1 ANANDA OLIVEIRA ABORDAGEM E PERCEPÇÃO DO FILO ARTHROPODA NO ENSINO FUNDAMENTAL CANOAS, 2009. 2 ANANDA OLIVEIRA ABORDAGEM E PERCEPÇÃO DO FILO ARTHROPODA NO ENSINO FUNDAMENTAL Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora de curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para obtenção do grau de Licenciado em Ciências Biológicas, sob. Orientação do Prof. Ms. Francisco Fernando de Castilho Koller. CANOAS, 2009. 3 TERMO DE APROVAÇÃO ANANDA OLIVEIRA ABORDAGEM E PERCEPÇÃO DO FILO ARTHROPODA NO ENSINO FUNDAMENTAL Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle –Unilasalle, pelo avaliador Prof. Ms. Francisco Fernando de Castilho Koller. _______________________________________ Prof. Ms. Francisco Fernando de Castilho Koller Unilasalle Canoas, 03 de julho de 2009. 4 RESUMO Muitas pessoas consideram os artrópodes animais “nojentos”, porque desconhecem sua importância. São denominados como “pragas”, embora apenas 2% são pragas, os outros 98% não se enquadram nessa categoria. Com a finalidade de verificar a abordagem e a percepção do Filo Arthropoda e prover subsídio ao desenvolvimento de metodologias para abordagem desse grupo, elaborou-se este trabalho, à luz dos Parâmetros Curriculares Nacionais. A pesquisa foi levada a efeito no período de 4 de maio a 22 de maio de 2009, através da aplicação de questionários a estudantes e professores de ciências do Ensino Fundamental de escolas das redes pública e privada de ensino, bem como análise de livros didáticos de ciências utilizados na 6a série do ensino fundamental. Os resultados obtidos apontam a falta de utilização de metodologias alternativas por parte dos professores, bem como a completa ausência de vivências práticas. Com relação aos livros didáticos, verificou-se que muitos abordam esse conteúdo de modo superficial, com ênfase aos aspectos negativos do grupo. A partir desses resultados conclui-se que é premente o desenvolvimento de trabalhos que envolvam educação ambiental, assim como estratégias que desenvolvam a conscientização sobre a uma abordagem alternativa e contextualizadora do Filo Arthropoda. Palavras-chave: Arthropoda praga, abordagem, percepção, projetos de conscientização. ABSTRACT Many people consider “nojentos” the animal arthropods, because they are unaware of its importance. They are called as “plagues”, even so only 2% are plagues, the others 98% are not fit in this category. With the purpose to verify the boarding and the perception of the Filo Arthropoda and to provide subsidy to the development with methodologies for boarding of this group, this work was elaborated, to the light of the National Curricular Parameters. The research was taken the effect in the period of 4 of May the 22 of May of 2009, through the application of questionnaires the students and professors of sciences of Basic Ensino of schools of the nets public and private of education, as well as didactic book analysis of sciences used in 6a series of basic education. The gotten results point the lack of use of alternative methodologies on the part of the professors, as well as the complete absence of practical experiences. With regard to didactic books, it was verified that many approach this content in superficial way, with emphasis to the negative aspects of the group. From these results one concludes that the development of works that involve ambient education, as well as strategies is pressing that develop the awareness on the one alternative and contextualizadora boarding of the Filo Arthropoda. Word-key: Arthropoda plague, boarding, perception, projects of awareness. 5 SUMÁRIO 1. INTRODUÇAO 8 2. OBJETIVO GERAL 9 2.1 Objetivos Específicos 9 3. REFERÊNCIAL TEÓRICO 10 3.1 Filo Arthropoda 10 3.1.1 Filogenia e parentesco 13 3.1.2 Classificação 13 3.1.3 Características Gerais 13 3.1.4 Exoesqueleto 14 3.1.5 Movimento e Musculatura 15 3.1.6 Celoma e Sistema sanguíneo 16 3.1.7 Trato Digestivo 16 3.1.8 Cérebro 17 3.1.9 Registros Fósseis 17 3.1.10 Classes do Filo Arthropoda 18 3.1.10.1 Classe Arachnida 18 3.1.10.1.1 Anatomia 18 3.1.10.1.2 Nutrição 21 3.1.10.1.3 Reprodução 21 3.1.10.1.4 Principais Ordens de Aracnídeos 21 3.1.10.2 Classe Pycnogonida 26 3.2 Arthropodos Unirremes 26 3.2.1 Classe Chilopoda 27 3.2.1.1 Principais Ordens de Chilopodos 28 3.2.2 Classe Diplopoda 28 3.2.3 Classe Insecta 29 3.2.3.1 Características Gerais 30 3.2.3.2 Reprodução e Desenvolvimento 32 3.2.3.3 Ecologia 33 3.2.3.3.1 Interação Inseto/Planta 33 3.2.3.3.2 Parasitismo 33 6 3.2.3.3.3 Insetos Sociais 34 3.2.3.3.4 Polinização 34 3.2.3.3.5 Surgimento das Pragas 35 3.2.3.3.6 Comunicação 35 3.2.3.4 Principais Ordens de Insetos 36 3.3 Subfilo Crustacea 47 3.3.1 Classe Cirripedia 47 3.3.2 Classe Malacostraca 47 4. ASPÉCTOS PEDAGÓGICOS 50 5. METODOLOGIA 53 5.1 Instrumento de Investigação 53 5.2 Amostragem de Indivíduos 53 5.2.1 Período de Coleta de Dados 54 5.3 Análise dos Livros Didáticos 54 5.4 Proposta Pedagógica 54 5.4.1 Gaveta Didática de Artrópodes 54 5.4.1.1 Importância do Projeto 55 5.4.1.2 Projeto – Gaveta Didática de Artrópodes 56 5.4.1.2.1 Técnicas de Coleta e Conservação 58 5.4.1.2.2 Manuseio da Coleta 59 5.4.1.2.3 Montagem e Conservação 59 5.4.1.2.4 Alfinetagem 59 5.4.1.2.5 Montagem de Artrópodes Pequenos 60 5.4.1.3 Resultados Esperados da Gaveta Didática de Artrópodes 61 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 62 6.1 Titulação dos professores 62 6.2 Perfil dos Alunos 63 6.3 Instrumento Investigativo 65 6.4 Livro Analisados 80 6.5 Projeto Gaveta Didática de Artrópodes 82 6.5.1 Dados Obtidos 82 7. CONCLUSÃO 83 7 REFERÊNCIAS 85 APÊNDICE A - Ficha investigativa dos professores 88 APÊNDICE B - Ficha investigativa dos alunos 91 8 1 INTRODUÇÃO Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), dizer que o aluno é sujeito de sua aprendizagem significa afirmar que é dele o movimento de ressignificar o mundo, isto é, de construir explicações norteadas pelo conhecimento científico. Muitas pessoas consideram os artrópodes animais “nojentos”, porque desconhecem sua importância. Segundo Altieri (2003), muitos os denominam como “pragas”, embora apenas 2% são pragas, os outros 98% não se enquadram nessa categoria. Para os PCNs, este conteúdo é abordado, quando se trabalha seres vivos, estudando-se suas características e hábitos — alimentação, reprodução, locomoção — em relação ao ambiente em que vivem. É possível uma primeira aproximação ao conceito de ser vivo por meio do estudo do ciclo vital: nascimento, crescimento, reprodução e morte. A partir de 2004 foi implantado o Programa Nacional do Livro Didático para Ensino Médio (PNLEM). Esse programa é responsável pela análise e pela distribuição gradativa de livros. Cabe ao professor orientar os alunos sobre o que e onde observar, de modo que se coletem dados importantes para as comparações que se pretende, pois a habilidade de observar implica um olhar atento para algo que se tem a intenção de ver. Em face ao exposto, tornam-se necessários esforços que venham a investigar o processo de ensino aprendizagem de modo a contribuir à adequada implantação do ensino pela pesquisa. Neste sentido este trabalho teve como principal objetivo investigar as metodologias de abordagem do filo Arthropoda, por parte dos professores de Ciências do Ensino Fundamental, bem como avaliar a forma com que os alunos percebem estas informações. Como forma de subsídio, foi elaborado um projeto para abordagem do filo Arthropoda, através do educar pela pesquisa, por meio da confecção de uma “Gaveta de Artrópodes Didática”. 9 2 OBJETIVO GERAL Analisar a forma com que o filo Arthropoda é abordado no ensino fundamental e a percepção dos alunos sobre o mesmo. 2.1 Objetivos Específicos _ Observar como o conteúdo Arthropoda é ensinado no Ensino Fundamental. _ Analisar como os alunos percebem este grupo; _ Investigar a forma com que os livros didáticos abordam o assunto; _ Contribuir para melhor formação do educando, tendo em vista “educar pela pesquisa”. _ Informar aos estudantes de Ensino Fundamental a importância do filo Arthropoda para o meio ambiente, e sua relação com o homem. _ Incentivar o ensino pela pesquisa através da construção da gaveta didática de Arthropodos. 10 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Filo Arthropoda O filo Arthropoda (vem do grego Arthros - articulação, podos - pé) contém a maioria dos animais conhecidos, aproximadamente 1.000.000 de espécies, sendo muitas deles extremamente abundantes em número de indivíduos, inclui a classe crustacea, insecta, arachnida, chilopoda, diplopoda (tab. 1) e outros menos conhecidos e formas fósseis. O filo é um dos mais importantes ecologicamente, pois domina todos os ecossistemas terrestres e aquáticos em número de espécies ou de indivíduos ou em ambos; a maior parte do movimento de energia desses sistemas passa pelo corpo dos artrópodos. O corpo é segmentado externamente em graus diversos e as extremidades pares são articuladas (fig. 1), sendo diferenciados em forma e função para o desempenho de atividades especiais. Todas as superfícies externas são revestidas por um exoesqueleto orgânico contendo quitina. O sistema nervoso, olhos e outros órgãos sensitivos são proporcionalmente grandes e bem desenvolvidos, próprios para respostas rápidas aos estímulos. Este é o único dos grandes filos dos invertebrados com muitos membros adaptados à vida terrestre, independente de ambientes úmidos; e os insetos são os únicos invertebrados capazes de voar (STORER; et al, 2000). Segundo Ruppert e Barnes, os artrópodos são protostômios e relacionam-se claramente com os anelídeos ou se ambos surgiram de um ancestral comum. Entretanto, a relação é demonstrada de várias maneiras. 1. Os artrópodos como os anelídeos são segmentados. A segmentação torna-se evidente no desenvolvimento embrionário de todos os artrópodos e é uma característica evidente de muitos adultos, especialmente nas espécies mais primitivas. Como nos anelídeos, o crescimento nos artrópodos resulta da adição de novos segmentos na região imediatamente anterior à seção terminal do corpo (télson). O protostômio e o pigídio dos anelídeos correspondem respectivamente, ao ácron e ao télson dos artrópodos. 11 2. Os sistemas nervosos dos anelídeos e dos artrópodos são constituídos no mesmo plano básico. Em ambos, um cérebro anteroir dorsal é seguido por um cordão nervoso ventral que contém inchaços ganglionares em cada segmento. O desenvolvimento embrionário de alguns artrópodos ainda exibe um certo grau 3. de clivagem determinada espiral, com a mesoderme nessas formas surgindo do quarto blastômero. 4. Na condição primitiva, cada segmento do artrópodo porta um par de apêndices. Essa mesma condição é exibida no poliquetas, nos quais cada segmento tem um par de parapódios. No entanto, a homologia entre os parapódios e os apêndices dos artrópodos é incerta. Tabela 1 – Filo Arthropoda: caracteres gerais das principais classes. Divisão do corpo Crustacea Insecta Arachnida Chilopoda Diplopoda Geralmente Cabeça, tórax e Cefalotórax e Cabeça e corpo Cabeça, tórax cefalotórax e abdome abdome longo curto e abdome abdome longo Antenas 2 pares 1 par Ausente 1 par 1 par Peças bucais Mandíbulas, Mandíbulas, Quelíceras e Mandíbulas, Mandíbulas, maxilas, 2 maxilas, 1 par pedipalpos maxilas, 2 maxilas, 1 par pares de de lábio pares maxilípedes Pernas 1 par por 3 pares no tórax 4 pares no 1 par por 2 (ou 1 par) por segmento, ou (+asas) cefalotórax segmento segmento Traquéias Pulmões Traquéias Traquéias menos Respiram por Aberturas genitais Desenvolvimento Habitat principal Brânquias ou superfície do foliáceos ou corpo traquéias 2, parte 1, extremidade 1, segundo 1, extremidade 1, terceiro posterior do posterior a do segmento do posterior a do segmento após tórax abdome abdome abdome a cabeça Geralmente Geralmente Direto, exceto Direto Direto com estágios com estágios carrapatos larvais larvais Água salgada Principalmente Principalmente Todos terrestres Todos terrestres ou doce, terrestres terrestres poucos na terra Fonte bibliográfica: STORER, Tracy I. et al. Zoologia geral. 6. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 2000. 12 Figura 1. Estrutura de um artrópodo generalizado. A) corte saginal. B) corte transversal. C) Articulação intersegmentar. Detalhe da membrana articulada dobrada por baixo da placa segmentar. D) Articulação da perna de um inseto mostrando os côndilos e as ligações musculares. E) Um apodema. (A partir de STORER, Tracy I. et al. Zoologia geral. 6. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 2000). 13 3.1.1 Filogenia e parentesco Os artrópodos situam-se no ápice da linha evolutiva dos protostômios e são dominantes nos sistemas ecológicos atuais do mundo. Além disso, o registro fóssil do grupo é extenso, datando desde o Cambriano. Infelizmente este registro fóssil não apresenta formas que unem os diversos grupos de artrópodos; é por isso que não tem havido acordo entre os zoólogos quanto aos aspectos da origem e da evolução do filo. (STORER; e tal, 2000). 3.1.2 Classificação Tradicionalmente foram reconhecidos três subfilos principais: Chelicerata, Trilobita e Mandibulata. No passado acreditava-se que os três fossem grupos naturais e o filo todo foi considerado de origem monofilética. Neste esquema, os trilobita seriam os mais primitivos, seguidos pelos chelicerata, sendo os mais evoluídos os mandibulata. Os trilobitos são todos extintos, eles não possuíam apêndices cefálicos especializados. Os quelicerados diferem dos mandibulados em dois aspectos principais: os quelicerados não têm antenas e seus apêndices anteriores são queliceras em forma de pinça. Todos os mandibulados têm antenas como apêndices anteriores. Os Chelicerata incluem duas pequenas classes de organismos marinhos, Pycnogonida e Merostomata, mas a classe Arachnida constitui a maioria dos quelicerados viventes. Os Mandibulata constituem o maior dos subfilos e são dominados por duas classes Crustacea e Insecta. Os Crustacea distinguem-se dos Insecta por terem dois pares de antenas na cabeça; os insetos só têm um par. A classe Chilopoda caracteriza-se por um par de pernas por segmento, enquanto os diplopoda têm dois pares por segmento. (STORER; e tal, 2000). 3.1.3 Características Gerais 1. Simetria bilateral; 3 folhetos germinativos; corpo geralmente segmentado e externamente articulado; cabeça, tórax e abdome diversamente distintos ou fundidos (segmentos cefálicos sempre fundidos). 14 2. Um par de extremidades por segmento ou menos; cada uma com poucos a muitos artículos contendo feixes antagônicos de músculos; diversamente diferenciadas, algumas vezes reduzidas em números ou pares, raramente ausentes. 3. Um exoesqueleto endurecido contendo quitina, secretado pela epiderme e mudado periodicamente. 4. Músculos estriados, frequentemente complexos, geralmente capazes de ação rápida. 5. Trato digestivo completo; peças bucais com mandíbulas laterais adaptadas para mastigação ou sucção; ânus terminal. 6. Sistema circulatório aberto (lacunar); coração dorsal, distribuindo sangue para artérias para os órgãos e tecidos, de onde ele volta por lacunas do corpo (hemocelo) ao coração; celoma reduzido. 