o fenômeno la niña e a agricultura do paraná – aviso

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SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E
DO ABASTECIMENTO
Nota Técnica
Londrina, 04 de outubro de 2010.
Assunto: O fenômeno La Niña e a agricultura do Paraná – Aviso especial para a safra 2010/2011
Paulo Henrique Caramori1, Dalziza de Oliveira1, Leocádio Grodzki1, Heverly Morais1, Wilian da Silva
Ricce2, Ângela Beatriz Costa3
1
Pesquisador em Agrometeorologia, Dr., IAPAR. 2Pesquisador visitante em Agrometeorologia, MSc,
Agroconsult Ltda. 3Meteorologista, Instituto Tecnológico SIMEPAR.
INTRODUÇÃO
Aproximadamente três quartos da superfície da terra são cobertos por oceanos. Comparado
com superfícies cobertas por terra, as águas têm maior capacidade de armazenar energia. Da mesma
forma, a emissão de energia dos corpos d’água é mais lenta, de maneira que a energia disponível para
os processos de evaporação e transferência dessa energia para a atmosfera é muito maior e fica
disponível por maiores períodos. Assim, a temperatura superficial dos oceanos afeta a evaporação e
transferência de energia, com impactos nos padrões climáticos em escala global.
No caso da América do Sul e do Brasil, as temperaturas superficiais dos oceanos Pacífico e
Atlântico exercem grande influência sobre o clima. O mais importante fenômeno que causa
variabilidade climática em toda a América do Sul é o fenômeno ENOS (El Niño Oscilação Sul), que
possui dois componentes, um oceânico e outro atmosférico. O componente oceânico é caracterizado
por anomalias da temperatura das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial junto à costa
Oeste da América do Sul, monitoradas com base na Temperatura da Superfície do Mar (TSM). O
componente atmosférico, denominado Oscilação Sul (OS), foi proposto pelo matemático Sir Walker
na década de 1920, para indicar a correlação inversa entre a pressão atmosférica nos extremos leste e
oeste do Oceano Pacífico. O Índice de Oscilação Sul (IOS) é utilizado no monitoramento do
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componente atmosférico e é caracterizado por anomalias de pressão atmosférica na região de Darwin,
norte da Austrália (12,4oS; 130,9oE) e do Taiti, na Polinésia Francesa (17,5oS; 149,6oW). Quando a
pressão é alta no Tahiti, em Darwin é baixa e vice-versa. Portanto, o IOS é positivo quando a pressão
está maior no Tahiti e negativo quando esta mais alta em Darwin.
Em anos normais, a circulação observada sobre o oceano Pacífico caracteriza- se por
movimentos ascendentes na parte central e oeste deste oceano e por movimentos descendentes no
oeste da América do Sul. Nesta situação denomina-se que o fenômeno ENOS está NEUTRO e a TSM
se encontra dentro dos padrões normais.
Quando ocorre desvio da condição normal de temperatura do Oceano Pacífico Equatorial, o
fenômeno ENOS apresenta duas fases, uma quente e outra fria. A fase quente ou fase positiva do
ENOS é denominada El Niño, em alusão ao Menino Jesus, devido ao fato de que o início da anomalia
ocorre próximo ao Natal, quando se verifica a ressurgência de águas quentes ao longo da costa do
Peru e Equador. O El Niño caracteriza-se pelo aquecimento das águas simultaneamente com a
diminuição da pressão atmosférica no Pacífico leste. A fase fria ou fase negativa, chamada de La
Niña ocorre quando há resfriamento das águas e aumento na pressão atmosférica na região leste do
Pacífico (BERLATO; FONTANA, 2003; GRIMM et al., 1998).
A relação entre a Oscilação Sul e o El Niño foi proposta por Bjerknes em 1969
(PHILANDER, 1990). A temperatura da superfície do mar se altera seguindo os padrões da Oscilação
Sul em resposta às variações dos ventos superficiais. Durante a La Niña, os intensos ventos alísios
carregam as águas aquecidas da superfície do oceano Pacífico em direção à parte oeste próximo à
costa da Austrália. Como conseqüência, ocorre a ressurgência de águas frias na parte central e leste do
Pacífico, causando temperaturas da superfície do mar abaixo da normal.
