FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOMETODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL Professora Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti Professora Me. Maria Cristina Araujo de Brito Cunha Graduação Unicesumar Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância: C397 Fundamentos Históricos e Teórico Metodológicos do Serviço Social / Aline Cristtine Marroco França Bertti / Maria Cristina Araújo de Brito Cunha. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2014. 120p. “ Graduação - EaD”. 1.Metodologia. 2. História. 3. Serviço Social. EaD. I.Título. CDD 22ª Ed. 362 NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção de Operações Chrystiano Mincoff Coordenação de Sistemas Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação de Polos Reginaldo Carneiro Coordenação de Pós-Graduação, Extensão e Produção de Materiais Renato Dutra Coordenação de Graduação Kátia Coelho Coordenação Administrativa/Serviços Compartilhados Evandro Bolsoni Gerência de Inteligência de Mercado/Digital Bruno Jorge Gerência de Marketing Harrisson Brait Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nalva Aparecida da Rosa Moura Design Educacional Camila Zaguini Silva Jaime de Marchi Junior Larissa Finco Maria Fernanda Canova Vasconcelos Nádila de Almeida Toledo Rossana Costa Giani Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Editoração Fernando Henrique Mendes Revisão Textual Ana Paula da Silva, Flaviana Bersan Santos, Jaquelina Kutsunugi, Keren Pardini, Nayara Valenciano e Viviane Favaro Notari Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar – assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. autores Prof.ª Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti Possui graduação em Serviço Social, pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (2007); é especialista em Ética e Política, pela Fundação Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Mandaguari (2009); mestre em Ciências Sociais, pela Universidade Estadual de Maringá. Atualmente, é assistente social do Centro de Triagens e Obras Sociais do Vale do Ivaí e professora do curso presencial e a distância de Serviço Social da Unicesumar – Maringá. Prof.ª Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Graduada em Serviço Social, pela Universidade Federal do Amazonas; Especialista em Administração de recursos Humanos, pela Universidade Federal da Paraíba; Mestre em Gerontologia Social, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Coordenadora do Curso de Serviço Social presencial e na modalidade a distância da Unicesumar – Centro Universitário Cesumar. Apresentação FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOMETODOLÓGICOs DO SERVIÇO SOCIAL Seja bem-vindo(A)! Seja bem-vindo(a)! Caro(a) aluno(a), é um grande prazer e satisfação podermos trabalhar com você esta disciplina tão importante para sua formação profissional. O material elaborado o(a) auxiliará no estudo da disciplina de Fundamentos Históricos Teórico Metodológicos do Serviço Social. Faremos, no decorrer de nossos estudos, uma análise da fundamentação teórica do surgimento do Serviço Social. Posto isso, no decorrer das cinco unidades deste material, você analisará questões em que propomos reflexão e, com isso, uma ampliação de seu conhecimento, formando, assim, um profissional capacitado para a compreensão do início de nossa profissão. Durante a elaboração deste livro, propusemos criar um material que abordasse a fundamentação sócio-histórica da profissão de um modo claro e de fácil compreensão. Agora, farei um breve relato do conteúdo que iremos abordar no decorrer de nosso estudo. Na Unidade I, veremos os elementos para entendermos o capitalismo, a relação entre proletariado e burguesia e o surgimento do Serviço Social na Europa. Na Unidade II, abordaremos sobre as protoformas do Serviço Social, o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social no Brasil e o conservadorismo religioso e as bases teórico-metodológicas. Na Unidade III, veremos a influência do Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade e a relação entre positivismo e funcionalismo na profissão. Já na Unidade IV, abordaremos a defesa da qualificação profissional e a mobilização da categoria. Finalizando nosso livro, na Unidade V, o assunto será o Serviço Social e a Ditadura, a incorporação da profissão na esfera da burocracia e tecnocracia. E, encerrando, abordaremos o Serviço Social e o processo de questionamento da prática profissional. Prezado(a) aluno(a), é de extrema importância que você faça a leitura do material previamente e resolva todas as questões propostas no final de cada Unidade, pois isso contribuirá amplamente para seu processo de aprendizagem, no qual estaremos prontamente disponíveis em atendê-lo(a). Deixamos aqui nossos sinceros agradecimentos em poder compartilhar nosso conhecimento e contribuir para o processo de sua formação profissional. Desejamos um ótimo estudo e sucesso a você! sumário UNIDADE I CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL 13 Introdução 14 Capitalismo 16 Capitalismo Monopolista 19Proletariado X Burguesia 23O Surgimento do Serviço Social na Europa 27 Considerações Finais UNIDADE II AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL 35 Introdução 36 As Protoformas do Serviço Social 40 As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil 53 Conservadorismo Religioso e Bases Teórico-Metodológicas 56 Considerações Finais UNIDADE III A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL 63 Introdução 64 A Influência do Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade 09 sumário 69Positivismo na Profissão 72 Introdução do Funcionalismo no Serviço Social 73 Considerações Finais UNIDADE IV A CATEGORIA PROFISSIONAL 79 Introdução 79 Defesa da Qualificação Profissional 89 A Mobilização Da Categoria 93 Considerações Finais UNIDADE V O SERVIÇO SOCIAL E A PRÁTICA PROFISSIONAL 99 Introdução 100O Serviço Social e a Ditadura Militar 107 A Incorporação da Profissão na Esfera da Burocracia e Tecnocracia 108 o serviço social e o processo de questionamento da prática profissional 112 Considerações Finais 117Conclusão 119Referências CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL UNIDADE Professora Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti I Objetivos de Aprendizagem ■■ Identificar o surgimento do capitalismo e o capitalismo monopolista. ■■ Analisar a relação entre proletariado e burguesia. ■■ Refazer a trajetória do Serviço Social, estudando sobre o surgimento na Europa. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■■ Capitalismo ■■ Capitalismo Monopolista ■■ Proletariado X Burguesia ■■ O surgimento do Serviço Social na Europa 13 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Introdução Olá, caro(a) aluno(a)! É necessário desvendar o contexto histórico do capitalismo, suas raízes e condições, assim, notamos que sua formação está intimamente ligada com as origens do serviço social, que nos remete a analisar a linha do tempo e conhecer a estrutura social do sistema capitalista, reconhecendo a face da força de produção e a respectiva organização social, mais especificamente a divisão de classes no contexto econômico brasileiro. Vamos verificar a história do capitalismo e a história das classes sociais, sendo que nesta reside o elemento essencial para fins de compreensão do capitalismo, tanto quanto para a consideração da marcha histórica da humanidade, relevantemente relacionada com conflitos, antagonismos e lutas, estas últimas, em particular, consideradas verdadeiras forças motrizes da referida marcha. O destaque desta luta, sistematizada por Marx, e suprema para Engels, reputou que ela tem para a história a mesma consideração que a lei da transformação de energia tem para a ciência natural. A Unidade I focará no desenvolvimento do capitalismo e seus desdobramentos nas relações entre o capital, o trabalho e o Serviço Social. Portanto, caro(a) aluno(a), convidamos você a fazer uma busca na trajetória histórica do Serviço Social, pois temos como propósito buscar a compreensão do capitalismo enquanto classe histórica e sua correlação com a produção e reprodução das relações sociais. Para esse debate, vamos nos apoiar nos autores renomados do Serviço Social: Marilda Iamamoto, Raul de Carvalho, Maria Lucia Martinelli, Maria Lucia Barroco, entre outros. Nesse sentido, se faz necessário um regresso no tempo, a fim de investigar a história e com ela discutir. Assim, apresentamos nossa abordagem nesta primeira unidade. Vamos lá? Introdução I Capitalismo CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O capitalismo é um modo de produção baseado na divisão societária em duas classes: a dos capitalistas (proprietários da matéria-prima do trabalho), que detêm o poder de compra da força do trabalho, e a dos proletariados (não possuem acesso aos meios de produção), que são forçados a venderem sua força de trabalho por não terem acesso aos meios de produção. Aqui, há a posse particular dos mecanismos de produção por uma classe que explora a força de trabalho daqueles que não os possuem, e esta fragmentação entre meios de produção e produtor é resultado da subordinação direta deste ao dono do capital, onde se permite a instauração do ciclo de vida do capitalismo e o seu processo de acúmulo primitivo. Na produção e reprodução dos meios de vida, os homens organizam determinados vínculos de interações recíprocas e, por intermédio dos quais, realizam uma ação transformadora da natureza realizando a produção. Dessa maneira, a produção social não trata apenas de produção objetiva de matérias, mas também de relações sociais entre as pessoas, entre classes sociais que personificam certa categoria econômica. O capital social, enquanto relação social, supõe o outro termo da relação, o trabalho assalariado, da mesma forma que supõe o capital. A transformação do dinheiro em capital requer, portanto, que os possuidores do dinheiro enxerguem no mercado não apenas os meios objetivos de produção como mercadoria, mas também uma mercadoria especial, a qual faz referência à força de trabalho, cujo valor de utilização tem a qualidade de ser fonte de valor, ou seja, onde há o consumo e, concomitantemente, a materialização de trabalho e, por isso, a criação de valor que se realiza na dinâmica do processo produtivo e na relação de compra e venda da força de trabalho. É por meio dessa relação que o capitalismo é impulsionado a encontrar no mercado o trabalhador livre, ou seja, livre de qualquer outra relação de dominação econômica, sendo proprietário de suas pessoas, com a finalidade de que possa enfrentar-se no mercado com seus possuidores do dinheiro, em uma interação entre possuidores juridicamente iguais de mercadorias, por meio da qual entre em relação o proprietário da força de trabalho e ceda-a ao comprador para a sua 15 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. utilização durante determinado período de tempo. Essa é a condição elementar para que seja mantido enquanto proprietário de sua mercadoria, podendo tornar a vendê-la. Tal condição se associa outra, ou seja, se encontra obrigado a vender, para suprir suas necessidades, o único bem que possui, qual seja, a sua força de trabalho. Isto é, alienar parte de si mesmo, já que do outro lado se enfrentam, como propriedade alheia de todos os meios produtivos, condições de trabalhos essenciais à materialização de seu trabalho bem como os meios imprescindíveis à sua sobrevivência. Desse modo, a partir do momento em que o capitalista transforma parte de seu capital em força de trabalho, o que adquire com isso é a exploração de todo o seu capital. Conquista benefícios não apenas do que retira do trabalhador, mas de tudo aquilo que transfere à classe trabalhadora na forma de salário. O processo capitalista de produção exibe o trabalhador separado das condições de trabalho, o apresenta como o trabalhador assalariado. Este benefício econômico se disfarça pela ocorrência ©shutterstock da renovação periódica da alienação da força de trabalho, seja devido à substituição de patrões individuais, seja por culpa das oscilações de preço da força de trabalho no mercado. No entanto, o próprio processo elabora as aparências mistificadoras que impedem a expressão da revolta, garantindo, dessa forma, a continuidade do curso de produção. O capital supõe o monopólio dos meios de produção e de subsistência por uma parte da sociedade – a classe trabalhista – em confronto com os trabalhadores desprovidos das condições materiais necessárias à materialização de seu trabalho. Supõe ao trabalhador que para sobreviver tem a vender sua força de trabalho. O capital supõe o trabalho assalariado e este o capita (MARX, 1975, p. 4-101). Capitalismo I Capitalismo Monopolista CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O capitalismo dos Monopólios é a fase que segue o processo do capitalismo concorrencial, onde é imprescindível uma “exportação dos capitais”. Nele (capitalismo dos monopólios) acontece a centralização e a concentração do capital em níveis maiores, aumentando, dessa maneira, a exploração, alienação, a desigualdade e a exclusão social. Essa época é a de agudizamento de todas as contrariedades pertinentes ao sistema, ou seja, contradições existentes entre a relação Capital e Trabalho, acentuando e afiando, dessa forma, as expressões da “questão social”. As análises do Capitalismo Monopolista nas interações sociais são pífias, remetendo a sociedade e o mundo à barbárie, por exemplo, na 1ª e 2ª guerra mundial, holocausto, nazismo, fascismo etc. A finalidade do Estado, na era Imperialista, era ser apenas um “comitê executivo” da burguesia, sempre atendendo-a e favorecendo-a. Em suas contrariedades e dinâmicas, a classe dominante captura o Estado, passando a ser seu, buscando por meio do jogo democrático a falsa democracia, a fim de se legitimar (o Estado) tanto politicamente quanto ideologicamente. Em síntese, pode-se dizer que, nesta sociedade, o Estado trabalha com o propósito de ofertar condições necessárias à acumulação e à valorização do capital monopolista. De acordo com a ordem monopólica, ele invade o espaço dos indivíduos e da sociedade de forma integral, originando propostas para redefinir características pessoais com estratégias e terapias de ajustamento. Partindo desse processo, o Serviço Social vai surgindo, e para atender às procuras daquela conjuntura, possuía uma atividade bastante funcionalista de “acertar” o indivíduo ao meio. Podemos perceber que o Serviço Social, enquanto profissão, está relacionado ao surgimento da “questão social”, dirigido por condutas assistencialistas e filantrópicas, com uma base da doutrina social da Igreja Católica, isto é, originado como resposta ao agravamento das contrariedades capitalistas em sua fase monopolista, para o “controle” da classe trabalhadora e para legitimação dos setores dominantes e do Estado. O serviço social se origina e se efetiva por meio da ordem monopólica, relacionando-se ainda com as mazelas próprias à ordem burguesa, à altura do capitalismo monopolista. A política social é um dos principais mecanismos de intervenção nas Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 17 demonstrações da “questão social”, sendo resultado da capacidade de mobilização e reunião da classe operária e do aglomerado de trabalhadores. Diante disso, o Estado a usa como ferramenta e atende a procura enquanto tática também para a reprodução e manutenção do sistema atual, preservando e controlando a mercadoria mais importante para o modo de produção capitalista, ou seja, a força de trabalho. É como dar com uma mão e retirar com a outra. A política social pode ser compreendida ainda como um acordo existente entre a burguesia e a classe operária, fragmentando e fragilizando a organização da classe operária e legítima do Estado Burguês. E com a ideologia neoliberal, que só intensifica o sistema capitalista, o entendimento da culpabilização do sujeito é cada vez mais usado, excluindo a conjuntura do próprio sistema, que em sua oposição acarreta riqueza excedente, entretanto, esta fica reunida e/ou concentrada nas mãos de poucos, enquanto a maioria se encontra à margem do sistema. ©shutterstock Para Iamamoto (2004), o serviço social não deve ser interpretado apenas como uma nova maneira de realizar a caridade, mas sim, como uma forma de intervenção ideológica na vida dos trabalhadores, ainda que seu fundamento seja a atividade assistencial; no entanto, os efeitos produzidos são essencialmente políticos, por meio do “enquadramento” dos trabalhadores nas relações sociais vigentes, reforçando a recíproca colaboração entre capital e trabalho. Capitalismo Monopolista I CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Na evolução capitalista, destacamos: Capitalismo Comercial: surgiu com as grandes navegações e com as antigas grandes potências Espanha e Portugal, que estavam dispostas a explorar seus novos territórios recém-conquistados. Mas qual foi a forma que essas potências encontraram para essa exploração? Um sistema chamado de Plantation foi instalado nas colônias, que consiste em uma grande parcela de terra voltada para a monocultura, ou seja, um único produto agrícola; também caracterizado pelo uso da força de trabalho escravo e por todos os produtos serem destinados ao mercado externo, com a condição de que as colônias só estabelecessem relações mercantilistas com suas respectivas metrópoles, esse era o pacto colonial. Isso ocorreu em grande parte da América do sul, mas nas terras que hoje correspondem aos Estados Unidos e ao Canadá se deu outro tipo de colonização, eram as chamadas colônias de povoamento. Neste modelo adotado, eram pequenas propriedades de policultura, ou seja, vários produtos agrícolas, a mão de obra era assalariada e os produtos eram para enriquecer o comércio interno. Porém, não foi assim em todo o território, ao sul dos Estados Unidos, as colônias eram de exploração, isso devido ao clima semelhante ao tropical que favorecia a aplicação das Plantations. Eram sistemas muito diferentes coexistindo, mas isso trouxe consequências, afinal, após a primeira metade do século XVIII, ocorreu a Primeira Revolução Industrial e a Inglaterra começou a necessitar de muitos produtos têxteis para abastecer suas indústrias. Uma série de eventos e abusos acabou levando à independência dos Estados Unidos, em 1776, conduzindo ao próximo modelo capitalista que vamos conhecer. O Capitalismo Industrial: ocorreu com a chegada da Revolução Industrial e as suas fábricas, que inovaram e intensificaram as relações comercias e as produções. Era um mundo de produção onde a coisa mais notável era a exploração do homem pelo próprio homem, aqui o trabalhador não tem consciência de como as coisas que são feitas industrialmente ocorrem como um todo, ele apenas sabe uma pequena parte da linha de montagem, e apenas a figura do burguês, dono das fábricas, sabe o processo completo. Os trabalhadores se sujeitavam a uma carga de trabalho muito grande para Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 19 receber muito pouco dinheiro na época. Capitalismo Financeiro: vem com a substituição das máquinas a vapor pelo motor à combustão interna, na Segunda Revolução Industrial, e essas novas máquinas foram substituindo os transportes, as fábricas ultrapassadas e o setor agrícola, gerando uma aceleração enorme no campo tecnológico em todas essas áreas; esse modelo irá perdurar até a Grande Crise da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Capitalismo Especulativo: é o modelo como conhecemos hoje em dia, onde, por meio de sociedades anônimas, os capitalistas investem na especulação de títulos, como as ações de uma empresa, afinal, abrir uma empresa gera gastos e nem sempre traz os lucros esperados. Lembre-se que foi a diferença entre os modelos capitalistas nos Estados Unidos, entre o norte e o sul, que com o passar do tempo gerou as tensões que levaram à guerra civil americana! Proletariado X Burguesia Caro(a) aluno(a), está claro que de fato residimos em um meio social capitalista. Nossa sociedade apresenta divisão de classes e desigualdades sem igual. Na sociedade capitalista, existem inúmeras desigualdades, basta ter olhos para enxergar. Uma pequena quantidade de pessoas concentra considerável número de bens em seu poder, quais sejam: dinheiro, propriedades, mansões e carros. De maneira oposta, grande parte das pessoas possui apenas o mínimo e, às vezes, menos que isso para sobreviver. Vivemos apertados em questões pertinentes à alimentação, casa, roupas, escola, transportes, saúde, lazer etc. Vemos, ainda, tantos efeitos trágicos desse meio social, como a subnutrição, doenças endêmicas, mortalidade infantil, desemprego, prostituição etc. É fato que entre os dois grupos existem camadas médias, as quais são Proletariado X Burguesia I ©shutterstock CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. denominadas “classe média”. Mas não é esta classe que determina a natureza da sociedade capitalista, pois na referida sociedade, as classes sociais elementares são a burguesia e o proletariado. A burguesia é a classe dos proprietários das fábricas, das fazendas, das minas, dos bancos etc. Resumindo, são os donos particulares dos meios de produção, ou seja, os possuidores do capital, dessa forma, são chamados de capitalistas. Esses mecanismos de produção constituem um capital, pois são usados dentro de uma relação de exploração. Diante desse panorama, a classe proletária aos poucos vai se rebelando, dadas as condições de exploração a que estava submetida, ao elevado aumento da jornada de trabalho, associado à queda do padrão de vida dos assalariados. E considerando os altos custos sociais provocados pela prática do crescimento econômico, era necessário criar mecanismos, por parte do Estado, de contenção da classe operária, que vem requerer seus direitos sociais. É nesse cenário econômico e político que o assistente social é requisitado para intervir na realidade social, por meio das políticas sociais, em resposta às reivindicações da classe trabalhadora. 