FACULDADE TECSOMA Curso Biomedicina Daiana Cássia Sapata

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FACULDADE TECSOMA
Curso Biomedicina
Daiana Cássia Sapata
AVALIAÇÃO DA INTOXICAÇÃO CAUSADA POR EXPOSIÇÃO
OCUPACIONAL DE TRABALHADORES RURAIS AOS AGROTÓXICOS
AGRÍCOLAS INIBIDORES DAS COLINESTERASES:
Organofosforados e carbamatos
Paracatu – MG
2012
Daiana Cássia Sapata
AVALIAÇÃO DA INTOXICAÇÃO CAUSADA POR EXPOSIÇÃO
OCUPACIONAL DE TRABALHADORES RURAIS AOS AGROTÓXICOS
AGRÍCOLAS INIBIDORES DAS COLINESTERASES:
Organofosforados e carbamatos
Monografia apresentada ao Curso de
Biomedicina da Faculdade TECSOMA,
como requisito parcial para obtenção de
título de Bacharel em Biomedicina.
Orientador temático: MSc. Márden Mattos Junior
Co-orientador temático: MSc. Cláudia Peres da Silva
Orientador Metodológico: Geraldo Benedito Batista de
Oliveira
Paracatu – MG
2012
S237p
Sapata, Daiana Cássia
Avaliação da intoxicação causada por exposição ocupacional de
trabalhadores rurais aos agrotóxicos agrícolas inibidores das
colinesterases: organofosforados e carbamatos. / Daiana Cássia Sapata.
Paracatu, 2012.
82f.
Orientador: Marden Estevão Mattos Júnior
Monografia (Graduação) – Faculdade Tecsoma, Curso de Bacharel
em Biomedicina.
1. Agrotóxicos. 2. Intoxicação. 3. Exposição ocupacional. 4.
Trabalhador rural I. Mattos Júnior, Marden Estevão. II. Faculdade Tecsoma.
III. Título.
CDU: 632.95
Daiana Cássia Sapata
AVALIAÇÃO DA INTOXICAÇÃO CAUSADA POR EXPOSIÇÃO
OCUPACIONAL DE TRABALHADORES RURAIS AOS AGROTÓXICOS
AGRÍCOLAS INIBIDORES DAS COLINESTERASES:
Organofosforados e carbamatos
Monografia apresentada ao Curso de
Biomedicina da Faculdade TECSOMA,
como requisito parcial para obtenção de
título de Bacharel em Biomedicina.
________________________________________
MSc. Cláudia Peres da Silva (Coordenador do curso de Biomedicina) –
Faculdade TECSOMA
_________________________________________
MSc. Márden Mattos Junior (Orientador Temático) – Faculdade TECSOMA
_________________________________________
Geraldo Benedito Batista de Oliveira (Orientador metodológico) – Faculdade
TECSOMA
Paracatu, 19 de junho de 2012.
A meus pais, aos meus amigos e
ao meu namorado pelo carinho, apoio e incentivo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por sempre me manter de pé diante de
todas as situações e obstáculos difíceis que tive que enfrentar ao longo desta
caminhada.
Sou grata a meus pais pela dedicação, carinho e esforço para me
proporcionar uma formação acadêmica, sem dúvida foram fundamentais para
meu bom desempenho durante o curso e pela pessoa que sou.
A meu namorado Anderson A. Rezende, por sua atenção, carinho, pelos
momentos de alegria, estímulo e apoio para a realização deste trabalho.
Aos grandes amigos que fiz nessa caminhada, Marcos Alan, Marco
Antônio, Ueliton Ribeiro, Douglas Gabriel e Amanda Ramos; pessoas que
sempre me apoiaram e me ajudaram a crescer como pessoa e como
acadêmica e que vão sempre ter um lugar reservado no meu coração.
À pessoa que me espelhei durante o curso, minha querida excoordenadora Camila Enriques Coelho, obrigada pelos incentivos, pelos
ensinamentos acadêmicos e pelo belo exemplo de profissional.
Agradeço também a todos os ex-professores e supervisores de estágio,
em especial a professora Rita de Cássia Medeiros e Flávio Maia, obrigada pelo
empenho, dedicação e paciência em me passar seus conhecimentos.
Em fim agradeço a coordenadora do curso de Biomedicina Cláudia
Peres, pelo carinho, atenção e ajuda, e ao meu orientador Márden Mattos
Júnior pela orientação e pelos valiosos ensinamentos.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi explorar e discutir a respeito da intoxicação causada
por exposição ocupacional de trabalhadores rurais aos agrotóxicos agrícolas
organofosforados e carbamatos e a influência destes agentes sobre as
colinesterases plasmática e eritrocitária. O estudo foi realizado através de uma
revisão sistemática da literatura, por meio de busca eletrônica de artigos
científicos brasileiros publicados nos últimos 12 anos sobre o tema na base de
dados do Scielo. O estudo foi complementado com livros e sites oficiais de
sistemas, sindicatos e órgão públicos que possuíam informações sobre o
referido tema da pesquisa. A exposição ocupacional de trabalhadores rurais é
um grave problema de saúde pública principalmente nos países em
desenvolvimento, incluindo o Brasil, devido ao número elevado de casos como
também pela subnotificação desses eventos. A maioria dos casos de
intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola esta relacionada aos produtos
organofosforados e carbamatos pertencentes à classe dos inseticidas. Esses
produtos são conhecidos pela sua ação anticolinesterásica. As intoxicações
ocupacionais ocorrem principalmente pelas vias dérmica e respiratória, sendo
que as manifestações clínicas são características da hiperestimulação
colinérgica proveniente do acúmulo de acetilcolina na fenda sináptica. O
diagnóstico é realizado com base na clínica do paciente como também pela
análise das dosagens das colinesterases plasmática ou eritrocitária de préexposição e durante a manifestação dos sintomas de intoxicação por
organofosforados e carbamatos. O tratamento consiste na realização de
medidas de ordem geral e específica.
Palavras chave: Agrotóxicos. Carbamatos. Defensivo agrícola. Colinesterase.
Organofosforados.
ABSTRACT
The objective of this study was to explore and discuss about the toxicity caused
by occupational exposure of workers to the rural agricultural pesticides
organophosphates and carbamates and the influence of these agents on
plasma and erythrocyte cholinesterase. The study was conducted through a
systematic literature through electronic search of Brazilian scientific papers
published in the last 12 years on the subject in the Scielo database. The study
was complemented with books and official websites of systems, unions and
public agencies that had information on that topic of research. Occupational
exposure of farm workers is a serious public health problem mainly in
developing countries, including Brazil, due to the high number of cases as well
as the underreporting of these events. Most cases of poisoning by agricultural
pesticides is related to products belonging to the organophosphate and
carbamates class of insecticides. These products are known for their
anticholinesterase action. The occupational exposures occur mainly by dermal
and respiratory routes, and the clinical manifestations are characteristic of
cholinergic overstimulation from the accumulation of acetylcholine in the
synaptic cleft. The diagnosis is made based on the clinical as well as the
analysis of measurements of plasma and erythrocyte cholinesterase preexposure and during the onset of symptoms of poisoning by organophosphates
and carbamates. The treatment consists in carrying out measures of general
and specific.
Descriptors:
Pesticides.
Organophosphates.
Carbamates.
Pesticide.
Cholinesterase.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Estrutura química geral dos inseticidas organofosforados ........... 23
FIGURA 2 – Estrutura química geral dos inseticidas carbamatos .................... 24
FIGURA 3 – Transmissão do impulso Nervoso pela Acetilcolina ..................... 26
FIGURA 4 – Síntese e hidrólise da Acetilcolina ............................................... 26
FIGURA 5 – Estrutura química da Pralidoxima ................................................ 55
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Comparação do número total de casos de intoxicação por
agrotóxicos de uso agrícola com o número de casos por causa
ocupacional por agrotóxicos de uso agrícola, ocorridos durante
os anos de 2000 a 2009 ............................................................ 36
LISTA DE MAPAS
MAPA 1 – Distribuição dos CIATS nos estados Brasileiros ............................. 37
LISTA DE SIGLAS
Ach – Acetilcolina
AChE – Acetilcolinesterase
ALT – Alanina aminotransferase
ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária
AST – Aspartato aminotransferase
BU-ChE – butirilcolinesterase
CIATs – Centros de Informação e Assistência Toxicológica
EPI – Equipamento de Segurança Individual
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária
NR – Normas Regulamentadoras
OF – Organofosforados
OMS – Organização Mundial da Saúde
PND – Plano Nacional do Desenvolvimento
PNDA – Programa Nacional de Defensivos Agrícolas
RENACIAT – Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência
Toxicológica
Scielo – Scientific Eletronic Online
SINAN – Sistema de Informações de Doenças de Notificação Compulsória
SINDAG – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola
SINITOX – Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas
SNA – Sistema Nervoso Autônomo
SNC – Sistema Nervoso Central
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. .13
1.3 Objetivos ................................................................................................... 14
1.3.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 14
1.3.2 Objetivos Específicos ........................................................................... 14
2 METODOLOGIA ........................................................................................... 15
3 ABORDAGEM GERAL AOS AGROTÓXICOS ............................................ 16
3.1 Histórico dos agrotóxicos no Brasil ....................................................... 17
3.2 Inseticida agrícola ................................................................................... 19
4 COLINESTERASES ..................................................................................... 20
4.1 Acetilcolinesterase ................................................................................... 20
4.2 Butirilcolinesterase .................................................................................. 20
5 COMPOSTOS ANTICOLINESTERÁSICOS ................................................. 22
5.1 Organofosforados .................................................................................... 22
5.2 Carbamatos............................................................................................... 24
5.3 Mecanismos de inibição das colinesterases ......................................... 25
5.4 Acetilcolina ............................................................................................... 25
6 TOXICOCINÉTICA DOS ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS ...... 27
6.1 Absorção ................................................................................................... 27
6.2 Biotransformação e distribuição ............................................................ 27
6.3 Eliminação ................................................................................................ 28
7 TOXICODINÂMICA ....................................................................................... 29
8 TIPOS DE EXPOSIÇÃO ............................................................................ 31
8.1 Exposição direta ....................................................................................... 31
8.2 Exposição indireta ................................................................................... 31
8.3 Exposição Ocupacional ........................................................................... 32
9 INTOXICAÇÃO ............................................................................................. 33
9.1 Intoxicação aguda .................................................................................... 34
9.2 Intoxicação Crônica ................................................................................. 35
10 SISTEMAS DE NOTIFICAÇÃO E REGISTRO DE INTOXICAÇÃO POR
AGROTÓXICOS .............................................................................................. 36
10.1 Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas ............... 37
10.2
Rede
Nacional
de Centros de Informação e Assistência
Toxicológica ................................................................................................... 38
10.3 Sistema de Informação de Agravos de Notificação ............................ 38
11 SUBNOTIFICAÇÃO DOS CASOS DE INTOXICAÇÃO OCUPACIONAL .. 39
12 MEDIDAS DE PROTEÇÃO ......................................................................... 40
12.1 Equipamentos de proteção individual .................................................. 40
13 FATORES DE RISCO ................................................................................. 42
14 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ................................................................... 43
14.1 Propedêutica ........................................................................................... 43
14.2 Manifestações Muscarínicas ................................................................. 44
14.3 Manifestações Nicotínicas..................................................................... 44
14.4 Manifestações no Sistema Nervoso Central ........................................ 44
14.5. Manifestações tardias ........................................................................... 45
14.5.1 Síndrome intermediária ...................................................................... 45
14.5.2 Polineuropatia tardia ........................................................................... 46
14.5.3 Neuropatia periférica tardia ................................................................ 46
15 DIAGNÓSTICO ........................................................................................... 48
15.1 Exames laboratoriais específicos ......................................................... 49
15.1.1 Dosagem da colinesterase eritrocitária............................................ 50
15.1.2 Dosagem da colinesterase plasmática .............................................. 50
15.1.2.1 Fatores limitantes da Colinesterase sérica .................................... 51
15.1.3 Cromatografia de Camada Delgada e gasosa ................................... 51
15.2 Outros exames ....................................................................................... 52
15.2.1 Achados laboratoriais ......................................................................... 52
16 TRATAMENTO ........................................................................................... 53
16.1 Tratamento geral .................................................................................... 53
16.2 Tratamento específico ........................................................................... 53
16.2.1 Atropina ................................................................................................ 53
16.2.2 Oximas ................................................................................................ 54
17 CONCLUSÃO ............................................................................................. 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 57
APÊNDICES .................................................................................................... 62
13
1 INTRODUÇÃO
De acordo com o último recenseamento nacional (Censo Demográfico
2000-2010) realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
o Brasil possuía uma população equivalente de 190.732.694 indivíduos, sendo
que a população rural correspondia a 29.852.986 habitantes. (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012).
O risco de um morador da zona rural se intoxicar com agrotóxicos
agrícolas é 3,9 vezes maior do que uma pessoa que reside na zona urbana.
(BOCHNER, 2007). Dessa forma a atividade laboral do homem do campo, que
lida com agrotóxicos de uso agrícola, tem trazido grandes preocupações, em
grande parte devido aos números elevados de casos relatados, aos diversos
efeitos sob a saúde, como também pelo grande número de fatores envolvidos
na subnotificação desses eventos. Estima-se que para cada caso de
intoxicação por agrotóxico notificado, haja outros 50 não notificados. Contudo
este problema de saúde pública tem afetado principalmente os países em
desenvolvimento. Espera-se que anualmente ocorram cerca de 70 mil casos de
intoxicações agudas e crônicas fatais. Sendo que os casos não fatais podem
ser ainda maiores. (REBELO et al., 2011).
Os agrotóxicos podem ser subdivididos em classes: dos inseticidas, dos
herbicidas, dos fungicidas e dos raticidas e em outras classes menores.
(ABIFINA, 2012; ANDEF, 2012; OGA, 2003). Sendo que os herbicidas lideram
como os produtos químicos mais comercializados para fins agrícolas, com 48%
do mercado, seguido pelos inseticidas (25%) e pelos fungicidas (22%), os 5%
restante referem-se à venda de nematicidas, acaricidas, rodenticidas e
moluscidas, formicidas, reguladores e inibidores de crescimento. (LONDRES,
2011). Porém cabe ressaltar que os inseticidas detêm maior toxicidade que as
classes dos herbicidas que lideram as vendas. (SILVA et al., 2001).
A grande maioria dos casos de intoxicações por agrotóxicos de uso
agrícola estão relacionados com contato com a classe dos inseticidas. Os
principais agentes causais são os produtos químicos anticolinesterase:
organofosforados (OF) e os carbamatos.
(RECENA; CALDAS, 2008;
OLIVEIRA, BURIOLA, 2009).
Devido a todos estes fatores e por considerar o assunto de alta
14
relevância social e atual, justifica-se a realização deste trabalho tendo em vista
a necessidade de avaliar, através de uma revisão sistemática da literatura, a
influência da exposição ocupacional a esses produtos sobre a saúde dos
trabalhadores rurais, como também avaliar os efeitos causados pela inibição
das colinesterases nesta população. Sendo de vital importância identificar,
diagnosticar, tratar, prevenir, compreender e intervir de formar correta sobre
esses efeitos, já que ocorre grandes subnotificações desse tipo de intoxicação
devido à falta de conhecimento sobre o assunto.
1.3 Objetivos
Os objetivos propostos para esse trabalho científico estão dispostos a
seguir:
1.3.1 Objetivo Geral
Explorar e discutir a respeito da intoxicação causada por exposição
ocupacional
de
trabalhadores
rurais
aos
agrotóxicos
agrícolas
organofosforados e carbamatos e a influência destes agentes, sobre as
colinesterases plasmática e eritrocitária.
