porquanto essas se completam, segundo (MINAYO,1996). Para Minayo a pesquisa qualitativa se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. 4.2 – Local de Estudo O estudo foi realizado em Unidade Básica de Saúde no Município de Caridade, localizada no sertão central do Estado do Ceará a 100 Km de Fortaleza. Cidade de pequeno porte voltada basicamente para a agricultura e turismo religioso. A população registrada no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pelo censo de 2000 é de 16800 Hab. ( RIBEIRO,2006). A pesquisa foi desenvolvida no período de outubro de 2006 em uma unidade de saúde no Município de Caridade próximo a Canindé com acesso pela BR-020, a 16 km de Canindé, sede da 5ª Célula Regional de Saúde. Município com 4.060 famílias, com cobertura de 100% pelas 06 equipes do Programa Saúde da Família, 05 Equipes de Saúde Bucal, um hospital que dispõe de 32 11 leitos e uma sala de parto. Não possui centro cirúrgico tendo o município de Canindé como referência (RIBEIRO, 2006). As equipes Saúde da Família são: ESF - Serrote; ESF - São Domingos; ESF Campos Belos I; ESF - Campos Belos II; ESF - Sede I e ESF- Sede II. São compostas por 06 médicos, 06 enfermeiros, 04 dentistas, 13 auxiliares de Enfermagem e 32 agentes comunitários de saúde. A unidade básica de saúde credenciada ao Sistema Único de Saúde (SUS) possui atendimento médico e consulta de Enfermagem aos portadores de Hipertensão Arterial semanalmente e são agendados conforme demanda espontânea no posto de saúde ou durante visitas domiciliares realizadas pela equipe costumeiramente. Na Secretaria Municipal de Saúde existem 06 unidades básicas de saúde cadastradas no Programa Saúde da Família. Como parte da equipe multiprofissional que presta assistência existem 6 enfermeiras assistenciais e 4 médicos e 1 nutricionista. Não há cardiologista no Município e em casos de atendimento especializados esses portadores são referenciados para municípios pólo pela central de regulação do estado. 4.3- População e amostra A população deste estudo foi constituída por portadores de Hipertensão arterial, residentes no município, escolhidos aleatoriamente e que são acompanhados pela unidade de saúde, PSF Sede I, de caridade. Cerca de 25 indivíduos que residem na localidade. Portanto, a amostra estudada foi de portadores de Hipertensão arterial que foram acompanhados em decorrência dessa doença, no ano de 2006. 4.4- Procedimento e técnicas de coleta de dados O primeiro contato com os hipertensos ocorreu através da consulta de enfermagem na unidade de saúde, os quais aceitaram participar do estudo. Foi aplicado um questionário e uma entrevista semi-estruturada, a cada hipertenso, individualmente, assegurando a privacidade e o anonimato dos participantes. 12 O questionário compreendia questões relacionadas ao: perfil sócio-econômico, e a entrevista semi-estruturada relacionavam os fatores responsáveis pela não adesão ao tratamento. Para a coleta de dados utilizou-se um roteiro de entrevista por tópicos, elaborado com base na literatura pertinente. As questões do roteiro de entrevista contemplaram aspectos relacionados à caracterização da clientela, ao conhecimento que a população estudada tinha sobre a patologia, a terapêutica, os fatores de risco e o controle da doença e, ainda, relacionados à interação que a clientela tem com os serviços de saúde que utiliza, bem como a inserção dessa população no meio em que vive. Todos os indivíduos foram orientados quanto ao objetivo do estudo, à forma de participação e à garantia do anonimato. As entrevistas ocorreram no mês de outubro de 2006 e teve duração média de duas horas cada. 4.5- Análise e interpretação dos dados Os dados obtidos foram organizados e analisados de forma quali-quantitativa. Os dados relacionados ao perfil sócio-econômico foram organizados e demonstrados em gráficos. Em primeiro lugar foi realizado a ordenação dos dados coletados, releitura do material obtido e organização dos relatos. As informações colhidas sobre os fatores que dificultam a adesão ao tratamento foram apresentados e interpretados por meio dos discursos dos entrevistados. Para analisar as falas dos entrevistados foram divididas em categorias. Agrupando-as em elementos e idéias que expressam um mesmo contexto conforme o conceito de (Bardin,1977). No primeiro momento realizou-se uma ordenação dos dados coletados em categorias específicas. A partir de então organizou-se os dados em consonância com os referenciais teóricos da pesquisa. Foi utilizado um termo de consentimento no qual explicou-se a importância e o objetivo do estudo, deixando clara a opção de se recusar a participação da pesquisa, sem nenhum prejuízo à sua assistência. 13 5- APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS 5.1 - Caracterização pessoal, social e econômica dos hipertensos entrevistados. Dos 25 hipertensos que participaram do estudo, 16 eram do sexo feminino ( 64 %) e 09 do sexo masculino( 36 %). A idade variou de 44 a 86 sendo 56 % concentrados na faixa entre 60 a 70 anos. Quanto ao estado civil, a maioria era de casados ( 72 %), havendo também grande número de viúvos ( 24 %). O número de filhos variou de zero a cinco, com predominância de indivíduos com dois e três filhos. O número de pessoas que moravam com os entrevistados variou de zero a três, predominando duas pessoas por residência. Três dos entrevistados moravam sozinhos. O grau de escolaridade variou de analfabetos até o nível superior, predominando aqueles que tinham até a primeira série do ensino fundamental. Com relação à ocupação, a maioria era de aposentados ( 56 %) e ainda uma grande parte dos entrevistados exercia atividades domésticas em seu lar. Dentre os entrevistados encontrava-se 01 agente comunitária de saúde. Dentre os pacientes entrevistados: 17 são sedentários, 08 são obesos, 07 são obesos e sedentários, 01 é alcoolista, 05 são diabéticos, 01 é tabagista e sedentário. Sendo (68 %) dos pacientes não realizam atividades físicas. Quanto ao uso de medicações anti- hipertensivas todos os hipertensos entrevistados relataram estar usando remédios conforme prescrição médica. Fazem