MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL-MG Instituto de Ciências Sociais Aplicadas – ICSA Campus Varginha – MG Av. Celina Ferreira Ottoni, 4000. Padre Vitor - Varginha/MG - CEP: 37048-395 Fone/Fax: (35) 3219-8680 Renan Reis Fabri Soares O cenário econômico no Brasil: dos anos 1990 à crise de 2008 Varginha – MG 2015 Universidade Federal de Alfenas Renan Reis Fabri Soares O cenário econômico no Brasil: dos anos 1990 à crise de 2008 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria pela Universidade Federal de Alfenas. Orientadora: Profª. Me. Débora Juliene Pereira Varginha – MG 2015 Renan Reis Fabri Soares O cenário econômico no Brasil: dos anos 1990 à crise de 2008 A banca examinadora abaixo-assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do Certificado de Conclusão do Curso de Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria pela Universidade Federal de Alfenas Aprovado em: ___ de _______________ de 2015. ____________________________________ Profª. Me. Débora Juliene Pereira Lima Orientadora ____________________________________ Profº Me. Marçal Serafim Cândido Universidade Federal de Alfenas ____________________________________ Profº. Dr. Michel Deliberali Marson Universidade Federal de Alfenas Dedico este trabalho à minha família e em especial aos meus pais Paulo Afonso Fabri Soares, Adenilze Reis Soares e também ao meu irmão Rogger Reis Fabri Soares, por todo apoio, companheirismo, amor e base a mim concedido durante toda minha formação acadêmica. Dedico também, aos meus amigos e a Universidade Federal de Alfenas, todo seu corpo docente, técnicos e funcionários que contribuíram para minha formação. Resumo Esse trabalho tem por objetivo abordar o cenário econômico no Brasil, nos anos 1990 à crise de 2008, ressaltando o grau de dependência da economia brasileira em relação às desenvolvidas, de modo que este grau, embasado pela Teoria da Dependência, foi aprofundado em decorrência da liberalização comercial e financeira ocorrida na década de 1990, no Brasil. Sob essa hipótese, foram apresentadas as duas vertentes da Teoria da Dependência que servem de fundamento teórico para correlacionar: Dependência econômica, Consenso de Washington, Plano Real, liberalização comercial e financeira e liquidez internacional. Entretanto, tal dependência econômica proporcionou o dinamismo econômico que foi evidenciado no Brasil, a partir de 2004, e em razão disso, uma análise dos indicadores macroeconômicos foi necessária para compreender a situação econômica, tanto na década de 1990 quanto na década de 2000. Contudo, tal dinamismo econômico perpetuou até a chegada da crise do subprime em 2008 e, nesse sentido, foi realizada uma breve síntese desse período para relacionar com as políticas keynesianas adotadas pelo governo brasileiro. Tais políticas tiveram como propósito, amenizar os efeitos da recessão mundial sobre o Brasil. Palavras-chave: Teoria da Dependência. Liberalização. Década de 2000. Crise do subprime. Políticas keynesianas. Abstract The following work aims to address the economic scenario in Brazil in the 1990s to the 2008 crisis, highlighting the degree of dependence of the Brazilian economy over the more developed, so this degree, based the Theory of Dependence, was deepened as a result of trade and financial liberalization occurred in the 1990s in Brazil. Under this pretext, the two aspects of the Theory of Dependence that serve as the theoretical foundation were presented to correlate: economic dependence, the Washington Consensus, the Real Plan, trade and financial liberalization and international liquidity. However, such economic dependence provided the economic dynamism that was evidenced in Brazil since 2004, and as a result, na analysis about certain macroeconomic indicators was needed to understand the economic situation, both in the 1990s as the decade 2000. However, this economic dynamism perpetuated until the arrival of the subprime crisis in 2008 and, accordingly, a brief summary of this recession was held to relate to the Keynesian policies adopted by the Brazilian government. These policies were aimed, mitigate the effects of the global recession on Brazil. Palavras-chave: Theory of Dependence. Liberalization. Decade 2000. Subprime crisis. Keynesian policies. Sumário: 1. Introdução .......................................................................................................... 4 2. A Teoria da Dependência como orientação teórica para a política neoliberal ............................................................................................................... 6 2.1. Teoria da Dependência Weberiana......................................................................... 6 2.2. Teoria da Dependência Marxista e impactos da liberalização econômica. .................. 8 3. Os anos 1990 e o neoliberalismo: mudanças estruturais e estabilização ... 9 3.1. O Plano Real ..................................................................................................... 12 3.2. Impactos econômicos do Plano Real .................................................................... 15 4. O início dos “anos 2000” em continuidade com a proposta neoliberal ..... 21 5. Crise financeira de 2008 e valorização das commodities: influências no desenvolvimento da economia brasileira ......................................................... 25 5.1. Política econômica brasileira frente à crise ........................................................... 34 6. Considerações Finais ..................................................................................... 37 7. Anexo ............................................................................................................... 39 8. Referências Bibliográficas ............................................................................. 40 1. Introdução A economia brasileira foi marcada por uma liberalização comercial e financeira significativa na década de 1990, causando reflexos significativos nos anos seguintes. Contudo, a análise sobre esta liberalização é evidenciada após o entendimento da Teoria da Dependência, uma vez que ela foi a orientação teórica para a adoção da política neoliberal adotada no Brasil e observada neste período. Segundo Carcanholo (2004), a dependência é um fator estrutural e está caracterizada nas economias mais vulneráveis. Nesse sentido, a Teoria da Dependência foi desenvolvida para explicar a forma como as economias subdesenvolvidas são dependentes das economias mais ricas, sendo que tal relação é inerente ao modo de produção capitalista. Portanto, a especificidade do capitalismo está relacionada com a coexistência do subdesenvolvimento como produto do desenvolvimento de determinados países. Duarte (2007) contribuiu para esclarecer e diferenciar duas propostas que se ramificam a partir desta Teoria, sendo a primeira denominada Teoria da Dependência Weberiana e a segunda como Teoria da Dependência Marxista. A vertente Weberiana é apresentada por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Falleto como principais autores, já que como críticos à substituição de importações – proposta de desenvolvimento apresentada pela CEPAL –, motivaram-se a escrever sobre o assunto. Esses principais autores, Cardoso e Falleto (1981), argumentam que as economias mais vulneráveis conseguem alcançar o crescimento econômico se as relações comerciais e financeiras destas ficarem mais estreitas com as economias desenvolvidas, de modo a se obter um capitalismo associado. Entretanto, a Teoria da Dependência Marxista, apresentada por Ruy Mauro Marini e Theotônio dos Santos, como principais autores, expõe um argumento crítico ao considerar que tal associação agrava o grau de dependências das economias vulneráveis. Uma vez exposta a Teoria da Dependência, que segundo Carcanholo (2004), serviu de orientação teórica para a política neoliberal aprofundada na economia brasileira, na década de 1990, pode -se fazer uma relação com o Consenso de Washington. Este definiu um receituário de políticas econômicas a ser seguido pelos países da América Latina, sob uma característica predominante de desregulamentação do mercado e abertura comercial e financeira. 