Incidência e Tratamento das Fraturas de Órbita no Hospital

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Incidência e Tratamento das Fraturas de Órbita no Hospital Municipal Lourenço
Jorge - RJ (HMLJ - RJ)
Incidence and Treatment of Orbital Fractures at the Lourenço Jorge Municiapal
Hospital - RJ
Larissa Ramos Xavier Coutinho Nascimento | Especialista em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, mestranda do Programa de Clínica Odontológica da Universidade Federal Fluminense.
Objetivo: este trabalho avaliou o perfil das fraturas de órbita em hospital municipal, na zona oeste do
Rio de Janeiro bem como o tratamento instituído para esse tipo de trauma. Método: foi feito um estudo
retrospectivo com a coleta de dados de 26 prontuários médicos dos pacientes com fraturas em região orbitária atendidos no Hospital Municipal Lourenço Jorge (HMLJ), no período de 2002 a 2007. Foram analisados dados referentes à idade, ao sexo, etiologia, tipo de tratamento, complicações pós-operatórias.
Resultados: os pacientes atendidos no HMLJ-RJ eram jovens do sexo masculino e o trauma foi decorrente
de agressões físicas. O diagnóstico das fraturas ficou evidente pelo afundamento da região zigomática.
Os casos foram solucionados através da redução cruenta e fixação funcionalmente estável das fraturas e
transcorreram sem complicações relevantes. Conclusão: a relevância deste trabalho se estabelece na medida em que estimula outros pesquisadores a estudar o tema e discutir outras possibilidades de tratamento
das fraturas orbitárias. No entanto, os casos tratados no HMLJ-RJ estão de acordo com as indicações
apontadas na literatura mundial que aborda este assunto.
Palavras-chaves: Fraturas orbitárias; Saúde Pública; Diagnóstico.
Abstract
Aim: This study evaluated the profile of orbital fractures in a municipal hospital in the West Zone of Rio de
Janeiro, as well as the treatment provided for that type of trauma. Method: A retrospective study was conducted with the collection of data from the medical records of 26 patients with orbital fractures treated at
the Lourenço Jorge Municipal Hospital (HMLJ) from 2002 to 2007. Data relating to age, sex, etiology, type
of treatment type and postoperative complications were analyzed. Results: The patients seen at the HMLJ
were young males, whose trauma was due to acts of physical aggression. The diagnosis of the fractures
was self-evident from the sinking of the zygomatic region. The cases were resolved through open reduction
and rigid internal fixation (RIF) of the fractures with no major complications. Conclusion: The importance of
this paper is the stimulus it will provide to other researchers to study the subject and discuss other possible
treatments for orbital fractures. However, the cases treated at HMLJ are in agreement with the indications
found in the literature regarding such fractures.
Keywords: Orbital fractures; public heath; diagnosis.
REVISTA BRASILEIRA DE CIRURGIA BUCO-MAXILO-FACIAL
V10 N1 P. 7 - 12
Recebido em 11/11/08 Aprovado em 23/03/10
Resumo
7
Introdução
As fraturas orbitárias são prevalentes quando comparadas a outros segmentos da face e acometem
pacientes jovens do sexo masculino, tendo como
principal agente etiológico o acidente automobilístico.1
Incidência e Tratamento das Fraturas de Órbita no Hospital
Municipal Lourenço Jorge - RJ (HMLJ - RJ)
Nascimento
Esse traumatismo compromete o paciente tanto estética quanto funcionalmente, devendo o cirurgião
maxilo-facial realizar um estudo sistemático dessa
fratura, a fim de evitar as sequelas resultantes desse
tipo de trauma.2
8
De todas as paredes da órbita, a medial e a inferior, por serem mais delgadas, são as mais frequentemente fraturadas, porém as fraturas da parede
medial raramente produzem distúrbios funcionais,
daí sendo relacionada a uma baixa proporção de
diagnósticos corretos.3,4
A fratura da parede medial da órbita, quando isolada, não é comumente diagnosticada por exames radiográficos e dificilmente causa complicações.4,5 Porém, podem resultar em sintomas que
incomodam o paciente e que, com frequência,
levam ao diagnóstico, tais como a diplopia nas
lateroversões, secundárias à movimentação ocular
restringida, o enfisema orbital acentuado e a enoftalmia, cujo surgimento pode ser tardio, decorrente
do encarceramento do músculo reto medial e de
gordura orbitária no local da fratura, constituído de
elementos importantes para indicação de exploração cirúrgica.5
O tratamento das fraturas que acometem a órbita
pode ser dividido de acordo com o local da fratura. Nas fraturas em blow out, os pacientes que
apresentem diplopia não resolvida, em um campo
do olhar, após a espera de um intervalo de 10 a
14 dias, são candidatos à cirurgia. Outra indicação cirúrgica seria nos casos de enoftalmia, em que
haja finalidade estética. A cirurgia consiste em: 1)
liberação do tecido aprisionado do local da fratura; 2) aposição de placa de assoalho orbitário em
titânio, teflon, silicone, ou enxertos autógenos para
aumento do assoalho orbitário, objetivando corrigir o enoftalmo residual. Nas fraturas trimalares, o
tratamento deve ser conservador em fraturas não
deslocadas, sem sinais de rompimento do assoalho
orbital.6
Antunes-Foschini et al. relatam um caso de fratura isolada de parede medial da órbita associada
à redução importante de movimentação do globo
ocular que foi tratada por acesso transconjuntival,
com cantólise lateral, exposição do foco de fratura, liberação do tecido herniado no local da fratura, colocação de placa de polietileno poroso de
0,5mm de espessura ao longo da parede medial e
sutura em camadas.
