análise de interações medicamentosas entre hipoglicemiantes orais

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CONEXÃO FAMETRO:
ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE
XII SEMANA ACADÊMICA
ISSN: 2357-8645
ANÁLISE DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ENTRE
HIPOGLICEMIANTES ORAIS E PSICOTRÓPICOS UTILIZADOS POR UMA
UNIDADE DE ABRIGO DE FORTALEZA-CE
Geyne Lima da Silva; Tiago D’Angelo Pinheiro Gurgel; Alyne Santiago Queiroz;
Rafaelly Maria Pinheiro Siqueira.
FAMETRO – Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza.
E-mail: [email protected]
Título da Sessão Temática: Processo de Cuidar.
RESUMO
Os pacientes idosos constituem um grupo da população que está em maior crescimento
e que consomem elevada quantidade de medicamentos quando comparados à população
mais jovem. Trata-se de um estudo de delineamento quantitativo, observacional,
transversal e prospectivo visando identificar as possíveis interações entre os
medicamentos psicotrópicos e antidiabéticos utilizados por um grupo de idosos
institucionalizados. O mesmo investigou as interações medicamentosas entre 34
medicamentos psicotrópicos e 3 medicamentos hipoglicemiantes utilizados pelos idosos
do abrigo. As interações foram classificadas quanto a sua natureza e quanto a gravidade.
Foram identificadas 16 interações, 75% (n=12) foram moderada quanto a gravidade e de
efeito quanto a natureza, 12,5% (n=2) são interações leve de origem farmacocinética e
12,5% (n=2) são interações leves de origem farmacodinâmica. Portanto, diante desta
problemática, nota-se a importância clínica deste estudo e do acompanhamento
farmacoterapêutico destes pacientes, para que estes obtenham melhora na resposta
terapêutica.
Palavras-chave: Interações medicamentosas. Hipoglicemiantes. Psicotrópicos.
INTRODUÇÃO
Interações medicamentosas são tipos especiais de respostas farmacológicas que
ocorrem quando os efeitos de um fármaco são alterados pela presença de outro fármaco,
alimento, bebida ou algum agente químico ambiental e constituem causa comum de
efeitos adversos (OLIVEIRA, 2009; SECOLI, 2001).
De acordo com a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), as famílias
brasileiras gastam cerca de R$ 4,3 bilhões, por mês, na compra de medicamentos, ou
seja, R$ 51,6 bilhões ao ano. Esse montante é quase o orçamento do SUS e quase dez
vezes superior ao investimento do governo federal, em 2009, para a compra de
medicamentos: R$ 6,89 bilhões (INTERFARMA, 2011).
A prescrição de múltiplas medicações é uma realidade que requer atenção e
cuidado constante. Esse cuidado inclui a revisão das medicações em uso e o
conhecimento extensivo destas, sempre tentando minimizar o número de substâncias
utilizadas, monitorando e valorizando efeitos colaterais e tóxicos (MIYASAKA, 2003)
Segundo Marcolin (2004) novos medicamentos, novos indícios e novas
interações aparecem diariamente, e interações medicamentosas são, portanto, uma
questão cotidiana na prática médica. A politerapia é uma ferramenta útil para o
tratamento de doenças coexistentes, mas a combinação de drogas pode reduzir a eficácia
e/ou favorecer o aparecimento de reações adversas com diferentes graus de severidade
(WILTINK, 1998).
Os idosos constituem um grupo da população que está em maior crescimento e
atualmente representa cerca de 8,17% da população brasileira (IBGE, 2016). Sabe-se
que estes consomem elevada quantidade de medicamentos, quando comparados à
população mais jovem. Os eventos adversos a medicamentos (EAM) e as reações
adversas a medicamentos (RAM) constituem um desafio para os médicos e um
problema para a saúde pública (OCAMPO et al. 2008).
Entre os fatores de predisposição para o aparecimento de EAM e RAM podem
ser citados: diminuição da reserva funcional, alterações na farmacocinética e
farmacodinâmica que são associadas com o envelhecimento e o grande número de
enfermidades crônicas, o que leva a necessidade de múltiplos tratamentos e esquemas
farmacológicos (OCAMPO et al. 2008).