4 Relacionando que o Brasil aceitou seguir tal cartilha, o presente trabalho segue com a história e criação do Plano Real, assim como a condução do mesmo, já que o Plano está atrelado ao processo de liberalização da economia e pode-se, portanto, compreender como o grau de dependência da economia brasileira, em relação as mais desenvolvidas, foi aprofundado. A partir do exposto teórico Marxista, faz-se uma relação de como o capitalismo associado deixou a economia brasileira à mercê da situação de liquidez internacional, além de prejuízos em alguns indicadores macroeconômicos, como por exemplo: aumento da taxa de desemprego, exploração da força de trabalho, aumento da dívida interna e externa e deterioração do Balanço de Pagamentos. Apesar desta dependência contribuir para a piora dos indicadores citados, é interessante apresentar o crescimento econômico que o Brasil apresentou nos “anos 2000”, uma vez que este esteve atrelado a melhora significativa da liquidez internacional, evidenciando pois, como o processo de dependência deixou as economias vulneráveis reféns das desenvolvidas. Nesse sentido, foi possível compreender de que forma a valorização dos preços das commodities exportadas pelo Brasil garantiu um crescimento satisfatório neste período, mas ainda abaixo do crescimento mundial. Se por um lado o governo Lula deu continuidade na condução das políticas neoliberais, no início de seu governo, por outro lado é possível observar as políticas desenvolvimentistas e anticíclicas, com características keynesianas, adotadas em razão da crise financeira de 2008. Nessa perspectiva, para compreender melhor tal dualidade no governo Lula, uma breve síntese da crise financeira vivenciada em 2008 é necessária, a fim de relacionar o momento em que o crescimento garantido pela valorização das commodities sofreu uma reversão. Para tanto, na seção seguinte é apresentada a Teoria da Dependência, assim como as duas vertentes que a compõem. 5 2. A Teoria da Dependência como orientação teórica para a política neoliberal De acordo com Duarte (2007), o subdesenvolvimento e o desenvolvimento, segundo a Teoria da Dependência, são tratados como realidades que são distintas e contrapostas, opondo-se à ideia de subdesenvolvimento como etapa de um processo evolutivo. Dessa maneira, a especificidade do capitalismo está relacionada com a coexistência do subdesenvolvimento como produto do desenvolvimento no sistema capitalista mundial. Ou seja, no capitalismo há centros hegemônicos e desenvolvidos de um lado e países subdesenvolvidos e dependentes do outro. A Teoria da Dependência surgiu como uma teoria para tentar explicar esse fenômeno. Esta Teoria, nas suas versões marxista e weberiana foram desenvolvidas para explicar que as relações estruturais de dependência estavam para além do campo das relações mercantis – como acreditavam os teóricos desenvolvimentistas. A relação de dependência das economias subdesenvolvidas era um processo que surgia como inerente ao modo de produção capitalista. 2.1. Teoria da Dependência Weberiana. Sendo assim, a dependência é vista, de acordo com Carcanholo (2004), como fator estrutural e está caracterizada nas economias vulneráveis. Estas economias apresentam deterioração nos meios de troca no comércio e formam uma estrutura composta por classes dominantes e dominadas. Como principais autores da vertente Weberiana e, contrários ao projeto de industrialização baseado na substituição de importações, apresentado pela CEPAL, Fernando Henrique Cardoso e Enzo Falleto motivaram-se a escrever sobre o assunto. Concluíram então, que o modelo de substituição de importação da CEPAL fracassou e que a dependência é um fator estrutural. Depois de formularem a crítica à visão Cepalina, FHC e Enzo Falletto defenderam que a articulação das economias subdesenvolvidas à dinâmica dos centros hegemônicos seria o caminho para gerar desenvolvimento econômico. Com isso, novas oportunidades seriam produzidas com o aprofundamento das relações comerciais e 6 financeiras entre as economias dependentes e as centrais. Era a proposta de capitalismo associado. Com a contribuição teórica dos principais autores já citados, a perspectiva neoliberal de desenvolvimento ganhou espaço e instala-se nos países periféricos, aprofundando a situação de dependência. De acordo com Carcanholo (2004), a teoria da dependência Weberiana é um referencial teórico que foi utilizado na formulação das políticas neoliberais. Segundo ele, o desenvolvimento capitalista associado e neoliberalismo são termos distintos de uma mesma proposta, mas em tempos diferentes. O receituário para alcançar o desenvolvimento pregava a redução da atuação do Estado, descontrole de capitais e desregulamentação do mercado, que são as bases neoliberais para que se aceite a abertura do comércio e o estreitamento das relações com as economias desenvolvidas. De acordo com tais formulações, a alternativa que as economias dependentes teriam para alcançar o crescimento econômico passa por um conjunto de reformas estruturais. Estas reformas culminariam com um maior grau de abertura comercial e financeira. Ao possibilitar a abertura financeira e comercial, essas economias teriam uma chance de crescimento econômico, pois poderia gerar emprego e renda com a entrada de produtos multinacionais. De acordo com Duarte (2007), a proposta da Teoria Weberiana da Dependência era que as relações entre os países dependentes e as economias centrais fossem mais estreitas, mais acoplada, evidenciando o receituário neoliberal. Nesse processo de subordinação, os setores estratégicos da economia são transferidos para o capital externo, ficando sob seu controle os setores mais subordinados – produtores de bens primários e consumo não-duráveis. As altas taxas de investimento e o crescimento econômico seriam garantidos após um tipo de política econômica que garantisse reformas estruturais capazes de incentivar o funcionamento dos mercados, apoiado na iniciativa privada e na menor presença estatal nas atividades econômicas. De acordo com Cardoso e Falleto (1981), a inserção internacional dos países periféricos deveria ser norteada pela abertura externa, comercial e financeira. Ao seguir a proposta de alternativa para o crescimento econômico, é inevitável, de acordo com Pedro Duarte (2007), a criação de uma estrutura social concentradora e excludente que tem como lógica a própria teoria de dominação dos interesses de um 7 determinado grupo sobre os demais. Contudo, os próprios autores da versão Weberiana ressaltam que essa estrutura social concentrada é própria do desenvolvimento capitalista, de modo que a distribuição de renda não seria um obstáculo ao desenvolvimento. De acordo com Fernando Henrique Cardoso e Falleto, a questão do desenvolvimento econômico não está centrado na distribuição mais quantitativa da renda, pois quando se dá ouvidos às reivindicações das massas, não há desenvolvimento econômico. Dado as condições estruturais e de dependência, segundo os autores acima, não seria interessante tratar da questão de distribuição de renda, e para isso, surgem políticas compensatórias para amenizar as desigualdades sociais. São compensatórias com a proposta de minimizar a questão da distribuição de renda, esta que é deixada de lado em detrimento da opção pelo desenvolvimento econômico. 2.2. Teoria da Dependência Marxista e impactos da liberalização econômica. Apresentada por Ruy Mauro Marini e Theotônio dos Santos como principais autores, a Teoria Marxista da Depenência identificou, como bem ilustra Carcanholo (2004), três condicionantes históricos e estruturais na América Latina que formam um capitalismo “sui genesis” ou seja, a criação de um capitalismo próprio na América Latina. Um dos condicionantes da dependência, de acordo com essa teoria, é a transferência de recursos da periferia subdesenvolvida para o centro. Essa transferência de recursos ocorreria na forma de capital (financeiro ou produtivo) gerador de uma remuneração que é paga em forma de lucros, royalties, juros e dividendos. Outro condicionante da dependência, de acordo com a vertente marxista em Marini (2005), é a instabilidade dos mercados financeiros internacionais. A financeirização da economia é capaz de levar à instabilidade e o mercado de derivativos cumpre o papel de contribuir para aprofundar tal instabilidade, deixando os países periféricos da América Latina a mercê dos ciclos de liquidez internacional. Assim, em momentos de crises econômicas e insegurança, o capital financeiro migra para os centros e por isso, o ciclo de liquidez internacional não afeta as periferias e os centros com a mesma profundidade. O terceiro ponto evidencia a redução dos preços dos produtos exportados pelos países da América Latina. Pelo fato de eles apresentarem baixo valor agregado no 8 mercado internacional, se comparados aos produtos que são importados, há a possibilidade de gerar déficit na balança de pagamentos. De acordo com Duarte (2007), é importante perceber que os recursos são produzidos na América Latina, mas são acumulados nas economias centrais em razão da transferência de recursos. Os condicionantes que mostram o envio da renda dos países da periferia para o centro, de acordo com a versão marxista, recai sobre a exploração da força de trabalho com o aumento da jornada de trabalho e arrocho salarial, de modo que quem paga pelo envio de remessas são os trabalhadores. A Teoria Marxista, assim como a Teoria Weberiana, entende o processo de formação das nações que são politicamente independentes, mas subordinadas umas às outras. Diz respeito a deterioração dos termos de troca e a subordinação como própria do modo de produção capitalista. Contudo, é distinta ao considerar que a tendência de acoplar as economias dependentes às desenvolvidas irá, além de aprofundar o grau de dependência, impactar também na elevação do nível de pobreza – relacionado a concentração de renda – e na exploração da força de trabalho. De acordo com Duarte (2007), a crítica à versão Weberiana tem por base a questão de que se o processo de dependência fundamenta-se basicamente pelo fenômeno de associação, remessa de capitais e desigualdade social, o maior grau de abertura irá, além de aumentar a vulnerabilidade externa das economias dependentes, aprofundar essas condições e tender para maior fluxo de capitais para o centro, assim como maior o grau de desigualdade com a exploração da força de trabalho. 