uso de monoterapia com Hidroclorotiazida 25mg, Captopril 25mg ou Propanolol 40 mg, enquanto que cerca de 60% dos pacientes fazem uso de medicamentos associados sendo diuréticos com poupadores de potássio. Estas características estão descritas nas grades 1 a 3 que seguem abaixo: 14 Quadro I- Variáveis socioeconômicas dos pacientes de UB Caridade-Ce, 2006. Variáveis Idade No de pac. % 40-60 11 44 61-65 02 08 66-86 Sexo 12 48 Masculino 09 36 Feminino Cor 16 64 Branca 06 24 Não-branca Estado Civil 19 76 Viúvo 06 24 Solteiro 01 04 Casado Escolaridade 18 72 Analfabeto 05 20 Ensino fundamental 16 64 Ensino médio 03 12 Ensino superior Ocupação 01 04 Aposentado 14 56 Agricultor 03 12 Agente de saúde 01 04 Autônomo 01 04 Outros 06 Renda familiar(sal.min.) 24 1-2 18 72 3-5 06 24 6-8 01 04 Quadro 2 –Atividade física e lazer dos pacientes hipertensos de UB Caridade- Ce, 2006. Variáveis Exercícios físicos No de pac. % 15 Sim 08 32 Não Tipo de exercícios físicos 17 68 Caminhada 06 75 Bicicleta 01 12,5 Hidroginástica 01 Tempo de exercícios físicos(min.) 12,5 <30 02 25 30-45 03 37,5 >45 Lazer 03 37,5 Sim 23 92 Não Tipos de lazer 02 08 TV 07 30 Bebidas 01 04 Igreja 05 22 Dançar 02 09 Outros 08 35 Quadro 3- Exames clínicos dos pacientes de UB Caridade- Ce, 2006. Variáveis No de pac. % Normal(<130x89) 14 56 Hipertensão(140>180x 11 44 Pressão arterial( mmHg) 16 90>110) IMC(Kg/m2) Desnutrição(<18,5) Zero Zero Eutrófico(18,5-24,9) 10 40 Sobrepeso(25,0-29,9) 07 28 Obesidade I(30,0-39,9) 08 32 O índice de massa corporal, conforme (Sampaio ,2000) é calculado com o peso sobre a altura ao quadrado e conforme o quadro 3 a presença de obesidade foi registrada em 32%. 5.2 - A percepção dos entrevistados quanto a sua doença 1- Hipertensão Arterial associada a sintomas Segundo (Resende,1996) as atitudes tomadas pelo indivíduo portador de Hipertensão arterial para o controle da doença no aspecto pessoal são dependentes de sua percepção sobre si, quanto ao meio em que vive e suas influências culturais. O Hipertenso vivencia experiências únicas quanto a sua doença e com o passar do tempo adquire formas próprias de conviver com ela, tais como: alterações dos hábitos cotidianos e do seu estilo de vida entre outras. Tais alterações, quando não bem aceitas, em que há resistência a mudanças proporcionam o aparecimento de fatores que dificultam o controle adequado da hipertensão arterial. Dentre as dificuldades frequentemente encontradas estão a desobediência à dieta, impotência no controle da ingestão alcoólica, esquecimento em tomar a medicação levando o uso irregular do mesmo. Muitas das atitudes dos hipertensos baseiam-se em sua maneira de compreender a doença, ou seja, o enfrentamento da patologia baseado em suas crenças e valores. O que é demonstrado pelo comportamento que têm diante das medidas de controle da hipertensão 17 arterial sugeridas durante o seguimento terapêutico estabelecido para o indivíduo hipertenso. Para um hipertenso que não sente nenhuma alteração em seu corpo, nenhuma sintomatologia, torna-se difícil seguir um regime terapêutico que, de certa forma, lhe traz incômodos. Desde o efeito colateral dos medicamentos até o fato de ter que tomar remédios todos os dias. De acordo com (Resende,1998) apud (Giorgio,1989) o fato dos portadores de hipertensão arterial serem tipicamente assintomáticos, possuem maior probabilidade de se sentirem pior após o uso da terapêutica, o que representa um dos maiores problemas para o seu seguimento. Ainda relata em seu estudo que quase 20% da clientela em tratamento não apresentam sintomatologia. A patologia é camuflada pelo bem estar físico, o que pode ser um dos fatores que levam seus portadores a desinteressarem-se pelo tratamento. A ausência de sintomas os leva, também, ao desinteresse na procura pelo serviço de saúde para acompanhamento ambulatorial. Há usuários que apenas procuram o serviço ambulatorial quando apresentam algum sinal ou sintoma que os despertam para algum distúrbio em seu organismo, o que ocasiona nesses serviços a predominância da demanda espontânea (MACIEL,1997). Diante das falas dos entrevistados foi percebido: “Importante (ir ao posto) é, mas eu não venho. Às vezes eu peço as minhas amigas que trabalham na saúde para pegar o remédio para mim.” “A primeira vez que estou vendo a senhora (Enfermeira do posto) é hoje. Eu quase não venho aqui. Eu sou meio teimoso. Quando me sinto mal aí vou pro hospital. Quando a pressão ta alta demais.” De acordo com os relatos dos entrevistados percebemos que para muitos hipertensos o importante é não faltar remédios. E devemos conscientizar os próprios profissionais da saúde da importância do acompanhamento ambulatorial. Segundo (Vecchietti,1996) o modelo biomédico valoriza a sintomatologia da doença. Com tratamento médico voltado para a anormalidade biológica, ou seja, tratamento dos sintomas das doenças. Observa-se na cultura popular que os indivíduos só procuram o 18 serviço de saúde quando sentem algum incômodo e esperam deste um remédio para o seu alívio. Mas quanto a hipertensão arterial é perigosa, pois trata-se de uma doença muitas vezes silenciosa. Conforme Almeida (1998) a hipertensão leve a moderada pode estar presente sem qualquer sintoma associado. Ainda relata que altas taxas de abandono está associada a ausência de sintomatologia. Poucas queixas são relatadas usualmente por pacientes seja uma cefaléia na região da nuca ao levantar no período da manhã, tontura, dispnéia, cansaço aos pequenos esforços, visão turva e eventualmente sangramento nasal ( LOPES,2003) apud (BUSATO, 2002). 2- A hipertensão arterial como doença fatal A hipertensão arterial sistêmica é um dos mais importantes fatores de risco para as doenças cardiovasculares e que pode levar ao infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e morte súbita entre outras patologias e que constitue a primeira causa de morte no Brasil ( 27,4%) segundo dados do Ministério da Saúde do Brasil(2001). Sendo o infarto agudo do miocárdio a patologia com maior prevalência. Lopes(2003) apud Mori (2002) aponta que o conhecimento da real severidade da doença e da susceptibilidade ao desenvolvimento de complicações pode contribuir para uma maior adesão do paciente ao tratamento. Observamos o temor de alguns entrevistados conforme seus relatos: “ A doença que pode infartar se não se cuidar.” “ Tem risco de infarto. È perigosa, pode ter uma parada cardíaca.” Embora muitos tenham um conhecimento superficial quanto a doença muitos usuários não dão seguimento ao tratamento. 