281 Original Infecções Hospitalares em pacientes submetidos à Clipagem de Aneurisma internados na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Getúlio Vargas na Cidade de Manaus-AM Hospital Infections in patients undergoing aneurysm clipping admitted to the Intensive Care Unit of the University Hospital Getúlio Vargas in Manaus–AM Amanda Cardelis Lins1 Grafe Oliveira Pontes2 Márcia Melo Damian3 RESUMO ABSTRACT Objetivo: Analisar a ocorrência e distribuição de infecções hospitalares (IH) decorrentes e desenvolvidas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em 57 pacientes submetidos à clipagem de aneurisma cerebral em um Hospital Universitário, na cidade de Manaus entre os anos de 2005 e 2010. Metodologia: Estudo descritivo, retrospectivo com dados coletados das fichas de controle de Infecção Hospitalar; análise descritiva mediante distribuição de freqüência, e emprego do teste qui-quadrado para verificar presença de associações. Resultados: Foram registrados 22 episódios de IH neste grupo de pacientes (21,8%). Houve predomínio da infecção do trato urinário, seguida da pneumonia e em menor proporção as infecções do sistema nervoso central. Dentre os microrganismos isolados os mais prevalentes foram Staphylococcus epidermidis e Escherichia coli. Conclusão: O estudo traça um perfil das infecções no paciente neurocirúrgico, e pode contribuir para elaborações de protocolos de prevenção de IH nesta população. Objective: To analyze the incidence and distribution of hospital infections (HI) deriving and developed in the Intensive Care Unit (ICU) in 57 patients undergoing cerebral aneurysm clipping in a University Hospital in Manaus between the years 2005 to 2010. Methodology: Descriptive and retrospective study with data collected from the records of the Hospital Infection Control; descriptive analysis by frequency distribution, and the usage of the chi-square test to check the presence of associations. Results: 22 episodes of IH were recorded in this group of patients (21.8%).There was a predominance of urinary tract infection, followed by pneumonia and to a lesser extent central nervous system infections. Among the isolated microorganisms, the most prevalent were Staphylococcus epidermidis and Escherichia coli. Conclusion: The study draws a profile of infections in neurosurgical patients in the studied series in Manaus, and can contribute to elaborate IH prevention protocols in this population. Palavras Chave: Aneurisma Cerebral; Clipagem; Infecção Hospitalar. Keywords: Cerebral Aneurysm; Clipping; Infection. 1Enfermeira Residente Multiprofissional - Neurointensivista, Hospital Universitário Getúlio Vargas, Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus-AM, Brasil. Farmacêutico-Bioquímico, Mestre em Biologia - Universidade Nilton Lins, Manaus-AM, Brasil. 3 Médica Infectologia, Dra. Doenças Tropicais e Infecciosas - Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, FMT-HVD, Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus – AM, Brasil. 1 2 Recebido em 10 de julho de 2012, aceito em 12 de setembro de 2012 Lins AC, Pontes GO, Damian MM. - Infecções Hospitalares em pacientes submetidos à Clipagem de Aneurisma internados na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Getúlio Vargas na Cidade de Manaus-AM J Bras Neurocirurg 23 (4): 281-287, 2012 282 Original I ntrodução Infecção Hospitalar (IH) é aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifesta durante a internação ou após a sua alta hospitalar, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares2. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2000) define que IH geralmente está relacionada à flora bacteriana humana, que se desequilibra com os mecanismos de defesa do organismo, em virtude da doença, dos procedimentos invasivos e do contato com a flora hospitalar17. A ocorrência de infecções hospitalares tem sido reconhecida como grave problema de saúde pública no mundo, sendo a principal causa de iatrogenia no indivíduo hospitalizado e submetido a intervenções curativas. Isto representa um paradoxo conceitual no sistema de saúde onde uma doença é gerada quando se busca a cura de outra9. A IH representa uma condição grave que influencia na morbimortalidade dos pacientes que permanecem internados. Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), os pacientes encontramse imunodeprimidos, acamados por um longo período, com doenças graves às vezes necessitando de monitoramento invasivo e uso de antibióticos de largo espectro, tornandoos mais suscetíveis à seleção de germes multiresistentes e, portanto, aumentando o risco de adquirir estas infecções3, 14. Dentre as inúmeras condições dos pacientes assistidos nas UTIs, encontram-se os pacientes neurocríticos, e, neste grupo incluem-se os portadores de aneurisma cerebral que serão submetidos à clipagem 1, 18. Os aneurismas intracranianos são malformações saculares, que se formam devido à presença de uma deficiência congênita da parede da artéria cerebral, com uma evaginação progressiva da íntima. Ao lado dos aneurismas congênitos, podemos encontrar os saculares, fusiformes em geral ateroscleróticos, micóticos e traumáticos8. O tratamento dos aneurismas cerebrais pode ser conservador ou intervencionista. A intervenção pode ocorrer através da clipa­ gem neurocirúrgica do aneurisma, que é o tratamento clássico, ou através da embolização endovascular, uma técnica relativa­ mente recente19. O clipe tem sido utilizado com sucesso na cirurgia cerebrovascular há décadas. Em 1911, Harvey Cushing produziu o que era para se tornar o primeiro clipe vascular, conhecido como “o clipe de prata” ou também chamado de Clipe de Cushing. No entanto, este dispositivo foi realmente usado para grampear um aneurisma pela primeira vez somente em 1937 por Walter Dandy, permitindo aos cirurgiões excluir um aneurisma seletivamente da circulação colateral5. Os avanços na neurocirurgia e no tratamento intensivo, incluindo ênfase na aplicação imediata de clipes aneurismáticos e terapia agressiva para vasoespasmo, proporcionaram sobrevida maior nas três últimas décadas, com redução na mortalidade nos casos de aproximadamente 50% para 3%. Uma vez clipado o aneurisma, o foco passa para o monitoramento e o tratamento do vasoespasmo e de outras complicações secundárias20. Nos anos 80, os neurocirurgiões começaram a abandonar a prática tradicional de retardar a cirurgia por algumas semanas após a ruptura do aneurisma, em favor da clipagem imediata nas primeiras 48 a 72 horas. Essa mudança na prática tornouse possível com os avanços em técnicas mais seguras, sendo então estendida a todos os pacientes. Portanto, o aneurisma assim que diagnosticado, deve ser tratado e seu pós-operatório deve ser realizado prioritariamente na UTI4. Assim, em virtude das peculiaridades apresentadas pela assistência oferecida aos pacientes internados nas UTIs em pós-operatório de clipagem de aneurisma, é importante que se estabeleça um perfil da UTI em relação às IH11, 21. No Brasil, dados sobre infecção hospitalar são pouco divulgados. Além disso, esses dados não são consolidados por muitos hospitais, o que dificulta o conhecimento da dimensão do problema no país17. No Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), os principais sítios de IHs na UTI durante os anos de 2005 a 2010, segundo dados do Serviço da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), demonstram ser a pneumonia e a infecção do trato urinário as mais prevalentes, alcançando percentuais que variaram de 24,4% a 50,0% e 9,6% a 27,0%, respectivamente, condições patológicas observadas com frequência em UTI e descritas por Gusmão et al. (2004)6. Assim, apesar das lacunas existentes entre as informações, as IHs estão entre as seis principais causas de óbito no Brasil, ao lado das doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias e doenças infecciosas14. Lins AC, Pontes GO, Damian MM. - Infecções Hospitalares em pacientes submetidos à Clipagem de Aneurisma internados na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Getúlio Vargas na Cidade de Manaus-AM J Bras Neurocirurg 23 (4): 281-287, 2012 283 Original Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo analisar a ocorrência e a distribuição de infecções hospitalares desenvolvidas na UTI do HUGV em pacientes submetidos à clipagem de aneurisma cerebral no período de 2005 a 2010. Considerações Éticas O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFAM, com CAAE nº 0327.0.115.000-11 em Agosto de 2011. Metodologia R esultados Os dados foram coletados das fichas de controle de Infecção, de prontuários e planilhas do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), dos pacientes internados na UTI durante os anos