um estudo exploratório sobre a aplicação de técnicas de marketing

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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Administração - N. 13, JUL/DEZ 2012
UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE
MARKETING NA EAD
Everton Rodrigues da Silva 1
Raphaela da Silva Ramos Fernandes 2
RESUMO
A Educação à Distância (EAD) não é uma criação recente. Há muito vem contribuindo para que um
público vasto e variado tenha acesso à formação. Diversos são os fatores que contribuíram para o
desenvolvimento do ensino não presencial, especialmente em tempos de internet. Atualmente, pode-se
observar o aumento das exigências por uma especialização, ao mesmo tempo em que se depara com
novas realidades: trânsito caótico, pouca disponibilidade de horário por parte dos estudantes,
aproveitamento das relações e dos ofícios virtuais, maior preocupação com a inclusão social. Se a
EAD encaixa-se com facilidade nos moldes de hoje e, cada vez mais, apresenta crescimento na oferta
de cursos de diferentes instituições, necessário é que se construam estratégias de marketing específicas
para a categoria. A literatura acadêmica e a experiência mostram que somente tendo informações
sólidas será possível prosseguir em direção a uma proposta de segmentação e de posicionamento de
mercado. O esforço para a busca de tais informações deve objetivar responder questões referentes à
fidelização do alunado. Na prática, faz-se mister que as instituições criem seus próprios modelos de
ação, baseados no modo como se relacionam com o ambiente de mercado e nos recursos e
competências de que dispõem.
Palavras-chave: Ensino. Educação à Distância. Marketing.
ABSTRACT
The Distance Education (DE) is not a recent creation. There is much it has been contributing to a
wider and varied audience has access to academic formation. Several factors have contributed to the
development of non-presential education, especially in times of internet. Currently, we can observe the
increasing demands for specialization, at the same time it faces new realities: chaotic traffic, lack of
available time by students, use of relationships and duties virtual, greatest concern with the social
inclusion. If the DE fits easily in today’s parameters and, increasingly, is growing in offering courses
at different institutions, it is needed to build specific marketing strategies to the category. The
academic literature and experience show that only with solid information you can proceed toward a
proposal of segmentation and market positioning. The effort to search for such information should aim
to answer questions concerning the loyalty of the students. In practice, it is necessary that institutions
create their own models of action, based on how they relate to the market environment and based on
the resources and skills available to them.
Keywords: Education. Distance Education. Marketing.
1
Professor da Faculdade Metodista Granbery – www.granbery.edu.br –, coordenador do projeto de
iniciação científica “Elaboração de casos de ensino” ([email protected]).
2
Graduada em Comunicação Social pela UFJF, especialista em Educação à Distância pela UNIP, pósgraduanda em “Comunicação e arte do ator” pela UFJF ([email protected]).
1
1 Introdução
Os meios de comunicação e as tecnologias de informação trouxeram ao mundo
contemporâneo benefícios e entraves. Como pontes neutras que ligam territórios, as
descobertas virtuais produzem efeitos direcionados por aquele que aperta o botão do mouse.
Não se pode fugir das inovações. Em todas as áreas, importante é acompanhar as
transformações econômicas, políticas, sociais. A educação, por exemplo, sempre seguiu no
rasto de tais fenômenos.
A Educação à Distância (EAD) – método em que estudantes e mestres estão
separados espacial e temporalmente, porém, conectados e interligados pela tecnologia – não é
uma criação recente. Há muito ela vem contribuindo para que um público mais vasto e
variado tenha acesso à formação, sem esbarrar em empecilhos de lugar e tempo. Com o
aprimoramento da rede mundial de computadores, entretanto, a EAD encontrou novo campo
(VASCONCELOS, 2011).
As maneiras de se ensinar e educar sofrem mutações constantes, uma vez que
alunos e professores – homens, cidadãos – estão inseridos em um cenário dinâmico. Diversos
são os fatores que contribuíram para o crescimento do ensino não presencial. Atualmente,
pode-se observar o aumento das exigências do mercado para uma especialização, o trânsito
caótico, a pouca disponibilidade de horário por parte dos estudantes, o aproveitamento das
relações e dos ofícios virtuais, a maior preocupação com a inclusão social – referente tanto a
pessoas menos abastadas quanto portadoras de necessidades especiais (FIGUEIRA, 2011).
Se a EAD encaixa-se com facilidade nos moldes de hoje e, cada vez mais,
apresenta crescimento na oferta de cursos de diferentes instituições, necessário é que se
construam estratégias de marketing específicas para a categoria (SILVA, 2008). Afinal,
muitos obstáculos ligados a esse tipo de serviço ainda não foram transpassados, tais como
dúvidas sobre eficácia e credibilidade, altos índices de evasão e etc. (FIGUEIRA, 2011).
Este estudo pretende fornecer indícios sobre quais técnicas de marketing podem
ser aplicadas para a conquista de novos clientes e, principalmente, para a permanência
daqueles que já contrataram o serviço de EAD. De maneira específica, pode-se enumerar os
seguintes objetivos:
 Identificar os fatores determinantes na escolha de um curso à distância;
 Identificar os elementos motivadores e desmotivadores da EAD (valor
percebido); e
2
 Verificar a percepção dos entrevistados sobre os aspectos-chave da EAD
abordados na fundamentação teórica (conteúdo das disciplinas, material didático, atendimento
das dúvidas, facilidade de acesso à plataforma de ensino e qualidade dos professores/tutores).
A pesquisa bibliográfica, que antecedeu a decisão de realizar este trabalho,
revelou que existe um baixo grau de conhecimento em relação às metas propostas.
Assim, utilizando a classificação proposta por Bento e Ferreira (1982), tal
manuscrito se encontra no nível de busca de informações sugestivas. Diante disso, optou-se
por realizar um estudo exploratório, apoiado em dois instrumentos de investigação, a saber:
conferência de bibliografia relacionada às áreas de marketing e Educação à Distância; e
pesquisa qualitativa, realizada por meio de entrevistas, através de um roteiro semiestruturado,
com alunos que cursam ou cursaram EAD.
