síndrome de fournier – conhecimento dos enfermeiros frente a esta

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SÍNDROME DE FOURNIER: CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS FRENTE A
ESTA PATOLOGIA
Joliane Cardoso Queiroz¹, Lucijane Frota da Silva¹, Tarcísio Viana Cardoso², Karla Patrícia
Moreira da Silva³
¹Graduando (a) do curso de Enfermagem. Faculdade Guanambi- FG/CESG. E-mail: [email protected]
²Fisioterapêuta. Mestrando em Saúde Coletiva-UEFS. Especialista em Saúde Pública com Ênfase em PSF.
Docente Faculdade Guanambi- FG/CESG
3
Enfermeira. Especialista em Saúde Pública com Ênfase em PSF, Assistência de Enfermagem em Urgência e
Emergência. Co-orientadora.
RESUMO: A Síndrome de fournier ou gangrena fulminante como também é conhecida,
refere-se a uma infecção polimicrobiana causada pelo sinergismo de bactérias aeróbicas e
anaeróbicas que promovem a necrose principalmente das regiões genital, perineal e perianal.
O propósito do presente estudo foi identificar o conhecimento dos enfermeiros do Hospital
Regional de Guanambi que tiveram contato com a Síndrome de Fournier. Trata-se de um
estudo descritivo, quantitativo e qualitativo do tipo transversal, cuja coleta de dados foi
realizada por meio de entrevista semiestruturada, que tomou como orientação o método de
pesquisa survey. De acordo a análise dos resultados pôde-se perceber que a maioria dos
enfermeiros já possuía algum conhecimento sobre a síndrome. Porém mediante alguns relatos
tornou-se evidente que este conhecimento não foi suficiente para embasar a oferta do cuidado,
já que houve a necessidade de busca de informações e orientações aos demais colegas
profissionais. Desta forma, percebe-se a necessidade de atualizações constantes para os
profissionais através de oficinas de educação continuada, focada em síndromes pouco
frequentes como a Síndrome de Fournier, visando promover cuidados mais específicos
através do conhecimento da patologia e consequentemente a melhora da qualidade da
assistência ofertada ao paciente.
Palavras-chave: Assistência. Compreensão. Gangrena Fulminante.
FOURNIER SYNDROME: KNOWLEDGE OF NURSES FORWARD TO THIS
PATHOLOGY
ABSTRACT: Syndrome or fulminant Fournier gangrene is also known as, refers to a
polymicrobial infection caused by the synergism of aerobic and anaerobic bacteria which
promote mainly necrosis of the genital and perianal perineal regions. The purpose of this
study was to identify the knowledge of nfermeiros Regional Hospital Guanambi who had
contact with Fournier's syndrome. This is a descriptive, qualitative and quantitative crosssectional study, which data collection was conducted through semi-structured interviews,
which took as guidance the method of survey research. According to analysis of the results it
could be noticed that most of the nurses already had some knowledge about the syndrome.
But by some accounts became evident that this knowledge was not enough to support the
provision of care, since there was a need to search for information and guidance to other
2
professional colleagues. Thus, we see the need for constant updates for professionals through
continuing education workshops focused on infrequent syndromes such as Fournier's
syndrome, to promote more specific care through knowledge of pathology and consequently
improving the quality of care offered to the patient.
Keywords: Assistance. Understanding. Fulminating gangrene.
INTRODUÇÃO
Considerada rara e de caráter devastador devido à intensa destruição tissular que
causa no subcutâneo e fáscia, a Síndrome de Fournier pode ser entendida como uma infecção
polimicrobiana provocada pelo sinergismo de bactérias aeróbicas e anaeróbicas, que causa
uma fasciite necrotizante que afeta principalmente as regiões genital, perineal e perianal
(DIAS & POPOV, 2009). Relatada com detalhes em trabalhos publicados em 1863 e 1864
pelo urologista francês Jean Alfred Fournier, essa enfermidade manifesta-se por uma
endarterite obliterante que provoca trombose nos vasos subcutâneos seguido por isquemia e
necrose dos tecidos, o que leva a entrada de bactéria em áreas estéreis (HOFFMANN et al.,
2009).
