CAPÍTULO e23 - Harrison Brasil

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CAPÍTULO
e23
Complicações Infecciosas de
Queimaduras
Lawrence C. Madoff
Florencia Pereyra
A pele é um componente essencial do sistema imune inespecífico,
protegendo o hospedeiro de potenciais patógenos do ambiente.
Brechas nesta barreira protetora representam, assim, uma forma de
imunodeficiência que predispõe o paciente a infecções. Queimaduras
térmicas podem causar destruição maciça do tegumento e também
desarranjos da imunidade humoral e da celular, permitindo o desenvolvimento de infecções causadas por oportunistas do ambiente e
por componentes da flora cutânea do hospedeiro.
■ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Como os sinais clínicos de infecção são de difícil interpretação, as
lesões devem ser cuidadosamente monitoradas no que diz respeito a
alterações que possam refletir uma infecção. Uma margem eritematosa frequentemente circunda o local das queimaduras e por si só não
é um indicativo habitual de infecção. Os sinais de infecção são a conversão de uma queimadura de espessura parcial em uma queimadura
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Complicações Infecciosas de Queimaduras
■ FISIOPATOLOGIA
A perda da barreira cutânea facilita a penetração da flora do próprio
paciente e de organismos oriundos do ambiente hospitalar no interior
de uma queimadura. Inicialmente, a lesão é colonizada por bactérias
Gram-positivas originárias dos tecidos circundantes, mas o número de bactérias cresce rapidamente por debaixo da escara produzida
pela queimadura, alcançando cerca de 8,4 ⫻ 103 ufc/g no dia 4 após
a queimadura. A natureza avascular da escara, juntamente com o
comprometimento das respostas imunes locais, favorece ainda mais a
colonização e a proliferação. Pelo dia 7, a lesão já está colonizada por
outros micróbios, como bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e
leveduras derivadas das floras gastrintestinal e respiratória alta. Uma
infecção invasiva – localizada e/ou sistêmica – ocorre quando estas
bactérias penetram o tecido viável. Além disso, o papel dos biofilmes
já foi reconhecido em modelos animais de laboratório de infecção em
queimaduras (biofilmes são comunidades de bactérias associadas a
CAPÍTULO e23
■ EPIDEMIOLOGIA
Durante a última década, a incidência estimada de lesões por queimadura nos EUA declinou continuamente; entretanto, mais de 1 milhão de lesões por queimadura são trazidas à atenção médica a cada
ano. Embora muitas queimaduras sejam superficiais e requeiram
pouca ou nenhuma intervenção, 50.000 pessoas são hospitalizadas
por essas lesões, das quais 60% exigem cuidados intensivos em um
centro especializado de queimados, e das quais 20.000 têm queimaduras importantes envolvendo pelo menos 25% da superfície corporal total. A maior parte dos pacientes queimados é de homens. Os
lactentes respondem por cerca de 10% de todos os casos notificados.
As escaldaduras, incêndios de edifícios e veículos bem como os líquidos e gases inflamáveis são as principais causas de queimadura,
mas as de origens elétrica, química e relacionadas com fumaça são
também importantes. Queimaduras predispõem a infecção por comprometer a função de barreira protetora da pele, facilitando assim
a entrada de microrganismos patogênicos, e também pela indução
de imunossupressão sistêmica. Não é, portanto, surpreendente que
a falência de múltiplos órgãos e complicações infecciosas sejam as
principais causas de morbidade e mortalidade nas lesões sérias por
queimadura. Até 10 mil pacientes morrem a cada ano nos EUA em
decorrência de infecções relacionadas com queimaduras, e 6 das
10 principais complicações recentemente identificadas pela revisão
de 10 anos da American Burn Association são infecciosas. Essas 10
complicações mais comuns consistem em pneumonia (4,6%), septicemia (2,7%), celulite/lesão traumática (2,6%), insuficiência respiratória (2,5%), infecção de ferida (2,2%), outra infecção (2,0%), insuficiência renal (1,5%), infecção de acesso vascular (1,4%), síndrome
do desconforto respiratório agudo (1,2%) e arritmia (1,0%) (www.
ameriburn.org/2007NBRAnnual Report.pdf).
uma superfície e frequentemente embebidas em uma matriz, o que
permite que os micróbios persistam e resistam aos efeitos da imunidade do hospedeiro e à ação dos agentes antimicrobianos).
