12’13 Tensão superficial de soluções aquosas um tensioativo Relatório Laboratorial Princípios de Química-Física Prof. Mário Berberan e Santos Felipe Henriques Pedro Parreira Tiago Henriques | 69688 | 70111 | 69687 Grupo D, turno 3 1 TENSÃO SUPERFICIAL DE SOLUÇÕES AQUOSAS UM TENSIOATIVO | Relatório Laboratorial 2 Índice Resumo ............................................................................................................................. 3 Introdução ........................................................................................................................ 4 Parte experimental ........................................................................................................... 7 Aparelhagem ................................................................................................................ 7 Reagentes ..................................................................................................................... 7 Método Experimental................................................................................................... 7 Calibração do tensiómetro ....................................................................................... 7 Preparação das soluções .......................................................................................... 7 Medição da tensão superficial.................................................................................. 8 Resultados e Discussão ..................................................................................................... 9 Conclusões ...................................................................................................................... 13 Bibliografia ...................................................................................................................... 15 MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA BIOMÉDICA 12’13 | [PRINCÍPIOS DE QUÍMICA-FÍSICA] 3 Resumo Neste trabalho, estudaram-se as propriedades superficiais de soluções aquosas diluídas de um tensioativo não iónico, Triton® X-100, através da medição da tensão superficial em função da composição, tendo em conta pressão e temperatura constantes. Deste modo, utilizou-se o método do anel, recorrendo a um tensiómetro de du Noüy e realizando os testes com soluções aquosas de diversas concentrações. Através do tratamento dos dados recolhidos, foi possível determinar a constante de equilíbrio de adsorção (𝐾), a área molecular de soluto na superfície (𝜎2 ) e a concentração micelar crítica (𝐶𝑀𝐶). Os valores obtidos para estes parâmetros foram (13.20 ± 0.244) × 105 , (5.61 ± 0.104) × 10−19 𝑚2 e 0.236, [0.246; 0.227] 𝑚𝑀, respetivamente. TENSÃO SUPERFICIAL DE SOLUÇÕES AQUOSAS UM TENSIOATIVO | Relatório Laboratorial 4 Introdução O estudo da tensão superficial de soluções aquosas de um tensioativo abordado neste trabalho representa um particular interesse no decorrer da cadeira de Princípios de Química-Física, uma vez que é especialmente importante na consolidação de conhecimentos lecionados na mesma. Num meio líquido, as moléculas presentes estão sujeitas à interação isotrópica com moléculas vizinhas, sendo que estas forças (atrativas ou repulsivas) dependem da distância intermolecular entre as mesmas. No interior do líquido, estas interações estão presentes homogeneamente em todas as direções