Mais frequentemente diagnosticada nos homens, esta ocorre numa proporção de 10:1
e atinge uma média de idade de 50 anos (CARDOSO & FÉRES, 2007). Dentre as sugestões
pela preferência da pele escrotal encontra-se a falta de higiene, a evaporação menor do suor e
as rugas da pele que impedem a livre circulação com baixa resistência à infecção (DIAS &
POPOV, 2009). Apesar de muitas vezes a causa permanecer desconhecida, alguns fatores
contribuem para o seu aparecimento como: comorbidades predisponentes, imunossupressores,
doenças colorretais, urogenitais e alguns traumas (locais e mecânicos) (DORNELAS et al.,
2012).
O diagnóstico se dá por meio dos achados clínicos e os principais exames
laboratoriais incluem a bacterioscopia e cultura com antibiograma das secreções e tecido
necrosado. Dentre as manifestações clínicas observa-se a presença de sinais flogísticos como
(dor, calor, edema e eritema local), vesículas, crepitação, fístulas com drenagem de secreção
purulenta e odor fétido, além de sintomas como febre, mal-estar geral, hipotensão ou
hipertensão e outros sinais de toxicidade sistêmica. O tratamento deve ser iniciado o mais
rápido possível, com desbridamentos cirúrgicos e antibioticoterapia de largo espectro
(BERINDOAGUE et al., 2001). Dornelas et al. (2012) ressalta ainda a importância do rápido
3
desbridamento, uma vez que os pacientes não submetidos a esse procedimento tem
mortalidade igual a 100%.
Assim, diante da infinidade de doenças existentes o profissional necessita obter
informações para melhor compreender os aspectos biopsicossociais do indivíduo portador da
síndrome e com isso adquirir maior domínio a fim de fundamentar sua assistência a esses
pacientes. Por ser conceituada como uma síndrome rara e por perceber um aumento na
frequência de casos apresentados em pacientes que procuraram o Hospital Regional de
Guanambi, o presente estudo buscou identificar o conhecimento dos enfermeiros que
atenderam pacientes portadores da síndrome de Fournier.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho por se tratar de um estudo com seres humanos se desenvolveu
mediante aplicação de um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), elaborado de
acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Tratou-se de um estudo
descritivo, quantitativo e qualitativo do tipo transversal, cuja coleta de dados foi feita através
de entrevista semiestruturada por meio de registro cursivo e gravação com auxílio de um
gravador de voz portátil digital Panasonic RR US300 mediante autorização dos entrevistados.
Tomou-se como orientação o método de pesquisa survey. Os dados foram coletados no
primeiro semestre do ano de 2014 em Guanambi, munícipio do estado da Bahia que de acordo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população estimada é em 85.237
habitantes (2010). Os profissionais escolhidos para participarem da pesquisa atuavam nos
setores Emergência, Centro Cirúrgico, UTI e Ala A, pois os mesmos tiveram contato com
esses pacientes.
Os indivíduos entrevistados foram os enfermeiros dos setores supracitados que
possuíam cadastro no conselho regional de enfermagem, tempo de trabalho superior a dois
anos no local da pesquisa e que tinham atendido o paciente com a patologia em questão. A
população foi composta por 41 profissionais e a amostra contou com 32 enfermeiros, devido
os outros não se adequarem aos critérios de inclusão. Utilizou-se para esse estudo a técnica de
amostragem segundo Barbetta (2007). No roteiro da entrevista constavam três partes: a
primeira que trazia o objetivo da pesquisa, a segunda os dados de identificação profissional e
a terceira as questões subjetivas e objetivas.
Os dados foram coletados em todos os dias da semana durante o horário disponível
na jornada de trabalho dos entrevistados, em uma sala reservada na presença de um assistente
4
responsável pela pesquisa. Após a coleta, os dados foram organizados através de tabulação
manual e logo em seguida foram gerados gráficos e tabelas por meio dos programas Excel e
Word 2010® da Microsoft. Na discussão dos dados, para evitar exposições escolheu-se a letra
E a fim de abreviar o profissional enfermeiro seguido de um número ordinal, segundo ordem
da entrevista.