3. Os anos 1990 e o neoliberalismo: mudanças estruturais e estabilização A economia brasileira passou por algumas mudanças estruturais durante a década de 1990. Houve um processo de abertura e desregulamentação dos mercados que aprofundou as condições de dependência e vulnerabilidade externa. A estratégia de combate à inflação definida pelo Plano Real culminou em aumento das taxas de desemprego e das dívidas interna e externa, além de déficits na balança comercial. O Consenso de Washington1 definiu um receituário de políticas econômicas a ser seguido pelos países da América Latina. A desregulamentação dos mercados e a privatização das empresas nacionais eram algumas das mudanças que deveriam ser 1 Reunião que ocorreu nos EUA em 1989 que contou com a participação de economistas da América Latina e BIRD. 9 adotadas por esses países. Era uma espécie de “cartilha” destinada aos países subdesenvolvidos com recomendações sobre a condução de política econômica. Esse conjunto de medidas neoliberais foram adotadas no Brasil no início dos anos 1990. O receituário previa, de acordo com Carcanholo (2003), a disciplina fiscal, redução dos gastos públicos, reforma tributária, juros e câmbio de mercado, abertura comercial, investimento estrangeiro direto com eliminação de restrições, privatização das estatais, desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas) e direito à propriedade intelectual. Além disso, o receituário neoliberal propunha, como bem reforça Carcanholo (2003), que os países emergentes buscassem a estabilização macroeconômica, de modo que, a abertura da economia somada a sobrevalorização da moeda e o acúmulo de reservas proporcionasse o desenvolvimento econômico. Foi então, a partir de 1990, que o Brasil iniciou a adoção das ideais neoliberais com a abertura comercial e financeira da economia somadas a um processo de privatizações. Nesse sentido, de acordo com Filgueiras (2006), o Plano Real é uma peça fundamental desse processo, pois significou uma tentativa de estabilização macroeconômica via sobrevalorização cambial para incentivar as importações. A política neoliberal adotada na década de 1990, segundo Carcanholo (2003), aprofundou o processo de endividamento dos anos 1980, aumentou a remessa de capitais e fluxo de ingresso de investimento direto no país, compreendendo o processo de internacionalização da economia brasileira e diminuição do Estado. Para compreender o processo de internacionalização na economia brasileira, a partir do avanço da vertente do neoliberalismo, é importante retomar algumas características da década de 1980. Carneiro (2002) descreve bem a situação estrutural dos anos que antecederam a década de 1990, em que: A década de 1980 foi, para os países da periferia capitalista, um período adverso, caracterizado pelo que se convencionou chamar de crise da dívida. Nesses anos, ocorreu uma deterioração global da situação econômica de tais países, compreendendo uma piora nos termos de troca e um extremo racionamento do financiamento externo, significando para alguns países, sobretudo da América Latina, a transferência de recursos para o exterior em razão do pagamento da dívida externa (CARNEIRO, 2002, p. 115). É possível observar que Carneiro (2002) relata e discorre sobre o aumento da dívida externa bruta, a partir de 1981 e, de acordo com a tabela a seguir, o volume da dívida externa bruta comporta-se da seguinte forma: 10 Tabela 01: Dívida externa total em bilhões de US$. 1981 – 1989 Ano 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 Dívida em US$ Bilhões 73,9 85,3 93,7 102,1 105,1 111,2 112,1 113,5 115,5 Fonte: IPEADATA. Elaboração própria. De acordo com a tabela 1 pode-se observar que houve aumento total da dívida externa durante a década de 1980. Essa dívida era de aproximadamente 73,9 bilhões de dólares em 1981 e passou para US$ 115,5 bilhões em 1989. Nesse sentido, complementa-se que: Era indiscutível que o Estado estava em crise e, portanto, precisava de reformas orientadas pelo mercado, mas reformas que o fortalecessem, não que o fragilizassem. [...] Tratava-se, por exemplo, de abrir nossa economia para que as empresas pudessem ser expostas à competição internacional, de privatizar setores competitivos como a siderurgia e a petroquímica, fazer a reforma gerencial do Estado, a reforma da previdência, a reforma tributária, a reforma política. Nossas elites[...] não perceberam agora que a crise do Estado era apenas cíclica e aceitaram as idéias ultraliberais sem crítica ou então permaneceram em uma atitude puramente populista de quem não percebe que a crise, embora cíclica, era real. [...]. A maioria dos membros das elites brasileiras aceitou as reformas e o ajuste fiscal previsto no Consenso Washington, que, embora necessárias, deviam ser adotadas com mais moderação e deviam ter como objetivo não reduzir o Estado ao mínimo, mas reconstruí-lo. [...] (BRESSER-PEREIRA, 2003, p. 229). Nota-se, portanto, que essa crise dos anos 1980 foi usada para justificar os ajustes estruturais defendidos. É importante salientar que o processo de avanço do neoliberalismo no Brasil encontrou espaço econômico e político desde o início dos anos 1980. Belluzzo (2002) ressalta a partir do quadro apresentado: São quase vinte anos de baixo crescimento econômico, de evolução lenta ou mesmo estagnação dos rendimentos das camadas mais pobres e de bloqueio dos canais que permitiam ou prometiam a ascensão social. Tais tendências, já observadas na década de 1980, foram acentuadas pelas políticas propostas por Collor e depois empreendidas pelo professor Cardoso, a conselho das classes proprietárias locais e de seus aliados estrangeiros. Há quem se irrite com a menção ao Consenso de Washington como origem e destino das políticas liberais na América latina. A irritação é sintoma da miopia interessada. Basta olhar em volta e observar que as novas estratégias de “integração” à economia mundial e de “modernização” das relações entre Estado e mercado foram iguais em todos os países e produziram os mesmos resultados sociais desastrosos (BELLUZZO, 2002, p. 25). Essas expectativas políticas e econômicas tomaram envergadura, de acordo com Filgueiras (2006), no ano de 1994, quando – sob o governo Itamar Franco, sendo 11 Fernando Henrique Cardoso o Ministro da Fazenda – foi implementado um plano de estabilização conhecido como Plano Real, plano este apoiado por uma equipe de economistas, dentre os quais se incluem Gustavo Franco, Winston Fritsch, Lara Resende, Edmar Bacha e Pérsio Arida. Bresser-Pereira (2003) complementa ainda, que os fundamentos da crise brasileira já haviam sido detectados no momento em que, [...] até 1987, quando ocupei o Ministério da Fazenda, as elites brasileiras imaginavam que se tratava de uma crise de balanço de pagamentos. Aos poucos, porém, foi se tornando patente que a crise não era apenas das contas externas, mas do Estado – uma crise fiscal do Estado e, mais amplamente, do modelo desenvolvimentista [...]. Na verdade, conforme tentei alertar em 1987, no Ministério da Fazenda, começava então a Grande Crise brasileira, uma crise aparentemente sem fim, que dura até hoje (início de 2003). Há mais de vinte anos o Brasil encontra-se semi-estagnado no plano econômico: sua renda per capita cresce a cerca de 1% por ano, quando, nos trinta anos anteriores, crescia a quase 4% ano. Nos primeiros catorze anos, o país viveu em regime de alta inflação. Nos anos seguintes, após o Plano Real haver, em 1994, neutralizado a inércia inflacionária e, assim, estabilizado os preços, viveu em constante desequilíbrio de balanço de pagamentos e novamente se endividou no plano interno e externo (BRESSER-PEREIRA, 2003, p. 227). As perspectivas econômicas e políticas que fomentaram o Plano Real podem ser compreendidas no momento em que foram definidas as reformas que antecederam o Plano. Conforme Cardoso (1995, p.154-155) essas reformas deveriam levar à estabilização econômica, num quadro de equilíbrio de contas públicas, criação de infraestrutura adequada e de um sistema financeiro ágil e moderno, além da privatização e liberalização comercial, evidenciando a recondução do Estado na prestação de serviços básicos, como educação e saúde. 3.1. O Plano Real Dada a situação de hiperinflação na economia brasileira e, após alguns planos de controle à inflação não obterem resultados sólidos por muito tempo, o Plano Real surgiu com proposta de estabilização econômica, sendo a ideia original construir um plano2 bem estruturado em três fases. A partir do momento em que os autores citados passaram a considerar a inflação como resultado do gasto público, a primeira fase da estabilização, como bem explana 2 O Plano Real não deveria ser igual ao Cruzado (que teve uma implementação imediata), ao Bresser (híbrido sem sustentação de longo prazo) ou Verão (híbrido, mas não possuía reformas necessárias em termos de recursos externos e arrecadação de receitas) ou ainda, igual o Plano Collor de confiscar parte da liquidez da economia por meio do bloqueio da poupança. 