AS OCORRÊNCIAS DE LA NIÑA
Em geral, episódios La Niña têm freqüência de 2 a 7 anos, mas ocorrem com menor
freqüência comparado ao El Niño. A duração média dos episódios La Niña é de aproximadamente 9 a
12 meses, sendo rara a persistência por períodos maiores que 2 anos. Os registros históricos mostram
que um episódio La Niña começa a desenvolver-se em um certo ano, atinge sua intensidade máxima
no final daquele ano, vindo a dissipar-se em meados do ano seguinte. Também, os valores das
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anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM) em anos de La Niña têm desvios menores que
em anos de El Niño, raramente ultrapassando 2ºC abaixo da média. Os impactos do La Niña não são
tão evidentes quanto os do El Niño e dependem da região e da intensidade do fenômeno. Eventos La
Niña foram observados mais recentemente em 1988/89 (um dos mais intensos), 1995/96, 1998/99 e
2007/2008.
A situação atual é de ocorrência de um evento La Niña de intensidade moderada a forte. O
fenômeno está estabelecido (Figura 1) e deverá atingir máxima intensidade durante o verão,
perdurando até o próximo outono.
Figura 1. Evolução da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) (linhas) e do Indice de Oscilação
Sul (IOS) na região Nino 3. Fonte: CPTEC/INPE - http://enos.cptec.inpe.br/.
IMPACTOS DO LA NIÑA
Durante episódios de La Niña tem se observado que as passagens das frentes frias sobre a
Região Sul são mais rápidas, com diminuição das chuvas e as temperaturas ficando ligeiramente
abaixo da média climatológica. Observa-se também maior irregularidade na distribuição das chuvas,
com ocorrência de veranicos durante a primavera e verão. As regiões litorâneas da região sul
constituem uma exceção, com chuvas acima da média. O Paraná localiza-se em área de transição entre
a região Sul e Sudeste, apresentando resposta ao fenômeno La Niña um pouco mais variável em
relação ao extremo Sul do Brasil. A Figura 2 mostra a previsão climática para a precipitação em todo
o Brasil, para o trimestre outubro-dezembro. Essas previsões são apresentadas em termos
probabilísticos, devido à grande complexidade de se modelar a atmosfera a longo prazo e, portanto,
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carregam um elevado grau de incerteza. Entretanto, indicam tendências que servem como alerta para
se tomarem cuidados especiais, visando minimizar possíveis impactos negativos. Observa-se que no
caso do Paraná há indicativo de chuvas abaixo da média no período outubro a dezembro, quando se
realiza o plantio e ocorre o estabelecimento das culturas da safra de verão.
Figura 2. Probabilidades de que as chuvas
ocorram acima da média histórica (caixa
superior), dentro da média (caixa central)
e abaixo da média (caixa inferior). Para a
região sul, há 20% de probabilidade das
chuvas ocorrerem acima da média, 35%
próximo à média e 45% abaixo da média.
Fonte: CPTEC/INPE e INMET.
Mais informações sobre o fenômeno La Niña podem ser encontradas na página do
SIMEPAR na internet (www.simepar.br).
Considerando os riscos de anomalias de chuvas no Paraná para a safra 2010-2011, é
prudente adotar uma série de cuidados visando diminuir os riscos de safra, conforme segue.
MEDIDAS PARA REDUZIR OS IMPACTOS DO FENÔMENO LA NIÑA NA
AGRICULTURA DO PARANÁ
A – MEDIDAS DE CURTO PRAZO
•
Fazer a semeadura escalonada dentro das épocas recomendadas pelo zoneamento agrícola, para
que as fases mais sensíveis ao déficit hídrico não ocorram na mesma época. As portarias relativas
ao zoneamento das principais culturas para a safra 2010/2011, publicadas pelo Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento para o Estado do Paraná podem ser encontradas na página
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do MAPA na Internet (www.agricultura.gov.br) e também na página do IAPAR
(http://www.iapar.br – Agrometeorologia / Zoneamento agrícola / Mapas). Devem-se utilizar as
cultivares recomendadas pelo zoneamento agrícola, se possível utilizando cultivares com ciclos
diferenciados, posicionando a semeadura de cada cultivar na sua época mais apropriada e,
quando disponíveis, cultivares mais tolerantes à seca;
•
Fazer a semeadura somente após chuvas suficientes para suprir a deficiência de água no solo. Se
o solo estiver seco, são necessários 30 a 40 mm para garantir a emergência.
•
Contratar um seguro agrícola para proteção contra eventos climáticos extremos.