Os respondentes foram selecionados com base na facilidade de acesso, formando
uma amostra por conveniência. Trata-se de uma técnica não probabilística que possui
limitações, como o viés de seleção. Outra particularidade é que os resultados obtidos são
restritos às organizações estudadas, não permitindo generalizações e extrapolações
(MALHOTRA, 2011). Quanto à adequação desta à natureza da pesquisa, o autor assevera
que:
As amostras por conveniência não são apropriadas para a pesquisa descritiva
ou causal cujo objetivo é inferir conclusões. Contudo, elas são úteis na
pesquisa exploratória cujo objetivo é gerar idéias, adquirir novas
compreensões e desenvolver hipóteses (MALHOTRA, 2011, p. 276).
Convém deixar claro que um estudo de caráter exploratório tem como objetivo
sugerir perguntas, não encontrar conclusões; familiarizar-se com o fato; descobrir
perspectivas; permitir a identificação de problemas para estudos posteriores (CERVO,
BERVIAN e DA SILVA, 2010; MALHOTRA, 2011).
2
Fundamentação Teórica
O embasamento teórico desdobra-se em duas principais linhas de investigação:
Educação à Distância (EAD) e Marketing.
2.1 Evolução histórica mundial da Educação à Distância (EAD)
3
Atualmente, quando se pensa em Educação à Distância (EAD), de imediato,
associa-se tal processo ao uso da internet, no entanto, ela não é a responsável pela origem do
ensino não presencial.
Se a EAD for considerada, de maneira geral, como a possibilidade de acesso a
uma informação sem a obrigação de proximidade e contato com seu emissor, retornar-se-á ao
século XV, quando o alemão Johannes Gutenberg inventou o tipo mecânico móvel para
impressão de livros (BARRETO, 2006). Tal evento exerceu papel fundamental no
desenvolvimento da Renascença, da Reforma e da Revolução Científica. A partir dele, a
aprendizagem em massa começou a construir suas bases.
Os primeiros experimentos mais específicos da EAD, porém, remontam ao início
do século XIX. Em 1829, na Suécia, foi criado o Instituto Líber Hermondes, que somava
cerca de cento e cinquenta mil usuários. Depois, em 1840, o Reino Unido fundou a primeira
escola por correspondência da Europa, a Faculdade Sir Isaac Pitman. Na Alemanha, dezesseis
anos mais tarde, surgiu o primeiro instituto de línguas por correspondência e, em 1874, os
Estados Unidos desenvolveram instituição semelhante, a Illionois Weeleyan University
(VASCONELOS, 2011).
Ao longo do tempo, França, Espanha e Inglaterra tornaram-se os principais centros
de divulgação da EAD, sendo que esta última foi a responsável pelo implemento da primeira
Open University (Universidade Aberta), em 1969, instituição que, ainda hoje, mantém um
sistema de consultoria para apoiar outras nações a executar EAD com qualidade. A
Universidade Nacional de Educação à Distância, da Espanha, a Universidade Nacional
Aberta, da Venezuela, e a Universidade Estatal à Distância, da Costa Rica, são exemplos
influenciados pela Open (BARRETO, 2006).
2.2 A EAD no Brasil
Como visto, na América Latina, Venezuela (1977) e Costa Rica (1978)
apresentam programas de EAD baseados na iniciativa inglesa. No Brasil, somente em 2005
foi formulado o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), com a finalidade de expandir
a educação superior (UAB, 2011).
Quando a história nacional é comparada com a de outros países, de acordo com
Vasconcelos (2011), verifica-se que ela corre com certo atraso. As primeiras referências
documentadas são da década de 1920, quando foi criada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro
4
por Edgard Roquette-Pinto, que mais tarde, tornou-se a Rádio Ministério da Educação. Antes
disso, em 1904, estavam instaladas no país as escolas internacionais que ofereciam cursos por
correspondência.
Outro fato de destaque, conforme ilustra Barreto (2006), é a Universidade do Ar.
A primeira experiência, de 1941, era voltada para a formação do professor leigo, mas durou
apenas dois anos. Nova iniciativa, de 1947, foi lançada em São Paulo com o objetivo de
treinar comerciantes e empregados do setor comercial, chegando, nos anos 1950, a ser
transmitida em 318 cidades para 80 mil alunos.
Nesse período, nasceu também a TV Tupi, pioneira no Brasil, que trouxe de volta
à cena educacional a figura de Roquette-Pinto. Mas o rádio continuava a trazer conquistas. Na
década de 1960, surgiu o Movimento de Educação de Base (MEB), concebido pela Igreja
Católica e patrocinado pelo Governo Federal.
Outras ações de destaque foram o projeto “Minerva” e o Programa Nacional de
Telecomunicações (Prontel) – ligado diretamente à Secretaria Geral do Ministério da
Educação e Cultura (BARRETO, 2006). Na década de 1970, outra importante iniciativa foi a
da Fundação Roberto Marinho.
Com relação ao ensino superior, o Ministério da Educação organizou as primeiras
sugestões, em 1972, a partir de um relatório de Newton Sucupira, do Conselho Federal de
Educação, que defendia a criação de uma universidade aberta com bases no modelo inglês. A
empreitada enfrentou insucessos até sua recente concretização. Enquanto isso, nasciam outros
projetos, como o programa de ensino à distância da Universidade de Brasília; o programa de
pós-graduação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes/MEC) e Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (ABT/pós-graduação); o
programa de especialização em agronomia da Associação Brasileira de Educação Agrícola
Superior (Abeas) e o programa Universidade Aberta do Nordeste, mantido pela Fundação
Demócrito Rocha. (BARRETO, 2006).
2.3 A chegada da internet
Apesar de todas as vantagens proporcionadas pelo rádio e pela TV, a internet
fortaleceu uma possibilidade, antes explorada pelo texto impresso e pelas fitas VHS e cassete:
o fato de os alunos não precisarem estar diante da tecnologia em dias e horários pré-definidos.
Tal avanço é de suma importância na atualidade, já que se vivencia um período de profundas
transformações.