21 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A denominação de burguesia se deve ao motivo pelo qual quando essa classe se formou, ainda no término do feudalismo europeu, tratava-se de comerciantes e pequenos industriais que habitavam as pequenas cidades (conhecidas como burgos). Não eram pessoas nobres, nem eram mais servos responsáveis por lavrar a terra nos feudos, eram apenas um tipo de classe média, posteriormente transformada em classe predominante. É bem verdade que dentro do proletariado existem trabalhadores que recebem vantagens em relação aos demais. No entanto, ambos vivem e dependem do seu trabalho. A denominação “proletária” já se fazia presente na antiga Roma, designando aquelas pessoas que nada possuíam, a não ser seus descendentes, ou seja, seus próprios filhos. Nos primórdios da sociedade capitalista, o proletariado se originou mediante antigos servos ©shutterstock que saiam dos feudos e iam para os burgos, sem qualquer bem em sua posse; e, ainda, artesãos que não estavam munidos de condições para competir com as máquinas da classe dominante. Dessa maneira, os proletários são homens livres sob duas vertentes: não estão mais presos aos feudos e também não possuem nada a não ser a sua própria força de trabalho. Assim, na sociedade capitalista, existe uma fragmentação entre o capital e o trabalho. Aquele que trabalha diretamente não possui os meios de produção, e aquele que possui os meios de produção não trabalha diretamente. A classe dominante usa a força de trabalho dos proletários para fazer funcionar seus meios de produção e, dessa forma, produzir mercadorias com a finalidade de obter lucros. Com esse lucro, além de viver com qualidade, os burgueses melhoram em quantidade e qualidade os seus mecanismos produtivos, com o propósito de produzir mais mercadorias e obter, com isso, maiores lucros. Proletariado X Burguesia I CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Esse curso repetido, diariamente, consiste no processo de acumulação de capital. O proletariado, de forma oposta, não acumula nada, vendendo-se cotidianamente no mercado de trabalho, para poder viver ou sobreviver, na maioria das vezes, muito mal e com muitas dificuldades. A classe dominante, assim, contrata os proletários para trabalharem em suas empresas, por determinado salário, durante tantas horas diárias, e sob certas condições anteriormente estipuladas. Os trabalhadores acordam formalmente com este “livre” contrato de trabalho. Qual é o jeito? Eles não são possuidores dos meios de produção, estando livres deles. Também não estão amarrados por alguma obrigação a nenhum senhor e/ou terra, sendo formalmente livres. Livres para alienar sua força de trabalho no mercado, ou então, se não quiserem fazer isso, livres para viverem em condições miseráveis. Esse “livre” contrato de trabalho feito individualmente reside em um contrato realizado entre duas partes que ocupam posições distintas dentro da sociedade. O burguês, dono dos mecanismos produtivos, encontra-se em uma situação de destaque para procurar a mercadoria força de trabalho, e encontra uma abundância na oferta. Se um trabalhador não aceita suas condições, existem inúmeros outros concorrendo entre si que certamente as aceitarão. O êxodo rural que, por inúmeros fatores, sempre acompanha a origem da produção capitalista, encarrega-se de formar um excedente de oferta de força de trabalho. O proletário, dono apenas da sua força de trabalho, encontra-se em uma posição bastante negativa e fica entre a cruz e a espada, ou seja, entre a exploração do patrão e a miséria acarretada pelo desemprego. Essa é a “liberdade” do trabalhador na sociedade capitalista. Mas, para o burguês, o livre contrato de trabalho reside na liberdade sagrada dentro de sua economia de livre empresa. As duas classes, quais sejam, a dos burgueses e a dos proletários, possuem interesses que são objetivamente antagônicos, em palavras mais simples, interesses inconciliáveis. “Objetivamente” significa que isto não depende da boa ou má intenção dos indivíduos. Os interesses das referidas classes são inconciliáveis porque se uma ganha, a outra, obrigatoriamente, perde. O que é bom para uma classe é maléfico para a outra. A burguesia, que tem propósitos em conservar sua situação de destaque, Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 23 tenta obscurecer o fato da fragmentação social em classes de interesses inconciliáveis, acenando para a ascensão social, dizendo que o operário de hoje pode ser o patrão no futuro. Mas a gente sabe que é quase impossível para o trabalhador assalariado obter a quantia necessária para constituir uma pequena empresa. Além do mais, ainda que alguns operários individualmente mudassem de classe, nem assim deixaria de existir a fragmentação social em classes de objetivos inconciliáveis. Desde o surgimento do capitalismo, foi de percepção geral que esse sistema ocasiona grandes desigualdades e injustiças. Percebeu-se, ainda, que quanto mais a minoria dominante enriquece, a maioria proletária afunda na pobreza e miséria. Resumindo, inúmeras foram as denúncias acerca da exploração. Mas qual é o meio pelo qual se propaga a exploração? Isto não aparece logo de cara, foram imprescindíveis muitos estudos e pesquisas para responder a essa questão. Quem conseguiu deslindar o mistério foi Karl Marx. “A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção e, portanto, as relações de produção, isto é, todo o conjunto das relações sociais. Esta mudança contínua da produção, esta transformação ininterrupta de todo o sistema social, esta agitação, esta perpétua insegurança distinguem a época burguesa das precedentes. Todas as relações sociais tradicionais e estabelecidas, com seu cortejo de noções e idéias antigas e veneráveis, dissolvem-se; e todas as que as substituem envelhecem antes mesmo de poder ossificar-se.” (Karl Marx,1848) O Surgimento do Serviço Social na Europa No término do século XVIII e começo do XIX, aconteceu, na Inglaterra, a Revolução Industrial, uma vez que o país era possuidor de vastas reservas de carvão mineral em seu subsolo, possuindo, dessa forma, a fonte de energia capaz de promover o movimento das máquinas e das locomotivas a vapor. O Surgimento do Serviço Social na Europa I CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Os ingleses possuíam não apenas as fontes de energia, mas também grandes reservas de minério de ferro; possuíam ainda mão de obra abundante, pois muitos trabalhadores procuravam empregos nas cidades inglesas. A burguesia inglesa detinha capital suficiente para o financiamento de fábricas, aquisição de matérias-primas, de máquinas e contratação de funcionários. Nessa época, aconteceram diversas substituições, ocasionando a troca da produção humana pela fabril, ferramentas por máquinas e energia humana pela motriz. A Revolução Industrial propagou-se pela Europa Ocidental e Estados Unidos, caracterizando um novo modelo de produção, que eram as fábricas e as indústrias, acarretando um capitalismo industrial. Entretanto, tanto as indústrias quanto as fábricas necessitam de pessoas para dar continuidade ao processo de produção. Dessa forma, uma grande quantidade de trabalhadores passa a viver em volta da indústria, sendo designados enquanto proletariados à classe social que aliena sua força de trabalho ao empresário capitalista. A população operária era explorada pela classe dominante, e o Estado era subordinado a ela, pois tinha como propósito proteger o capital e seus possuidores. Nos primórdios, as fábricas não eram munidas dos melhores ambientes de trabalho. As condições eram extremamente precárias, a remuneração era baixa e o trabalho feminino e infantil se fazia constantemente presente. Os empregados trabalhavam por longas jornadas de trabalho, sujeitando-se a castigos físicos por parte de seus patrões. Inexistiam quaisquer direitos trabalhistas, como férias, décimo terceiro salário, auxílio doença etc. A exploração vivenciada pela população fabril foi tão relevante que a levou a conflitar com a finalidade de melhorar suas condições de trabalho, por meio de inúmeras manifestações. Assim, restou à burguesia a busca por novas táticas, uma vez que seu objetivo residia na expansão de seu modo de produção, dominando a exploração e a opressão para com os seus subordinados. Porém, isso só gerou mais miséria por parte da classe trabalhadora, a qual continuou se colocando contra a classe dominante. Mediante essa situação, a classe dominante tomou consciência de que era preciso fazer algo para controlar o teor das manifestações e conter a propagação Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 25 da pobreza. Dessa maneira, ocorreram as primeiras práticas assistencialistas, as quais viabilizavam a conservação das ordens capitalistas, fazendo com que os proletariados não mais questionassem, mas sim, aceitassem suas condições de vida e de trabalho. No entanto, o elevado nível de pobreza se estendia ainda mais, e, então, os membros da classe dominante, a Igreja Católica e as autoridades locais, se organizaram com o objetivo de transformar a assistência pública. Para solucionar esses problemas, incumbiram os reformistas sociais de exercerem sua função realizando um inquérito da vida pessoal e familiar do atendido, e o mesmo tinha que assumir a dependência em relação ao poder público, sendo dessa forma controlado. A nova tática ainda era incumbida para assegurar a manutenção e propagação e/ou extensão do capitalismo. Inúmeros outros conflitos continuaram a ocorrer, levando a burguesia, a Igreja e o Estado a unirem-se, acarretando, assim, na origem da Sociedade de Organização da Caridade, no ano de 1869. A mencionada Sociedade organizou os reformistas sociais, os quais se responsabilizavam pela reforma e regulamentação da prática da assistência da sociedade. A partir de então, apareceram os primeiros assistentes sociais, os quais executavam práticas referentes à assistência social. A profissionalização dos mesmos acontecia por meio da prestação de serviços, designado como Serviço Social, denominação essa que fora utilizada pelos Estados Unidos, em 1904. O serviço social fora caracterizado, em sua origem, por várias determinações e valores, através de práticas repressoras e controladoras. Assim, podemos entender que o Serviço Social resulta da emergência da questão social do conjunto de expressões da desigualdade social, econômica e/ou cultural. Posteriormente à criação do Centro de Ação Social em Londres, no ano de 1884, no qual as atividades realizadas faziam referência às questões de higiene e saúde para com os pobres e proletariados, a Sociedade de Organização da Caridade utilizou-se de novas ideias, organizando e efetivando também visitas domiciliares, nas quais aconteciam ações voltadas à educação. A partir dessa metodologia, conheciam a realidade das famílias operárias e incutiam o pensamento capitalista. A classe dominante apoiava essas práticas assistencialistas, uma vez que “desarmava” as manifestações coletivas e disfarçavam o sistema capitalista. O Surgimento do Serviço Social na Europa I ©shutterstock CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Acreditava-se, dessa maneira, que os problemas que afligiam os proletariados e os pobres consistiam em uma questão de caráter, de forma que a assistência social passou a agir mediante uma reforma do mesmo. A prática social continuou a ser executada com rigor para o controle e correção dos desfavorecidos, os quais não mais se valiam da assistência pública, pois preferiam ajudar-se mutuamente, continuando a reclamar do modo como eram tratados, uma vez que não eram atendidos em suas reivindicações. Por longo período de tempo se fizeram presentes a exploração, a miséria, o poder capitalista e as práticas assistenciais objetivando tão somente o controle social. No ano de 1897, precisamente na Conferência Nacional de Caridade e Correção, Mary Richmond apresentou sua ideia de Assistência Social, propondo, com isso, a elaboração e/ou criação de uma escola voltada à aprendizagem de Filantropia Aplicada. Enfatizou a relação existente entre as pessoas e o mundo, considerando o sujeito enquanto pessoa no momento em que interage com o meio social do qual faz parte. Foi com a escola de Filantropia Aplicada que tiveram início a institucionalização e profissionalização do Serviço Social, onde o interessado trabalhava como agente reintegrador e transformador de caráter. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 27 Foi criada, no ano de 1908, na Inglaterra, a primeira escola de Serviço Social. Posteriormente à sua fundação, inúmeras outras escolas foram criadas por conhecimentos e atendimentos especializados, sempre apoiados pela Igreja Católica. Com o decorrer dos anos, a ação social estava cada vez mais ligada à política, agindo com o objetivo de acalmar os ânimos dos trabalhadores, controlando, dessa forma, as suas manifestações; também ocultavam o semblante da miséria, atendendo aqueles que nela residiam. Nos anos seguintes do fim da guerra, a relação com a Igreja Católica fora trocada para o Estado, remetendo a prática social para outro contorno. Em 1917, com a obra “Diagnóstico Social”, da autora Mary Richmond, o serviço social apresentou um considerável avanço enquanto profissão, levando em conta o entendimento do sujeito, enfatizando o fortalecimento do ego para a obtenção do êxito no tangível à solução de problemas internos e externos. No ano de 1936, foi criada a primeira escola de Serviço Social no Brasil, em resultado da expansão das práticas de assistência social, ainda por meio do assistencialismo e do caráter fortemente religioso. A escola foi criada na cidade de São Paulo, por iniciativa de Maria Kiehl e Albertina Ramos. O curso era constituído de formação técnica, sendo constantemente influenciado pelos meios cristãos. A metodologia fundamentava-se no homem enquanto ser livre, desenvolvido e dotado de inteligência, possuidor do direito de viver em sociedade, extraindo dela os meios necessários à sua sobrevivência. Considerações Finais Dessa maneira, caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de nossa primeira unidade, compreendendo a longa e fascinante história do Serviço Social, que desde sua origem é munido de metodologias tão extremas umas das outras. A partir dos conteúdos descritos, buscamos levar a você, futuro(a) assistente social, conhecimentos relevantes do contexto sócio-histórico que inaugura o Serviço Social como profissão. A profissão se vinculou ao processo de produção Considerações Finais I (...) terá particular destaque na estruturação do perfi l da emergente profissão no país a Igreja Católica, responsável pelo ideário, pelos conteúdos e pelo processo de formação dos primeiros assistentes sociais brasileiros. Cabe ainda assinalar, que nesse momento, a questão social é vista a partir de forte influência do pensamento social da Igreja, que a trata como questão moral, como um conjunto de problemas sob a responsabilidade individual dos sujeitos que os vivenciam, embora situados dentro de relações capitalistas. Trata- se de um enfoque individualista, psicologizante e moralizador da questão, que necessita para seu enfrentamento de uma pedagogia psicossocial, que encontrará no Serviço Social efetivas possibilidades de desenvolvimento.” Com isso, o pensamento conservador e a influência da doutrina católica traçaram um perfil de ação para os profissionais de Serviço Social atrelados ao pensamento burguês, atribuindo-lhes tarefas de amenizar conflitos, recuperar o equilíbrio e preservar a ordem vigente, com frágil consciência política, pois envolvida pelo “fetiche” da ajuda não conseguia ter claras as contradições do exercício profissional (MARTINELLI, 2000, p.127). A profissão de Serviço Social nasce, nesse contexto, para atender aos interesses da burguesia em uma perspectiva assistencialista, sem reflexão crítica distintamente da contemporaneidade, onde o assistente social realiza sua função por CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. capitalista que resultou do interesse do capital em controlar os trabalhadores, uma vez que o referido controle consistia em uma necessidade da época, gerando, com isso, vários agravos sociais. No que se refere, sobretudo, à estruturação do perfil da emergente profissão do assistente social, procuramos deixar claro a influência da igreja católica no processo de formação dos assistentes sociais brasileiros, sendo ela responsável pelo ideário e pelos conteúdos expressos por seu pensamento social. Ela trata a questão social como questão moral, como um conjunto de problemas focados na responsabilidade individual dos sujeitos sem considerar as relações sociais do sistema capitalista. Portanto, segundo Yasbek (2009), trata-se de um enfoque individualista, psicologizante e moralizador da questão, que necessita, para seu enfrentamento, de uma pedagogia psicossocial, que encontrará no Serviço Social efetivas possibilidades de desenvolvimento. Conforme afirma Yazbek (2000b, p. 92) 29 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. meio da investigação, diagnóstico, planejamento, projetos de pesquisa, avaliação das demandas e intervenção da realidade social. O cerne da questão social está no conflito entre capital e trabalho, configurando, nesse contexto, as várias expressões da questão social expressa na sociedade brasileira. Assim, podemos identificar uma situação extrema de desigualdade social, determinada pelo forte crescimento econômico do país, conforme o poema intitulado O BICHO, de Manuel Bandeira. Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. Manuel Bandeira Fonte: <http://factivel.wordpress.com/poesia/o-bicho/>. Considerações Finais 1. Conceitue capitalismo e o explique em sua fase monopolista. 2. Explique sobre o fator principal da dominação da burguesia na classe proletariada. 3. Explique em que contexto se deu o surgimento do Serviço Social na Europa. 4. A “pobreza” é a expressão direta das relações vigentes na sociedade, localizando a questão no âmbito de relações constitutivas de um padrão de desenvolvimento extremamente desigual, em que convivem acumulação e miséria. A nossa sociedade a produz e reproduz. A pobreza, nesse caso, significa uma demanda de intervenção para o Serviço Social? Justifique. Material Complementar Capitalismo Monopolista e Serviço Social José Paulo Netto Editora: Cortez Sinopse: este livro tematiza o surgimento da profissão, vinculando a sua história à emergência do Estado burguês na idade do monopólio, aos projetos das classes sociais fundamentais e à execução das políticas sociais. Discute também a estrutura teórico-prática do Serviço Social fundada em peculiar sincretismo. Tempos Modernos Um operário de uma linha de montagem, que testou uma “máquina revolucionária” para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela “monotonia frenética” do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto. Simultaneamente uma jovem rouba comida para salvar suas irmãs famintas, que ainda são bem garotas. Elas não têm mãe e o pai delas está desempregado, mas o pior ainda está por vir, pois ele é morto em um conflito. A lei vai cuidar das órfãs, mas enquanto as menores são levadas a jovem consegue escapar. Comentário: É um filme onde o personagem vagabundo de Chaplin tem que se adaptar ao mundo que está se industrializando de uma forma muito bem humorada e desastrada. Uma forte critica ao sistema capitalista da época e as condições sub-humanas de trabalho que os homens recebiam nas fábricas pós-revolução industrial. E como curiosidade, você sabia que Chaplin uma vez entrou em um concurso de sósias de Charles Chaplin e os jurados acharam que ele merecia apenas o Terceiro lugar? Material Complementar AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL UNIDADE Professora Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti Professora Me. Maria Cristina Araujo de Brito Cunha II Objetivos de Aprendizagem ■■ Analisar a estrutura conceitual das protoformas do Serviço Social. ■■ Identificar o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social no Brasil. ■■ Conceituar o conservadorismo religioso como base teóricometodológica da profissão. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■■ As Protoformas do Serviço Social ■■ As Primeiras escolas de Serviço Social no Brasil ■■ Conservadorismo religioso e bases teórico-metodológicas 35 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Introdução Nesta unidade, veremos que o Serviço Social se originou da ajuda ao próximo, da caridade, filantropia e beneficência. No século XVIII, com a Revolução Industrial, surgem graves crises econômicas, com repercussão política e social. Diante dessa situação, as formas de assistência até então utilizadas já não respondiam às necessidades emergentes da época, sendo necessário um Serviço Social institucionalizado, com fundamentos em conhecimentos técnicos e não apenas com boas intenções. Dentro desse contexto histórico, surge o Serviço Social profissional e, com ele, a primeira escola de Serviço Social, fundada em 1898, na cidade de New York, denominada New York School of Philanthropy, sob a influência de Mary Richmond. Diante dos crescentes problemas sociais, surgem leis protetoras das classes menos favorecidas e a necessidade de uma profissão que respondesse a essas, exigências. O Assistente Social surge com a proposta de amenizar as condições que favorecem a desigualdade humana. Em 1925, surge o Serviço Social latino-americano, com influência europeia e depois americana. O surgimento da profissão data, no Brasil, da década de 1940, época do Estado Novo de Getúlio Vargas e da implementação das leis trabalhistas. Foi também um período em que o país começou a estabelecer a sua indústria de base e a constituir-se capitalista. A sociedade de então passou a sentir falta de um profissional capacitado para ajudar a promover o bem-estar social, uma vez que se tornaram visíveis as desigualdades surgidas da relação entre capital e trabalho. A profissão de serviço social também se iniciou a partir do desenvolvimento do capitalismo, no período da Revolução Industrial, para suprir a necessidade de um trabalho voltado para a classe trabalhadora, como já foi citado acima. As diferenças impostas pelo capital dividiam a sociedade entre oprimida e opressora, ficando a primeira com os proletariados e a outra com os donos do poder. No Brasil, a profissão surgiu em 1936, com a inauguração da primeira escola em São Paulo, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), fortemente atrelada aos princípios do catolicismo. As primeiras entidades sociais Introdução II As Protoformas do Serviço Social Antes de darmos início ao nosso estudo, vamos definir o significado de protoformas, que são as instituições sociais que se mostram com origem confessional, prática da ajuda, caridade e solidariedade, impregnadas pela filosofia tomista e a serviço da classe dominante. Quando surgiu em nosso país, nas décadas de 1920 e 1930, o Serviço Social tinha como fundamento para sua implantação o reconhecimento de conflitos sociais, acarretados mediante a industrialização. Primordialmente, apresentava caráter filantrópico, possuindo uma característica assistencial, missionária e beneficente, onde a Igreja Católica controlava o processo voltado ao auxílio de pessoas necessitadas. As protoformas da profissão se relacionavam diretamente com o desenvolvimento da Ação Social, realizada pela Igreja Católica. Esta, com a finalidade de recristianizar a classe trabalhadora, passou a assumir o enfrentamento da questão social. Entretanto, nesse momento do Serviço Social, inexistia a expressão da questão social, mas sim, as expressões concretas da “questão social”, isto é, o conceito de um conflito social, interpretado enquanto uma questão moral e AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. foram organizadas pela Igreja Católica para atuar com a classe trabalhadora. No Brasil, a “semente” do Serviço Social foi plantada junto ao nascimento do projeto político da Igreja Católica. Eram os anos 30, em cujo momento histórico houve a passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, e o Estado utilizava mecanismos à efetivação de sua interferência nos diferentes setores da vida social. Desse modo, o primeiro projeto do Serviço Social unia-se a uma ala do clero que insistia na reorganização da classe trabalhadora. Foram criados os Círculos Operários, substituídos, no final do Estado Novo, pela JOC – Juventude Operária Católica. Houve uma influência recíproca das transformações histórico-político-econômico-sociais e da atividade do Serviço Social desde seu começo até nossos dias. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 37 religiosa, onde as condições precárias do proletariado eram interpretadas como consequência da falta de dinâmica do processo industrial, sem relacioná-la à luta de classes, o que significa, na verdade, a sua essência. A complicada relação existente entre as protoformas do Serviço Social e a Igreja fez com que fosse predominante dentro do exercício da profissão o pensamento conservador baseado na corrente neotomista. Nesse âmbito, as bases estruturais do Serviço Social, durante longo período de tempo, encontraram-se a serviço da classe dominante, sendo fortemente influenciadas pela doutrina social, a qual era desenvolvida pela Igreja Católica. Versando a respeito desse período do processo histórico referente ao Serviço Social, Iamamoto (1998, p. 27) ensina que: “o Serviço Social surgiu como uma das estratégias concretas de disciplinamento, controle e reprodução da força de trabalho e seu papel era conter e controlar as lutas sociais.” Assim, neste sistema de organização social capitalista, a classe dominante se aliava com a Igreja e com o Estado, com a finalidade de profissionalizar a assistência social. Por meio da influência do pensamento europeu e norte-americano, a caridade passou a valer-se de novos métodos, ou seja, recursos que a ciência e a técnica lhe ofertam. Busca-se, então, a adaptação do indivíduo ao meio em que está inserido e vice-versa. Por meio das relações formadas por moças católicas que prestavam assistência ao proletariado, surgiu a primeira Escola de Serviço Social no Brasil, fazendo com que o Estado solicitasse assistentes sociais para trabalhar em instituições estatais. A igreja católica tornou-se essencial na abertura das duas primeiras escolas de Serviço Social: a escola de Serviço Social de São Paulo, em 1936, e a Escola do Serviço Social do Rio de Janeiro, em 1937, escolas estas consideradas as pioneiras do Serviço Social em nosso país, recebendo notável influencia europeia. As Protoformas do Serviço Social II Com a movimentação do processo de industrialização, o Estado passou a financiar bolsas de estudo para pessoas que pertenciam a classes subalternas, enviando-as para os Estado Unidos. A instituição responsável pelo processo de currículo do curso era a Associação Brasileira de Ensino e Serviço Social (ABESS). A partir de então, tem início uma certa padronização, e no currículo mínimo constam o estudo de caso, grupo e comunidade. Daí, relacionadas à igreja católica, tiveram origem as escolas de trabalho e as protoformas da profissão. Para Iamamoto (1998, p.18), “o debate sobre a ‘questão social’ atravessa toda a sociedade e obriga o Estado, as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem diante dela”. Assim, o seu surgimento corresponde à conjuntura vivenciada em nosso país naquele período, em razão da industrialização e das grandes mobilizações da classe operária, que crescia cada vez mais e em condições precárias de higiene, saúde e habitação, evidenciando-se a questão social que tomava proporções imensas, voltando a atenção social do Estado às manifestações da classe operária que passava a reclamar seus direitos, melhores condições de vida e de trabalho. Entretanto, se de um lado se reconhece a existência dessa contrariedade do capital e trabalho, resultado da ordem liberal que estimula a competitividade excessiva, o proletariado é também responsabilizado por sua condição de vida precária. AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ©shutterstock Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 39 O proletariado é visto como uma classe denominada “ignorante social”, de pouca e fraca formação moral, que somada à sua baixa condição financeira o deixa submisso aos capitalistas, e por sua deficiência individual, o impede de alcançar uma maior ascensão social. Isso reflete o cenário em que a pobreza é naturalizada, passando por cima da contrariedade existente entre o modo de produção capitalista, causas e efeitos, que são invertidos e reinvertidos. Seguindo esse raciocínio, os assistentes sociais observam a necessidade de intervir na crise de “formação moral, intelectual e social” da família, para que assim seja possível a obtenção de um padrão de vida que lhes ofereça o mínimo de qualidade. Para isso, faz-se necessário realizar um ajuste familiar por meio de uma ação educativa de longo prazo, para que tenha início a sua reeducação moral. As Protoformas do Serviço Social II As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil As obras de caridade realizadas pela Igreja e por pessoas leigas possuem uma vasta tradição, remetendo aos primórdios do período colonial. A parca e a péssima infraestrutura hospitalar e assistencial existentes até o período pós Império se justificam quase que unicamente à ação das ordens religiosas europeias que implementam e se disseminam pelo país. A tentativa de intervenção na organização e controle da classe proletária também não é atual. Os Carlistas, ou Scalabrianos, se efetivam no Brasil logo depois das amplas ondas migratórias quem surgem na Itália, para atuar conjuntamente com seus patriotas. Estes se constituíram no principal contingente da Força de Trabalho que veio substituir o escravo nas vastas plantações e, consequentemente, integrar o mercado de trabalho urbano. A interação do clero no controle direto do operariado industrial remete à origem das primeiras grandes unidades industriais, nos fins do século passado. É viva a presença de religiosos no interior das referidas unidades, que na maioria das vezes possuíam capelas próprias, onde cotidianamente os trabalhadores eram submetidos a participarem das missas e outras liturgias. Nas vilas operárias, sua presença é constante. No âmbito sindical, com o apoio patronal, realizam AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ©shutterstock Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 41 iniciativas assistenciais e organizacionais objetivando opor-se ao sindicalismo independente de inspiração anarco-sindicalista. Na imprensa operária autônoma, são comuns as críticas à posição patronal e divisionista desses movimentos, cujos aderentes e mentores são ironicamente denominados de amarelos e urubus. Entretanto, o que se poderia interpretar como protoformas do Serviço Social, como é hoje considerado, tem seu fundamento nas obras e instituições que começam a originar-se posteriormente, ao final da Primeira Guerra. Marca esse momento, no contexto externo, a origem da primeira nação socialista e a efervescência do movimento popular operário em todo o continente Europeu. O Tratado de Versalhes busca estatuir a nível internacional uma política social inédita mais compreensiva no tocante à classe operária. É ainda o momento em que surgem e se intensificam na Europa as escolas de Serviço Social. No âmbito interno, como visto, os intensos movimentos operários de 1917 a 1921 tornaram patente para a sociedade a existência da “questão social” e da necessidade em buscar soluções para resolvê-la, ou então, reduzi-la. As instituições assistenciais que surgem a partir de então, por exemplo, a Associação das Senhoras Brasileiras (1920), no Rio de Janeiro, e a Liga das Senhoras Católicas (1923), em São Paulo, possuem uma diferenciação em função das atividades tradicionais voltadas à caridade. Desde os primórdios, constituem obras que envolvem de maneira mais direta e vasta os nomes das famílias e compõem a grande burguesia paulista e carioca, e, às vezes, militância de seus componentes femininos. Possuem um suporte de recursos e potencial de contratos em termos de Estado que lhes permite o planejamento de obras assistenciais de maior envergadura e eficiência técnica. A origem dessas instituições ocorre dentro da primeira etapa do movimento de “reação católica”, da apresentação do pensamento social da Igreja e da construção das bases organizacionais e doutrinárias do apostolado laico. Objetiva não o auxílio aos indigentes, mas, já dentro de uma perspectiva embrionária de assistência preventiva, de apostolado social, atender e atenuar determinadas consequências do desenvolvimento capitalista, especificamente no que se refere aos menores e mulheres. É nessa fase ainda que a inserção da mulher à Força de Trabalho urbana deixa de ser privilégio das famílias operárias, acometendo também as parcelas da pequena burguesia. As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil II Os Scalabrianos tinham como lema uma passagem do evangelho de Matheus “Eu era estrangeiro e me acolheste.” Matheus 25:35 AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A criação, em 1922, da Confederação Católica objetiva a centralização política e dinâmica dos primeiros embriões do apostolado laico. As considerações dessas instituições e obras, e de sua centralização, a partir da cúpula da hierarquia, não podem ser subestimadas à compreensão da gênese do Serviço Social no Brasil. Se sua ação efetiva é extremamente restrita, se seu conteúdo é assistencial e paternalista, será mediante seu lento desenvolvimento que se criarão as bases materiais e organizacionais, e especificamente humanas, que a partir da década seguinte possibilitarão a expansão da Ação Social e a origem das primeiras escolas de Serviço Social. A Sra. Estela de Faro, por exemplo, designada como a grande pioneira do Serviço Social no Rio de Janeiro e figura preeminente da Ação Social na década de 1930, é, em 1922 – na qualidade de componente de confiança de dom Sebastião Leme –, a primeira coordenadora do ramo Feminino da Confederação Católica. Será, entretanto, a partir do desenvolvimento do Movimento Laico que essas iniciativas embrionárias se propagara no compreendidas no interior da Ação Social Católica; tomarão aí sua marca característica de apostolado social. Dentre elas, se destacarão as instituições voltadas à organização da juventude católica para a ação social junto à classe operária e sua extensão a outros setores, por meio da Juventude Estudantil Católica, Juventude Independente Católica, Juventude Universitária Católica e Juventude Feminina Católica. O componente humano e o fundamento organizacional que viabilizarão a origem do Serviço Social se constituirão diante da mescla entre as antigas Obras Sociais, as quais se diferenciavam criticamente da caridade tradicional, e os novos movimentos de apostolado social, principalmente aqueles voltados à intervenção junto ao proletariado, ambos envolvidos no interior da estrutura do Movimento Laico, impulsionado e controlado pela hierarquia. 43 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo e a Necessidade de uma Formação Técnica Especializada para a Prestação de Assistência O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), visto como manifestação original do Serviço Social em nosso país, aparece, em 1932, com o incentivo e sob o controle da hierarquia. Surge como condensação da necessidade sentida por setores da Ação Social e Ação Católica – principalmente da primeira – de tornarem-se cada vez mais concretas e acarretarem maior rendimento às iniciativas e obras realizadas pela filantropia das classes dominantes paulistas sob patrocínio da Igreja e de dinamizar a mobilização do laicado. Seu começo oficial será a partir do “Curso Intensivo de Formação Social para Moças”, realizado pelas Cônegas de Santo Agostinho, para o qual fora convidada Mlle. Adèle Loneaux, pertencente à Escola Católica de Serviço Social de Bruxelas. Com o final do curso, será realizado um apelo para a organização de uma ação social objetivando o bem-estar da sociedade. As integrantes do curso, na demonstração do 1° relatório do CEAS, haviam participado no intuito de se orientar, esclarecer ideias, formar um julgamento acertado acerca dos problemas sociais da atualidade. O grupo constituiu-se por jovens formadas em estabelecimentos religiosos de ensino, uma representativa demonstração feminina das famílias que compõem as diferentes frações das classes dominantes e setores abastados aliados. ©shutterstock As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil II As reuniões dessa comissão – de moças católicas que frequentaram o curso ministrado por Mlle. de Loneaux – foram o início das atividades do CEAS. Tinham se realizado as primeiras durante os meses de maio a junho quando a 9 de julho rebentou em São Paulo o movimento pela reconstitucionalização do país, que absorveu todas as energias e iniciativas, dirigindo-se para o único fim da vitória de nossa causa (IAMAMOTO, 2007, p. 164). Certamente, não foi hoje que a Paulista aprendeu a se interessar pelos destinos políticos de sua terra (...) Se largos anos de paz e prosperidade haviam adormecido o interesse feminino pela política do país, ele despertou nas horas de sofrimento de São Paulo. E foi em 1932 que a mulher resolveu retomar parte ativa e direta na luta que se está travando pelos destinos de nosso Estado e do Brasil. Á causa que abraçou ela deu, na guerra, tudo o que podia dar: os seus entes mais caros, toda a sua dedicação e atividade, o seu ouro e as suas jóias. Na paz, ela aceitou o voto feminino, compreendeu o seu alcance e exerce-o a bem de seu ideal. A mulher paulista de hoje conhece o seu dever cívico e sabe cumpri-lo ‘para o bem de São Paulo’ (IAMAMOTO, 2007, p. 46). E no campo da ação social? Também desse lado, largos e novos horizontes se abriram, em 1932, para a atividade feminina. Surge de maneira tão explícita que a origem desse movimento não pode ser desvinculada da conjuntura particular de São Paulo, principalmente porque ocorre no momento em que as classes dominantes desse Estado se lançam no movimento surreal de 1932, buscando reaver o poder local e nacional do qual havia sido alijado dois anos antes. E, nessa vertente, se envolve dentro dos AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O objetivo central do CEAS “será o de realizar a formação de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e pautar sua ação nessa construção doutrinária e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais”, objetivando “tornar mais eficiente a realização das trabalhadoras sociais” e “adotar uma orientação definida em relação às questões a resolver, favorecendo a coordenação de esforços espalhados nas inúmeras atividades e obras de caráter social”. (Iamamoto, 2007, p. 168). Os registros existentes sobre essa compreensão demonstram que seu núcleo organizador partia da consciência de vivenciar uma fase de profundas mudanças políticas e sociais e da necessidade de interferir nesse processo a partir de uma perspectiva ideológica e de uma prática homogênea: 45 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. movimentos políticos e ideológicos do início da década de 1930, que possui como pano de fundo as tentativas de reunificação e a reação a que se lançam os antigos grupos dirigentes. Existe também uma precisão referente ao sentido novo dessa ação social; tratar-se-à de intervir claramente junto ao proletariado para afastá-lo de influências subversivas. Por que, então, não datar de 1932 uma nova era na atividade social feminina? É que se até então a generosidade e o espírito cristão das Paulistas as impeliram a fundar obras de socorro e assistência para acudir um sem -número de males, foi apenas em 1932 que as moças residentes em São Paulo despertaram interesses pelo estudo metódico da questão social, através da ação nos meios operários nela abrangendo o problema do trabalho (IAMAMOTO, 2007, p. 48). Logo no mês seguinte mons. Gastão Leberal Pinto, vigário-geral da arquidiocese, que se achava a par de nossos projetos, aconselhou-nos a continuar nossos trabalhos, e a 29 de agosto realizávamos a reunião preliminar de fundação do Centro pela leitura do projeto dos estatutos. Nessa reunião resolvemos não nos limitar preliminarmente aos estudos, como era nosso propósito, mas começar ao mesmo tempo nossa ação, aproveitando a oportunidade que nos ofereciam os serviços de assistência da retaguarda em que estávamos quase todas empenhadas, para entrar em contato com os meios operários, nesse momento anormal muito trabalhado por elementos subversivos (...) (IAMAMOTO, 2007, p. 45). Até dezembro de 1932, o CEAS fundou quatro centros operários onde suas propagandistas, por meio de aulas de tricô e trabalhos manuais, conferências, conselhos sobre higiene etc., procuraram interessar e atrair as operárias, e entrar, assim, em contato com as classes trabalhadoras, analisando os ambientes e necessidades. Os referidos Centros ofertavam uma tríplice vantagem e seriam o ponto de partida para um desenvolvimento maior (IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 171): 1° - São campos de observação e de prática para a trabalhadora social, que aí completa e aplica os seus estudos teóricos. 