12 Filgueiras (2006), é denominada “Ajuste Fiscal” e consiste em uma reforma fiscal capaz de arrefecer o processo inflacionário. Para isso, foram utilizados os instrumentos denominados “Programa de Ação Imediata – (PAI)” e “Fundo Social de Emergência – (FSE)”. Detectada a necessidade de equilibrar as contas públicas, o que implicava em uma ampla reorganização do setor público e de suas relações com a economia privada, os instrumentos eram a base para o governo diagnosticar redução dos gastos da União; equacionamento das dívidas de estados e municípios com a União; controle rígido dos bancos estaduais; saneamento dos bancos federais e aperfeiçoamento do programa de privatização, ou seja, redução da participação do governo na economia por meio de estatais. O primeiro instrumento previa, além do corte orçamentário de 6 Bilhões de US$ baseado em estimativa realista de receita em vez de nortear-se pelas pretensões de gastos do governo, o encaminhamento da lei de Responsabilidade Fiscal. Já o FSE possibilitou maior flexibilidade na utilização de recursos públicos, aumentou o controle do fluxo de caixa do governo e maior liberdade de manipulação dos gastos públicos. Ainda nessa fase foi observado um aumento dos impostos federais em 5%, uma redução de 40% nas despesas do governo e ainda, houve a criação do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF), além da proibição da emissão de novos títulos. Segundo Filgueiras (2006), a segunda fase do plano foi responsável pela instauração da Unidade Real de Valor (URV), denominada também de “embrião da nova moeda”. Foi um mecanismo que “substituiu” o congelamento de preços, pois circulava, simultaneamente, a moeda antiga e uma moeda referencial que tinha o objetivo de adaptar a população com a moeda que seria lançada posteriormente, o Real. O objetivo desta fase foi a criação de um superindexador (a URV) que deveria funcionar como uma âncora cambial, amarrando o valor do dólar e com isso, a URV acabou incorporando um dos papéis da moeda: foi unidade de conta, e por isso ficou conhecida como “embrião do Real”. Segundo Filgueiras (2006), como o Cruzeiro Real estava se desvalorizando diariamente, a taxas crescentes, o que alimentava ainda mais o aumento de preços e salários, a URV foi utilizada para restaurar a função de unidade de conta da moeda que havia sido destruída pela inflação, bem como para referenciar preços e salários. O Banco Central emitia, diariamente, relatórios sobre a desvalorização do Cruzeiro Real e 13 cotação da URV. Ela, basicamente, tinha então que proporcionar aos agentes econômicos, uma fase de transição para a estabilidade de preços, a partir da passagem gradativa do Cruzeiro Real para URV. Por fim, a terceira fase se dá com a “materialização” da URV e a introdução do Real como nova moeda. Ocorreu, portando, conforme ilustra Filgueiras (2006), a substituição da URV pelo Real, onde 1 URV = R$ 1,0. Como um dólar (US$) valia 2.750,0 cruzeiros reais (CR$), cada real foi substituído por CR$ 2.750 e a taxa de câmbio variava tendo como referência US$ 1,0 = R$ 1,0 pelo Banco Central. Nessa fase, percebeu-se um processo de “dolarização” do Plano Real e a sobrevalorização do câmbio (US$ 1,0 = R$ 1,0) foi vista como estratégia de combate à inflação, via elevação das importações e consequentemente redução dos preços internos pelo aumento da oferta de produtos. Desta forma, o Plano Real foi exitoso no alcance de seu principal objetivo: o controle da inflação. No entanto, o Plano Real provocou o aumento da vulnerabilidade externa da economia brasileira marcado pelo expressivo crescimento do Investimento Estrangeiro Direto (IDE) bruto no país. A tabela abaixo apresenta o Investimento Direto Estrangeiro no Brasil no período entre 1992 – 2000. Tabela 02: Investimento Direto Estrangeiro (IDE), em US$ bilhões. 1992 - 2000 Ano IDE (US$ Bi) 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 1,5 0,7 1,9 4,2 9,8 16,8 25,4 29,9 30 Fonte: IPEADATA. Elaboração própria. Pela tabela 2, pode-se observar que os IDE’s no Brasil durante a década de 1990 aumentaram de maneira significativa. Em 1992 esses investimentos eram de aproximadamente, US$ 1,5 bilhões de dólares e, em 2000 chegaram próximo a US$ 30 bilhões de dólares. A grande expansão do IDE, dinamizada pelas privatizações, aquisições e fusões, foi um processo, – para Carneiro (2002) – inerente à fase de acumulação de capital, que avançou e aprofundou-se nos países periféricos nos anos 1990. 14 Carneiro (2002) faz ainda, uma constatação desastrosa acerca da crise: “A dívida pública interna mostra uma trajetória explosiva após o Plano Real [...]. Seu crescimento de 20 pontos percentuais do PIB em apenas cinco anos só tem paralelo na história econômica do Brasil contemporâneo com aquele da crise da dívida em 1982-1984. [...]” (2002, p. 394). Completa ainda, que a dívida líquida total do Brasil, em 2000, correspondia a 50% do PIB (2002, p. 397). Por meio das contribuições dos diversos autores citados, é possível compreender a internacionalização da economia brasileira a partir do período de privatizações, ocorrido na década de 1990, como determinante para as mudanças estruturais desejadas internamente e articuladas externamente no contexto da mundialização financeira, ao possibilitar, portanto, a acumulação de capital e consolidação do processo de desnacionalização produtiva. 3.2. Impactos econômicos do Plano Real De acordo com Filgueiras (2006), nos momentos iniciais que sucederam a realização do Plano Real, o combate à inflação foi observado junto a um crescimento econômico considerável. Contudo, isso só pôde ser observado devido à abertura da economia às importações e não levou muito tempo para que essa euforia fosse contida. Conforme o gráfico abaixo, é possível verificar um aumento da taxa de crescimento econômico em 1994, quando atingiu 5,9% aproximadamente. Essa taxa diminuiu a partir desse ano, atingindo apenas 0,5% em 1999. Gráfico 01: Taxa de Crescimento do PIB em (%) – 1989 - 2000 Fonte: IPEADATA. Elaboração própria. 15 De acordo com Filgueiras (2006), esse comportamento do PIB pode ser explicado pelo incentivo às importações de produtos estrangeiros, ao passo que, a produção nacional deixou de ser valorizada em detrimento da importação de muitos produtos. Nesse sentido, o Brasil reduziu a produção interna e pode ser observado o enfraquecimento da economia nacional. Ao analisar o Balanço de Pagamentos (Anexo – página 39) e a Balança Comercial, pode-se constatar os impactos da abertura comercial e financeira abrupta pelo qual o Brasil passou com a adoção dos ideais neoliberais na economia. De 1989 a 1994 registrou-se superávit na balança comercial brasileira, mas em 1995 o saldo passa a ser deficitário com consequente enfraquecimento da indústria nacional, esta que não possuía base suficiente para competir de maneira eficiente com os bens internacionais importados. Em 1994 o saldo registrado na Balança Comercial é de aproximadamente US$ 10,4 bilhões, mas já em 1995 é evidente uma deterioração na mesma, dado o aumento das importações em proporção maior que as exportações – consequência direta da âncora cambial estabelecida pelo Plano Real. No ano de 1997, o Brasil obteve uma receita com exportações de aproximadamente US$ 53 bilhões, contudo as despesas com importação foram US$ 61,4 bilhões, causando um déficit de US$ 8,4 bilhões. Dado que houve o incentivo para importar, por conta da abertura comercial condicionada pela valorização do câmbio, acrescido do ritmo lento de crescimento econômico das exportações, conforme citado, foi ocasionado pois, um substancial déficit comercial. Isso, segundo Carcanholo (2003), aliado a um déficit histórico na balança de serviços, foi agravado pelo aumento das remessas de lucros e dividendos e pagamentos de juros, levando a consideráveis déficits em transações correntes. Em termos quantitativos, é possível identificar um aumento de US$ -6,3 bilhões nos juros líquidos da Balança de Serviços, em 1994, para US$ -9,8 bilhões em 1996 e US$ -10,4 em 1997. Conforme o gráfico 02, é possível verificar que o aumento nas receitas derivado de royalties e licenças – condicionante já citada pela teoria marxista da dependência –, não foi capaz de compensar o aumento expressivo com as despesas de tais direitos após a implementação do Plano Real. Isso evidencia um aumento do déficit, dado que a 16 proporção de despesas foi, por exemplo, de US$ 529,471 milhões em 1995, para uma receita de aproximadamente US$ 32,14 milhões. Gráfico 02: Receitas e Despesas com Royalties e Licenças em US$ Milhões – 1989 -2000 Fonte: IPEADATA. Elaboração própria O financiamento dos déficits externos foi solucionado pela atração dos capitais estrangeiros via aumento da taxa de juros doméstica que foi ajustada para um patamar acima da internacional, em níveis que atraíssem o capital externo, o que aumentou ainda mais a dependência da economia brasileira frente ao capital financeiro internacional. Relembra-se o terceiro condicionante apresentado por Ruy Mauro Marini e Theotonio dos Santos na Teoria da Dependência Marxista, é possível perceber em como o saldo do Balanço de Pagamentos3 do Brasil avançou em valores decrescentes após a implementação do Plano Real, chegando a registrar o pior valor em 1998 com déficit em US$ 17,2 bilhões. De acordo com Filgueiras (2006), a vulnerabilidade externa, aprofundada em razão das alterações estruturais apresentadas, causou, no que diz respeito ao crescimento econômico, uma armadilha para a condução de política econômica, pois a estratégia de abertura econômica, potencializada pela alta valorização do câmbio, criou uma situação em que uma possível melhora conjuntural capaz de aumentar a renda nacional provocaria o aumento da demanda por importações, agravando a problemática do déficit em transações correntes e estabelecendo a necessidade de reduzir esse nível de renda. 