ALTA IDADE MÉDIA É costume dividir o período medieval em duas grandes fases: a Alta Idade Média, que se estende do século V ao século XI e a Baixa Idade Média, do século XII ao século XV. A primeira fase caracterizou-se pela formação e consolidação do modo de vida que predominaria durante todo o período medieval: o feudalismo. Já a baixa Idade Média corresponde à decadência do feudalismo e a ascensão do comércio. 1. FORMAÇÃO DOS REINOS CRISTÃOS-BÁRBAROS A partir do século III, os bárbaros (povos não-romanos em geral) intensificaram sua presença no Império Romano, o que contribuiu não só para o enfraquecimento do poderio de Roma, como também para o estabelecimento da hegemonia árabe sobre o Ocidente europeu. A ameaça representada por esses povos acentuou o processo de ruralização, em curso na Europa Ocidental desde o início do Baixo Império Romano. Com a queda do Império Romano do Ocidente, os bárbaros fixaram-se, assim, na Europa, organizando diversos reinos, que são chamados de cristãos-bárbaros devido à fusão de instituições romanas e bárbaras com o acréscimo do cristianismo. Dentre esses reinos, destacou-se o Reino dos Francos. Os francos – de origem germânica – instalaram-se no território que corresponde à França atual. A primeira dinastia franca foi a merovíngia (481-751), sendo Clóvis (481-511) seu fundador. Além de ampliar o território do reino, aliou-se à Igreja, conquistando um grande poder. Seus herdeiros, porém, fragmentaram esse poder, fortalecendo os grandes senhores feudais. Com isso, o poder real passou a submeter-se ao poder dos senhores feudais. Pepino, o Breve, filho de Carlos Martel, o “prefeito do palácio” ou “mordomo do paço”, que havia derrubado o último rei da dinastia merovíngia, inaugurou a dinastia carolíngia. Este rei expandiu ainda mais as fronteiras do Reino dos Francos e concedeu à Igreja um poder maior do que ela já desfrutava. O mais conhecido monarca carolíngio foi Carlos Magno (768-814), filho de Pepino, o Breve, que promoveu a vida cultural do império, por meio da criação de escolas, instituiu feiras para integrar o comércio, e anexou um vasto território ao Reino dos Francos (atuais França, Alemanha e norte da Itália), procurando mantê-lo. Para isso, implementou uma reforma administrativa que, além de o auxiliar a saber tudo sobre o que ocorria no reino, favoreceu os poderes locais. Com a morte de Carlos Magno, iniciouse, então, o processo de esfacelamento do Império Carolíngio, totalmente fragmentado com a assinatura do Tratado de Verdun (843). 2. A CIVILIZAÇÃO BIZANTINA Bizâncio, cidade de grande importância militar e comercial para p Império Romano, foi elevada à categoria de capital do império Romano do Oriente em 330, quando o imperador era Constantino. A partir de então passou a chamar-se Constantinopla. Com Justiniano (527-565), a civilização bizantina viveu seu período áureo, transformando-se num poderoso império. Além de grande desenvolvimento econômico, Justiniano legou a Bizâncio um código de leis inspirado no Direito romano. Após seu governo, o Império Bizantino entrou em franca decadência devido à crise econômica que se abateu sobre ele e aos sucessivos ataques estrangeiros, que o enfraqueceram ainda mais. Em Bizâncio, a religião cristã sofreu algumas transformações, das quais resultaram o Cisma do Oriente e a criação da Igreja Ortodoxa. Cisma do Oriente (1054): Roma ditava as diretrizes do cristianismo, mas enquanto Roma sofria a influência germânica, em Constantinopla a cultura grega era predominante (inclusive no idioma falado). Além disso, diferenças políticas e mesmo quanto à doutrina religiosa constrastavam nas duas regiões. Nesse contexto, o Cardeal Humberto, de Roma, vai a Constantinopla e decide excomungar Miguel Cerulário, patriarca da Igreja Bizantina (1054). A Igreja Bizantina, em resposta, excomunga o Papa Leão IX. Com isso, ocorre o cisma: Igreja Ortodoxa (Constantinopla) e Igreja Apostólica Romana (Roma). Em 1453, Constantinopla foi tomada por invasores turcos otomanos, marcando o fim do Império Bizantino. 