7. Respiração por brânquias, traquéias (ductos do ar), pulmões foliáceos ou superfície do corpo. 8. Excreção por glândulas coxais ou glândula verdes ou por 2 a muitos túbulos de Malpighi ligados ao intestino. 9. Sistema nervoso com gânglios dorsais pares dorsalmente à boca e conectivos para um par de cordões nervosos ventrais, com um gânglio em cada segmento ou gânglios concentrados; os órgãos sensitivos incluem antenas e pelos sensitivos (tácteis e quimiorreceptores), olhos simples e compostos, órgão auditivos (insecta) e estatocistos. 10. Sexos geralmente separados, macho e fêmea, frequentemente diferentes, fecundação geralmente interna, ovos ricos em vitelo, com casca, ovíparos e ovovivíparos, clivagem geralmente superficial; geralmente com um ou vários estágios larvais e metamorfose gradual ou abrupta para a forma adulta; partenogênese em alguns crustáceos ou insetos. (STORER; e tal, 2000). 3.1.4 Exoesqueleto Embora os artrópodos exibam essas características dos anelídeos, eles sofreram grandes e muitas alterações profundas e distintas no curso da sua divergência a partir dos anelídeos. A característica distinguível dos artrópodos (e uma à quais muitas outras alterações estão relacionadas) é o exoesqueleto quitinoso ou cutícula que recobre todo o corpo. A 15 cutícula pode ser fina e flexível (como nas larvas dos insetos), mas é em geral relativamente espessa e rígida. O movimento torna-se possível através da divisão da cutícula em placas separadas. Primitivamente, essas placas confinam-se a segmentos únicos e a placa de um segmento conecta-se à placa do segmento contíguo através de uma membrana articular, uma região na qual a cutícula é muito fina e flexível. A cor dos artrópodos resulta comumente da deposição de pigmentos de melanina marrom, amarela, laranja e vermelha dentro da cutícula. No entanto, os verdes, roxos e outras cores iridescentes resultam de estriações finas da epicuticula, que causam uma refração luminosa e dão à aparência da cor. Frequentemente a coloração corporal, não se origina diretamente na cutícula, mas ao invés disso é produzida por células pigmentares subcuticulares (cromatóforos) ou é causada por pigmentos sanguíneos e teciduais, que ficam visíveis através de uma cutícula fina e transparente. Apesar das suas vantagens locomotoras e de sustentação, um esqueleto externo representa problemas para um animal em crescimento. A solução evoluída nos artrópodos foi a eliminação periódica do esqueleto, um processo chamado de muda ou ecdise. Os estágios entre as mudas são conhecidos como instares, e o comprimento dos instares torna-se maior a medida que o animal fica mais velho. Alguns artrópodos (tais como lagosta e a maioria dos caranguejos) continuam a mudar por toda a vida. Outros artrópodos (tais como insetos e aranhas) têm números de instares mais ou menos fixos, com o último deles sendo atingido na maturidade sexual. (Ruppert e Barnes, 1996). 3.1.5 Movimento e Musculatura Segundo Ruppert e Barnes, 1996, a andadura dos artrópodos envolve uma onda de movimentos das pernas, na qual uma perna posterior desce imediatamente antes ou um pouco depois da perna anterior elevar-se. Os movimentos das pernas nos lados opostos do corpo alternam-se com um outro; que é um membro de um par movendo-se através do seu esforço efetivo enquanto o seu parceiro esta fazendo um esforço de recuperação. O movimento alternado das pernas tende a induzir uma ondulação corporal, significando que uma parte da força proporcionada pelos apêndices segue um movimento lateral em vez de para frente. Essa tendência é contra-atacada pelo aumento da rigidez corporal (tal como os segmentos fundidos que portam pernas e que formam o tórax dos insetos ou o cefalotórax de alguns crustáceos e 16 aracnídeos). Um exoesqueleto torna um sistema locomotor/ esquelético altamente eficiente para os animais que tenham somente poucos centímetros de comprimento. 3.1.6 Celoma e Sistema Sanguíneo Vascular O celoma bem desenvolvido e segmentado característico dos anelídeos sofreu uma redução drástica nos artrópodos e só se encontra representado pela cavidade das gônadas, e em determinados artrópodos pelos órgãos excretores. A alteração relaciona-se provavelmente com a mudança de um esqueleto interno fluido para um esqueleto externo sólido. O sistema sanguíneo vascular dos artrópodos é composto de um coração, vasos e uma hemocele. O vaso dorsal dos anelídeos, que é contrátil e o centro principal para a propulsão sanguínea, pode ser homologo ao coração dos artrópodos. O coração varia em posição e comprimento nos diferentes grupos de artrópodos, mas em todos eles o coração é um tubo muscular perfurado por pares de aberturas laterais denominadas óstios. A sístole (contração) resulta da contração dos músculos da parede cardíaca, e a diástole (expansão e preenchimento) resulta das fibras elásticas suspensoras e, em algumas espécies, da contração dos músculos suspensores. Os óstios permitem que o sangue flua no interior do coração durante a diástole a partir do grande seio circundante conhecido como pericárdio. No entanto o pericárdio nos artrópodos não deriva do celoma, mas é uma parte da hemocele. Após deixar o coração, o sangue é bombeado para os tecidos corporais através de artérias e é finalmente despejado no interior dos seios (coletivamente a hemocele) que os colocam em contato com os tecidos metabolizadores. O sangue então retorna por várias rotas até o seio pericárdico. Os artrópodos possuem dois tipos de órgãos excretores: túbulos de Malpighi e sáculos. (Ruppert e Barnes, 1996). 3.1.7 Trato Digestivo O intestino dos artrópodos difere da maioria dos outros animais por ter grandes regiões estomodeais e proctodeais. Os derivados dessas porções ectodérmicas são revestidos com quitina e constituem o intestino anterior e o intestino posterior. A região interposta, deriva da 17 endoderme e forma o intestino médio. O intestino anterior relaciona-se principalmente com a ingestão, a trituração e o armazenamento dos alimentos. O intestino médio é o local de produção, digestão e produção enzimáticas; no entanto em alguns artrópodos, as enzimas passam para frente e a digestão inicia-se no intestino anterior. A área superficial do intestino médio encontra-se aumentada por evaginações, formando bolsas ou grandes glândulas digestivas. O intestino posterior funciona na absorção da água e na formação das fezes. (Ruppert e Barnes, 1996). 3.1.8 Cérebro Existe um algo grau de cefalização nos artrópodos. O aumento no tamnho cerebral correlaciona-se aos órgãos sensoriais bem desenvolvidos (tais como olhos e antenas), muitos grupos de artrópodos exibem padrões comportamentais complexos. O cérebro dos artrópodos consiste de três regiões principais: protocérebro (anterior), deutocérebro (médio), tritocérebro (posterior). Os nervos provenientes dos olhos entram no protocérebro. O deutocérebro recebe os nervos das antenas (primeiras antenas nos crustáceos). As antenas não existem nos quelicerados (escorpiões, aranhas e ácaros), e nesses artrópodos ocorre uma ausência do deutocérebro. O tritocérebro dá origem aos nervos que inervam o lábio (lábio inferior), o trato digestivo (nervos estomatogástricos), as queliceras (garras) dos quelicerados e a segunda antena dos crustáceos. A maioria dos zoólogos concorda que a cabeça de todos artrópodos contém dois ou três segmentos pré-orais e as antenas são apêndices segmentares. O tritocérebro é um gânglio segmentar que se desviou anteriormente. Só a sua comissura pós oral constitui uma boa evidencia de sua origem. (Ruppert e Barnes, 1996). 3.1.9 Registros Fósseis Os artrópodes surgem no registro fóssil durante o Cambriano, junto com muitos outros grupos de invertebrados. Um dos grupos mais comuns de artrópodos fosseis é o subfilo Trilobita. Os trilobitas já foram abundantes e largamente distribuídos nos mares paleozóicos. 18 A maioria dos trilobitas variava de 3 a 10cm de comprimento, embora algumas espécies planctônicas tivessem somente 0,5mm de comprimento. O corpo um pouco oval e achatado e era dividido em três partes mais ou menos equivalentes (Ruppert e Barnes, 1996). 3.1.10 Classes do Filo Arthropoda 3.1.10.1 Classe Arachnida Segundo Barnes (1990), os aracnídeos compreendem as classes mais amplas e, do ponto de vista humano, as mais importantes dos quelicerados; incluem muitas formas comuns e familiares, tais como aranhas, escorpiões, ácaros e carrapatos. Os aracnídeos tem também a fama de ser o mais censurável grupo dos artrópodos do ponto de vista do leigo, fama esta injustificada. Os aracnídeos constituem um grupo antigo. Os fósseis representativos de todas as ordens datam do período Carbonífero, e os escorpiões fosseis datam do período Siluriano, que eram aquáticos. Os primeiros aracnídeos terrestres apareceram no Devoniano bem antes dos primeiros escorpiões terrestres, que apareceram no Carbonífero. 3.1.10.1.1 Anatomia Apesar da diversidade de formas, os aracnídeos ostentam muitos caracteres em comum. O corpo se divide em prossomo e um abdome (fig 2 e 3). O prossomo não segmentado geralmente é coberto dorsalmente por uma carapaça sólida; a superfície ventral é provida de uma ou mais placas esternais ou é coberta pelas coxas dos apêndices. O abdome como estrutura primitiva, é segmentado e se divide em um pré-abdome e um pós-abdome. Na maioria dos aracnídeos, com exceção dos escorpiões, estas duas subdivisões deixaram de ser conspícuas e desapareceu a tendência para segmentação em virtude da fusão. Nos ácaros perdeu-se a segmentação primária e o abdome fundiu-se com o prossomo para formar uma região única do corpo. Os apêndices comuns a todos aracnídeos tem origem no prossomo e constam de um par de quelíceras, um par de pedipalpos e quatro pares de pernas. As 19 quelíceras são utilizadas para a alimentação, mas os pedipalpos realizam muitas funções e estão diversamente modificados (Barnes, 1990). B A C Figura 2. Anatomia dos Aracnídeos. A) Anatomia de um carrapato Dermacentor variabilis. B) Anatomia interna de um ácaro Mastigmatideo, Caminella. C) Vista lateral do escorpião. (Segundo STORER, Tracy I. et al. Zoologia geral. 6. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 2000). 20 A I II B Figura 3. Anatomia dos Aracnídeos. A) Pseudo-escorpião Chelifer cancroides (macho), mostrando a estrutura externa I – vista dorsal e II – vista ventral. B) Anatomia interna de uma aranha. (Segundo STORER, Tracy I. et al. Zoologia geral. 6. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 2000). 21 3.1.10.1.2 Nutrição A maioria dos aracnídeos é carnívora e a digestão ocorre parcialmente fora do corpo. As presas, geralmente pequenos artrópodos, são capturadas e mortas pelos pedipalpos e quelíceras. Enquanto a presa é sustentada pelas quelíceras, as enzimas secretadas pelo intestino médio são vertidas sobre os tecidos dilacerados da presa (Barnes, 1990). 3.1.10.1.3 Reprodução O orifício genital em ambos os sexos geralmente é encontrado no lado ventral do segundo segmento abdominal ou oitavo do corpo. As gônodas encontram-se no abdome e podem ser únicas ou pares (Barnes, 1990). 3.1.10.1.4 Principais Ordens de Aracnídeos _ Ordem Scorpiones Os escorpiões (fig.4) são de hábitos crípticos e de vida noturna, ocultando-se durante o dia debaixo de troncos e pedras e em galerias no solo apesar de existirem espécies associadas a vegetação. Os escorpiões são aracnídeos grandes, a maioria variando de 2 a 9 cm de comprimento. Seu corpo consiste de um prossomo coberto por uma carapaça única e de um abdome longo que termina em um aguilhão pontiagudo que injeta o veneno, que é produzido por um par de glândulas ovais, cada um envolvida por uma capa. Além disso, um par de grandes olhos medianos, cada um situado por um pequeno tubérculo. E de dois a cinco pares de pequenos olhos laterais estão presentes ao longo da borda lateral anterior da carapaça, exceto em algumas espécies de cavernas (Barnes, 1990). 22 Figura 4 – Imagem de um exemplar da Ordem Scorpiones (Fonte: flickr.com/photos/willow_wil/2112118397/) _ Ordem Pseudoscorpiones Os pseudo-escorpiões (fig. 5) são aracnídeos pequenos que raras vezes atingem mais de 8mm de comprimento. Vivem no folhiço, no solo, debaixo de casca de árvores e pedras, em musgos, e ninho de alguns mamíferos. Em virtude de seu pequeno tamanho e da natureza de seu habitat, estes animais são raramente vistos, apesar de serem bastante comuns. Estão descritas 2000 espécies (Barnes, 1990). Figura 5 - Imagem de um exemplar da Ordem Pseudoscorpiones (Fonte: flickr.com/photos/willow_wil/2112118397/) 23 _ Ordem Araneae Com exceção talvez do grupo Acarina, que compreende os ácaros e carrapatos, as aranhas (fig. 6) constituem a ordem mais ampla de aracnídeos. Foram descritas aproximadamente 32000 espécies. Muitas adaptações das aranhas tornam-nas animais especialmente interessantes: a grande variedade de usos aos quais se destina a seda em diferentes famílias; seus hábitos alimentares; a utilização de veneno; a visão bem desenvolvida em algumas aranhas caçadoras e as modificações dos pedipalpos, no macho, para formar um órgão copulador. As aranhas variam de tamanho desde pequeninas espécies com menos de 0,5 mm de comprimento até grandes migalomorfos tropicais (chamados tarântulas, caranguejeiras e aranhas-macaco em diferentes partes do mundo) que medem 9 cm, podendo a extensão de pernas ser muito maior. Os pedipalpos da fêmea são curtos e semelhantes a pernas, mas no macho eles se modificaram, formando o órgão copulador (Barnes, 1990). Figura 6 - Imagem de um exemplar da Ordem Araneae. (Fonte: www.infoescola.com/biologia/aracnideos-arachnida/) _ Ordem Opiliones A ordem Opiliones (fig. 7) inclui os familiares aracnídeos de extremidades longas, que recebem o nome de opiliões. O comprimento médio do corpo é de 5 a 10 mm, mas alguns dos gigantes tropicais atingem até 20 mm e têm pernas que medem 160 mm. Em contraste a eles, há algumas espécies diminutas, de pernas curtas, semelhantes a ácaros, que nunca ultrapassam 24 1 mm de comprimento. Quando ocorre a muda, muitas espécies se penduram de ponta cabeça (Barnes, 1990). Figura 7 - Imagem de um exemplar da Ordem Opiliones. (Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/aracnideos...) _ Ordem Acarina A ordem Acarina, que inclui ácaros (fig. 8) e carrapatos (fig.9), é sem dúvida a mais importante das ordens de aracnídeos do ponto de vista da economia humana. Numerosas espécies são parasitas do homem, de seus animais domésticos e suas plantações. As espécies terrestres são extremamente abundantes, principalmente em musgos, folhas caídas, humo, solo, madeira podre, detritos, relacionando-se seu sucesso, sem dúvida, com seu pequeno tamanho e com a habilidade de explorar micro habitats. O número de indivíduos é enorme, ultrapassando certamente todas as ordens de aracnídeos. Grande parte da acarologia é do domínio da parasitologia, mas os ácaros não devem ser considerados um grupo inteiramente parasita. Muitas espécies vivem livremente e outras são parasitas somente por um breve período do seu ciclo de vida. A maioria dos ácaros são parasitas durante todo seu ciclo de vida mas estão fixos ao hospedeiro somente durante os períodos de alimentação. Os ácaros dermanissídeos de aves e mamíferos e os carrapatos ilustram esse tipo de ciclo de vida. Os carrapatos penetram na pele do hospedeiro por meio das peças bucais em forma de ganchos, muito especializadas e se alimentam de sangue. Muitas espécies podem viver por longos períodos, bem mais que 1 ano, entre alimentações sucessivas. A copulação ocorre enquanto os adultos estão se alimentando no hospedeiro e a fêmea depois de ser alimentar, cai ao solo e 25 deposita uma massa de ovos. Do ovo sai um carrapato “semente” com seis pernas. Os ácaros da pele, causadores da sarna (Psoroptidae e Sarcoptidae) de mamíferos. O ácaro da sarna humana (Sarcoptes scabiei), causador da sarna forma túneis na epiderme. A fêmea mede menos de 0,50 mm e o macho menos que 0,25 mm de comprimento. A irritação é causada pelas secreções do ácaro. A fêmea deposita os ovos nos túneis durante um período de dois meses, depois dos quais morre. Embora muitos ácaros sejam cegos, alguns trombidiformes e alguns outros grupos possuem olhos. Pode haver um ou dois pares ou, nos oribatídeos, um único olho mediano. Alguns ácaros aquáticos podem ter cinco olhos. É frequente nos ácaros a presença de fendas e depressões inervadas e talvez essas sejam similares aos órgãos sensoriais em fenda de outros aracnídeos (Barnes, 1990). Figura 8 - Imagem de um exemplar da Ordem Acarina – ácaro (Fonte: www.asmabronquica.com.br/_images/13foto_acaro.jpg) Figura 9 - Imagem de um exemplar da Ordem Acarina – carrapato. (Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/aracnideos...) 