A análise estatística se desenvolveu em dois níveis: descrição e avaliação das
generalizações obtidas a partir desses dados, e posteriormente foi realizada a interpretação dos
mesmos e confrontação com as informações contidas na literatura para confiabilidade dos
resultados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados foram organizados e discutidos à luz da literatura pertinente. Foram
entrevistados 32 enfermeiros do Hospital Regional de Guanambi sobre o conhecimento
mediante contato com a síndrome. Destes, 78% (n=25) eram do sexo feminino e 22% (n=07)
do sexo masculino. A faixa etária dos indivíduos compreendeu idades entre 20 a 30 anos 41%
(n=13), 31 a 41 anos 53% (n=17) e acima de 42 anos 06% (n=02) e destacou-se de forma
predominante a faixa etária entre 31 a 41 anos com 53%.
Supõe que a arte do cuidado associado à figura do sexo feminino começa desde
tempos antigos, com as práticas de Florence Nightingale, fundadora da Enfermagem aos
feridos na guerra da Crimeia, desde então se percebe o aumento do reflexo desta profissão ao
sexo feminino. Alberti & Alberti (2010) corrobora com esse ao colocar que as construções
culturais promovem a associação do cuidado às atribuições femininas, o que mostra
representações sociais sobre o profissional Enfermeiro e justifica a predominância da figura
feminina na profissão.
Ao questionar os entrevistados a respeito do conhecimento sobre a síndrome,
percebeu que 100% (n=32) afirmaram saber do que se tratava a patologia.
Pressupõe-se que o conhecimento da patologia seja o primeiro instrumento utilizado
para prestação do cuidado, pois é através dele que se adquire uma obtenção do respaldo
necessário para fundamentar e embasar a assistência, de forma a garantir cuidados específicos
que promovam o bem estar do paciente. Dias & Popov (2009) colocam a importância dos
enfermeiros terem conhecimento sobre a patologia e cuidados em relação à mesma, já que a
doença requer cuidados específicos e os mesmos devem está preparados de forma técnica e
emocional para cuidarem desses pacientes.
5
De acordo com Mallikarjuna et al. (2012, p.1) “ houve um aumento no número de
casos nos últimos tempos”. Assim pressupõe-se que esse conhecimento dos enfermeiros possa
ser justicado pelo aumento de casos ou até mesmo esteja relacionado a uma maior abordagem
da patologia em estudos científicos. Pois se comparado há 30 anos, o número de casos era
menor (CARDOSO & FÉRES, 2007), possivelmente o resultado poderia ser inverso ao
encontrado hoje. Porém percebe uma mudança nesse quadro, como mostra Cavalini et al.
(2002) ao colocar que nos últimos anos esta síndrome tem sido observada com maior
frequência entre aquele que buscam a assistência em saúde.
Ao questionar os 32 enfermeiros, se os mesmos possuíam conhecimento sobre a
síndrome mediante os cuidados prestados, 72% (n=23) confirmaram ter alguma informação,
enquanto que 28% (n=09) relataram que os cuidados foram prestados sem nenhum
conhecimento prévio da doença (Figura 1), como pode ser observado nos relatos abaixo:
“Seguindo todas as orientações do médico assistente.” (E1);
“Fui orientado pela colega enfermeira e pelo médico prescritor”
(E2);
“A assistência foi prestada de forma empírica e dos problemas
apresentados em discussões com outras classes profissionais.” (E3);
“Teve a assistência cirúrgica e os cuidados com os curativos.” (E4);
“Não houve dificuldade.” (E5);
“O paciente sentia muita dor ao manipular o curativo, normalmente
fazíamos medicação analgésicas antes do curativo, e alguns curativos
eram realizados no C.C.” (E6);
“(...) A assistência prestada ao mesmo foi indiferente das outras
lesões tratadas nesta unidade, apesar de maior cuidado com a
íntimidade do paciente.” (E7);
“(...) a assistência prestada foi à mesma desenvolvida em uma
unidade de terapia intensiva, com detalhe para as medidas de
isolamento de contato.” (E8);
“Assistência prestada com cuidado específico e medidas de
isolamento.” (E9);
Estima-se que o conhecimento sobre a síndrome é peça fundamental para uma boa
evolução do quadro clínico do paciente, pois é através dele que o enfermeiro adquire o
6
embasamento teórico necessário para implementação de um plano de cuidado que atenda as
particularidades do indivíduo.