1.3.2 Objetivos Específicos
O presente trabalho teve como objetivos específicos:
 Determinar quais são os critérios empregados atualmente para a
realização do diagnóstico das intoxicações ocupacionais causadas pelos
inseticidas de uso agrícolas já mencionados;
 Identificar os principais fatores relacionados aos casos de intoxicação
ocupacional causada pelos agrotóxicos agrícolas inibidores das
colinesterases;
 Avaliar as consequências da exposição ocupacional a esses produtos
químicos à saúde dos trabalhadores rurais.
15
2 METODOLOGIA
Este trabalho de revisão sistemática da literatura foi realizado por meio
de um levantamento bibliográfico através de pesquisa de artigos científicos em
português pertinentes ao assunto abordado na pesquisa, sendo acessados
eletronicamente nas bases de dados do Scielo (Scientific Eletronic Library On
Line), assim como capítulos de livros. Este estudo foi complementado com uma
busca eletrônica nas páginas oficiais dos seguintes órgãos e instituições: IBGE,
SINITOX, SINAN, ANDEF, ABIFINA, Sindicato Nacional da Indústria de
Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG) e IMA. Foram analisados estudos
publicados durante os anos de 2000 a 2012.
A pesquisa avaliou e selecionou apenas os artigos, os capítulos de livros
e texto de páginas eletrônicas oficiais dos órgãos e instituições públicas já
relatadas, que possuíam título, resumo ou corpo textual de acordo com os
objetivos propostos pelo presente estudo.
A pesquisa foi realizada por meio dos seguintes descritores: agrotóxico,
organofosforados, carbamatos, colinesterase e defensivo agrícola.
Foram
excluídos da pesquisa os estudos que se encontraram duplicados nas bases
de dados do Scielo e os que não compreendiam o período de publicação
proposto pela pesquisa. Também foram excluídos da revisão, estudos cujo
enfoque estava voltado à exposição indireta, aos resíduos de pesticidas na
dieta brasileira e estudos não relacionados à intoxicação ocupacional de
trabalhadores rurais. Foi incluso na pesquisa estudos relacionados à
intoxicação causada por exposição ocupacional de trabalhadores rurais aos
agrotóxicos agrícolas, estudos relacionados às características físico-químicas
dos agrotóxicos OF e carbamatos, que relataram a utilização da dosagem da
enzima acetilcolinesterase e colinesterase plasmática para o diagnóstico dos
agrotóxicos OF e carbamatos e estudos que foram publicados durante os anos
de 2000 á 2012. O trabalho foi estruturado por 32 artigos e 12 livros, foram
selecionados 20 artigos para a realização das fichas bibliográficas.
Adotou-se o sistema do Microsoft Word Starter 2010 para a escrita e revisão do
texto.
16
3 ABORDAGEM GERAL AOS AGROTÓXICOS
De acordo com a legislação brasileira, atualmente utiliza-se o termo
“agrotóxico” para se referir aos venenos agrícolas, embora alguns autores
ainda façam uso dos termos “praguicidas e pesticidas” para se referirem a
esses produtos. (OGA, 2003; SIQUEIRA; KRUSE, 2008). Porém segundo a
Associação Brasileira das Indústrias Fina Biotecnologia e suas especialidades
(ABIFINA) o emprego do termo “agrotóxico” é utilizado preconceituosamente e
foi definido de forma equivocada pela legislação do Brasil. (ABIFINA, 2012).
Os agrotóxicos agrícolas são definidos como produtos químicos que
possuem uma grande variedade de substâncias químicas. (OGA, 2003).
Contudo para Bedor e colaboradores (2009, p.40), “os agrotóxicos representam
um grupo heterogêneo de compostos com variadas estruturas químicas e com
diferentes toxicidades.”. Essas substâncias químicas são utilizadas com o
intuito de prevenir, repelir, controlar, destruir ou exterminar qualquer praga
agrícola que venha trazer prejuízo à agricultura. (HOSHINO et al., 2008; JOBIM
et al., 2010; OGA, 2003; PERES et al., 2005; VEIGA, 2007).
De acordo com seus efeitos agudos e toxicidade, os agrotóxicos foram
classificados pela Agência Nacional De Vigilância Sanitária (ANVISA) em
quatro classes, que são representados na rotulagem da embalagem da
seguinte forma: classe I, extremamente tóxico (faixa vermelha), classe II,
altamente tóxico (faixa amarela), classe III, moderadamente tóxico (Faixa azul)
e classe IV, pouco tóxico (faixa verde). (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007;
GARCIA; BUSSACOS; FISCHER; 2005; LONDRES, 2011).
Cabe ressaltar que a classificação toxicológica de um produto, apenas
tem haver com quem o manuseia, refletindo a toxicidade aguda. Essa
determinação não se relaciona com a exposição em longo prazo, ou seja, não
indica os riscos de doenças de longa evolução, como também com a
segurança do meio ambiente. (ANDEF, 2012; FARIA; FASSA; FACCHINI,
2007).
As “plantações” do meio rural tem se tornado cada vez mais dependente
dos agrotóxicos, de modo que o pensamento que se tem, é que a produção de
grãos só se torna viável e lucrativa mediante a utilização dessas substâncias,
tornando assim o sistema produtivo altamente dependente dos agrotóxicos.
17
(VEIGA, 2007). Esse cenário tem sido observado desde a década de 70, onde
se iniciou o determinismo agroquímico. (PERES et al., 2005).
Este pensamento se deve ao incentivo para a aplicação de um número
grande e variado dessas substâncias, para assim atender a demanda de
produção de alimentos. (KORBES, et al., 2010). Dessa forma o trabalhador
rural esta ficando cada vez mais subordinado e refém das variações do
mercado, isso devido a grande quantidade de produtos disponíveis.
(JACOBSON et al., 2009).
A dependência da aplicação de agrotóxicos no meio rural é relatada em
vários estudos. Veiga (2007, p.148), afirma que “para a maioria dos produtores
e trabalhadores rurais, uma cultura agrícola sem a presença de agrotóxicos
não seria uma alternativa viável.”.
Contudo o emprego dos agrotóxicos nas “lavouras” tem seu lado
positivo, pois possibilitam o aumento da produtividade agrícola como também a
redução com perdas, através do combate de pragas. Porém o fato negativo
deve-se ao uso indiscriminado dessas substâncias químicas no meio rural,
provocado graves consequências socioeconômicas. (LIMA et al., 2009; VEIGA,
2007). Isso porque há um acometimento tanto do meio ambiente, como
também da saúde dos trabalhadores rurais e dos consumidores. Esse quadro
tem sido observado e estudado principalmente em países em desenvolvimento,
como o Brasil. (HOSHINO et al., 2009; KORBES et al., 2010; RECENA;
CALDAS, 2000).
3.1 Histórico dos agrotóxicos no Brasil
A utilização de agrotóxico em grande escala no Brasil teve início por
volta da década de 70 devido ao forte incentivo das políticas de estado.
(ARAÚJO et al., 2007; SILVA et al., 2005; SOUZA et al., 2011). Nesta época o
setor agrícola ainda era regulamentado pelo Decreto número (n°) 24.114,
criado em 1934, ano que os produtos organossintéticos ainda não haviam sido
descobertos. (GARCIA; BUSSACOS; FISCHER, 2005; KORBES et al., 2010;
SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005).
Ainda nos anos 70 foi implantado o Plano Nacional do Desenvolvimento
(PND), que incluiu os agrotóxicos nos financiamentos agrícolas. Porém havia
18
uma obrigatoriedade de cota destinada para a compra desses produtos em
troca do crédito rural. (ARAÚJO et al., 2007; JOBIM et al., 2010; SILVA et al.,
2005). Essa política foi reforçada em 1975 com Programa Nacional de
Defensivos Agrícolas (PNDA), dessa forma os agrotóxicos passaram a fazer
parte da rotina do trabalhador rural. (MOISÉS et al., 2011; SILVA et al., 2005;
SOUZA et al., 2011). Segundo Veiga (2007. p.146), “cerca de 12 milhões de
trabalhadores rurais seriam expostos diariamente aos agrotóxicos.”.
Devido a estes fatores, somados a falta de uma legislação nacional de
âmbito específico para uso dos agrotóxicos, foi promulgada em 1989, uma Lei
Federal (nº 7.802), que foi regulamentada pelo Decreto (n° 98.816), entrando
em vigor no ano de 1990. Lei esta, que ficou conhecida como “Lei dos
Agrotóxicos”. (GARCIA; BUSSACOS; FISCHER, 2005; KORBES et al., 2010;
SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005).
A utilização de agrotóxicos no mundo é intensa, sendo que 30% do
consumo geral de agrotóxicos se dão nos países em desenvolvimento.
O
Brasil se destaca em relação ao consumismo individual, liderando o ranking
dos países latinos americanos, consumindo cerca de 50% dos agrotóxicos
utilizados por esses Países. (FARIA; ROSA; FACCHINI, 2009; JOBIM et al.,
2010; KORBES et al., 2010; SILVA et al., 2011; SOUZA et al., 2011). Cabe
ressaltar que o Brasil se tornou em 2009, o líder mundial de consumo de
agrotóxico. (LONDRES, 2011; MOISÉS et al., 2011). Isso se deve ao salto nas
vendas durante a ultima década, passando de um pouco mais de UR$ 2
bilhões para mais de 7 bilhões. No ano de 2009 foi aplicado nas lavouras
brasileiras mais de 1 milhão de toneladas de agrotóxicos. (LONDRES, 2011). A
venda de agrotóxicos no ano de 2011 no Brasil, teve números mais
expressivos chegando ao valor de US$ 8,5 bilhões, cerca de 16,3% a mais do
que as de 2010. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2012).
O aumento da demanda provocou uma superprodução dessas
substâncias, onde se estimam em média uma produção de 250 mil toneladas
de agrotóxicos por ano no Brasil. (JOBIM et al., 2010). Devido esses altos
valores, a venda desses produtos passou a influenciar de forma significativa na
economia do país. Atualmente o Brasil representa o terceiro maior mercado
desses produtos. (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007; SOUZA et al., 2011). Para
a Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF) as vendas de agrotóxicos
19
têm sido impulsionadas devido o controle eficiente de pragas e doenças. A
ANDEF, afirma que sem o aumento das vendas, a agricultura brasileira, não
seria um dos esteios da economia no país, e dificilmente se destacaria a nível
mundial. (ANDEF, 2011).
3.2 Inseticidas agrícolas
Os inseticidas agrícolas compreendem uma classe de agrotóxicos
amplamente utilizados para o combate de larvas e insetos das áreas urbanas e
principalmente de áreas rurais. São classificados em grupos químicos distintos,
dentre eles os carbamatos, organoclorados, organofosforados e peritroídes.
(OGA, 2003; SIQUEIRA; KRUSE, 2008).
Conforme relatou Hoshino e outros (2008, p. 914), “entre os inseticidas
agrícolas, os de maior utilização na agricultura estão os grupos dos
organofosforados e os carbamatos substâncias conhecidas por suas
propriedades anticolinesterásicas.”. Estes dois grupos de inseticidas foram
criados para interagirem com a acetilcolinesterase (AChE) dos insetos,
causando a inibição dessa enzima, acometendo assim sistema nervoso dos
insetos. (SANTOS; DONNICI, 2007).
20
4 COLINESTERASES
As colinesterases fazem parte de um grupo de enzimas chamadas Besterases, enzimas estas que possuem a capacidade de hidrolisar ésteres de
colina, como acetilcolina (Ach). As principais enzimas desse grupo são: a
acetilcolinesterase e a butirilcolinesterase (BU-ChE). (BURTIS; ASHWOOD;
BRUNS, 2008; OGA, 2003; SILVA, 2010).
4.1 Acetilcolinesterase
Existem várias terminologias para se referir à enzima acetilcolinesterase,
dentre elas, pode-se citar a acetilidrolase, ou ainda, colinesterase específica,
eritrocitária, verdadeira e colina esterase I. A produção desta enzima se dá na
eritropoese, dessa forma sua renovação ocorre à medida que são produzidos
novos eritrócitos, em tempo médio de aproximadamente 120 dias. A AChE
pode ser encontrada no tecido nervoso, na junção neuromuscular e na
membrana das hemácias, nos pulmões, no baço. (BURTIS; ASHWOOD;
BRUNS, 2008; CALDAS, 2000; OGA, 2003; SILVA, 2010; SOARES; ALMEIDA;
MORO, 2003).
4.2 Butirilcolinesterase
Já a enzima butirilcolinesterase pode ser chamada de colinesterase
inespecífica, plasmática ou sérica. Em outros termos, esta enzima é
reconhecida como: pseudocolinesterase, acilidrolase, acilcolina e colina
esterase II. A BU-ChE é produzida a nível hepático com renovação em torno de
30 a 60 dias. Pode ser encontrada, principalmente no plasma e em órgãos
como: fígado, pâncreas, coração, mucosa intestinal e em pequenas
quantidades nas células glia. (BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008; MOREAU;
SIQUEIRA, 2011; OGA, 2003; SILVA, 2010). A função fisiológica desta enzima
ainda não é bem conhecida, mas provavelmente esta relacionada à hidrólise de
ésteres provenientes de alimentos de origem vegetal. (BRUNTON; LAZO;
PARKER, 2006).
A
acetilcolinesterase
e
butirilcolinesterase
possuem
estruturas
21
moleculares semelhantes, porém diferem-se na sua distribuição, na função e
na especificidade para substratos. (RANG et al., 2007). Segundo Brunton, Lazo
e Parker (2006), a colinesterase eritrocitária e plasmática pode ser tipicamente
diferenciada por suas taxa relativas de hidrólise da acetilcolina e da
butirilcolina, e pelo efeito de inibidores seletivos. Sendo a maior parte dos
efeitos dos agentes anticolinesterase são decorrente da inativação da AChE.
22
5 COMPOSTOS ANTICOLINESTERÁSICOS
Segundo
Hoshino
e
colaboradores
(2009),
os
compostos
anticolinesterásicos são um dos grupos de produtos químicos mais utilizados,
sobretudo, na agricultura. Possuem a capacidade de inibição enzimática, tendo
como alvo as colinesterases, ou seja, alteram a função das colinesterases
plasmática e eritrocitária. (OLIVEIRA; BURIOLA, 2009). Estes compostos são
responsáveis pelo maior número de casos de intoxicações leves e graves
relatados no meio rural. (HOSHINO et al., 2008; MOREAU; SIQUEIRA, 2011;
OGA, 2003; SILVA et al., 2001).
Os compostos anticolinesterase de maior foco comercial são os
organofosforados (OF) e carbamatos. Essas substâncias químicas possuem
mecanismo
de
ação
semelhante,
pois
agem
comprometendo
a
neurotransmissão, porém se diferenciam em suas composições químicas, bem
como na estabilidade dos compostos formados com as colinesterases já
mencionadas acima. (OGA, 2003).
Os inseticidas OF e carbamatos são conhecidos pelo seu efeito
anticolinesterásico, por competirem com o sítio ativo da acetilcolinesterase,
ocorrendo assim a inibição dessa enzima, que deveria hidrolisar a acetilcolina.
Essa inibição provoca o acúmulo deste neurotransmissor nas sinapses
nervosas e nas junções mioneurais, prolongando assim a atividade desse
mediador químico junto aos seus receptores muscarínicos e nicotínicos.
(BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006; HENY, 2008; KORBES et al., 2010;
SILVA, 2010). Primeiro ocorre à estimulação dos receptores muscarínicos com
posterior depressão ou paralisia dos receptores nicotínicos. Essas substâncias
também podem ser chamadas de agentes colinérgicos, pois aumentam os
efeitos mediados pela acetilcolina no sistema nervoso central e/ou periférico.
(BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008).
5.1 Organofosforados
Em
1937,
organofosforados.