26 3.1.10.2 Classe Pycnogonida É um pequeno grupo de cerca de 500 espécies de animais marinhos conhecidos como aranhas-do-mar (fig. 10). Eles vivem em todos os oceanos, desde o Ártico e Antártico até os trópicos e existem tanto numerosas formas litorâneas como espécies que vivem a grandes profundidades (Barnes, 1990). Figura 10 - Imagem de um exemplar da classe pycnogonida – aranha-do-mar. (Fonte: forum.valinor.com.br/showthread.php?t=21410...) 3.2 Arthropodos Unirremes Quatro grupos de unirremes abrangendo cerca de 10500 espécies – os quilópodos, diplopodos, paurópodos e sinfílos – tem o corpo composto de uma cabeça e um tronco alongado com muitos segmentos portadores de pernas. A maioria dos miriápodos requer um ambiente relativamente úmido, pois eles não possuem uma epicutícula cerosa. Eles vivem debaixo de pedras, troncos, solo e humo e estão amplamente distribuídos tanto em regiões temperadas como tropicais. A cabeça tem um par de antenas, e às vezes ocelos; exceto em determinados quilópodos, olhos compostos verdadeiros nunca estão presentes. As peças bucais encontramse no lado ventral da cabeça e estão dirigidas para frente. Um epistômio e um labro formam o lábio superior e o teto de uma cavidade pré-bucal. O lábio inferior é formado pelo primeiro ou 27 segundo par de maxilas e, encerrados dentro da cavidade bucal estão um par de mandíbulas e hipofarige. As mandíbulas têm mecanismos similares para movimento em todos os miriápodos. (BARNES, 1990) Classe Chilopoda Os membros da classe Chilopoda, conhecidos como centopéias (fig. 11), são talvez os mais familiares dos artrópodos miriápodos. Eles estão distribuídos por todo mundo tanto em regiões temperadas como tropicais. As centopéias de zonas temperadas são mais comumente de cor marrom avermelhada, mas muitas formas tropicais, especialmente os escolopendromorfos, são verdes, vermelhos, amarelos e azuis ou com listras verdes transversais. (BARNES, 1990). A cabeça é convexa nos escutigeromorfos, mas achatada em outras centopéias, com as antenas localizadas na margem frontal. Embora as centopéias sejam providas de garras de veneno, existem outras adaptações para proteção. O último par de pernas nas centopéias é o mais longo e nos litobiomorfos e escolopendromorfos elas podem ser usadas na defesa através de “beliscões”. (BARNES, 1990). Figura 11 - Imagem de um exemplar da Classe Chilopoda (Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br/alfa) 28 Principais Ordens de Chilopodos _Ordem Geophilomorpha Centopéias cavadoras delgadas, com 31 a 170 pares de pernas. Olhos ausentes. Amplamente distribuídas. (BARNES, 1990). _ Ordem Scolopendromorpha Muitas espécies distribuídas por todo o mundo, especialmente nos trópicos. Com ou sem olhos; 21 ou 23 pares de pernas. (BARNES, 1990). _ Ordem Lithobiomorpha Estigmas pares laterais. Distribuídos em todo o mundo, mas a maior parte dos gêneros e espécies é encontrado nas zonas temperadas e subtropicais. (BARNES, 1990). _ Ordem Scutigeromorpha Pernas e antenas muito longas. Olhos grandes e compostos. Estigmas não pares e localizados na região médio-dorsal nas placas tergais. Distribuídos por todo mundo, principalmente nos trópicos. (BARNES, 1990). 3.2.2 Classe Diplopoda Os Diplopoda são comumente conhecidos como piolhos-de-cobra (fig. 12). Eles se escondem e evitam a luz; vive debaixo de folhas, pedra, casca de árvores, troncos e no solo. Alguns habitam antigas galerias de outros animais, tais como minhocas; alguns são comensais de ninhos de formigas. 29 O tamanho dos diplópodos varia muito. O número de segmentos também é bastante variável, variando de 11, nos pselafognatos a mais de 100 nos grupos juliformes. A maioria dos diplópodos tem cor preta e diferentes tons de marrom; algumas espécies são vermelhas e alaranjadas, e não são raros os padrões manchados. Os olhos podem estar totalmente ausentes, como nos polidermóides ou pode haver de dois a oitenta ocelos. Estes estão dispostos perto das antenas em uma ou varias fileiras transversais ou em dois grupos laterais. A maioria dos diplópodos é negativamente fototática e mesmo aqueles sem olhos são fotorreceptores no tegumento. Os ovos dos diplópodos são fecundados no momento da postura e, dependo da espécie, são produzidos de 10 a 300 ovos de uma só vez. Um único ovo é depositado na taça, que depois é fechada e polida. Muitos diplópodos constroem um ninho para deposição de ovos. Algumas espécies constroem ninho com excremento. O reto da fêmea é evertido e o excremento seca rapidamente, é depositado à medida que ela se move numa trajetória circular. (BARNES, 1990). Figura 12 - Imagem de um exemplar da Classe Diplopoda (Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br/alfa) 3.2.3 Classe Insecta “Os insetos são, atualmente, o grupo dominante de animais na Terra. Ocorrem praticamente em todos os lugares” (ALTIERI, 2003). 30 Segundo BORROR (1988), o mundo dos insetos é rico no pitoresco, no incomum e mesmo no fantástico. Uma variedade quase interminável de peculiaridades estruturais e fisiológicas e de adaptações a diferentes condições de vida pode ser encontrada entre estes animais. Muitos insetos são extremamente valiosos para o homem e sem eles a sociedade humana não poderia existir na sua forma presente. Pelas suas atividades polinizadoras, possibilitam a produção de muitas colheitas agrícolas, incluído a maioria das frutas de pomares, as plantas forrageiras muitas verduras, algodão e o tabaco, fornecem-nos mel e cera de abelha, seda e outros produtos de valor comercial; servem de alimento para muitas aves e peixes e outros animais úteis; prestam serviço como predadores; auxiliam a manter animais e plantas nocivas sob controle. Alguns insetos são nocivos e causam anualmente perdas enormes em colheitas agrícolas, produtos armazenados e na saúde do homem e dos animais. Através da polinização muitos insetos colaboram com a evolução de alguns vegetais, segundo (EDWARDS, 1981), o sucesso evolutivo das angiospermas pode ser atribuído; pelo menos em parte a polinização cruzada das plantas, altamente efetiva, feita principalmente por insetos. Segundo ALTIERI (2003), um dos motivos mais importantes para manter a biodiversidade dos ecossistemas naturais é que ela é a fonte de todas as plantas e animais utilizados atualmente na agricultura. Toda a gama de plantas domésticas é derivada de espécies silvestres, modificadas através da domesticação. A biodiversidade em agroecossistemas pode ser tão valiosa quanto às várias culturas, plantas invasoras, artrópodes ou microorganismos envolvidos, de acordo com a localização geográfica e fatores climáticos. 3.2.3.1 Características gerais Segundo Zilkar, 1976, o tamanho é bastante variável, desde 0,25 milímetros a mais de 300 milímetros de comprimento; o corpo dos adultos, e muitas vezes das formas imaturas (larvas e ninfas), mais ou menos distintamente segmentados, e dividido em três regiões, mais ou menos bem distintas – cabeça, tórax e abdome (fig. 13). A cabeça, produto da fusão de seis segmentos embrionários traz apêndices sensoriais (antenas, peças bucais e olhos). O tórax é formado pela união de três segmentos embrionários (protórax, mesotórax e metatórax) mais ou menos distintos na maioria dos insetos, traz os apêndices locomotores (asas e pernas). O abdome é distintamente segmentado, formado por 11 segmentos ou menos, frequentemente 6 31 a 8 na maioria dos insetos comuns, provido ou não de apêndices locomotores rudimentares, mas podendo trazer apêndices sensoriais ou reprodutores (cercos, estilos e ovipositor); as pernas, obrigatoriamente em número de seis em insetos adultos, formadas por 5 a 9 artículos, quase sempre terminadas por garras ou unhas; as asas geralmente presentes, em números de duas a quatro, podendo faltar em algumas ordens ou famílias, e em algumas castas de insetos sociais; a respiração é tipicamente traqueal, por meio de um sistema de tubos ramificados (traquéias) abrindo-se para o exterior por orifícios pares (espiráculos), situados nas regiões laterais dos segmentos abdominais. Figura 13. Morfologia externa de um inseto. A) Superfície anterior da cabeça de um gafanhoto. B) Vista lateral da cabeça de um gafanhoto. C) Vista lateral do corpo. D) Vista lateral de um segmento torácico sem asas. E) perna de um gafanhoto. F) Vista lateral do abdômen de um grilo macho. (Segundo STORER, Tracy I. et al. Zoologia geral. 6. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 2000). 32 3.2.3.2 Reprodução e Desenvolvimento _ Reprodução Segundo Gallo, et. al., 2002, os principais tipos de reprodução encontrados nos insetos são: * Oviparidade: tipo mais comum de reprodução. As fêmeas depositam os ovos que dão nascimento às larvas ou ninfas. Os ovos variam grandemente em aparência (esféricos, ovais, alongados, em forma de barril, em forma de disco, etc. Podem ser colocados separadamente ou em massas, unidos uns aos outros, nas plantas (mariposas, percevejos etc.), no solo (gafanhotos, grilos etc.), sobre animais (piolhos), na água (pernilongo), sobre ou dentro de outros insetos (parasitóides) etc. A maioria dos insetos fitófagos deposita seus ovos na planta hospedeira da larva ou da ninfa. O louva-a-deus envolve seus ovos em uma cápsula chamada ooteca, ou protegem o local da postura com secreção ou fezes. O número de ovos depositados varia de um (pulgões em clima frio) a milhões (insetos sociais). A maioria dos insetos deposita de cinqüenta a centenas de ovos. * Viviparidade: o desenvolvimento embrionário é completado dentro do corpo da fêmea, que deposita larva ou ninfa em vez de ovos. * Partenogênese: os óvulos desenvolvem-se completamente sem nunca terem sido fecundados. Ocorre combinada com outros tipos de reprodução, como viviparidade, oviparidade e pedogênese, e pode ocorrer também alternadamente com uma geração bissexuada. Ex: cochonilhas, pulgões, moscas-brancas e zangões. * Pedogênese: insetos imaturos possuem ovários funcionais, cujos óvulos desenvolvem-se partenogenéticamente; assim a reprodução é realizada por um organismo que mantém o aspecto imaturo, como nos dípteros das famílias Cecidomyiidae e Chironomidae. Em muitos casos a pedogênese está também associada à viviparidade. * Neotenia: retenção de caracteres imaturos no estágio adulto. As fêmeas adultas do bichocesto, por ex., são larvas neotênicas que se acasalam e depositam ovos dentro do próprio cesto. * Poliembrionia: Produção de dois ou mais embriões em um único ovo, sendo comum em microimenópteros das famílias Encyrtidae, Braconidae etc. Às vezes, centenas de indivíduos podem ser originados de um mesmo ovo, em outros casos, como em Ageniaspis citricola, podem resultar de 2 a 10 parasitóides. * Hermafroditismo: os dois sexos presentes no mesmo indivíduo. O hermafrodita funcional é extremamente raro em insetos. Um dos poucos exemplos é o pulgão -branco – dos – citros, 33 Icerya purchasi, no qual os óvulos algumas vezes desenvolvem-se partenogeneticamente em machos haplóides, mas são comumente fecundados por espermatozóides do mesmo indivíduo ou por espermatozóides de machos com os quais hermafroditas copulam. _ Desenvolvimento O desenvolvimento de um inseto envolve tanto o crescimento no tamanho como a mudança na forma. Pode ser dividido em embrionário (fase de ovo) e pós-embrionário. 3.2.3.3 Ecologia 3.2.3.3.1 Interação inseto/plantas As plantas são um recurso importante para milhares de espécies de insetos. Virtualmente cada parte de uma planta se torna uma fonte alimentar para algum inseto adulto ou juvenil. Os insetos foram um fator importante na seleção de determinadas características na evolução das plantas, e estas determinaram várias adaptações nos insetos. (Ruppert e Barnes, 1996). Cerca de 67% das plantas floríferas são polinizadas por insetos e a grande diversidade da estrutura floral reflete em boa parte, adaptações para a polinização. As vespas, abelhas, borboletas, mariposas e moscas, são as principais polinizadoras (Ruppert e Barnes, 1996). 3.2.3.3.2 Parasitismo Existem muitos insetos parasitas, sendo que a condição evolui muitas vezes dentro da classe. O parasitismo dos insetos é frequentemente uma adaptação no estágio no ciclo de vida para explorar um habitat e uma fonte inexplorada por outros estágios. No entanto, um número relativamente pequeno de insetos é parasita por todo o ciclo de vida e encontra-se sempre em contato com o hospedeiro. Isso vale para os piolhos, a maioria dos quais é de parasitas hematófagos de aves e mamíferos. Os percevejos hemípiteros são hematófagos por todo seu ciclo de vida, mas não vivem continuamente no hospedeiro. (Ruppert e Barnes, 1996). 34 3.2.3.3.3 Insetos Sociais A organização colonial evolui em vários filos de animais, mas somente entre poucas aranhas e alguns insetos e vertebrados encontram-se indivíduos funcionalmente interdependentes, ainda que morfologicamente separados. A condição é, portanto descrita como uma organização social. As organizações sociais evoluíram em duas ordens de insetos: os Isoptera (cupins) e os Hymenoptera (formigas, abelhas e vespas). (Ruppert e Barnes, 1996). Todos os insetos sociais exibem um certo grau de polimorfismo, e os diferentes tipos de indivíduos em uma colônia são chamados de castas. As principais castas são os machos, a fêmea (ou rainha) e os operários. Os machos funcionam para a inseminação da rainha, que reproduz novos indivíduos para a colônia. Os operários proporcionam a sustentação e manutenção da colônia. A determinação das castas é um fenômeno de desenvolvimento regulado pela presença ou ausência de determinadas substâncias fornecidas nos estágios imaturos por outros membros da colônia. (Borror e Delong, 1988). 