Lapa et al. (2004) concorda com a afirmação acima, ao dizer que é necessário o
enfermeiro ter pleno conhecimento sobre a patologia, para identificar sinais de complicações
que acarretam prejuízos aos pacientes.
Mehl et al. (2010) amplia a citação do autor
supracitado ao afirmar que é importante identificar precocemente o ínicio da infecção devido
as manifestações cutâneas ainda serem mínimas, o que representa apenas a ponta do iceberg
para propagação da síndrome para os planos fasciais.
Figura 1 – Já possuía conhecimento sobre a síndrome mediante os cuidados prestados?
SIM
NÃO
72%
28%
Fonte: Dados da Pesquisa
Ao indagar os 32 entrevistados sobre a busca de informações após o contato com a
síndrome, 78% (n=25) confirmaram a procura por referências sobre a enfermidade (Tabela 1).
Supõe provavelmente que esta busca tenha sido realizada com o intuíto de contribuir
de maneira significativa com a qualidade da assistência ofertada a esse paciente. Lapa et al.
(2004) concorda com esta afirmação ao dizer que o conhecimento adequado sobre tal
patologia é de uma interatividade multidisciplinar, para obtenção do sucesso terapêutico.
Ao analisar os dados em relação ao prognóstico ser positivo ou negativo percebeu-se
que a assistência fornecida contribuiu com 75% (n=24) de forma positiva, 16% (n=05) de
forma negativa e 9% (n=03) não responderam.
Com isso supõe-se que esse elevado número de respostas em relação à assistência,
está associado à busca por informações, como citado acima. Já que mediante conhecimento, o
7
profissional provalvemente irá agir de forma a contribuir com a recuperação do paciente.
Desta forma se entende que a litertura sobre a Síndrome de Fournier torna-se ferramenta
fundamental para o tratamento do paciente, assim como os desbridamentos e a terapêutica de
largo espectro, pois é através dela que se adquire o conhecimento necessário a prestação da
assistência.
Barreiro et al. (2007) confirma isso ao dizer que a inadequada intervenção assim
como a demora do diagnóstico provocam a rápida extensão da infecção e necrose, que leva a
um quadro de septicémia e falência multiorgânica, principais responsáveis por óbitos e
consequentemente prognóstico negativo, ou seja a prática inadequada devido ao pouco
conhecimento, contribui para um prognóstico negativo. Jeong et al. (2005) alarga a fala do
autor supracitado, ao descrever que a maior atenção que vem sido dada a Síndrome de
Fournier é devido seu carácter incomum, sua incidência crescente e a falta de experiência para
tratá-la.
Ao perguntar sobre os cuidados fornecidos a nível hospitalar aos portadores da
síndrome, obteve os seguintes dados: 69% (n=22) dos enfermeiros entrevistados afirmaram
que os cuidados além de curativos também são preventivos, já 31% (n=10) disseram que os
mesmos são meramente curativos.
Diante dos dados, percebe-se a desinformação por parte desses profissionais, pois
apesar de 100% dos indivíduos afirmarem conhecer a sìndrome, 69% afirmam a possibilidade
de realizar um trabalho preventivo. O que é algo totalmente inviável já que a prevenção visa
impedir o surgimento da doença e o paciente ao chegar ao ambiente hospitalar, já se encontra
com a doença instalada e com grau de necrose que avança de forma rápida o que impede
assim a realização de qualquer tipo de prevenção.
De acordo com o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem é
responsabilidade e dever do enfermeiro o aprimoramento dos seus conhecimentos técnicos,
científicos, éticos e culturais, a fim de promover benefícios à pessoa, família e coletividade,
além do desenvolvimento profissional (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM,
2007).
Dornelas et al. (2012) afirma que a gangrena evolui 2,5 cm²/h, de forma que torna-se
essencial a retirada do tecido necrótico sempre que surgirem novas áreas. Lapa et al. (2004)
traz que as intervenções gerais de enfermagem ao portador da síndrome incluem: o curativo
conforme necessidade, a observação do surgimento de novas áreas de necrose e sinais de
infecção local, o controle das intervenções clínicas e cirúrgicas e a observação rigorosa dos
sinais de sepse, o que se caracterizam como práticas meramente curativas.