3 Ver anexo. 17 Sob essa condição, a taxa de juros como variável chave foi mantida em níveis elevados, a fim de causar uma redução condizente do nível de renda com a restrição externa e de manter o fluxo positivo de capitais externos. Os crescentes endividamentos internos e externos ao longo da década de 1990, conforme o gráfico 03, reforçam a questão da vulnerabilidade externa, dada a trindade impossível (câmbio fixo, mobilidade de capital e política monetária), junto a incapacidade de a economia brasileira crescer de forma sustentada. Gráfico 03: Dívida Externa Total em US$ bilhões – 1989 - 2000 Fonte: IPEADATA. Elaboração própria. Pelo gráfico, pode-se observar que, o aumento da dívida externa nos anos 1990 é significativo pois, passou de um total de US$ 115,5 bilhões em 1989 para US$ 241,2 bilhões dez anos depois, um aumento de quase 109% na década. É interessante notar que a amplitude, com relação ao aumento da dívida externa, aumentou consideravelmente após 1994, se comparada ao período anterior das mudanças estruturais na abertura econômica do país. A partir desse momento, a trajetória de crescimento do serviço da dívida acompanhou a elevação do endividamento do país. Com relação ao nível de desemprego na economia brasileira, este pode-se relacionar à adoção do Plano Real em 1994. Conforme o gráfico abaixo, a taxa de desemprego em 1995 é aproximadamente 4,6%, prosseguindo em valores crescentes e registrando o maior valor, de 7,6% em 1998 e 1999. 18 Gráfico 04: Taxa de Desemprego em (%) – 1989 - 2000 Fonte: IBGE. Elaboração própria. As políticas neoliberais que influenciaram a estrutura do Plano Real acabam por incentivar, por exemplo, a abertura do mercado à entrada de empresas estrangeiras, e para a compra de produtos importados. Desse modo, a falta de incentivos ao desenvolvimento das indústrias brasileiras desencadeou a necessidade de importação de diversos produtos que poderiam ser produzidos aqui e, após a implantação do Real na economia brasileira, aumentaram-se, substancialmente, o número de importações, na medida em que as exportações sofreram uma pequena elevação. Ou seja, o desemprego pode estar relacionado à diminuição da criação de novos postos de trabalho no Brasil, devido ao incentivo, às importações, retomando a terceira condicionante exposta por Marini (2005). Ainda fazendo alusão a vertente marxista da dependência, é notório que além da diminuição dos postos de trabalho, em função do incentivo a importação dada a valorização cambial, as empresas multinacionais implantadas no Brasil acabaram por explorar a mão de obra barata disponível, reforçando o condicionante que mostra o envio de renda dos países dependentes para as economias mais desenvolvidas, envio este que recai sobre a exploração da força de trabalho com o aumento da jornada de trabalho e arrocho salarial, de modo que quem paga pelo envio de remessas são os trabalhadores. De acordo com Filgueiras (2006), o Plano Real incentivou pois, as péssimas condições de trabalho em que alguns trabalhadores encontraram-se inseridos, já que os mesmos estavam dispostos a trabalhar por qualquer remuneração, deixando de lado a valorização da qualidade de vida em seus empregos. 19 Ficou claro, portanto, que apesar de todas as promessas de estabilização de preços e crescimento econômico pautadas pelo “Consenso de Washington”, o mesmo contribuiu para acentuar a incerteza do mercado financeiro e o crescimento de risco dos países dependentes que o adotaram. Evidenciou-se que as alterações estruturais na liberalização financeira e abertura comercial agravaram a problemática da dependência econômica do país em relação as economias desenvolvidas, tornando nítido o aumento da dívida externa do país, aumento significativo no envio de remessas de royalties e dividendos para o exterior, aumento da taxa de desemprego, déficits no balanço de pagamentos e dificuldades na condução de políticas econômicas, dada a armadilha estabelecida pela valorização cambial e controle de taxa de juros. Carcanholo (2003) assume a década de 1990 como “década mais que perdida”, após analisar a taxa média de crescimento do Brasil no período posterior à implantação do Plano Real, observando que o crescimento é inferior ao da década anterior (1980 a 1989), esta que foi denominada como “década perdida”. Segundo Carcanholo (2003), é possível considerar que o Brasil acabou por criar armadilhas e restrições que impediram seu próprio crescimento devido à sobrevalorização cambial e à abrupta abertura comercial. As circunstâncias provocaram um rápido crescimento das importações, sendo que as exportações cresciam de maneira irrisória e incapaz de acompanhar a proporção de produtos importados, e a ampliação da taxa de juros em um patamar superior à internacional (meio utilizado para atrair capital externo) gerou uma significativa dependência econômica do Brasil em relação aos capitais estrangeiros. A manutenção dos níveis elevados da taxa de juros, em razão do crescente déficit externo, provocou um “engessamento” da política monetária e o crescimento econômico, a partir daí, seguiu um modelo de “stop and go”, pois quando havia certa melhora na conjuntura que fosse capaz de elevar a renda nacional, ocorreria um aumento da demanda por importações e agravaria ainda mais o déficit em transações correntes, sendo necessária a redução do nível de renda que havia sido elevada. Carcanholo (2003) complementa que, a partir de 1995, observou-se uma intensa fuga de capitais devido a inúmeros problemas que o Brasil apresentava no seu balanço de pagamentos, somados à incapacidade do governo no que diz respeito à quitação de suas dívidas que acabaram por gerar em nosso país certo clima de incerteza comercial e 20 baixa credibilidade. Há se de citar ainda, que neste período ocorreram crises econômicas em alguns locais do exterior, como México em 1994, Asiática em 1997, Rússia em 1998 e Argentina em 2001. 4. O início dos “anos 2000” em continuidade com a proposta neoliberal O grau de dependência representado pelo déficit no Balanço de Pagamentos e pela necessidade de importação de capital foi aprofundado pela abertura comercial e financeira da economia nos anos 1990 – quando foram adotadas políticas neoliberais por Fernando Henrique Cardoso, sob a base teórica da dependência Weberiana. Como a abertura comercial foi muito grande na década de 1990, o impacto foi expressivo no sentido de gerar déficits no Balanço de Pagamentos. O aprofundamento da dependência, que se destacou na década de 1990 no Brasil, trouxe reflexos nos anos 2000, uma vez que a conjuntura internacional beneficiou o crescimento econômico da economia brasileira em um primeiro momento e levou à crise no ano de 2009. Segundo Duarte (2007), fica evidenciada a dependência da economia brasileira em relação ao fluxo de liquidez internacional: quando este é alto, a economia brasileira tende a crescer, quando é baixo tende a entrar em recessão. De acordo com Paula (2005), o governo FHC foi marcado por um baixo crescimento econômico com altas taxas de desemprego, redução da massa salarial e dos salários reais, aumento da dívida interna e externa. Além disso, houve aprofundamento da precarização das relações do trabalho e a permanência da concentração da renda e da riqueza, permanência esta que não era, de acordo com Cardoso e Falleto (1981), obstáculo para o crescimento econômico. A vitória do Partido dos Trabalhadores nas eleições de 2003 representaria, se levar em consideração as bases ideológicas, do partido, uma ruptura com as já instauradas medidas econômicas e sociais adotadas pelos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, antecessores de Lula. Paula (2005) reforça que, no entanto, ainda na campanha eleitoral em 2002, vê-se que o radicalismo esquerdista que marcava o Partido havia sido reformulado e praticamente abandonado em prol da governabilidade que Lula possivelmente deveria adotar a partir de 2003. De acordo com Paula (2005), o PT, já nas campanhas eleitorais em 2002, mostrou que abandonaria certas bandeiras defendidas há tempos em prol da 21 continuidade do compromisso com a estabilidade e a austeridade seguidas pelo governo antecessor de Fernando