Os estreptococos e estafilococos eram as causas predominantes
das infecções em queimaduras na era pré-antibiótica e ainda são patógenos importantes. Com o advento dos agentes antimicrobianos,
a Pseudomonas aeruginosa tornou-se um importante problema no
tratamento das queimaduras. Bactérias anaeróbias menos comuns
são encontradas nas infecções de queimaduras elétricas ou quando
se empregam curativos abertos na lesão. O uso disseminado de agentes antimicrobianos tópicos e mais efetivos resultou em um declínio
das infecções de feridas bacterianas e na emergência de fungos (particularmente Candida albicans, espécies de Aspergillus e os agentes
da mucormicose) como patógenos cada vez mais importantes em
pacientes com queimaduras. Foi também encontrado o herpesvírus
simples em feridas de queimaduras, particularmente no pescoço e
na face, bem como naquelas associadas a lesão por inalação. Relatos de necropsia de pacientes com queimaduras térmicas graves no
decorrer dessa última década identificaram uma associação de P.
aeruginosa, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Staphylococcus
aureus com a morte; essa associação é independente da porcentagem de área de superfície corporal total queimada, da percentagem
de queimaduras de espessura total (em oposição às queimaduras de
espessura parcial), lesão por inalação e dia da morte após uma queimadura. Além disso, os membros do complexo Acinetobacter calcoaceticusbaumannii estão entre os patógenos mais comuns em alguns
centros de queimados.
Acredita-se que a cascata de eventos que se seguem a uma queimadura grave e que levam à falência sistêmica de múltiplos órgãos e
à morte representa um processo em duas etapas; isto é, a queimadura
em si, com a consequente hipovolemia e hipoxia tecidual, é seguida por uma infecção invasiva que tem origem na grande quantidade
de tecido desvitalizado. A frequência da infecção faz paralelo com
a extensão e com a gravidade da queimadura. Queimaduras graves
causam um estado de imunossupressão que compromete as respostas imunes inata e adaptativa. O substancial impacto da imunodeficiência sobre a infecção se deve a efeitos sobre ambos os braços do
sistema imune, o celular e o humoral. Por exemplo, queimaduras importantes acompanham-se de redução do número e da atividade das
células T auxiliares circulantes, de aumentos no número e na atividade das células T supressoras, de redução da produção e liberação de
monócitos e macrófagos e do rebaixamento dos níveis de imunoglobulinas. Foi também demonstrado o comprometimento das funções
dos neutrófilos e do complemento após as queimaduras. O aumento
dos níveis de múltiplas citocinas, detectado em pacientes queimados,
é compatível com a crença amplamente aceita de que a resposta inflamatória se desarranja nestes indivíduos; produtos das células bacterianas desempenham um importante papel na indução dos mediadores proinflamatórios que contribuem para esta resposta inflamatória
sistêmica descontrolada. O aumento da permeabilidade da parede do
intestino para as bactérias e seus componentes (p. ex., endotoxina)
também contribui para o desarranjo do sistema imune e para a sepse.
Assim, um paciente queimado está predisposto à infecção não só no
local da queimadura, mas também em locais remotos (ver adiante).
Um outro fator contribuidor para a imunossupressão secundária às
queimaduras é o sistema endócrino; observam-se níveis elevados de
vasopressina, aldosterona, cortisol, glucagon, hormônio do crescimento, catecolaminas e outros hormônios que afetam diretamente a
proliferação dos linfócitos, a secreção de citocinas pró-inflamatórias
e a atividade das células destruidoras naturais e células T supressoras.
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PARTE VIII
de espessura total, as alterações da cor (p. ex., o aparecimento de uma
coloração marrom escura ou preta da lesão), o aparecimento de um
novo eritema ou de edema violáceo no tecido normal das margens da
lesão, a súbita separação da escara do tecido subcutâneo e a degeneração da lesão com o aparecimento de uma nova escara.