de 2005 a 2010 que foram submetidos à clipagem de aneurisma cerebral. Foram incluídos neste estudo 57 pacientes submetidos à clipagem de aneurisma cerebral internados na UTI deste hospital, excluindo-se aqueles pacientes que não foram diagnosticados com aneurisma cerebral, pacientes que não foram submetidos à clipagem e aqueles que possuíam fichas de controle de infecção incompletas. Para coleta dos dados, aplicou-se um instrumento estruturado, baseado na ficha de Controle de Infecção, padronizada pelo SCIH, contendo variáveis de interesse da pesquisa, tais como: idade, sexo, tempo de internação na UTI, tipo de infecção, perfil microbiológico, antibiótico usado para tratamento de IH e questões à evolução do quadro quanto à alta ou óbito. A coleta de dados foi realizada no período de agosto a setembro de 2011, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, conforme cronograma de atividades. O tratamento dos dados coletados foi realizado com a utilização de Software estatístico, Statistical Package for Social Sciences - SPSS 9.0. De acordo com o levantamento de dados, foram incluídos na pesquisa 57 fichas de notificação de infecção hospitalar de pacientes internados na unidade de terapia intensiva do HUGV, para pós-operatório de clipagem de aneurisma, no período de cinco anos. Observamos maior número do procedimento neurocirúrgico no ano de 2006 e 2008, ambos com 15 pacientes, e menor número no ano 2009, com apenas duas clipagens (Figura 1). 17 16 Número de Pacientes Foi desenvolvido um estudo descritivo, retrospectivo, em um Hospital Universitário, público, geral, de média e alta complexidade, pertencente à Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e que atende ao Sistema Único de Saúde (SUS), referência para o estado do Amazonas em Neurocirurgia. O referido hospital possui 251 (duzentos e cinqüenta e um) leitos credenciados pelo SUS, porém, atualmente dispõe de somente 158 (cento e cinquenta e oito) ativos. Deste total, 8 (oito) pertencem à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), segundo a Gerência de Apoio Administrativo em 2011. 15 14 11 12 10 8 8 6 4 4 2 2 0 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Figura 1: Distribuição dos pacientes internados na UTI do HUGV para pósoperatório de clipagem de aneurisma, segundo ano de internação. A média de idade dos pacientes foi 50,9 anos (DP 13,05), sendo observada distribuição não homogênea em relação à faixa etária, ocorrendo o primeiro pico de 50 a 55 anos e o segundo, de 60 a 65 anos de idade. Observamos também que a média de idade no sexo feminino foi maior que no masculino, no entanto não foi demonstrada diferença estatisticamente significativa entre as médias de idade (51,3♀ e 49,6 ♂,Teste de Levene 0, 637, diferença entre as médias 1,7 anos) ; com Lins AC, Pontes GO, Damian MM. - Infecções Hospitalares em pacientes submetidos à Clipagem de Aneurisma internados na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Getúlio Vargas na Cidade de Manaus-AM J Bras Neurocirurg 23 (4): 281-287, 2012 284 Original relação ao gênero, 76,4% dos pacientes eram mulheres, resultando em uma proporção de 3,2 ♀: 1 ♂ (Figura 2). 14 Número de Pacientes 14 Dp= 13,05 Idade Média= 50,9 Total pacientes= 57 10 10 8 7 6 5 4 2 7 4 3 1 2 2 70 75 0 0 20 2 25 30 35 40 45 50 55 60 65 Idade dos Pacientes internados Figura 2: Distribuição dos pacientes internados na UTI do HUGV para pós-operatório de clipagem de aneurisma, segundo faixa etária. A infecção hospitalar ocorreu em 21,8% dos pacientes. Nos anos 2007, 2009 e 2010, não ocorreu infecção hospitalar, sendo demonstrado maior número de infecções em 2008 (Figura 3). 14 Número de Pacientes 14 Dp= 13,05 Idade Média= 50,9 Total pacientes= 57 10 10 8 7 6 5 4 2 7 4 3 1 0 20 2 2 2 70 75 0 25 30 35 40 45 50 55 60 65 Idade dos Pacientes internados Figura 3: Distribuição das infecções hospitalares nos pacientes internados na UTI do HUGV para pós-operatório de clipagem de aneurisma, segundo ano de internação. O tempo médio de internação hospitalar foi 6,25 dias (DP =7,80), variando de 2 a 46 dias. Nos pacientes que desenvolveram IH, houve um aumento no tempo médio de internação para 14,33 dias (DP =12,70), variando de 3 a 46 dias, observando-se que 5 pacientes permaneceram internados por mais de 10 dias. Aqueles pacientes que não desenvolveram infecção hospitalar no pós operatório