3.2.3.3.4 Polinização Algumas das plantas superiores são autopolinizadoras, mas a maioria possui polinização cruzada, isto é, o pólen de uma flor deve ser transferido para o estigma da outra. O pólen é transferido de uma flor para a outra por dois processos principais: pelo vento e pelos insetos. Plantas polinizadas pelo vento possuem grande quantidade de pólen seco, o qual é levado para longe e largamente dispersado; estas plantas conseguem reproduzir-se porque alguns dos milhares de grãos de pólen caem ocasionalmente no estigma da flor certa. Plantas polinizadas por insetos produzem quantidades menores de pólen, o qual é geralmente pegajoso e adere ao corpo dos insetos que visitam as flores, este pólen é passado mais tarde passado do inseto para o estigma da outra flor, na maioria dos casos mais ou menos acidentalmente em relação aos próprios insetos. Muitas flores tem aspectos peculiares de estruturas que auxiliam a assegurar a polinização. Algumas plantas dependem de uma única espécie ou tipo de inseto para a polinização. Algumas orquídeas são polinizadas somente por certas mariposas esfingídeas de probóscide longa. (Borror e Delong, 1988). 35 3.2.3.3.5 Surgimento das pragas Segundo Garcia 2002, frequentemente as pragas são criadas pelo homem, espécies que ocorrem em baixas densidades populacionais em condições naturais podem atingir grandes densidades nas criações criadas pelo homem, que podem favorecer um melhor surgimento de algum fator até então limitante ao aumento dos números, tal como alimento praticamente ilimitado em agroecossistema. A extrema simplificação do sistema torna-o inadequado aos inimigos naturais da praga, e o uso indiscriminado e inadequado de defensivos, que objetiva combater a praga, em geral, mata também a maior parte de seus inimigos naturais. Na ausência da intervenção humana os ecossistemas tendem a adquirir maior maturidade, isto é, evoluir para a estabilidade e a complexidade. A ação humana, cria regiões cultivadas relativamente simples quanto a diversidade, realiza agrobiocenoses com uma maturidade pouco elevada, nas quais as flutuações da população são frequentemente intensas. Além disso, o homem seleciona os mais aptos, haja vista, que as pragas, em geral, são espécies oportunistas ou colonizadoras, adaptados a habitats instáveis como os agroecossistemas. (Borror e Delong, 1988). 3.2.3.3.6 Comunicação Os insetos se comunicam através de sinais químicos, táteis, visuais e auditivos. A comunicação química por meio de feromônios foi estudada mais expressivamente nos insetos do que em qualquer outro grupo de animais. Muitas espécies utilizam feromônios para atrair um sexo a outro, e a bem estudada mariposa Bombyx mori é um exemplo clássico. Os feromônios marcam também trilhas ou territórios em algumas espécies. Por exemplo, as substâncias depositadas no solo pelas formigas que retornam de uma viagem de procura de alimento servem como um marcador de trilha para outras formigas. (Ruppert e Barnes, 1996). 36 3.2.3.4 Principais Ordens de Insetos _ Orthoptera (do grego orto - pteros (asas retas)) - fig. 14. a – inclem-se neste grupo: grilos, gafanhotos, esperanças, paquinhas e taquarinhas. É uma ordem de insetos que possuem as asas superiores retas e coriáceas, recobrindo as asas inferiores mais largas, dobradas no seu sentido longitudinal. Tais insetos possuem pernas posteriores longas e possantes, apropriadas para saltar, o aparelho bucal e mastigador (GALLO, et al., 2002). _ Ephemeroptera (fig. 14. b)- São animais longos, de corpo mole e de tamanho pequeno a médio, podendo atingir até quatro cm de comprimento. O nome efémera está relacionado com o fato do adulto viver apenas poucas horas, sem se alimentar, dedicadas apenas à reprodução e à postura dos ovos da geração seguinte. Possuem asas membranosas com numerosas veias, sendo as asas posteriores menores que as anteriores. Apresentam antenas pequenas, olhos compostos bem desenvolvidos e três longos filamentos no abdome. As efémeras adultas caracterizam-se por peças bucais atrofiadas e um sistema digestivo não funcional, enquanto que as ninfas possuem peças bucais do tipo mastigadoras. As ninfas das efémeras vivem na água, em geral escondidas sobre rochas. A maioria das espécies alimenta-se de detritos ou matéria vegetal, mas algumas são predadoras. Ao contrário do adulto, que vive pouco tempo (de algumas horas até 2 dias), as ninfas podem viver de várias semanas até três anos. São os únicos insetos que sofrem muda após terem adquirido asas funcionais. As efémeras habitam zonas perto de corpos de água doce parada ou de curso lento. O grupo é essencial para a ecologia dos seus habitats dada a importância das suas ninfas na cadeia alimentar. Graças à sua sensibilidade às condições fisico-químicas do meio, as efémeras são um dos grupos mais utilizados em programas de biomonitoramento de qualidade da água (GALLO, et al., 2002). _ Thysanura (thysanus = cerdas ou franja + ura = cauda) – fig. 14. c - São insetos ápteros esbranquiçados, geralmente alongados e achatados e de tamanho pequeno a moderado, medindo no máximo 5 cm. Possuem peças bucais do tipo mastigadoras, cada uma com dois pontos de articulação com a cabeça. Apresentam olhos compostos pequenos e muito separados ou ausentes; podem ou não apresentar ocelos. As antenas são longas e filiformes. O corpo coberto é por escamas e pêlos. Possuem 3 apêndices de mesmo tamanho saindo do abdome (dois cercos e um apêndice caudal mediano). O abdome possui 11 segmentos, com vesículas eversíveis para a absorção de água. O tarso possui de 3 a 5 segmentos. A reprodução dos Thysanura é sexuada e o desenvolvimento ametabólico (sem metamorfose). Vivem em 37 locais úmidos e alimentam-se de matéria orgânica vegetal; algumas espécies vivem junto a livros e papéis, alimentando-se destes, além de roupas, cortinas, sedas e tudo mais que contenha celulose. (GALLO, et al., 2002). _ Odonata (do grego odontos, dente + ata, caracterizado por) – fig. 14. d – Incluem-se neste grupo as libélulas. Estes insetos têm como característica uma cabeça arredondada, coberta principalmente de olhos facetados, pernas que facilitam a captura de presas (outros insetos) em vôo, dois pares de asas longas e transparentes que se movimentam de modo independente, e um elegante abdome. (GALLO, et al., 2002). _ Phasmatodea (fig. 14. e)- São conhecidos como bicho-pau e bicho-folha, por sua eficiente camuflagem que os tornam semelhantes a pedaços de madeira ou a folhas, disfarçando-os em meio à vegetação. (GALLO, et al., 2002). _ Dermaptera (derma – pele, ptera - asas) – fig. 14. f – São conhecidos popularmente como tesourinhas, lacrainhas, bichas-cadelas. Suas asas anteriores são coriáceas (espessas) e protegem as asas posteriores, que são membranosas (delgadas). Algumas espécies são ápteras (sem asas), porém, quando presentes, as asas anteriores são curtas e quitinosas (tégminas ou élitros), as asas posteriores são membranosas, grandes e de formato semi-circular, e dobramse em leque e duas vezes transversalmente, como nos besouros, de maneira que ficam quase completamente protegidas pelas asas anteriores.Variam em tamanho de 4 a 80 mm, possuem corpo estreito, alongado, de cor uniforme preta ou marrom-escuro, em algumas espécies com detalhes amarelados ou marrom-claro. O corpo é dividido em três tagmas, como em todos os insetos, cabeça, tórax e abdome. A cabeça porta um par de olhos compostos, não possui ocelos, as antenas são filiformes, com cerca de 10 a 50 segmentos, aparelho bucal mastigador. As patas são ambulatoriais. O abdome é bastante flexível e possui, em sua extremidade, um par de cercos, não segmentados, bem desenvolvidos, em forma de pinça ou fórceps (motivo pelo qual são chamados de tesourinhas). (GALLO, et al., 2002). _ Blattodea (fig. 14. g) - é uma ordem de insetos cujos representantes são popularmente conhecidos como baratas. Dentre os principais problemas que as baratas podem ocasionar aos seres humanos está a atuação delas como vetores mecânicos de diversos patógenos (bactérias, fungos, protozoários, vermes e vírus). O tamanho das baratas varia entre 3 mm a 10 cm de comprimento dependendo da espécie. Apresentam um corpo oval, achatado dorso- 38 ventralmente, e em geral com uma coloração escura. A cabeça é curta, subtriangular, do tipo opistognata, com peças bucais mastigadoras, antenas longas e filiformes, geralmente dois ocelos, e os olhos compostos estão presentes na maioria das espécies, com exceção das espécies cavernícolas. O tórax possui três pares de pernas do tipo ambulatoriais, e quando presentes, dois pares de asas, que podem cobrir o abdome. Em geral nas espécies sem asas, as fêmeas é que são ápteras. O abdome geralmente apresenta 10 segmentos, contendo os principais órgãos vitais, sendo que há um par de cercos para ambos os sexos, com a função olfativa. Além disso, os machos são menores do que as fêmeas. (GALLO, et al., 2002). _ Mantodea (fig. 14. h) – Inclui-se neste grupo o louva-a-deus, que pertence pertencente à família Mantidae. Há cerca de 2000 espécies de louva-a-deus, a maioria das quais em ambiente tropical e subtropical. Seu nome popular decorre do fato de que, quando está pousado, o inseto lembra uma pessoa orando. Os louva-a-deus são insectos relativamente grandes, de cabeça triangular, tórax estreito com pronoto e abdómem bem desenvolvido. São predadores agressivos que caçam principalmente moscas e afídios. A caça é feita em geral de emboscada, facilitada pelas capacidades de camuflagem do louva-a-deus. Como não possuem veneno, os louva-a-deus contam com as suas pernas anteriores que são raptatórias, ou seja, modificadas como garras, para segurar a presa enquanto é consumida. A sua voracidade leva a que sejam considerados muito bem vindos pelos amantes da jardinagem e agricultura biológica, uma vez que, na ausência de pesticidas, são um factor importante no controlo de pragas de jardim. O vôo do louva-a-deus é algo impressionante. Copia muito bem um vôo de um caça de combate. Ele também tem a capacidade de desviar de ataques de morcegos em pleno vôo executando mergulhos. (GALLO, et al., 2002). _ Isoptera (fig. 14. i) – É conhecido popularmente como cupim. Há cerca de 2.800 espécies catalogadas no mundo. Mais conhecidos por sua importância econômica como pragas de madeira e de outros materiais celulósicos, os cupins também têm atraído a atenção de cientistas devido ao seu singular sistema social. Além de provocar considerável dano econômico em áreas urbanas e rurais, esses insetos também são importantes componentes da fauna de solo de regiões tropicais, exercendo papel essencial nos processos de decomposição e de ciclagem de nutrientes. (GALLO, et al., 2002). _ Hemiptera (fig. 14. j) – Incluem-se neste grupo percevejos, cigarras, cigarrinhas, cochonilhas, pulgões, moscas-brancas, psilídeos, etc. É uma ordem de insectos que 39 compreende cerca de 67 500 espécies. Existem espécies desta ordem distribuídas por todo o mundo; distinguem-se dos outros insectos por possuírem peças bucais adaptadas à perfuração e sucção alojado numa longa "tromba" ou "bico", tanto na forma adulta como em ninfas. Ainda que a maioria se alimente de seiva e outros sucos produzidos por plantas (fitófagos), algumas espécies são hematófagas (alimentam-se de sangue) de outros animais e outras são entomófagas (predadores de outros insectos). (GALLO, et al., 2002). _ Lepidoptera (fig. 14. l) – Estão presentes neste grupo borboletas e mariposas. O grupo inclui insetos com dois pares de asas membranosas cobertas de escamas e peças bucais adaptadas a sucção. O ciclo de vida dos lepidópteros engloba as seguintes etapas: ovo, larva, chamada também de lagarta, pupa e imago, a fase adulta. (GALLO, et al., 2002). _ Diptera (fig. 14. m) – Incluem-se neste grupo moscas, mutucas, pernilongos, mosquitos, borrachudos, etc. É uma ordem de insectos, caracterizada pelo tamanho reduzido das asas traseiras e pela proeminência das asas dianteiras. O grupo tem cerca de 120,000 espécies. O registo fóssil mais antigo dos Diptera data do Triássico superior (225 milhões de anos atrás). Os Dípteros constituem uma das maiores ordens de insetos e seus representantes abundam em indivíduos e espécies em quase todos os lugares. A maioria dos Diptera distingue-se prontamente dos outros insetos alados por possuir somente um par de asas, correspondente ao par anterior, transformando-se o par posterior se em pequenas estruturas clavadas denominadas halteres, que funcionam como órgãos de equilíbrio (Borror & De Long, 1988). _ Coleoptera (fig. 14. n) - mais conhecidos como besouros ou escaravelhos, joaninhas, vagalumes, etc. Estes animais são caracterizados principalmente pelo par de asas anterior endurecido, conhecidas como élitros. A ordem Coleoptera é a que tem maior número de espécies dentre todos os seres vivos - cerca de 350 mil - sendo portanto o grupo animal mais diverso que existe. (GALLO, et al., 2002). _ Hymenoptera (hymen = membrana; ptera = asas) – fig. 14. o – Estão presentes as vespas, abelhas e formigas. Possui atualmente cerca de 115.000 espécies descritas. As espécies deste grupo apresentam dois pares de asas membranosas, sendo que as asas anteriores são maiores do que as posteriores. Alguns grupos, como as formigas operárias e as vespas da família Mutilidae, perderam secundariamente as asas. As fêmeas possuem um ovipositor típico que permite a perfuração do hospedeiro ou acessar locais inacessíveis, estando muitas vezes modificado em um ferrão. O desenvolvimento é do tipo holometabólo (metamorfose 40 completa), que apresenta os estágios de ovo, larva, pupa e adulto. O grupo inclui uma impressionante diversidade de formas, tamanhos e hábitos de vida. Os maiores himenópteros podem alcançar cerca de 15 cm de comprimento, tais como as vespas caçadoras da família Pompilidae, marimbondos da família Vespidae e vespas parasitóides da família Ichneumonidae. O ovipositor das fêmeas pode ser até 6 vezes maior do que o comprimento do corpo em diversos grupos, ou tão curto que é dificilmente visível. Os menores Hymenoptera são também os menores de todos os insetos: vespas da família Trichogrammatidae podem ter apenas 0.1 mm de comprimento, sendo praticamente invisíveis a olho nu e menores do que alguns organismos unicelulares como as amebas. (GALLO, et al., 2002). _ Siphonaptera (fig. 14. p) – Conhecidos popularmente como Pulga. Estes insetos não apresentam asas. As pulgas são parasitas externos que se alimentam do sangue de mamíferos e aves. Estes animais podem transmitir doenças graves como o tifo e a peste bubónica. Elas afectam normalmente animais de estimação, como o gato, o cachorro, entre outros. Elas dependem do hospedeiro para se alimentarem e se protegerem, permanecendo toda a sua vida nestes e em outros animais contactantes. Além de provocarem incômodo pelas picadas, transmitem vermes, parasitas sangüíneos e podem induzir a processos alérgicos, diminuindo a qualidade de vida dos animais. (GALLO, et al., 2002). Fig. 14. a – Imagem de um exemplar da Ordem Orthoptera. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. 41 Fig. 14. b - Imagem de um exemplar da Ordem Ephemeroptera. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. Fig. 14. c - Imagem de um exemplar da Ordem Thysanura. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. 42 Fig. 14. d - Imagem de um exemplar da Ordem Odonata. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. Fig. 14. e - Imagem de um exemplar da Ordem Phasmatodea. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. 43 Fig. 14. f - Imagem de um exemplar da Ordem Dermaptera. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. Fig. 14. g – Imagem de um exemplar da Ordem Blattodea. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. Fig. 14. h - Imagem de um exemplar da Ordem Mantódea. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. 44 Fig. 14. i - Imagem de exemplares da Ordem Isoptera. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. Fig. 14. j - Imagem de exemplares da Ordem Hemíptera. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. 45 Fig. 14. l - Imagem de um exemplar da Ordem Lepidóptera. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. Fig. 14. m - Imagem de um exemplar da Ordem Díptera. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. 46 Fig. 14. n - Imagem de um exemplar da Ordem Coleóptera. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. Fig. 14. o - Imagem de um exemplar da Ordem Hymenoptera. (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. Fig. 14. p - Imagem de um exemplar da Ordem Siphonaptera (Segundo RUPPERT, Edward E.; BARNES, Robert D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996. 47 3.3 Subfilo Crustacea 3.3.1 Classe Cirripedia Esta classe inclui os familiares animais marinhos conhecidos como cracas. Os cirripédios (fig. 15) são o único grupo séssil de crustáceos, com exceção das formas parasitas. Algumas cracas são comensais de baleias, tartarugas, peixes e outros animais e um grande número de cirripédios são parasitas (Barnes, 1990). Figura 15 - Imagem de um exemplar da classe cirripedia – craca. (Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/aracnideos...) 3.3.2 Classe Malacostraca A classe Malacostraca contém quase três quartos de todas as espécies conhecidas de crustáceos e também a maioria das formas maiores, tais como caranguejos, lagostas e camarões (fig. 16). O tronco dos malacostracos é tipicamente composto por 14 segmentos e telson, dos quais os oito primeiros formam o tórax e os seis últimos o abdome (fig. 17). Todos os segmentos tem apêndices. As primeiras antenas são, geralmente, birremes. Na maioria dos malacostracos, um, dois ou três primeiros pares de apêndices torácicos modificaram-se, dirigindo-se para frente para formar maxilípedes. Os apêndices abdominais anteriores (geralmente os primeiros cinco pares), chamados pleopodos, são similares a birremes. Os dois ramos de cada apêndice podem frequentemente estar enganchados entre si por espinhos especiais. Os pleopodos podem ser usados para nadar ou para iniciar uma escavação, para 48 apanhar alimentos ou produzir correntes para a ventilação, para carregar ovos na fêmea e, às vezes para as trocas gasosas. Nos machos, o primeiro, ou o primeiro e o segundo pares de pleopodos geralmente estão modificados, formando órgãos copuladores (Barnes, 1990). Figura 16 - Imagem de um exemplar da classe malacostraca – camarão (Fonte: www.labec.com.br/.../uploads/2008/11/003-g.jpg) 49 Figura 17. Estrutura de um crustáceo. A) Apêndices da cabeça de uma lagosta. B) Estrutura interna de um lagostim – vista lateral. (Segundo STORER, Tracy I. et al. Zoologia geral. 6. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 2000). 50 4 ASPECTOS PEDAGÓGICOS A biologia está inserida em ciências da natureza e matemática Para o PCN, o aluno deve dominar conhecimentos biológicos para compreender os debates contemporâneos e deles participar, no entanto, constitui apenas uma das finalidades, sintetizadas em seis temas estruturadores: 1. Interação entre os seres vivos; 2. Qualidade de vida das populações humanas; 3. Identidade dos seres vivos; 4. Diversidade da vida; 5. Transmissão da vida, ética e manipulação da vida gênica; 6. Origem e evolução da vida. Estes seis temas não reinventam os campos conceituais da Biologia, mas representam agrupamentos desses campos de modo a destacar os aspectos essenciais sobre a vida e a vida humana que vão ser trabalhados por meio dos conhecimentos científicos referenciados na prática. O interesse e a curiosidade dos estudantes pela natureza, pela Ciência pela Tecnologia e pela realidade local e universal, conhecidos também pelos meios de comunicação, favorecem o envolvimento e o clima de interação que precisa haver para o sucesso das atividades, pois neles encontram mais facilmente significado. Segundo o PCN, o filo artrhopoda é trabalhado dentro do conteúdo “Os Seres Vivos”Reino Animal. Na 6ª série do ensino fundamental. Para estimular o conhecimento aproximamos o aluno da sua realidade isso pode motiválo a compreender as complexas relações existentes em nível mais global. O PCN afirma que um projeto de interdisciplinaridade pode articular-se em torno de cinco fundamentos da vida 51 social: físico-ambiental; sócio-histórico, sócio-cultural, sócio-político e econômico-produtivo, sabendo-se que nenhum deles é independente do outro. Algumas abordagens metodológicas podem conferir ao currículo uma perspectiva de totalidade, respeitando-se as especificidades epistemológicas das áreas de conhecimento e das disciplinas. Propomos a organização dos planos de estudo de forma interdisciplinar (Portal MEC). Deveria ser disposto um tempo aos professores, para em conjunto elaborarem seus planos de aula. Para os Parâmetros Curriculares Nacionais, os projetos de trabalho escolares, embora não tenham tido sua origem na escola, podem aparecer como uma boa alternativa às ações do cotidiano docente, substituindo atividades enfadonhas e repetitivas, nada motivadoras, para estimular a aprendizagem, a colaboração e a participação e envolvimento da comunidade escolar e social, partindo-se de questões reais da vida prática e possibilitando descobertas/heurísticas significativas. Acredita-se que o maior desafio segundo o PCN agora não é só passar os conteúdos, mas preparar todos para vida moderna, e a melhor maneira é através da pesquisa e da aula prática. Segundo Bagno, 2000, pesquisa é uma palavra que veio do espanhol. Este por vez herdou do latim. Havia em latim o verbo perquiro que significa procurar, buscar com cuidado, procurar por toda a parte, informar-se, inquirir, perguntar, indagar bem, aprofundar na busca. Ele afirma que pesquisa é uma atividade que embora não pareça, está presente em diversos momentos do cotidiano, além de ser requisito fundamental. Ler a bula de um remédio antes de tomá-lo é pesquisar. Recorrer ao manual de instruções do aparelho de videocassete também. Remexer papéis velhos atrás daquela preciosa receita de bolo é fazer pesquisa. E a eterna dificuldade de consultar um dicionário ou um catálogo telefônico é ou não é uma tarefa de pesquisa? (BAGNO, 2000). Através de um trabalho no campo, os alunos podem vivenciar mais, ter um melhor contato com o grupo. Para os PCN, cabe ao professor orientar os alunos sobre o que e onde observar, de modo que se coletem dados importantes para as comparações que se pretende, pois a habilidade de observar implica um olhar atento para algo que se tem a intenção de ver. Cabe ao professor orientar os alunos sobre o que e onde observar, de modo que se coletem dados importantes para as comparações que se pretende, pois a habilidade de observar implica um olhar atento para algo que se tem a intenção de ver (PCN). A partir de 2004 foi implantado o Programa Nacional do Livro Didático para Ensino Médio (PNLEM). Esse programa é responsável pela análise e pela distribuição gradativa de livros. Assim, além da necessidade de uma avaliação, tanto de forma quanto de conteúdo, é 52 necessária uma política de valorização do magistério, para que a escolha e utilização do livro sejam fundamentadas nas competências de professores bem preparados. Maranhão (2000) chama a atenção para a formação dos professores, pois há uma relação entre o nível de escolaridade do professor e o do desenvolvimento do aluno. Segundo Alves et al. (2006), o filo Arthropoda desperta grande interesse, tanto dos professores como dos alunos, fascinando pela beleza, diversidade de espécies e pelas relações diretas e indiretas estabelecidas com o homem. Destacam-se a utilização dos crustáceos na alimentação, os acidentes caseiros com aracnídeos e insetos, além da importância ecológica e econômica dos insetos como: agentes de controle biológico, polinizadores, pragas da agropecuária e vetores de doenças. O conhecimento e a compreensão das relações que os representantes deste filo estabelecem com o homem são fundamentais para uma boa qualidade de vida, uma vez que este conteúdo é repleto de informações aplicáveis no cotidiano. Observa-se, entretanto, com freqüência, a ocorrência de crianças e adultos com conceitos equivocados e, muitas vezes, associados às crendices populares. (ALVES et al., 2006). 53 5. METODOLOGIA Para a investigação das estratégias de abordagem de ensino do filo Arthropoda para estudantes do ensino fundamental, foram escolhidas quatro escolas da Rede Pública, localizadas no município de Alvorada, RS; duas escolas particulares, uma em Alvorada e outra em Porto Alegre. Em cada escola foi aplicado um instrumento investigativo aos professores e outro aos estudantes da 6ª série do ensino fundamental. Também foram analisados livros didáticos, a fim de estabelecer os principais enfoques dos mesmos com relação à abordagem do grupo Arthropoda. 5.1 Instrumento de investigação Foram aplicadas duas fichas investigativas, uma ao corpo docente e outra ou corpo discente de cada escola. O questionário dos professores apresentou perguntas qualitativas e objetivas, contendo um total de dez questões (anexo 1). Enquanto o dos alunos continha seis questões objetivas (anexo 2). 5.2. Amostragem de indivíduos Em cada escola foram escolhidos, por amostragem aleatória, grupos de 10 alunos (5 do sexo masculino e 5 do sexo feminino). Para cada grupo escolhido efetuou-se a investigação também ao seu respectivo professor de ciências. Os professores e os alunos foram 54 entrevistados em separado, de modo a não haver qualquer interferência durante a aplicação dos questionários. 5.2.1 Período de coleta de dados O instrumento investigativo foi aplicado no período que compreendeu 3 semanas, tendo início em 4 de maio de 2009 e término em 22 de maio de 2009. Os dados coletados foram tabulados em planilhas do programa Excel para análise dos resultados, bem como elaboração de tabelas e gráficos comparativos. 5.3 Análise em livros didáticos Para este estudo foram analisados em 8 livros didáticos de ciências autorizados pelo PNLD, que são utilizados nas redes pesquisadas a forma de abordagem do conteúdo Arthropoda. Para cada livro analisado verificou-se a presença de ilustrações adequadas e informações adicionais. Foi considerada ainda a ênfase dada ao filo e suas classes, considerando-se aspectos ecológicos, benefícios e malefícios de cada grupo. 5.4 Proposta Pedagógica Pode-se confirmar através deste trabalho a falta de utilização de metodologias alternativas por parte dos professores, principalmente a vivências práticas. Fato este que pode ter influenciado o baixo conhecimento dos alunos quanto a aspectos taxonômicos e ecológicos do Filo Arthropoda. 55 Em face desta constatação, elaborou-se uma metodologia experimental para a abordagem do filo, a qual compreende a confecção de uma gaveta didática de artrópodes. No intuito de prover subsídios a uma aula dinamizadora, de forma a oportunizar ao aluno a construção de seu próprio conhecimento. Segundo os PCN, através de um trabalho no campo, os alunos podem vivenciar mais, ter maior contato com o filo. Cabe ao professor orientar os alunos sobre o que e onde observar, de modo que se coletem dados importantes para as comparações que se pretende, pois a habilidade de observar implica um olhar atento para algo que se tem a intenção de ver. Se os entendimentos dos alunos decorrem de sua experiência de vida, o mesmo acontece com o educador. Daí a tarefa avaliativa ser uma verdadeira charada. Ou seja, há diferentes maneiras do aluno compreender o professor, a matéria, o que a escola lhe pede; há diferentes maneiras do professor compreender o aluno, pelo seu maior ou menor domínio em determinadas áreas de conhecimento, expectativas predeterminadas. (HOFFMAN, 2003). Uma aula não deve ser apenas uma aula, deve ser um conjunto de lições cotidianas, deve fazer parte de um contexto interdisciplinar e disciplinar, deve ser dinamizadora e criativa e fornecer subsídios ao aluno para que construa seu próprio conhecimento. Segundo os PCN, através de um trabalho no campo, os alunos podem vivenciar mais, ter maior contato com o filo. Cabe ao professor orientar os alunos sobre o que e onde observar, de modo que se coletem dados importantes para as comparações que se pretende, pois a habilidade de observar implica um olhar atento para algo que se tem a intenção de ver. 5.4.1 Gaveta Didática de Artrópodes 5.4.1.1 Importância do projeto Precisamos mudar as nossas concepções e vermos o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes, mostra como a ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida. (CAPRA, 1996) 56 Segundo Wolff (2008), a percepção ecológica deve tornar-se parte da consciência cotidiana, emerge um sistema de ética radicalmente novo. Essa ética ecológica profunda é urgentemente necessária nos dias de hoje, especialmente na ciência, uma vez que a maior parte daquilo que os cientistas fazem não atua no sentido de promover a vida nem de preservá-la, mas sim no sentido de destruir a vida. 5.4.1.2 Projeto – Gaveta Didática de Artrópodes Este projeto tem por objetivo a elaboração de gavetas didáticas, a fim de mostrar aos alunos a importância dos artrópodes para o meio ambiente. O projeto, baseado em Wolff (2008), enfatiza a coleta, montagem e consevação de artrópodes, nas gavetas. Além dos artrópodes alfinetados deverão ser colocadas fotos e informações da biologia, distribuição geográfica, curiosidades e outros elementos como, por exemplo, plantas hospedeiras secas. Este projeto será realizado com alunos do Ensino Fundamental, este grupo de alunos no turno inverso ao horário da aula terá na escola um mini-curso, que terá duração de aproximadamente oito horas (dois dias), eles aprenderão a identificar e diferenciar os artrópodes, também conhecerão as principais classes e algumas ordens, sua importância para o meio ambiente, e a relação entre artrópode e homem. Quando aptos, serão levados a campo (em um terreno baldio próximo à escola ou no pátio da escola), com auxílio do professor, realizarão uma coleta de artrópodos, com a qual montarão as gavetas. Segundo GALLO (2002) os artrópodes são encontrados nos mais variados habitats. Em pouco tempo pode-se coletar uma quantidade apreciável. As coletas são pontos de partida para uma coleção; portanto, é necessário que os insetos sejam coletados em perfeitas condições. Durante as coletas deve-se levar um caderno para anotar dados (local, habitát, data, etc) sobre os insetos coletados. No laboratório da escola, até mesmo uma sala de aula os alunos farão a triagem do material coletado, os artrópodes coletados deverão ser analisados pelos alunos através de uma lupa, para melhor visualização e também farão a identificação da classe coletada. Após farão o levantamento das classes coletadas, através de pesquisas em livros e internet. A gaveta será de madeira ou chapa, no fundo terá uma folha de isopor, forrada com um papel colorido, para chamar a atenção (fig. 18). O artrópode será alfinetado e identificado, quanto a data e local de coleta, e ficará exposto na gaveta, está deverá conter também 57 informações sobre aquela ordem alí presente na caixa, ou seja, todos os dados pesquisados pelos alunos. E também para complementar pode-se colocar outros materiais, como por exemplo uma folha de que o inseto coletado se alimenta, ou até algum produto produzido pelo inseto e comercializado pelo homem. A gaveta terá também curiosidades a respeito do animal coletado. Figura 18.a. Imagem da Gaveta Entomológica Didática confeccionada no Museu Ramiro Gomes Costa. Figura 18.b. Detalhe do Ciclo de vida da Bombyx mori - Imagem da Gaveta Entomológica Didática confeccionada no Museu Ramiro Gomes Costa. 