5.3- OS VALORES E CRENÇAS CULTURAIS DOS ENTREVISTADOS QUANTO A HIPERTENSÃO ARTERIAL HIPERTENSOS 19 1- A importância do auxílio de deus para a cura da hipertensão. A partir das falas da maioria dos entrevistados a fé em ser supremo, em uma força divina pode levá-los a cura da hipertensão arterial. Acreditam que a ajuda de Deus pode libertá-los da doença. Segundo Lopes(2003) apud Sousa (2003) as crenças religiosas fazem parte das convicções humanas. E que a visão que o ser humano tem da vida é bastante influenciada nos atributos de Deus para com a humanidade quanto aos aspectos de vida e culturais. “ Eu tenho fé em Deus e nos doto que existe cura e confiado mais em Deus.” “ Com os poderes de Deus e os remédios dos homens tem cura” Diante das falas dos entrevistados a ajuda divina tem um papel fundamental no processo saúde-doença, mas não foi relatado como motivo para o abandono do tratamento medicamentoso, ou aquisição de hábitos de vida saudável ou dificuldades no controle da pressão arterial. 2- Alimentos reimosos como prejudiciais no controle da hipertensão arterial Neste estudo percebemos algumas crenças em tabus alimentares como pudemos constatar nas falas abaixo. Os hipertensos acreditam que não podem consumir alguns alimentos por considerarem “reimosos”. O que pode ser um risco, pois essas crenças podem levá-los a exclusão de nutrientes à alimentação. Segundo Lopes(2003) apud Trigo et al( 1989) “comida reimosa” é aquela que agrava certas condições mórbidas ou condiciona outras. Culturalmente podem portar uma carga simbólica negativa, carregando significados associados com doenças. Esses tabus são difíceis de serem eliminados, pois estão relacionados à história das pessoas. A princípio a alimentação deve ter alimentos com produtos de origem animal, vegetais e frutas e durante a consulta ao hipertenso deve-se desmistificar alguns mitos que possam interferir no seguimento ambulatorial. 20 “ tenho medo de comer comida reimosa” “ Não é para comer carneiro, carne de porco. Comer com pouco sal. Não comer comida reimosa.” 3- Uso de ervas medicinais e remédios fitoterápicos como coadjuvantes no tratamento Neste estudo o uso de ervas e remédios fitoterápicos foi bastante citado pelos entrevistados como coadjuvante no tratamento da hipertensão arterial. O uso de remédios caseiros tem sua importância no controle da pressão arterial. Mas vale ressaltar que não foi considerado motivo que dificultasse a adesão dos hipertensos no seguimento do tratamento. “ As vezes tomo chá de erva cidreira. Comprimido de alho eu tomo pra ajudar a controlar a pressão.” “ Gosto de fazer chá de erva doce e tomo quase todo dia.” Conforme Lopes(2003) apud Silva( 1989) o uso da medicina popular não se dá apenas pela falta de recurso econômico do paciente em comprar o medicamento. O que acontece é que esse tipo de prática goza de grande prestígio junto a populações de baixa renda, na medida em que é compatível com a visão de mundo dessas pessoas. Esse conhecimento popular deve ser respeitado e que devemos nos integrar para que possamos eliminar através da investigação os riscos potenciais em sua prática. 5.4- FATORES QUE DIFICULTAM O CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL 1- RELACIONADAS AO TRATAMENTO MEDICAMENTOSO 21 1.1- Esquecimento Alguns dos entrevistados deixam de tomar a medicação regularmente por motivos de esquecimento muitas vezes devido ao processo natural do envelhecimento que tem como característica lapsos de memória ou à sua própria condição de envolvimento com a terapêutica. Segundo a fala dos entrevistados percebeu-se que alguns fazem uso irregular da medicação por esquecimento, sendo porém, supervisionados por seus cuidadores par evitar tal falha: “ Às vezes eu esqueço de tomar. No dia que eu esqueço a pessoa que cuida da casa lembra.” “ Às vezes eu paro de tomar quando eu saio de casa e se eu tiver na rua eu não tomo mais. Pois não levo os remédios comigo.” Ao esquecer de tomar os medicamentos correm o risco de terem sua pressão arterial elevada. O esquecimento de tomar a medicação é uma importante dificuldade no controle da hipertensão arterial, MACIEL(2000) apud PIERIM(1992). Conforme Resende(1998) apud Ryan (1992) o seguimento do controle de uma doença crônica, há a necessidade de adaptação, pelo seu portador, a mudanças na rotina de vida, o que torna necessário um ajustamento de sua condição de doente com as limitações e obrigações das condutas impostas, devendo os seus portadores superar emocionalmente essas mudanças. Criar o hábito da tomada da medicação diariamente se necessário colocar em locais visíveis e fáceis de lembrar. Solicitar auxílio de cuidadores para apoio. 1.2 Os Anti-hipertensivos e os riscos da auto-medicação Os medicamentos usados para regular grande variedade de funções fisiológicas tornaram-se a chave de toda a terapêutica médica Resende(1998) apud Capra( 1982). A 22 terapêutica medicamentosa tem evoluído muito, encontrando-se, hoje, diversas drogas de uso anti-hipertensivo. Possuem, porém, efeitos indesejáveis que acarretam situações que levam ao seu uso irregular e até mesmo ao seu abandono. Os efeitos colaterais dos medicamentos representam um fator que dificulta o controle da doença. Como é percebido conforme relato durante a entrevista. Sabe-se que pela variedade de anti-hipertensivos no mercado fica a critério médico mediante avaliação clínica a mudança da terapêutica. “ O Captopril me dá uma tosse que é demais.” Essa dificuldade foi relatada, também, em estudo desenvolvido por Maciel(2000) apud Pierim(1992), em que os portadores de hipertensão arterial alegaram uso irregular dos medicamentos por seus efeitos indesejáveis e segundo o mesmo causam influência negativa na