Como consequência do crescimento da expectativa de vida, observa-se elevada
prevalência de doenças crônicas em idosos, como hipertensão, diabetes, depressão e
doenças neurológicas progressivas. Dessa forma, torna-se comum encontrar o uso de
vários medicamentos associados em um mesmo horário, facilitando o manejo pelo
próprio paciente ou cuidador. Essa politerapia exige um maior conhecimento das classes
medicamentosas por parte da equipe de saúde, principalmente quanto às interações
fármaco-fármaco.
Diante desta problemática, o presente trabalho teve como objetivo analisar as
interações medicamentosas entre hipoglicemiantes orais e psicotrópicos utilizados por
idosos de uma unidade de abrigo em Fortaleza, Ceará.
DESENVOLVIMENTO / PERCURSO METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo de delineamento quantitativo, observacional, transversal e
prospectivo visando identificar as possíveis interações entre os medicamentos
psicotrópicos e antidiabéticos utilizados por um grupo de idosos institucionalizados,
acompanhados durante o estágio em Farmácia Clínica nos meses de agosto e setembro
de 2016.
O abrigo de idosos está localizado na cidade de Fortaleza, é uma unidade
mantida pelo governo do estado do Ceará e administrada por Organização Não
Governamental que conta com profissionais de diversas áreas para atender todas as
necessidades dos idosos, como por exemplo: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas,
psicólogo, assistentes sociais, nutricionista, pedagogos, educador físico, fonoaudiólogo,
dentista, farmacêutico e cuidadores. O abrigo dispõe de uma ampla área física com
mais de oitenta leitos, abrigando atualmente 83 idosos que recebem todos os cuidados
referentes às suas necessidades, como tratamento farmacológico, fisioterapia e lazer.
Os dados foram coletados através de arquivos obtidos na Farmácia do abrigo de
uso na assistência farmacêutica para a logística de aquisição e armazenamento em
estoque de medicamentos. Estes dados são alimentados através de documento interno
utilizado no controle da administração de medicamentos nos idosos e nomeado de
Check-list. Este refere-se a uma tabela individual contendo a descrição de todos os
medicamentos em uso de cada idoso juntamente com a dose, via de administração e
posologia. Mensalmente ou sempre que alterada a prescrição do idoso em seu
prontuário, o Check-list é atualizado e utilizado para notificar a Farmácia do abrigo
quanto a necessidade em adquirir determinado medicamento e a respectiva quantidade e
duração do tratamento.
Dentre os critérios de inclusão foram selecionados os arquivos relacionados ao
uso de um ou mais psicotrópicos e de hipoglicemiantes orais. Os critérios de exclusão
foram os arquivos que referenciavam o uso de insulina ou arquivos que apresentavam o
uso de psicotrópico, mas não apresentavam uso de hipoglicemiantes orais, e vice-versa.
Para a análise das interações foram utilizadas plataformas seguras, gratuitas,
disponíveis on line e através de aplicativos para smartphone como “Drugs.com” e
“Medscape”. As interações medicamentosas entre psicotrópicos e hipoglicemiantes
orais foram classificadas quanto a natureza e gravidade da interação. A natureza da
interação foi identificada entre farmacocinética, farmacodinâmica ou de efeito. Quanto a
gravidade, as interações foram classificadas como leve, moderada ou grave.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
A partir dos dados coletados foi verificado que 87,95% (n=73) dos idosos
pesquisados faziam uso de psicotrópicos e 15,66% (n=13) faziam uso de
hipoglicemiantes. Destes 12,04% (n=10) faziam uso concomitante de psicotrópicos e
hipoglicemiantes.
A análise das informações permitiu a identificação de 16 interações entre os
princípios ativos de ambas as classes de medicamentos.
Quanto a natureza da interação medicamentosa, conforme demonstrado no
gráfico 1, foi identificada que 75% (n=12) é classificada como de efeito, 12,5% (n=2) se
apresentaram de origem farmacocinética e 12,5% (n=2) de origem farmacodinâmica.
Gráfico 1: Classificação das Interações Medicamentosas quanto a sua Natureza.
Ao analisarmos as interações medicamentosas quanto a gravidade foi possível
classificar como: moderada 75% (n=12) e leve 25% (n=4), conforme apresentado no
gráfico 2.
Gráfico 2: Classificação das Interações Medicamentosas quanto a sua Gravidade.
No quadro abaixo é possível identificar que os princípios ativos dos
hipoglicemiantes orais envolvidos em interações com psicotrópicos foram: Metformina,
Glibenclamida e Glicazida. A classe terapêutica dos psicotrópicos envolvidos nestas
interações são: antidepressivos, anticonvulsivantes, antipsicóticos, fármacos usados no
tratamento de demências e transtorno bipolar.