3. A CIVILIZAÇÃO ÁRABE Povo de origem semita, os árabes achavam-se dispersos em tribos (em núcleos urbanos ou no deserto), dedicando-se especialmente à atividade comercial. Cultuavam vários deuses representados por ídolos no santuário de Caaba (ou Kaaba), na cidade de Meca. Esta cidade era dominada pela tribo coraixita e apresentava um significativo desenvolvimento comercial por causa das peregrinações. Foi nessa cidade que nasceu Maomé (570), criador do islamismo, religião monoteísta com elementos do judaísmo e do cristianismo. O islamismo foi, na realidade, o catalisador da unidade árabe, a partir da qual essa civilização conheceu um grande desenvolvimento. Ao morrer, em 632, Maomé deixou aos seus seguidores a tarefa de expandir a religião islâmica pelo mundo. O processo de fragmentação por que passava a Europa após a queda do Império Romano favoreceu grandemente a expansão árabe. Em pouco tempo, os árabes estabeleceram seu domínio sobre o mar Mediterrâneo, determinando o aprofundamento do processo de ruralização vivenciado pelo Ocidente europeu. No entanto, disputas internas e a resistência cristã enfraqueceram o domínio árabe e determinaram sua expulsão do continente europeu. Todavia, os muçulmanos influenciaram grandemente a cultura ocidental, especialmente a ibérica. Graças a eles, muitos dos conhecimentos desenvolvidos no mundo antigo, principalmente pelos gregos, foram preservados e até aprimorados. A Cultura Islâmica: Ciências: campo em que os muçulmanos mais se desenvolveram. Na matemática, aprimoraram a Álgebra e a Geometria; dedicaram-se também à Astronomia e à Química (alquimia); Literatura: contamos com vasta produção, com destaque para a coletânea “As mil e uma noites” e o poema “Rubaiyat”, de Omar Khayam. 4. FEUDALISMO As origens do feudalismo remontam ao século III, quando o sistema escravista de produção do Império Romano entrou em crise. Diante da crise econômica e das invasões germânicas, muitos dos grandes senhores romanos abandonaram as cidades e foram morar nas suas propriedades no campo. Esses centros rurais, conhecidos por vilas romanas, deram origens aos feudos medievais. Muitos romanos menos ricos passaram a buscar proteção e trabalho nas terras desses grandes senhores. Para poderem utilizar as terras, no entanto, eles eram obrigados a entregar ao proprietário parte do que produziam. Estava instituído assim o colonato. Aos poucos, o sistema escravista de produção no Império Romano ia sendo substituído pelo sistema servil de produção, que iria predominar na Europa feudal. Nascia, então, o regime de servidão, onde o trabalhador rural é o servo do grande proprietário. A sociedade feudal estruturou-se em relações e dependências pessoal, que abrangiam desde o rei até o camponês, e se caracterizavam por serem horizontais, envolvendo pessoas de um mesmo seguimento social, como as relações de suserania e vassalagem, ou as relações verticais, caracterizadas pela exploração de segmentos inferiores na hierarquia social da época. O suserano cedia territórios, denominados feudos, aos vassalos que, em troca do usufruto do feudo, forneciam auxílio militar. O senhor feudal também era vassalo de outro senhor, e assim sucessivamente, até chegar ao rei, que era o suserano maior. Os senhores feudais formavam a nobreza rural. Viviam em castelos, por questões de segurança, e possuíam jurisdição sobre os servos e camponeses livres. A Igreja transformou-se em grande proprietária feudal e os membros do alto clero recebiam domínios feudais, tornando-se ao mesmo tempo suseranos e vassalos. Cada escala de vassalagem pagava algum tipo de serviço ao seu suserano e ao rei. A sociedade feudal deve ser classificada como sendo uma Sociedade Estamental, ou seja, uma sociedade na qual seus membros estão hierarquizados em função do seu “status” (posição na sociedade), sendo que o “status” de cada um era fixado pelo fato de dever ou receber determinadas obrigações. Uma das características fundamentais de uma sociedade estamental é a de apresentar reduzidos veículos de mobilidade social. Dentre os que trabalham, podemos incluir, além dos camponeses e servos, os artesãos e os comerciantes. Os servos: constituíram-se na mão de obra típica do período. Estavam presos à terra que cultivavam, sendo-lhes proibido abandoná-las. Essa privação da liberdade não nos permite dizer que fossem escravos, pois possuíam alguns direitos e recebiam proteção. As principais obrigações servis eram: - Corveia: trabalho por alguns dias da semana na terra do senhor; - Dízimo: 10% da produção pago à Igreja; - Banalidades: tributo pelo uso de estradas, moinho, fornos e abrigos do senhor.