58 5.4.1.2.1 Técnicas de Coleta e Conservação Será utilizado como recurso para desenvolver este trabalho dois equipamentos: a rede de varredura e o guarda chuva entomológico. Rede de Varredura: esta rede é utilizada na captura de insetos, mas serve também para coletar qualquer artrópode que vive junto à vegetação rasteira ou semi-arbustiva dos campos, das margens dos rios clareiras, etc. O método permite a coleta de um bom número de exemplares, além de uma boa diversidade. O equipamento é formado por um aro de metal relativamente circular (diâmetro de 30 a 35 aproximadamente). Este sustenta um saco de pano, com forma cônica, preso em um cabo de madeira ou alumínio (AZEVEDO, 2005). A técnica consiste em “varrer” a vegetação rasteira ou herbácea, ou seja, a rede deve ser passada rente às plantas (geralmente gramíneas) no sentido horizontal, sendo levada de um lado para o outro em movimentos firmes de vai e vem, cada coletor deverá fazer 30 varridas no local. O coletor deve se deslocar em torno de 1m a 15m em uma direção, a fim de capturar os insetos. Esta amostra será avançada formando zig-zags pelo terreno. A rede então é fechada, para evitar a fuga de espécimes. O conteúdo da rede deve ser passado para um saco plástico. Guarda chuva entomológico: Também chamado de rede de bater. É utilizado na captura de atrópodes que costumam ficar sobre vegetação arbustiva como os coleópteros (besouros) e hemípteros (percevejos, cigarrinhas). O equipamento é constituído de um pano em forma quadrada, medindo aproximadamente 70 cm de cada lado, em cada um dos cantos do pano, deve haver uma costura reforçada, para fixação de duas hastes de madeira. As hastes devem ser sobrepostas formando um X. O procedimento para utilização deve ser o seguinte: com uma das mãos, o coletor deve segurar o guarda chuva sob os arbustos enquanto golpeia fortemente a planta com um bastão. Os golpes vão provocar a queda sobre o pano, dos insetos que ali estiverem, possibilitando a captura dos exemplares (AZEVEDO, 2005), estes devem ser retirados com o auxílio de um funil (gargalo PET), ou com uma pinça entomológica e após colocados no saco plástico. Cada coletor deverá bater por um tempo de 2 min. 5.4.1.2.2 Manuseio da Coleta Todo material coletado, juntamente com as folhas serão colocados em um saco plástico, cuidar para que esse seja bem fechado. No laboratório os alunos farão a triagem do 59 material, os artrópodes coletados serão colocados em frascos com cianeto, caso a escola interceda ao uso deste composto, será utilizado álcool. É aconselhável remover os animais dentro de uma ou duas horas após terem sido mortos, pois se ficam muito tempo no frasco com a substância tornam-se descorados. 5.4.1.2.3 Montagem e conservação Os artrópodes podem ser montados e conservados de várias formas. A maioria das espécimes é alfinetada e, uma vez secos, duram definitivamente. Espécimes muito pequenos são muito frágeis para serem alfinetados, podem ser montados em triângulos de cartolina, em mini-alfinetes, ou preparados em lâminas para microscopia. Todos devem ser montados, sempre que possível, logo após a coleta, se os deixarem secar, tornam-se quebradiços e podem ser quebrados no processo de montagem. Se estiverem muito secos, devem ser amolecidos antes da montagem. Qualquer lata ou frasco de boca larga, onde se possa impedir a entrada de ar, podem ser usados como câmara de amolecimento; o fundo do frasco é coberto com areia ou pano molhado, os animais são postos no frasco em caixas rasas e abertas e o frasco é hermeticamente fechado. Geralmente estarão amolecidos para montagem após um ou dois dias nesta câmara (BORROR e DELONG). 5.4.1.2.4 Alfinetagem A alfinetagem é a melhor forma para conservar insetos de corpo duro. Alfinetes comuns são indesejáveis para alfinetar os artrópodes; são geralmente muito grossos ou muitos curtos e enferrujam. Os animais devem ser alfinetados com alfinetes entomológicos, pois são de aço. Estes alfinetes podem ser obtidos em várias casas especializadas. Geralmente os animais são alfinetados verticalmente através do corpo (fig. 19). Formas como abelhas, moscas, borboletas e mariposas são alfinetadas através do tórax, entre as bases das asas anteriores; em moscas e vespas é desejável inserir o alfinete um pouco à direita em linha mediana. Percevejos são alfinetados através do escutelo, um pouco à direita da linha mediana se o escutelo for grande. Gafanhotos são alfinetados através da parte 60 posterior do pronoto, logo a direita da linha mediana. Besouros devem ser alfinetados através do élitro direito, cerca da metade entre as duas extremidades do corpo; o alfinete deve passar através do metatórax e emergir do metasterno, para não danificar a bases das pernas. Libélulas são mais bem alfinetadas horizontalmente através do tórax, com o lado esquerdo para cima. O meio mais fácil para alfineta-los é segurá-lo entre o polegar e o indicador de uma mão e inserir o alfinete com a outra. Todos os espécimes devem ser montados em uma altura uniforme no alfinete – cerca de 2,5 cm acima da ponta. A C B D E Figura 19. Métodos para alfinetar insetos. A, espécime em vista lateral mostrando o método de alfinetar gafanhotos; os pontos pretos nas outras figuras mostram a localização do alfinete no caso de moscas (B), percevejos (C), gafanhotos (D), e besouros (E). Segundo Borror e Delong, 1988. 5.4.1.2.5 Montagem de artrópodes pequenos Artrópodes muito pequenos para serem alfinetados podem ser montados em uma ponta de cartolina, em um mini-alfinete (fig. 20). Os triângulos são feitos em papelão leve ou celulóide, com cerca de 8 a 10 milímetros de comprimento e 3 ou 4 milímetros de largura na base; o triângulo é alfinetado através da base e o animal é colocado na extremidade da ponta. Colocar o animal no triângulo é um processo muito simples. O triângulo é colocado no alfinete, o alfinete é segurado pela extremidade pontiaguda e o lado superior da extremidade do triângulo é tocado pela cola. Deve-se usar o mínimo de cola possível (para que as partes do corpo não sejam cobertas por ela) e o espécime deve ser corretamente orientado na ponta. 61 Figura 20. Método para montagem de artrópodes pequenos. A, percevejo na ponta de um triângulo, lado dorsal para cima; B, mosca no triângulo, lado esquerdo para cima; C, besouro montado com o lado dorsal para cima, preso no seu lado, à extremidade da ponta do triangulo dobrada para baixo; D, mosquito montado em um mini-alfinete. 5.4.1.3 Resultados Esperados da Gaveta de Artrópodes Didática As gavetas entomológicas didáticas ficarão no laboratório da escola, com o objetivo de ser utilizada como recurso didático pelos professores em suas aulas de ciências para o ensino fundamental e biologia para o ensino médio. Em feiras de ciências espera-se que elas sejam expostas, para a visualização de todos. Dependendo do inseto coletado, caso este seja um vetor, os alunos devem orientar a comunidade com informações sobre este através da gaveta entomológica didática e também distribuir cartazes pela escola com as mesmas informações que estiverem na gaveta, para que toda comunidade escolar possa ver. Espera-se com este trabalho que os alunos mudem sua visão a respeito dos artrópodes, mesmo aquele que já gosta este tipo de trabalho só tem a acrescentar, pois serve para aprofundar o conteúdo visto em sala de aula. 62 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa ocorreu em quatro escolas públicas, duas particulares e um EJA (educação para jovens e adultos) particular. Foram entrevistados 10 professores (sendo 7 de escolas públicas, 3 de escolas particulares). Além de 210 alunos, compreendendo 130 da rede pública, 40 da rede particular. Para apresentação dos resultados as escolas da rede privada foram representadas pelas letras A e B; e da rede pública pelas letras C, D, E e F. Todos os professores entrevistados pertenciam ao sexo feminino, com idade entre 30 e 45 anos. A maioria leciona outras disciplinas além de ciências. Nas escolas públicas, três também lecionam matemática e dois química. Nas escolas particulares, um também leciona química e no EJA um também leciona matemática e um química (tab. 2). Todos os professores da rede particular também lecionam em escolas públicas. A carga horária semanal, de cada professor, variou entre 40 a 60 horas (fig. 19). 6.1 Titulação dos Professores _ Escolas Particulares Escola A – Licenciatura curta em Ciências, Físicas e Matemática e licenciatura plena em Química. 63 Escola B – Foram entrevistadas duas professoras, ambas com Ensino Superior Completo em Biologia – habilitação em licenciatura. _ Escolas Públicas Escola C – Foram entrevistadas duas professoras, uma com Ensino Superior Completo em Matemática, e a outra Com Ensino Superior Incompleto, cursando Ciências Biológicas – habilitação em licenciatura. Escola D – Foram entrevistadas duas professoras, uma com Ensino Superior Incompleto, cursando Matemática. E a outra com graduação em Licenciatura Curta: Ciências, Física e Matemática. Escola E – Foram entrevistadas duas professoras, uma com graduação em Licenciatura Curta: Ciências, Física e Matemática; e a outra com graduação em Ciências Biológicas – habilitação em licenciatura. Escola F – Foi entrevistada uma professora com Ensino Superior em Ciências Biológicas – habilitação em licenciatura. 6.2 Perfil dos Alunos Os alunos entrevistados do ensino regular tinham idade entre 11 e 13 anos, sendo que 23 alunos da rede pública eram repetentes da 6ª série. 64 LEVANTAMENTO DO PERFIL PROFISSIONAL DOS PROFESSORES Professor Formação Leciona Carga horária Pública/ Privada Tempo de Magistério Química/Ciências 50h Ambas 25 anos 1 Licen. curta em Ciências, Físicas e Matemática e licen. plena em Química. 2 Ensino Superior Completo em Biologia Ciências 40h Privada 4 anos 3 Ciências 60h Ambas 7 anos 4 Ensino Superior Completo em Biologia Ensino Superior completo em Matemática Matemática/Ciências 40h Pública 15 anos 5 Ensino Superior Incompleto, Ciências 40h Pública 3 anos 6 Ensino Superior Incompleto, Matemática/Ciências 40h Pública 5 anos 60h Pública 20 anos Química/Ciências 60h Pública 17 anos Matemática/Ciências 60h Ambas 11 anos Ciências 40h Pública 8 anos cursando Ciências Biológicas 7 8 9 10 cursando Matemática Ensino Superior completo licen curta em Ciências, Físicas e Matemática. Ensino Superior completo licen. curta em ciências, física e matemática. Ensino Superior em Ciências Biológicas Ensino Superior em Ciências Biológicas Química/Ciências Tabela 2. Levantamento do perfil profissional dos 10 professores entrevistados (1 – 3: professores entrevistados nas escolas privadas, 4 – 10: professores entrevistados nas escolas públicas). Carga horária semanal dos professores 42 % 60 horas 40 horas 58% Figura 21. Carga horária cumprida semanalmente pelos professores. 65 6.3 Instrumento Investigativo Segue abaixo os resultados dos questionamentos aplicados a professores e alunos da rede pública e privada de ensino. De modo a facilitar a comparação entre as respostas de docentes e discentes, optou-se por indicar com “P” as questões aplicadas aos professores e com “A” as aplicadas aos alunos. Abaixo das quais estão as respectivas respostas. P - Como é trabalhado o conteúdo Arthropodes? Todos os professores utilizam Quadro-Giz, 14% também fazem uso do retro-projetor, 29% de DVD e 86% de livros didáticos (fig. 22). A - Quais métodos seu professor utiliza para abordar o conteúdo Artrópodes? Os alunos afirmaram que todos os seus professores utilizam Quadro-Giz, e além deste, 8% retro-projetor, 15% DVD e 97% livros didáticos (fig. 23). Como é trabalhado o conteúdo Arthropodes? 120,00 100 100,00 86 80,00 60,00 40,00 29 14 20,00 0 0 Figura 23. Percentual de utilização de recursos didáticos. ro s Li v DV D Ví de o Sh ow Da ta ro j P Re tr o Q ua dr o G iz et or 0,00 66 Quais métodos seu professor utiliza para abordar o conteúdo Artrópodes? 120 100 97 100 80 60 40 15 20 8 0 0 Li vr os DV D Ví de o Sh ow Da ta Pr oj Re tr o Q ua dr o G iz et or 0 Figura 24. Percentual de percepção dos alunos quanto à utilização de recursos didáticos pelos professores. De acordo com os dados observados nos gráficos 23 e 24 Observa-se que houve prevalência da utilização de quadro-giz e livros didáticos. Porém, Cabe ao professor utilizar todos os recursos que a escola dispõe, sabe-se que as escolas normalmente adotam livros didáticos, especialmente as públicas, que os recebem do governo. Data show é uma novidade nas escolas, todas as escolas entrevistadas já possuem este recurso, inclusive as públicas. Durante a entrevista com os professores muitos relataram que tem vontade em utilizar este recurso, mas não o fazem por que a escola não autoriza para este tipo de aula. Uma professora relatou que para utilizá-lo a escola solicita um projeto prévio, o qual mesmo sendo encaminhado, não há disponibilização do recurso. Através do relato acima, constata-se que a escola pode ter um papel desmotivador para a criatividade do professor, pois, como no caso específico, não permite o uso de datashow para as aulas. P – Você acha que os alunos estão tendo uma boa assimilação do conteúdo? 