adesão ao tratamento da hipertensão arterial à longo prazo. Outra questão que envolve a interferência do próprio doente no tratamento é o fato de tomar a medicação ou deixar de tomar conforme a sua própria avaliação. Alguns alteram as dosagens dos medicamentos prescritos conforme o que sentem ou deixam de sentir. A auto-medicação, neste caso é quanto à tomada incorreta da medicação seja pela mudança de dosagens e até suspensão de medicamentos conforme a sintomatologia. “ Tenho o aparelho em casa e mando verificar. Se a pressão tiver 11 por 8 eu não tomo o Captopril da noite.” “ Tenho que tomar dois Captopril todo dia mas quando a pressão tá boa eu só tomo um.” “ Quando a veia do meu braço tiver latejando alto e for de madrugada eu coloco o remédio de baixo da língua” O problema da auto-medicação também foi citado por Maciel (1997), em estudo no qual identificou que os portadores de hipertensão arterial tinham um autocontrole em relação aos medicamentos e uma pseudoautonomia em relação à doença. Relata que estes 23 tinham a preocupação em aferir a pressão arterial e que, de posse desses valores, decidiam ou não fazer uso de anti-hipertensivos. Muitos hipertensos não compreendem que se a pressão arterial está boa é por estarem tomando a medicação. Os remédios não devem ser tomados somente com a finalidade de reduzir os níveis pressóricos, mas, sim, de mantê-los dentro da normalidade, para que não haja elevação inadvertida da pressão arterial, correndo o risco de causar danos ao organismo. 2- RELACIONADAS AO TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO 2.1- Estilo de vida: estresse, alcoolismo e tabagismo Estilo de vida inclui hábitos e comportamentos autodeterminados, adquiridos social ou culturalmente, de modo individual ou em grupos: tabagismo, alcoolismo e outros padrões de consumo (preferências dietéticas, sódio, potássio, quantidade de alimentoscalorias), medicações, “drogas” etc., inatividade física, não utilização dos serviços de saúde ou de equipamentos de proteção no setor ocupacional; decisão pessoal de aderir ou não aos tratamentos e medidas preventivas, opção pelo lazer sedentário etc. Pressuposto: o indivíduo tem controle sobre seus hábitos e atitudes prejudiciais à saúde. (ROUQUAYROL, 1999). O controle emocional do indivíduo é importante no equilíbrio das suas funções vitais. Segundo Resende(1998) apud Millenson (1967) certos comportamentos emocionais frequentemente provocam mudanças corporais patológicas agudas, como por exemplo, uma emoção forte e prolongada que pode ser correlacionada à hipertensão arterial. Cita ainda, que os reflexos emocionais aversivos para um indivíduo, na sociedade civilizada, exigem que se tenha algum controle sobre eles. Há alguns hipertensos que demonstram impotência no controle da ingestão alcoólica destacadas na entrevista e alterações no controle emocional quanto ao estresse. “ Quase todo dia bebo cachaça com refrigerante coca-cola.” 24 “ Cerveja, rum nos dias de comemoração e festinhas.” Da mesma forma, vários entrevistados relataram dificuldades no domínio das emoções vivenciadas no cotidiano e no ambiente familiar. Destacam-se algumas delas: “ Tenho um filho adolescente que trabalha e gasta o que ganha com cachaça e farra. Passa o fim de semana bebo. Aí eu tenho raiva.” “ Sou avó e mãe ao mesmo tempo. Minha filha teve que ir morar em Fortaleza para trabalhar. Fico nervosa pois as crianças( três) são danadas demais. Mexem em tudo! “ Tudo faz ela subir preocupação, raiva. Dá uma aceleração no coração.” “ Meu marido me preocupa muito. Quando sai pra beber ele volta pra casa morto de bêbado.” Tomasi (1996) identificou também, que num grupo de pessoas com hipertensão arterial, que a falta de domínio das emoções foi considerada uma situação que contribui para a elevação da pressão arterial. Relatou que muitos do grupo estudado sentiam-se nervosos e tristes e que esses sentimentos se relacionavam diretamente com o descontrole da pressão arterial. A falta de controle emocional diante das situações de conflitos e ansiedade leva os indivíduos ao estresse. É possível manter a pressão arterial dentro do nível normal desde que esteja diante de uma vida sem turbulência, com estado emocional estável. O estresse é um fator de risco da doença que, através dos processos mentais, afeta os sistemas do corpo. O hipertenso ao envolver-se emocionalmente em situações constrangedoras geram o estresse que pode refletir na elevação da pressão arterial. Segundo King (1981) o estresse é uma resposta de energia de um indivíduo a pessoas, a objetivos e a acontecimentos chamados causantes de estresse, podendo este ser negativo ou positivo, construtivo ou destrutivo. 25 Ressalta-se que as situações que causam o estresse, e o desconhecimento referente aos cuidados com a doença, são os pontos chaves encontrados como desencadeadores de situações que levam à falta de controle da doença. Várias situações identificadas levam ao estresse, considerado fator desencadeante da elevação da pressão arterial. A deficiente situação financeira do hipertenso se apresenta como causa de estresse, seja por preocupação em proporcionar condições materiais para o bem-estar físico pessoal e de seus familiares ou em proporcionar o tratamento da doença em si, com alimentos e usufruir de diversas formas de lazer e outras opções para exercícios físicos. A falta de adaptação dos indivíduos portadores de hipertensão arterial a um novo hábito de vida dificulta a incorporação das medidas de controle da doença. Para o convívio com a doença ao longo da vida e para a manutenção da boa condição de saúde, é imprescindível que o seu portador tenha o conhecimento das medidas de controle e dos benefícios que essas medidas acarretam. A aceitação da doença e a adaptação do indivíduo às novas condições de tratamento de saúde requerem novos comportamentos e alteração no estilo de vida. O uso do cigarro, assim como o álcool, não teve freqüência elevada entre os entrevistados, mas a dificuldade em eliminar esses fatores de risco de suas vidas é causada, em sua maior parte pelo vício da nicotina e do álcool embora os entrevistados reconheçam os efeitos maléficos sobre a pressão arterial. “ Fumo três carteiras de cigarro por dia desde os 13 anos.” A educação para a saúde tem sido uma preocupação constante de profissionais da área, que a considera o ponto comum de partida para as ações de cuidado necessárias ao controle da doença. Tomasi (1996) relata que a educação para a saúde é mais efetiva quando em grupo, em que os seres humanos, em diálogo, compartilham seus saberes e suas experiências para o enfrentamento da doença. A compreensão do portador de hipertensão arterial quanto ao controle da doença é adquirido pela sua própria convivência com a doença e pela convivência com os profissionais de saúde. É necessário educação em saúde relacionados ao tabagismo para 26 hábitos saudáveis e encaminhamentos especializados em que haja necessidade de uso de medicação para o abandono do cigarro. 