A realização de um tratamento adequado seguido
de um diagnóstico apurado é fundamental para
minimizar as sequelas pós-traumáticas nas fraturas naso-órbito-etmoidais. Entre as sequelas mais
comuns, estão o hipertelorismo, a enoftalmia, a
amaurose, a diplopia, a epífora, a dacriocistite, a
liquoreia, os danos lacrimais, a síndrome da fissura
orbitária superior e do ápice da órbita.7
Tendo em vista a gravidade do trauma à região orbitária, com possibilidades de resultar em sequelas
irreversíveis, propomos este trabalho com o intuito
de avaliar o perfil dessas fraturas e o tratamento
dispensado a elas.
Material e Método
Para este trabalho, foi realizado um estudo retrospectivo de prevalência com a coleta de dados dos
prontuários médicos de vinte e seis pacientes com
fraturas em região orbitária atendidos no HMLJ, no
período de 2002 a 2007. Os dados analisados foram: idade, sexo, profissão, estado civil, etiologia,
local da fratura, tipo de tratamento e complicações
pós-operatórias.
Resultados
Dos pacientes vítimas de fraturas orbitárias no Hospital Municipal Lourenço Jorge, 73% eram homens
e apenas 27%, mulheres. Os pacientes eram jovens
com idade de maior prevalência entre os 12 a 17
anos (Tabela 1). 72% permaneceram no hospital
para tratamento de 1 a 4 dias (Tabela 2). Dentre as
causas das fraturas, a agressão foi o motivo mais
frequente do traumatismo (Gráfico 1). Os sinais
e sintomas foram diversos, chamando atenção o
25
21
20
15
10
Faixa etária (anos)
Incidência (%)
12-17
28
18-23
6
24-29
17
30-35
6
36-41
21
42-47
17
1
12
10
10
8
8
1
1
2
1
1
1
Perda da
mobilidade do
globo ocular
2
Cefaléia
4
Vômito
5
Náusea
6
(%)
Parestesia da
pálpebra
inferior
Incidência
Edema de
face
Tabela 2- Período de Internação
Período de internação (dias)
Sem
complicações
0
1-2
38
3-4
34
Gráfico 4 - Complicações Pós-Operatórias
4-5
8
7
8
Discussão
13
8
17
4
Dados epidemiológicos sobre as fraturas do terço
fixo da face e do assoalho da órbita estimam que
o gênero masculino prevalece em 96% dos casos,
sendo mais frequentes em uma faixa etária de 20
a 29 anos de idade. Segundo os autores, os mecanismos da injúria mais comuns são as agressões
físicas e os acidentes motociclísticos.6 Oliveira et
al. relataram seis casos de fraturas de órbita, em
que 50% dos pacientes foram vítimas de agressões
físicas. Isto confirma os dados encontrados nesta
pesquisa, sendo observado que as agressões são
responsáveis pela prevalência de casos de fratura
de órbita. 8
13
es
po
r
bi
Ac
id
en
te
de
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Q
Q
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ta
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1
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1
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2
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2
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ão
4
da
14
12
10
8
6
4
2
0
Gráfico 1 - Etiologia das Fraturas de Órbita
25
20
17
Gráfico 2 - Sinais e Sintomas
5
3
4
outros
parestesia
distopia
dor
perda de
projeção
da face
0
4
diplopia
5
escoriacão
5
5
hematoma
10
edema
14
13
15
trismo
20
A alta incidência de fraturas e lesões associadas a
esses traumas enfatiza a importância do exame físico apurado no diagnóstico desses pacientes. 9
Nesse tipo de trauma de face, procura-se observar
os seguintes sinais e sintomas: edema e equimose
periorbitária, afundamento da proeminência zigomática, alterações na forma do arco zigomático,
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Gráfico 3 – Tratamento das Fraturas
Limitação da
abertura de
boca
54-60
1
Reconstrução de
Órbita=1
Tabela 1- Faixa Etária dos Pacientes
1
Tratamento
CONSERVADOR=2
0
Não constava este
dado=1
2
Redução + Fir +
Enxerto=1
5
Redução +FIR
= 21
fato de a maioria apresentar afundamento da região zigomática (Gráfico 2). O tratamento consistiu
na redução aberta e utilização da fixação funcionalmete estável (fixação interna rígida). (Gráfico 3)
O atendimento transcorreu, na maioria dos casos,
sem complicações no pós-operatório, e o edema
era compatível com o trauma e a cirurgia realizada.