Shrader
descobriu
as
propriedades
inseticidas
dos
A partir da década de 50, estes produtos químicos
passaram a ter maior seletividade contra os insetos e consequentemente maior
23
potencial anticolinesterásico, devido à sintetização de novas formulações,
destacando-se os compostos heterocíclicos, aromáticos e naftilcarbamatos. A
fórmula geral dos OF pode ser observada na figura 1. (OGA, 2003).
Figura 1 – Estrutura química geral dos inseticidas organofosforados
Fonte: BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008, p. 614
Já nos anos 70 estes produtos passaram a serem produzidos em grande
escala, assumindo a liderança no mercado mundial, como os produtos
agrícolas mais utilizados. (ARAÚJO et al., 2007; OGA, 2003).
Os organofosforados são substâncias químicas com grande potencial
lipossolúvel.
(OGA,
2003;
SILVA,
2010).
Apresentam
ação
residual
relativamente baixa, são poucos estáveis quando dissolvidos em água e por
isso apresentam meia-vida limitada no meio ambiente e sua acumulação em
seres vivos é de fato limitada. (KATZUNG, 2005; SANTOS; DONNICI, 2007).
Estes produtos são formulados a partir de ésteres amido ou tiol, que se
derivam dos ácidos fosfóricos, fosfônicos, fosforotióico e fosfonotióicos.
(SANTOS; DONNICI, 2007; HENRY, 2008; OGA, 2003).
Atualmente existem no mercado cerca de 200 substâncias diferentes
sintetizadas e comercializadas em milhares de marcas. (OGA, 2003).
Mesmo após o conhecimento de sua toxicidade para o ser humano, os
organofosforados continuam sendo amplamente utilizados na agricultura
mundial, com destaque para os países em desenvolvimento. Esses produtos
são enfatizados em estudos, devido sua capacidade biológica de causar
inibição das colinesterases e pelo seu variado grau de toxicidade ao ser
humano. (KORBES et al., 2010).
24
O Brasil apresenta um índice consideravelmente alto de intoxicações por
agrotóxicos do grupo dos organofosforados, apesar da redução de sua
utilização em relação à década de 80. (KORBES et al., 2010). Mesmo após
esta redução, esses agrotóxicos ainda são responsáveis pelo maior número de
casos relatados de intoxicações agudas e mortes, decorrentes da exposição na
atividade laboral. (BEDOR et al., 2009).
5.2 Carbamatos
Em 1930 foi sintetizado o primeiro inseticida carbamato. Porém o
interesse pelo uso dessa classe como inseticida somente se deu na década de
50. (MOREAU; SIQUEIRA, 2011; OGA, 2003). Esse grupo químico é derivado
do ácido N-metil-carbâmico e dos ácidos tiocarbamatos e ditiocarbamatos.
Porém somente o ácido N-metil-carbâmico é considerado uma substância
anticolinesterase. (OGA, 2003). A estrutura química geral dos carbamatos pode
ser observada na figura 2.
Figura 2 – Estrutura química geral dos inseticidas carbamatos
Fonte: BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008, p.614
Estes produtos químicos possuem baixa pressão de vapor, são
apolares, e detém pouca solubilidade em água, porém são mais estáveis em
meio aquoso. São muito solúveis em solventes orgânicos como o metanol e a
acetona. (OGA, 2003; SILVA, 2010).
Os carbamatos causam inibição reversível devido à carbamilação das
colinesterases,
dessa
sintomatologia
se
forma
também
assemelha
a
podem
causar
apresentada
intoxicação.
pelos
A
compostos
25
organofosforados, porém se dá de forma menos intensa e de menor duração.
Atualmente existem mais de 25 substâncias sintetizadas e comercializadas por
diversas empresas no mundo todo. (OGA, 2003).
5.3 Mecanismos de inibição das colinesterases
Os compostos anticolinesterase agem provocando a inibição das
colinesterases e tem como alvo principal a AChE, que resulta no acúmulo de
acetilcolina nas terminações nervosas. O acúmulo deste mediador químico na
fenda sináptica pode levar a uma síndrome aguda colinérgica, devido à
permanência do estímulo elétrico no nervo, podendo acarretar em um bloqueio
dos receptores nicotínicos. (HOSHINO et al., 2008; PIRES; CALDAS;
RECENA, 2005). Isso ocorre, pois em condições normais, esta enzima deveria
hidrolisar a acetilcolina em colina e em ácido acético. (OGA, 2003).
5.4 Acetilcolina
Acetilcolina é um neurotransmissor sintetizado nos neurônios a partir da
acetilcoenzima A e da colina. Esse mediador químico é extremamente
importante para os seres humanos, pois auxilia na transmissão do impulso
nervoso em todas as fibras pré-ganglionares do Sistema Nervoso Autônomo
(SNA), como também, em todas as fibras parassimpáticas pós-ganglionares e
em algumas fibras simpáticas pós-ganglionares. A Ach também é um mediador
neuro-humoral do nervo motor do músculo estriado (placa mioneural) e de
algumas sinapses interneuronais do sistema nervoso central (SNC). (CALDAS,
2000; HENRY, 2008; OGA, 2003).
Esse neurotransmissor também esta presente nos insetos, transmitindo
impulsos nervosos. Por isso que os inseticidas anticolinesterase têm como alvo
esta enzima, pois assim eles provocam a inibição da acetilcolinesterase, logo
então ocorrere à paralisia e morte dos insetos. (SANTOS; DONNICI, 2007).
Todavia, a transmissão sináptica só ocorre quando a Ach é liberada na
fenda sináptica e se liga aos receptores colinérgicos, assim é gerado um
potencial pós-sináptico, ocorrendo assim à propagação do impulso nervoso.
Dessa forma quando ocorre à inibição da colinesterase eritrocitária por ação
26
dos agrotóxicos organofosforados e carbamatos, este mediador químico passa
a acumular na fenda sináptica, provocando um quadro de hiperestimulação
colinérgica. (CALDAS, 2000; OGA, 2003). Os mecanismos de transmissão
sináptica pela acetilcolina é demonstrado na figura 3.
Figura 3 – Transmissão do impulso Nervoso pela Acetilcolina
Fonte: CALDAS, 2000, p.13
Em condições normais a acetilcolina liga-se a AChE e é hidrolisada,
liberando a colina. Em uma segunda etapa a ligação covalente da acetilenzima
é clivada produzindo o ácido acético. Tanto a colina como o ácido acético
podem ser reutilizados para a síntese de novas moléculas de acetilcolina.
(CALDAS, 2000; KATZUNG, 2005; OGA, 2003). Esse mecanismo limita a
duração da ação desse mediador químico, possibilitando que a função
sináptica se dê normalmente. (BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008; SILVA,
2010). A síntese e hidrólise da acetilcolina são demonstradas na figura 4.
Figura 4 – Síntese e hidrólise da Acetilcolina
Fonte: CALDAS, 2000, p.12
27
6 TOXICOCINÉTICA DOS ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS
A toxicocinética refere-se aos processos de absorção, distribuição,
biotransformação e eliminação. (OGA, 2003).
6.1 Absorção
A forma de absorção dos agrotóxicos pelo organismo exposto é um dos
fatores que influenciam diretamente nos efeitos clínicos. (VEIGA, 2007). Dessa
forma os inseticidas organofosforados e carbamatos podem ser absorvidos
pela via cutânea, pelas vias áreas e pela via gastrointestinal. (CALDAS, 2000;
JACOBSON et al., 2009; KORBES et al., 2010; MOREAU; SIQUEIRA, 2011;
OGA, 2003; VEIGA, 2007). Os OF também podem ser absorvidos pela
conjuntiva o que o torna mais perigoso para os seres humanos. (KATZUNG,
2005).
A intoxicação ocupacional de trabalhadores rurais, esta relacionada à
exposição da via dérmica, responsável pelo maior número de casos e pela via
respiratória,
que
tende
ocasionar
uma
sintomatologia
mais
precoce.
Normalmente a via gastrointestinal só esta relacionada a casos de suicídio ou
de ingestão acidental. (CALDAS, 2000; JACOBSON et al., 2009; OGA, 2003;
TÁCIO; OLIVEIRA, NETO, 2008). A absorção pela via dérmica pode ser
facilitada por exposições sem os devidos cuidados, sendo agravada quando o
contato acontece sob temperaturas elevadas e/ou na presença de lesões na
pele. (CALDAS, 2000; OGA, 2003).
6.2 Biotransformação e distribuição
Normalmente após a etapa de absorção, os organofosforados e
carbamatos são biotransformados, ou seja, são transformados em produtos
menores, mais polares e de menor toxicidade para o organismo, assim de
acordo com suas características são prontamente distribuídos para os tecidos.
O principal órgão envolvido na etapa de biotransformação é o fígado.
(CALDAS, 2000; MOREAU; SIQUEIRA, 2011; OGA, 2003).
De acordo com Caldas (2000), os organofosforados, e seus produtos
28
gerados pela biotransformação se distribuem rapidamente para todos os
tecidos, sendo que os compostos de caráter lipofílicos podem alcançar níveis
significativos no tecido nervoso como também em tecidos ricos em lipídio.
Os organofosforados podem sofrer o ataque de diversas enzimas em
vários sítios de ligações da molécula, mas a sua toxicidade esta relacionada
com a forma que ocorre sua biotransformação, podendo ocorrer tanto ativação
(oxidação do grupo P=S a P=O), como inativação (redução), desses produtos.
As reações de biotransformação podem ocorrer por meio de oxidações
bioquímicas, que envolve reações de dessulfuração gerando produtos de maior
toxicidade para os humanos e para os insetos, isso devido à transformação da
ligação P=S (tion) em P=O, formando os “OXON”. Porém esses metabólitos
podem ser rapidamente hidrolisados pelas hidrolases nos humanos. Outras
reações são as: desalquilação e desarilação oxidativa, hidrólise, clivagem
hidrolítica e redução. (CALDAS, 2000; MOREAU; SIQUEIRA, 2011; OGA,
2003).
As reações de biotransformação dos carbamatos se assemelham as do
OF, havendo também ataque em vários pontos da molécula. Isso ocorre de
acordo com o tipo de radical acoplado na estrutura básica. As principais
reações são a hidrólise do grupo éster-carbâmico, oxidação, redução por meio
do sistema citocromo P-450, hidroxilação do grupamento metil, hidroxilação do
anel aromático, demetilação e conjugação. Alguns carbamatos fazem uso das
vias metabólicas do tipo monoxigenases FAD-dependentes, que os degradam
rapidamente em oximas, sulfóxido, sulfo e acetonitrilas e CO2. (CALDAS, 2000;
OGA, 2003).
6.3 Eliminação
Após 48 horas cerca de 80 a 90% de agrotóxicos absorvidos pelo
organismo são eliminados principalmente pela urina e pelas fezes, sendo que
uma porção bem pequena dessas substâncias e de seus metabólitos é
eliminada sem qualquer modificação na urina. A eliminação também pode ser
dar por via biliar, nesse caso ocorre à circulação entero-hepática que tende a
prolongar os sintomas clínicos. (CALDAS, 2000; OGA, 2003).
29
7 TOXICODINÂMICA
Os OF e os carbamatos agem causando a inibição das enzimas do
grupo B-esterásico, tendo como alvo primário a acetilcolinesterase, onde a
butirilcolinesterase também é inibida. Através desta inibição ocorre um
aumento a acetilcolina endógena nos receptores colinérgicos.
(KATZUNG,
2005). Isso porque não ocorre a hidrólise da acetilcolina, o que culmina no
acúmulo desse mediador químico nas terminações nervosas, permitindo assim,
a ação mais intensa e prolongada desse neurotransmissor nos sítios
colinérgicos, pois a estimulação em nível de membrana pós-sináptica não para,
causando uma hiperestimulação colinérgica. (CALDAS, 2000; HOSHINO et al.,
2008; OGA, 2003).
As colinesterases possuem um centro ativo composto por um sítio
aniônico e por um sítio esterásico, para se ligar a Ach e assim inativá-la. Porém
compostos anticolinesterase como os OF e carbamatos podem se ligar ao sítio
esterásico dessas enzimas inativando-as, o que diferencia entre a ligação
desses compostos é o tipo de ligação que estes fazem com a enzima
(fosforilação em OF ou carbamilição em carbamatos). (CALDAS, 2000).
O fósforo presente na estrutura química dos OF se liga por ligação
covalente a molécula de AChE. Esta ligação é muito estável, e dessa forma a
hidrólise espontânea ocorre de forma lenta ou pode não ocorrer, provocando
um comprometimento permanente na acetilcolinesterase que não irá se
regenerar mais, uma vez que não ocorre regeneração sem hidrólise. A inibição
prolongada das colinesterases provoca um acometimento de seus grupos
básicos, causando a perda de grupamentos alquila, gerando assim uma
enzima fosforilada bem mais estável, o que dificulta a hidrólise entre o
agrotóxico e a estas enzimas. Esse processo culmina no envelhecimento da
enzima, que não pode mais ser recuperada por reativadores, que não
conseguem mais clivar a ligação fósforo-enzima, por esse motivo estes
compostos são ditos inibidores irreversíveis da colinesterase. (CALDAS, 2000;
KATZUNG, 2005; OGA, 2003).
30
Os OF se unem somente no sítio esterásico, onde o fósforo forma
uma união covalente e estável, dando lugar ao ácido éster-fosfórico
(enzima fosforilada). Na presença de alguns inibidores este ácido é
hidrolisado lentamente, levando dias ou semanas e, com outros
compostos, a reação de esterificação é virtualmente irreversível,
podendo durar meses, sendo determinada pelo tempo requerido para
a síntese de novas moléculas de acetilcolinesterase. (OGA, 2003, p.
442).
Os compostos carbamatos são compostos ditos inibidores reversíveis,
pois reagem com a AChE, mas são rapidamente hidrolisados. Dessa forma
causam inibição da enzima, mas o processo se reverte rapidamente devido à
reativação que ocorre de forma rápida e espontânea. (MENDES, 2005; OGA,
2003).
Este processo ocorre, primeiramente, formando um complexo reversível
carbamato-acetilcolinesterase, seguido da reação de carbamilação irreversível
da enzima, e, finalmente, a descarbamilação, por hidrolise, sendo liberada a
acetilcolinesterase original e o carbamato fica dividido e sem atividade
anticolinesterase. (OGA, 2003).
31
8 TIPOS DE EXPOSIÇÃO
Um indivíduo pode estar exposto de forma direta e/ou indiretamente aos
agrotóxicos agrícolas, de modo que esta exposição pode ocorrer por meio de
forma alimentar, ambiental e principalmente de forma ocupacional que é o
interesse de estudo deste trabalho. (HOSHINO et al., 2009; SOUZA et al.,
2011). Segundo Peres e outros (2005), os processos pelos quais os seres
humanos se expõem aos agrotóxicos de uso agrícolas, são verdadeiros
mistérios, pelo fato desta exposição estar relacionada a múltiplos fatores.
8.1 Exposição direta
A exposição direta pode ocorrer mediante o contado direto do
trabalhador com os agentes causais, como também pelo contato com produtos
ou até mesmo o ambiente contaminado por agrotóxicos. Dessa forma a
exposição pode ocorrer durante as etapas de produção industrial e na atividade
laboral no campo, sendo que os trabalhadores rurais estão expostos
diretamente aos agrotóxicos agrícolas nas etapas de manipulação e aplicação
desses produtos. (PERES et al., 2005; SIQUEIRA; KRUSE, 2008). O relato de
casos de pessoas expostas diretamente por agrotóxicos de uso agrícola no
meio rural tem se dado cada vez mais. (JOBIM et al., 2010).