67 Verificou-se que segundo a visão dos professores, os alunos estão assimilando de forma satisfatória o conteúdo uma vez que todos os entrevistados responderam afirmativamente a esta questão. A – Relacione o animal (aranha, mosquito, abelha, borboleta, escorpião, camarão, carrapato, siri, louva-a-deus, piolho, formiga, besouro) com o seu grupo (inseto, aracnídea, crustáceo, não sei/ não conheço) – fig. 25, 26 e 27. Margem de acertos nas escolas particulares referente à associação entre o organismo e sua respectiva classe Aranha 78 90 Mosquito 100 Abelha 100 Borboleta escorpião 88 100 Camarão Carrapato Siri 100 100 Louva-a-deus Piolho 90 68 20 65 Formiga Besouro Figura 25. Percentual de acertos quanto às classes de artrópodes – associação entre o animal e sua classe. 68 Margem de acertos nas escolas públicas referente à associação entre o organismo e sua respectiva classe 55 65 98 85 78 95 95 aranha mosquito abelha borboleta camarão siri formiga Figura 26. Percentual de acertos quanto às classes de artrópodes – associação entre o animal e sua classe. Margem de erro nas escolas públicas referente à associação entre o organismo e sua respectiva classe 75 77 56 90 85 carrapato louva-a-deus escorpião piolho besouro Figura 27. Percentual de erros quanto às classes de artrópodes – associação entre o animal (carrapato, louva-a-deus e escorpião) e sua respectiva classe. 69 Dados obtidos através da entrevista com os alunos demonstram que a assimilação ainda mostra deficiências para alguns grupos. Podemos observar isso nos gráficos 25, 26 e 27, onde muitos – da rede pública – não souberam associar o animal (louva-a-deus, piolho, besouro, escorpião e carrapato) a sua respectiva classe. Observa-se também que nesta questão houve diferença na margem de acertos entre escolas particulares (fig. 25) e públicas (fig. 26). Constatou-se que as escolas públicas apresentaram maior índice de erro, principalmente em relação a carrapato, louva-a-deus e escorpião (fig. 27). Dados do ENEM apontam grande disparidade entre escolas públicas e particulares. O resultado geral do ENEM 2007 é de médias altas, mas continua denunciando que a qualidade do ensino brasileiro em rede pública é inferior à da rede particular. Em todos os Estados, sem exceção, os alunos de escolas privadas tiveram médias melhores na parte objetiva que os das públicas, que encaram o exame como um vestibular. Alguns dos animais apontados na margem de erro são do convívio dos alunos, algo que eles vêem com frequência, mas mesmo assim nunca se deteram em apontar as diferenças, ter ciência a que grupo pertence. Falha muitas vezes dos professores, pois este conteúdo não exige muitos recursos, no próprio pátio da escola encontram-se diversos arthropodes, que podem ser levados para sala de aula e analisados. A – Com relação aos seguintes animais: aranha, mosquito, abelha, borboleta, escorpião, camarão, carrapato, siri, louva-a-deus, piolho, formiga, centopéia. Responda se você acha que ele é peçonhento, benéfico, ou não sabe. Nesta pergunta os alunos opinaram respondendo se animais citados eram benéficos, peçonhentos ou não sabiam (fig. 27 e 28). A mesma pergunta também verificou a afinidade dos alunos com estes animais (fig. 29 e 30). 70 Conceito dos alunos da rede pública sobre representantes do Filo Arthropoda 18 25 9 80,00 37 NÃO SEI BENÉFICO PEÇONHENTO 57 74 91 98 82 92 10 0 91 88 10 0 89 60,00 40,00 22 9 17 2 10 8 9 100,00 10 11 120,00 42 20,00 m ig a ce nt op éi a ho fo r pi ol si ri aade us lo uv ar an ha m os qu ito ab el ha bo rb ol et a es co rp iã o ca m ar ão ca rr a pa to 2 0,00 Figura 27. Percentual sobre o conceito que alunos da rede pública têm, quanto aos animais peçonhentos, benéficos, ou se eles não sabem o que são. Conceito dos aluno Conceito dos alunos da rede privada sobre representantes do Filo Arthropoda Peçonhento 75 15 93 65 10 0 90 98 98 93 78 93 10 0 Benéfico 23 15 Lo Si ri uv aade us Pi ol ho Fo rm ig a Ce nt op éi a Ar an ha M os qu it o Ab el ha Bo rb ol et a es co rp iã o Ca m ar ão Ca rra pa to 3 35 20 0 50 Não Sei 60 40 3 8 20 10 3 10 80 8 8 100 13 120 Percentual sobre o conceito que alunos da rede privada têm, quanto aos animais peçonhentos, AFigura – Com28.relação aos seguintes animais: aranha, mosquito, abelha, borboleta, escorpião, benéficos, ou se eles não sabem o que são. 71 camarão, carrapato, siri, louva-a-deus, piolho, formiga, centopéia. Responda se você gosta, não gosta, ou não sabe/ não conhece. Nesta pergunta os alunos deram sua opinião sobre os animais sugeridos. Afinidade dos alunos da rede pública com representantes do Filo Arthropoda 120 5 100 6 6 15 80 64 94 40 35 38 29 13 12 10 fo rm ig a ce nt op éi a o pi ol h s ir lo i uv aade us ca rra pa to ar ão ca m ab el ha os qu it o 77 88 85 23 0 m ar an ha 94 36 6 46 100 95 20 0 59 100 bo rb ol et a es co rp iã o 60 15 48 NÃO CONHEÇO NÃO GOSTO GOSTO Figura 29. Percentual de afinidade com os alunos da rede pública com os animais mencionados. Afinidade dos alunos da rede privada com representantes do Filo Arthropoda 90 10 80 90 10 0 70 80 0 78 93 40 10 10 0 80 60 70 80 10 20 8 100 8 3 120 20 a nt op éi a Ce rm ig ho ol Pi us ri uv aade Lo Si o at rra p Ca m ar ão Ca ão co rp i es Bo rb o le ta ha el Ab it o qu os M Ar an ha 0 Fo 23 20 20 30 20 Figura 30. Percentual de afinidade com os alunos da rede pública com os animais mencionados P – Você costuma verificar as impressões que os alunos “já trazem” de casa? Não Conheço Não Gosto Gosto 72 Todos os professores entrevistados responderam que verificam tais impressões. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, tem-se consciência do quanto é importante verificar o que o aluno já sabe a respeito do conteúdo que vem a ser trabalhado, suas vivencias, e se ele tiver alguma noção a respeito do que vem a ser trabalhado, facilitará muito no processo ensino-aprendizagem. Sugere-se que o professor indague o aluno antes de passar o conteúdo, para ter consciência do que o aluno já sabe a respeito. P – É feito algum trabalho de interdisciplinaridade com este tema? Constatou-se que nenhum professor realiza trabalho de interdisciplinaridade. O fato dos professores não realizarem atividade de interdisciplinaridade não confere com as recomendações de Queluz, 2000 que afirma que a interdisciplinaridade diz respeito à interação entre disciplinas relacionadas ou não, através de programas de ensino ou pesquisa, com o objetivo de: interrelacionar ou coordenar conceitos, métodos e conclusões, convergência e interação. Esta negligência pode inclusive explicar a falta de interesse dos alunos pelo conteúdo. Pode-se afirmar que, de maneira geral, é grande a preocupação dos educadores com a atomização do conhecimento existente nos currículos escolares, que produz uma visão fragmentada do real, desvinculada de um contexto histórico e distanciada da realidade na qual o aluno vive. Educadores, sociólogos e epistemólogos têm analisado essa questão sob diferentes perspectivas e trazido importantes contribuições no que diz respeito à interdisciplinaridade, visualizando-a como uma possibilidade de superação dessa fragmentação do conhecimento, tanto em nível de currículo como de pesquisa. Todas as disciplinas podem envolver este conteúdo, só depende do professor tornar isso possível. Pois A interdisciplinaridade é um processo que ocorre todo dia, mesmo sem que o professor tenha consciência, mesmo um professor de português ao trabalhar um texto, de matemática através de problemas aritméticos, de geografia com a agricultura, poderiam envolver o conteúdo artrópode. Este evento, nada mais seria do que a simples aplicação do que sugerem os PCN. Possivelmente este tipo de atividade ocorreria com maior fluência se as escolas cedessem um tempo para que os professores planejassem suas aulas de modo conjuntos e não de forma fragmentada e isolada. Porém isto se torna pouco aplicável quando 73 se considera a carga horária a qual o professor normalmente possui, conforme demonstrado na figura 1. P – Realiza-se algum projeto, ou alguma aula diferencial para trabalhar este assunto? Através desta pergunta pode-se constatar que nenhum dos professores entrevistados realiza projeto para trabalhar este conteúdo, mas alguns tornam a aula diferencial, com a utilização dos recursos DVD e retro-projetor. Para os Parâmetros Curriculares Nacionais, os projetos de trabalho escolares, embora não tenham tido sua origem na escola, podem aparecer como uma boa alternativa às ações do cotidiano docente, substituindo atividades enfadonhas e repetitivas, nada motivadoras, para estimular a aprendizagem, a colaboração e a participação e envolvimento da comunidade escolar e social, partindo-se de questões reais da vida prática e possibilitando descobertas/heurísticas significativas. Arthropodos são vistos em todos os lugares, é um filo que os alunos têm bastante contato no seu dia-a-dia. Torna-se um assunto fácil para se realizar um projeto, pois faz parte da vivência do aluno. P – Ao trabalhar este tema, costuma abordar aspectos ecológicos, de saúde, ou do cotidiano? Todos responderam que abordam aspectos de saúde – vetores, entre estes 28% também abordam aspectos ecológicos, como polinizadores (fig. 31). A – Quando seu professor trabalha o conteúdo artrópodes, ele costuma abordar aspectos ecológicos, de saúde, ou do cotidiano? Na visão dos alunos 69% afirmaram que os professores costumam abordar aspectos ecológicos, de saúde, ou do cotidiano e 31% disseram que não. Entre os 69% que responderam sim, 73% afirmam que são abordados aspectos ecológicos e 27% aspectos de saúde (fig. 32). 74 Ao trabalhar este tema, costuma abordar aspectos ecológicos, de saúde, ou do cotidiano? 120,00 100,00 100,00 80,00 60,00 28,57 40,00 20,00 0,00 Vetores Polinizadores Figura 31. Percentual do grupo de artrópodes mais enfatizado em sala de aula pelos professores. Quando seu professor trabalha o conteúdo artrópodes, ele costuma abordar aspectos ecológicos, de saúde, ou do cotidiano? 27% Ecologia Saúde 73% Figura 32. Percentual sobre a percepção dos alunos quanto aos aspectos em relação aos artrópodes abordado pelo professor em sala de aula. 75 O fato de uma doença como a dengue e o combate a seu vetor, estar presente com freqüência em campanhas massivas da mídia, pode ter estimulado a prevalência da associação a vetores. Também constatou-se através da análise em livros didáticos, que a maioria dos livros didáticos enfatiza a visão dos artrópodes como vetores. Gallo et al., 1988, afirma que os insetos prejudiciais recebem mais atenção, por este motivo acredita-se que a maioria são vetores ou pragas agrícolas. A maioria das espécies é benéfica para o homem ou para o meio ambiente. Muitos ajudam na polinização das plantas (como as vespas, abelhas e borboletas). O declínio das populações de insetos polinizadores constitui um sério problema ambiental e há muitas espécies de insetos que são criados para esse fim perto de campos agrícolas. Alguns insetos também produzem substâncias úteis para o homem, como o mel, a cera, a laca e a seda. As abelhas e os bichos-da-seda têm sido criados pelo homem há milhares de anos. P – Quais itens você costuma relacionar com artrópodes (em aula): vetores, pragas, polinizadores? Todos entrevistados responderam pragas, 86% também assinalaram vetores e 57% polinizadores (fig. 33). Quais itens você costuma relacionar com artrópodes (em aula): vetores, pragas, polinizadores? 120,00 100 100,00 86 80,00 57 60,00 40,00 20,00 0,00 Vetores Polinizadores Pragas Figura 33. Percentual dos grupos relacionados pelos professores em sala de aula com artrópodes. 76 Provavelmente isso ocorra devido ao fato de insetos causarem anualmente perdas enormes em colheitas agrícolas (ALTIERI, 2003). Segundo o autor muitos os denominam como “pragas”, mal sabendo que apenas 2% são pragas, os outros 98% não se enquadram nessa categoria. Todos os grupos devem ser trabalhados e enfatizados em sala de aula, para que os alunos para que os alunos não associem o filo apenas aquilo que é visto, ou seja, se eles apenas estudarem e tiverem contato com pragas, associaram o filo Arthropoda com pragas. O professor deve desmistificar a idéia de que todo Arthropoda é “praga”. É inegável o fato de que a agricultura implica na simplificação da estrutura do ambiente sobre áreas extensas, substituindo a diversidade natural por um pequeno número de plantas cultivadas e animais domesticados. A simplificação da biodiversidade para fins agrícolas é um ecossistema artificial que requer constante intervenção humana, devido a isso cabe aceitar a importância de estudos referentes a pragas agrícolas, para o controle na agricultura (ALTIERI, 2003). O autor afirma, porém, que um dos motivos mais importantes para manter a biodiversidade dos ecossistemas naturais é que ela é a fonte de todas as plantas e animais utilizados atualmente na agricultura. Toda a gama de plantas domésticas é derivada de espécies silvestres, modificadas através da domesticação. A biodiversidade em agroecossistemas pode ser tão valiosa quanto às várias culturas, plantas invasoras, artrópodes ou microorganismos envolvidos, de acordo com a localização geográfica e fatores climáticos. Para haver a preservação de espécimes, deve haver a divulgação da importância destes para o meio ambiente. Cabe ao corpo docente tornar a preservação possível, sempre informando aos alunos a importância dos artrópodes para o meio ambiente, sempre enfatizando todos os grupos: vetores, polinizadores, pragas, etc. Pois se sabe que através da polinização muitos insetos colaboram com a evolução de alguns vegetais, para Edwards, 1981, o sucesso evolutivo das angiospermas pode ser atribuído; pelo menos em parte a polinização cruzada das plantas, altamente efetiva, feita principalmente por insetos. Segundo Borror (1988), o mundo dos insetos é rico no pitoresco, no incomum e mesmo no fantástico. Uma variedade quase interminável de peculiaridades estruturais e fisiológicas e de adaptações a diferentes condições de vida pode ser encontrada entre estes animais. Muitos insetos são extremamente valiosos para o homem e sem eles a sociedade humana não poderia existir na sua forma presente. Pelas suas atividades polinizadoras, possibilitam a produção de muitas colheitas agrícolas, incluído a maioria das frutas de pomares, as plantas forrageiras muitas verduras, algodão e o tabaco, fornecem-nos mel e cera de abelha, seda e outros produtos de valor comercial; servem de alimento para muitas aves e 77 peixes e outros animais úteis; prestam serviço como predadores; auxiliam a manter animais e plantas nocivas sob controle. P – É realizada alguma aula prática de contato com representantes deste grupo? Nenhum professor realiza aula prática. A – Seu professor realiza alguma aula prática de contato com representantes deste grupo? Todos os alunos responderam negativamente. Acredita-se que o maior desafio segundo o PCN agora não é só passar os conteúdos, mas preparar todos para vida moderna, e a melhor maneira é através da pesquisa e da aula prática. Bagno (2000), afirma que pesquisa é uma atividade que embora não pareça, está presente em diversos momentos do cotidiano, além de ser requisito fundamental. Ler a bula de um remédio antes de tomá-lo é pesquisar. Recorrer ao manual de instruções do aparelho de videocassete também. Remexer papéis velhos atrás daquela preciosa receita de bolo é fazer pesquisa. Estudar Ciências e Biologia é mais divertido do que parece. Na verdade, nosso corpo, nosso ambiente e tudo o que nos cerca é pura Ciência. Aprender sobre os Artrópodes se torna mais interessante com as aulas práticas. Através de um trabalho no campo, os alunos podem vivenciar mais, ter um melhor contato com o grupo. O filo Arthropoda, é amplamente distribuido, não é necessário ir muito longe para se ter contato com representantes deste filo, pode-se levar os alunos até mesmo no pátio da escola para visualizarem e observarem o comportamento dos artrópodes. Para os PCN, cabe ao professor orientar os alunos sobre o que e onde observar, de modo que se coletem dados importantes para as comparações que se pretende, pois a habilidade de observar implica um olhar atento para algo que se tem a intenção de ver. P – Os alunos demonstram maior interesse por algum grupo em especial? Através desta pergunta averiguou-se o interesse dos alunos por algum grupo em especial, onde 70% dos entrevistados disseram que não se interessam por nenhum grupo em especial e 78 30% disseram que Sim. O grupo de professores que responderam sim afirmaram que a maioria se interessa por Aracnídeos (fig. 34). A – Você tem interesse por algum grupo em especial? Na terceira pergunta da ficha investigativa dos alunos verificou se eles têm interesse por algum grupo em especial, dos 210 alunos entrevistados, apenas 12 apresentaram interesse, sendo dois meninos por abelhas, quatro meninos por escorpiões, uma menina por borboletas e por aranhas uma menina e quatro meninos. (fig. 35). Os alunos demonstram maior interesse por algum grupo em especial? 