INFORME – NET DTA Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo Centro de Vigilância Epidemiológica – CVE MANUAL DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS Cianobactérias – Algas azuis ______________________________________________________________________________________________ Descrição da doença: intoxicação causada pela ingestão de toxinas (microcistinas) provenientes das cianobactérias, conhecidas por algas azuis, encontradas em reservatórios rasos, com água morna e com pouco movimento; habitualmente essas algas não são encontradas em poços artesianos profundos. Têm efeitos hepatotóxicos e neurotóxicos que podem ser fatais na dependência de sua concentração. Esse tipo de intoxicação não é algo recente, há descrições datando do século XII. De 30% a 50% das espécies de cianobactérias produzem microcistina e a maior parte dos envenenamentos causados por cianobctérias deve-se a à microcistina LR, liberada pela espécie Micorcystis aeruginosa, geralmente encontrada em reservatórios de água em todo o mundo. A estrutura química da microcistina possibilita a sua estabilidade em água podendo resistir a grandes variações de temperatura e de pH. O nome “algas azuis”, como é popularmente conhecida, foi dado pelo fato de a primeira espécie encontrada ser azulada; mas pode-se encontrar cianobactérias de todas as cores. Frequentemente são encontradas na superfície, mas também em profundidade maior, dependendo da oferta de luz, fósforo e nitrogênio (poluentes orgânicos). As regiões com grandes concentrações de indústrias e elevada população produzem maior quantidade de poluentes orgânicos favorecendo o desenvolvimento dessas algas, sendo assim, essas áreas devem ser consideradas de alto risco. A intoxicação pode ser caracterizado pela diminuição dos movimentos, prostração, cefaléia, febre, dor abdominal, náuseas, vômitos, diarréia e hemorragia intra-hepática. Os sintomas apresentados podem ser observados em parte, em seqüência ou totalmente, dependendo da toxina e da quantidade ingerida. Agente etiológico: toxina conhecida como microcistina. A hepatotoxina e a neurotoxina microcistina – LR presentes em florações de Micorcystis aeruginosa, é encontrada em reservatórios usados para o suprimento de água potável. A liberação destas toxinas ocorre quando há morte ou lise celular, as quais podem lesar o fígado (hepatotoxina) e sistema nervoso (neurotoxina), ou somente irritar a pele, dependendo do tipo de toxina predominante na água. Ocorrência: as intoxicações de populações humanas pelo consumo oral de águas contaminadas por cepas toxicas de cianobactérias já foram descritas em países como a Austrália, Inglaterra, China, e África do Sul. No Brasil, há estudos que mostram forte evidência de correlação entre a ocorrência de florações de cianobactérias no reservatório em Itaparica – BA e a morte de 88 pessoas, entre 200 intoxicados pelo consumo de água deste reservatório, nos meses de março e abril de 1988. A microcistina, também foi responsável pela tragédia de Caruaru, PE, que fez mais de centena de vítimas fatais de pacientes sob hemodiálise no ano de 1996; consequentemente se fez necessário a constituição de parâmetros para a determinação de níveis de concentrações aceitáveis na água de microcistina. Período de incubação: pouco descrito na literatura; quando ingerido apresenta sintomas em algumas horas ou dias. Modo de transmissão: ingestão de água ou peixes contaminados pela microcistina. Suscetibilidade e resistência: todos os seres humanos são suscetíveis à microcistina, sendo as crianças as com maior chance de desenvolver os sintomas devido a sua menor superfície corpórea. A morte, geralmente, ocorre devido às lesões hepáticas ou do sistema nervoso, dependendo do tipo e da quantidade de toxina existente na água. Tratamento: tratamento de suporte ao paciente nos casos agudos e complicações. Medidas de Controle: 1) notificação de surtos – a ocorrência de 2 ou mais casos requer a notificação imediata as autoridades de vigilância epidemiológica municipal, regional ou central, para que se desencadeie a investigação das fontes comuns e o controle da transmissão através de medidas preventivas. 2) medidas em epidemias – investigação de casos e análises da água ou de peixes envolvidos no surto. 3) monitoramento da água – A Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), em colaboração com a Organização Panamericana da Saúde (OPAS), redigiu uma atualização da Portaria 36/MS/90, que definiu as normas e os padrões de potabilidade da água para consumo humano no Brasil, incluindo a obrigatoriedade do monitoramento da ocorrência de cianobactérias potencialmente nocivas, testes de toxidade e análises de algumas cianotoxias (microcistina, cilindrospermopsina, saxitoxina) tanto na água tratada bruta do manancial utilizado para a capacitação de água, como na água tratada para consumo doméstico (Portaria MS/1.469, de 29 de dezembro de 2000). Fonte: Adaptado de FDA/CFSAN (2003). URL: http:// www.cfsan.fda.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/00001990.htm Texto organizado por Dalva Maria de Assis, estagiária FUNDAP/CVE da divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, ano 2003 e atualizado em agosto de 2006.