8.2 Exposição indireta
Assim como o trabalhador rural pode estar exposto de forma direta aos
agrotóxicos, este mesmo indivíduo pode se expor indiretamente a esses
produtos químicos. Normalmente este tipo de exposição esta relacionada com
a contaminação ambiental e/ou de alimentos. A contaminação ambiental ocorre
devido à dispersão/distribuição de partículas de agrotóxicos no meio ambiente,
acometendo principalmente a biota de áreas próximas as lavouras agrícolas. Já
a contaminação alimentar deve-se a ingestão de alimentos contaminados direta
ou indiretamente por agrotóxicos, nesses dois casos a contaminação não se
restringe ao homem do campo. (MOREIRA et al., 2002; PERES et al., 2005;
SOUZA et al., 2011).
32
8.3 Exposição Ocupacional
Caracteriza-se como exposição ocupacional aquela que ocorre durante a
manipulação dessas substâncias químicas por agricultores. (HOSHINO et al.,
2009; SOUZA et al., 2011).
Atualmente a exposição ocupacional de trabalhadores rurais é um dos
principais problemas de saúde pública do meio rural brasileiro, devido ao relato
crescente dos efeitos prejudiciais a saúde. Isso deve a multiexposição do
trabalhador rural, o que torna difícil a caracterização do agente causal
responsável pela intoxicação desse grupo populacional, durante a jornada de
trabalho nas “lavouras” brasileiras. (SOUZA et al., 2011). A elevada utilização
desses produtos no meio rural contribui de forma significativa para o aumento
das intoxicações ocupacionais. (KORBES et al., 2010). Nesse contexto cabe
ressaltar que os indivíduos que realizam a etapa de produção industrial e/ou
aplicação desses produtos tem chance maiores de contaminação. (JOBIM et
al., 2010).
33
9 INTOXICAÇÃO
A intoxicação causada pela exposição a agrotóxicos é projeto de estudo
de inúmeros trabalhos científicos no Brasil. (BRITO; GOMIDE; CÂMARA,
2009). Isso se deve ao fato das exposições aos agrotóxicos serem
responsáveis por grande parte dos casos de intoxicações agudas e crônicas no
meio rural, devido o uso indiscriminado e incorreto dessas substâncias. Em
termos gerais, as intoxicações por esses produtos apresentam relação direta
entre o tipo de agente causador, características físico-química dessas
substâncias, a maneira, o tempo e a frequência que se dá a exposição do
trabalhador rural. (FONSECA et al., 2007; KORBES et al., 2010; SOUZA et al.,
2011).
Segundo Bochner (2007), os efeitos dos agrotóxicos podem se dar de
forma aguda ou crônica.
9.1 Intoxicação aguda
A Organização Mundial da Saúde (OMS) possui critérios para a
identificação de quadros de intoxicação aguda por exposição a agrotóxicos.
Dessa forma refere-se ao quadro de intoxicação aguda qualquer patologia ou
efeito sobre a saúde, causada por uma exposição suspeita ou confirmada de
agrotóxicos, sendo que a mesma deve ocorrer dentro de 48 horas. (FARIA;
ROSA; FACCHINI, 2009). Em outras palavras intoxicação aguda é aquela em
que as manifestações clínicas se iniciam rapidamente, seja em minutos, horas
ou dias, onde a exposição ocorreu por curtos períodos, em doses elevadas de
produtos com certo grau de toxicidade. (LONDRES, 2011). Os sintomas
apresentados nesse caso podem ser locais ou de ordem sistêmica, podendo
ter comprometimento dos sistemas, respiratórios, cardiovascular, endócrino e
urinário. (FARIA; ROSA; FACCHINI, 2009).
Contudo
colinesterases
os
efeitos
apresentam
de
intoxicação
um
quadro
aguda
clínico
por
inibidores
das
característico
de
hiperestimulação colinérgica. (CALDAS, 2000). Podendo ocorrer de forma leve,
moderada ou grave, dependendo da dose de agrotóxico absorvida.
(LONDRES, 2011).
34
9.2 Intoxicação Crônica
A intoxicação crônica caracteriza-se por relato de aparecimento de
efeitos tardios, ou seja, aqueles que ocorrem após certo tempo de exposição,
podendo ocorrer semanas, meses ou até mesmo anos após o período de
uso/contato com o agente causal. (BOCHNER, 2007; VEIGA, 2007).
Normalmente estes casos estão relacionados a exposições pequenas ou
moderadas a um ou inúmeros agrotóxicos. (LONDRES, 2011).
Apesar de a manifestação clínica ser tardia, isso não implica que os efeitos não
sejam graves, muitos danos são irreparáveis e podem culminar no afastamento
permanente do trabalhador. (BEDOR et al., 2009). Alguns estudos reforçam a
tese de que a exposição crônica pode ocasionar comprometimento na
fertilidade, no sistema imunológico, provocar danos neurológicos como também
aumentar a suscetibilidade de neoplasia. (BRITO et al., 2009; JOBIM et al.,
2010; LONDRES, 2011). Segundo a literatura este tipo de exposição também
pode estar envolvido no desenvolvimento de sintomas de depressão, que
podem estar relacionados aos suicídios por uso de agrotóxicos agrícolas.
(KORBES et al., 2010).
No entanto, as intoxicações crônicas necessitam de uma atenção
médica ainda maior para o seu diagnóstico, o que envolveria um
raciocínio clínico-epidemiológico mais atento, especialmente
envolvendo profissionais da rede básica de saúde e especialistas, tais
como dermatologistas, neurologistas, imunologistas, cancerologistas,
gastrenterologistas, nefrologistas e pediatras. (BEDOR et al., 2009,
p.46).
Assim como é difícil realizar a diagnóstico clínico, também é difícil
identificar o produto químico causador da intoxicação nesses casos. (VEIGA,
2007). A deficiência de estudos realizados para a avaliação dos fatores de risco
envolvidos no desenvolvimento dos efeitos crônicos sob a saúde do
trabalhador rural justifica a dificuldade de identificação dos casos e dos
produtos envolvidos, assim como a falta de programas específicos para a
prevenção deste problema em longo prazo. (JOBIM et al., 2010).
35
10 SISTEMAS DE NOTIFICAÇÃO E REGISTRO DE INTOXICAÇÃO POR
AGROTÓXICOS
Segundo Londres (2011, p. 34), “existe no Brasil não um, mas uma série
de sistemas de notificação e registro que, entre outros, reúnem e sistematizam
dados sobre intoxicações provocadas por agrotóxicos no país.”.
Os principais sistemas de registros de intoxicações por agrotóxicos são
o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), a Rede
Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (RENANCIT) e
o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). (FARIA; FASSA;
FACCHINI, 2007).
10.1 Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas
Em 1980 foi criado no Brasil o SINITOX, sistema vinculado à Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), para registrar todos os casos de intoxicação e
envenenamento causados por exposição a remédios, animais peçonhentos,
produtos de uso domissanitário, e por agrotóxicos, que são divididos em:
agrotóxicos de uso agrícola, doméstico, veterinário e raticida. Compete ao
SINITOX, coletar, realizar a compilação, análise e divulgação de todos os
casos de intoxicação, como de envenenamento registrados conforme a Rede
Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (RENACIAT).
Porém os dados são enviados pelos Centros de Informação e Assistência
Toxicológica – (CIATs) ao SINITOX de forma voluntária. (BOCHNER, 2007;
LONDRES, 2011; REBELO et al., 2011).
No Brasil, uma revisão da série histórica de casos registrados de
intoxicação humana ocupacional por agrotóxicos de uso agrícolas, a partir das
estatísticas anuais, registrada pelo SINITOX, totalizou durante os anos de 2000
a 2009, 15.491 casos de intoxicação aguda ocupacional. (SINITOX, 2012). A
verificação da distribuição anual desses casos pode ser observada no Gráfico
1.
36
Gráfico 1 – Comparação do número total de casos de intoxicação por agrotóxicos de uso
agrícola com o número de casos por causa ocupacional por agrotóxicos de uso agrícola,
ocorridos durante os anos de 2000 a 2009.
Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de SINITOX, 2012
Segundo a previsão de subnotificação dos casos de intoxicação
ocupacional por agrotóxico, para cada caso registrado, há outros 50 não
notificados. (REBELO et al., 2011). Dessa forma para dimensionar o número de
casos não notificados, deve-se multiplicar o número de casos ocorridos
(15.491), por 50, fator de correção usado pelo Ministério da Saúde (MS).
(PERES et al., 2005). Sendo assim os valores durante os anos de 2000 a 2009,
chegariam ao valor de 774.550 casos de intoxicação aguda durante esse
período por agrotóxicos de uso agrícola. No SINITOX não há registros de
intoxicação crônica, contudo segundo a literatura estima-se que ocorra cerca
de 8 casos de intoxicação crônica para cada caso de intoxicação
aguda
registrado. Desta forma, seguindo esta estimativa, pode-se supor que haveria
ocorrido nesse período 123.928 casos de intoxicação crônica ocupacional
durante os anos de 2000 a 2009, por agrotóxicos de uso agrícola. (BEDOR et
al., 2009).
O SINITOX não fornece a classe dos produtos envolvidos nos casos de
intoxicação por agrotóxicos registrados, não sendo possível estabelecer o
número de casos referentes à exposição ocupacional aos agrotóxicos de uso
agrícolas organofosforados e carbamatos. (SINITOX, 2012).
37
10.2 Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica
O RENACIAT é composto por 35 postos, os CIATs que estão
espalhados em 18 estados do Brasil e no Distrito Federal, como pode ser
observado no Mapa 1. Tem por finalidade disponibilizar dados e informações
sobre o diagnóstico, o prognóstico, tratamento e prevenção das intoxicações.
Compete a essa rede informar sobre a toxicidade dos produtos químicos e
biológicos e os riscos envolvidos á saúde humana, bem como prestar
atendimento direto ao paciente, orientar profissionais da saúde e todos que
precisam atender pessoas intoxicadas por produtos químicos. (BOCHNER,
2007; LONDRES, 2011; REBELO et al., 2011).
Mapa 1 – Distribuição dos CIATs nas Regiões Brasileiras
Fonte: Sinitox, 2011
38
10.3 Sistema de Informação de Agravos de Notificação
O SINAN é um sistema criado para reunir dados e informações sobre
doenças e agravos de notificação compulsória. Atualmente as intoxicações por
agrotóxicos passaram a fazer parte da lista de agravos registrados por este
sistema. (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007). Porém este sistema só registra
casos confirmados de intoxicação por agrotóxicos. (LONDRES, 2011).
A utilização efetiva do SINAN possibilita que seja obtido um diagnóstico
dinâmico da ocorrência de um evento na população. Fornecendo meios para
explicar as causa dos agravos de notificação compulsória, como também
indicar os riscos em que a população esta exposta, dessa forma este sistema
contribui para a identificação da real condição epidemiológica de uma dada
população. (SINAN, 2012).
39
11 SUBNOTIFICAÇÃO DOS CASOS DE INTOXICAÇÃO OCUPACIONAL
Conforme relatou Londres (2011), existe um ponto comum entre todos
os sistemas de registro de intoxicação por agrotóxico; a grande subnotificação
desses eventos.
Segundo Berdor e colaboradores (2009), a subnotificação dos casos
devem-se a não procura do trabalhador rural com sinais e sintomas de
intoxicação a rede de saúde, ao pouco conhecimento das equipes de saúde
para
identificar
os
sinais
e
sintomas
apresentados
pelo
paciente,
principalmente nos casos crônicos onde grandes partes esses eventos são
confundidos com outras patologias gerando diagnósticos errados e por fim a
falta de registro e/ou notificação desses casos aos sistemas de notificações.
Já para Bochner (2007), a subnotificação dos casos de intoxicação por
agrotóxicos agrícolas deve-se ao fato do envio dos dados recolhidos pelos
CIATs serem enviados de forma voluntária ao SINITOX, dessa forma ocorre
um desencontro de informações gerando dados estatísticos irregulares e ao
número insuficiente e a distribuição irregular dos CIATs que não cobrem todas
as regiões brasileiras. O fator mais preocupante refere-se à notificação aos
CIATs serem também de forma voluntária, dependendo da procura da pessoa
exposta ou de seus familiares, como também de profissionais da área da
saúde. Vale ressaltar que a grande maioria dos casos registrados
principalmente pelo SINITOX deve-se a quadros de intoxicações agudas e não
crônicas. Isso decorre do modelo de funcionamento dos CIATs, que se
especializaram para realizar atendimentos de urgências graves, dessa forma a
maioria dos casos registrados no SINITOX referem-se à tentativa de suicídios
por ingestão de agrotóxicos de uso agrícola e não de intoxicação aguda
ocupacional. (LONDRES, 2011).
40
12 MEDIDAS DE PROTEÇÃO
Para reduzir as incidências dos agrotóxicos sob os trabalhadores rurais,
foi criada uma série de medidas para proteger a saúde dessa população.
Incluem nessas medidas, ações para minimizar o contado do agrotóxico com
as chamadas vias de absorção do corpo do trabalhador. Uma das ações mais
eficazes é a utilização de Equipamentos Proteção Individual (EPI), que são
equipamentos específicos para a proteção do corpo, que visam diminuir a
absorção dérmica e respiratória. (TÁCIO; OLIVEIRA; NETO, 2008). Outras
medidas eficientes para a redução da exposição ocupacional devem-se as
mudanças comportamentais nos procedimentos de armazenagem, manuseio,
aplicação e descarte de embalagens dos agrotóxicos. (RECENA; CALDAS,
2008).
12.1 Equipamentos de proteção individual
Segundo o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), (2012) a utilização
do EPI é obrigatória durante o uso/contato com agrotóxicos. O equipamento de
proteção individual é composto por óculos ou viseira, máscara protetora de
filtro com carvão ativado, protetor para a cabeça (chapéu), camisa de mangas
compridas e calças de algodão hidro-repelente (macacão), avental protetor,
luva impermeáveis e botas especiais para lidar com agrotóxicos. (ANDREI,
2009; IMA, 2012; SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005). Segundo estudos,
esses equipamentos podem reduzir de forma significativa à exposição, porém
são incapazes de eliminá-la. (SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005).
O uso dos óculos, macacão, máscara, não usar diariamente a mesma
roupa de aplicação e dar destino corretos as embalagens, reduzem o risco de
intoxicação em 56, 14, 83, 78 e 14% respectivamente. (SOARES; FREITAS;
COUTINHO, 2005).
Segundo Brito, Gomide e Câmara (2009), o trabalhador rural que lida
diretamente com agrotóxico agrícola têm na maioria das vezes consciências da
importância da utilização do EPI, porém não seguem “a risco” as
recomendações para a utilização desses equipamentos.
41
“Apesar de entenderem o risco da exposição, parece não ser este risco
considerado ao lidarem com o agrotóxico.”. (BRITO; GOMIDE; CÂMARA, 2009,
p. 219). Os principais relatos do não uso desses equipamentos referem-se ao
desconforto durante o uso, alto custo para a aquisição dos EPI’s e até mesmo
a questões culturais. (BRITO; GOMIDE; CÂMARA, 2009).
Estudos científicos realizados pelo Brasil têm comprovado a não
utilização dos EPIs por parte dos trabalhadores rurais, como foi relatado por
Delgado e Paumgartten (2004), onde 92% dos trabalhadores rurais
entrevistados em 55 lavouras do Município de Paty do Alferes - Rio de Janeiro
relataram não fazer uso dos equipamentos de proteção individual, nas etapas
de manipulação e aplicação dos agrotóxicos. Os principais relatos do não uso
neste estudo foram: falta de costume (29%), desconforto dos EPIs (22%), por
serem “quentes” (18%), por dificultarem a realização do trabalho (16%), e por
fim por serem caros (16%). (DELGADO; PAUMGARTTEN, 2004).
42
13 FATORES DE RISCO
São fatores que podem de alguma forma propiciar ou aumentar o risco
de intoxicação, devem-se à condições inseguras criadas no trabalho rural.
(SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005). Os principais fatores referem-se: a
não utilização dos equipamentos de proteção individual, o baixo nível escolar o
que dificulta o entendimento da rotulagem propiciando o aumento de condições
inseguras na atividade laboral e a baixa condição socioeconômica. (SOARES;
FREITAS; COUTINHO, 2005; VEIGA, 2007).
Outros fatores envolvidos estão relacionados ao tipo de equipamento
utilizado para a pulverização, a quantidade de aplicação por safra, às
condições climáticas, a falta de assistência técnica no momento da compra,
não emissão de receituário agronômico, ao controle ineficiente sobre a
produção, distribuição e utilização dos agrotóxicos por parte de órgãos
competentes. (HOSHINO et al., 2008; HOSHINO et al., 2009).
Cabe
ressaltar
que
esses
problemas são
ainda
maiores
nas
propriedades de pequeno porte, onde nota-se um agravamento nas condições
de trabalho decorrentes das precárias condições sanitárias e de infraestruturas,
onde se observa uma proximidade das moradias ás áreas “plantadas”. Outro
fator agravante enfrentado por essa população é a deficiência nos sistema de
saúde local. (VEIGA, 2007).
Grande parte desses fatores foi comprovada no estudo realizado por
Soares e colaboradores (2005), no município de Teresópolis, onde foi
detectado um risco de intoxicação 57% maior em indivíduos com baixa
escolaridade em relação ao grupo que possuía pelo menos o segundo grau
completo. Nesse mesmo grupo verificou-se que dos indivíduos que relataram
não fazer uso dos EPI’s, havia um risco 193% maior do que os que faziam uso
de pelo menos um dos equipamentos de proteção. Sendo que as chances de
intoxicação desses indivíduos que não faziam uso devido ao calor, aumentava
para 535% em relação aos que não faziam uso por outro motivo. Outros fatores
de risco relatado neste trabalho foi o uso de aplicadores costais, que
aumentavam as chances de intoxicação em 16%. Nesse mesmo estudo foi
relatado que quanto maior o número de aplicações de agrotóxicos da classe
dos inseticidas por safra, maior probabilidade de danos nos olhos e na pele.
43
14 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
As manifestações clínicas são decorrentes da ação deletéria dos
agrotóxicos
no
organismo
e
normalmente
se
iniciam
após
um
comprometimento maior ou igual a 50% do pool da acetilcolinesterase.
(MENDES, 2005). Dessa forma, o paciente pode apresentar efeitos
muscarínicos, nicotínicos e em nível de SNC, isso de acordo com o agente
causal, via de exposição, dose absorvida, dentre outros fatores. (MENDES,
2005; OLIVEIRA; BURIOLA, 2009). Hoshino e colaboradores (2009), relataram
à ocorrência de efeitos ototóxicos sobre o sistema auditivo e vestibular,
possivelmente ligados a exposição aos agrotóxicos. Segundo Korbes e
colaboradores (2010), os sintomas de intoxicação por inibidores das
colinesterases podem ser muito inespecíficos, dificultando sua identificação.
14.1 Propedêutica
A propedêutica das intoxicações causadas por substâncias inibidoras
das colinesterases são bem característicos, sendo que a via de exposição
influencia de forma direta na sintomatologia e no tempo que estes efeitos levam
para se manifestar, assim como a dose absorvida, a composição da substância
e a forma que ocorre sua biotransformação. Os primeiros sintomas podem
aparecer em minutos ou até em algumas horas, após o contato. (OGA, 2003;
MENDES, 2005).
Em
termos
gerais
nota-se
um
comprometimento
das
funções
relacionadas à via exposta. Quando o contato ocorre por inalação desses
produtos, verifica-se comprometimento da função respiratória, dores no tórax e
na cabeça, visão borrada e lacrimejamento, esses sintomas podem levar
apenas alguns minutos para se evidenciarem. Já Quando o contato se dá pela
via gastrointestinal, os efeitos comuns são vômitos, diarreias e câimbras. Já por
via dérmica observam-se efeitos restritos a área de contato, como contrações e
sudorese intensa. Tanto a via dérmica como gastrointestinal podem ocasionar
o aparecimento de sintomas mais tardios. (CALDAS, 2000; KORBES et al.,
2010).
44
14.2 Manifestações muscarínicas
Segundo a literatura, as principais manifestações clínicas de intoxicação
pelos agrotóxicos agrícolas anticolinesterase, devem-se a estimulação
muscarínica no sistema parassimpático do sistema nervoso autônomo, que
podem comprometer o funcionamento do sistema respiratório, urinário e
cardiovascular e ainda ocasionar efeitos sobre as glândulas exócrinas
(glândulas salivares, lacrimais, brônquicas e gastrintestinais). Dessa forma
nota-se o surgimento de sinais como: aumento das secreções (lacrimejamento,
sudorese, salivação), broncoconstrição, tosse, miose, cólicas gastrointestinais,
náuseas, vômitos, diarreia, bradicardia, urgência e incontinência urinária,
dispneia, fasciculação muscular, depressão do sistema nervoso central,
convulsões, cianose e coma. (HOSHINO et al., 2008; KATZUNG, 2005;
OLIVEIRA, BURIOLA, 2009; RANG et al., 2007).
14.3 Manifestações Nicotínicas
Após as manifestações muscarínicas, alguns casos ainda podem
apresentar o surgimento de efeitos nicotínicos, que normalmente caracterizam
por comprometimento na musculatura estriada e gânglios simpáticos. Quando
estas manifestações estão presentes, indica agravamento do caso. A
sintomatologia comumente observada são as seguintes: câimbras, tremores,
miose, salivação, cefaleia, hipotensão arterial, convulsões, sonolência e/ou
agitação,
arritmia
cardíaca,
hipertensão
e
taquicardia
ou
bradicadia,
insuficiência respiratória, diminuição de reflexos tendinosos e fraqueza
muscular generalizada. (KATZUNG, 2005; MENDES, 2005; OLIVEIRA,
BURIOLA, 2009).
14.4 Manifestações no Sistema Nervoso Central
O SNC pode ter suas funções comprometidas devido à intoxicação por
agrotóxicos anticolinesterase. Normalmente grande parte dos compostos
carbamatos, não provoca uma sintomatologia exuberante neste sistema e
quando presentes indicam agravamento do caso. (CALDAS, 2000; BURTIS;
45
ASHWOOD; BRUNS, 2008). Este fato se dá porque os carbamatos não são tão
eficientes para ultrapassar a barreira hematoencefálica e por suas ligações
éster carbamato serem muito lábeis. (HENRY, 2008).
Em nível de SNC os sintomas mais característicos são sonolência,
tremores, convulsões, fadiga, cefaleia e depressão da função respiratória.
(MENDES, 2005).
14.5 Manifestações tardias
Devem-se ao aparecimento de sinais e sintomas tardios após a
intoxicação aguda por agrotóxicos anticolinesterase. Geralmente estão
relacionados com o desenvolvimento de três síndromes: Intermediária,
Polineuropatia tardia e Neuropatia periférica tardia. (OGA, 2003; OLIVEIRA,
BURIOLA, 2009).
14.5.1 Síndrome intermediária
O surgimento desta síndrome deve-se à exposição aos agrotóxicos
organofosforados, não sendo relatada em casos de intoxicação por
carbamatos. (CALDAS, 2000; OGA, 2003). Segundo a literatura essa síndrome
se dá devido a longas estimulações colinérgicas dos músculos cervicais, dos
pares cranianos (chamados de músculos motores) e nos músculos da
respiração. (CALDAS, 2000; OGA, 2003; HENRY, 2008), ocorrendo assim uma
sequência de sinais neurológicos decorrentes da fraqueza e paralisia da
musculatura proximal. (CALDAS, 2000; OGA, 2003).
Os sintomas são caracterizados pelo enfraquecimento e pela paralisia
da musculatura proximal e do comprometimento dos músculos da respiração e
da região flexora do pescoço. Dessa forma o paciente apresenta dificuldade
em movimentar o pescoço e levantar a cabeça. Observa-se também dificuldade
para deglutir, de movimentar os olhos e os músculos da face. (OGA, 2003;
OLIVEIRA, BURIOLA, 2009).
O comprometimento da função respiratória segundo estudos parece
estar relacionado a um processo necrótico que ocorre na placa mioneural. Esse
processo ocorre devido à estimulação excessiva na membrana pós-sináptica,
46
causando excitoxicidade celular e que resulta na morte celular. (CALDAS,
2000).
14.5.2 Polineuropatia tardia
A polineuropatia tardia ou síndrome neurotóxica tardia é uma síndrome
sensitivo-motora rara que provoca o enfraquecimento dos músculos dos
membros superiores e inferiores, hipertonia, comprometendo os reflexos.
(CALDAS, 2000, OGA, 2003; MENDES, 2005; OLIVEIRA, BURIOLA, 2009). O
aparecimento desta síndrome deve-se a inibição de uma enzima chamada
esterase alvo, mais conhecida como colinesterase neurotóxica. (BRUNTON;
LAZO; PARKER, 2006; CALDAS, 2000). Esta enzima é encontrada nos
humanos, nos tecidos: nervoso, hepático, linfático, nos linfócitos e nas
plaquetas. (OGA, 2003).
Somente
alguns
OF
e
alguns
carbamatos
podem
levar
ao
desenvolvimento desta síndrome. Fato interessante que a polineuropatia tardia
ocorre independentemente à inibição das colinesterases plasmática e
eritrocitária. Pois a fosforilação ocorre na colinesterase neurotóxica causando
o envelhecimento dessa enzima. (CALDAS, 2000, MENDES, 2005; OGA, 2003;
OLIVEIRA, BURIOLA, 2009).
As manifestações clínicas surgem de 6 a 21 dias após a exposição aos
organofosforados. Os primeiros sintomas a se manifestar são: formigamento e
queimação nos dedos, que pode culminar na perda da sensibilidade dos
membros superiores. Ocorre também, fadiga, hipersensibilidade à palpação,
dores musculares, fraqueza distal progressiva, ataxia e redução dos reflexos
tendinosos. Após esses efeitos pode ocorrer paralisia flácida, espasticidade e
quadriplegia.
Nesses casos a recuperação ocorre lentamente podendo ser
incompleta. (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006; CALDAS, 2000; MENDES,
2005; OGA, 2003).
14.5.3 Neuropatia periférica tardia
Esta síndrome assim como as já mencionadas, esta associada à
exposição aos OF dos grupos dos fosfatos e fosforamidatos. Estudos indicam
47
que tal síndrome acontece de forma secundária a fosforilação da enzima
neurotóxica,
que
também
é
conhecida
de
neurotoxicoesterase.
O
acometimento desta enzima provoca uma degeneração axonal. (MENDES,
2005; OGA, 2003).
48
15 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico laboratorial de intoxicação por agrotóxicos inibidores das
colinesterases em trabalhadores rurais expostos ocupacionalmente, deve ser
estabelecido mediante avaliação dos níveis da colinesterase de pré-exposição,
ou seja, devem-se levar em consideração os valores obtidos pela dosagem da
colinesterase realizada nos exames admissionais, assim cada trabalhador
passa a ser seu próprio controle. (MOREAU; SIQUEIRA, 2011; SOARES;
ALMEIDA; MORO, 2003). Essa norma é estabelecida pela legislação brasileira
através das Normas Regulamentadoras (NR. 7, NR. 13) e instituiu que todos
trabalhadores rurais devem passar por avaliação de exames médicos
ocupacionais. No caso de trabalhadores rurais que lidam com agrotóxicos
anticolinesterase é exigido dosagens da colinesterase plasmática e/ou
eritrocitária. Dessa forma esses valores são tomados como referência à
atividade pré-ocupacional. (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007).
Conforme Faria e outros exemplificam (2007. p.33), “o parâmetro oficial
em relação à atividade pré-admissional da enzima é a redução de 50% da
atividade inicial para a colinesterase plasmática, 30% para a eritrocitária e 25%
para sangue total.”. Apesar de não haver um consenso do ponto de corte para
determinar a intoxicação por inibidores das colinesterases, o parâmetro oficial
deve ser utilizado, pois os valores de uma única dosagem, podem não
corresponder com a realidade, logo que algumas patologias e a ampla variação
normal podem interferir de forma significativa nos valores destas enzimas.
(SOARES; ALMEIDA; MORO, 2003).
Segundo Wallach (2011, p.1358), devido á ampla variação normal, o
paciente pode perder 50% de sua atividade da acetilcolinesterase e
ainda estar na faixa normal. Portanto, os valores basais devem ser
determinados para os trabalhadores de risco com organofosforados e
carbamatos. A redução de 30 a 50% a partir do valor basal indica
toxicidade, mesmo se ainda estiver na faixa normal.
Além das patologias o uso da dosagem das colinesterases para
avaliação de intoxicação pelos inibidores da colinesterase OF e carbamatos,
possui como fator limitante, o tempo de exposição a esses produtos e a
realização da determinação dos níveis dessa enzima. (FARIA; FASSA;
49
FACCHINI, 2007).
Segundo a literatura a dosagem da colinesterase plasmática e/ou
eritrocitária, é útil somente para o estabelecimento de diagnóstico de
intoxicações agudas pelos OF e carbamatos. (LONDRES, 2011). Contudo a
determinação da acetilcolinesterase verdadeira e plasmática ainda são os
melhores indicadores para a avaliação de suspeita de intoxicação aguda por
OF e carbamatos. (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007). Pois quando um
indivíduo é exposto a agrotóxicos anticolinesterásicos como os OF e
carbamatos ele tem sua atividade enzimática, comprometida, ou seja, ela
diminui de forma quantitativa, sendo proporcional a intensidade da exposição
sofrida. (PERES et al., 2005).
Dessa forma o relato do trabalhador rural torna-se um ponto fundamental
para o estabelecimento do diagnóstico de intoxicação aguda, quando este
exame pré-admissional não for disponibilizado. (FARIA; ROSA; FACCHINI,
2009).
O que é muito comum na agricultura familiar. (FARIA; FASSA;
FACCHINI, 2007).
Nos casos de intoxicação crônica por estes produtos o diagnóstico é
realizado com base no quadro clínico do paciente, como também pela
avaliação da história ocupacional e ambiental. Devem-se buscar informações
referentes a dados epidemiológicos da região onde a pessoa possivelmente foi
exposta, bem como as circunstâncias que estes produtos foram utilizados.
(LONDRES, 2011).
15.1 Exames laboratoriais específicos
A exposição aos OF e carbamatos provocam uma inibição da enzima
acetilcolinesterase eritrocitária e sérica, dessa forma essas enzimas são
marcadores biológicos utilizados para avaliação da exposição aguda e/ou subcrônica a essas substâncias. Logo que as suas dosagens demonstram uma
redução compatível com a exposição, normalmente os sintomas apresentado
pelo paciente são condizentes a esta redução. Vale ressaltar que os valores
das dosagens devem sempre ser analisados em conjunto com os relatos e
avaliação clínica do paciente. (ARAÚJO et al., 2007; WALLACH, 2011).
50
15.1.1 Dosagem da colinesterase eritrocitária
A acetilcolinesterase eritrocitária é um marcador útil e confiável para
avaliar
a
atividade
dessa
enzima
após
exposição
a
agentes
anticolinesterasicos. Este exame possui maior especificidade e sensibilidade do
que a dosagem sérica, como também possibilita a avaliação da atividade da
AChE
no tecido nervoso. (MOREAU; SIQUEIRA, 2011; WALLACH, 2011).
Segundo
Caldas (2000),
a
colinesterase
eritrocitária assemelha-se a
acetilcolinesterase encontrada nas fendas sinápticas das placas mioneurais.