A excisão cirúrgica precoce do tecido desvitalizado é agora amplamente efetuada, e as infecções das queimaduras podem ser classificadas conforme o local da excisão como (1) impetigo da queimadura (infecção caracterizada por perda do epitélio de uma superfície
previamente reepitelizada, tal como se vê em uma queimadura de espessura parcial que se permite fechar por segunda intenção, em uma
queimadura enxertada ou em um local doador de pele curado); (2)
infecção de ferida cirúrgica relacionada com uma queimadura (infecção purulenta de uma queimadura excisada e de locais doadores
ainda não epitelizados, acompanhada por culturas positivas); (3) celulite da queimadura (extensão da infecção para os tecidos saudáveis
circunjacentes; Fig. e23.1); e (4) infecção invasiva das queimaduras
não excisadas (infecção secundária a uma queimadura de espessura
parcial ou total, que se manifesta pela separação da escara ou por
coloração violácea, marrom escura ou negra da escara; Fig. e23.2). O
aparecimento de uma coloração verde da lesão ou da gordura subcutânea (Fig. e23.3), ou o desenvolvimento de ectima gangrenoso (ver
Fig. e7.35) em um local remoto, indicam o diagnóstico de infecção
invasiva por P. aeruginosa.
Alterações da temperatura corporal, hipotensão, taquicardia,
alteração das funções mentais, neutropenia ou neutrofilia, trombocitopenia e insuficiência renal podem resultar de queimaduras invasivas e sepse. Entretanto, como profundas alterações da homeostase
ocorrem em consequência da própria queimadura por si e como a
inflamação sem infecção é um componente normal dessas lesões, é
complicado avaliar tais alterações. As alterações na temperatura corporal, por exemplo, são atribuíveis à disfunção termorregulatória; a
taquicardia e a hiperventilação acompanham as alterações metabólicas induzidas por queimaduras extensas e não são necessariamente
indicativas de sepse bacteriana.
Tendo em vista a dificuldade de avaliar as queimaduras somente
com base na observação clínica e nos dados de laboratório, biópsias
da lesão são necessárias para o diagnóstico definitivo de infecção. O
momento oportuno para a realização destas biópsias pode ser indicado por alterações clínicas, mas em alguns centros as queimaduras
são rotineiramente biopsiadas a intervalos regulares. A amostra de
biópsia é examinada quanto a evidências histológicas de invasão bacteriana e submetida a culturas microbiológicas quantitativas.
A presença de > 105 bactérias viáveis por grama de tecido é altamente sugestiva de infecção invasiva e de um risco espetacularmente
aumentado de sepse. Evidências histopatológicas de invasão de tecidos viáveis e a presença de microrganismos em vasos sanguíneos e
linfáticos não queimados constituem indicadores mais definitivos de
infecção. Uma hemocultura positiva para o mesmo organismo observado em grande quantidade no tecido biopsiado é um indicador
confiável de sepse por queimadura. As culturas da superfície podem
fornecer alguma indicação sobre os microrganismos presentes no
ambiente hospitalar, mas não são indicativas da etiologia da infecção.
Esta técnica não invasiva poderia ser usada para determinar a flora
presente nas áreas excisadas das queimaduras ou em áreas onde a
pele é muito fina para biópsia (p. ex., sobre as orelhas, olhos e dedos).
Além da infecção da própria queimadura, um número de outras
infecções decorrentes da imunossupressão causada pelas queimaduras extensas e pelas manipulações necessárias para o cuidado clínico põe os pacientes queimados sob risco. As pneumonias, agora a
complicação infecciosa mais comum entre os pacientes queimados
hospitalizados, são mais frequentemente adquiridas no hospital pela
via respiratória; entre os fatores de risco associados à pneumonia secundária estão as lesões por inalação, a intubação, as queimaduras de
espessura total da parede torácica, a imobilidade e uma infecção sem
Figura e23.1 Celulite complicando uma queimadura no braço, com extensão da infecção para o tecido saudável adjacente (Cortesia do Dr. Robert L. Sheridan,
Massachusetts General Hospital, Boston, com autorização.)
Figura e23.3 Uma queimadura infectada por Pseudomonas aeruginosa,
com liquefação do tecido. Observe a coloração verde das margens da ferida,
sugestiva de infecção por Pseudomonas (Cortesia do Dr. Robert L. Sheridan, Massachusetts General Hospital, Boston, com autorização.)