Henrique Cardoso e, segundo Giambiagi (2005), três documentos marcaram de maneira expressiva tal mudança de campanha eleitoral. Foram estes: a Carta ao Povo Brasileiro, onde o Partido se comprometeu a preservar o superávit primário quando necessário para impedir que a dívida interna aumentasse; o Programa de Governo, apresentado formalmente em julho de 2002, com ideais ligeiramente mais moderados que os planos apresentados anteriormente; e a Nota sobre o Acordo com o FMI, onde o PT se comprometeu a manter o acordo brasileiro firmado com o Fundo Monetário Internacional. Nos seis primeiros meses de 2003, de acordo com Filgueiras (2006), foram implantadas importantes medidas que acabaram por revelar a nova proposta petista, além de resultarem em uma diminuição das tensões macroeconômicas existentes no período que antecedeu as eleições. Tais medidas foram: nomeação de Henrique Meirelles, ex presidente do Bank Boston, como presidente do Banco Central; anúncio de metas de inflação de 8,5% e 5,5% para os anos de 2003 e 2004, respectivamente – valores menores que as metas dos anos anteriores, evidenciando uma continuação na política anti-inflacionária; elevação da taxa de juros básica (Selic); aumento da meta de superávit primário de 3,75% para 4,25% do PIB e, cortes nos gastos públicos para viabilizar o objetivo fiscal. O Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) abaixo, gráfico 05, mostra o comportamento controlado da inflação no período de 2004 a 2011: Gráfico 05: Taxa de Inflação (IPCA), em (%) – 2004 - 2011 Fonte: IPEADATA. Elaboração própria. 22 A queda do nível de inflação para 3,14% em 2006, se comparado ao 7,6 % de 2004, mostra a preocupação do governo com o equilíbrio do nível geral de preços, sendo apresentando ainda, o pequeno crescimento da inflação ao longo dos anos. No fim do período analisado, 2011, o índice registrou 6,5%, valor inferior ao nível de 2004. Segundo Giambiagi (2005, p.206), as atitudes tomadas pelo PT já nos primeiros meses no poder demonstram que o mesmo “somou-se a um vasto conjunto de partidos de esquerda que, ao longo dos anos e em diferentes países, tinham se transformado durante o exercício do Poder, adotando políticas relativamente ortodoxas, baseadas na austeridade fiscal e na estabilidade de preços”. Com relação à pobreza e desigualdade de renda, Ramos (2005) aponta a existência das políticas de redistribuição de renda promovidas pelo PT a partir de 2003 e elas podem ser causas do sucesso da queda da desigualdade; é interessante notar que, de maneira efetiva, o declínio da desigualdade acentuou-se a partir de 2001, e desde então vem decaindo de maneira contínua. Segundo dados do IPEA, entre 2001 e 2005 o grau de desigualdade de renda no Brasil declinou 4,6%. Ainda em 2005, foi observado o nível mais baixo de desigualdade de renda no país nos últimos 30 anos. Apresentada as condições de dependência da economia brasileira, em relação ao cenário externo, no período de 2002 até 2008 a economia mundial cresceu e o Brasil também, de modo que o alívio do governo Lula, em 2004, foi em função da melhoria da economia mundial, visto que o aumento dos preços das commodities exportadas pelo Brasil foi capaz de provocar uma melhora significativa na economia brasileira. Assim, a demanda pelos produtos que o Brasil exportava era grande, assim como o preço, possibilitando ao Brasil, reunir uma reserva cambial expressiva. O gráfico 06 analisa a melhora significativa no Balanço de Pagamentos a partir de 2004: 23 Gráfico 06: Saldo da Balança Comercial, Balanço de Pagamentos e Transações Correntes, em US$ Bilhões – 2004 - 2011 Fonte: IPEADATA. Elaboração própria. A melhora significativa do Balanço de Pagamentos está atrelada, conforme o gráfico 06 ilustra, ao aumento do saldo da balança comercial de 2004 até 2006, reforçando o impacto positivo causado pela valorização dos preços das commodities. No ano de 2007 a balança comercial sofre uma pequena queda, para US$ 40.031,6 Bilhões mas ainda é superior ao saldo de US$ 33.640,5 Bilhões no ano de 2004. Contudo, em razão do enfraquecimento do comércio internacional, atrelado à crise financeira de 2008, é possível perceber de que forma o Balanço de Pagamentos reduziu de US$ 87.484,2 Bilhões em 2007, para US$ 2.969,07 Bilhões em 2008. Uma vez exposta a situação de dinamismo favorável na economia brasileira nos “anos 2000”, que foi produto da dependência da economia brasileira aos países desenvolvidos, atrelado a valorização das commodities exportadas pelo Brasil, uma breve síntese da crise de 2008 é importante para perceber o momento em que tal dinamismo garantido sofre uma queda e ainda, a relação com a fuga de capitais para as economias desenvolvidas. Contudo, ainda que uma crise internacional tenha grandes efeitos negativos sobre os principais indicadores macroeconômicos, Modenesi (2012) reforça que as políticas anticíclicas, de característica keynesiana, que o governo adotou foram de grande importância para amenizar os efeitos maléficos sobre a economia brasileira. 24 5. Crise financeira de 2008 e valorização das commodities: influências no desenvolvimento da economia brasileira De acordo com Modenesi (2012), o diagnóstico que a crise financeira internacional recebeu é proveniente do regime de acumulação liderado pelas finanças e das proposições neoliberais que ficaram à mercê das elites mais ricas e poderosas, em detrimento das políticas Keynesianas – que buscariam a regulação dos mercados e pleno emprego. Nesse contexto, surgiu, como mecanismo de superação dos problemas causados pelas políticas neoliberais, a estratégia novo-desenvolvimentista4. De acordo com seus formuladores, ela seria capaz de proporcionar taxas de crescimento satisfatórias e sustentáveis nas economias. Sob o cenário da crise econômica mundial, Mazzucchelli (2008) argumenta que é inevitável o surgimento de relações entre a crise econômica de 2008 e a experiência da Grande Depressão, que esteve presente no mundo entre 1929 e 1933. Porém, apesar da desaceleração da economia e das perdas financeiras, a disposição para a intervenção estatal é, hoje, um elemento capaz de determinar a diferença nas iniciativas da política econômica. É, de certo modo, um fator decisivo que projeta um futuro menos sombrio para a evolução de uma crise. A crise no mercado imobiliário norte-americano, que desencadeou a crise financeira internacional ou nomeada apenas de “crise de 2008”, conforme completa (HOLLAND; ARANTES 2010), não parecia ter razões de existir em economias de mercado; sendo que, se acreditava cada vez mais nesse pensamento, como base na sabedoria convencional explanada por diversos economistas e muitos deles laureados com o Prêmio Nobel de Economia. Tudo indicava que os ciclos econômicos estariam razoavelmente domados e que as boas práticas monetárias e fiscais seriam suficientes para evitar algo como a Grande Depressão dos anos 1930. Afinal, 4 Essa estratégia ressalta, basicamente, a proposta de desenvolvimento econômico via mudança no manejo de política econômica e redução da taxa de juros, de modo que esta seria capaz de aumentar o investimento. Sobre as formulações que compõem o neodesenvolvimentismo ver: BRESSER-PEREIRA, L. C. O Novo Desenvolvimentismo. Folha de São Paulo, 2004. Disponível em: < http://www.bresserpereira.org.br/articles/2004/412.NovoDesenvolvimentismo.pdf> 25 “[...] quinze anos atrás, quase ninguém imaginava que países modernos seriam forçados a suportar recessões lancinantes, com medo de especuladores cambiais, e que as economias mais avançadas seriam capazes de gerar gastos suficientes para manter os níveis de ocupação dos trabalhadores e instalações. A economia mundial se revelou um lugar muito mais perigoso do que se supunha no passado”. (KRUGMAN, 2009 pág. 191). Fazendo um paralelo entre a Grande Depressão de 1929 e a Crise de 2008, Krugman (2009) relembrou de Robert Lucas (Universidade de Chicago), em 2003, que em sua posse como Presidente da Associação Econômica Americana, afirmou que "o problema central da prevenção das depressões foi resolvido" e de Alan Greenspan, em 2004, então presidente do FED (Federal Reserve System), diante de advertências de outros críticos sobre a futura ocorrência de bolhas: "[...] uma aguda distorção nacional dos preços seria muito improvável". A despeito de tais pronunciamentos, a crise de 1929 deixou pelo menos uma lição importante, a de que embora não gostem da presença do Estado, ela é, para eles, indispensável, pelo menos nas crises. Por isso mesmo, a atuação do Estado, desta vez, tem sido mais rápida. Ainda sob esta ótica, Mazzucchelli (2008) sustenta que: “Em ambos os casos, a débâcle foi precedida pela fragilidade da regulação e pelo relaxamento na percepção dos riscos, o que redundou em uma febre especulativa de consequências desastrosas. A inevitável proliferação de operações financeiras de lastro duvidoso, alavancadas pela expansão desmesurada do crédito, é um traço comum dos dois momentos históricos”. (MAZZUCCHELLI, 2008, nº82). Sob fundamentações da história do pensamento econômico, vale reforçar que sob o contexto da Grande Depressão, John Maynard Keynes – em “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” – acreditava na insuficiência de uma economia capitalista com atuação livre do mercado, sendo a intervenção estatal de suma importância para suprir a necessidade ao empregar toda a força produtiva de uma nação. Keynes (apud Moura, 1996, p.9) analisa que, ao buscar explicação analítica para o desemprego, tenta fundamentar às sugestões de intervenção estatal para garantir níveis satisfatórios de emprego. 