da molécula. No entanto, o mesmo não se verifica junto à superfície do líquido. Nesta interface líquido-gás o efeito das forças deixa de ser homogéneo e torna-se aparente a presença de dois hemisférios. Embora as forças na parte líquida se mantenham iguais, estas estão quase ausentes na parte gasosa devido à muito reduzida, ou quase inexistente, quantidade de líquido. Figura 1 – Representação das tensões intermoleculares entre as moléculas de água. Nota-se a diferença entre as tensões no interior do líquido e junto à superfície. Com esta diferença, a interação no interior do líquido será muito superior à exterior, resultando numa força atrativa, caso estas moléculas se afastem na vertical de forma ascendente, sendo que as interações irão contrariar esse movimento. Estas forças tendem a devolver o líquido à posição na qual possui a menor energia potencial, leia-se a posição em que as moléculas se encontram o mais perto possível, contrariando a aplicação de trabalho feita ao líquido (que implicaria um aumento da energia potencial). Isto levará a uma área de superfície mínima, que possui uma dada força necessária a ser aplicada para retirar elementos da sua estrutura, denominada tensão superficial – γ [Nm-1]. Esta tensão é uma unidade de energia por unidade de área, sendo que uma variação de energia, fornecida como trabalho dw, resultaria numa variação de área dA, a partir da relação dada pela equação seguinte: 𝑑𝑤 = 𝛾𝑑𝐴 MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA BIOMÉDICA 12’13 | [PRINCÍPIOS DE QUÍMICA-FÍSICA] 5 No trabalho laboratorial presente teremos em consideração não um líquido puro, mas sim uma solução de um detergente em água, o detergente em causa sendo o Triton® X-100. Figura 2 – Estrutura molecular do Triton® X-100. Este detergente é um tensioativo, uma molécula com uma parte polar e outra apolar. Visto que a parte polar é hidrofÍlica, esta não tem problemas em interagir com a água. No entanto a parte apolar é hidrofóbica e tende a afastar-se da água, sendo a sua interação desfavorável em termos de entropia e entalpia. Desta forma é criada uma camada superficial de detergente, coma a parte polar orientada para o interior e a parte apolar para o exterior, diminuindo assim a interação da parte apolar com a água. Quanto maior for a concentração de detergente, mais densa será a camada superficial e menor será a tensão superficial, pois a interação entre as moléculas será menor com a distância acrescida entre as mesmas, resultante da presença do detergente. A tensão continuará a diminuir até ser alcançada uma dada concentração de detergente, em que o mesmo passará a formar micelas, estruturas esféricas com a parte apolar das moléculas orientadas para o interior, sendo a superfície constituída pela parte polar que interage com a água. A esta concentração denomina-se de concentração micelar critica (CMC). Sendo o objetivo deste trabalho envolve a análise da tensão superficial da solução é importante ter em conta alguns aspetos, sendo a mais importante a determinação da tensão superficial. Tendo em conta que estamos a lidar com uma diluição de um soluto orgânico, iremos tirar partido da equação de Szyszkowski: 𝛾 = 𝛾0 − 𝑘𝐵 𝑇 𝜎2 𝑙𝑛(1 + 𝐾𝐶2 ) (1) Em que 𝛾0 é a tensão superficial de água pura, 𝜎2 é a área molecular de soluto na superfície, 𝐾 é a constante do equilíbrio de adsorção e 𝑘𝐵 