8
Tabela 1- Disposição dos dados obtidos durante entrevista com Enfermeiros do Hospital
Regional de Guanambi.
Nº
%
Nº
%
Questão 4
SIM
NÃO
78
Questão 5
25
POSITIVO
07
22
NEGATIVO
Questão 6
24
75
PREVENTIVOS
05
16
CURATIVOS
22
10
69
31
Fonte: Dados da pesquisa
Questão 4: Após o contato com Síndrome de Founier buscou alguma fonte de informação?
Questão 5: Prognóstico?
Questão 6: Os cuidados fornecidos aos pacientes portadores da Síndrome?
Ao perguntar se o paciente teve a nível hospitalar acompanhamento psicológico,
59% (n=19) dos entrevistados confirmaram o atendimento, já 38% (n=12) revelaram que os
pacientes não foram assistidos pelo psicólogo e 3% (n=1) dos profissionais não se lembravam
(Tabela 2).
Presume que a Síndrome provoca grande impacto nos seus portadores, pois não se
limita apenas na destruição física provocada pela necrose, ela também causa uma enorme
perturbação psicológica no indivíduo que se vê portador de algo que não sabe como surgiu e
que provoca grande devastação na região íntima, além de invadir totalmente sua privacidade.
Ressalta-se também o medo da morte, que causa grande abalo ao paciente que se vê
inutilizado e impotente diante daquela situação que acredita ser o fim, o que deixa claro a
indispensabilidade de um trabalho psicológico. Assim sugere-se a inserção desse profissional
na equipe a fim de oferecer um suporte psíquico no tratamento do indivíduo.
Mehl et al. (2010) concorda com a afirmativa supracitada, ao colocar que as
consequências psicológicas desenvolvidas nos portadores da Síndrome de Fournier se devem
a dor intensa provocada pela patologia, a desfiguração física e fatores emocionais como a
ansiedade, medo, preocupação e desesperança. Essa falta de harmonia pode então prejudicar o
processo de cura. Assim o suporte do serviço social e psicólogo tornam peças chave no
tratamento, para o paciente e sua família já que irá contribuir para cura física e emocional.
Andrade et al. (2005) coloca a importância do apoio dos familiares e a manutenção
de um bom vínculo com os profissionais, de forma a encorajar os pacientes para que os
mesmos não desanimem. Percebe-se a necessidade desse apoio psicológico principalmente
nos casos dos homens, devido o fato de ser mais acometidos que as mulheres (BARREIRO et
9
al., 2007). Sugere-se também o fato da intensa deformidade provocada, causar um grande
abalo na masculinidade tão importante para o homem. Cardoso & Féres (2007) colocam
ainda o fato de um transtorno psicológico referente à necessidade de em muitos casos se
realizarem a orquiectomia (retirada cirúrgica dos testículos), prática presente em 21% dos
casos devido ao comprometimento necrótico dos mesmos.
Ao perguntar se os profissionais possuíam treinamento específico, para prestação de
cuidados a pacientes com patologias que causam deformidades físicas, 100% (n=32)
responderam que não (Tabela 2).
Nota-se a necessidade de elaboração de cursos de treinamentos para os profissionais
em seu ambiente de trabalho, especialmente para o cuidado de Síndromes consideradas raras e
impactantes como a Fournier, que provoca alterações físicas severas no portador.
A
importância de fornecer cursos de atualizações frequentes pelas instituições de saúde está em
garantir aos profissionais condições para o seu máximo desempenho.
Supõe que ao se deparar com uma patologia considerada rara, pouco frequente e de
pouca informação, a enfermagem acaba por se limitar em procedimentos padronizados
básicos e acredita-se que desta forma estará indo de encontro aos resultados esperados. O que
realmente pode acontecer, porém de certa forma a qualidade da assistência prestada será
precária, já que o conceito de qualidade está intimamente ligado à humanização no
atendimento que pode ser garantida pela associação de competência técnica e interação com
os pacientes (HADDAD & ÉVORA, 2008).