5
Segundo Vasconcelos (2011), as plataformas de ensino atuam como uma “tábua
de salvação” em meio às grandes e médias cidades repletas de veículos e, consequentemente,
de engarrafamentos, aos transportes públicos pouco confiáveis e lotados, além de cidadãos
com menos tempo disponível para a família e o lazer.
Aborda-se aqui um tipo de comunicação em EAD chamado assíncrono, que, na
internet, é composto de e-mails, navegação pela página, downloads e acesso a vídeos e a
áudios sob demanda – ferramentas que oferecem ao estudante a chance de adequar os estudos
a horários e lugares de sua conveniência. Entretanto, a rede continua trabalhando com a
comunicação síncrona, por meio de chats e conferências (MARTIN, 2011). Assim, o método
não elimina, como muitos afirmam, a convivência humana, mesmo que se trate de uma
relação virtual.
Os cursos de EAD podem dividir-se, ainda, em parcialmente presenciais e
totalmente à distância. No primeiro caso, os alunos precisam comparecer a algumas aulas ou
avaliações em pólos. No segundo, eles não possuem qualquer contato com a instituição, a não
ser para realizar os exames finais (MARTIN, 2011).
2.4 Desafios da EAD para o futuro
Segundo Litwin (2005), a EAD esbarra na questão da credibilidade. Por anos, sua
imagem se associou a uma modalidade inferior de educação, destinada a indivíduos sem
condições,
financeiras
ou
intelectuais,
de
frequentar
um
curso
regular
(apud
VASCONCELOS, 2011). Figueira (2011) faz a mesma consideração.
Para Vasconcelos (2011), uma pessoa só consegue levar seus estudos a termo se
desenvolver a autodisciplina. Assim, para diminuir os índices de evasão, é indispensável que
os professores de EAD busquem formas criativas e atraentes de ensinar. Alinhar estratégias
visuais as aulas, potencia o canal de comunicação e aumenta significantemente a velocidade
de absorção de conhecimento por parte dos alunos, diz Figueira (2011).
Mas, além disso, ainda segundo esse autor, todo estudante de tal modalidade
espera poder acessar um site inteligível, organizado e que sempre funcione, e também ser
atendido pela secretaria e pelos tutores pedagógicos.
Como abordado, várias instituições de ensino à distância surgiam nas últimas
décadas. Segunda Silva (2008), muitas sem qualidade e com preços reduzidos. Por conta
disto, ainda conforme a autora, as faculdades em geral passam por dificuldades para seduzir
6
estudantes: “mas não se trata apenas de atraí-los, é preciso mantê-los, provendo ensino de
qualidade, para que fiquem satisfeitos.” (SILVA, 2008, p. 6).
O marketing auxiliará nessa dupla empreitada, levando para a EAD o público
correto e criando vínculos que facilitem a fidelização. “As instituições que não se atentam e
não possuem profissionais de marketing, fecham as portas, vão à falência”, avalia Silva (2008,
p. 7).
2.5 Marketing
Kotler e Keller (2006, p. 4) afirmam que o “marketing é um processo social por
meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam
com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros”. Tal
conceito sugere que o marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades
humanas como um ponto de partida.
Nesse sentido, um conceito de importância vital é o de valor para o cliente.
Encantamento se consegue ofertando algo superior (CHURCHILL e PETER, 2000). Para os
autores, o valor percebido pelo cliente na compra de um produto/serviço pode ser entendido
simbolicamente por meio da seguinte equação matemática, apresentada na figura 1:
=
VALOR
Benefícios percebidos
-
Custos percebidos
Figura 1. Valor percebido pelo cliente.
Fonte: Churchill e Peter (2000).
Para Churchill e Peter (2000), benefícios e custos podem ser classificados,
conforme revela o quadro 1:
BENEFÍCIOS
Funcionais
São os benefícios tangíveis recebidos em bens ou serviços.
Sociais
São as respostas positivas que os clientes recebem de outras pessoas
por comprar e usar determinados produtos e serviços.
Pessoais
São os bons sentimentos que os clientes experimentam pela compra,
propriedade e uso de produtos, ou pelo recebimento de serviços.
Experimentais
Referem-se ao prazer sensorial que os clientes têm com os produtos
e/ou serviços adquiridos.
CUSTOS
Monetário
Representa a quantidade de dinheiro que os clientes pagam para
receber produtos e serviços.
7
Temporal
Representa o tempo gasto pelo cliente comprando bens ou serviços.
Psicológico
Comportamental
Refere-se à energia e à tensão mentais envolvidas em fazer compras e
aceitar os riscos dos produtos.
Refere-se à energia física que os clientes despendem para comprar
bens e serviços.
Quadro 1. Tipos de custos e benefícios percebidos pelos clientes.
Fonte: Churchill e Peter (2000).
Vale dizer que os custos acima, examinados em sua totalidade, são chamados de
custos de transação ou custos da compra. Como mostrado na figura 2, a oferta de um valor
superior é o ponto de partida para o encantamento do cliente, que, por sua vez, é o meio para
o estabelecimento de relações duradouras.
Valor
superior
Satisfação e prazer
Fidelidade
Relações duradouras e
lucrativas
Figura 2. As consequências do valor superior para os clientes.
Fonte: Churchill e Peter (2000).
Assim, pode-se compreender o marketing voltado para o valor como sendo uma
filosofia empresarial que se concentra em desenvolver e entregar um valor superior para os
clientes como modo de alcançar os objetivos da organização (CHURCHILL e PETER, 2000).
Desta forma, seu conceito está ligado à observação do ambiente mercadológico
para a formulação de ações que determinarão a atuação das empresas, instituições,
organizações não-governamentais e governo. O tópico seguinte abordará este tema de estudo.
2.5.1Ambiente de marketing e posicionamento
8
As atividades de marketing desdobram-se em diversas camadas, representadas
pelos círculos concêntricos da figura 3:
Mercado global
Macroambiente
Microambiente
Ambiente
organizacional
Cliente
Figura 3. Ambiente de marketing.
Fonte: Adaptado de Anderson e Vincze (2000, apud BASTA, et al., 2003).