26 A relação expressada é de oposição do economista John Keynes à uma economia capitalista com atuação livre do mercado, defendendo um Estado intervencionista, já que este garantiria níveis elevados de emprego. Segundo Mazzucchelli (2008), a intensidade da crise assolou parte expressiva do sistema financeiro mundial e provocou impactos sobre a evolução dos agregados econômicos reais (produção, investimento, emprego, etc.). A crise de 2008 foi, em geral, marcada pelo aperto de crédito e pela queda do produto, comércio e do emprego em grande parte dos países. Estes movimentos geraram aumento da aversão ao risco e substantivas quedas dos preços dos ativos reais como ações, imóveis e commodites (WEISS, 2010). Enquanto a crise adquiria caráter sistêmico a partir das perdas dos bancos com as hipotecas subprime, com mecanismos de contágio externo, no setor brasileiro a crise manifestava-se de forma distinta (ARAÚJO; GENTIL, 2011), visto que os grandes bancos não se envolveram com ativos de alto risco como os subprime, dada a existência de alternativa mais segura e rentável oferecida pelos títulos públicos (IPEA, 2009b, p. 89). Os gráficos 07 e 08 seguintes apresentam, respectivamente, o modo como se comportou, no período de 1995 – 2009, o índice geral de preços das commodities e o índice de preços específicos, sendo estes separados em commodities alimentícias, matérias-primas, minerais e energéticas. A evolução dos preços gerais das commodities nos mercados internacionais demostram, de acordo com o gráfico 07, uma tendência de crescimento expressivo a partir de 2003, relevando que esta foi revertida somente seis anos depois, em consequência da crise financeira internacional vivenciada em 2008 e 2009. Ademais, vale ressaltar que, mesmo em razão da crise, os níveis se mantiveram relativamente elevados se comparados aos anos anteriores a 2005, por exemplo. 27 Gráfico 07: Evolução dos preços internacionais das commodities no período 1995 – 2009 (Índice 2005 = 100) Fonte: IFS (2009), IMF (2010) O aumento persistente do nível geral de preços para os commodities então, no período de 2002 e 2008, foi expressado em função da alta significativa nos preços de alimentos, matérias-primas, minerais e energia. Atentando-se ao gráfico 08, após meados de 2004 é possível relacionar (LOURENÇO; POLLINE; VILELA, 2012), o aumento da demanda mundial por commodities minerais como consequência do crescimento expressivo das economias asiáticas, principalmente da economia chinesa, de modo que as altas cotações de tais commodities foram impulsionadas até 2007. Gráfico 08: Evolução dos preços internacionais de commodities específicas no período 1995 – 2009 (Índice 2005 = 100) Fonte: IFS (2009), IMF (2010). 28 Contudo, a queda do indicador geral dos preços das commodities no mercado internacional, em 2008 e 2009, está atrelada à redução da demanda mundial por commodities minerais e energéticas, dada a situação de crise financeira vivenciada no período. Porém, ao se falar sobre os efeitos desta crise sobre este mercado, há que mencionar que embora a recessão mundial tenha reduzido as commodities observadas em 2008, em geral, tais preços permaneceram mais elevados se comparados a recessões anteriores e tão altos quanto os níveis de 2005 até 2007, caracterizado pelo forte crescimento mundial. A partir do seguinte gráfico, é possível perceber a influência sobre a variação no PIB brasileiro no período, até o momento em que a recessão se inicia. Gráfico 09: PIB brasileiro – 2004 - 2011. Variação acumulada ao longo do ano, em (%) Fonte: IBGE. Elaboração própria. O dinamismo da economia brasileira, em termos de crescimento do PIB, atrelado à dependência do crescimento do mercado internacional e por tanto, à mercê da condição de liquidez do mesmo é então, estabelecido. A estabilidade econômica brasileira aliada a valorização dos preços, no mercado internacional, das commodities exportadas pelo Brasil influenciaram o crescimento do PIB na economia brasileira, possibilitando atingir a taxa acumulada de 6% em 2007, mas um declínio em 2008 e o valor negativo de 0,2% em 2009, como resultados da crise financeira. Contudo, o não envolvimento da economia brasileira com os títulos subprime, a opção por não cortar gastos públicos e o desenvolvimento das políticas econômicas que visavam incentivar o mercado interno por meio de políticas fiscais e monetárias, de 29 modo a recuperar a liquidez da economia, culminaram em um uma recuperação de 7,57% em 2010. É importante relacionar também, o crescimento da economia traduzido em aumentos das receitas do governo e com a variação sobre o consumo das famílias. De acordo com os gráficos que se seguem, é possível observar, a relação positiva existente entre tais situações. Gráfico 10: Impostos sobre o PIB em (%) – 2007 - 2011. Variação acumulada ao longo do ano, em (%) Fonte: IBGE. Elaboração própria. O aumento da arrecadação fiscal em proporção do PIB está atrelado ao favorável dinamismo da economia, este que foi reflexo da melhora da liquidez internacional. A partir de 2007 a arrecadação opera em decréscimo e em 2008, a variação de impostos sobre o PIB reduz, se comparada ao ano anterior, para 7,51%. O valor negativo de 0,28% no ano de 2009 é consequência dos valores decrescentes para a variação do PIB no ano de 2009, reforçando os efeitos da crise internacional. Todavia, a arrecadação acumulada de 10,78% em 2010 reforça o curto período de tempo em que a economia brasileira presenciou as consequências da crise internacional. Reforçando o papel do consumo na demanda efetiva, como meio de incentivar o crescimento econômico e, sob a mesma linha de variação do PIB e arrecadação tributária, é evidenciado no gráfico 11, a relação do consumo das famílias brasileiras nos períodos de crescimento econômico, assim como no período da recessão em 2009. 30 Gráfico 11: Consumo das famílias brasileiras – 2004 - 2011. Variação acumulada ao longo do ano, em (%) Fonte: IBGE. Elaboração própria. A partir de 2004, o crescimento percentual acumulado no consumo das famílias é contínuo, registrando 4,3% em 2005 e 6,4% em 2008. Entretanto, a queda do consumo para 4,2% em 2009 está atrelado a recessão do período e a sua retomada para 6,4%, em 2010, está relacionada as políticas expansionistas praticadas pelo governo, que permitiram manter a demanda aquecida, tendo em vista que não houve corte dos gastos públicos, ocorreu aumento do salário real mínimo, redução da taxa de juros e níveis controlados e satisfatórios de desemprego no país, este que pode ser ilustrado no gráfico 12: Gráfico 12: Taxa de Desemprego, em (%) – 2004 - 2011 Fonte: IPEADATA. Elaboração própria. 31 O nível de emprego na economia acompanhou o processo de crescimento econômico, de modo que 9,7% representava a taxa de desempregados no ano de 2004 e o valor reduziu para 7,8% em 2008. Ainda que a crise do subprime tenha causado impactos maléficos no nível de emprego e consumo das economias mais desenvolvidas, o nível de desemprego registrado em 2009, no Brasil foi de 9,1%, valor inferior aos 10,2% que marcaram 2005. A conjuntura de política econômica internacional beneficiou então, o crescimento econômico brasileiro a partir do momento em que ocorre um aumento das exportações e valorização das commodities exportadas, deixando evidente a dependência da economia brasileira em relação ao fluxo de liquidez internacional. Paralelamente, a vulnerabilidade externa mostra como os capitais migram das economias subdesenvolvidas para as desenvolvidas em períodos de crise. Nesse sentido, os gráficos seguintes mostram a porcentagem de Formação Bruta de Capital Fixo e os Investimentos Direitos Estrangeiros no Brasil, em bilhões de dólares, no período de 2004 a 2011. Gráfico 13: Formação Bruta de Capital Fixo – 2004 - 2011. Variação acumulada ao longo do ano, em (%) Fonte: IBGE. Elaboração própria. A Formação Bruta de Capital Fixo corresponde, segundo o site do IPEA, aos acréscimos no estoque de bens duráveis destinados ao uso das unidades produtivas, realizados em cada ano, visando ao aumento da capacidade produtiva do país, correspondendo basicamente a máquinas, equipamentos e material de construção. O 32 gráfico 13 indica que a capacidade de produção do país cresce de maneira significativa, atingindo 12,69% em 2008, mas registra o valor negativo de 1,87% em 2009 em razão da crise internacional. Contudo, em 2010 ocorre uma forte recuperação ao atingir 17,79%, fato que está atrelado ao incentivo proporcionado pelas políticas econômicas de carácter desenvolvimentista, com, por exemplo, o programa “Minha Casa, Minha Vida” e o forte incentivo para o setor de construção. A forma como o Brasil conseguiu amenizar os efeitos da crise internacional, garantindo um crescimento do PIB, assim como aumento no consumo das famílias e elevação da formação bruta de capital fixa para o ano de 2009, proporcionou uma situação de confiança diante dos investidores. O gráfico 14 complementa sobre os Investimentos Diretos Estrangeiros no Brasil para o período de 2004 até 2011. Gráfico 14: Investimento Direto Estrangeiro no Brasil, em US$ Bilhões – 2004 - 2011 Fonte: IPEADATA. Elaboração própria. No momento em que a economia brasileira apresentava bons indicadores a partir da relação com as commodities, o IDE no Brasil aumentou consideravelmente de US$ 18.570,29 Bilhões em 2004 para US$ 30.064,03 Bilhões em 2008. A queda registrada em US$ 19.906,35 Bilhões é um reflexo da crise internacional, de modo que os capitais estrangeiros migram para seus países de origem, porém o elevado aumento para os anos seguintes reforçam a confiabilidade transmitida pelo cenário brasileiro. Há de se concluir o modo como os países dependentes são reféns do fluxo externo, pois eles são o destino dos capitais oriundos dos países ricos e desenvolvidos 33 em momentos de tranquilidade econômica, mas quando há uma situação de receio ou ameaça de crise financeira, o fluxo dos capitais é revertido para os países ricos e desenvolvidos como direção. 