15.1.2 Dosagem da colinesterase plasmática
Este
exame
possui
maior
sensibilidade,
porém
detém
menor
especificidade em comparação com a dosagem eritrocitária, isso por que pode
se alterar em outras condições, pois além de hidrolisar a acetilcolina, também
podem hidrolisar outros ésteres. (HENRY, 2008). Mesmo detendo menor
especificidade essa determinação é muito útil no diagnóstico da intoxicação
aguda, pois há uma significativa redução da atividade dessa enzima após
exposição aos compostos anticolinesterásicos. Porém este exame é pouco
relevante para a avaliação do quadro clínico de pacientes que apresentam
intoxicação crônica. (CALDAS, 2000).
Conforme Faria, Rosa e Facchini (2009), relataram a medida da BU-ChE
reflete melhor as exposições ocorridas nos dez dias que antecedem à coleta,
pois após este período inicia-se a fase de reposição dos níveis de
colinesterase.
Faz-se necessário lembrar que através deste exame dosamos a
acetilcolinesterase plasmática e não a enzima presente nas placas
motoras e sinapses. Considerando-se que não existe uma boa
correlação entre a queda da pseudo-acetilcolinesterase e da
acetilcolinesterase verdadeira, devemos sempre avaliar os resultados
laboratoriais da dosagem da AchE com cuidado, uma vez poderá não
refletir a gravidade do quadro clínico. (MENDES, 2005, p.1609).
De acordo com a redução enzimática, pode se prever os estágios da
intoxicação. Na fase aguda, quando surgem os primeiros sintomas, as
dosagens no soro das colinesterases plasmática e eritrocitária apresentam uma
51
diminuição de 30 a 50%. Já quando a dosagem no soro apresenta uma
redução de cerca de 80%, nota-se no paciente a presença de sintomas
neuromusculares, porém no caso de exposição crônica o paciente pode
apresentar redução enzimática e permanecer assintomático. (WALLACH,
2011).
15.1.2.1 Fatores limitantes da Colinesterase sérica
O diagnóstico baseado na dosagem plasmática é de fato limitado, logo
que algumas doenças ou condições fisiológicas podem interferir nos seus
níveis séricos. Segundo a literatura doenças como diabetes e hipertensão
arterial, podem elevar os níveis séricos. Entretanto, as doenças hepáticas,
verminoses e redução sérica da albumina, podem provocar uma diminuição
dessa enzima. (SOARES; ALMEIDA; MORO, 2003; WALLACH, 2011).
Cabe ressaltar as alterações provenientes de doenças hepáticas como:
as hepatites, carcinomas metastáticos e cirroses. (WALLACH, 2011). O
alcoolismo é um dos grandes interferentes no diagnóstico diferencial de
intoxicação
por
agrotóxicos
inibidores
da
colinesterase
plasmática,
principalmente nos quadros crônicos. O álcool pode propiciar o surgimento de
lesões no tecido hepático, provocando uma disfunção no fígado, assim como
pode aumentar a suscetibilidade desse órgão ao acometimento por agentes
químicos como no caso dos agrotóxicos. Fato este que refletirá na alteração do
nível sérico da enzima butirilcolinesterase. Contudo, observa-se também uma
grande semelhança entre os efeitos causados sobre o sistema nervoso central
e periférico provocado por inibidores da colinesterase plasmática e pelo
consumo de álcool. Ambas podem provocar distúrbios neuropsicomotores e
déficit de memória de curta duração. (ARAÚJO et al., 2007; SOUZA et al.,
2011).
15.1.3 Cromatografia de Camada Delgada e gasosa
Essas
metodologias
permitem
a
detecção
dos
compostos
anticolinesterásicos em amostras de sangue, urina e lavado gástrico e detém a
vantagem de permitir a quantificação de diversas substâncias presentes na
52
amostra simultaneamente. (PERES et al., 2005). Porém somente são utilizados
em caso onde há dificuldade diagnóstica. Dessa forma esses métodos são
poucos utilizados porque geralmente o diagnóstico é realizado com base na
sintomatologia e pela dosagem da AChE. (MENDES, 2005).
15.2 Outros exames
“Outros exames são muito importante para o acompanhamento dos
casos moderados e graves: radiografia do tórax, eletrocardiograma, gasometria
arterial, ionograma, glicemia, função renal e função hepática.”. (MENDES,
2005, p.1609).
15.2.1 Achados laboratoriais
Exames como o hemograma completo, dosagem da glicemia sanguínea,
dosagem de amilase e lipase, aspartato aminotransferase (AST), alanina
aminotransferase, (ALT), agregação plaquetária e coagulação sanguínea
(FATOR
VII),
podem
apresentar
alterações
significativas,
como
respectivamente: leucopenia ou leucocitose reversível, hiperglicemia transitória,
aumento nos níveis de amilase, lipase, AST e ALT, aumento de plaquetas,
consumo de fator VII. (CALDAS, 2000).
53
16 TRATAMENTO
O tratamento das intoxicações causadas pelos agrotóxicos OF e
carbamatos é dividido em medidas de ordem geral e específica. De acordo com
o estado dos pacientes estas podem ser realizadas em conjunto. (CALDAS,
2000; MENDES, 2005; OGA, 2003).
16.1 Tratamento geral
O tratamento geral consiste em procedimentos básicos para a
manutenção da vida do paciente. Os procedimentos são: manutenção das vias
aéreas e da função cardiovascular, hidratação venosa, esvaziamento gástrico,
utilização de carvão ativado, utilização de catártico e descontaminação dérmica
em caso de contato por via cutânea. Os procedimentos de esvaziamento
gástrico e uso de carvão e catártico, somente são realizados em casos de
intoxicações causadas por absorção via gastrointestinal. (CALDAS, 2000;
OGA, 2003).
16.2 Tratamento específico
O tratamento específico consiste na administração de fármacos
conhecidos como atropina e oximas. (CALDAS, 2000; MENDES, 2005; OGA,
2003).
O tratamento específico para este tipo de ocorrência é feito com a
Pralidoxima, um agente que reativa a enzima colinesterase e protege aquela
que ainda não foi inibida pelo inseticida anticolinesterásico e pela Atropina, um
antagonista dos efeitos da acetilcolina. (OLIVEIRA, BURIOLA, 2009).
16.2.1 Atropina
De acordo com OGA (2003, p.444), “a atropina é um fármaco de ação
anticolinérgica, de efeito antimuscarínico e que atua como tratamento
sintomático da intoxicação por praguicidas inibidores da colinesterase.”. Apesar
de esse fármaco ser fundamental para o reestabelecimento do controle do
54
quadro clínico do paciente, ele não pode ser administrado para reversão dos
sintomas nicotínicos. (CALDAS, 2000; MENDES, 2005; OGA, 2003).
Em conjunto com as medidas de ordem geral deve se realizar a
atropinização do paciente. (CALDAS, 2000; MENDES, 2005).
De acordo com Oga (2003, p.444), a atropinização é indicada pela
desaparição dos estertores e quando a maioria das secreções seca.
Estes são considerados os melhores critérios de avaliação, em vez
da frequência cardíaca e do tamanho das pupilas, pois a taquicardia e
a midríase podem ser sinais nicotínicos em intoxicados graves.
Segundo Mendes (2005), uma vez alcançada a atropinização e/ou
estabilização do paciente, as doses serão ajustadas lentamente para evitar
efeito rebote dos sintomas (dose menor/intervalo de tempo maior) e deverá ser
mantida pelo menos até 24 horas ou mais, segundo a gravidade do caso,
depois da resolução dos sintomas.
16.2.2 Oximas
As oximas são fármacos de grande utilização no tratamento de
intoxicações por OF, porém são contra indicadas para tratamento de
intoxicação por carbamatos, devido a sua pouca efetividade para esses
produtos. No Brasil a oxima disponível é a pralidoxima (contrathion ®), as
oximas
(=NOH)
atuam
promovendo
a
reativação
da
atividade
das
colinesterases, pois possuem alta afinidade pelo átomo de fósforo da
substância inibidora da colinesterase e por isso possuem a capacidade de
hidrolisar a enzima fosforilada, porém essa reação só ocorre quando a enzima
ainda não foi envelhecida. (CALDAS, 2000; KATZUNG, 2005; MENDES, 2005;
OGA, 2003).
Segundo Caldas (2000), a efetividade das oximas, são diretamente
proporcional ao tempo de sua administração e inversamente proporcional ao
envelhecimento das colinesterases, ou seja, esses fármacos são somente
efetivos quando são administrados no início da intoxicação.
O paciente só receberá alta médica após permanecer sem sintomas por
24 horas em relação à última dose de atropina administrada como também se
houver elevação dos níveis de acetilcolinesterase. Geralmente os níveis de
55
cada
uma
das colinesterases se
elevam
em
tempos diferentes.
A
acetilcolinesterase verdadeira leva de 5 a 7 semanas para se elevar já a BUChE leva de 4 a 6 para estabelecer os níveis basais. (MENDES, 2005; OGA,
2003).
Recomenda-se, que após a alta, o paciente não entre em contato com
os inibidores das colinesterases até o restabelecimento dos níveis basais das
enzimas já mencionadas, que realize avaliações laboratoriais periódicas até
que as determinações passem a não apresentar diferenças maiores que 10%.
(OGA, 2003). A estrutura química da pralidoxima pode ser vista na figura 5.
Figura 5. Estrutura química da Pralidoxima
Fonte: KATZUNG, 2005, p.97
56
17 CONCLUSÃO
O presente trabalho concluiu que apesar de existirem muitos estudos
relacionados à exposição ocupacional aos agrotóxicos agrícolas OF e
carbamatos ainda não se sabe muito sobre o assunto, principalmente sobre a
extensão da carga química desses produtos a exposição ocupacional aguda e
crônica e consequentemente sobre a saúde do trabalhador rural. Dessa forma
faz se necessário a realização de mais estudos, visando esclarecer e
disponibilizar informações que auxiliem tanto no diagnóstico clínico e
laboratorial, na terapêutica e na criação de medidas preventivas. O estudo
permitiu confirmar que a subnotificação dos casos tanto de intoxicação aguda
como crônica são evidentes e que o número de registros não condizem com a
realidade brasileira.
É perceptível a dificuldade do diagnóstico clínico das intoxicações pelos
agrotóxicos de uso agrícola OF e carbamatos, vistos que as manifestações
clínicas são diversas. Dessa forma os achados laboratoriais devem ser
somados a clínica do paciente e no caso dos trabalhadores rurais deve-se
tomar como referência a dosagem da colinesterase plasmática ou eritrocitária
de pré-exposição. Dessa forma o diagnóstico das intoxicações agudas e/ou
crônicas exige uma abordagem complexa da saúde como um todo.
Mesmo conhecendo-se os fatores envolvidos nos casos de maior
ocorrência de intoxicação ocupacional pelos agentes anticolinesterase, nota-se
que as medidas preconizadas nem sempre são seguidas pelos trabalhadores
rurais.
Contudo diante desta revisão da literatura, é importante ressaltar a
necessidade
do
emprego
de
medidas
preventivas
com
campanhas
direcionadas para a educação população de estudo, enfatizando o risco de
intoxicação humana e da contaminação ambiental devido ao uso indiscriminado
e muitas vezes inadequado dos agrotóxicos no meio rural. As medidas não
devem somente ser direcionadas a utilização dos EPIs, logo que estes não são
capazes de eliminar o contato com os agrotóxicos, somente são capazes de
reduzir a exposição, dessa forma vale questionar sobre as consequências em
que as exposição crônica a esses produtos podem trazer futuramente a esta
população, logo que estas medidas parecem ser voltadas somente para a
prevenção de intoxicações agudas pelos agrotóxicos de uso agrícola.
57
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62
APENDICE A – FICHAMENTOS
Título: Trabalho rural e fatores de risco associados ao regime de uso de
agrotóxicos em Minas Gerais, Brasil.
Autores: Wagner Soares; Renan Moritz V. R. Almeida; Sueli Moro.
Referência: Caderno de. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 11171127, jul./ago., 2003.
Resumo:
O uso indiscriminado dos agrotóxicos acomete tanto a saúde humana
(aplicadores de agrotóxicos, população rural e consumidores de alimentos
contaminados), como o ecossistema. São muitas as complicações devido à
exposição a agrotóxicos, sendo que além das manifestações agudas também
pode ocorrer manifestações tardias, porém ainda não se conhece muitos sobre
esses efeitos. Segundo dados divulgados, os agrotóxicos seriam responsáveis
por cerca de 20 mil mortes não intencionais por ano em todo mundo, onde a
maioria desses casos acontece em países em desenvolvimento. No ano de
2003 o Brasil contava com 32 centros de controles de intoxicação, que estavam
localizados em 17 estados brasileiros. Esses centros são responsáveis por
atender e registrar casos agudos de intoxicação por agrotóxicos agrícolas.
Esses dados são enviados ao Sistema Nacional de Toxicologia (SINITOX). Um
valioso achado para a realização do diagnóstico de intoxicação por agrotóxicos
é a dosagem da enzima acetilcolinesterase no sangue, logo que produtos de
ação
anticolinesterase
(fosforados
e
carbamatos)
podem
inibir
as
colinesterases plasmática e eritrocitária provocando acúmulo de acetilcolina.
Os sinais e sintomas são decorrentes dessa inibição enzimática, que provoca
uma hiperestimulação colinérgica, com manifestações muscarínicas, nicotínica
e no sistema nervoso central. O objetivo do presente trabalho foi caracterizar o
processo do trabalho rural em municípios de Minas Gerais, Brasil. Este trabalho
também determinou os fatores de risco associados à intoxicação por
agrotóxicos organofosforados e carbamatos.
63
Título: Desafios ao estudo da contaminação humana e ambiental por
agrotóxicos.
Autores: Frederico Peres; Jefferson José Oliveira Silva; Henrique Vicente
Della Rosa; Sérgio Roberto de Lucca.
Referência: Ciência e saúde coletiva, v.10 (sup), p.27- 37, 2005.
Resumo:
Os agrotóxicos são produtos constituídos por uma variável quantidade de
compostos químicos ou biológicos, representado por um grupo heterogêneo de
compostos, com variáveis estruturas químicas de diferentes toxicidades.
Que
possuem a finalidade de matar, exterminar, combater e repelir pragas. Podem
acometer a saúde humana como também afetar o meio ambiente e animais.
Começaram a ser amplamente utilizados no Brasil a partir da década de 60,
com a visão de que estes produtos eram a solução das lavouras. O ser
humano pode ter sua saúde afetada, devido o contato direto ou indireto. Sendo
que a forma que um indivíduo se expõe é pouco conhecida, isso de deve a
multiplicidade dos fatores envolvidos. Diversos métodos vêm sendo utilizados
nos últimos 50 anos para a realização do diagnóstico dessas intoxicações,
tendo como base os indicadores de dose interna e os indicadores de efeito.
Dentre métodos de indicadores de dose interna, a cromatografia é o mais
utilizado, pois permite determinar e identificar substâncias químicas presentes
em amostras biológicas. Porém esta metodologia é muito cara, e não esta
disponível em todo o território brasileiro. Já o exame de indicador de efeito
mais realizado, é a dosagem da colinesterase plasmática ou eritrocitária. Estas
enzimas são inibidas por agrotóxicos anticolinesterase (organofosforados e
carbamatos), dessa forma quando um indivíduo se expõe a essas substâncias
tem a atividade das colinesterases diminuída na mesma proporção da
exposição. O presente trabalho discutiu sobre os principais determinantes da
contaminação humana e ambiental por agrotóxicos, como também os principais
desafios a serem superados pelos profissionais que atuam na avaliação e
controle dos problemas associados à contaminação e exposição por
agrotóxicos.
64
Título: Impacto da legislação no registro de agrotóxicos de maior toxicidade no
Brasil.
Autores: Eduardo Garcia Garcia; Marco Antônio Bussacos; Frida Marina
Fischer.
Referência: Revista de saúde pública, n.5, v.39, p. 832-9, mai./jun., 2005.