2.2- A Obesidade e as mudanças de hábitos alimentares A obesidade é tida como um fator de risco da hipertensão arterial. e a mudança de hábitos alimentares torna- se essencial no controle dos níveis tensionais. Dos problemas encontrados nas falas dos entrevistados observa-se o desinteresse por este fator de risco para as doenças cardiovasculares entre alguns dos entrevistados. “Eu como mais no almoço. Eu como seis bananas pratas todo dia.” “ A pessoa gorda demais tem que diminuir para ter mais saúde” “ Mas eu não ligo de emagrecer fazer uma dieta”. Alguns portadores de hipertensão arterial entrevistados relataram como problemas no controle da doença, sua própria dificuldade em participar do tratamento não medicamentoso e seguir regras para redução do peso. A alimentação está muito ligada aos hábitos culturais e cotidiano. A indicação do uso da dieta com algumas restrições leva à algumas atitudes desfavoráveis com sensações de impotência no controle do peso. A obesidade, definida como índice de massa corporal igual ou superior a 30, está estreitamente relacionada com as doenças crônicas não–transmissíveis, como diabetes, a hipertensão arterial e as intercorrências cardiocirculatórias de maior gravidade, nos países ricos. Estas situações, inclusive, já assumem uma participação ponderável e ascendente nos países subdesenvolvidos (Rouquayrol(1999) apud Bray(1991). “ Antes eu poderia comer de tudo. Mas agora tem que ter cuidado com o colesterol e sal.” 27 “ Verduras e legumes. Com pouco sal. Mas gosto de massas. Não comer gorduras demais. Mas às vezes eu extrapolo e como.” “ De vez em quando como carne moída comprada na mercearia. Eu sei que é meio salgada e gordurosa. Mas quando tem pouco dinheiro tem que ser isso mesmo pro almoço de todo mundo.” Alguns dos que seguem a dieta se dão a permissão de não segui-la, eventualmente. E em muitos lares a família ao fazer a comida às vezes não segue as recomendações dadas e não fazem a comida com pouco sal o que leva os hipertensos a não seguirem a dieta recomendada. Em dias de festas, finais de semana há hipertensos que fogem da dieta e extrapolam e comem a vontade. São atitudes conscientes que os entrevistados tomam, mesmo sabendo que não deveriam tomá-las, mas o fazem justificados pela saciação de seus desejos. Cereser (1996) relata estes dados, quando fala que os clientes, mesmo sabendo quais alimentos podem exacerbar o quadro hipertensivo, têm dificuldade para mudar hábitos alimentares. Diz ser mais difícil resistir à ingestão destes alimentos quando familiares não participam da mudança. A autora relata, ainda, que a restrição alimentar é uma fonte de sofrimento para os pacientes, sentem-se tolhidos em sua liberdade, porém, sentem-se culpados quando não praticam. Os indivíduos, para mudar hábitos de vida, devem tomar consciência da necessidade da mudança do seu comportamento e fazer uma escolha deliberada para mudá-lo. O que requer tempo, energia e concentração. Assim devem adotar novos comportamentos, sendo que essa alteração deve ser adaptada ao estilo de vida individual. 2.3 - Participação da família no controle da hipertensão arterial 28 A família é, portanto, a base de suporte no controle da doença e é a instituição mais presente em cada indivíduo no apoio às suas necessidades básicas. Na população em estudo, algumas relações são de dependência seja por cuidadores com vínculo familiar ou não. Muitos recebem o apoio de cuidadores no controle de sua doença. Mas um dos fatores que dificulta o controle da doença é o fato de a dieta ser preparada por pessoas da família que não compartilham do uso de pouco sal. “ Tem dia que o feijão tá meio salgado.” Cereser (1996), em um estudo sobre a mulher hipertensa no convívio familiar, relata que a família de um doente crônico acha-se com dificuldades e limitações no desempenho de funções para o controle da doença, uma vez que há mudanças no hábito de vida familiar. Relata que a família pode ou não pode mudar esses hábitos, em função da necessidade do hipertenso. Cabe aos profissionais de saúde detectar se há conflitos familiares quanto aos hábitos familiares. Desenvolver estratégias de envolvimento da família. No convívio com o hipertenso e contar com a participação dos agentes comunitários de saúde e incentivar as mudanças durante as visitas domiciliares na área. 2.4 - Exercícios físicos Outras dificuldades encontradas são quanto às limitações físicas que os impedem de exercer atividades físicas, benéficas no controle da sua doença. Dentre os entrevistados encontram–se idosos que apresentam na maioria das vezes artrose entre outras limitações das funções motoras. A realização de atividades físicas como a caminhada poderia melhorar sua condição de portador de hipertensão arterial (BRASIL, 2001). Porém, alguns não a fazem pela interferência de outros problemas. Como se observa nas falas: “ Eu tenho artrose e quando faço caminhada a perna doe” 29 “ Parei de caminhar mas vou voltar. Já me disseram que tem que ter tênis. Mas não tenho dinheiro para comprar. Só tenho chinelo.” “ Caminho 25 minutos todos os dias e com tênis. Quando eu to sem o tênis eu me sinto pior.” Há também aqueles hipertensos que têm limitações decorrentes da idade. Conforme Silva (1997) que afirma a