2° - São Centros de educação familiar, onde se procura estimular nas jovens operárias o amor ao lar e prepará-las para o cumprimento de seus deveres nessa missão. As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil II 3° - São núcleos de formação de elites que irão depois agir na massa operária. Com esse intuito não somente cuidamos de estimular nessas jovens uma fé viva e esclarecida, o sentimento do exato cumprimento do dever, como também despertar-lhes o espírito de apostolado da classe pela classe, com a noção das responsabilidades que lhe incumbem nesse terreno. Não somente é justificável a ação feminina social como ainda é indispensável (...). Não tem a mulher, na sociedade a missão de educar? Imaginem a restauração da família sem a cooperação da mulher: a remodelação da mentalidade, de hábitos e de costumes que irão depois influir na economia e nas leis do país, tem de ser, toda ela, trabalho da mulher, em qualquer classe da sociedade (IAMAMOTO; RAUL, 2009, p. 172). Mas por qual motivo uma associação que importa moças da sociedade se ocuparia com questões da classe operária? Essa iniciativa é também legítima e é explicável: ela se baseia num sentimento profundo de justiça social e de caridade cristão, que leva aquelas que dispõem de facilidade de tempo e de meios a auxiliar as classes sociais mais fracas a formar as suas elites, para que estas também possam cumprir eficientemente seu dever. Elas mostram a essas elites como deverão se organizar para defender a Família e a Classe Operária contra os ambiciosos e os agitadores que exploram seu trabalho ou a sua ignorância (IAMAMOTO; CARVALHO, 1982, 177). AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Os Centros Operários são idealizados como uma fase intermediária, e, segundo Iamamoto e Carvalho (2007), os organismos transitórios deveriam dar seu lugar a associações de classe que nossas elites operárias iriam formar e dirigir, assim que estivessem em condições. Aceitando a idealização de sua classe sobre a vocação natural da mulher para as tarefas educativas e caridosas, essa interferência assumia, na opinião desses ativistas, a consciência do posto que cabe à mulher na preservação da ordem moral e social e o dever de tornarem-se aptas para agir de acordo com as suas convicções e suas responsabilidades. Incapazes de promover a ruptura com essas representações, o apostolado social possibilita àquelas mulheres, a partir da retificação daquelas qualidades, uma interação ativa no empreendimento político e ideológico de sua classe, e da defesa de seus interesses. De forma paralela, sua posição de classe lhes faculta um sentimento de superioridade e proteção em relação ao proletariado. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 47 As atividades dos CEAS se orientarão para a construção técnica especializada de quadros para a ação social e a propagação da doutrina social da Igreja. Ao admitir essa orientação, passa a se comportar como dinamizador do apostolado laico por meio da organização de associações para moças católicas e para a intervenção direta juntamente ao proletariado. Esta última globalizará, teoricamente, as demais, na proporção em que se destinam ao mesmo fim. São promovidos inúmeros cursos de filosofia, moral, legislação do trabalho, doutrina social, enfermagem de emergência etc. O ano de 1933 caracteriza uma intensificação dessas atividades: interação na Liga Eleitoral Católica por meio de campanhas de alistamento de eleitores e proselitismo, realização da Primeira Semana de Ação Católica, começo da formação de quadros da Juventude Feminina Católica constituída mediante aos Centros Operários e Círculos de formação para Moças, delegação pela hierarquia da representação da Juventude Feminina Católica etc. No ano de 1936, diante dos esforços desenvolvidos por esse grupo e o auxílio da hierarquia, é criada a Escola de Serviço Social de São Paulo, a primeira desse gênero a existir em nosso país. ©shutterstock As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil II a. superintender todo o serviço de assistência e proteção social; b. celebrar, para realizar seu programa, acordos com instituições particulares de caridade, assistência e ensino profissional; c. harmonizar a ação social do Estado, articulando-a com a dos particulares; d. distribuir subvenções e matricular as instituições particulares realizando seu cadastramento. Caberia ainda a estruturação de Serviços Sociais de Menores, Desvalidos, Trabalhadores e Egressos de Reformatórios, penitenciárias e hospitais e da Consultoria Jurídica do Serviço Social. A maior parte dos artigos da mencionada lei dedica-se à assistência do menor e aos requisitos essenciais para a sua qualidade de vida. AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Partindo desse momento, é possível notar que paralelamente à busca inicial por quadros habilitados por essa formação técnica especializada, criada da própria ação social católica, começa a surgir outro tipo de procura, partindo de certas instituições do Estado. Elas serão enxergadas pelos integrantes desse movimento enquanto conquistas significativas. Com a demonstração de um memorial ao Governo do Estado, obteve (o CEAS) a criação de cargos de fiscais femininos para o trabalho de mulheres e menores, no Departamento Estadual do Trabalho. No ano de 1937, o CEAS trabalha no Serviço de Proteção aos Imigrantes, funcionando dois anos juntamente com a Diretoria de Terras, Colonização e Imigração; no ano de 1939, assina o contrato com o Departamento de Serviço Social de Estado (SP) para a organização de três Centros Familiares em bairros populares. No ano de 1935, fora criada a Lei n° 2.497, de 24.12.1935. À referida lei competiria: Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 49 ©shutterstock No ano de 1938, será organizada a Seção de Assistência Social, tendo como objetivo realizar o conjunto de funções necessárias ao reajustamento de certos indivíduos ou grupos às condições normais de vida, e organiza para isso o Serviço Social dos Casos Individuais, a Orientação Técnica das Obras Sociais, o Setor de Investigação e Estatística e o Fichário Central de Obras e Necessitados. A metodologia central a ser aplicada é definida como sendo o Serviço Social de Casos Individuais, devendo-se estimular o necessitado, interagindo-o ativamente em todos os projetos relacionados com seu tratamento, e usar todos os componentes do meio social que possam de alguma forma influenciá-lo no sentido desejado, auxiliando sua readaptação, proporcionando uma ajuda material diminuindo ao mínimo indispensável com a finalidade de não prejudicar o tratamento. Ainda nesse mesmo período, o Departamento sofre uma transformação de siglas, passando a chamar-se Departamento de Serviço Social. O Estado perpassa o marco de sua primeira área de intervenção para superintender a gestão da assistência social. Assim, procurará racionalizar a assistência, fortalecendo e enfatizando sua participação própria e controlando as iniciativas particulares. Estas tenderão a se tornar ainda mais dependentes e destinadas para a busca de serviços por parte do Estado, por meio de convênios etc. De forma paralela, figuras de importância, saídas das instituições particulares, serão As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil II Apesar das representações que muitas vezes fazem desse fato, sem que tivéssemos feito propaganda, pois receávamos que a publicidade trouxesse prejuízos à seriedade do nosso trabalho, as alunas que compunham a primeira turma foram convidadas a trabalhar no Departamento de Serviço Social como pesquisadoras sociais ou como comissárias de menores a partir do segundo ano de funcionamento da Escola. A eficiência do trabalho por elas realizado fez com que se estabelecesse a praxe de se pedir à Escola de Serviço Social a indicação de nomes para o preenchimento de determinados cargos, e hoje já temos alguns dispositivos legais que dão preferência às pessoas que tiverem curso completo em escola de serviço social para o desempenho de funções nos serviços sociais públicos (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996, p. 180-181). Como forma de fazer propaganda a respeito das possibilidades da carreira para os discentes da Escola de Serviço Social em 1944, mostrar-nos-á que a concepção moderna de Estado cria, a cada passo, iniciativas oficiais no terreno social, e daí AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. cooptadas para constituir os quadros técnicos e Conselhos Consultivos das instituições estatais de coordenação e execução. O governo buscará, portanto, subordinar a seu programa de ação as iniciativas particulares no mesmo modo que adota as técnicas e a formação técnica especializada desenvolvida a partir daquelas instituições de caráter particular. Dessa maneira, a busca por essa formação técnica especializada, crescentemente, encontrará no Estado seu setor mais dinâmico, ao mesmo tempo em que passará a regulamentá-la e incentivá-la, institucionalizando sua progressiva mudança em profissão legitimada no interior da fragmentação social-técnica do trabalho. Nessa vertente, quando em 1936 é criada pelo CEAS a primeira Escola de Serviço Social, esta não pode ser considerada como resultado de uma iniciativa exclusiva do Movimento Católico Laico, uma vez que já se faz presente uma procura – real ou potencial – a partir do Estado, que assimilará a formação doutrinária própria do apostolado social. A profunda relação entre essa Escola e a do CEAS com o movimento católico laico, como demonstra vastamente Arlette Alves de Lima, não deve obscurecer o fato de que desde aquele momento existe uma busca a partir do Estado, o que inclusive é explicitado de forma precisa pelos Assistentes Sociais. Podemos observar abaixo: Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 51 a ampliação do campo de ação da Assistente Social junto aos poderes públicos. Também, as instituições particulares já estão recorrendo aos métodos modernos de ação. Se no início a Escola de Serviço Social atraiu principalmente a atenção dos órgãos públicos, hoje está tomando posição de destaque perante as instituições particulares. Inúmeros são os pedidos de Assistentes, mas não tem sido possível corresponder a todos, por falta de número suficiente de habilitados nas diversas funções. Sobejam motivos para afirmar que a carreira de Assistente Social tomará, também no Brasil, o desenvolvimento que tem sido em outros países. A adequação dessa construção técnica especializada à busca pode ser observada, também, por meio das transformações de orientação pelas quais passam as escolas especializadas. ©shutterstock A Escola de Serviço Social passará por rápidas fases de adequação. A primeira ocorre a partir do convênio estabelecido entre o CEAS e o Departamento de Serviço Social do Estado, em 1939, para a organização de Centros Familiares. Essa busca terá por reflexo a introdução no currículo da Escola de um Curso Intensivo de Formação Familiar: pedagogia do ensino popular e trabalhos domésticos. A As Primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil II AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. segunda ocorrerá, posteriormente, para atender à demanda das prefeituras no interior do Estado. O instituto de Serviço Social (SP), que se origina em 1940 como divisão da Escola de Serviço Social, tendo o patrocínio da JUC, destinava-se à formação de trabalhadores sociais especializados para o Serviço Social do Trabalho. Entretanto, um fato de interesse superior veio imprimir novo rumo ao nosso ensino: a instituição de bolsas de estudo, pelas administrações municipais do interior, concedidas a moços que quisessem matricular-se no ISS, assumindo o compromisso de irem prestar seus serviços profissionais junto às respectivas prefeituras de origem. Renunciando a intenção de encarecer o trabalho, nada fez o Instituto a não ser procurar amoldar-se aos imperativos do meio, pois uma escola de serviço social, mais do que qualquer outra agência social, deve esforçar-se para atender ao que é mais urgente, a fim de proporcionar ao meio ambiente os recursos técnicos indispensáveis aos empreendimentos mais insistentemente reclamados. Ainda no tocante à questão da busca, caberia notar dois aspectos: a consideração quantitativa de alunos bolsistas e dos cursos intensivos de formação de auxiliares sociais. Quanto ao primeiro, os Relatórios anuais da Escola de Serviço Social (SP) apresentam que, a partir de 1941 e durante longo período de tempo, o percentual de bolsistas raramente é inferior a 30%, chegando a concomitantemente se constituir em maioria. Os principais patrocinadores dessas bolsas serão o Estado e as grandes instituições estatais ou paraestatais, como as prefeituras. No âmbito particular, sobressaem as Escolas de Serviço Social, que começam a aparecer nos outros Estados, e diminuem o número de obras particulares e estabelecimentos comerciais e industriais. Quanto à formação de auxiliares sociais, esta reside em notável atividade das escolas desde a origem das grandes instituições, efetivando-se seja na sede das mesmas, seja nos Estados, onde inexistem escolas especializadas. Ao assinalar a questão da busca, não se objetiva subestimar, por exemplo, o destaque do trabalho que desenvolvem as pioneiras do Serviço Social na propagação e institucionalização da profissão, atuando no sentido de incentivar e concretizar a procura por seus serviços. Cabe situar, entretanto, que acontece um processo de mercantilização dos portadores daquela formação técnica Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 53 especializada, que se traduz em sua modificação, em força de trabalho, que pode ser comprada. Essa alienação se dá ao mesmo momento em que ocorre uma “purificação” do portador da qualificação, realizando as escolas uma função imprescindível para a viabilidade desse processo. O portador dessa qualificação não mais necessariamente será uma moça da sociedade devotada ao apostolado social. Continuadamente se transformará em um elemento da Força de Trabalho, possuindo uma determinada qualificação, englobada na divisão social – técnica do trabalho. Esse mesmo processo não importa, entretanto, em regra, a eliminação do conteúdo doutrinário da formação acadêmica do Assistente social. Esse conteúdo não se constitui em entrave à sua assimilação pelo Estado e empresas. Por oposto, essa formação é funcional às suas necessidades. Isso só é real, porém, a partir de uma visão histórica dos tipos de instituições que vão se originando, do momento em que optam por incorporar o Serviço Social e das modificações paulatinas que a formação técnica especializada demonstra nesse mesmo período, como se procurará situar posteriormente. Conservadorismo Religioso e Bases TeóricoMetodológicas Como profissão contida na fragmentação do trabalho, o Serviço Social aparece como parte de um movimento social mais abrangente, de fundamentos confessionais, ligado à necessidade de formação doutrinária e social do laicato, para uma influência mais contundente da Igreja Católica no mundo temporal, nos primórdios da década de 30. Tentando recuperar áreas de influência de privilégios perdidos, em face da constante secularização da sociedade e dos conflitos presentes na relação entre Igreja e Estado, a Igreja procura superar a postura contemplativa. Opõe-se aos princípios liberais e ao comunismo, que surgem como uma ameaça à sua posição no meio social. Conservadorismo Religioso e Bases Teórico-Metodológicas II A igreja busca ainda a legitimação jurídica de suas áreas de influência no interior do aparato estatal. Mediante as intensas mobilizações da classe operária nas duas primeiras décadas do século, a discussão sobre a “questão social” atravessa toda a sociedade e obriga o Estado, as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem diante dela. A Igreja interpreta a questão social segundo os preceitos acordados nas encíclicas papais, particularmente a Rerum Novarum e Quadragésimo Anno, fonte inspiradora das posições e programas realizados frente aos conflitos sociais. A igreja analisa a questão social enquanto uma questão moral e religiosa. Rerum Novarum é uma encíclica escrita pelo Papa Leão XIII em 15 de Maio de 1891. Era uma carta aberta a todos os bispos, na qual se debatia as condições das classes trabalhadoras. Leão XIII apoiava o direito dos trabalhadores formarem sindicatos, mas rejeitava o socialismo e defendia os direitos à propriedade privada. Discutia as relações entre o governo, os negócios, o trabalho e a Igreja, propondo uma estrutura social e econômica que mais tarde se chamaria corporativismo. Entre no link abaixo e leia a carta na íntegra: <http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum_po.html>. AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ©shutterstock Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 55 A intervenção estatal na “questão social” é verdadeira, uma vez que o Estado deve provir o bem de todos. Entretanto, o Estado não pode negar a independência da sociedade civil. Existem grupos sociais “naturais”, ou seja, organismos autônomos que restringem a ação dominadora do Estado. Cabe à Igreja partilhar com este a atuação frente à “questão social” por meio de grupos sociais básicos, particularmente a família. Corporificando esses princípios, o Serviço Social emerge da iniciativa de grupos e frações de classes dominantes que se mostram por meio da Igreja. A profissão não se caracteriza somente como uma forma inédita de realizar a caridade, mas também como uma maneira de interferir ideologicamente na vida da classe trabalhadora, como fundamento na atividade assistencial: suas consequências são essencialmente políticas. Difere-se ainda da assistência pública, que desconhecendo a singularidade e particularidade dos sujeitos, apresenta respostas não diferenciadas aos problemas da sociedade. Exercído por meio de entidades filantrópicas particulares e do Estado, o Serviço Social norteia-se para uma individualização de proteção legal. O Serviço Social se compromete, ainda, como uma ação organizativa entre a população trabalhadora, no interior do programa de militância católica, opondo-se às iniciativas decorrentes de lideranças operárias que não aderem ao associativismo católico. Dessa maneira, o associativismo surge como uma atividade com fundamentos mais doutrinários do que científicos, no bojo de um movimento de caráter reformista-conservador. O processo de secularização e de ampliação e amplificação da base técnica – científica da profissão – que ocorre com o desenvolvimento das escolas especializadas no ensino de serviço social – acontece sob interferência dos progressos alcançados pelas ciências sociais nos ápices do pensamento conservador. Para justificar essas afirmativas, é necessário retornar a algumas características do pensamento conservador e sua influência na compreensão sociológica. O conservadorismo contemporâneo, que apresenta uma forma específica de pensamento e experiência prática, é resultado de uma situação histórico-social particular: a sociedade de classes em que a burguesia surge como personagem principal do mundo capitalista. Por meio desses mecanismos, o pensamento conservador deixa de se opor Conservadorismo Religioso e Bases Teórico-Metodológicas II Considerações Finais Com o fim de nossa unidade, caro(a) aluno(a), podemos observar que o Serviço Social origina-se e desenvolve-se na órbita de um universo teórico. Perpassa da influência do pensamento conservador europeu para a sociologia conservadora norte-americana, a partir da década de 40. A compreensão do percurso histórico do Serviço Social em nosso país remete à predominância de um comportamento basicamente conservador. Percebe-se que ao final da década de 50 e começo da década seguinte é que se fazem presentes as primeiras manifestações, no meio profissional, de posicionamentos questionadores a respeito do status quo e contestações a respeito das práticas institucionais em vigência. Essas indagações originam uma conjuntura marcada por uma situação de crise e de profunda efervescência, no quadro do colapso dos populismos e de uma reorientação estratégica do imperialismo em relação às sociedades autônomas. No âmbito político interno, essas manifestações coincidem com a constante radicalização política que marca a fase final do pacto populista e que apresenta AS PROTOFORMAS E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ao capitalismo, aquele conflito referido, entre noções e ideias pretéritas, mas intencional e racionalmente ressuscitadas como ideologicamente válidas para responder às necessidades de explicação da própria sociedade capitalista. O conservadorismo não é interpretado apenas como a continuidade de perseverança no tempo de um conjunto de ideias constitutivas da herança intelectual europeia do século XIX, mas sim, de ideias que, reinterpretadas, transformamse em uma ótica de explicação e em projetos de ação positivos à manutenção da ordem capitalista. Ele reage, assim, aos princípios universais e abstratos referentes ao pensamento dedutivo: seu pensamento tende à adesão aos contornos imediatos da situação com que se afronta, considerando os detalhes, as informações qualitativas, os casos específicos, em face do apoderamento da estrutura social. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 57 como desfecho uma expressiva transformação desse pacto, ou seja, uma modificação na correlação existente entre as forças com o golpe de 1964. O rompimento com a herança conservadora se apresenta como uma busca, uma luta para alcançar novos fundamentos de legitimidade da ação profissional do assistente social que, enxergando as contrariedades sociais existentes nas condições do exercício da profissão, procura colocar-se, efetivamente, à disposição das necessidades dos usuários, ou seja, setores dominados da sociedade. Compreendido em uma dimensão processual, esse rompimento tem como pré- condição que o assistente social aprofunde o entendimento das implicações políticas de seu exercício profissional, reconhecendo como polarizado pela luta de classes. Considerações Finais 1. Explique em qual contexto histórico se deu o surgimento do Serviço Social. 2. Relacione as primeiras escolas de Serviço Social no Brasil. 3. Qual é relação da gênese do Serviço Social com a Igreja católica? 4. Qual é o fundamento para implantação do Serviço Social no Brasil nas décadas de 1920 e 1930? Material Complementar Relações Sociais e Serviço Social no Brasil Marilda Vilela Iamamoto e Raul de Carvalho Editora: Cortez Sinopse: Trata-se de trabalho indispensável, pelos aspectos históricos e teóricos examinados. As atividades das instituições e dos profissionais do Serviço Social revelam novos e surpreendentes aspectos das relações sociais. Sob vários ângulos, este livro é importante para o conhecimento da teoria e prática do Serviço Social. Material Complementar A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL UNIDADE Professora Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti Professora Me. Maria Cristina Araujo de Brito Cunha III Objetivos de Aprendizagem ■■ Apresentar a influência do Serviço Social de Caso Grupo e Comunidade. ■■ Conceituar positivismo. ■■ Refletir sobre a influência do funcionalismo na profissão. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■■ A influência do Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade ■■ Positivismo e funcionalismo na profissão ■■ Introdução do Funcionalismo no Serviço Social 63 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Introdução Caro(a) aluno(a), em seu processo histórico, o Serviço Social não pode ser visto separadamente do contexto socioeconômico em que se insere. Desta maneira, para o conteúdo desta nossa unidade, analisaremos algumas características essenciais para nosso processo de formação profissional, que é o Serviço Social de caso, grupo e comunidade e as influências positivistas e funcionalistas na profissão. A proposta desta Unidade de estudo é identificar de que forma o Serviço Social se insere no modo de produção e reprodução das relações sociais no sistema capitalista, e, ao mesmo tempo, avaliar as mudanças que vão ocorrendo na ação profissional, motivadas pelas necessidades de atendimento às demandas sociais que surgem a todo instante. O Serviço Social Brasileiro sofre a influência norte-americana devido ao modelo econômico, principalmente na era desenvolvimentista. Nesse período, de intenso processo de industrialização, são requeridos dos profissionais novas formas de atendimento à população de massa, e, ao mesmo tempo, se promovem novas práticas e são introduzidos novos conceitos metodológicos. Nesta Unidade, entre os conteúdos abordados se destaca o desenvolvimento de comunidade, método bastante explorado pelos assistentes sociais que possui conotação ideológica e política a favor do Estado onde se justifica a ação profissional. Dessa maneira, atende aos interesses da classe dominante em prol do progresso e do ajustamento social. Vamos lá? Introdução III A Influência do Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade [...] uma prática que visa minorar o sofrimento e melhorar o funcionamento pessoal e social de seus membros, através de específica e controlada intervenção de grupo, com a ajuda de um profissional (KONOPKA, 1979, p. 33). ©shutterstock A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. As décadas de 1940 a 1950 foram marcadas pelo tecnicismo e pela influência norte-americana, como também pelos métodos de caso, grupo e comunidade, que orientaram o Serviço Social à busca da integração do homem ao meio social. De acordo com Richmond (1915 apud VIEIRA, 1978, p. 44), “o Serviço Social de Caso é o processo que desenvolve a personalidade através de um ajustamento consciente, indivíduo por indivíduo, entre os homens e seu ambiente”. Essa teoria visava à personalidade do indivíduo, buscando mudá-lo, com adequações nas atividades e comportamento, ou seja, por meio de ajuda psicossocial, e, assim, adaptá-lo ao meio social. Já o Serviço Social de Grupo era definido como um método que ajuda os indivíduos a aumentarem o seu funcionamento social, através de objetivas experiências de grupo, e a enfrentarem, de modo mais eficaz, os seus problemas pessoais, de grupo ou de comunidade. 65 O Serviço social de comunidade, também denominado como Desenvolvimento de Comunidade, aborda as semelhanças dos métodos de caso, e de grupo, objetivando o ajuste social do indivíduo, realizando um trabalho assistencial, que, segundo a Conferência Internacional de Serviço Social (1962 apud VIEIRA, 1978, p. 252), é Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. [...] um esforço consciente e deliberado para ajudar as comunidades a reconhecerem suas necessidades e a assumirem responsabilidade na solução de seus problemas pelo fortalecimento de sua capacidade em participar integralmente na vida da nação. De acordo com o exposto, caro(a) aluno(a), podemos concluir que o Serviço Social se organizou da seguinte maneira: 1) O Serviço Social de Caso: utiliza-se da abordagem individual, tendo como comunidade a família, com o objetivo de atuar nos fatores causais ou problemas em potencial interligados à saúde, no contexto sócio-econômico-cultural e emocional. Utiliza abordagem individual como instrumento de identificação de situações sociais e problemas comuns à população, para planejamento posterior de atividades grupais e programas específicos. ©shutterstock 2) O Serviço Social de Grupo: utiliza-se da abordagem grupal nas situações sociais de problemas identificadas em número significativo de clientes. Participa e organiza grupos para a participação no processo social. 3) O Serviço Social de Comunidade: mantém o entrosamento das instituições da área, visando ao conhecimento das necessidades comunitárias e estabelecendo atividades conjuntas para o aproveitamento total e dinâmico dos recursos existentes. Marilda Villela Iamamoto (2004) diz que para compreender a metodologia do Serviço Social, não se deve percebê-la de modo separada da sociedade, pois ela diz respeito ao modo de ler, de interpretar, de se relacionar com a realidade Social. Isso explica a atenção que o Serviço Social deu em relação à formação A Influência do Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade III É um método do Serviço Social que auxilia os indivíduos a melhorar-se no seu funcionamento social através de específicas experiências de grupos e a se defrontar mais eficientemente com seus problemas pessoais, do seu grupo e da sua comunidade (KONOPKA, 1979, 45). Serviço Social de Comunidade: Penetrou no Brasil em decorrência do movimento provocado por organizações internacionais e de uma política nacional – ambos interessados na expansão do sistema capitalista e na modernização do meio rural – sendo a bandeira da educação de adultos, desfraldada como grande estratégia para tais propósitos. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. profissional para atuar nas instituições remodeladas do regime militar. Em síntese, para garantir a prosperidade, o progresso social, como também preservar o mundo livre de ideologias americanas não democráticas, foi lançado o Desenvolvimento de Comunidade como estratégia. Nos anos 40 e 50, o Serviço Social brasileiro recebe influência norte-americana. É marcado pelo tecnicismo, bebe na fonte da psicanálise, bem como da sociologia de base positivista e funcionalista. Sua ênfase está na ideia de ajustamento e de ajuda psicossocial. Nesse período, há o início das práticas de Organização e Desenvolvimento de Comunidade, além do desenvolvimento das peculiares abordagens individuais e grupais. Com supervalorização da técnica, considerada autônoma, como um fim em si mesmo, e com base na defesa da neutralidade científica, a profissão se desenvolve por meio do “Serviço Social de Caso”, “Serviço Social de Grupo” e “Serviço Social de Comunidade”. Pode ser definido como a arte de ajudar as pessoas a ajudarem-se a si mesmas, cooperando com elas, a fim de beneficiá-las e, ao mesmo tempo, à sociedade em geral. Outra definição ressalta que o problema é essencialmente do cliente e que, portanto, ele está envolvido ativa e responsavelmente na sua solução. Serviço Social de Grupo: 67 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. “Devemos educar os adultos para que o país possa ser mais coeso e mais solidário” (Lourenço Filho, Ministro da Educação). A preocupação do Serviço Social brasileiro com o Desenvolvimento de Comunidade atrela-se a um movimento de âmbito internacional, deflagrado oficialmente pelas Nações Unidas e referendado por inúmeros organismos interessados na expansão da ideologia e do modo de produção capitalista. Reproduzindo as características americanas da Organização Social da Comunidade, o Serviço Social brasileiro centra sua estratégia na obra social, concebida esta como uma estrutura através da qual um grupo de indivíduos procura, sem idéia de remuneração ou lucro, solucionar e prevenir problemas, educar indivíduos e grupos e promover o bem-estar da comunidade. A conceitualização sobre organização de comunidade revela uma perspectiva profundamente funcionalista no trato da questão social e o seu desenvolvimento. A identificação das necessidades e a alocação de recursos reduzem a questão social a problemas técnicos, construindo, a partir deles, uma fórmula central que contempla múltiplas variantes de intervenção profissional. De acordo com Ander Egg (1965), consideramos o desenvolvimento de Comunidade como parte integrante do conceito mais amplo, mais geral e completo de desenvolvimento, e o entendemos como método e técnica que contribui positiva, real e efetivamente ao processo de desenvolvimento integral e harmônico, respondendo fundamentalmente a certos aspectos extra-econômicos, em particular psicossociais, que intervêm na promoção de atitudes, aspirações e desejos para o desenvolvimento A Influência do Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade III Os propósitos do desenvolvimento comunitário foram esclarecidos por Rubén Utria nos seguintes termos: Veja na íntegra, em: <http://periodicos.franca.unesp.br/index.php/SSR/article/viewFile/13/78>. Na leitura de Rubén Utria, no Saiba Mais, vimos sobre os propósitos do desenvolvimento comunitário em que estão implícitos os seguintes pressupostos: - Que a participação popular é fator-chave para a aceleração do desenvolvimento. - Que existem sistemas e métodos capazes de motivar na população atitudes favoráveis ao progresso econômico e social. - Que o Desenvolvimento de Comunidade é um dos ensaios de solução mais fecundos para enfrentar o subdesenvolvimento. - Que esses fatores são positivamente conjugáveis na escala em que se estabeleça uma associação entre a comunidade e o governo. - Que o “governo” busca a superação do subdesenvolvimento. A comunidade deve, segundo esta concepção, chegar ao convencimento de que os instrumentos para o seu desenvolvimento residem nela e, por conseguinte, que as razões do seu atraso também se explicam a partir dela mesma. Os Assistentes Sociais foram integrados aos planos de desenvolvimento comunitário, já que se considerava que neste campo a sua intervenção seria de grande valia. O Serviço Social experimentou uma etapa de revalorização, que lhe atribuiu novas responsabilidades e lhe conferiu uma posição melhor no interior das A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. “Na busca de tratamento para o fator-chave da participação popular na aceleração do desenvolvimento e diante da necessidade de contar com sistemas e métodos que possam promover, entre a população, atitudes motivações e imagens favoráveis ao progresso econômico e social, formularam-se vários princípios e doutrinas e ensaiaram-se diversas soluções”. 69 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. administrações públicas, que também viviam um processo de modernização. Com a hegemonia do desenvolvimentismo no Serviço Social, revitalizaramse também diversas colocações de reforma social, feitas nos primeiros anos da profissão por setores empenhados em uma “humanização” do capitalismo em suas mais variadas facetas. Positivismo na Profissão A principal influência do Positivismo nas Ciências Sociais foram ações que permitiram compreender a realidade, estimulando a adequação da linguagem, modificando atributos e qualidades do objeto de investigação. August Comte (1798-1857) e Saint Simon (1760-1825), fundadores do positivismo, concentraram suas reflexões sobre a natureza e as consequências da Revolução Industrial, propondo racionalizar a nova ordem social e encontrar soluções para os problemas, a partir do restabelecimento da ordem e da paz. Preconizavam a defesa de ideias segundo as quais os fenômenos sociais, assim como os físicos, estavam sujeitos a leis rigorosas. Assim, o positivismo foi a primeira corrente teórica a organizar e sistematizar princípios sobre as relações humanas em sociedade, na tentativa de explicá-las cientificamente. August Comte e Saint Simon caracterizaram o objeto, os métodos e os problemas fundamentais das ciências sociais, e por meio do Positivismo nasce a Sociologia, cujo objeto é a humanidade, estabelecendo a ordem, o consenso, a autoridade, a família e a hierarquia social, como instituições importantes para a integração e a coesão da vida social. De acordo com Martinelli (2000), esses pensadores defendiam a tese de que as ciências sociais, para serem consideradas como ciência, deveriam utilizar os mesmos métodos das ciências naturais, tais como: a observação, a comparação e a experimentação, identificando suas leis para promover o progresso e o desenvolvimento social. A maioria das ideias desenvolvidas por August Comte tem se disseminado Positivismo na Profissão III Conforme a análise das formas de ação social de Max Weber (18641920), a divisão entre meios racionais e fins irracionais é de grande relevância para o Serviço Social. O Serviço Social surgiu influenciado pelo pensamento da Igreja Católica, tendo um posicionamento humanista e conservador. A partir de 1945, o Serviço Social adota o modelo funcional estabelecido pelos Estados Unidos, afastando-se do doutrinarismo da Igreja Católica, introduzindo uma visão científica, a ©shutterstock noção de dignidade da pessoa humana; sua perfeição, sua capacidade de desenvolver potencialidades; a sociabilidade natural do homem, como um ser social e político; a compreensão da sociedade como união dos homens para realizar o bem e a necessidade da autoridade para cuidar da justiça geral. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. até a atualidade. Seu pensamento é influenciado pelas ideias progressistas e revolucionarias dos iluministas e, por outro lado, pelas ideias dos conservadores. Comte acreditava que, no futuro, as sociedades seriam “orgânicas”, com suas partes perfeitamente integradas e sem conflitos, comandadas por uma elite técnico-científica. Para o cientista, com a nova sociedade moderna e industrial, poderia surgir a possibilidade de aumentar a produção de mercadorias e de satisfazer às necessidades humanas, o que levaria à diminuição dos conflitos sociais. Nesse contexto, dava-se a entender que cabia à ciência a missão de ajudar a manter coesa a sociedade, substituindo o papel que a religião e os cientistas desempenhariam. A função que o clero exercia anteriormente, ao defender verdades aceitas por todos, foi aceita como as primeiras orientações que conduziram o serviço social para sua elaboração de uma visão de mundo. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 71 Nesta égide, Quiroga (1991, p. 48-49) afirma que “o entendimento da sociedade regida por leis naturais, imutáveis, que necessitam ser descobertas através de observações e contemplações positivas”. Portanto, as ciências sociais e a sociologia buscam explicar os fatos passíveis de serem observados à nossa volta e seguem os mesmos objetivos das ciências naturais. Esses objetivos não são apenas tipos de conhecimentos transformáveis em técnicas que possibilitam alguns tipos de transformação e controle da sociedade, mas são também um meio de possível aperfeiçoamento com o espírito. Na medida em que as ciências sociais podem auxiliar as pessoas de algum modo, compreenderem mais claramente o comportamento dos outros, nos grupos aos quais pertencem e na sociedade como um todo. Para Quiroga (2000, p. 49), “o positivismo é, sucintamente, a observação daquilo que é concreto, correspondente à realidade externa, explicitando as relações entre esses fenômenos”. O Serviço Social, na sua prática, deve estudar, compreender e observar, com bases teóricas, a vida humana: a família, as relações de poder, a religião, a cultura, a saúde e outras esferas diferentes da realidade social. Neste sentido, o positivismo, sem dúvida, representa, especialmente por meio de suas formas neopositivistas, como o positivismo lógico e a denominada filosofia analítica, uma corrente do pensamento que alcançou, de maneira singular na lógica formal e na metodologia da ciência, avanços muito meritórios para o desenvolvimento do conhecimento (TRIVIÑOS, 1987, p. 41). Positivismo na Profissão III Introdução do Funcionalismo no Serviço Social A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O funcionalismo surgiu na metade da década de 1850, por meio do positivismo de Comte, e como indica o próprio nome, é uma tendência investigativa, metodológica e teórica que, distinguindo entre causas, funções e estruturas, Durkheim enriquece o pensamento de seus antecessores e forneceu uma sólida base para o desenvolvimento deste paradigma funcionalista. Partindo das ideias acerca da sociedade, o funcionalismo coloca em evidência os sistemas, cuja existência e operação no Serviço Social são mais bem compreendidas se observadas as partes que os compõem e a função que cada parte cumpre na realização do todo. De acordo com Yasbeck (1984, p. 71), essa orientação funcionalista foi absorvida pelo Serviço Social, configurando para a profissão uma proposta de trabalho ajustadora e um perfil manipulatório, voltado para o aperfeiçoamento dos instrumentos e técnicas para a intervenção, com a busca de padrões de eficiência, sofisticação de modelos de análise, diagnóstico e planejamento. Enfim, uma tecnificação da ação profissional acompanhada de uma crescente burocratização das atividades institucionais. Talcott Parson, de 1949 a 1960, estrutura teoricamente o funcionalismo como um modelo que explicasse o funcionamento da sociedade. Nessa vertente, a analogia do funcionalismo visava os estudos da Física e da Química, abordando o macro e o microssocial, como níveis de intervenção do Serviço Social. No nível macrossocial, o aspecto profissional do assistente social volta-se para a formulação de políticas sociais atrelada ao contexto histórico do moderno. Já no nível microssocial, a atuação do profissional é exclusivamente pautada na execução terminal das políticas, mantendo uma relação direta com os usuários dos serviços, segundo Hamilton (1958, p. 38), “[...] esse controle social exercido pressupunha a integração do indivíduo ao bom funcionamento de uma sociedade proposta pela classe dominante.” Era enfatizado o trabalho com grupos, quer para interação, quer para fins terapêuticos, de forma a conseguir a melhor adaptação do indivíduo ao seu meio. O modo funcionalista de pensar, investigar Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 73 e intervir na realidade social ganhou força porque, culturalmente, correspondia aos interesses da ordem e da lógica burguesas instauradas na sociedade civil e no Estado brasileiro. E, ainda, segundo o autor, com a exceção do Serviço Social “de Caso”, as demais práticas do Serviço Social, que explicam a realidade social, são fundamentadas na teoria social funcionalista. Portanto, o Serviço Social de Grupo ajudava os indivíduos a se autodesenvolverem e a se ajustarem aos valores e normas vigentes no contexto social em que estavam inseridos. Nessa perspectiva, Falcão (1978, p. 26) explica que: O profissional de Serviço Social deve impulsionar e capacitar pessoas ou grupos, a se relacionarem estreitamente com o meio em que se inserem, buscando através destas relações encontrar satisfações e necessidades pessoais e coletivas. Tal afirmação evidencia a prática do Serviço Social com a teoria funcionalista e, como consequência, olha com atenção o indivíduo a partir do meio em que vive e sua relação específica na sociedade, e no caso de uma desordem da própria sociedade, o Serviço Social intervém, reintegrando esse indivíduo novamente à sociedade. Considerações Finais Podemos concluir que as duas teorias metodológicas aqui estudadas contribuíram e contribuem de alguma forma para amadurecimento do Serviço Social enquanto profissão. Já que cada uma foi utilizada de acordo com as exigências e as concepções de sua época, onde essas contribuições se fazem presentes atualmente no exercício profissional. O Funcionalismo, para o Serviço Social, é uma espécie de proteção do Estado que se confirma no Positivismo. O Positivismo de Comte traduz a leitura da relação entre os indivíduos, a sociedade e o Estado, ou seja, a compreensão da teia da dinâmica na realidade social, prevista pelo próprio sistema por se tratar de uma questão estrutural de um Estado dominante. Considerações Finais III A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O Positivismo, corrente de pensamento, assim é chamado porque a concepção empregada é a de que a realidade deve ser vista simplesmente tal qual se apresenta a todos os indivíduos, não considera que há outra proposta além da que já existe. Sendo assim, não se admitem outras possiblidades ou projetos alternativos; tendo em vista a própria natureza do positivismo, se pressupõe dizer que tudo o que se apresenta contrário ao que já está posto à realidade, deve ser deixado de lado, pois representa uma anomalia social, ou uma utopia. Então, o ideal é que tudo deve permanecer assim como está. Ao espírito positivista acrescenta-se a noção funcionalista, o que significa dizer que, além de tudo, permanecer como está, é necessário que esteja em pleno funcionando. Esse Estado, que atende aos interesses da classe dominante, cria mecanismos controladores pelos quais se faz uma justaposição dos indivíduos à sociedade como meio de conter a insatisfação da classe trabalhadora. São estratégias criadas como uma forma cruel de mascarar os problemas sociais causadores da pobreza e da vida miserável em que a classe proletária vivia, sob o domínio da classe dominante, detentora dos meios de produção. No plano teórico, a fundamentação funcionalista e a positivista, vistas em Comte e em Durkheim, servem de fonte para referenciar a metodologia empregada na ação investigativa do Serviço Social, que justificava o contexto sócio-histórico da profissão na qual foi inserida, na divisão sócio-técnia que tinha como empregador o Estado. A análise crítica a esse modelo recai sobre a metodologia que era empregada sob o ponto de vista político que vende a história como uma realidade dialética, e a partir dessa perspectiva, o estruturalismo parece útil ao estudo da realidade histórica e humana. 75 1. Quais os principais aspectos do positivismo? 2. Explique sobre o funcionalismo. 3. Relate de que maneira as duas correntes, funcionalista e positivista, influenciaram o Serviço Social. Material Complementar O que é Positivismo? João Ribeiro Jr. Editora: Brasiliense Sinopse: O século 19 e a França são os dois marcos do positivismo, nome com que foi batizado o pensamento filosófico de Augusto Comte, e que pregava a implantação de um Estado autoritário como a única via para o desenvolvimento da sociedade e para a construção de uma ordem social harmônica. Esse pensamento polêmico difundiu-se rapidamente na Europa e logo alcançou o Brasil, onde influenciou decisivamente os pensadores republicanos. O Positivismo de Comte e Durkheim <http://www.airtonjo.com/socio_antropologico03.htm>. A CATEGORIA PROFISSIONAL UNIDADE Professora Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti Professora Me. Maria Cristina Araujo de Brito Cunha IV Objetivos de Aprendizagem ■■ Apresentar a defesa da qualificação profissional. ■■ Entender a mobilização da categoria. ■■ Analisar como essas mobilizações influenciaram a profissão. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■■ A defesa da qualificação profissional ■■ A mobilização da categoria 79 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Introdução Caro(a) aluno(a), vimos, até este ponto, que o Serviço Social é uma profissão especializada, atuante no enfrentamento das expressões da questão social, advinda da relação conflituosa entre o capital e o trabalho, trazendo como resultado o conjunto das desigualdades geradas pelos processos de produção e exploração do capitalismo. Nesta Unidade de estudo, você vai compreender o que significou para o Serviço Social o período de renovação e o quanto a categoria profissional precisou se mobilizar para refletir e rever sua base teórica e metodológica. É um momento histórico de uma jornada intensa de trabalho que agregou um número expressivo de profissionais, estudantes e professores, que demandou muitas reuniões com desdobramento em outros eventos do Serviço Social. Veremos nesta Unidade, como se deu a defesa da qualificação profissional e o processo de mobilização da categoria. DEFESA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL Nas palavras de Netto (2007, p. 69-70): [...] a profissionalização do Serviço Social não se relaciona decisivamente à “evolução da ajuda”, à “racionalização da filantropia”, nem à “organização da caridade”; vincula-se à dinâmica da ordem monopólica [...]. Na emergência profissional do Serviço Social, não é este que se constitui para criar um dado espaço na rede sócio-ocupacional, mas é a existência deste espaço que leva à constituição profissional. [...] não é a continuidade evolutiva das protoformas ao Serviço Social que esclarece a sua profissionalização, e sim a ruptura com elas. É no cerne da prestação desses serviços sociais que o Serviço Social tem seu surgimento, tendo, desde o período ditatorial, o Estado como o seu principal empregador. A profissão teve sua primeira regulamentação por meio da Lei n. 3.252, em 27 de agosto de 1957, sendo juridicamente caracterizada como uma profissão liberal. Introdução IV Esse processo de regulamentação conduziu-se à criação dos conselhos regionais e Federal profissionais, tornando-os representantes legais e legítimos perante o Estado, normatizando e fiscalizando o exercício profissional. Netto (2007) diz que, no período da década de 1960, o mercado se amplia e consolida-se para o profissional assistente social em virtude das novas apresentações da questão social no governo de JK e na ditadura militar (veremos isso em nossa próxima Unidade). Na ditadura militar, ocorre o processo de renovação da profissão no Brasil. Netto (2007, p. 115) corrobora dizendo: no âmbito das suas natureza e funcionalidade constitutivas, alteram-se muitas demandas práticas a ele colocadas e a sua inserção nas estruturas organizacional-institucionais (donde, pois, a alteração das condições do seu exercício profissional); a reprodução da categoria profissional - a formação dos seus quadros técnicos - viu-se profundamente redimensionada (bem como os padrões da sua organização como categoria); e seus referenciais teórico-culturais e ideológicos sofreram giros sensíveis (assim como as suas autorrepresentações). No fim da década de 1960, até o início da década de 1970, a prática profissional mantem-se vinculada ao Serviço Social tradicional, guiado pelo empirismo e pela burocratização e inspirado pelo positivismo e funcionalismo. A industrialização durante o regime militar intensificou o processo de produção e reprodução da “questão social”, alterando suas formas de manifestação na sociedade. O Estado brasileiro, centralizando cada vez mais sua intervenção, intensificou as formas de enfrentamento às novas expressões da “questão social” por meio de investimentos em políticas sociais. A CATEGORIA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ©shutterstock Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 81 A reforma do Estado no final da década de 1960, movimentou mais o sentido das políticas setoriais em favor capitalismo. O Estado brasileiro alterava a sua estrutura e funcionamento organizacional, e a relação dos assistentes sociais com seus empregadores, com os recursos disponibilizados para execução das políticas sociais, bem como sua relação com outros profissionais no ©shutterstock espaço de trabalho e com os próprios usuários dos serviços. Essas novas demandas profissionais passaram a exigir do assistente social novas competências e capacitações, tanto no exercício quanto na sua formação profissional. Conforme afirma Netto (2007, p. 123): A racionalidade burocrático-administrativa com que a “modernização conservadora” rebateu nos espaços institucionais do exercício profissional passou a requisitar do assistente social uma postura “moderna”, no sentido da compatibilização no seu desempenho com as normas, fluxos, rotinas e finalidades dimanantes daquela racionalidade. Desta forma, caro(a) aluno(a), houve uma grande mudança no campo do trabalho, formado até então por uma base humanista do Serviço Social tradicional, provocando uma mudança em seu perfil, passando a ser necessária uma nova atuação pelos profissionais nos procedimentos utilizados. ©shutterstock DEFESA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL IV - A instauração do pluralismo teórico, ideológico e político no marco profissional; - A crescente diferenciação das concepções profissionais (natureza, funções, objeto, objetivos e práticas do Serviço Social), derivada do recurso diversificado a matrizes teórico-metodológicas alternativas; - A sintonia da polêmica teórico-metodológica profissional com as discussões em curso no conjunto das ciências sociais, inserindo o Serviço Social [...] como protagonista que tenta cortar com a subalternidade (intelectual); - A constituição de segmentos de vanguarda [...] voltada para investigação e a pesquisa (NETTO, 2007, p. 135-136). Na história do Serviço Social tradicional, os conselhos Federal e regionais de Serviço Social, baseados no conservadorismo, apenas exerciam o seu papel de controle, em nome do Estado, sobre os profissionais. Eram conselhos corporativistas, com função meramente burocrática e disciplinadora do exercício profissional (CFESS, 1996). Até então, a legislação profissional era resguardada por princípios neotomistas e positivistas, haja vista os Códigos de Ética de 1947, 1965 e de 1975 (BARROCO, 2001). A partir da inserção do Serviço Social no contexto universitário e do avanço nos debates promovidos pelas entidades da categoria, em meio às lutas pelas liberdades civis e políticas, favorecidas pela crise do “milagre econômico” - reflexo da crise mundial capitalista iniciada nos anos 1970 - emergiu, no seio profissional, a direção de “intenção de ruptura” com o tradicionalismo. Sob a égide de um novo embasamento teórico-metodológico, de inspiração A CATEGORIA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. É nesse contexto geral de “renovação” (NETTO, 2007) que o Serviço Social se insere nas instituições de ensino superior, pois até então a formação dos assistentes sociais se dava em escolas confessionais ou agências de formação específica. Em 1976, o curso de Serviço Social já era ofertado em todo país, entre universidades ou faculdades, públicas e privadas. A inserção do Serviço Social nas universidades foi decisiva para consolidar o seu processo de renovação. A relação direta com o centro da produção do conhecimento, incluindo a abertura dos programas de pós-graduação na área, impactou a formação do assistente social com: Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 83 marxista, do estímulo à pesquisa científica - incluindo projetos de extensão e estágio supervisionado orientados pelos novos referenciais - é que se torna possível vislumbrar o redimensionamento do significado social da profissão e a construção de um novo projeto profissional em oposição ao que estava posto. Esse processo, de renovação e de ruptura com o conservadorismo, provocou um redirecionamento também das entidades representativas da categoria. Em 1979, o Serviço Social, já sob influência desse processo, vivencia um marco histórico para a profissão, o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), mais conhecido como o “Congresso da Virada”. O evento ficou assim conhecido “pelo seu caráter contestador e de expressão do desejo de transformação da práxis político-profissional do Serviço Social na sociedade brasileira” (CFESS, 1996, p. 175). Nesse momento, as forças políticas progressistas do país, entre elas movimentos sociais e sindicais, partidos políticos, clamavam pela redemocratização. É nesse contexto político que se situa o Serviço Social brasileiro, no direcionamento da construção do projeto ético-político, e é qualificado, na visão de Netto (1999, p.95), como um conjunto de valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas de sua relação com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais. DEFESA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL Para ilustrar a importância do III CBAS, trouxemos mais informações sobre o memorável evento que ficou conhecido como o Congresso da Virada. Evento este que se tornou histórico porque registra os tempos de mudança para o Serviço Social Brasileiro. Em 1979, aconteceu o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) na cidade de São Paulo; um evento que se tornou um marco referencial para um conjunto de mudanças no Serviço Social brasileiro. Os segmentos mais dinâmicos do corpo profissional vincularam-se ao movimento dos trabalhadores, e, rompendo com a dominância do conservadorismo, conseguiram instaurar na profissão o pluralismo político, que acabou por redimensionar amplamente não só a organização profissional, mas fundar entidades como a Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS) – depois renomeada Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) – e, posteriormente, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). A luta contra a ditadura militar e a conquista por democracia política demarcaram este período de transição do corpo profissional, em um período histórico de disputa entre projetos societários distintos. Este avanço democrático, incorporado pela categoria profissional, representou um movimento de vanguarda, ao mesmo tempo em que gerou fortes polêmicas com implicações em uma ampla revisão da dimensão teórico-prática para esta profissão. Por isso, o evento de 1979 foi marcado como um momento da “virada”, pois os assistentes sociais se organizavam por um Estado democrático. Assim, sintonizados com as lutas pela democratização da sociedade, parcela da categoria profissional, e vinculados ao movimento sindical e às forças mais progressistas, os assistentes sociais se organizam e disputam as direções dos Conselhos Federal e Regionais, com a perspectiva de adensar e fortalecer esse novo projeto profissional. Fonte: CFESS (2008, p. 163) Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 85 Os profissionais comprometidos com as lutas democráticas do conjunto da classe trabalhadora passam a disputar o espaço dos conselhos profissionais de Serviço Social, imprimindo-lhes uma nova direção política, articulada com os movimentos sociais e de outras categorias. A partir de 1983, o CFAS impulsiona amplos debates no interior da categoria, vislumbrando a reformulação do Código de Ética vigente, datado de 1975. Esse processo vai corroborar a negação do princípio da neutralidade e combinar a elaboração do Código de Ética do Assistente Social de 1986, superando a perspectiva a-histórica e acrítica do Serviço Social e admitindo um profissional com competência teórica, técnica e política. A década de 1990, marcada no Brasil pelo processo de reestruturação produtiva do capital, instaura o neoliberalismo como orientação da regulação estatal. Em decorrência disso, inicia-se a “reforma” do Estado, exata e contraditoriamente, no marco da redemocratização e das conquistas sociais asseguradas na Constituição brasileira de 1988. Diante das mudanças ocorridas no mundo do trabalho e no campo dos direitos sociais, o conjunto CFESS/Cress desencadeia debates para impulsionar a reformulação da legislação profissional, como forma de garantir o comprometimento de uma profissão voltada para os princípios da equidade social e da defesa intransigente dos direitos. Desta maneira, é a partir da década de 1990 que o projeto ético-político do Serviço Social começa a tomar forma, tendo como marco o novo Código de Ética Profissional (1993) e a nova Lei de Regulamentação da profissão (1993), mas sem esquecer que possui suas bases ineliminavelmente ligadas à “intenção de ruptura”, anteriormente mencionada, sendo, em relação a ela, uma espécie de “desenvolvimento”. O Código de Ética do assistente social de 1993 representa um grande avanço em relação aos códigos anteriores, visto que rompe com a base filosófica tradicional e define a liberdade, a justiça social e a democracia como valores fundamentais na luta por um novo projeto societário. O atual Código de Ética (1993) foi o resultado de muitos encontros e debates dos profissionais. Portanto, foi o quinto elaborado pela categoria, em resposta a uma necessidade da categoria a fim de garantir um estatuto ético para a profissão. Os Códigos anteriores datam dos anos de 1947, 1965, 1975 e 1986, sendo que os três primeiros tinham visões conservadoras, fundamentadas no neotomismo. Já o Código de 1986 foi uma expressão de conquistas e ganhos, mediante DEFESA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL IV dois procedimentos: negação da base filosófica tradicional e conservadora dos Códigos anteriores e afirmação de um novo perfil, não mais um técnico agente subalterno e apenas executivo, mas um profissional competente teórico, técnico e politicamente que se compromete com a classe trabalhadora. A democracia é assumida como valor ético central na medida em que constitui o único padrão de organização político-social capaz de assegurar a explicitação daqueles valores. A democracia é concebida aqui como socialização da política, mas também da riqueza socialmente produzida (CFESS, 1996, p. 174). A CATEGORIA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A lei de regulamentação da profissão (Lei n. 8.662/93) também é considerada um grande avanço para o Serviço Social. Ela regulamenta o exercício profissional do assistente social e estabelece as competências e as atribuições privativas do mesmo, previstas, respectivamente, nos seus artigos 4º e 5º. De acordo com Terra (2007), as competências dizem respeito às atividades que podem ser exercidas tanto pelo assistente social, quanto por outros profissionais; já as atribuições privativas são as atividades profissionais exclusivas dos assistentes sociais. O processo de afirmação dessa profissão com uma formação crítica e comprometida com os valores democráticos e universais de justiça e equidade social foi potencializado pela criação e aprovação das Diretrizes Curriculares para o curso de Serviço Social em 1996. As diretrizes e os pressupostos