de clipagem permaneceram internados em média 4 dias (DP = 3,46), variando de 2 a 23 dias, e apenas 1 paciente permaneceu mais de 10 dias internado, demonstrando diferença estatisticamente significativa (X²=37,62, valor de p= 0,001). Quanto aos principais sítios de infecção hospitalar, observou-se que a ITU foi a mais prevalente, ocorrendo em 45,45%, seguida da pneumonia com 27,27%. Como sítio secundário, a SUTI foi responsável por 38,90%, e a pneumonia por 23,80%. A ocorrência de meningite/ventriculite foi demonstrado em apenas 4,76% ( Tabela 1). Lins AC, Pontes GO, Damian MM. - Infecções Hospitalares em pacientes submetidos à Clipagem de Aneurisma internados na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Getúlio Vargas na Cidade de Manaus-AM J Bras Neurocirurg 23 (4): 281-287, 2012 285 Original SÍTIO PRINCIPAL N(%) SÍTIO SECUNDÁRIO N (%) Desfecho IH Sim Não Total Teste Estatítisco X²= 1, 07 p= 0,301 ITU 10 (45,45) SUTI 8 (38,90) Óbito 2 3 5 PNEU 6 (27,27) PNEU 5 (23,80) Sobrevivente 10 42 52 SST 2 (9,09) DECU 2 (9,53) Total 12 45 57 BSI 2 (9,09) ASB 2 (9,53) SSI 2 (9,09) MEM 1 (4,76) SKIN 1 (4,76) CSEP 1 (4,76) LCBI 1 (4,76) TOTAL 22 (100) Tabela 2: Evolução clinica dos pacientes que apresentaram IH entre 2005 e 2010 Discussão 21 (100) Tabela 1: Distribuição das infecções hospitalares nos pacientes internados na UTI do HUGV para pós-operatório de clipagem de aneurisma, de acordo com os sítios. Número de pacientes com IH = 12; número de episódios de IH = 22; ITU - Infecção do Trato Urinário; Pneu – Pneumonia; SST- Infecção de pele e tecidos moles; BSI - Infecção da corrente sanguínea; SSI - Infecção de sítio cirúrgico; SUTI – Infecção Urinária Sintomática; DECU- úlcera de decúbito; ASB – Bacteriúria assintomática; MEM- Meningite ou ventriculite; SKIN-Infecção de ferida cirúrgica incisional; CSEP- Sepsis Clínica; LCBI- Infecção da corrente sanguínea laboratorialmente confirmada. Foram isolados microrganismos em 50% dos pacientes com infecção hospitalar. Dentre estes, os mais prevalentes foram: Staphylococcus epidermidis (14,28%), Escherichia coli, (14,28%), Enterobacter cloacae (7,14%), Enterobacter aerogenes (7,14%), Enterococcus faecalis (7,14%), Burkholderia cepacia, (7,14%), Pseudomonas aeruginosa, (7,14%), Serratia marcescen (7,14%), Empedobacter brevis, (7,14%), Streptococcus intermedius (7,14%), Acinetobacter baumanni (7,14%), Candida sp (7,14%). Os antimicrobianos utilizados para tratamento das infecções hospitalares neste grupo de pacientes foram: clindamicina, ceftriaxona, ciprofloxacino, cefepime, vancomicina, meronen, fluconazol, ampicilina, imipenen. A maioria dos pacientes com IH evoluíram para alta (83,3%). O óbito como desfecho ocorreu em 16,6% dos pacientes com IH e em apenas 7% daqueles que não apresentaram IH no pós operatório, no entanto, não foi demonstrada significância estatística (Tabela 2). Foram identificadas 21,8% de IH em 57 pacientes submetidos à clipagem de aneurisma que tiveram seu pós-operatório na UTI, observando-se um número relativamente pequeno do procedimento, considerando o HUGV serviço de referência para procedimentos de alta complexidade. Segundo dados da literatura, a prevalência de aneurismas cerebrais na população mundial é de 0,5% a 6%, variando de acordo com as características étnicas e geográficas16. Quanto ao gênero, nossos dados estão de acordo com a literatura, que demonstra ser o aneurisma mais freqüente em mulheres, sendo pontuado como fator de risco na patogênese. Júnior, Barros e Holanda (2011) em estudo sobre os fatores de risco em pacientes com aneurismas intracranianos atendidos em um hospital de referência de Belém do Pará, encontraram a média de idade de 46,5 anos, semelhante aos nossos resultados. No entanto, 17,8% tinham 60 anos ou mais, o que não foi demonstrado neste estudo, pois na distribuição por faixa etária foi observado um pico de ocorrência maior de 60 a 65 anos de idade. Provavelmente a estratificação mais detalhada da faixa etária poderia ter influenciado, assim como o tamanho da amostra. Há poucos dados na literatura relacionados à IH em cirurgia eletiva de clipagem de aneurisma. Um estudo realizado na UTI do Hospital Universitário das Índias Ocidentais (UHWI) com 120 pacientes neurocirúrgicos internados entre setembro de 1995 e dezembro de 1999 mostrou que 73 pacientes desenvolveram infecções, após