Resumo:
Em 1989, foi promulgada a Lei n° 7.802/89 que ficou conhecida como “Lei dos
Agrotóxicos”, antes da criação desta lei, a utilização e comercialização de
agrotóxicos no Brasil era regulamentada pelo Decreto n° 24.114, criado em
1934. Dois pontos importantes desta lei referem-se à classificação toxicológica
e registro dos agrotóxicos. Atualmente os agrotóxicos de uso agrícolas são
classificados em quatro classes toxicológicas, que foram definidas de acordo
com a DL 50 e CL 50. Essa classificação foi criada com o intuito de diferenciar
os produtos de maior e os de menor periculosidade, porém no Brasil, somente
tem sido utilizada para comunicar os riscos na rotulagem. Os agrotóxicos são
considerados por muitos, substâncias seguras, pois passam por rigorosos
testes até serem registrados, seguindo esse pensamento, os efeitos maléficos
seriam decorrentes do uso inadequado. Cabendo toda a responsabilidade
desses efeitos aos usuários dos agrotóxicos. Muitos Decretos foram criados
para regulamentar o registro dos agrotóxicos, sendo que o Decreto n° 991
eliminou a validade de 5 anos dos registro, onde estes deveriam ser então
periodicamente reavaliados. Atualmente esta em vigor o Decreto n° 4.074/02,
que também incorporou essas medidas, porém tais normatizações não
possibilita que produtos já registrados sejam necessariamente reavaliados
periodicamente, dessa forma perdeu-se a oportunidade de retirar do mercado
produtos antigos de maior toxicidade.
Este trabalho objetivou avaliar as
consequências da implantação da Lei dos Agrotóxicos e a respectiva
regulamentação no perfil da classificação toxicológica dos agrotóxicos
registrado no Brasil.
65
Título: Trabalho rural e saúde: intoxicações por agrotóxicos no município de
Teresópolis – RJ
Autores: Wagner Lopes Soares; Elpídio Antônio Venturine de Freitas; José
Aldo Gonçalves Coutinho.
Referência: RER, Rio de Janeiro, vol. 43, nº 04, p. 685-701, out/dez., 2005.
Resumo:
O uso exagerado e inadequado de agrotóxicos no meio rural tem sido objeto de
estudo de vários trabalhos, devido as graves consequências desses produtos a
saúde humana. O Plano Nacional de Defensivos Agrícolas (PNDA), criado em
1975, é apontado como um grande responsável pelo aumento da utilização de
agrotóxicos no meio rural, logo que esta política subsidiava o crédito rural com
obrigatoriedade de uma cota para a compra de agrotóxico. Porém a utilização
desses produtos no Brasil já tinha se intensificado nos anos 70, sendo então
necessária a criação de uma legislação específica para regulamentar o setor.
Em 1989 foi promulgada a Lei dos Agrotóxicos, que foi regulamentada pelo
Decreto n° 98.816 em 1990. Essa lei dispõe sobre a pesquisa, a
experimentação, a produção, embalagem e rotulagem, o transporte, o
armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a
importação, o destino final das embalagens e dos resíduos, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins, além de outras providências. Outro fato importante
relatado no presente artigo é a necessidade da utilização de EPIs, durante a
aplicação
ou
manuseio
de
agrotóxicos,
logo
que
estes
reduzem
significativamente a exposição do trabalhador rural. Porém não basta só uso de
EPIs, outras medidas de proteção devem ser realizadas de forma correta,
como descarte de vasilhames, lavagens das roupas e equipamentos utilizados,
dentre outras. Este trabalho teve como objetivo geral avaliar os impactos do
uso de agrotóxicos na saúde do trabalhador rural.
66
Título: Intoxicações provocadas por agrotóxicos de uso agrícola na
microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil, no período de 1992 a
2002.
Autores: Dario Xavier Pires; Eloísa Dutra Caldas; Maria Celina Piazza Recena.
Referência: Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, n.3, v.21, p.804-814,
mai./jun., 2005.
Resumo:
Anualmente milhões de agricultores são intoxicados por agrotóxicos em todo
mundo, onde estima que ocorram mais de 20 mil mortes em decorrência a
exposição a estes produtos. Sendo que a maioria desses casos ocorre em
países em desenvolvimento. O presente estudo avaliou as notificações de
casos de intoxicação por agrotóxicos na microrregião de Dourados, no período
de 1992 a 2002. Foi identificada, neste período, a ocorrência de 475 casos de
intoxicação, sendo que 261 casos eram do tipo acidental ou profissional. Esta
região é composta por pequenas propriedades rurais, como plantio de culturas
temporárias. Esses fatos, segundo os autores, podem justificar o número de
casos nessa região, pois pequenas propriedades detém pouca tecnologia,
onde se observa, por exemplo, a utilização de aplicadores costais de
agrotóxico e deficiente auxílio técnico. Os principais agentes causais foram os
inseticidas organofosforados (34%), os carbamatos (26%) e os piretróides
(6,8%). Os compostos organofosforados e carbamatos inibem a enzima
acetilcolinesterase, enzima esta responsável pela hidrolise a acetilcolina
(mediador químico responsável pela transmissão sináptica). Sem hidrolise, a
acetilcolina se acumula nas terminações nervosas, dessa forma refletindo em
efeitos nos receptores muscarínicos, nicotínicos e no sistema nervoso. O
objetivo do presente estudo foi realizar um estudo de campo na microrregião de
Dourados, para assim avaliar possíveis notificações de intoxicação por
agrotóxicos ocorridos nessa região.
67
Título: Exposição múltipla a agrotóxicos e efeitos à saúde: estudo transversal
em amostra de 102 trabalhadores rurais, Nova Friburgo, RJ.
Autores: Alberto José de Araújo; Jaime Silva de Lima; Josino Costa Moreira;
Silvana do Couto Jacob; Mônica de Oliveira Soares; Marcos César Monassa
Monteiro; Alexandre Muza do Amaral; Alexandre Kubota; Armando Meyer;
Carlos Alberto Nunes Cosenza; Cesar das Neves; Steven Markowitz.
Referência: Ciência & Saúde Coletiva, n.1, v.12, p.115-130, jun./set., 2007.
Resumo:
O uso de agrotóxicos no meio rural se intensificou a partir dos anos 70, quando
passaram a fazer parte da política agrária, com obrigatoriedade de cota
destinada a compra de agrotóxicos. Deste de então a utilização intensiva
desses produtos tem causado um grave problema de saúde pública no Brasil.
Atualmente passou a utilizar o termo agrotóxico para se referir aos venenos
agrícolas, essa nova terminologia colocou em evidência a toxicidade desses
produtos para quem o manipula. Com a proibição da utilização dos inseticidas
organoclorados, os organofosforados passaram a serem os produtos mais
utilizados, e já na década de 70 assumiram o posto de produtos mais
consumidos no meio rural. Na mesma proporção que se deu o aumento de sua
utilização se deu o aumento do número de casos de intoxicação aguda e
crônica. O presente estudo buscou conhecimento sobre os riscos da aplicação
múltipla e intermitente de uma grande quantidade de agrotóxicos a saúde de
jovens agricultores, como também buscou avaliar as condições de saúde,
higiene e segurança no trabalho agrícola envolvendo os agrotóxicos
organofosforados.
68
Título: Intoxicação por agrotóxicos no Brasil: os sistemas oficiais de
informação e desafios para realização de estudos epidemiológicos.
Autores: Neice Müller Xavier Faria; Ana claudia Gastal Fassa; Luiz Augusto
Facchini.
Referência: Ciência & Saúde Coletiva, n.2, v.12, p.25-38, jun./ago., 2007.
Resumo:
O trabalho agrícola é considerado uma atividade perigosa, devido os vários
riscos envolvidos, incluído principalmente a exposição ocupacional, com
destaque para as intoxicações agudas e crônicas e danos ambientais. O
consumo de agrotóxico no Brasil é crescente, o que o coloca entre os maiores
consumidores mundiais. O faturamento de agroquímicos saltou de 1,2 para 4,4
bilhões de 2002 a 2004. Sendo que 40% das vendas correspondiam aos
herbicidas, 31% fungicidas, 24 % inseticidas e 5 % outros produtos de uso
agrícola. Os estudos realizados para identificar o impacto dos agrotóxicos
sobre a saúde humana têm crescido nos últimos anos, porém ainda são
insuficientes para conhecer a extensão e os impactos dessas substâncias
sobre a saúde ocupacional dos trabalhadores rurais. É evidente a deficiência
de informação e dados referentes às intoxicações por agrotóxicos de uso
agrícola. Este estudo objetivou avaliar dados referentes a intoxicações, obtidos
a partir das fontes oficiais de registro. Assim dimensionou a frequência e
compararam-se os resultados. Foi realizada uma discussão referente às
limitações encontradas na base de dados. Também foi realizada uma análise
as informações sobre o consumo de agrotóxicos contido no Receituário
Agronômico, a partir de dados do Rio Grande do Sul. Por fim este estudo
realizou uma revisão de estudos brasileiros, com o intuito de discutir sobre as
principais dificuldades metodológicas, relacionadas à classificação toxicológica
e diagnóstica de intoxicação laboratorial.
69
Título: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas – SINITOX e
as intoxicações humanas por agrotóxicos no Brasil.
Autor: Rosany Bochner
Referência: Ciência & Saúde Coletiva, n.1, v.12, p.73-89, jun./ago., 2007.
Resumo:
Em 1980 foi criado no Brasil o Sistema Nacional de Informações ToxicoFarmacológicas (SINITOX). A partir de 1999 passou a considerar casos de
intoxicação ou envenenamento causado por 17 agentes tóxicos. Os
agrotóxicos fazem parte desses agentes causais e estão divididos em
agrotóxicos de uso agrícola, veterinário, doméstico e raticidas. Este sistema é
vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e tem como responsabilidade
coletar,
compilar,
analisar
e
divulgar
os
casos
de
intoxicação
e
envenenamento, registrados pela Rede Nacional de Centros de Informação e
Assistência Toxicológicas (RENACIAT). Esta rede em 2007 era composta por
36 postos localizados em 19 estados e no Distrito Federal. O RENACIAT tem a
função de disponibilizar informação e orientar sobre o diagnóstico, prognóstico,
tratamento e prevenção das intoxicações. Esse estudo teve como objetivo
analisar separadamente o perfil das intoxicações por agrotóxicos de uso
agrícola, doméstico, veterinários e raticidas e assim comparar os dados
encontrados com os dados de agrotóxicos em geral. Nota-se que o número de
casos registrados no SINITOX não condiz com o número de casos que
ocorrem em todo o Brasil. Isso se deve ao número insuficiente de centros
espalhados pelas regiões brasileiras, bem como pelo fato da notificação a
esses centros serem voluntárias, sendo realizada pela própria vítima e por seus
familiares ou por profissionais da saúde. Este trabalho teve como objetivo
analisar separadamente o perfil das intoxicações causadas por agrotóxicos de
uso agrícola, de uso doméstico, de uso veterinário e raticida e assim realizar
uma comparação desses perfis com o das intoxicações por agrotóxicos em
geral.
70
Título: Agrotóxicos: eficiência econômica e injustiça socioambiental.
Autor: Marcelo Motta Veiga
Referência: Ciência & Saúde Coletiva, n. 1, v.12, p.145-152, mar./jul., 2007.
Resumo:
Os agrotóxicos são produtos compostos por uma grande variedade de
substâncias químicas ou produtos biológicos e foram introduzidos no meio rural
brasileiro, para corrigir as necessidade do solo e prevenir, eliminar as pragas
agrícolas. E logo passaram a serem usados como a solução das lavouras
brasileiras. Com a impulsão das vendas nos últimos anos o Brasil tem se
tornado um dos maiores consumidores de agrotóxico do mundo. A utilização de
agrotóxico pode ser analisada como positiva, como agente necessário para o
bom desempenho da agricultura e negativo como agente de risco potencial a
saúde humana e do meio ambiente. Os efeitos negativos da utilização de
agrotóxicos, em grande parte devem-se ao mau uso dessas substâncias, onde
estes são utilizados de forma inadequada, sem o conhecimento necessário.
Os agrotóxicos podem ser absorvidos pela via dérmica, respiratória e cutânea.
Sendo que a manifestação clínica depende da via de absorção, das
caraterísticas químicas do agente causal, do tempo de exposição e da
susceptibilidade da saúde da pessoa exposta. Os efeitos são divididos em
agudos ou crônicos, as manifestações agudas aparecem logo após o contado
da pessoa com o agrotóxico, já as manifestações crônicas se dão semanas,
meses e ate anos após o contato. O presente artigo analisou a relação inversa
entre a eficiência econômica e a justiça socioambiental. Segundo os autores a
maximização da eficiência econômica induziria um busca de alocação dos
recursos de forma mais eficiente, como por exemplo, poderiam reduzir os
custos econômicos através dos ganhos de produtividade e deslocamento de
risco para comunidade de menor nível socioeconômico.
71
Título: Agrotóxico e saúde humana: contribuição dos profissionais do campo
da saúde.
Autores: Soraia Lemos de Siqueira; Maria Henriqueta Luce Kruse.
Referência: Revista Escola de Enfermagem - USP, n. 3, v. 42, p. 584-90,
set./fev. 2008.
Resumo:
O termo agrotóxico vem sendo utilizado no Brasil para se referir aos venenos
agrícolas, contudo essas substâncias químicas também são conhecidas
popularmente como praguicidas e pesticidas. Essa nova terminologia colocou
em evidência a toxicologia desses produtos para a saúde do ser humano. Os
agrotóxicos são classificados toxicologicamente em quatro classes: classe I
extremamente tóxica (faixa vermelha), classe II altamente tóxicos (faixa
amarela), classe III mediamente tóxicos (faixa azul) e classe IV pouco tóxicos
(faixa verde), essa classificação esta presente na rotulagem dos agrotóxicos.
Quanto à aplicabilidade esses produtos podem ser divididos em herbicidas,
inseticidas, fungicidas, raticidas e outras classes menores. O contato com
esses produtos pode se dar de forma direta ou indireta e podem trazer uma
série de injurias a saúde dos trabalhadores rurais, da comunidade local, meio
ambiente e consumidores. A exposição ocupacional de trabalhadores rurais
normalmente esta relacionada à falta de informação e por falta de recurso
financeiro. Este trabalho visou conhecer, criar e disponibilizar informação para
os profissionais da saúde sobre o tema, como também conscientizar sobre a
importância da realização de medidas de intervenção a saúde da população
rural.
72
Título: Percepção de risco, atitudes e práticas no uso de agrotóxicos entre
agricultores de Culturama, MS.
Autores: Maria Celina Piazza Recena; Eloisa Dutra Caldas.
Referência: Revista de Saúde Pública, n.2, v.42, p.294-301, jul./set., 2008.
Resumo:
O uso intensivo de agrotóxicos se tornou um grave problema de saúde pública
principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil. Pois houve um
aumento significativo dos casos, porém esses casos não condizem com a
realidade, devido à subnotificação de muitos eventos. Segundo este estudo o
número de casos de exposição ocupacional poderiam se reduzir com a adoção
de mudanças comportamentais simples durante os procedimentos de
manuseio e aplicação, uso de equipamentos de proteção individual e
monitoramento biológico. Tendo em vista a necessidade de conhecer os
fatores relacionados com a prática de uso dos agrotóxicos no meio rural,
muitos estudos têm sido realizados no Brasil e no mundo. Dessa forma
pretendem-se avaliar o nível de conhecimento, as crenças, as percepções dos
trabalhadores rurais sobre os riscos envolvidos na exposição aos produtos de
uso agrícola. Somente tendo esse conhecimento poderá construir medidas de
intervenções mais eficazes, com realização de campanhas educativas e
comunicação dos possíveis riscos envolvidos na utilização dos agrotóxicos.
Sabendo disso o presente estudo buscou avaliar a percepção de risco, práticas
e atitudes referentes ao uso de agrotóxicos por trabalhadores rurais na região
de Culturama-MS.