33% escorpiões aranhas 67% Figura 34. Percentagem da percepção dos professores, quanto a afinidade dos alunos com aracnídeos. 79 Você tem interesse por algum grupo em especial? 120 100 6 80 SIM 60 NÃO 42 94 40 33 17 20 8 0 Aranha Escorpião Abelha Borboleta Figura 35. Percentual de alunos que apresentam interesse por algum grupo de artrópodes. Segundo Ruppert e Barnes, 1996, os aracnídeos constituem a maior e, do ponto de vista humano, a mais importante dos quelicerados, estão incluídas muitas formas comuns e familiares tais como aranhas, escorpiões, carrapatos e ácaros. Sugere-se que este interesse pela classe Arachnida tenha influencia da mídia, que os destaca através de documentários e filmes. Além do fato de serem representantes muitas vezes temidos e mistificados pelos familiares. P – Utiliza algum livro didático? Verificou se os professores utilizam algum livro didático. 86% dos professores responderam Sim, 14% responderam Não (fig. 36). 80 UTILIZAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS 90,00 86 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 14 20,00 10,00 0,00 NÃO SIM Figura 36. Percentual de professores que utilizam livro didático. Apesar de todas as escolas adotarem livros didáticos, poucos professores utilizam este recurso. Fato que contraria o PCN, o qual determina que o livro didático seja usado pelos professores, pois o mesmo atua como um facilitador no processo ensino-aprendizagem. Sugere-se, porém, que o livro didático não seja o único recurso utilizado pelo professor, mas que este seja apenas um dos recursos para tornar sua aula diversificada, para despertar o interesse dos alunos. 6.4 Livros Analisados _Ciências e interação, da Autora COSTA (2006), da editora Positivo. Verificou-se que este livro consta bastantes imagens de exemplares com curiosidades ao lado. A autora separou as classes por grupos. A morfologia dos artrópodes não foi abordada. Com relação à abordagem ecológica, a autora não fez referências aos polinizadores, nem as pragas, fato que o torna deficiente. Os vetores foram citados através de textos adicionais sobre o barbeiro e escorpião. Há também um texto sobre como evitar acidentes de modo geral com artrópodes. _ Ciências: a vida na terra, do autor GEWANDSZNAJDER (2007), da editora Ática. Verificou-se que o autor dividiu o filo em 5 classes: Crustáceos, aracnídeos, insetos, diplópodes e quilópodes. Apresenta a morfologia do gafanhoto, camarão, escorpião, aranha e 81 lacraia. O mesmo detalha as peças bucais do gafanhoto, mosquito, borboleta e mosca doméstica. O desenvolvimento direto e indireto dos insetos. Insetos sociais – formigueiro, colméia e cupinzeiro. Com relação à abordagem ecológica o autor faz uma alerta para o uso de agrotóxicos, o mesmo afirma que o uso polui o ambiente e sugere medidas ecológicas. O autor também faz uma alerta aos cuidados de alguns aracnídeos (aranha armadeira, viúva negra, tarântula, escorpião amarelo e marrom) e explica como funciona o Instituto Butantan. Nesta obra não houve referência com relação aos polinizadores. Didaticamente este livro mostrou-se adequado, pois mostra uma visão correta a respeito da ecologia dos artrópodes. A única negativa foi abordar os crustáceos como uma classe, sendo que eles representam um subfilo. _ Ciência e Vida, da autora ANDRADE et al (2007), da editora Dimensão. Constatou-se que este livro foi muito breve na abordagem de artrópodes, todo conteúdo é abordado em três páginas. Nesta obra apenas consta uma tabela dividida em duas colunas – classe e exemplo (imagem do exemplar), onde aparece da seguinte forma: classe insetos, aracnídeos, crustáceos e outras classes. Exemplo – libélula e besouro; escorpião e aranha; lagosta e tatuzinho de jardim; piolho de cobra. Os autores esboçaram um texto adicional: Mudando o curso da História – o texto comenta que até que o uso de inseticida se tornasse frequente muitos soldados morriam de doença de Chagas, febre amarela e dengue. Nesta obra não houve referência alguma com relação a aspectos ecológicos e relação com o homem. Percebe-se que o autor preocupa-se apenas em citar o conteúdo, uma vez que se sabe que este conteúdo é exigência do PCN e PNLD. _ Ciências BJ, dos autores BIZZO E JORDÃO (2006), volume: 2, da editora Brasil. Constatou-se que este livro representa a morfologia dos artrópodes apenas com desenhos do escorpião, pseudo-escorpião, carrapato e aranha; os autores não descrevem as partes morfológicas. Aos aracnídeos os autores descrevem a reprodução das aranhas, o crescimento e a captura de presas. Com relação à abordagem ecológica os autores descrevem as aranhas de interesse médico e comentam para que serve o Instituto Butantan e disponibilizam o site para visita. Com relação aos insetos o livro demonstra a metamorfose direta e indireta; Insetos sociais – cupins, abelhas e formigas. Com relação aos textos adicionais, o livro apresenta textos bem curiosos como por que a aranha não gruda na teia; e o besouro arlequim-da-mata sem querer carrega o peseudo-escorpião para diversos lugares, este 82 aracnídeo se aproveita da carona para buscar outros alimentos; manguezais ameaçados (e caranguejos) devido à construção de casas e prédios, e também os manguezais do Brasil e sua importância de preservação; a doença de Chagas; e o cuidado que as crianças devem ter com os piolhos. Quanto às pragas os autores fazem uma alerta para o uso de agrotóxicos, e defendem o controle biológico e integrado. Sobre a polinização o livro faz um breve comentário quando descreve os insetos sociais e comenta sobre a colméia, mas as outras formas de polinização e sua importância não houve referência. Verificou-se que este livro apresenta uma didática adequada, devido o uso de textos adicionais e muitas imagens, acredita-se que “chama” a atenção dos alunos. Esta obra falhou apenas em não descrever a morfologia dos artrópodes. _ Ciências Naturais, dos autores FONSECA E SANTANA (2007), da editora Saraiva. Este livro não separa os conteúdos, como por exemplo, artrópodes, moluscos, anelídeos, etc. A obra uniu tos os conteúdos quando descreve vetores inclui todos, como aranhas, escorpiões, insetos, répteis, anfíbios, e outros. Com relação aos polinizadores os autores descrevem os insetos. Não consta nesta obra a morfologia dos artrópodes. Os autores também não fazem referências às pragas. Este livro mostra-se confuso, pois não há divisão adequada dos diferentes assuntos. Todo o livro é dividido em dois grandes grupos: animais e plantas. _ Ciências, dos autores CÉSAR, SEZAR e BEDAQUE (2001), 17 edição, da editora Saraiva. Verificou-se que este livro apresenta a classificação geral dos artrópodes, a morfologia está representada através do gafanhoto. Os autores dividem este filo em classes e ordens. O livro também ilustra e explica a metamorfose das moscas. Quanto à utilização de textos adicionais, os autores colocaram apenas um texto sobre a introdução no Brasil da abelha africana e européia. Nesta obra não houve referência alguma com relação a aspectos ecológicos e relação com o homem. Pode-se constatar que esta obra é deficitária em informações sobre o conteúdo artrópodes, pois se apresenta muito tecnicista, uma vez que alunos de 6ª série são muito crianças ainda para compreender as ordens, talvez o livro se tornasse mais atrativo se abordasse aspectos ecológicos. 83 _ Investigando a natureza: ciências para o ensino fundamental, das autoras HERMANSON e JAKIEVIEIUS (2006), da editora IBEP. _ Ciências, das autoras BORTOLOZZO e MALUHY (2005), 2ª edição, da editora escala educacional. Os dois livros referenciados acima, apesar de estarem relacionados para a 6ª série e autorizados pelo PNLD, não apresentam o conteúdo artrópodes. 6.5 Projeto Gaveta Didática de Artrópodes 6.5.1 Dados Obtidos Este projeto iniciou-se no dia 10/06/2009, em uma escola da rede pública, com estudantes da 6ª série. Neste dia houve a apresentação e formação do grupo (12 alunos – 5 do sexo feminino e 7 do sexo masculino). O mini-curso foi dado no dia 16/06/2009, tendo continuidade no dia 23/06/2009. A aceitação dos alunos está sendo considerada ótima. 84 7. CONCLUSÕES Este trabalho teve como principal objetivo investigar a abordagem do filo Arthropoda por parte dos professores de ciências no ensino fundamental e sua relação com a percepção dos alunos. A partir da análise dos resultados, foi possível concluir que: a) Há professores que não possuem formação adequada para trabalhar a disciplina ciências. b) Há carência na utilização de metodologias alternativas por parte dos professores. c) Não são realizadas aulas práticas quando os professores trabalham este filo. d) Na abordagem do filo são enfatizados aspectos negativos e não benéficos do grupo. e)Muitos alunos desconhecem a maioria dos artrópodes e sua real importância para o meio ambiente como polinizadores. f) Os alunos não demonstram interesse em trabalhar com este filo g) Muitos livros didáticos abordam este conteúdo de modo superficial, não dão ênfase aos polinizadores, vetores e controle biológico para pragas. Embora não tenha sido objetivo deste estudo, ficaram evidentes problemas graves na educação, como o exercício da docência em ciências por professores não habilitados. Também ressalta-se como prejudiciais ao processo de ensino e aprendizagem, além da não disponibilização (por parte de escolas) de recursos multimídia para as aulas, a não execução 85 de aulas práticas, as quais auxiliariam na desmistificação e contextualização do objeto de estudo. Exemplos como esses justificam o colapso do sistema de ensino atual, constituído por professores desmotivados, sistemas de gestão omissos e ineficientes. Neste contexto torna-se improvável a formação de alunos conscientes de seu papel na sociedade, aptos a desenvolmerem posturas e valores identificados com a sustentabilidade e preservação da natureza. 86 REFERÊNCIAS ALTIERI, Miguel A. et al. O papel da Biodiversidade no manejo de pragas. São Paulo: Holos, 2003. ANDRADE, Maria Hilda de Paiva et al. Ciência e Vida. Belo Horizonte: Dimensão, 2007. AZEVEDO FILHO, Wilson S.; PRATES JUNIOR, Paulo H. S. Técnicas de coleta e identificação de insetos. 2 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005 BAGNO, Marcos. 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Idade: q NÃO q SIM (Quais disciplinas?) II. Informações profissionais _________________________________________ Quantos anos leciona? 5. Realiza-se algum projeto, ou alguma aula Quais disciplinas leciona? diferencial para trabalhar este assunto? Quantas turmas e séries você tem? q NÃO Qual a carga horária semanal? Trabalha em escola pública ou privada (ou q SIM (descreva) _________________________________________ ambas)? 6. Ao trabalhar este tema, costuma abordar Quais turnos você leciona? aspectos ecológicos, de saúde, ou do cotidiano? q NÃO III. Instituição de Ensino q SIM (qual procura dar maior ênfase?) Graduação: q Ensino superior completo licenciatura 7. Quais dos itens abaixo você costuma relacionar plena em Ciências Biológicas q Ensino superior completo licenciatura curta em Ciências, Físicas e Matemática. q Outro. Qual? ________________ Cursos de Especializações/pós-graduações: III. Pesquisa Marque X na(s) alternativa(s) que melhor se enquadra na sua resposta 1. Como é trabalhado o conteúdo Artrópodes? q Quadro giz q Retro projetor q Data show q Vídeo q DVD q Livros 2. Você acha que os alunos estão tendo uma boa assimilação do conteúdo? q NÃO _________________________________________ com athropodos (em aula)? q Vetores q Pragas q Polinizadores 8. É realizada alguma aula prática de contato com representantes deste grupo? q NÃO q SIM 9. Os alunos demonstram maior interesse por algum grupo em especial? q NÃO q SIM (Qual?__________________) 10. Utiliza algum livro didático? q NÃO q SIM (Qual?___________________________________) 91 APÊNDICE B – Ficha investigativa dos alunos 92 APÊNDICE B – Ficha investigativa dos alunos FICHA INVESTIGATIVA Nome da Escola:__________________________ Série:________ Turno:__________ Idade:________ Repetente desta série: NÃO SIM Sexo: Masculino Feminino 1. Quais métodos seu professor utiliza para abordar o conteúdo Artrópodes? (pode marcar mais de uma alternativa) Quadro giz Retro projetor Data show Vídeo DVD Livros 5.Relacione o animal ao seu grupo seguindo a legenda. GRUPOS: I: inseto A: aracnídea C: crustáceo N: não sei/ não conheço ANIMAL aranha mosquito abelha borboleta escorpião camarão carrapato siri louva-a-deus piolho formiga besouro GRUPO 6.Para cada animal caracterize: B: benéfico P: peçonhento/ venenoso N: não sei/ não conheço Dê sua opinião referente a cada animal abaixo. G = gosto NG = não gosto N: não sei/ não conheço 2.Seu professor realiza alguma aula prática de contato com representantes deste grupo? NÃO SIM 3.Você tem interesse por algum grupo em especial? NÃO SIM (Qual?__________________) 4.Quando seu professor trabalha o conteúdo artrópodes, ele costuma abordar aspectos ecológicos, de saúde, ou do cotidiano? NÃO SIM (qual?_________________) ANIMAL aranha mosquito abelha borboleta escorpião camarão carrapato siri louva-a-deus piolho formiga centopéia CARACTERÍSTICA OPINIÃO 93