saúde dos idosos está afetada por enfermidades crônicas e pelo próprio processo do envelhecimento. A hipertensão gera limitações, especialmente quando não bem acompanhada e quando há presença de fatores de risco proveniente de cansaços aos pequenos esforços, taquicardias, mal-estar entre outros. Vale ressaltar que o hipertenso deve ter acesso a outras formas e opções de exercícios físicos tais como hidroginástica e ginástica localizada. No município em estudo há hidroginástica com educador físico e uma academia de ginástica. Mas por questões financeiras limita-se o acesso apenas a quem pode pagar. “ Eu já fiz muito exercício na minha vida. Hoje tá difícil. A planta tá quase caindo. Com 86 anos o caba tem que ser muito macho pra fazer caminhada.” As atividades físicas são recomendadas pelas normas técnicas para o Programa Nacional de Educação e Controle da Hipertensão Arterial (PNECHA) (Brasil, 1988) para aumentar a contratilidade cardíaca, o que leva à redução do débito cardíaco e, consequentemente, à redução da pressão arterial. Porém, essa atividade deve ser feita regularmente, respeitando o limite físico de cada indivíduo com um aumento gradativo da sua intensidade, para que haja o efeito benéfico do fortalecimento das fibras dos músculos cardíacos (CONSENSO, 1998). Uma atividade física recomendada é a caminhada, por ser um exercício aeróbio de fácil execução, constituindo-se em um fator protetor da doença. Porém, este hábito não é mantido pela maioria dos entrevistados. Os hipertensos entrevistados sabem que os exercícios são importantes, mas nem isso estimula a prática. Há também casos em que muitos não saem de casa para caminhar porque tem medo de ser assaltado, medo da violência urbana ou temor de deixar a casa sozinha. 30 “ Todo dia eu digo que vou começar a caminhada. Mas eu sou acomodada.” “ Desleixo mesmo, descuido. Preguiça. Não tem jeito de sair de casa pra caminhar.” “ Luto na agricultura. Quando chego da roça já tô cansado.” 2.6 - Lazer Observamos que a maioria dos hipertensos tem lazer, sendo que alguns apontam mais de uma atividade. Foi citada com maior frequência a televisão. Ter várias formas de lazer contribue para amenizar o estresse. Estudos confirmam ser o lazer importante para a redução do estresse psicológico e é recomendado para diminuir a sobrecarga de influências neuroumorais do sistema nervoso central sobre a circulação (SAMPAIO, 2000). “ O meu lazer é sentar na calçada e bater papo com os vizinhos.” “ Só em casa e saí pros médicos. Aqui não tem diversão para os idosos( referente a Timbaúba, distrito de Caridade).” “ Ficar em casa com a família. Se for sair tem que gastar e não tenho dinheiro pra gastar.” “ Minha diversão é assistir tv e rezar e olhar o foguinho na novela.” O isolamento dá tristeza, solidão e depressão e que pode elevar a pressão arterial sendo necessário o convívio saudável com familiares e com a comunidade no ambiente em que vivem. 31 2.7 - Situação sócio- econômica A relação de ajuda inerente à constituição familiar, brota espontaneamente nos seus membros, que têm o compromisso ético, moral e social de manterem essa relação entre si, CERESER (1996). Nos dias de hoje em que a grande maioria da população encontra-se em situações financeiras críticas e o desemprego entre os adolescentes e adultos jovens é assustador. Surge o aposentado na família, que tem o seu benefício, muitas vezes como única forma de sustento de toda a família. Ocorrendo, portanto a troca de papéis. Na família a entrevistada exerce papel que a leva a preocupações com seus componentes. Destaca-se na fala: “ Aqui não tem oportunidades de trabalho e meus filhos e netos dependem do meu aposento.” Papel, segundo King (1981), é a posição de um indivíduo em um grupo numa organização social. Nos papéis de provedor e de educador, os indivíduos vivenciam, em geral, situações de estresse devido à responsabilidade com compromissos do cotidiano. Neste estudo, foi observada uma instabilidade psíquica dos entrevistados, devido à insegurança econômica. A queixa de dificuldade financeira foi relatada em muitas situações referentes ao controle da doença sobressaindo à escassez de recursos financeiros que poderiam proporcionar-lhes maior conforto físico e psíquico. Essa dificuldade financeira foi tida como obstáculo ou como situação geradora de estresse, no controle da doença. Verificamos neste estudo que há obstáculos para a aquisição de alimentos (frutas, verduras, entre outros) e de lazer. E quanto aos medicamentos, a grande maioria dos anti-hipertensivos, são dispensados pela farmácia pública. Vale ressaltar que o pouco dinheiro os impedem de adquirir tênis apropriado para a caminhada e realização de exercícios físicos, especialmente os hipertensos que tem artrose. Alguns estudos corroboram estes resultados, no que diz respeito à tomada irregular de medicação devido a dificuldade na sua aquisição, Resende(1998) apud 32 Pierim(1988). Essa dificuldade na aquisição dos medicamentos acarreta, como conseqüência, falhas e irregularidades na sua utilização. Esse uso irregular da medicação torna-se relevante quando somados àquelas dificuldades referentes ao esquecimento da tomada dos medicamentos, já mencionadas anteriormente. “ Se tiver o remédio eu tomo. Quando não tem o Propanolol pra dar aí eu compro.” “ Tendo eu tomo. Mas quando termino se não for ao posto fico 4 dias sem tomar.” “ Só que mando comprar o Metildopa pois o governo não dá a 4 meses. Tem que vir a medicação Metildopa. Por que foi que faltou?” Os agentes causantes de estresse que interferem negativamente na vida dos portadores, estão ligados às barreiras financeiras para se conseguir objetivos de vida e para proporcionar bem-estar a si próprio e à família. O objetivo de seguir uma dieta saudável para a saúde, segundo alguns, requer condições financeiras suficientes para a aquisição de alimentos que não levem à obesidade no uso de frutas e verduras. Na vida cotidiana o compromisso da sustentação da família com poucos recursos financeiros leva os indivíduos a situações estressantes. Recortadas as falas dos entrevistados que trabalham em condições