é a constante de Boltzmann. No entanto, visto que K é muito grande, havendo uma grande formação de uma monocamada superficial, e consequentemente que KC>>1, temos a equação: 𝛾 = 𝛾0 − 𝑘𝐵 𝑇 𝜎2 𝑙𝑛𝐾 − 𝑘𝐵 𝑇 𝜎2 𝑙𝑛𝐶2 (2) Com esta equação é então possível calcular os parâmetros K e C, caso os valores de 𝛾 e 𝛾0 sejam conhecidos. TENSÃO SUPERFICIAL DE SOLUÇÕES AQUOSAS UM TENSIOATIVO | Relatório Laboratorial 6 É importante notar que esta função deixa de ser válida para concentrações superiores à CMC, sendo que a tensão toma um valor aproximadamente constante com o aumento da concentração. Desta forma podemos determinar a CMC analisando a intersecção entre as duas retas. Para determinar tensões vamos recorrer ao método do anel. Este método consiste em medir a força necessária para destacar um anel de platina iridiada da superfície líquida. Este valor é lido utilizando um Tensiómetro de du Nouy, dada pela seguinte relação: 𝛾 = 𝑎𝑆 + 𝑏 Sendo a e b obtidos através da calibração com massas aferidas. Figura 3 – Tensiómetro de du Noüy (Cambridge Instruments). O líquido a medir é colocado numa tina termostatizada. Por outro lado, a força exercida sobre a superfície da água é dada por: 𝑓 = 𝑚𝑔 = 4𝜋𝑅𝛾 (3) Em que 𝑚 é a massa da coluna de água, 𝑔 é a aceleração gravítica e 𝑅 o raio do anel. No entanto, como a coluna de água não é perfeitamente cilíndrica, aquilo que na prática se determina é uma tensão superficial aparente 𝛾𝑎𝑝 , tal que: 𝑚𝑔 𝛾𝑎𝑝 = 4𝜋𝑅 (4) A tensão necessita então de uma fator de correção (𝐹), resultando na relação: 𝛾 = 𝐹𝛾𝑎𝑝 (5) O fator 𝐹 pode ser calculado com a equação de Zuidema e Waters apresentada de seguida: 3.678×10−2 𝛾𝑎𝑝 𝐹 = 0.7250 + √ 𝑅2 𝐷−𝑑 𝑟 + 0.04534 − 1.679 𝑅 (6) Sendo 𝑑 a massa volúmica da fase superior, 𝐷 a massa volúmica do líquido, 𝑅 o raio do anel e 𝑟 o raio do fio de que é feito o anel. Visto que 𝑑 é muito pequeno pode afirmarse que 𝐷 − 𝑑 ≈ 𝐷. MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA BIOMÉDICA 12’13 | [PRINCÍPIOS DE QUÍMICA-FÍSICA] 7 Parte experimental Aparelhagem Utilizou-se um tensiómetro de du Noüy (Cambridge Instruments), para medir a tensão superficial das diferentes soluções, em conjunto com um anel de platina. De referir que foram utilizadas massas aferidas de 0.1 g, 0.2 g e 0.5 g para fazer a calibração do aparelho [1]. Reagentes 10-3 Usou-se uma solução aquosa de um tensioativo não iónico, o Triton® X-100, de M, da Sigma Aldrich [2], com uma massa molar média de 624.8 g/mol. Método Experimental Esta atividade experimental foi dividida em três etapas. Calibração do tensiómetro Para a calibração do tensiómetro, foram utilizadas massas aferidas, colocandose um pedaço de papel sobre o anel para as suportar. Deste modo, obteve-se valores de tensão superficial (S) para, posteriormente, representar os valores calculados de 𝑚𝑔 tensão (𝛾𝑎𝑝 = 4𝜋𝑅) em função dos obtidos (S), por forma a se obter uma reta de calibração. De notar que foram realizadas duas medidas, no mínimo, para cada massa, de modo a aumentar a precisão da medição. Preparação das soluções Através de uma solução-mãe de Triton® X-100 de 10-3 M, previamente preparada, obtiveram-se 10 soluções (de 100 mL cada), por diluição em água destilada, com as seguintes concentrações. Tabela 1 – Volume retirado da solução-mãe para cada diluição, bem como respetiva concentração final. Número da solução