A dinâmica e a complexidade do ambiente fazem com que a tomada de decisão
baseada exclusivamente na intuição e em experiências anteriores seja inadequada. Por tal
razão, é necessário fazer uso de um modelo chamado de Sistema de Informações de
Marketing (SIM).
O SIM é uma estrutura conceitual que descreve o modo como o conhecimento nas
empresas é gerado. Ele reúne etapas que compreendem a produção de informações para a
análise e a tomada de decisões, o compartilhamento do conhecimento e as eventuais
necessidades de ajustes (BASTA et al., 2003). Cada componente do SIM pode ser
compreendido de acordo com o quadro 2:
Entrada de
dados
Divide-se em dois subsistemas:
Macroambiente: diz respeito às informações oriundas do contexto
ambiental que cerca a empresa. Podem ser sobre política, cultura,
economia, ambiental, tecnológica, jurídica, etc.
Microambiente: Podem ser informações provenientes dos consumidores,
fornecedores, canais de venda, concorrentes e parceiros em geral e
informações internas, como relatórios gerenciais, de desempenho de
vendas, de ocupação de mercado, etc.
9
Processamento /
análise
É composto pelos seguintes subsistemas:
Dados internos: envolve os dados e informações (relatórios,
treinamentos, etc.) produzidos pela própria empresa;
Inteligência de mercado: abrange todas as iniciativas de busca de
informação externa (pesquisas e estudos setoriais disponíveis no
mercado, etc.);
Apoio à tomada de decisão: representa o conjunto de recursos
(softwares, equipamentos, etc.) colocados à disposição para o
andamento dos negócios;
Pesquisa de mercado: pesquisas realizadas com o intuito de coletar
dados primários.
Saída de
informação
A informação/decisão tendo sido gerada, resta comunicá-la ao público
interessado.
Em função do impacto das informações e decisões tomadas, como
Atualização /
resultado das etapas anteriores, pode haver necessidade de ajustes em
ajuste / feedback
processos, modelos de negócio, recursos, etc.
Quadro 2. Componentes do SIM.
Fonte: Basta et al. (2003).
O papel central do SIM é avaliar as necessidades de informação da empresa,
afirmam os autores. Dentre os principais benefícios de sua aplicação, está a possibilidade de
evitar surpresas, identificar ameaças e oportunidades, obter e manter a vantagem competitiva,
acompanhar as mudanças de valores, hábitos e necessidades do consumidor e, por último,
aprimorar e revisar continuamente o planejamento estratégico de longo e curto prazos
(PINHEIRO et al., 2006).
Outro ponto importante a ser considerado é a decisão de posicionamento da
empresa. Ver-se-á, pelos conceitos a seguir, que a base para tal escolha é o estabelecimento
do sistema de informação de marketing.
Kotler (2000) atesta que posicionamento é a ação de desenvolver a oferta e a
imagem da organização ocupando assim um lugar na mente dos consumidores. Basta et al.
(2003) dizem que a fonte para um posicionamento eficaz é concentrar-se nas percepções do
cliente, e não na realidade do produto, quando o objetivo é divulgar as vantagens de algum
produto.
Ries e Trout (1995) apresentam um conceito, que é praticamente um corolário das
visões anteriores: posicionamento não é o que é feito com o produto. Posicionamento é o que
é trabalhado na mente do cliente em perspectiva. Ou seja, o produto é posicionado na mente
do comprador em potencial (apud BASTA et al., 2003). Se como diz o ditado popular “a
beleza está nos olhos de quem a vê”, então a realidade que conta é a que está na mente do
consumidor. (BASTA et al., 2003).
10
Basta et al. (2003) resumem a estratégia de posicionamento em seis alternativas
possíveis:
 Por atributos/benefícios: baseia-se em benefícios tangíveis ou abstratos;
 Por aplicação ou utilização: ressaltam-se as vantagens ao se utilizar o
produto/serviço para algum fim específico;
 Por usuário: quando se apresenta um produto como o melhor para determinado
grupo de usuários;
 Por concorrente: focado na exploração de pontos positivos do produto em
relação à concorrência;
 Por categoria de produtos/serviços: reforçam-se os benefícios de determinado
produto em relação a uma outra classe de produto. Exemplo: barra de cereal é melhor que
barra de chocolate;
 Por qualidade/preço: quando se apresenta um produto/serviço, dizendo que ele
possui a melhor relação custo/benefício.
As organizações precisam definir qual posicionamento desejam ocupar.
2.5.2 O processo de decisão de compra
Em termos gerais, as etapas da figura 4, propostas por Basta et al (2003),
representam um modelo básico, aplicável a grande parte dos casos e dos consumidores, para
descrever um processo de compra.
11
1
Reconhecimento de uma necessidade;
Não indica, necessariamente, um real problema
físico, mas um estado de privação, desconforto
ou falta;
Pode se dar por estímulos internos ou por
externos (provenientes do ambiente);
Exemplo: quando se tem uma festa para ir e se
precisa de uma roupa nova.
De posse das informações
necessárias, o consumidor avalia as
alternativas de compra, medindo a
relação custo versus benefícios.
3
Reconhecimento do
problema
Busca de
informações
Decisão de
compra
Avaliação de
alternativas
2
Busca de informações sobre os vários modos
de resolver o problema;
Existem três principais grupos de informação
(ou grupos de referência):
fontes pessoais (amigos, família e
conhecidos);
fontes
comerciais
(propaganda,
vendedores e representantes); e
fontes experimentais (avaliação, test
drive, ações de degustação, aulas
experimentais, uso do produto por um
tempo maior, etc.).
4
Nesta etapa final, o consumidor
decidiu fazer a compra, mas ainda
restam algumas escolhas, como:
forma de pagamento, quantidade,
marca, ocasião da compra. O
momento final desse ciclo acontece
com a efetivação da compra.
Figura 4. Etapas do processo de compra.
Fonte: Basta et al. (2003).
Mas o processo decisório não termina com a compra. A experiência de usar o produto fornece
informações para a tomada de decisão futura. Na visão de Basta et al. (2003), a fase de pós-compra
envolve quatro passos, demonstrados na figura 5.