5.1. Política econômica brasileira frente à crise A base das políticas keynesianas está no o Princípio da Demanda Efetiva de Keynes, que se dá na possibilidade de acumular riqueza mostrando que – de maneira oposta aos clássicos – o nível de emprego e renda são determinados pelo investimento, sendo este determinado pelos capitalistas que são os responsáveis pela geração de emprego. Ademais, deve-se ressaltar que a insuficiência na demanda agregada pode ser causada em função de corte de salários, assim como demissão de trabalhadores e esse tipo de retração se tornaria um ciclo. Nesse sentido, de acordo com Keynes (apud Moura, 1996), é então necessária, a intervenção do Estado para criar demanda capaz de incentivar o consumo e aumentar a renda de equilíbrio da economia. Sob tal perspectiva de intervenção, Kalecki utiliza, como bem ilustra Possas (1987), de variáveis macroeconômicas, para demonstrar que o capitalismo é instável. O investimento é entendido como variável chave da economia, de modo que, é importante a atuação do Estado na tentativa de aumentar tal variável, além de considerar a poupança como variável residual. O peso da teoria recaí portanto, sobre o Investimento e não sobre a Poupança. Com relação aos gastos, estes são considerados como variável ex-ante e autônomos – determinam o lucro. Os gastos são financiados pelo crédito, por instituições bancárias e após o governo aumentar os gastos na economia, a receita virá como consequência e dela irá originar o lucro, variável ex-post. Nesse sentido, a resposta do governo brasileiro foi vista, não em cortes públicos, mas sob medidas de incentivos de estímulos fiscais, política monetária ao adotar princípios de recuperação do nível de liquidez da economia, métodos para conter a crise cambial e adoções para garantir a solidez do setor bancário. O quadro abaixo mostra o comportamento e variação da taxa de câmbio, de juros e índice nacional de preços ao consumidor amplo no período de 2002 a 2012: 34 Quadro 01: Evolução média da Taxa de Câmbio, Taxa de Juros e IPCA (%) de 2002 até 2012. Ano Taxa de Câmbio 2002 2,92 2003 3,08 2004 2,93 2005 2,44 2006 2,18 2007 1,95 2008 1,83 2009 2,00 2010 1,76 2011 1,68 2012 1,95 Fonte: IPEADATA. Elaboração própria. Taxa de Juros (%) 17,67 21,17 15,15 17,57 14,13 11,28 11,82 9,51 9,35 11,04 8,18 IPCA (%) 12,53 9,3 7,6 5,69 3,14 4,46 5,9 4,31 5,91 6,5 5,84 Como já foi relacionado, em momentos de recessão mundial o capital tende a migrar para as economias mais desenvolvidas, causando por exemplo, desvalorização cambial nas economias mais vulneráveis. Contudo, é interessante observar que o governo brasileiro utilizou métodos para conter a crise cambial no período da crise econômica, além da redução da taxa de juros para 9,51% em 2009, como forma de incentivar o crescimento da economia e garantir solidez ao sistema bancário. Pode-se citar, segundo Leonardo e Lobato (2011), a redução no compulsório, expansão do crédito por parte dos principais bancos públicos – Caixa Econômica Federal (CAIXA), Banco do Brasil (BB) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – e a redução (mesmo que tardia) da taxa básica de juros. Nos meios governamentais, o Brasil era comumente apontado como “o primeiro país a sair da crise”5. A primeira medida anunciada em 2008, conforme IPEA (2011), destaca as desonerações fiscais, que beneficiou o setor automotivo e, por conseguinte, setores produtores de eletrodomésticos de linha branca, material de construção. Com o pretexto de viabilizar o pacote de desonerações fiscais de modo que o governo não precisasse envolver-se a cortes de gastos públicos, foi anunciado, em razão disso, a redução da meta de superávit primário, de 4,3% para 2,5% do PIB para 2009. Ainda sob o referencial de Leonardo e Lobato (2011) no Texto para Discussão nº 1602, disponibilizado pelo IPEA, é importante citar medidas complementares como o Segundo o jornal Valor Econômico, edição de 4 de março de 2009: “O Brasil ‘será o primeiro país a sair da crise’, após ter sido um dos últimos a desacelerar o ritmo de crescimento, afirmou hoje o ministro da Fazenda, Guido Mantega.” O Ministro do Planejamento Paulo Bernardo fez afirmação semelhante, publicada no site do próprio Ministério: “Brasil será o primeiro país a sair da crise, diz Bernardo”. 5 35 aumento do salário real mínimo e o Programa Minha Casa Minha Vida; este que visava estimular o setor de construção civil através da construção de casas populares. Nesse sentido, o crescimento econômico garantido a partir de 2004, em razão da valorização no preço das commodities exportadas, entrou em declínio com a recessão da economia mundial em 2008. Contudo, o Brasil adotou uma política anticíclica de caráter keynesiana, para manter a demanda interna aquecida como forma de minimizar os efeitos da crise do subprime. 36 6.Considerações Finais A economia brasileira passou por algumas mudanças estruturais durante a década de 1990, pois houve um processo de abertura e desregulamentação dos mercados que aprofundou as condições de dependência e vulnerabilidade externa. Nesse sentido, o entendimento do Consenso de Washington como receituário neoliberal, que propunha o desenvolvimento econômico a partir da abertura comercial, e do Plano Real, foi peça fundamental para entender tais mudanças estruturais na economia brasileira, visto que significou uma tentativa de estabilização macroeconômica via sobrevalorização cambial para incentivar as importações. O Plano obteve êxito no controle da inflação, porém a análise dos indicadores macroeconômicos permitiram concluir nitidamente: o aumento da dívida externa do país, aumento significativo no envio de remessas de royalties e dividendos para o exterior, aumento da taxa de desemprego, déficits no balanço de pagamentos e dificuldades na condução de políticas econômicas, dada a armadilha estabelecida pela valorização cambial e controle de taxa de juros. Por outro lado, um dinamismo favorável ao crescimento econômico do Brasil foi observado pelos indicadores a partir de 2004, de modo que tal fato está atrelado a valorização dos preços das commodities exportadas pelo país, reforçando a dependência da situação de liquidez internacional. Neste período, houve um crescimento considerável do PIB, taxas de desemprego relativamente baixas, saldos positivos na balança comercial e no Balanço de Pagamentos. Foi possível relacionar ainda, que tal crescimento, garantido pela valorização das commodities, apresentou queda no ano de 2008 como consequência da crise financeira internacional. Ainda que uma crise internacional tenha efeitos desastrosos sobre os principais indicadores macroeconômicos, as políticas anticíclicas, de característica keynesiana, que o governo brasileiro adotou foram de grande importância para amenizar os prejuízos sobre a economia. Ao relacionar a crise internacional que ocorreu com 2008 com dependência, é possível entender que nos momentos de tranquilidade econômica no mercado internacional, as economias vulneráveis beneficiam-se de tal situação, mas nos períodos de recessão, os capitais tendem a migrar para as economias desenvolvidas e agravar os efeitos da crise econômica nos países dependentes. 37 Entretanto, o não envolvimento do Brasil com os títulos de subprime e a condução das políticas anticíclicas adotadas influenciaram na rápida recuperação da economia brasileira após a crise internacional, garantindo crescimento do PIB além de uma boa imagem, se comparada ao resto do mundo. 38 7. Anexo Fonte: Dados extraídos do Banco Central cf. Carcanholo 2003. 39 8. Referências Bibliográficas ARAÚJO, Victor Leonardo de. GENTIL, Denise Lobato. Avanços, recuos, acertos e erros: uma análise da resposta política econômica brasileira à crise financeira internacional. Texto Para Discussão nº 1602. 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