M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Volume retirado da solução-mãe (mL) --60 50 40 30 20 10 8 6 4 2 Concentração (M) 1 × 10−3 6 × 10−4 5 × 10−4 4 × 10−4 3 × 10−4 2 × 10−4 1 × 10−4 8 × 10−5 6 × 10−5 4 × 10−5 2 × 10−5 TENSÃO SUPERFICIAL DE SOLUÇÕES AQUOSAS UM TENSIOATIVO | Relatório Laboratorial 8 De notar que, se a solução-mãe de Triton® X-100 não se encontrasse preparada, a massa deste reagente que se deveria pesar para obter a solução (com um volume de 500 mL) pretendida apresenta-se nos seguintes cálculos. 𝑚 𝑇𝑟𝑖𝑡𝑜𝑛® 𝑋−100 = 𝑛. 𝑀 = 𝑐. 𝑉. 𝑀 = 0.3124 𝑔 Em que 𝑚 é a massa de Triton® X-100, 𝑛 é o número de moles, 𝑀 é o peso molecular e 𝑉 é o volume da solução. Por conseguinte, os valores de volume a retirar da solução-mãe para cada diluição, presentes na tabela anterior, foram calculados pela seguinte expressão. 𝑐𝑚ã𝑒 𝑉𝑚ã𝑒 = 𝑐𝑓𝑖𝑙ℎ𝑎 𝑉𝑓𝑖𝑙ℎ𝑎 ↔ 𝑽𝒎ã𝒆 = 𝑐𝑓𝑖𝑙ℎ𝑎 𝑉𝑓𝑖𝑙ℎ𝑎 𝑐𝑚ã𝑒 De referir que, após obtenção das soluções diluídas, a possível espuma existente foi removida com o auxílio de um secador. Em seguida, foram colocadas num termostatizador, com um valor de temperatura medida de 24.8 °𝐶 (~25 °𝐶). Medição da tensão superficial Ainda antes de se realizarem as medições da tensão superficial para as diferentes soluções, foi necessário lavar o interior da célula de termostatização com acetona e água destilada, bem como o anel, secando-o com papel de filtro. Acertou-se, ainda, o zero do tensiómetro. Em seguida, executaram-se as medições da tensão superficial das soluções, começando pela água e seguindo por crescente de concentração até à solução-mãe, de modo a minimizar possíveis contaminações. De notar que foram realizadas, no mínimo três medições, para cada solução e que entre cada uma foi necessário lavar o anel e a tina, cuidadosamente. MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA BIOMÉDICA 12’13 | [PRINCÍPIOS DE QUÍMICA-FÍSICA] 9 Resultados e Discussão Expõem-se, em seguida, os resultados obtidos ao longo da execução desta atividade laboratorial, bem como a sua discussão. Na primeira etapa experimental, a calibração do tensiómetro por massas aferidas, foram registados os dados que se encontram na tabela seguinte. Tabela 2 – Valores das massas aferidas, tensões medidas S (e respetiva média) e tensão aparente calculada. Massa (g) 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 S1 (mN/m) 15.6 31.5 47.1 62.1 77.7 93.5 109.5 125.2 141.1 S2 (mN/m) 15.4 31.4 46.9 62 77.9 93.7 109.5 125.3 141.2 S médio (mN/m) 15.5 31.45 47 62.05 77.8 93.6 109.5 125.25 141.15 γap (mN/m) 8.283 16.566 24.849 33.132 41.415 49.698 57.981 66.264 74.546 Salienta-se que a tensão aparente calculada na tabela acima é obtida da seguinte fórmula: 𝛾𝑎𝑝 = 𝑚𝑔 4𝜋𝑅 Em que 𝑚 é a massa aferida, 𝑔 é a aceleração gravítica (9.807 𝑚𝑠 −2 [6]) e 𝑅 é o raio do anel (9.42197 × 10−3 ) Sendo assim, fez-se uma regressão com os dados de S médio e de γap da tabela acima, como se pode na figura seguinte. Reta de calibração 80.000 70.000 γap (mN/m) 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0.000 10 30 50 70 90 110 130 150 Tensão S (mN/m) medida Figura 4 – Reta de calibração obtida por regressão linear. TENSÃO SUPERFICIAL DE SOLUÇÕES AQUOSAS UM TENSIOATIVO | Relatório Laboratorial 10 De notar que a equação da reta de calibração é a seguinte. 