Confirmação da
decisão
Avaliação da
experiência
Satisfação e
insatisfação
Abandono;
Reclamação;
Lealdade.
Figura 5. Etapas do processo de pós-compra (ou pós-venda).
Fonte: Basta et al. (2003).
Os autores alertam para o fato de que o último passo é que irá definir a lealdade do
cliente. Assim, o planejamento de marketing deve agir no sentido de identificar as ações que
devem ser criadas para conquistar e reter os clientes. Tais ações são frequentemente chamadas
de estímulos de marketing e consistem em medidas tomadas em um ou mais dos 4P´s de
12
marketing, a fim de que a organização alcance os objetivos propostos no relacionamento com
o seu mercado consumidor.
2.5.3 Marketing de relacionamento
As pressões competitivas enfrentadas pelas empresas e profissionais criam uma
necessidade de diferenciação. Um dos caminhos possíveis para a busca de um posicionamento
único é a construção de relacionamentos. Gordon (2002) atribui relevância a esta afirmação
ao dizer que a tese central do seu livro é que os relacionamentos são os únicos bens
verdadeiros da empresa.
Mas, afinal, o que é marketing de relacionamento? O quadro 3, a seguir, traz
quatro opiniões de autores sobre o assunto.
Richers (2001)
Gordon (2002)
Vavra (2003)
Kotler e Keller
(2006)
Visa a maximização e a manutenção de clientes satisfeitos, com o
objetivo de construir relacionamentos permanentes.
É o processo contínuo de criação de valores com clientes individuais
e o compartilhamento de seus benefícios durante uma vida de
parceria. Envolve a compreensão, a concentração e a gestão da
colaboração entre fornecedores e clientes.
É o processo de proporcionar satisfação contínua e reforço aos
indivíduos ou organizações. Os clientes devem ser identificados,
reconhecidos, comunicados, auditados em relação à satisfação e
respondidos.
Tem como meta construir relacionamentos de longo prazo
mutuamente satisfatórios com partes-chave – clientes, fornecedores,
distribuidores e outros parceiros, a fim de conquistar ou manter
negócios.
Quadro 3. Quatro conceitos sobre marketing de relacionamento.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Percebe-se, pelo exame das definições acima, que o marketing de relacionamento
é uma extensão do conceito tradicional de marketing. No entanto, ele está apoiado em um
conjunto de procedimentos específicos, que serão apresentados na sequência.
Para Vavra (2003), os princípios básicos para a implementação de um programa
de relacionamento são: conversar rotineiramente com os clientes; ouvir as opiniões sobre tudo
que envolve o seu negócio; captar informações; utilizar as informações como instrumento
gerencial para a tomada de decisões; compreender uma sugestão como oportunidade de
melhoria; e construir uma base de dados com as informações obtidas.
13
Gordon (2002) elege seis princípios para o marketing de relacionamento, a saber:
tecnologia; objetivos da empresa; seleção e rejeição de clientes; cadeia de relacionamentos;
reavaliação dos 4 P´s; utilização de gerentes de relacionamento.
Kotler e Keller (2006) propõem um conjunto de etapas para cultivar o
relacionamento com os clientes:
 Passo 1 - gestão do relacionamento com os clientes: identifique seus clientes,
diferencie-os, interaja com os mesmos de maneira customizada;
 Passo 2 - atraia, retenha e adquira clientes;
 Passo 3 - construa fidelidade;
 Passo 4 - reduza a perda de clientes;
 Passo 5 - desenvolva vínculos fortes com os clientes.
3
A APLICAÇÃO DO MARKETING NA EAD
O tópico abaixo traz a análise das entrevistas realizadas. Na sequência, serão
apresentadas sugestões a respeito da contribuição do marketing diante dos desafios
diagnosticados.
3.1 Análise das entrevistas
Com base na fundamentação teórica deste trabalho, foi elaborado um questionário
com o intuito de buscar linhas de pensamento que permitam sanar as interrogativas inseridas
na introdução do artigo.
Dessa maneira, a análise de quatro entrevistas oferecidas por indivíduos com
características diferentes apontará caminhos que desembocarão na descoberta das
especificidades e funções do marketing voltado para a EAD.
As análises foram divididas em três partes, conforme explicitado a seguir.
3.2 Parte I – Características dos entrevistados
Na sequência, o quadro 4 traz o perfil dos entrevistados:
Idade
Sexo
Faculdade à
A
29
Feminino
Graduação
B
51
Feminino
Graduação
C
36
Feminino
Graduação
D
48
Masculino
Pós-graduação
14
distância que
está cursando
no momento?
Possui outra
graduação?
Possui pósgraduação?
Já participou
de algum outro
curso à
distância, além
do mencionado
na questão
anterior?
Administração
Pedagogia
Administração
(finalizado)
Formação em
EAD
Sim
Sim
(incompleta)
Não
Sim
Sim
Não
Não
Sim
Não
Sim
Não
Não
Quadro 4 - Características dos entrevistados.
Fonte: Elaborado pelos autores.
3.3 Parte II – Considerações sobre a EAD
Os entrevistados avaliaram a EAD de forma geral, informando sua visão sobre
o método antes e depois de passar por ele. Também foram abordados os motivos pelos quais
cada aluno optou pelo estudo não-presencial.
A seguir, apresentam-se as perguntas desta etapa e as respectivas análises.
Pergunta 1 - Por que você optou por um curso à distância?
Nesse ponto, o fator tempo mostrou-se liderante. Todos os entrevistados, com
exceção do “D” (que, mais à frente, irá elogiar a flexibilidade de horário), disseram ter
escolhido a EAD por não querer abrir mão das atividades do dia a dia.
Pergunta 2 - O preço foi um fator preponderante? Justifique brevemente.
Ao contrário do que muitos costumam pensar, o preço não foi declarado o item
decisivo no momento da contratação de uma faculdade à distância para todos os que
participaram da pesquisa. Entretanto, o nome da instituição e a facilidade de acesso virtual ou
físico (para os momentos presenciais) parecem se sobrepor à questão do investimento por
parte do estudante. Ainda assim, este elemento pode atuar de maneira secundária. Diz a
entrevistada “A”: “o preço foi um incentivador, mas não foi o responsável pela minha
decisão”.