Conforme diz a Lei 7.498/86 em seu Art.11º cabe ao enfermeiro como integrante da
equipe de saúde, “prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados à
clientela durante a assistência de enfermagem”.
Chiavenato (2008) apud Barbosa (2010) corrobora com esta afirmação ao dizer a
importância da qualificação, capacitação e aperfeiçoamento como um entrelaçamento de
ações que devem está associada ao planejamento da instituição, com o objetivo de promover
de forma contínua, o máximo desempenho dos profissionais para que estes desempenhem
suas atividades com mais qualidade e eficiência.
Ao perguntar os entrevistados se achavam que a enfermagem contribuía para a
qualidade de vida dos pacientes diagnosticados com a síndrome, 100% (n=32) dos
entrevistados responderam que sim (Tabela 2). Questionando ainda a forma, houve a obtenção
das seguintes afirmativas:
10
“Buscando se atualizar para prestar uma assistência de qualidade.”
(E1);
“A enfermagem é responsável pelos cuidados prestados ao paciente,
bem como sua reabilitação física e emocional, prevenção de
complicações e infecções” (E2).
“Na prestação dos cuidados, juntamente com as orientações em
relação à patologia.” (E3).
“Assistência humanizada.” (E4).
“Na assistência dada ao paciente.” (E5).
“Respeitando a intimidade e privacidade do paciente, cuidando de
forma humanizada e holística.” (E6).
“Com humanização no cuidado.” (E7).
“Através do cuidado, da reabilitação do paciente e das instruções
dadas para prevenção de agravos.” (E8);
“No cuidado com a ferida e com as informações necessárias.” (E9).
“Prevenção, tratamento, informação e cuidado.” (E10).
“Na prevenção dos cuidados das sequelas e nas orientações do dia a
dia.” (E11).
“Realizando a assistência a estes pacientes com qualidade e
compromisso. Orientando os pacientes sobre os cuidados prestados.”
(E12).
“Prestando uma assistência de qualidade para prevenir a infecção
cruzada.” (E13)
“Devido ao contato direto da enfermagem com o paciente, através do
cuidado com tratamento e prevenção.” (E14).
“Cuidando bem da lesão, encorajando-o e explicando sobre a
patologia.” (E15);
“Com orientações e cuidados com curativos, porque a maioria dos
pacientes que chegam, está na fase crônica.” (E16).
“No sentido de tratamento, cura e também no sentido de orientação,
assim como educação em saúde.” (E17).
“Oferecendo conforto ao paciente e apoio psicológico.” (E18).
11
“A enfermagem como ciência do cuidar é apta a assistir o paciente
em todas as suas necessidades, físicas, mental e social.” (E19).
“Ajudando no autocuidado, formando informações e melhorando os
cuidados fora do âmbito hospitalar.” (E20).
“Como a enfermagem que presta a assistência, através dos cuidados
adequados.” (E21).
“A enfermagem lida diretamente com o paciente e passa maior parte
do tempo junto a ele, conhece suas necessidades e presta os cuidados
devidos.” (E22).
“No plano de cuidados podemos citar monitorização de sinais vitais,
registros de alterações, acompanhamento de autocuidado de higiene e
alimentação, realização de curativos, manutenção de cuidados com
procedimentos para prevenir infecção, todos esses cuidados
contribuirão com certeza para a melhoria da qualidade de vida dos
pacientes.” (E23).
“Além dos curativos diários necessários no caso dessa síndrome, a
enfermagem, tem o importante papel de orientar pacientes e
familiares a respeito da doença, de fornecer um ambiente que respeite
a privacidade do paciente, já que produz odor fétido, o que provoca
constrangimento do paciente quando o mesmo fica em enfermaria
com outros pacientes.” (E24).
“Conforto, cuidados para a cicatrização e cura, encaminhamento
psicológico e reabilitação se necessário em PSF.” (E25).
“Assistência de enfermagem de rotina como: realização de curativos,
medicações, apoio psicológico, nutricional, cuidados de higiene
pessoal, orientações e etc.” (E26).