•
Sempre que possível, fazer a diversificação das culturas;
•
Evitar populações de plantas superiores ao recomendado;
•
Realizar a adubação recomendada conforme análise do solo, de preferência aplicando o adubo
em maior profundidade;
•
Não queimar os restos culturais em hipótese alguma;
•
Realizar cuidadoso manejo de pragas, especialmente as que atacam no início do ciclo em
períodos com menor precipitação, como as lagartas elasmo e rosca. Cuidado com as pragas que
atacam na época seca, como a lagarta do cartucho do milho;
•
Fazer rigoroso controle de plantas invasoras que competem por água com a cultura;
•
Racionalizar o uso da água na propriedade, utilizando orientação técnica para o manejo da
irrigação das lavouras.
B – MEDIDAS DE MÉDIO E LONGO PRAZO
•
Realizar o planejamento da propriedade tendo em mente a convivência com estiagens e
enchentes, que são fenômenos cíclicos característicos do clima regional;
•
Readequar o terraceamento da propriedade visando à proteção contra a erosão dos solos e
também a manutenção da água no local para infiltrar e abastecer o lençol freático;
•
Utilizar o sistema de “cultivo mínimo” ou “plantio direto na palha”, intensificando as práticas
agrícolas que visam melhorar a retenção de umidade no solo, incluindo a cobertura do solo com
restos culturais, adubação verde ou orgânica e mínimo revolvimento do solo;
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•
Utilizar a rotação de culturas e plantio de adubos verdes, nunca deixando o solo exposto, com o
objetivo de protegê-lo e de repor sua matéria orgânica, aumentando assim sua capacidade de
armazenamento de água;
•
Diversificar as atividades na propriedade rural, incorporando culturas permanentes e florestas,
que possuem menores riscos climáticos;
•
Dimensionar as criações de acordo com a disponibilidade de água, manejo dos dejetos e
disponibilidade de alimentos; descartando os animais improdutivos;
•
Manter reservas de forragens para uso emergencial, com estoques necessários para vencer os
períodos adversos.
C - EM RELAÇÃO AO MANEJO DA ÁGUA
•
Organizar-se para o abastecimento coletivo de água, principalmente através de fontes e água dos
rios, implantando centrais de tratamento e redes de distribuição de água;
•
Construir ou aumentar depósitos de água - açudes e cisternas;
•
Coletar e armazenar a água da chuva;
•
Manutenção constante dos bebedouros para os animais (limpar, revisar e cercar);
•
Verificar vazamentos nos bebedouros, açudes e cisternas.
D - EM RELAÇÃO AO AMBIENTE
•
Reflorestar as áreas de maior declividade;
•
Implantar, repor e proteger com cerca a mata ciliar ao redor de nascentes, córregos e rios;
•
Isolar os rios, riachos, açudes e bebedouros, evitando o acesso direto dos animais.
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LITERATURA CONSULTADA
BERLATO, M. A.; FONTANA, D. C. El Niño e La Niña: Impactos no clima, na vegetação e na
agricultura do Rio Grande do Sul; aplicações de previsões climáticas na agricultura. Porto Alegre:
Ed. da UFRGS, 2003. 110 p.
CENTRO DE PREVISÃO DO TEMPO E ESTUDOS CLIMÁTICOS (CPTEC/INPE). El Niño e La
Niña. Disponível em: http://enos.cptec.inpe.br/. Acesso em 20/09/2010.
EPAGRI/CIRAM. La Niña 2010 – Recomendações a extencionistas e agricultores. Disponível em:
www.ciram.epagri.sc.gov.br/lanina. Acesso em 20/09/2010.
GRIMM, A.; FERRAZ, S. E. T.; GOMES, J. Precipitation anomalies in southern Brazil associated
with El Niño and La Niña events. Journal of Climate, Boston, v.11, p.2863-2880, NOV., 1998.
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET). Previsão climática. Disponível em:
http://www.inmet.gov.br/html/prev_climatica.php. Acesso em: 20/09/2010.
INSTITUTO TECNOLÓGICO SIMEPAR. Previsão Climática para a primavera 2010. Disponível
em: www.simepar.br. Acesso em: 23/09/2010.
PAULA, G. M. de. O fenômeno EL NIÑO Oscilação Sul e a erosividade das chuvas em Santa Maria
– RS. . Santa Maria, RS, 2009. Universidade Federal de Santa Maria, RS, dissertação de mestrado,
51 p. 2009.
PHILANDER, S. G. El Niño, La Niña, and the Southern Oscillation. Academic Press, New York,
1990. 293p.
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