73
Título: Agrotóxicos e saúde: realidade e desafios para mudança de práticas na
agricultura.
Autores: Paula Fernandes de Brito; Márcia Gomide; Volney de Magalhães
Câmara.
Referência: Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n.1, v.19,
p.207-225, ago./dez., 2009.
Resumo:
No ano de 2009 o Brasil figurava entre os maiores consumidores de agrotóxico
do mundo, fato este que vem trazendo vários problemas para a saúde da
população exposta como também do meio ambiente. A contaminação humana
por agrotóxico não se restringe somente a exposição ocupacional, muitos
casos tem ocorrido devido à proximidade a áreas agrícolas e em decorrência
da dispersão dos agrotóxicos no meio ambiente. Essas substâncias podem
causar vários efeitos à saúde, cabendo destaque para os danos agudos e
crônicos. Esse estudo cientifico, evidencia os resultados de uma pesquisa
realizada em pequena comunidade agrícola do município do Rio de Janeiro.
Com a finalidade de caracterizar o contexto e as práticas relacionadas com a
utilização de produtos agroquímicos de uso agrícola entre agricultores
familiares. Buscou identificar o nível de conhecimento dos trabalhadores rurais
sobre os danos causados pela utilização desses produtos como também o
motivo que os levam a fazer uso dessas substâncias. Esses resultados foram
somados a caracterização socioeconômica dos entrevistados, obtendo assim
uma visão bem abrangente do processo de trabalho local. O presente trabalho
mostra a presença de idoso no trabalho agrícola local, com taxas de
analfabetismo consideráveis e baixa condição financeira da população
analisada, apesar desses fatores observou-se que o grupo de estudo possuía
algum tipo de informação referente aos agrotóxicos. Porem esta população
parece não se preocupar com os riscos da exposição a esses produtos.
74
Título: Intoxicações por agrotóxicos entre trabalhadores rurais de fruticultura,
Bento Gonçalves, RS.
Autores: Neice Müller Xavier Faria; José Antônio Rodrigues da Rosa; Luiz
Augusto Facchini.
Referência: Revista de Saúde Pública, n.2, v.43, p. 335-44, jan./set., 2009.
Resumo:
O Brasil esta entre os maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, devido
à intensa utilização desses produtos. Porém apesar do uso intenso, o número
de caso de intoxicações registradas é muito limitado, sendo as notificações
restritas aos casos agudos. O sistema que deveria receber essas notificações é
o Sistema Nacional de Notificação de Agravos (SINAN), porém na prática o
Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) é mais
utilizado para esse fim. A subnotificação dos casos tem sido um problema
frequente, em grande parte esta ocorrendo devido à dificuldade diagnóstica,
sendo um desafio para as equipes de saúde. Pois a exposição a agrotóxicos
costuma ser multiquímica e como não existe biomarcadores para avaliar a
exposição a todos os agrotóxicos que causam intoxicação o relato do paciente
torna-se peça chave para o estabelecimento dos do diagnóstico de
intoxicações. O presente estudo buscou descrever a exposição ocupacional
aos agrotóxicos de uso agrícola e a incidência do número de casos de
intoxicações aguda por esses produtos. Foi realizada também uma
monitoração biológica para os agrotóxicos organofosforados frente os sintomas
apresentados pela população de estudo. Sendo realizada a dosagem da
colinesterase em duas etapas uma no período de baixa exposição e outra
durante a utilização desses produtos, assim obteve o padrão ouro para a
realização desse exame em pessoas expostas.
75
Título: Vulnerabilidades e situações de riscos relacionados ao uso de
agrotóxicos na fruticultura irrigada.
Autores: Cheila Nataly Galindo Bedor; Lara Oliveira Ramos; Paulo José
Pereira;
Marco Antônio Vasconcelos Rêgo; Antônio Carlos Pavão; Lia Giraldo da Silva
Augusto.
Referência: Revista Brasileira de Epidemiologia, n.1, v.12, p.39-49, nov./dez.,
2009.
Resumo:
Os agrotóxicos são substâncias compostas por um grupo heterogêneo com
variadas estruturas químicas de diferentes toxicidades e é amplamente
utilizado no meio rural, o uso intenso dessas substâncias se tornou um grave
problema de saúde pública, com agravos tanto para a saúde humana como
para o meio ambiente. Em 2009 estimava-se que ocorriam em todo mundo
cerca de 3 milhões de intoxicações agudas por agrotóxicos, sendo que 70%
desses casos ocorriam em países em desenvolvimento. Os trabalhadores
rurais é grupo populacional mais vulnerável aos efeitos adversos dos
agrotóxicos a saúde. Segundo a literatura para cada caso de intoxicação existe
outros 8 casos de intoxicação crônica. Porém pouco se sabe sobre os efeitos
danosos do uso de agrotóxicos no meio rural brasileiro. Uma das principais
vulnerabilidades da população rural é a baixa percepção das situações de risco
de exposição individual e coletivo desta população. Dessa forma é importante
conhecer os condicionantes sociais, culturais e econômicos das populações
rurais expostas a agrotóxicos, para assim tentar minimizar os efeitos danosos
decorrente do uso dessas substâncias a saúde humana e ao meio ambiente.
Esse estudo científico se propôs conhecer o contexto social, econômico e
cultural e algumas vulnerabilidades a saúde da população rural do Vale do São
Francisco. Buscando contribuir para medidas de proteção a saúde desta
população.
76
Título: Comunidade pomerana e uso de agrotóxicos: uma realidade pouco
conhecida.
Autores: Ludmilla da Silva Viana Jacobson; Sandra de Souza Hacon; Luciana
Alvarenga; Roberta Argento Goldstein; Carmen Gums; Daniel Forsin Buss;
Luciana Ribeiro Leda.
Referência: Ciência & Saúde Coletiva, n.6, v. 14, p.2239-2249, set./nov.,2009.
Resumo:
Muitas mudanças nas técnicas agrícolas ocorreram ao longo dos séculos,
devido à necessidade de se aumentar a produção de alimentos para suprir as
necessidades da população mundial, para isso as técnicas agrícolas vêm
sendo constantemente aprimoradas com o emprego de modernas tecnologias.
O principal incremento que passou a ser utilizado foi os agrotóxicos, que devido
o uso indiscriminado estas substâncias passaram afetar diretamente ou
indiretamente o meio ambiente e a saúde humana com danos principalmente a
saúde dos trabalhadores rurais que estão expostos a riscos diversos devido à
multiexposição. O presente estudo científico foi realizado na comunidade de
Pomerana no Alto Santa Maria localizada no município de Santa Maria de
Jetibá, região serrana de Espirito Santo, esta comunidade foi escolhida por sua
economia se baseada na agricultura familiar. Este estudo objetivou caracterizar
economicamente esta comunidade como também investigar os principais
fatores de exposição aos agrotóxicos para esta comunidade. Detectou-se o uso
intenso de agrotóxicos nesta comunidade, onde os trabalhadores rurais vivem
constantemente em contato com essas substâncias.
Esses fatores são
agravados pela ausência de assistência técnica especializada, para instruir os
agricultores sobre o melhor agrotóxico a ser utilizado como a dosagem certa a
ser utilizada, dessa forma notou-se o uso incorreto desses produtos na
atividade agrícola, principalmente devido à elaboração de caldas com sobras
de vários agrotóxicos, cuja prática pode potencializar os danos à saúde.
77
Título: Alterações no sistema vestibulococlear decorrentes da exposição ao
agrotóxico: revisão de literatura.
Autores: Daiane Körbes; Aron Ferreira da Silveira; Miguel Ângelo Hyppolito;
Gisiane Munaro.
Referência: Revista Sociedade Brasileira Fonoaudiologia, n.1, v.15, p.146-52,
set./jan., 2010.
Resumo:
Os compostos anticolinesterásico possuem diversificada toxicidade para os
humanos e nas últimas décadas tem sido amplamente utilizados na agricultura,
o principal grupo desses produtos são os organofosforados. O uso intenso
dessas substâncias tem causado o aumento do número de casos de
intoxicações agudas e crônicas, além desses efeitos, estudos tem investigado
o efeito deletério de ototoxicidade dessas substâncias químicas no sistema
auditivo e vestibular devido exposição ocupacional. Devido à necessidade de
se investigar melhor a associação entre a exposição ocupacional a esses
agrotóxicos e a ocorrência de alterações nos sistemas e nas vias auditivas e
vestibular. Foi realizada uma revisão de literatura, para explorar e discutir a
respeito da exposição ocupacional de trabalhadores rurais a organofosforados
e os efeitos causados por esses produtos a estrutura e na função do sistema
auditivo. O presente trabalho concluiu que a realização de estudos para
investigação de otoxicidade causada por agrotóxicos permitem aprimorar os
conhecimentos sobre a anatomia fisiológica da orelha interna e das vias
auditivas, sendo esse um ponto crucial para a descoberta de meios de
prevenção e proteção do órgão da corti.
78
Título: Existe uma associação entre mortalidade por câncer e uso de
agrotóxicos? Uma contribuição ao debate
Autores: Paulo Fernandes Costa Jobim; Luciana Neves Nunes; Roberto
Giugliani; Ivana Beatrice Manica da Cruz.
Referência: Ciência & Saúde Coletiva, n.1, v.15, p.277-288, 2010.
Resumo:
Visando aumentar à produtividade as “culturas” agrícolas estão sendo cada vez
mais submetidas a mudanças tecnológicas e organizacionais. No Brasil não
esta sendo diferente com implantação de novas tecnologias para aumentar a
competitividade com o mercado internacional. De um lado da balança esta o
crescimento econômico e do outro os danos ao meio ambiente e a saúde
humana.
O uso intensivo de agrotóxicos no Brasil se deu a partir da década de 60,
quando este país implantou o Plano Nacional do Desenvolvimento (PND), que
impôs cota de compra de agrotóxico em troca de crédito rural aos produtores
rurais. A produção de agrotóxicos no Brasil no ano de 2010 foi de 250 mil
toneladas, neste ano o Brasil era tido como oitavo maior consumidor de
agrotóxico do mundo. Em contra partida a esse aumento do consumo esta a
elevação do número de casos de pessoas contaminadas seja diretamente
como indiretamente, como efeitos agudos e crônicos. Neste contexto cabe
chamar atenção para os casos crônicos que afetam tanto a área rural como
urbana e são tão quanto prejudiciais que os casos agudos. Alguns estudos
apontam consequências deletérias na fertilidade, na etiologia de danos
neurológicos e aumento na disposição a neoplasias. Tendo consciência destes
fatos o presente artigo se dispôs a debater se áreas expostas cronicamente a
agrotóxicos podem apresentar uma prevalência maior de neoplasias e se, os
dados existentes sugerem esta relação.
79
Título: Avaliação do impacto da exposição a agrotóxicos sobre a saúde de
população rural. Vale do Taquari (RS, Brasil).
Autores: Andressa de Souza; Afonso dos Reis Medeiros; Ana Cláudia de
Souza; Márcia Wink; Ionara Rodrigues Siqueira; Maria Beatriz Cardoso
Ferreira; Luciana Fernandes; Maria Paz Loayza Hidalgo; Iraci Lucena da Silva
Torres.
Referência: Ciência & Saúde Coletiva, n.8, v.16, p.3519-3528, jul./ago., 2011.
Resumo:
A intensa utilização de agrotóxicos no meio rural brasileiro estimulada na
década de 70 pela política nacional, fez com que o Brasil se torna-se o terceiro
mercado e o oitavo maior consumidor de agrotóxicos por hectares do mundo,
onde 60% desses produtos correspondem aos inseticidas e herbicidas. Essa
intensa utilização tem sido associada ao aumento das intoxicações agudas e
crônicas de trabalhadores rurais como também de suicídios dessa população.
A exposição pode ocorre diretamente mediante o contato direto do indivíduo
com essas substâncias, ou indiretamente por meio da dispersão de partículas
de agrotóxicos no ambiente e/ou por meio de alimentos contaminados. Três
vias estão relacionadas com os casos de intoxicação, são elas: ocupacional,
ambiental e alimentar. São poucos os estudos realizados no Brasil para
analisar as bases populacionais expostas ocupacionalmente aos agrotóxicos,
com base nesse triste histórico brasileiro este trabalho avaliou a associação
entre a exposição à agrotóxica e a prevalência dos efeitos crônicos na
população do Vale do Taquari.
80
Título: Intoxicação por agrotóxicos no Distrito Federal, Brasil, de 2004 a 2007 análise da notificação ao Centro de Informação e Assistência Toxicológica.
Autores: Fernanda Maciel Rebelo; Eloísa Dutra Caldas; Viviane de Oliveira
Heliodoro; Rafaela Maciel Rebelo.
Referência: Ciência & Saúde Coletiva, n.8, v.16, p.3493-3502, mar./abr., 2011.
Resumo:
A intoxicação por agrotóxicos é um grande problema de saúde pública nos
países em desenvolvimento. Essas substâncias estão sendo utilizadas de
forma intensiva e são divididos em suas classes de uso, herbicidas, inseticidas,
fungicidas e raticidas. Estimativas recentes mostram a ocorrência de 234 a 326
mil casos de suicídio por agrotóxicos de uso agrícola. Números muito mais
discretos referem-se à estimativa de casos de danos nos trabalhadores rurais,
segundo a Organização Internacional do trabalho os agrotóxicos sejam causa
de cerca de 70 mil casos de intoxicações agudas e crônicas fatais. A facilidade
em adquirir e o número grande de compostos disponíveis aliados ao uso
intensivo tem colaborado para a grande incidência de intoxicação. Em 1980 foi
criado no Brasil o Sistema Nacional de Informações Toxico-Farmacológica
(SINITOX) que mantém vínculo com a Fundação Oswaldo Cruz, compete a
esse sistema coletar, compilar, analisar e divulgar os dados referentes aos
casos de intoxicação e envenenamento registrados pela Rede Nacional de
Centros de Informação e Assistência Toxicológica (RENACIAT). Esta rede em
2011 era composta por 36 centros localizados em 19 estados e Distrito
Federal. O presente estudo científico avaliou casos de intoxicações por
agrotóxicos que ocorreram no Distrito Federal entre os anos de 2004 a 2007, e
as referidas notificações desses casos.
81
Título: Reflexões e contribuições para o Plano Integrado de Ações de
Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (MS) de Populações Expostas a
Agrotóxicos.
Autores: Marcia Moisés; Jorge Mesquita Huet Machado; Frederico Peres;
Élida Hennington; Aramis Cardoso Beltrami; Adelcki Camilo Beltrami Neto.
Referência: Ciência & Saúde Coletiva, n.8, v.16, p.3453-3460, fev./fev., 2011.
Resumo:
Desde a década de 1960-1970 que os agrotóxicos vêm sendo utilizados como
a solução das lavouras, e com a implantação das politicas de estado foram
colocadas definitivamente no cotidiano da população rural, com a justificativa
que era necessário o seu uso, para aumentar a produção de alimentos para
servir a população mundial. Desde então o uso dessas substâncias tem se
dado de forma abusiva e muitas vezes indevida e mesmo se conhecendo os
riscos deste uso a sua utilização permanece da mesma forma. Com o aumento
do consumo nas lavouras brasileira, no ano de 2009 o Brasil passou a liderar o
ranking do consumo mundial de agrotóxicos, dessa forma tem-se a
preocupação com a saúde do trabalhador como também as populações que
residem em áreas próximas e com o meio ambiente. Contudo o presente
trabalho buscou demonstrar as reflexões e contribuições do Projeto de
Avaliação e Controle da Exposição Humana e Ambiental aos Agrotóxicos no
Distrito Federal (Projeto DF) para o Plano Integrado de Ações de Vigilância em
Saúde de Populações expostas aos Agrotóxicos do Ministério da saúde.
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