Figura e23.2 Uma grave queimadura do membro superior, infectada por
Pseudomonas aeruginosa. A lesão requer desbridamento adicional. Note a coloração entre marrom escura e negra da escara (Cortesia do Dr. Robert L. Sheridan,
Massachusetts General Hospital, Boston, com autorização.)
Doenças Infecciosas
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controle da lesão, com disseminação hematogênica. Também podem
ocorrer êmbolos sépticos pulmonares. A tromboflebite supurativa
pode complicar a cateterização vascular necessária para os suportes hídrico e nutricional nas queimaduras. Endocardite, infecção do
trato urinário, condrites bacterianas (particularmente em pacientes
com orelhas queimadas) e infecções intra-abdominais também complicam as queimaduras graves.
TRATAMENTO
Infecções em queimaduras
Complicações Infecciosas de Queimaduras
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CAPÍTULO e23
O objetivo final da conduta nas queimaduras é o fechamento e a
cura da lesão. A excisão cirúrgica do tecido queimado, com extenso desbridamento do tecido necrótico e enxerto da pele ou
de substitutos de pele, diminui grandemente as taxas de mortalidade associadas às queimaduras graves. Além disso, os quatro
agentes antimicrobianos tópicos amplamente usados – creme de
sulfadiazina de prata, creme de acetato de mafenida, creme de
nitrato de prata e curativos de prata nanocristalina – diminuem
espetacularmente a carga bacteriana das queimaduras e reduzem
a incidência de infecção; estes agentes são rotineiramente aplicados a queimaduras de espessuras parcial e total. As propriedades
bactericidas da prata relacionam-se aos seus efeitos sobre as enzimas respiratórias presentes nas paredes celulares bacterianas; sua
interação com as proteínas estruturais produz toxicidade para os
ceratinócitos e fibroblastos, o que pode retardar a cura da ferida
quando os compostos baseados em prata são usados indiscriminadamente. Todos os quatro agentes são amplamente ativos contra muitas bactérias e alguns fungos e são úteis antes que a colonização bacteriana tenha se estabelecido. A sulfadiazina de prata
é com frequência usada inicialmente, mas o seu valor pode estar
limitado pela resistência bacteriana, pela má penetração na lesão
ou pela toxicidade (leucopenia). O acetado de mafenida tem uma
atividade mais ampla contra bactérias Gram-negativas. O creme
penetra as escaras e pode assim prevenir ou tratar a infecção que
ocorre debaixo delas; seu uso sem curativos permite o exame regular da área lesada. As principais desvantagens do acetato de mafenida são a possível inibição da anidrase carbônica, resultando
em acidose metabólica, e a indução de reações de hipersensibilidade em até 7% dos pacientes. Este agente é mais frequentemente
usado quando bactérias Gram-negativas invadem a queimadura
e quando o tratamento com sulfadiazina de prata falha. A atividade do acetato de mafenida contra bactérias Gram-positivas é
limitada. Os curativos com prata nanocristalina fornecem uma
cobertura antimicrobiana mais ampla que a de qualquer uma das
outras preparações tópicas disponíveis, exibindo atividade contra
S. aureus resistente à meticilina (MRSA) e enterococos resistentes
à vancomicina, moderada capacidade de penetrar nas escaras e
toxicidade limitada. Além disso, este método permite a liberação
controlada e prolongada de prata nanocristalina no interior da lesão, limitando o número de trocas de curativos e reduzindo, desse
modo, o risco de infecções nosocomiais bem como o custo do tratamento. A mupirocina, um agente antimicrobiano tópico usado
para erradicar a colonização nasal por MRSA, está sendo cada vez
mais usada em unidades de queimados onde o MRSA é prevalente. A eficácia da mupirocina em reduzir as contagens bacterianas
na queimadura e prevenir as infecções sistêmicas é comparável à
da sulfadiazina de prata.
Nos últimos anos, as taxas de infecção fúngica aumentaram
nos pacientes queimados. Quando ocorre uma infecção fúngica
superficial, a nistatina pode ser misturada com a sulfadiazina de
prata ou com o acetato de mafenida para o tratamento tópico.