Quadro 1: Princípios ativos envolvidos nas interações medicamentosas entre psicotrópicos e
hipoglicemiantes orais.
Interações Medicamentosas
Interações
Amitriptilina + Metformina
Carbonato de Lítio + Metformina
Clorpromazina + Metformina
Fenitoína + Metformina
Lamotrigina + Metformina
Memantina + Metformina
Olanzapina + Metformina
Quetiapina + Metformina
Risperidona + Metformina
Topiramato + Metformina
Trazodona + Metformina
Clorpromazina + Glibenclamida
Fenitoína + Glibenclamida
Fenobarbital + Glibenclamida
Fluoxetina + Glibenclamida
Clorpromazina + Glicazida
Gravidade
leve
moderado
moderado
moderado
leve
leve
moderado
moderado
moderado
moderado
leve
moderado
moderado
moderado
moderado
moderado
Natureza
farmacodinâmica
efeito
efeito
efeito
farmacocinética
farmacocinética
efeito
efeito
efeito
efeito
farmacodinâmica
efeito
efeito
efeito
efeito
efeito
Dentre esses princípios ativos, alguns possuem “janela terapêutica”, estreita e, o
fato de elevação nos níveis plasmáticos por interações farmacocinéticas, eleva o risco de
eventos adversos como hipoglicemia, expõe os idosos a um risco maior para
desenvolver intoxicações além de comprometer a segurança do tratamento (HANLON
& SCHMADER, 2005; LOCATELLI, 2007).
De acordo com Araújo (2002), aproximadamente 10% das interações resultam
em eventos clínicos significativos, sendo frequentemente observado no paciente geriatra
uma morbidade de baixo nível. Pereira (2002) sugere que os idosos recebam
farmacoterapia individualizada uma vez que as alterações fisiológicas, as patologias,
influências ambientais e genéticas, são variáveis que interfere diferentemente nos
aspectos farmacocinéticos e farmacodinâmicos, contribuindo para a ocorrência de
interações medicamentosas e eventos adversos a medicamentos. Além disso, segundo
Bisson (2007), pacientes graves não raramente são portadores de insuficiência renal
e/ou hepática, o que também favorece o desenvolvimento de várias interações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo apresenta limitações como o fato de não analisar a relevância clínica no
paciente das interações encontradas, visto que os pesquisadores não tiveram acesso aos
prontuários que contém dados dos pacientes como exames laboratoriais e história
clínica aprofundada. Contudo, conseguimos avaliar a relevância clínica referente ao
risco de agravos das interações medicamentosas investigadas com a gravidade potencial
da associação entre duas importantes classes de medicamentos usadas nos idosos do
abrigo, bem como, na população em geral.
Observa-se a importância clínica deste estudo e do acompanhamento
farmacoterapêutico destes pacientes, para que estes obtenham melhora na qualidade de
vida. Salienta-se a necessidade de realização de mais estudos relacionados, abordando
outras classes terapêuticas.
Conhecer a natureza da interação permite ao profissional a realização de
intervenções de ajustes posológicos ou a busca de fármacos alternativos. É necessário
que o Farmacêutico esteja integrado com a equipe multiprofissional de saúde com o
importante papel de minimizar eventos negativos dos medicamentos e insucessos
terapêuticos, garantindo uma melhora na qualidade do serviço de saúde prestado ao
paciente.
REFERÊNCIAS
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ASSOCIAÇÃO
DA
INDÚSTRIA
FARMACÊUTICA
DE
PESQUISA
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BISSON MP. Farmácia clínica & atenção farmacêutica. 2. ed. São Paulo: Manole; 2007.
HANLON JT, SCHMADER KE. Drug-drug interactions in older adults: which one
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em:<http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html>.
Acesso
em:
23.09.2016.
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MARCOLIN, M.A.; CANTARELLI, M.G.; GARCIA-JUNIOR, M. Drug interactions
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MIYASAKA, L. S.; ATALLAH, A. N. - Risk of drug Interactions: Combination of
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MORAIS, J. A medicina doente. Super Interessante 2001; 15:48-58.
OLIVEIRA, H. C. Guia prático das interações medicamentosas dos principais
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WILTINK, E. H. Medication control in hospitals: a practical approach to the problem of
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