inadequadas a seu estado de saúde. Há os que precisam trabalhar para o sustento da família e não se sentem com muita liberdade na escolha do tipo de serviço por falta de opções, como observa-se nas falas: “ Trabalho na agricultura e chego enfadado” “ Trabalho lavando roupa. Lavo roupa demais. A pressão fica alta.” 33 Há casos que o hipertenso não podendo escolher o tipo de trabalho mais adequado às condições de sua doença, ficam sujeitos a executarem os que lhes são atribuídos e que podem ser prejudiciais, pois geram cansaço na sua execução. Não há benefícios em realizar exercícios físicos em doses excessivas e nem todas as formas de exercícios são recomendadas para os portadores de hipertensão arterial, como carregar grandes pesos (BRASIL, 2002). Outra dificuldade relacionada ao trabalho é o receio de algum dos entrevistados relatarem a necessidade de se ausentarem de seus trabalhos para irem ao posto de saúde para serem atendidos. O compromisso com o sustento financeiro da família é priorizado em detrimento da própria saúde do hipertenso. Como se observa na fala do entrevistado: “ Sou comerciante. Tenho restaurante e pela manhã é mais importante está na cozinha.” Buscando uma melhor organização do serviço sabe-se que o Programa Saúde da Família possue calendário específico e conforme os dias da semana encontram-se reservados o atendimento ao hipertenso e diabético, saúde da mulher, pré-natal, saúde da criança, visita domiciliar, entre outros programas contemplados pelo ministério da saúde. Cade (1997) encontrou como causas alegadas pelos portadores de hipertensão arterial para não comparecerem ao serviço ambulatorial, o tempo despedido para a consulta que interfere em seus compromissos de trabalho. 5.5 OPINIÕES E SUGESTÕES DOS USUÁRIOS QUANTO AO SERVIÇO DE SAÚDE OFERTADO NO MUNICÍPIO Neste estudo, os entrevistados mencionaram que procuram o serviço de saúde para a consulta Médica e de Enfermagem. E também costumam procurar o posto de saúde para verificar a pressão arterial. Foram registradas algumas relações com os profissionais de enfermagem não satisfatórias. Alguns manifestaram-se insatisfeitos com os auxiliares de Enfermagem. 34 “ As atendentes as vezes excluem as pessoas que chegam pra ver a pressão.” “ Hoje fui mal atendido pois fui o último a ser atendido. Tenho 86 anos e não posso passar o dia esperando.” Uma boa interação entre profissionais de saúde e os clientes, quando em atendimento ambulatorial, estimula a procura do serviço pelos portadores de hipertensão arterial, que relatam ter, através do diálogo, a oportunidade de verbalizarem, não só os problemas físicos, mas, também os ligados á ansiedade e as frustrações vividas. O interrelacionamento entre profissionais de saúde e os portadores de hipertensão arterial que possuem uma comunicação eficiente reflete positivamente na aprendizagem do controle da doença e constitui um período de oportunidades da prática do ensino-aprendizagem (CADE, 1997). Um bom acolhimento na sala de espera de um serviço ambulatorial estimula a captação de novos hipertensos. É importante a detecção de novos casos assim como estimula a adesão dos hipertensos já existentes diminuindo, portanto, as taxas de abandono. 1- Ausência de equipe multidisciplinar A prestação de serviços de saúde à população, como meta do compromisso social, mencionado por Resende (1998) apud Vietta(1985), deve concentrar meios que favoreçam e propiciem o crescimento e desenvolvimento sadio do homem e que assegurem tratamento efetivo e meios de reabilitação. A saúde é garantida na Constituição Federal do Brasil como “ um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação” ( BRASIL,1988, art.196). Verificamos neste estudo que para promoção e manutenção da saúde os entrevistados sugeriram cardiologista e nutricionista na equipe multiprofissional, além do terapeuta ocupacional. 35 Diante das falas dos entrevistados verificou-se insatisfações com a organização do serviço quanto ao atendimento por médico especialista como havia a alguns anos atrás e sugeriram que houvesse a presença de um cardiologista na equipe e que a nutricionista do município se fizesse presente na unidade de saúde para realizar a orientação nutricional e palestra no dia do atendimento reservado para os hipertensos. Ainda sugeriram a participação de uma terapeuta ocupacional que trabalhasse com atividades laborais com os usuários. Muitas das questões de descontrole da pressão arterial não são resolvidas apenas com a consulta médica, o que torna necessário o atendimento biopsicossocial por multiprofissionais. As medidas de ajuda que são voltadas para o atendimento das necessidades biopsicossociais do indivíduo têm maior probabilidade de serem efetivas. É citado ainda que os usuários esperam serviços eficazes nos sistemas de cuidado da saúde. A adesão ao seguimento ambulatorial é um grande desafio no tratamento da hipertensão arterial, devido à sua longa duração, o que faz necessário otimizar essa adesão para se obter sucesso( RESENDE(1998) apud LANDERS et al(1993). 2- Dificuldade de acesso ao atendimento ambulatorial Um fator de dificuldade encontrado neste estudo relatado durante entrevista foi relacionado à distância ao atendimento. Especificamente aos usuários moradores do distrito da sede do Município. Conforme a fala do Hipertenso entrevistado: “ Caminho uma légua para chegar aqui. È difícil ir pra sede pois gasta com moto e ônibus( Distrito de Caridade: Timbaúba).” O seguimento ambulatorial é preconizado pelo PNECHA (Brasil, 1988) como essencial para o controle da doença e tem a finalidade de verificar a evolução da pressão arterial, seus fatores agravantes e os fatores de risco cardiovascular, de detectar e de acompanhar possíveis efeitos indesejáveis do tratamento, além de verificar e promover o cumprimento das recomendações terapêuticas. Para tal é necessário o acompanhamento, com o ajuste terapêutico e consultas mensais ou trimestrais essencialmente com o 36 profissional Médico e Enfermeiro. Conforme necessidade e avaliação individual do hipertenso A dificuldade de acesso gera ansiedade no portador de hipertensão arterial levando-o ao estresse e consequentemente ao desestímulo para o seguimento ambulatorial. Afastando-o do serviço de saúde. Acarretando um aumento nos níveis tensionais. Há muitos casos de hipertensos que por não possuírem acompanhamento adequado, ocorrem elevação da pressão arterial e levando os portadores a buscarem atendimento hospitalar em emergências. 