Pergunta 3 - No geral, quais são os aspectos positivos de cursar uma faculdade à distância?
15
Com relação aos aspectos positivos, os entrevistados foram unânimes ao
responder: flexibilidade de horário e local. Segundo a estudante “B”, de 51 anos, seus acessos
à plataforma de ensino tanto acontecem em casa, como em rodoviárias, no trânsito, em
cidades variadas. Ela também comentou que costuma fazer seus exercícios de madrugada.
Pergunta 4 - No geral, quais são os aspectos negativos de cursar uma faculdade à distância?
A impossibilidade de troca de experiências e de interação mais intensa entre os
alunos foi o principal ponto negativo da EAD. A estudante “A”, por exemplo, comentou que
não indicaria o método a uma pessoa que tivesse acabado de sair do ensino médio, por
acreditar que “a rotina de uma universidade tradicional contribui para a formação do
profissional”. Outro aspecto considerado foi a necessidade de autodisciplina. Segundo a
entrevistada “B”, “é tentador deixar as atividades para depois”.
Pergunta 5 - Você acredita que a EAD tem a mesma QUALIDADE que um curso presencial?
A noção de qualidade da EAD, se comparada ao ensino tradicional, ainda divide
opiniões. A aluna “C” foi incisiva ao dizer que, para ela, o ensino não-presencial é inferior ao
presencial. Por outro lado, o aluno “D” afirmou que a qualidade dos dois métodos é a mesma.
Interessante destacar, porém, que as demais entrevistadas relacionaram tal pergunta à atuação
do aluno, capaz ou não de aproveitar as oportunidades oferecidas pela faculdade. A estudante
“B”, por exemplo, era a única de todo o pólo da Universidade Aberta do Brasil na
Universidade Federal de Juiz de Fora (UAB/UFJF), na época da pesquisa, a integrar um grupo
de pesquisa, uma bolsa de iniciação científica e a ter orientação individual para monografia, a
fim de construir referenciais teóricos para seus futuros projetos de mestrado e doutorado.
Assim, parece que a convicção da população – citada por Figueira (2011) – de que o ensino à
distância não é tão eficiente quanto o presencial está se deslocando para uma nova visão,
semelhante a que se tem a respeito de uma faculdade tradicional: muito depende da dedicação
do aluno.
3.4 Parte III – Percepções sobre a faculdade que está cursando
Nesta etapa, buscou-se coletar o nível de satisfação de cada entrevistado com
relação à instituição contratada, além de enumerar os elementos causadores de tal escolha.
16
Procurou-se, também, descobrir se há riscos de evasão. Como no tópico anterior, seguem
abaixo os questionamentos usados na pesquisa, associados a um possível diagnóstico.
Pergunta 8 - Como ficou sabendo do curso que escolheu?
Os sites das instituições surgiram nas respostas como o principal canal de
informação. A indicação dada por amigos também foi mencionada.
Pergunta 9 - Por que você optou por esta faculdade?
Os recursos de vídeo e áudio chamaram a atenção da entrevistada “A”, que acabou
elegendo esse como o fator decisivo para a contratação do serviço. Mas ela também
considerou importante a proximidade do pólo, assim como os outros envolvidos. O estudante
“D” afirmou ter escolhido a faculdade de acordo com um curso específico que pretendia
realizar.
Pergunta 10 - O que a sua faculdade oferece como motivação para que você continue
realizando o curso?
Neste ponto, os indivíduos alegaram receber poucos incentivos diretos de suas
faculdades. Ainda assim, a entrevistada “C” considerou salutar um bom material didático e
uma plataforma virtual rápida e inteligível. A aluna “A” disse contar apenas com seus
próprios objetivos.
Pergunta 11 - Quais são as principais deficiências da faculdade percebidas por você ao
longo da realização do curso?
Com relação às dificuldades, a sintonia com os professores e o pólo parece ser a
principal crítica dos participantes das entrevistas. A aluna “C” abordou especificamente o
pouco tempo disponibilizado pelos professores para o contato virtual, enquanto a “B”
ressaltou as deficiências na metodologia dos estágios e no acompanhamento das monografias.
Pergunta 12 - Você indicaria ou já indicou este curso para outra pessoa?
Apenas a estudante “C” não indicaria seu curso, por considerar a decisão pessoal e
relacionada a momentos específicos da vida. A entrevistada “A” disse que indicaria somente
para as pessoas com outra graduação presencial.
17
Pergunta 13 - Dê uma nota de 1 a 3 em relação à sua SATISFAÇÃO com o curso.
Aqui, a nota 2 (regular) foi dada em todos os casos. Embora os alunos estejam, de
alguma forma, satisfeitos com sua opção, parecem considerar que o aprimoramento ainda se
faz necessário. Ou, talvez, não conheçam as vantagens e qualidades do curso por conta da
ausência de ferramentas de marketing.
3.5 Parte IV – Ferramentas de suporte à EAD oferecidas pela faculdade
Nesta fase da pesquisa, foram citados os principais itens do serviço (conteúdo das
disciplinas, material didático, atendimento das dúvidas, facilidade de aceso ao site e
qualidades dos professores e tutores), a fim de que os entrevistados pudessem avaliá-los e,
posteriormente, listá-los em ordem de importância, conforme mostra o quadro 5.
Pergunta 14 – Avalie os aspectos a seguir:
RUIM
REGULAR
BOM
Conteúdo das disciplinas
1
2
1
Material didático (apostilas, vídeos,
etc.)
0
1
3
Atendimento das dúvidas
2
1
1
Facilidade de acesso ao site
1
1
2
Qualidade dos professores/tutores
2
1
1
Quadro 5. Avaliação geral dos itens do serviço dos cursos de EAD.
Fonte: Elaborado pelos autores.
No quadro 6, pode-se perceber que todos os itens foram considerados importantes
pelos entrevistados, com exceção de conteúdo das disciplinas e atendimento das dúvidas, que
foram tratados como aspectos importantes por um participante.