“A enfermagem contribuiu para a melhoria da qualidade de vida dos
pacientes, através da prestação de assistência de qualidade, do apoio,
da prestação de informações que ajude a minimizar as preocupações
e orientações sobre cuidados de higiene entre outras.” (E27).
“Prestando os cuidados de enfermagem com ética e conhecimento
científico. Orientar o paciente sobre a S.F e a importância do estado
emocional para a cura da doença.” (E28).
“No ambiente hospitalar a enfermagem contribui para uma melhor
evolução do quadro apresentado, evitando agravantes que possam
piorar o prognostico, já na assistência básica prevenindo e
orientando.” (E29).
“A enfermagem colabora substancialmente na assistência ao
portador de S.F, sobretudo nos cuidados referentes ao curativo,
12
avaliação da evolução da ferida, bem como na orientação quanto a
higiene corporal.” (E30).
“Com orientações sobre cuidados higiênicos, alimentação saudável e
rica em proteína facilitando a cicatrização mais rápida da lesão.
Prestando uma assistência integral (biopsicossocial) aos pacientes e
seus familiares.” (E31).
“A qualidade de vida é mantida à medida que se presta os cuidados
em relação aos curativos realizados, levando a uma cicatrização mais
rápida e também medidas de conforto principalmente em relação ao
dialogo que se dá entre nós e o paciente.” (E32).
Diante das falas anteriores percebe-se a importância da atualização, já que é por meio
dela que se obtêm as informações necessárias para realização da prática. Pressupõe também
como o conhecimento faz diferença na prestação da assistência, pois através da informação de
que a síndrome produz odor fétido, o profissional atenta-se para a necessidade de promover a
privacidade, o que consequentemente proporcionará uma melhor assistência na percepção do
paciente.
Alguns relatos esclarecem as necessidades da assistência focada também no
psicológico do paciente, pois esta síndrome na maioria das vezes causa grande deformidade
na região genital, o que abala consideravelmente a autoestima e contribui como ponto
negativo para a rápida recuperação. Assim torna-se foco da assistência prestada a esses
pacientes, o trabalho psicológico que visa fornecer informações, esclarecimentos de dúvidas,
medos e promoção da autoestima.
Como pôde ser visto as afirmações foram variadas, mas tornou-se perceptível na
maioria dos relatos a importância dos curativos e da visão do paciente como um todo, além da
atenção à questão emocional, educação em saúde, alimentação para recuperação do indivíduo
e promoção da qualidade de vida.
Ferreira et al. (2008) coloca que a enfermagem desde o início da profissão está ligada
aos cuidados com os ferimentos na pele e é de responsabilidade do enfermeiro o tratamento e
prevenção destas sempre que possível, através de avaliação e orientação quanto ao melhor
método de se cuidar da lesão, sendo esta uma prática reconhecida pela Sociedade Brasileira de
Enfermagem Dermatológica (SOBEND). Entretanto os mesmo devem está sempre atentos,
para não deixar a assistência focar somente na cura da lesão, pois atrás da ferida se encontra
um paciente debilitado que necessita de uma abordagem holística.
A comunicação é outra ferramenta importante para prestação de uma assistência de
enfermagem com qualidade, pois através dela consegue-se muitas vezes uma aproximação
para confortar o paciente, através do toque, do olhar, do ouvir, a fim de recuperar a sua
13
autoestima e prover o cuidado emocional tão importante para garantia da qualidade de vida do
paciente e sua família (ORIÁ et al., 2004). Campos & Rodrigues Neto (2008) corroboram
com a afirmação supracitada ao dizer que a qualidade de vida pode estar relacionada à
promoção da saúde, já que tem como objetivo a superação do modelo biomédico que visa o
cuidado focado na doença, por um cuidado que visa uma assistência que passa por práticas
Intersetoriais e conhecimentos interdisciplinares.
Contudo, a enfermagem irá contribuir para a qualidade de vida dos pacientes a partir
do momento que forneça uma assistência rica em informações que além de curar, apoie,
acolha, escute, compreenda, respeite e que contribua psicologicamente, ou seja, que forneça
um cuidado completo. Toda via, as atualizações constantes tornam-se essenciais para
realização do cuidado holístico, principalmente por que se faz importante para orientação do
paciente e família que diante de tal manifestação, encontram-se desorientados.