Um pequeno estudo mostrou que a nistatina em pó (6 milhões de
unidades/g) é eficaz no tratamento de infecções superficiais e profundas de queimaduras por espécies de Aspergillus ou Fusarium.
Além destes produtos, as pomadas com propriedades antimicrobianas podem promover a rápida autólise, desbridamento e cura
úmida de queimaduras de espessura parcial.
Quando uma infecção invasiva da lesão é diagnosticada, o
tratamento tópico deve ser alterado para acetato de mafenida. A
injeção feita sob a escara (a instilação direta de um antibiótico,
frequentemente piperacilina, no interior dos tecidos sob a escara)
é um útil adjuvante para o tratamento cirúrgico e antimicrobiano
sistêmico. O tratamento sistêmico com antibióticos ativos contra
os patógenos presentes na ferida deve ser instituído. Na ausência
de dados de cultura, o tratamento deve ter amplo espectro, cobrindo organismos comumente encontrados na unidade de queimados em questão. Essa cobertura é habitualmente obtida com
um antibiótico ativo contra patógenos Gram-positivos (p. ex.,
vancomicina, 1 g IV a cada 12 h) e com um fármaco ativo contra
P. aeruginosa e outros bastões Gram-negativos (p. ex., ceftazidima, 2 g IV a cada 8 h). Nos pacientes alérgicos à penicilina, o ciprofloxacino (400 mg IV a cada 12 h) pode substituir a ceftazidima. Em situações nas quais o MRSA não é prevalente, a oxacilina
(2 g IV a cada 4 h) pode substituir a vancomicina. Pacientes com
queimaduras têm frequentemente alterações do metabolismo e
dos mecanismos de depuração renal, o que obriga a monitorar os
níveis séricos no antibiótico; os níveis obtidos com doses-padrão
são frequentemente subterapêuticos.
O tratamento das infecções causadas por patógenos resistentes emergentes permanece um desafio no cuidado dos pacientes queimados. O MRSA, os enterococos resistentes, os bastões
Gram-negativos resistentes a múltiplos fármacos e as Enterobacteriaceae produtoras de ␤-lactamases de espectro estendido já
foram associadas a infecções de queimaduras e identificadas em
surtos em unidades de queimados. Práticas estritas de controle de
infecção (como vigilância microbiológica em unidades de queimados) e o tratamento antibiótico adequado são importantes medidas para reduzir as taxas de infecção por organismos resistentes.
Em geral, os antibióticos sistêmicos profiláticos não têm papel
na conduta das queimaduras e podem, de fato, levar à colonização
por microrganismos resistentes. Em alguns estudos, a profilaxia
antibiótica associou-se a um aumento das infecções secundárias
do tratos respiratórios alto e baixo, do trato urinário e também
com a hospitalização prolongada. Uma exceção diz respeito aos
casos que necessitam manipulação da queimadura. Como os
procedimentos de desbridamento, excisão ou enxertia frequentemente resultam em bacteremia, administram-se antibióticos
sistêmicos profiláticos no momento da manipulação da lesão; os
agentes específicos usados devem ser escolhidos com base nos dados obtidos por cultura da lesão ou com base nos dados sobre a
flora residente no hospital.
O uso de antibióticos orais para a descontaminação digestiva
seletiva (SDD), visando diminuir a colonização bacteriana e o risco de infecção da queimadura, é controverso e não foi amplamente adotado. Em um ensaio randomizado, duplo-cego e controlado
com placebo em pacientes com queimaduras envolvendo mais de
20% da superfície corporal total, a SDD associou-se à redução das
taxas de mortalidade na unidade de cuidados intensivos em queimados e no hospital e também a uma redução na incidência de
pneumonia. Os efeitos da SDD sobre a flora anaeróbia normal do
intestino devem ser levados em conta antes que essa abordagem
seja empregada.
Todos os pacientes com lesões por queimadura devem submeter-se à imunização de reforço para o tétano se completaram
a imunização primária e não receberam uma dose de reforço
nos últimos 5 anos. Os pacientes sem imunização prévia devem
receber imunoglobulina tetânica e submeter-se à imunização
primária.
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Doenças Infecciosas
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