Pergunta 15 – Avalie a importância dos aspectos a seguir:
POUCO
IMPORTANTE
IMPORTANTE
MUITO
IMPORTANTE
Conteúdo das disciplinas
0
1
3
Material didático (apostilas,
vídeos etc.)
0
0
4
Atendimento das dúvidas
0
1
3
18
Facilidade de acesso ao site
0
0
4
Qualidade dos
professores/tutores
0
0
4
Quadro 6 - Importância dos itens do serviço dos cursos de EAD.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Os resultados parecem confirmar que a qualidade precisa mesmo anteceder e
apoiar o marketing. Os itens avaliados que se destacaram como positivos entre os estudantes
foram o material didático e a facilidade de acesso ao site. Já o atendimento das dúvidas e a
qualidade dos professores/tutores receberam as piores notas.
3.6 Reflexões sugestivas sobre a aplicação do marketing na EAD
A riqueza das informações fornecidas representa um campo fértil para se pensar
nas possíveis aplicações dos conceitos e das ferramentas do marketing na EAD. Antes de
prosseguir, é prudente ressaltar que a natureza qualitativa deste estudo não permite fazer
generalizações. Portanto, o que se viu no tópico anterior e o que se verá a partir de agora são
reflexões sugestivas acerca do tema estudado.
Conforme dito por Basta et al. (2003), a dinâmica e a complexidade do ambiente
de mercado, no qual organizações e prestadores de serviço em geral estão inseridos, fazem
com que a tomada de decisão baseada exclusivamente na intuição e em experiências
anteriores seja inadequada.
Portanto, observando-se as motivações e os aspectos positivos e negativos
levantados pelos entrevistados, faz-se urgente, para as instituições que almejam criar um
posicionamento robusto no mercado, criar ações de inteligência de marketing, enfatizando três
pontos:
 Análise do macroambiente: detectar as principais forças (política, cultural,
econômica, ambiental, tecnológica e jurídica) que geram oportunidades e ameaças à EAD;
 Análise do microambiente: priorizar a compreensão dos motivadores que
levam os indivíduos a optarem por um curso não-presencial e identificar os pontos
considerados essenciais na percepção de valor dos mesmos, bem como mapear a ação da
concorrência;
 Análise interna: aproveitar a massa de alunos das instituições de ensino e
conduzir pesquisas, a fim de conhecer o seu público alvo e promover práticas de fidelização.
19
Esse seria um roteiro básico para as empresas que desejam alçar voos em tal setor.
É a partir dessa investigação que será possível escolher um segmento de mercado e um
posicionamento que sejam mais atrativos para a instituição.
3.7 Percepção de valor sobre a EAD
Identificou-se que o principal benefício percebido pelos entrevistados foi a
flexibilidade de tempo existente para se realizar um curso não presencial. Utilizando a
terminologia de Churchill e Peter (2000), pode-se classificá-lo como um benefício funcional.
Ganhos sociais não foram mencionados, como, por exemplo, a sensação de reconhecimento
que alguns manifestam quando realizam uma faculdade tradicional.
Também se observou que os alunos ouvidos têm bem definido o retorno esperado
referente à escolha do curso. Esse aspecto faz com que a relação de troca seja mais racional e
objetiva. Assim, de forma geral, os entrevistados parecem não exigir, para continuarem
matriculados, benefícios típicos de um ensino tradicional. Mesmo assim, eles não deixam de
asseverar que sentem falta de alguns pontos, ao citarem que os aspectos mais deficitários na
EAD são: a ausência da troca de experiência e da relação de convivência física, dos estágios,
do acompanhamento individualizado no processo de elaboração de trabalhos de final de curso
e também o pouco tempo para tirar dúvidas com os tutores. Em um universo de estudantes
mais novos, por exemplo, com o grau de maturidade menor, a expectativa com o serviço
poderia ser outra, e a análise acima, diferente.
Do ponto de vista dos custos percebidos, a redução do tempo e do stress mental e
físico relacionado ao deslocamento e ao cumprimento de horários pré-definidos, como ocorre
no formato tradicional, mostrou-se unânime.
O custo financeiro não apareceu declaradamente como um fator decisivo, mas é
necessário um estudo aprofundado sobre tal questão. A frase da entrevistada “A” (“o preço foi
um incentivador, mas não foi o responsável pela minha decisão”) sugere uma reflexão. Na
prática, uma possível interpretação é que o preço é um atributo importante. Ele pode não
significar um diferencial competitivo, mas propicia perda de clientes se estiver fora do padrão
do mercado.
É razoável dizer que os aspectos positivos superam os negativos, mas não há uma
relação de encantamento por parte dos respondentes. Vale ressaltar, por exemplo, que quando
20
se perguntou: “acredita que a EAD tem a mesma QUALIDADE que um curso presencial?”, a
opinião não foi unânime.
Conforme dito, é fato que a mentalidade em relação a esta questão está se
modificando. O comprometimento do aluno é o que importa, independente dos métodos,
afirma Figueira (2011). Mas, novamente, deve-se incluir na análise outras variáveis, tais
como: nível do vestibular realizado para entrar no curso; experiência e tradição da instituição;
se o curso é pago ou é gratuito (instituição de ensino pública). Esse último aspecto é
interessante, pois sugere uma avaliação da relação benefício x custo. Será que um estudante
estaria disposto a pagar para uma faculdade à distância o mesmo preço de mensalidade de
uma tradicional?
3.8 Contribuições da pesquisa para o entendimento do processo de escolha de um curso à
distância
O estudo do comportamento do cliente ao adquirir um produto ou serviço, tendo
como referência o modelo de Basta et al. (2003), fornece insights úteis para a definição das
ações de marketing aplicáveis à EAD.
A primeira etapa do framework dos autores é o reconhecimento do problema. No
contexto desta pesquisa, ela significa entender o fator motivador para a realização do curso.
Uma hipótese provável a esse respeito é que o público potencial é dividido em três grupos
básicos de interesse: no primeiro, estão as pessoas que são levadas a fazer um curso à
distância em função de pressões profissionais (diretas ou indiretas); no segundo, aquelas que
optam por estudar à distância; no terceiro, os indivíduos que não têm acesso ao método
tradicional.