𝑦 = 0.5284𝑥 + 0.1257 (7) Deste modo, comparando a equação obtida pela regressão linear à equação que relaciona γap e S, 𝛾𝑎𝑝 = 𝑎𝑆 + 𝑏, pode concluir-se que: 𝛾𝑎𝑝 = 0.5284 𝑆 + 0.1257 (8) Sendo 𝑆 o valor lido no tensiómetro, 𝛾𝑎𝑝 o valor de tensão aparente calculado e 𝑎 e 𝑏 constantes de calibração. Assim, conclui-se que: 𝑎 = 0.5284 ± 0.00127 𝑏 = 0.1257 ± 0.112. 𝑅 2 = 0.999959498 A partir da equação da regressão anterior, é possível calcular os valores de tensão superficial aparente das soluções diluídas através dos valores de S medidos, estando esses dados presentes na tabela seguinte. Tabela 3 – Valores de concentração, tensão S medida e sua média, tensão aparente γap, fator F e tensão real γ. Solução c (M) ln(c ) Água 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 Mãe 0 2.00E-05 4.00E-05 6.00E-05 8.00E-05 1.00E-04 2.00E-04 3.00E-04 4.00E-04 5.00E-04 6.00E-04 1.00E-03 ---10.820 -10.127 -9.721 -9.433 -9.210 -8.517 -8.112 -7.824 -7.601 -7.419 -6.908 S1 S2 S3 S γap (mN/m) (mN/m) (mN/m) médio (mN/m) 143.3 143.1 143.5 143.30 75.831 99.2 99.4 99.4 99.33 52.604 88.1 89.3 89.4 88.93 47.109 83.4 83.5 85.2 84.03 44.521 78.2 78.7 79.1 78.67 41.685 75.3 75.9 75.9 75.70 40.118 65.3 66 66.4 65.90 34.941 63.1 63.2 63 63.10 33.461 63.4 63.9 63.7 63.67 33.761 63.1 63.3 63 63.13 33.479 63.6 63.2 63.9 63.57 33.708 63.7 63.5 63.3 63.50 33.673 Fator corretivo F 0.93736 0.91335 0.90720 0.90424 0.90093 0.89907 0.89280 0.89096 0.89134 0.89098 0.89127 0.89123 γ (mN/m) 71.081 48.045 42.738 40.257 37.555 36.069 31.195 29.813 30.092 29.829 30.043 30.010 Salienta-se que, uma vez que o valor de tensão superficial lido no tensiómetro não é o real, recorreu-se a uma equação que relaciona a tensão aparente 𝛾𝑎𝑝 com a real 𝛾, através de um fator corretivo 𝐹, como se pode constatar em seguida. 𝛾 = 𝛾𝑎𝑝 𝐹 Não obstante, os valores de 𝐹 foram obtidos pela equação de Zuidema & Waters. 3.678 × 10−2 𝛾𝑎𝑝 𝑟 √ 𝐹 = 0.7250 + + 0.04534 − 1.679 𝑅2 𝐷−𝑑 𝑅 MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA BIOMÉDICA 12’13 | [PRINCÍPIOS DE QUÍMICA-FÍSICA] 11 Em que 𝑅 é o raio do anel (9.42197 × 10−3 𝑚), 𝑟 é o raio do fio de que é feito o anel (1.777 × 10−4 𝑚), 𝐷 é a massa volúmica do líquido (1 × 10−3 𝑘𝑔. 𝑚−3 ) e 𝑑 é a massa volúmica da fase anterior, o ar, que é desprezável pelo que 𝐷 − 𝑑 ≈ 𝐷. Pelos dados da tabela anterior, foi possível traçar o gráfico seguinte, dos valores de tensão real em função do logaritmo neperiano das concentrações das soluções, fazendo ainda uma regressão linear para dois conjuntos de pontos, em que temos a equação do tipo 𝑦 = 𝑎. 𝑙𝑛(𝑐) + 𝑏. γ em função de ln(c) 50.000 γ (mN/m) 45.000 40.000 y = 0.1168x + 30.842 R² = 0.1707 y = -7.3376x - 31.411 R² = 0.9986 35.000 30.000 -12.000 -11.000 -10.000 -9.000 -8.000 -7.000 -6.000 25.000 -5.000 ln(c) com c em M Figura 5 – Valores da tensão real em função do logaritmo da concentração das soluções. Da figura anterior retiramos que as equações das retas são as seguintes: 𝛾1 = 𝑎1 ln 𝑐 + 𝑏1 = −7.3376 𝑥 − 31.411 (9) 𝛾2 = 𝑎2 ln 𝑐 + 𝑏2 = 0.1168 𝑥 + 30.842 (10) Sendo que as constantes são: 𝑎1 = −7.3376 ± 0.1355 𝑏1 = −31.411 ± 1.3095 𝑅 2 = 0.99863802 𝑎2 = 0.1168 ± 0.1486 𝑏2 = 30.842 ± 1.1270 𝑅 2 = 0.17067608 Através das retas anteriores é, assim, possível obter os parâmetros 𝜎2 e 𝐾, bem como a concentração micelar crítica (CMC), que corresponde à intersecção das duas retas: 𝛾1 = 𝛾2 ↔ 𝑎1 ln 𝐶𝑀𝐶 + 𝑏1 = 𝑎2 ln 𝐶𝑀𝐶 + 𝑏2 ∴ 𝐶𝑀𝐶 = 𝑏2 −𝑏1 𝑎 𝑒 1 −𝑎2 TENSÃO SUPERFICIAL DE SOLUÇÕES AQUOSAS UM TENSIOATIVO | Relatório Laboratorial 12 Por outro lado, pela equação de Szyszkowski, que relaciona a tensão superficial com a absorção de solutos orgânicos nas soluções aquosas, é possível obter os valores de 𝐾 e 𝜎2 . 