Ao questionar se os entrevistados possuíam informação suficiente para fornecer
orientações sobre a síndrome, 50% (n=16) foram categóricos ao responderem que não (Tabela
2).
Ressalta-se desta forma que a significância do conhecimento é satisfatória tanto para
informar como para fornecer cuidados, que abordem uma percepção mais aprofundada sobre
o processo de cicatrização, os fatores que nele interferem, os produtos disponíveis para
tratamento, para assim melhor intervir por meio de conhecimentos tanto técnicos quanto
científicos (SALOMÉ & ARBAGE, 2008).
Por conseguinte ao perguntar os enfermeiros se os cuidados anteriores prestados a
pacientes com esta síndrome ajudaram nos cuidados posteriores a outros pacientes, 91%
(n=29) responderam que sim, 6% (n=02) responderam que não e 3% (n=01) afirmou só ter
prestado cuidados ao portador da Síndrome de Fournier uma única vez. (Tabela 2).
Percebe-se que a prática, assim como a informação, contribui como meio de
atualização e aprimoramento do profissional. Almeida & Hilgert (2005) concorda com a
afirmação ao colocar que além do conhecimento, a prática constante contribui
significativamente para o aperfeiçoamento do cuidado especialmente no caso desta síndrome,
considerada rara, mas cuja frequência tem sido crescente por causa da imunossupressão
provocada pelo alcoolismo e higiene precária.
14
Tabela 2- Disposição dos dados obtidos durante entrevista com Enfermeiros do Hospital
Regional de Guanambi.
SIM
NÃO
Nº
%
Nº
%
19
59
12
38
Questão 7
--32
100
Questão 8
32
100
--Questão 9
16
50
16
50
Questão 10
29
91
02
06
Questão 11
Fonte: Dados da pesquisa
Questão 7: Paciente tem (a nível hospitalar) acompanhamento psicológico?
Questão 8: Possui algum treinamento específico para prestação de cuidados a pacientes com patologias que
causam deformidades físicas?
Questão 9: Acha que a Enfermagem contribui para melhoria da qualidade de vida dos pacientes com
diagnósticos com SF?
Questão 10: Se sente informado o suficiente para fornecer informações sobre a doença para os pacientes e
familiares?
Questão 11: Os cuidados anteriores prestados a pacientes com esta Síndrome, ajudaram a cuidados posteriores a
outros pacientes?
CONCLUSÕES
Tendo em vista que, conhecer pode ser entendido como ouvir ou ver alguém ou
alguma coisa e que perceber é a capacidade de assimilar o que se ver, pode-se afirmar que
estes termos não significam necessariamente possuir domínio sobre determinado assunto.
Assim entende-se que sem esse determinado domínio, a percepção pode dar margem a várias
compreensões que podem corresponder ou não aos fatos, o que leva desta maneira a
desempenhar ações que vão além dos limites do conhecimento. Desta forma o estudo em tela
pôde mostrar que apesar dos profissionais afirmarem conhecer a Síndrome de Fournier, estes
encontraram dificuldade na prestação da assistência e no fornecimento de informações.
Ressalta-se ainda, a relevância das atualizações constantes por parte dos profissionais
especialmente no caso de patologias raras, para que mediante as eventualidades, o profissional
possa agir com rapidez e destreza de forma a ofertar o melhor e o mais adequado cuidado para
a situação e paciente em questão, o que garante além de tudo, o cuidado holístico pautado na
humanização. Enfim a informação adquirida por meio do conhecimento torna-se arma
imprescindível para a prestação do cuidado e desfecho do paciente com a síndrome de
Fournier, já que se trata de uma afecção de urgência e quanto mais rápido o diagnóstico e
início do tratamento, maiores serão as chances de sobrevivência e cura.
Portanto nota-se a importância da realização de uma educação permanente, através
da criação de um programa sobre Síndrome de Fournier, para fortalecer as práticas por meio
de ações contínuas e possivelmente uma futura ampliação com intuito de abarcar também
15
síndromes ainda raras, para aprimorar a assistência a estas patologias e atualizar os
profissionais para que possam, está sempre prontos a agir diante das síndromes pouco
frequentes.
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