A segunda etapa diz respeito à busca de informações. As principais fontes citadas
na pesquisa para que se tomasse conhecimento das opções de ensino disponíveis foram o site
das instituições e a indicação de amigos.
No passo seguinte, ocorre a avaliação de alternativas. Sobre esse aspecto, a
pesquisa constatou que as seguintes variáveis foram colocadas como importantes para a
avaliação dos cursos: conteúdo das disciplinas; material didático; atendimento das dúvidas;
facilidade de acesso ao site; qualidade dos professores/tutores; oferta de cursos atrativos.
Essas variáveis podem ser interpretadas como possíveis fatores críticos de sucesso.
21
A quarta e última etapa diz respeito à decisão de contratação de um serviço.
Nesse caso, observou-se que fatores como nome da instituição e facilidade de acesso virtual
ou físico (para os momentos presenciais) precisariam ser analisados.
O processo decisório não termina com a compra. A experiência de usufruir o
serviço deve ser avaliada, relembram os autores. Assim, cabe complementar que o
atendimento das dúvidas e a qualidade dos professores/tutores foram os itens que receberam
uma pior avaliação por parte dos respondentes. Esse resultado revela uma área de
oportunidade, que pode representar um excelente começo para implantação de relações de
fidelização. O tópico na sequência tratará desse tema.
3.9 Diagnóstico das ações de fidelização e relacionamento
Ao serem questionados sobre o fato de a faculdade oferecer alguma motivação
para a continuidade do curso, os entrevistados mencionaram que não há nenhuma iniciativa
nessa direção. É importante examinar a situação com uma postura crítica, objetivando
aumentar o nível de qualidade da prestação de serviço. Gordon (2002) afirma que “os
relacionamentos são os únicos bens verdadeiros da empresa”. Nesse quesito, as instituições de
ensino têm um longo trecho a percorrer.
Não foi citado nenhum tipo de ação das instituições com o intuito de estimular as
contribuições do aluno para a melhoria do curso, por exemplo. Também não foi apontada a
realização de pesquisas ou qualquer outra iniciativa de interação.
Baseado no framework proposto por Kotler e Keller (2006), no quadro 7 foram
sugeridos os passos essenciais recomendados para as instituições que desejam buscar uma
evolução na qualidade do relacionamento com o alunado.
PASSO 1: Gestão
do relacionamento
com os alunos
1) Elaborar pesquisas com os alunos;
2) Delegar colaboradores focados na gestão da interação do aluno-site
e do aluno-professor;
3) Criar a figura de tutores, que seriam responsáveis por acompanhar
a vida acadêmica dos alunos;
4) Criar um serviço de atendimento ao aluno, selhante ao SAC.
PASSO 2: Atração,
retenção e
aquisição do
público potencial
1) Atração: criar possibilidades do público interessado experimentar
uma pequena dose do curso (ação de experimentação);
2) Aquisição: oferecer um pacote atrativo de benefícios, enfatizando
os aspectos que as pesquisas mostrarem que são essenciais;
3) Retenção: estimular a propaganda boca a boca, em redes sociais e
aumentar a qualidade do serviço oferecido.
22
PASSO 3:
Construção de
fidelidade
O aluno deve ser corresponsável na melhoria dos cursos oferecidos.
1) Medir o índice de retenção. Essa atitude servirá como um balizador
PASSO 4: Redução
para as ações e investimentos futuros;
do desligamento do
2) Identificar as causas de desligamento;
curso
3) Captar os feedbacks dos clientes e colaboradores.
1) Aumentar os benefícios financeiros: para não reduzir preço a
instituição terá que investir em melhorias no serviço;
2) Aumentar os benefícios sociais: criar atividades complementares
(participação em eventos, feiras, etc,) que possam contribuir para a
PASSO 5:
Desenvolvimento geração de imagem da instituição.
de vínculos fortes 3) Aumentar os vínculos estruturais: oferecer produtos e/ou serviços
complementares. Exemplos: aulas específicas para resolução de
dúvidas, salas de estudo, laboratórios, etc. A existência de um ponto
de apoio físico pode funcionar como um motivador.
Quadro 7 - Recomendações para implantação de um programa de relacionamento
Fonte: Elaborado pelos autores.
É fundamental que as escolas de educação à distância realizem uma ação de
benchmarking, objetivando aumentar a qualificação dos serviços oferecidos.
4 Conclusão
Litwin (2005) e Vasconcelos (2011) asseveram que a EAD necessita superar uma
ideia pré-concebida de falta de credibilidade. Os resultados sinalizaram que, de fato, uma
percepção destorcida ainda permanece. A discussão sobre qualidade parece caminhar das
opiniões sobre a eficácia do método para a estruturação de um ensino focado no
comprometimento do aluno. Aspectos como conteúdo da disciplina, qualidade do material e
dos professores, disponibilidade para tirar dúvidas e acessibilidade à plataforma educacional
surgem como fatores preponderantes, sob a ótica dos entrevistados, na percepção de qualidade
do curso. Uma novidade interessante é que a existência de atividades complementares
(monitoria, acompanhamento de monografia e bolsa de iniciação científica) também foi
apresentada como uma variável importante.
Outro elemento relevante, é que foi constatado que praticamente não há iniciativa
de interatividade por parte das prestadoras de serviços educacionais. Silva (2008, p. 6)
comenta sobre a importância do relacionamento com os estudantes: “não se trata apenas de
atraí-los, é preciso mantê-los, provendo ensino de qualidade, para que fiquem satisfeitos”.
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De fato, parece razoável dizer que a profissionalização e o crescimento das ofertas
de cursos na modalidade EAD levarão a uma necessidade natural das instituições de ensino,
notadamente as privadas, aperfeiçoarem seus quadros de gestão, e os profissionais de
marketing encontrarão campo fértil para o seu trabalho, ao mesmo tempo em que terão
desafios de gerar informações para uma melhor tomada de decisão.
REFERÊNCIAS
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estratégia de decisão e ação. Relatório COPPEAD no. 89. COPPEAD/ UFRJ. Rio de Janeiro,
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25
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