6- CONSIDERAÇÕES FINAIS 37 Identificou-se, neste estudo, que os fatores que dificultam o controle da hipertensão arterial pelos seus portadores, estão relacionados, principalmente a: portadores sofrem influências de seus conhecimentos, suas características individuais e sua cultura. Esses fatores são inerentes ao próprio portador, referindo-se à sua maneira de ser e de agir. Quanto às relações com seus cuidadores sofrem influências e quanto ao acompanhamento por profissionais de saúde. Os fatores que dificultam o controle da hipertensão arterial foram, em grande parte, relacionados a situações que causam estresse, a falta de adaptação do cliente à doença, insatisfação quanto ao serviço de saúde e o desconhecimento do controle da doença. È importante ressaltar que, para minimizar os fatores que dificultam os portadores de hipertensão arterial a controlarem sua doença, é necessário que haja um trabalho que envolva o próprio doente, a sua família ou seu cuidador, bem como a atenção dos profissionais de saúde. E a participação dos agentes comunitários de saúde na busca ativa, por meio de visitas domiciliares, de hipertensos faltosos e resistentes a adesão ao tratamento Esse trabalho teria por base uma abordagem que procurasse minimizar os fatores que dificultam o controle da hipertensão arterial, tanto os inerentes à pessoa do portador e às suas relações com semelhantes. Recomendações importantes para que o portador de hipertensão Arterial alcance o controle satisfatório de sua pressão arterial: - Os portadores devem conhecer sua doença e a forma de controlá-la, bem como seus fatores de risco. - Os portadores devem ter garantias de atendimento com suporte nutricional para o seguimento do tratamento, com equipe multiprofissional que os atenda em todas as suas necessidades básicas de saúde, não apenas nas manifestações dos sinais e sintomas que apresentam. - Os portadores devem ter apoio de familiares e de seus cuidadores no controle da doença. - A educação para a saúde é básica para que o portador de hipertensão arterial possa realizar um controle eficiente da sua doença. Essa educação deve ser feita de modo 38 participativo e interativo, com envolvimento do doente, de seus familiares ou de seus cuidadores e de multiprofissionais. - Meios de educação para a saúde, individuais e coletivos com formação de grupos. - A educação para a saúde deve partir de conhecimentos adquiridos pelo doente e de suas próprias percepções, porém, com o sentido de corrigir os desvios e incentivar a implantação de estratégias individuais para superar as dificuldades pessoais a mudança de hábitos prejudiciais ao controle da doença. - A Atenção às necessidades socioeconômicas do portador de hipertensão arterial devem ser levadas em consideração quando de seu atendimento pelos profissionais de saúde. Enfim quando na prática da assistência ao portador de hipertensão arterial se conhecem os fatores que interferem negativamente e impedem o controle da sua doença percebido pela sua vivência pessoal e social relatado pelo próprio doente, surgem aspectos importantes que poderão trazer benefícios e assim atingir mais facilmente as metas no controle da hipertensão arterial. 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 39 ALMEIDA, C. B., ARAÚJO, G. A., SILVA, M. S. H. Plantas Medicinais no controle da hipertensão arterial em comunidades periféricas do município de João Pessoa- PB. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM, 50, Salvador, 1998. Resumos, PNC 913, p.236. ARAÚJO, T. L., ARCURI, E. A. M. , MARTINS, E. Instrumentação na medida da pressão arterial: aspectos históricos, conceituais e fontes de erro. Ver. Esc. Enfermagem USP, v.32, n.1, p.31- 41, abr.1998 ARAÚJO,C.A.R. Aderência ao cliente hipertenso ao tratamento:estudo em uma instituição de saúde de referência estadual. Fortaleza, 1999. 102p. 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Você acha que a P.A. alta tem cura? O que você sabe sobre a hipertensão arterial? Faz tratamento?Qual o tratamento? Medicamentoso( ) Não medicamentoso( ) 3- Dificuldades relacionadas ao controle da doença a) Com relação a dieta você conhece quais os alimentos que o hipertenso deve fazer uso com maior freqüência? b) Quanto aos medicamentos você faz uso diário da sua medicação?Quais? c) Você toma medicação por conta própria? d) Pratica exercício físico? Sim( ) não( )Qual ? Com que freqüência? Se não pratica, por que? e) Faz uso de bebidas alcoólicas? Sim( ) Não( ) Com que freqüência? f) E quanto ao fumo? Sim( ) Não( ) Com que freqüência? g) Você acha que o controle do peso é importante para o controle da P.A.? h) Você acha importante ir ao posto de saúde para consultas? Sim( ) não( ) i) Encontra dificuldades para ser atendido?( ) acesso ao posto; ( ) Horário de atendimento;( ) Distância; ( ) falta de profissionais ( ) outros j) Você tem alguma forma de lazer? Com que freqüência? k) Na sua opinião o que pode ser melhorado no atendimento aos pacientes com pressão alta? ANEXO II TERMO DE CONSENTIMENTO 43 Eu_____________________________________________concordo em participar da pesquisa “Fatores que dificultam o controle da Hipertensão Arterial a pacientes no Município de Caridade”, com o objetivo de conhecer os motivos que dificultam o controle da Hipertensão arterial dos pacientes cadastrados no Programa Saúde da Família. Estou ciente de que terei: - A garantia de receber esclarecimentos a qualquer dúvida relacionada a pesquisa; - A liberdade de retirar meu consentimento e deixar de participar do estudo; - A segurança de que não serei identificado(a) e que será mantido o caráter confidencial das informações; - As informações sobre os resultados do estudo. Caridade,__ de_________de 2006 ____________________________ Assinatura