𝑘𝐵 𝑇 𝑘𝐵 𝑇 ln 𝐾 − ln 𝐶 𝜎2 𝜎2 𝛾 = 𝛾0 − Em que 𝛾0 é a tensão superficial da água pura (72 𝑚𝑁/𝑚, valor teórico [3]), 𝑇 é a temperatura ambiente (298.15 𝐾), 𝐶 é a concentração de soluto na solução, 𝑘𝐵 é a constante de Boltzmann (1.38065 × 10−23 𝐽/𝐾 [7]), 𝜎2 é a área molecular de soluto na superfície, e 𝐾 é a contante de equilíbrio de adsorção. Deste modo, utilizando as constantes obtidas anteriormente obtidas temos: 𝑘𝐵 𝑇 𝑘𝐵 𝑇 ∴ 𝜎2 = − 𝜎2 𝑎1 𝑎1 = − 𝑏1 = 𝛾0 − Assim, foram correspondentes: calculados 𝑏1 −𝛾𝑜 𝑘𝐵 𝑇 ln 𝐾 ∴ 𝐾 = −𝑒 𝑎1 𝜎2 os três parâmetros pretendidos e erros Tabela 4 – Valores obtidos para a concentração micelar crítica, área de soluto na superfície, constante de equilíbrio de absorção e erros associados. Parâmetro Valor obtido 𝑪𝑴𝑪 (𝒎𝑴) 0.236 [0.246; 0.227] 𝝈𝟐 (× 𝟏𝟎−𝟏𝟗 𝒎𝟐 ) 5.61 ± 0.104 𝑲 (× 𝟏𝟎𝟓 ) 13.20 [ 13.197; 12.208 ] O cálculo dos erros associados a cada um dos parâmetros foi realizado através da fórmula de propagação de erros e determinando os intervalos de erro. 𝜕𝐹 2 𝜎𝑦2 = ∑𝑛𝑗=1 (𝜕𝑥 ) 𝑖 𝑥𝑖𝑒 𝜎𝑗2 (11) Deste modo, o erro da área molecular de soluto à superfície, 𝜎2 , é obtido da expressão: 𝜎𝜎2 = ( 𝑘 𝑇 𝜕(− 𝐵 ) 𝑎1 𝜕𝑎𝑎 ) 𝜎𝑎1 = 𝑘𝐵 𝑇 𝑎1 2 𝜎𝑎1 (12) O erro associado à constante 𝐾 foi calculado de forma análogo à anterior Em relação à concentração micela crítica foram calculadas as interseções entre as retas com valores do erro somado e subtraído. 𝛾1𝑆 = 𝛾2𝑆 ↔ (𝑎1 + 𝜎𝑎1 ) ln 𝐶𝑀𝐶 + (𝑏1 + 𝜎𝑏1 ) = (𝑎2 + 𝜎𝑎2 ) ln 𝐶𝑀𝐶 + (𝑏2 + 𝜎𝑏2 ) 𝛾1𝑖 = 𝛾2𝑖 ↔ (𝑎1 − 𝜎𝑎1 ) ln 𝐶𝑀𝐶 + (𝑏1 − 𝜎𝑏1 ) = (𝑎2 − 𝜎𝑎2 ) ln 𝐶𝑀𝐶 + (𝑏2 − 𝜎𝑏2 ) ∴ 𝐶𝑀𝐶𝑆 = 0.246 𝑚𝑀 𝑒 𝐶𝑀𝐶𝑖 = 0.227 𝑚𝑀 MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA BIOMÉDICA 12’13 | [PRINCÍPIOS DE QUÍMICA-FÍSICA] 13 Conclusões Após realizada esta atividade constatou-se que a recolha de dados para o tratamento dos mesmos e cálculo dos diversos parâmetros solicitados pelo professor, além de morosa é também pouco rigorosa, uma vez que consiste da observação a olho de valores analógicos. Neste sentido os resultados obtidos foram os seguintes: Tabela 5 – Principais resultados desta atividade laboratorial. Parâmetro Valor obtido 𝑪𝑴𝑪 (𝒎𝑴) 0.236 [0.246; 0.227] 𝝈𝟐 (× 𝟏𝟎−𝟏𝟗 𝒎𝟐 ) 5.61 ± 0.104 𝑲 (× 𝟏𝟎𝟓 ) 13.20 ± 0.244 Sendo de salientar o valor obtido de tensão superficial da água pura (71 mN/m) que comparativamente com o que se observa na literatura (72 mN/m)[3] é bastante próximo, podendo desta forma ser um indicador do quão bom foram as nossas medições. Relativamente à reta de calibração: 𝛾𝑎𝑝 = 0.5284 𝑆 + 0.1257 Obtida a partir das massas aferidas, que permitiu calcular as tensões aparentes das diversas soluções, apurou-se que apresenta um excelente coeficiente de correlação (𝑅 2 = 0.999959498), facto que corrobora os resultados obtidos ao longo da atividade. Neste seguimento, após a realização do gráfico que relaciona a tensão superficial com o logaritmo da concentração (Figura 5 – recta laranja) conclui-se que a tensão superficial diminui com o aumento da concentração de Triton X-100, até se atingir determinado valor a partir do qual a tensão estabiliza. Desta figura salienta-se o comportamento das soluções antes de atingirem a concentração micelar crítica CMC (isto é, da reta de calibração a laranja) que pode ser descrito pela equação Szyszkowski (2), dado que estas são bastante diluídas e verificase KC>>1 (condição necessária à verificação da equação isotérmica de Langmuir)[4]. A partir desta inferimos os valores das constantes de 𝐾 e de 𝜎2 , apresentados na tabela 5. Além destes e recorrendo às duas fórmulas (11) e (12), calcularam-se também os erros associados aos respetivos valores. No que concerne a estas constantes, dado que não foram encontrados valores tabelados para as mesmas na literatura, não se poderá tecer nenhum comentário quantitativo relativo às mesmas. Ainda assim, é possível constatar que, devido ao facto do valor da constante de equilíbrio de adsorção ser bastante elevado, as moléculas de Triton X-100 são propensas a ser adsorvidas para a superfície da água. Neste seguimento é também observável uma variação brusca do comportamento referido acima, verificando-se uma estabilização dos valores medidos TENSÃO SUPERFICIAL DE SOLUÇÕES AQUOSAS UM TENSIOATIVO | Relatório Laboratorial 14 a partir da concentração de 0.236 𝑚𝑀 a qual corresponde à CMC e cujo valor corresponde à intersecção das rectas laranja e azul (correspondente à relação entre a tensão superficial e o logaritmo da concentração, após atingida a CMC). Como se verifica este valor está realmente perto do que se encontrou na literatura (0.24 𝑚𝑀) [5], pelo que este facto é mais um indicador do quão bons foram os nossos resultados, demonstrando a grande concentração do grupo no acto da recolha dos mesmos. Notando-se portanto um erro percentual de 1.67% relativamente ao valor 0.24 𝑚𝑀. Ainda relativamente à estabilização dos valores de tensão superficial medidos, esta é explicada pela ocupação total da superfície pela solução-mãe, levando assim à formação de agregados moleculares e minimizando o contacto da água com a parte apolar, que se encontra orientada para o interior dos agregados referidos – formação de micelas. Para finalizar, é importante realçar que as diferenças dos valores obtidos, face às encontradas na literatura, poder-se-ão dever a fatores inerentes à realização da atividade, como o facto do anel utilizado não se encontrar perfeitamente circular e de existir um erro associado à recolha dos dados a partir da escala do tensiómetro, correspondente a metade da sua menor divisão da escala (0.05 dine cm-1). Contudo, os resultados obtidos demonstram que os erros foram mínimos, dada a proximidade com os que se encontram na literatura, concluindo-se assim que o objetivo desta atividade foi atingido com sucesso. MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA BIOMÉDICA 12’13 | [PRINCÍPIOS DE QUÍMICA-FÍSICA] 15 Bibliografia [1] M.N. Berberan e Santos, Guia de Laboratórios de Química-Física, Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica, 3º ano 2º semestre, Lisboa, 2012-2013 [2] http://www.sigmaaldrich.com/portugal.html [3] "The Chemistry of Cleaning", J. Chem. Educ. 56 (1979) 610. [4] B. Janczuk, J. M. Bruque, M. L. González-Martín, C. Dorado-Calasanz, Langmuir 11 (1995) 4515. [5] A. Helenius and K. Simons, Biochim. Biophys. Acta 415 (1975) 29. Parte 1 [6] http://www.wolframalpha.com/input/?i=gravitational+acceleration+constant [7] http://www.wolframalpha.com/input/?i=boltzmann+constant TENSÃO SUPERFICIAL DE SOLUÇÕES AQUOSAS UM TENSIOATIVO | Relatório Laboratorial