uma média de cinco dias de internação na UTI. Este estudo apresenta uma taxa superior à encontrada acima, porém nossos dados se referem somente à clipagem de aneurisma. No entanto, O’Shea M e col, relataram Lins AC, Pontes GO, Damian MM. - Infecções Hospitalares em pacientes submetidos à Clipagem de Aneurisma internados na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Getúlio Vargas na Cidade de Manaus-AM J Bras Neurocirurg 23 (4): 281-287, 2012 286 Original em seu estudo taxas de complicações devido a infecção entre 0,75e 2,32% para operações intracranianas16. Esses resultados demonstram que as taxas de IH são influenciadas por diversos fatores como: perfil da clientela, tamanho da amostra e estruturação do serviço, dentre outros. Considerando o desenvolvimento de infecção e o tempo de internação, nossos dados corroboram com os estudos realizados nos Estados Unidos pelo Centro para Controle de Doenças (CDC) de Atlanta (através do projeto SENIC - Study on the Efficacy of Nosocomial Infection Control) demonstrando que a infecção hospitalar prolonga a permanência de um paciente em no mínimo quatro dias. Para este resultado, encontramos um prolongamento de oito dias de internação12, 13. O tempo de internação hospitalar apresenta uma relação diretamente proporcional com aumento da mortalidade em pacientes com diagnóstico de IH, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) onde os pacientes têm de 5 a 10 vezes mais probabilidade de adquirir infecção, podendo representar cerca de 20% do total das infecções de um hospital 6, 15 . A ITU foi a mais prevalente (45,45%) seguida da PNEU (27,27%), sendo a MEN demonstrada em apenas 4,76%: os estudos de O’Shea e col. apresentaram uma ordem inversa de ocorrência, demonstrando a PNEU como mais prevalente. Porém, concordante com os nossos resultados, a IH no sistema nervoso central mostrou baixos índices. O desenvolvimento destas infecções estão diretamente relacionadas com procedimentos invasivos como sondagens e ventilação mecânica e não com a intervenção neurocirurgica 10. Resultados semelhantes foram demonstrados por Malavaud et al 13. Considerando o isolamento de microrganismos, o estudo apresentou semelhança parcial aos resultados de Holzer e col (7), que encontraram Staphylococcus epidermidis como mais prevalente. Um outro estudo realizado nas Índias ocidentais encontrou Pseudomonas, Acinetobacter, Echiricia. coli, Enterobacter, Klebsiella, com maior frequência e apenas um caso isolado de Staphylococcus aureus. Conclui-se, desta forma que, assim como o sítio de IH, o perfil microbiológico é muito variável entre os serviços7. Apesar de a IH estar diretamente relacionada com o aumento do tempo de internação e morbimortalidade, a maioria dos pacientes com IH no presente estudo evoluiu para alta da UTI (83,3%). Conclusão Concluímos que a IH apresentada por esse grupo de pacientes submetidos à clipagem de aneurisma não foi relacionada ao procedimento neurocirúrgico, sendo provavelmente, secundárias aos procedimentos invasivos realizados no doente neurocrítico, porém essa hipótese não foi testada. Torna-se importante evidenciar os fundamentos que norteiam a compreensão deste agravo de indiscutível importância para a assistência a saúde. Assim, a partir dos dados encontrados, poderá ser possível instituir medidas eficazes e direcionadas, reduzindo o número de óbitos por IH, os custos hospitalares, o tempo de internação dos pacientes e o surgimento de microrganismos multirresistentes. Sugere-se discussões periódicas entre as equipes de saúde, evidenciando responsabilidades em controlar a infecção como sendo papel inerente aos profissionais da equipe de saúde, considerando a formação permanente dos profissionais voltada para uma cultura de prevenção, de diagnóstico precoce, com conduta clínica individualizada e acompanhamento sistemático dos casos de IH, no intuito de contribuir para o gerenciamento do cuidar em saúde permitindo a identificação das tendências das infecções, além de promover informações para a criação e revisão de protocolos institucionalizados.. R eferências 1. Barranco DS, Diccini S. Complicações no pós-operatório de neurocirurgia. Nursing (São Paulo).2002; 5(49):30-4. 2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Portaria nº 2.616, de 12 de maio de 1998. 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