(Gráfico 6)
9
dor equimose em fornix vestibular no lado afetado,
deformidade do processo zigomático da maxila,
deformidade da margem orbitária, trismo, perda de
sensibilidade na região afetada, epistaxe no lado
afetado, equimose subconjuntival, enfisema e crepitação, deslocamento da fissura palpebral, nível
pupilar alterado, diplopia, enofitalmia, oftalmoplegia e exoftalmia.10
Incidência e Tratamento das Fraturas de Órbita no Hospital
Municipal Lourenço Jorge - RJ (HMLJ - RJ)
Nascimento
No presente trabalho, o diagnóstico observou a falta de projeção de osso zigomático na maioria dos
casos.
10
Bourguignon filho et al. descreveram um caso de fratura de assoalho orbitário e constataram equimose
subconjuntival, edema e hematoma periobitário, sangramento nasal e limitação dos movimentos oculares
no lado da fratura. Havia dor, visão dupla quando
o paciente realizava determinados movimentos com
o olho e parestesia na pálpebra inferior, indicando
injúria ao nervo infraorbitário. Esse paciente foi tratado com acesso subpalpebral, liberação dos tecidos
herniados e a colocação de uma tela de titânio para
reconstrução do assoalho da órbita.11
Diversas formas de tratamento têm sido propostas
na literatura para tentar minimizar tanto os sintomas quanto as sequelas que, infortuitamente, surgem decorrentes desse tipo de trauma. Oliveira et
al. utilizam diferentes materiais na reconstrução dos
ossos orbitários fraturados, incluindo: a tela de titânio, cola tecidual, fio de aço, tela de marlex e o
osso autógeno.8
Turrer et al. estudaram o uso de implantes de compósito bioativo de biocerâmica em matriz polimérica no tratamento de sequelas de fraturas do
complexo zigomático orbitário. Os defeitos encontrados resumiam-se à diminuição das dimensões
ântero-posterior da eminência zigomática e atrofia
de tecidos moles, causando deformidade estéticofuncional de difícil tratamento. Os implantes eram
produzidos em laboratório de biomateriais, a partir
da moldagem individual de cada paciente. Os autores introduziam os implantes através de acessos
subciliar subperiosteal e coronal unilateral. Esses
implantes eram fixados ao osso com fio de aço
ou com parafuso bicortical de titânio do sistema
2.0mm.12
Conclusão
A relevância deste trabalho se estabelece na medida
em que estimula outros pesquisadores a estudarem o
tema e discutir outras possibilidades de tratamento das
fraturas orbitárias. No entanto, os casos tratados no
HMLJ-RJ estão de acordo com as indicações apontadas na literatura mundial, que preconiza o tratamento
cruento nos casos em que a fratura acarrete comprometimento estético e/ou funcional ao paciente.
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Endereço para correspondência
Larissa Ramos Xavier Coutinho Nascimento
Avenida Anita Nilo Peçanha no.10 A
São Francisco Niterói, Rio de Janeiro/Brasil.
CEP: 24360-210.
E-mail: [email protected]
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11-Bourguignon Filho AM, Costa AT, Ibrahim D,
Blaya DS, Viegas VN, Oliveira MG. Fraturas orbitárias Blowout: Tratamento com tela de titânio. Rev
Cir Traumatol Buco-Maxilo-Fac 2005;5:35-42.
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