norteadores da concepção de formação profissional, que formam a estrutura curricular do Curso, foram estabelecidos a partir de duas dimensões básicas – a da ação interventiva da profissão, nas suas inter -relações e suas interfaces com os processos de exclusão cultural, social, política e econômica, e o papel profissional do assistente social diante das novas manifestações da “questão social” que agudizam a realidade de precariedade de diversos segmentos sociais no mundo e no Brasil; e em particular, na medida em que a remodelação da dinâmica social, por conta do reordenamento do capital e do mundo do trabalho, coloca a assistência cada vez mais como uma proposta ilusória de tempos passados no âmbito da questão social, remodelada pela dinâmica da sociedade a partir do reordenamento do capital e do trabalho, consequência do processo de reestruturação produtiva no país. Vale ressaltar que no caso desta última, o processo foi impulsionado pela Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 87 Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss), em articulação com as instituições de ensino, o conjunto CFESS/Cress e a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (Enesso). Os documentos produzidos pela ABEPSS norteiam a proposta de formação profissional sobre a necessidade de uma incorporação cada vez maior das dimensões investigativa e interventiva, como princípios formativos e condição central da formação profissional. Recomendam também um “rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e do Serviço Social que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com os quais se defronta no universo da produção e reprodução da vida social” (ABESS/CEDEPSS,1996, p. 4). A preocupação com a adoção de uma teoria social crítica, que possibilite a apreensão da totalidade social, inserida em um contexto pluralista inerente à natureza do debate acadêmico e profissional, continua presente na concepção de ensino, pesquisa e extensão. A proposta aponta, ainda, para a necessidade de se flexibilizar a organização dos currículos plenos, a superação de conteúdos fragmentados na organização curricular, o caráter interdisciplinar nas diferentes dimensões do projeto de formação, a necessidade de garantia de “padrões de desempenho e qualidade idênticos para os cursos diurnos e noturnos”, garantindo, por fim, uma “indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e profissional” (ABESS/CEDEPSS, 1996, p. 5). Na nova lógica curricular, demarcou-se o tripé dos conhecimentos constituídos pelos núcleos de fundamentação da formação profissional e do próprio Serviço Social como totalidade, quais sejam: núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, núcleo de fundamentos da sociedade brasileira, núcleo de fundamentos do tratamento dos conteúdos das matérias com centralidade no Serviço Social como profissão na história, em uma perspectiva de totalidade. (...) os conteúdos perpassam os diferentes núcleos que estruturam as novas diretrizes curriculares e o eixo articulador é o processo histórico; a visão de fundamentos do Serviço Social ultrapassa a própria profissão e a particularidade do Serviço Social é ressaltada no movimento totalizante da sociedade (CARDOSO, 2007, p.41). Os núcleos de fundamentação da formação profissional estão assim constituídos, de acordo com o enquadramento às exigências da Comissão de Especialistas DEFESA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL IV A CATEGORIA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. de Ensino do Serviço Social criada pelo MEC: Núcleo de fundamentos teóricometodológicos da vida social, que compreende um conjunto de fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos para conhecer o ser social enquanto totalidade histórica, fornecendo os componentes fundamentais para a compreensão da sociedade burguesa, em seu movimento contraditório; Núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira, que remete à compreensão dessa sociedade, resguardando as características históricas particulares que presidem a sua formação e desenvolvimento urbano e rural, em suas diversidades regionais e locais. Compreende, ainda, a análise do significado do Serviço Social em seu caráter contraditório, no bojo das relações entre as classes e destas com o Estado, abrangendo as dinâmicas institucionais nas esferas estatal e privada; Núcleo de fundamentos do trabalho profissional, que compreende todos os elementos constitutivos do Serviço Social como uma especialização do trabalho: sua trajetória histórica, teórica, metodológica e técnica, os componentes éticos que envolvem o exercício profissional, a pesquisa, o planejamento e a administração em Serviço Social e o estágio supervisionado. Tais elementos encontram-se articulados por meio da análise dos fundamentos do Serviço Social e dos processos de trabalho em que se insere, desdobrando-se em conteúdos necessários para capacitar os profissionais ao exercício de suas funções, resguardando as suas competências específicas normatizadas por lei. (BRASIL, 1999). No processo de construção do projeto ético-político do Serviço Social, ganham relevância as entidades representativas dos assistentes sociais, especialmente o conjunto CFESS/CRESS, o qual, em sintonia com o avanço teórico-político vivenciado pelo Serviço Social, também passou por um processo de renovação, por meio da superação de suas características iniciais pautadas no corporativismo e no burocratismo. Assim, houve uma ampliação das atribuições assumidas pelo conjunto CFESS/CRESS, pois a partir da fiscalização do exercício profissional, constituída como sua função precípua, passou a investir na qualificação teórico -política dos profissionais, na defesa das políticas públicas e na preocupação com a qualidade dos serviços prestados aos usuários. As propostas e ações das referidas entidades passaram a ser pautadas pelo aprimoramento dos instrumentos normativos necessários à regulamentação e à fiscalização do exercício profissional; pelo investimento na participação nos fóruns de discussão, formulação 89 e controle social das políticas públicas, além da articulação com os movimentos sociais que lutam pela superação das desigualdades sociais e a efetivação de direitos. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A Mobilização Da Categoria Conforme Abreu (2002), nos anos 1980, partindo da análise de emancipação da classe trabalhadora, os processos de mobilização e a educação formaram os eixos norteadores das propostas pedagógicas direcionadas ao assistente social neste sentido, dando apoio aos avanços e fortalecendo o projeto ético-político da profissão. Nessa perspectiva, para organização da cultura, foi adotada uma função pedagógica que, segundo Abreu (2002, p.17), seria “por meio dos efeitos da ação profissional na maneira de pensar e agir dos sujeitos envolvidos nos processos da prática”. Dentre as várias pedagogias existentes na profissão de assistente social, Abreu (2002) destaca a pedagogia emancipatória, que se distingue pelo laço à representação histórica das classes populares, bem como sua luta em busca de uma sociedade alternativa ao capitalismo. Essa pedagogia veio das experiências das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) arraigadas nas práticas cotidianas das classes sociais menos favorecidas, e inculcava a essas classes a consciência dos deveres e direitos políticos atribuídos aos cidadãos, dessa forma, estimulando a auto-organização, realizada por meio de uma formação política, debatendo criticamente as incoerências sociais, bem como propondo a luta por melhorias de condições de vida e objeções às regras estabelecidas. Na visão de Abreu (2002, p. 133), “[...] as experiências das CEBs revelam-se espaços importantes de politização das relações sociais e de intervenção dessas classes no movimento histórico na perspectiva de sua emancipação”. Esses processos são vistos como principais orientadores na organização da pedagogia emancipatória. A Mobilização Da Categoria IV A CATEGORIA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Segundo a autora, os elementos bases da pedagogia emancipatória estão calcados na solidariedade e na colaboração entre as classes sociais secundárias, capacitando-as a responder aos desafios postos pelas condições históricas, como também propondo a mobilização, a capacitação e a sua organização, a fim de inverter a ordem intelectual e moral do capital, visando à formação de uma nova cultura (ABREU, 2002). Atualmente, a pedagogia emancipatória dos assistentes sociais comprometidos com as classes subalternas pode enveredar-se por duas tendências: uma restrita ao compromisso com as lutas das classes subalternas pela defesa dos direitos, no horizonte do Estado de bem-estar, e outra comprometida com essas lutas no sentido da superação da ordem burguesa e construção do socialismo. O horizonte encerrado nos direitos é atualmente predominante entre as próprias organizações das classes subalternas, que perderam o caráter revolucionário (ABREU, 2002, p. 206). Nesse sentido, os assistentes sociais possuem o desafio de identificar as possibilidades de progressão emancipatória, na construção de uma nova sociabilidade, uma vez que são sujeitos e alvos das tendências aceitas por essas classes subalternas. De acordo com Abreu (2002, p. 220), a pedagogia emancipatória se dá mediante experiências como: ouvidoria, orçamento participativo, renda mínima articulada à educação, balanços sociais, programas de qualidade de vida e de trabalho, fortalecimentos dos grupos subalternos direcionados à ampliação de direitos, denúncias da precariedade das condições de vida, e formas alternativas de produção e gestão das relações sociais. No interior do Movimento dos Sem-Terra (MST) existem espaços em abundância, e podem ser usados pelos assistentes sociais inseridos neste movimento social como um espaço reprodutivo da pedagogia emancipatória na prática profissional. Assim, o assistente social, em sua prática, pode promover mecanismos de ação que levam à educação social dos grupos atendidos, pois de acordo com contribuições de Abreu e Cardoso (2009, p. 594-595), as práticas de mobilização social e de organização são expressões das práticas educativas desenvolvidas pelas classes sociais na busca da ampliação de consensos em torno de seus projetos societários, na disputa pela hegemonia. 91 Foram as lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública, exigindo a interferência do Estado para o reconhecimento e a Legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. (IAMAMOTO, 2003, p.66). Essas práticas servem como bases da profissão, mas não são exclusivamente do assistente social. Nesse sentido, os conceitos dessas práticas sofrem tensões pelos diferentes projetos das classes e, segundo Abreu e Cardoso (2009, p. 594), visam “desenvolver uma reflexão sobre os fundamentos das práticas educativas, particularizando as dimensões técnico-operativas e ético-políticas da mobilização social”. Nesse contexto, como estratégia pedagógica, o assistente social deve desenvolver atividades educativas que formam a cultura, englobando tudo aquilo que é relativo ao homem, sejam as coisas e/ou os acontecimentos que envolvam o pensamento, ações e sentimento, em busca da sociabilidade embasada em conteúdos gramscianos em relação de hegemonia. Conforme Antonio Gramsci (1954 apud ABREU; CARDOSO, 2009, p. 594), “toda relação de hegemonia é eminentemente pedagógica”. Nessa perspectiva, o assistente social deve transcender a mera prática da pregação revolucionária, esclarecendo que a organização popular e também a consciência de classe são condições obrigatórias para a conquista política das classes menos favorecidas. Nesse processo, o assistente social poderá atuar junto às organizações da classe trabalhadora participando no: 1 - desenvolvimento de propostas de formação político-organizativa, que possibilite a essas classes a apreensão crítica das contradições econômicas e político-ideológicas inerentes às sociedades capitalistas; a criação de formas próprias de reprodução e de resistência no enfrentamento cotidiano com os interesses das classes adversárias e a construção de formas de superação da opressão por essas classes; 2 - desenvolvimento de propostas eminentemente educativas de fortalecimento das organizações da classe trabalhadora e de processos de constituição ideológica das classes subalternas na luta pela construção de uma alternativa emancipatória da classe trabalhadora e de toda humanidade (CARDOSO; LOPES, 2009, p. 471). A Mobilização Da Categoria IV SERVIÇO SOCIAL, MOBILIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO POPULAR: UMA SISTEMATIZAÇÃO DO DEBATE CONTEMPORÂNEO Maria Lúcia DuriguettoI; Luiz Agostinho de Paula BaldiII RESUMO O presente artigo versa sobre a intervenção do Serviço Social nos processos de mobilização e organização popular e, particularmente, sobre o debate contemporâneo que vem sendo realizado sobre o tema. Este debate é apresentado nas elaborações acadêmicas de autoras que tratam especialmente das funções pedagógica e educativa do assistente social e de sua inserção nas organizações da classe trabalhadora. Nesta sistematização, priorizam-se as formulações que vêm adquirindo relevância no debate profissional e que tecem algumas considerações necessárias para a análise e as prospectivas da relação da profissão com os processos de mobilização e organização popular. Palavras-chave: Serviço Social. Debate profissional. Mobilização. Organização popular. Para ter acesso ao artigo na íntegra, acesse: < h t t p : / / w w w. s c i e l o. b r / s c i e l o. p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t te x t & p i d=S1414-49802012000200005>. A CATEGORIA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O assistente social inserido nas equipes multiprofissionais pode atuar e desenvolver um trabalho pedagógico que, nesse caso, venha contribuir para que os trabalhadores manifestem e coloquem em prática uma política que estimule e explore a influência social da mídia em torno da temática, construindo novas relações hegemônicas. Ressalta-se que o conceito da educação popular, mesmo estando presente na elaboração do Serviço Social, é necessário para que o assistente social busque desvendar sua complexidade, compreendendo a sua finalidade, para uma melhor intervenção profissional. 93 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Considerações Finais A proposta desta Unidade foi discorrer sobre o processo de formação institucional e organizativa profissional do Serviço Social, partindo de uma visão assistencialista para uma visão crítica da realidade. Podemos notar que ao perfazer uma contextualização a nível mundial e de Brasil, destacamos a emergência do serviço social que surgiu para amenizar as expressões da “questão social”, advindas das contradições e antagonismos do sistema capitalista. Todo esse processo visava ao amadurecimento do Serviço Social, onde este deixa de atuar de forma não sistemática, passando a operar com uma visão crítica das relações sociais. Assim, o Serviço Social passa a assumir características particulares, atuando frente aos problemas sociais com um papel ético-profissional em consonância ao seu projeto ético-político. Lembrando que é importante que a ênfase para a consolidação do projeto ético-político da profissão se deve ao processo formativo do Serviço Social, que antecede a prática profissional. Outro elemento importante sobre o qual refletimos nesta Unidade refere-se à análise do processo de qualificação profissional, que está diretamente relacionado com o grande desafio do Serviço Social, em fazer valer sua formação generalista de compreensão do homem em sociedade. E esse processo de amadurecimento ocorre à medida que os profissionais atingem a consciência do exercício crítico da profissão e ao firmar seu compromisso com a transformação da ordem societária vigente no sistema capitalista, que implica também dizer em instituir estratégias de ação pela luta e garantia dos direitos sociais e compromisso com a qualidade dos serviços prestados e com o fortalecimento dos usuários. Igualmente, sabemos também que esse é um desafio histórico marcado pela alienação social dada à relação da posição de subalternidade do Serviço Social que ainda aprisiona muitos profissionais. A contribuição do novo currículo do Serviço Social possibilita, por meio da formação acadêmica, um novo olhar para a profissão, é um despertar para a compreensão crítica e ampliada da realidade que, segundo Iamamoto (1998), ressalta que para garantir uma sintonia do Serviço Social com os tempos atuais, é Considerações Finais IV necessário romper com uma visão endógena, focalista, uma visão “de dentro” do Serviço Social, prisioneira em seus muros internos, alargar os horizontes, olhar para mais longe, para o movimento das classes sociais e do Estado em suas relações com a sociedade. É, portanto, inquestionável a importância do novo currículo para a revisão teórica do Serviço Social, para a ação profissional, e que está associada a esse processo a necessidade de aprimoramento profissional constante. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A CATEGORIA PROFISSIONAL 95 1. Explique como se deu o processo de defesa da qualificação profissional. 2. Explique de que maneira o assistente social atua junto às classes trabalhadoras. Exemplifique. 3. Disserte sobre a contribuição do novo currículo de Serviço Social para a formação profissional. Material Complementar Estado de sítio O corpo de Philip Michael Santore (Yves Montand), um colaborador dos regimes militares na América do Sul, é encontrado em um carro. Deste momento em diante o filme é narrado em flashback, mostrando os Tupamaros decididos a capturar Santore, que se dedicou a ensinar e difundir a tortura nos órgãos militares. Para saber mais sobre a Lei 3.352, acesse: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3252.htm>. O SERVIÇO SOCIAL E A PRÁTICA PROFISSIONAL UNIDADE Prof.ª Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti Prof.ª Me. Maria Cristina Araujo de Brito Cunha V Objetivos de Aprendizagem ■■ Relatar a influência do Serviço Social na Ditadura. ■■ Identificar a profissão na esfera da burocracia e tecnocracia. ■■ Entender o processo de questionamento da prática profissional. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■■ O Serviço Social e a Ditadura ■■ A incorporação da profissão na esfera da burocracia e tecnocracia ■■ O Serviço Social e o processo de questionamento da prática profissional 99 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Introdução Nesta unidade, caro(a) aluno(a), temos o objetivo de analisar alguns pontos das singularidades em relação ao processo de Ditadura militar no Brasil e sua importância para o Serviço Social. Apresentaremos como ocorreu esse processo, a fim de elucidar a ruptura que tal período ocasionou naquilo que os autores chamam de Serviço Social Tradicional. Tal ruptura somente foi possível graças ao processo de discussões ocorridas nos Congressos e Seminários profissionais, como os de Teresópolis e Araxá, resultando no Movimento de Reconceituação e no rompimento com o método tradicional e a adesão a uma postura crítica social do fazer profissional. O Movimento de Reconceituação é um marco histórico para o Serviço Social, visto que representa a ruptura com o conservadorismo, para avançar na perspectiva teórica e metodológica da profissão. Os assistentes sociais juntam-se aos movimentos sociais em defesa dos direitos da classe trabalhadora. É importante esclarecer que neste estudo a análise desse momento de transição do Serviço Social Tradicional ou Conservador para a sua Renovação, não é apenas temporal, vai muito além da representação cronológica. Caro(a) aluno(a), pensamos o quanto é valioso para o seu aprendizado o conhecimento dos documentos acima citados e de todo acervo teórico que compõe a história da formação profissional, de luta e sonhos, pois revelam os anseios, as expectativas dos profissionais para a mudança do pensamento crítico que está em busca de um projeto profissional em defesa de uma sociedade mais justa e humana. Bons Estudos! Introdução V ©shutterstock O Serviço Social e a Ditadura Militar O SERVIÇO SOCIAL E A PRÁTICA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Antes de falar da prática profissional do Serviço Social no período do Regime Militar, devemos recordar esse momento histórico. Podemos definir a Ditadura Militar como sendo o período da política brasileira em que os militares governaram o Brasil. Essa época vai de 1964 a 1985. Caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o regime militar. Abaixo, veremos quais foram os principais acontecimentos desse importante período histórico para o Brasil e para a profissão. Tudo começou com o golpe militar de 1964. A crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice de Jânio era João Goulart, que assumiu a presidência em um clima político adverso. O governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações sociais. Estudantes, organizações populares e trabalhadores ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras, como os empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média. Todos temiam uma guinada do Brasil para o lado socialista. Vale lembrar que neste período o mundo vivia o auge da Guerra. Esse estilo populista e de esquerda chegou a gerar até mesmo preocupação nos EUA, que junto com as classes conservadoras brasileiras temiam um golpe comunista. Os partidos de oposição, como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD), acusavam Jango de estar planejando um golpe de esquerda e de ser o responsável pela carestia e pelo desabastecimento que o Brasil enfrentava. No dia 13 de março de 1964, João Goulart realiza um grande comício na Central do Brasil (Rio de Janeiro), onde defende as Reformas de Base. Nesse plano, Jango prometia mudanças radicais na estrutura agrária, econômica e educacional do país. Seis dias depois, em 19 de março, os conservadores organizam uma manifestação contra as intenções de João Goulart. Foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo. O clima 101 de crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Paulo saem às ruas. Para evitar uma guerra civil, Jango deixa o país refugiando-se no Uruguai. Os militares tomam o poder. Em 9 de abril, é decretado o Ato Institucional Número 1 (AI-1). Este cassa mandatos políticos de opositores ao regime militar e tira a estabilidade de funcionários públicos. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Governo Castello Branco (1964-1967) Castello Branco, general militar, foi eleito pelo Congresso Nacional presidente da República em 15 de abril de 1964. Em seu pronunciamento, declarou defender a democracia, porém, ao começar seu governo, assumiu uma posição autoritária. Estabeleceu eleições indiretas para presidente, além de dissolver os partidos políticos. Vários parlamentares federais e estaduais tiveram seus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus direitos políticos e constitucionais cancelados e os sindicatos receberam intervenção do governo militar. Em seu governo, foi instituído o bipartidarismo. Só estavam autorizados o funcionamento de dois partidos: Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Enquanto o primeiro era de oposição, de certa forma controlada, o segundo representava os militares. O governo militar impõe, em janeiro de 1967, uma nova Constituição para o país. Aprovada nesse mesmo ano, a Constituição de 1967 confirma e institucionaliza o regime militar e suas formas de atuação. Todos falam sobre a visão dos oprimidos culturalmente pela ditadura de 64, mas o site www.uol.com.br fez algo inusitado, entrevistou um militar e quis saber como foi a ditadura para ele. Para ler os “Pensamentos do Coronel”, acesse o link abaixo: <http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/03/26/seis-frases-revelam-a-visao-de-um-militar-que-viveu-o-golpe-de-1964.htm>. O Serviço Social e a Ditadura Militar V Governo Costa e Silva (1967-1969) Governo da Junta Militar (31/8/1969-30/10/1969) Doente, Costa e Silva foi substituído por uma junta militar formada pelos ministros Aurélio de Lira Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Sousa e Melo (Aeronáutica). Dois grupos de esquerda, o MR-8 e a ALN sequestraram o embaixador dos EUA, Charles Elbrick. Os guerrilheiros exigiram a libertação de 15 presos políticos, exigência conseguida com sucesso. Porém, em 18 de setembro, o governo decretou a Lei de Segurança Nacional. Essa lei decretava o exílio e a pena de morte em casos de guerra psicológica adversa, ou revolucionária, ou subversiva. No final de 1969, o líder da ALN, Carlos Mariguella, foi morto pelas forças de repressão em São Paulo. Governo Medici (1969-1974) Em 1969, a Junta Militar escolhe o novo presidente: o general Emílio Garrastazu O SERVIÇO SOCIAL E A PRÁTICA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Em 1967, assume a presidência o general Arthur da Costa e Silva, após ser eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Seu governo é marcado por protestos e manifestações sociais. A oposição ao regime militar cresce no país. A UNE (União Nacional dos Estudantes) organiza, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil. Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operários paralisam fábricas em protesto ao regime militar. A guerrilha urbana começa a se organizar. Essa guerrilha é formada por jovens idealistas de esquerda, que assaltam bancos e sequestram embaixadores para obter fundos para o movimento de oposição armada. No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decreta o Ato Institucional Número 5 (AI-5). Este foi o mais duro do governo militar, pois aposentou juízes, cassou mandatos, acabou com as garantias do habeas corpus e aumentou a repressão militar e policial. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 103 Medici. Seu governo é considerado o mais duro e repressivo do período, conhecido como “anos de chumbo”. A repressão à luta armada cresce e uma severa política de censura é colocada em execução. Jornais, revistas, livros, peças de teatro, filmes, músicas e outras formas de expressão artística são censuradas. Muitos professores, políticos, músicos, artistas e escritores são investigados, presos, torturados ou exilados do país. O DOI-Codi (Destacamento de Operações e Informações e ao Centro de Operações de Defesa Interna) atua como centro de investigação e repressão do governo militar, ganha força no campo a guerrilha rural, principalmente no Araguaia. A guerrilha do Araguaia é fortemente reprimida pelas forças militares. O Milagre Econômico Na área econômica, o país crescia rapidamente. Esse período, que vai de 1969 a 1973, ficou conhecido como a época do Milagre Econômico. O PIB brasileiro crescia a uma taxa de quase 12% ao ano, enquanto a inflação beirava os 18%. Com investimentos internos e empréstimos do exterior, o país avançou e estruturou uma base de infraestrutura. Todos esses investimentos geraram milhões de empregos pelo país. Algumas obras, consideradas faraônicas, foram executadas, como a Rodovia Transamazônica e a Ponte Rio-Niterói. Porém, todo esse crescimento teve um custo altíssimo e a conta deveria ser paga no futuro. Os empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os padrões econômicos do Brasil. Governo Geisel (1974-1979) Em 1974, assume a presidência o general Ernesto Geisel que começa um lento processo de transição rumo à democracia. Seu governo coincide com o fim do milagre econômico e com a insatisfação popular em altas taxas. A crise do petróleo e a recessão mundial interferem na economia brasileira, no momento em que os créditos e empréstimos internacionais diminuem. Geisel anuncia a abertura O Serviço Social e a Ditadura Militar V Governo Figueiredo (1979-1985) A vitória do MDB nas eleições em 1978 começa a acelerar o processo de redemocratização. O general João Baptista Figueiredo decreta a Lei da Anistia, concedendo o direito de retorno ao Brasil para os políticos, artistas e demais brasileiros exilados e condenados por crimes políticos. Os militares de linha dura continuam com a repressão clandestina. Cartas-bomba são colocadas em órgãos da imprensa e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). No dia 30 de Abril de 1981, uma bomba explode durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O atentado fora provavelmente promovido por militares de linha dura, embora até hoje nada tenha sido provado. Em 1979, o governo aprova lei que restabelece o pluripartidarismo no país. Os partidos voltam a funcionar dentro da normalidade. A ARENA muda o nome e passa a ser PDS, enquanto o MDB passa a ser PMDB. Outros partidos são criados, como: Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT). A Redemocratização e a Campanha pelas Diretas Já Nos últimos anos do governo militar, o Brasil apresenta vários problemas. A inflação é alta e a recessão também. Enquanto isso, a oposição ganha terreno com o surgimento de novos partidos e com o fortalecimento dos sindicatos. O SERVIÇO SOCIAL E A PRÁTICA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. política lenta, gradual e segura. A oposição política começa a ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o MDB conquista 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganha a prefeitura da maioria das grandes cidades. Os militares de linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel, começam a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog á assassinado nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. Em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filho aparece morto em situação semelhante. Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas corpus e abre caminho para a volta da democracia no Brasil. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 105 Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participam do movimento das Diretas Já. O movimento era favorável à aprovação da Emenda Dante de Oliveira, que garantiria eleições diretas para presidente naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi aprovada pela Câmara dos Deputados. No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheria o deputado Tancredo Neves, que concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Ele fazia parte da Aliança Democrática – o grupo de oposição formado pelo PMDB e pela Frente Liberal. Era o fim do regime militar, porém Tancredo Neves fica doente antes de assumir e acaba falecendo. Assume o vice-presidente José Sarney. Em 1988, é aprovada uma nova constituição para o Brasil. A Constituição de 1988 apagou os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no país. Mas para o Serviço Social, qual a importância desses acontecimentos? Como exposto acima, o regime militar brasileiro foi criado a partir de um golpe adotado pela direita nacional em contraposição aos ideais socialistas que assolavam o país e a America Latina naquele período. Dessa forma, o Estado deveria apresentar uma série de medidas para amenizar os conflitos relacionados à desigualdade, característica do regime capitalista. No interior dessas medidas, foi assimilada a ação profissional dos assistentes sociais, devido principalmente à sua base teórica fundamentada no positivismo. Pautados primeiramente em uma visão religiosa da ação profissional, a qual se tornou insuficiente para responder às necessidades qualitativas da profissão, os profissionais de Serviço Social passam a buscar no positivismo, especialmente na vertente funcionalista, um primeiro suporte teórico-metodológico necessário para a qualificação profissional. No entanto, essa via proporcionou a burocratização da ação profissional que, no período militar, devido seu caráter manipulatório, incorpora aos quadros profissionais do estado. Nas palavras de Yasbek (1984, p.71): É a perspectiva positivista que restringe a visão de teoria ao âmbito do verificável, da experimentação e da fragmentação. Não aponta para mudanças, senão dentro da ordem estabelecida, voltando-se antes para ajustes e conservação. Particularmente em sua orientação funcionalista, esta perspectiva é absorvida pelo Serviço Social, configurando para a profissão propostas de trabalho ajustadoras e um perfil manipulatório, voltado para o aperfeiçoamento dos instrumentos e técnicas para O Serviço Social e a Ditadura Militar V a intervenção, com as metodologias de ação, com a busca de padrões de eficiência, sofisticação de modelos de análise, diagnóstico e planejamento; enfim, uma tecnificação da ação profissional que é acompanhada de uma crescente burocratização das atividades institucionais. ©Shutterstock O SERVIÇO SOCIAL E A PRÁTICA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O ponto chave desse processo para a profissão está no fato de que embora o regime militar priorizasse a ação profissional do Serviço Social, ocorre nesse período uma desmobilização nos movimentos políticos que se fortaleceram no período populista, tais como o MEB (Movimento de Educação de Base), sindicalismo rural e movimentos de alguns segmentos da categoria dos assistentes sociais, o que limitou as ações profissionais do Serviço Social apenas na eliminação da resistência cultural que representasse obstáculos ao crescimento econômico e na integração aos programas de desenvolvimento do estado. Nesse contexto, a política social torna-se uma estratégia para minimizar as consequências do capitalismo monopolista marcado pela superexploração da força do trabalho e pela grande concentração de renda. Nesse sentido, no interior das práticas profissionais, surgem questionamentos em relação ao fazer profissional, na perpetuação do modelo excludente por meio de medidas paliativas de ação social, que acaba por exibir fundamentalmente a longa insatisfação dos profissionais que se conscientizavam de suas limitações teóricas, desencadeando um processo de ruptura com a visão política até então assumida pelo Serviço Social. Antes de entendermos como aconteceu esse processo de rompimento com aquilo que os autores chamam de Serviço Social Tradicional, devemos entender como ocorre esse processo de incorporação profissional na esfera burocrática e tecnicista. 107 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A Incorporação da Profissão na Esfera da Burocracia e Tecnocracia Como já visto, graças ao contexto histórico relacionado à questão social no final do século XIX, possibilitou-se à sociedade o reconhecimento da necessidade de profissionais que atuassem com as mazelas sociais. No contexto brasileiro, esse reconhecimento foi consagrado com a fundação das primeiras escolas de Serviço Social na década de 1930. Entretanto, embora os profissionais atuassem em várias instituições criadas para absorver a demanda de pessoas a serem assistidas nos mais diversos contextos sociais, ainda se verificava a concepção tradicional de ajuda, vinculada à ação social católica, e a necessidade, por parte dos profissionais, de regulamentação profissional ou distinção de técnicos de amadores. Paralelamente a esse contexto, ocorre a Segunda Guerra Mundial, despontando após seu término duas forças hegemônicas: capitalismo e socialismo. Com medo de que o socialismo pudesse se efetivar na América Latina, os EUA lançam o programa Pan-americano – ou pan-americanismo – com o slogan América para todos. O Brasil, a partir de então, passa a receber subsídios, os quais possibilitaram a criação do Programa de Desenvolvimentismo Nacional. Entre os programas financiados por esse processo, encontram-se CASO, GRUPO e COMUNIDADE, desenvolvidos pelos assistentes sociais. Dessa forma, têm-se de um lado os profissionais, que devido à formação acadêmica desejam a regulamentação profissional, e de outro, o estado, que por meio da contextualização histórica, necessita da atuação de profissionais que possam controlar o ordenamento social mediante a ameaça socialista. Mediante essa dicotomia de interesses, o estado brasileiro institucionaliza o Serviço Social, que passa a fazer parte de seus quadros profissionais. Nessa primeira etapa do Serviço Social, assim como de outras carreiras profissionais, que vai até os anos de 1960, ocorre a institucionalização e profissionalização das mesmas. Os profissionais associam-se ao Estado com vistas a alcançar posições que possibilitassem o reconhecimento e a regulamentação da profissão, definindo assim os critérios que pudessem controlar a entrada de novos agentes. Este período é importante para a definição de quem é ou não profissional, distanciando técnicos de amadores. Os diversos profissionais assumem uma ação, junto com o Estado, de ordenar a nação e ao mesmo tempo um papel político A Incorporação da Profissão na Esfera da Burocracia e Tecnocracia V de interventor no campo social. Tal relação torna-se assim, um capital importante para a ascensão da profissão e revela o caráter político dos agentes profissionais (MATOS, 2009, p.118). o serviço social e o processo de questionamento da prática profissional ©shutterstock Há, no período da ditadura militar, uma explícita fratura no conjunto da profissão. Apesar da importância pela manutenção dos espaços sócio-ocupacionais ser de interesse de todos, os caminhos percorridos para alcançar tais objetivos se diferenciaram, indicando disputas internas. No caso do Serviço Social, essas disputas ocorrem no campo da assistência, um grupo mais próximo aos órgãos públicos defendia uma ação competente, reforçando sua capacidade técnica caracterizada pelo Serviço O SERVIÇO SOCIAL E A PRÁTICA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O Estado se beneficia com os diversos ofícios, na medida em que se propõe a organizar um conjunto de profissões, para favorecer a sua formação mediante controle de “um conjunto de saberes especializados apresentados como fundamentais para traçar os caminhos da nação” (PETRARACA, 2007, p. 5). As diferentes categorias profissionais, como o Serviço Social, são instrumentos estratégicos nas mãos do Estado para solucionar os problemas do operariado brasileiro, para manter o ordenamento da sociedade e permanecer com o domínio do campo assistencial (MATOS, 2009, p.118-119). Dessa forma, com a institucionalização, a partir de 1960, o Serviço Social teve a possibilidade de se expandir, ainda que em um período adverso caracterizado pela ditadura militar, sendo aproveitado em uma perspectiva disciplinadora e organizadora da sociedade, posto que as características da política assistencial desenhassem um Serviço Social tecnicista, preocupado com métodos e intervenção. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 109 Social Tradicional, enquanto outra vertente de profissionais, vizinha aos movimentos sociais, defendia uma profissão crítica. Essa fratura desencadeou o Movimento de Reconceituação do Serviço Social e sua ruptura definitiva com os métodos tradicionais. Isso porque, a partir da década de 1970, surge um novo discurso dos assistentes sociais com o Estado, pautado na competência técnica e no manejo das problemáticas da sociedade. Os profissionais de Serviço Social, vinculados ao mundo acadêmico, especialmente aos cursos de Pós-graduação, apresentam suas posições na esfera política com o objetivo de romper definitivamente com a identidade profissional tradicional vinculada ao funcionalismo e sua apropriação por parte do Estado, estabelecendo um discurso crítico em relação à atuação dos órgãos governamentais e do empresariado brasileiro a favor das classes trabalhadoras. Nesse contexto, o Serviço Social passa a buscar sua emancipação perante o Estado lutando pelos interesses sociais, contrariando a ordem vigente e apresentando suas ideias de como a ação social deve ser articulada para a superação da desigualdade social, principalmente em relação às políticas sociais públicas. Essas ideias foram elaboradas graças às discussões ocorridas nos seminários de Araxá, Teresópolis, Sumaré, Alto da Boa Vista e Belo Horizonte. Por meio dessa ampla discussão, surgem três vertentes de pensamento profissional: ■■ A vertente modernizadora, caracterizada pela incorporação de abordagens funcionalistas, estruturais e, mais tarde, sistêmicas (matriz positivistas), voltadas a uma modernização conservadora e à melhoria do sistema pela mediação do desenvolvimento social e do enfrentamento da marginalidade e pobreza na perspectiva de integração da sociedade. Os recursos para alcançar esses objetivos são buscados na modernização tecnológica e em processos de relacionamentos interpessoais. Essas opções configuram um projeto renovador tecnocrático, fundado na busca à eficiência, que devem nortear a produção do conhecimento e a intervenção profissional; ■■ A vertente inspirada na fenomenologia, que emerge como metodologia do diálogo, apropriando-se também da visão de pessoa e comunidade de E. Mounier (1936), dirige-se ao vivido humano, aos sujeitos em o serviço social e o processo de questionamento da prática profissional V suas vivências, colocando para o Serviço Social a tarefa de “auxiliar na abertura desse sujeito existente, singular, em relação aos outros ao mundo de pessoas” (ALMEIDA, 1990, p. 114). Essa tendência, que no Serviço Social brasileiro vai priorizar as concepções de pessoa, diálogo e transformação social (dos sujeitos, não da sociedade), é analisada por Netto (1994, p. 201) como uma forma de reatualização do conservadorismo presente no pensamento inicial da profissão. Dessa forma, pode-se concluir que o período militar foi responsável pelo rompimento com do pensamento tradicional do Serviço Social, pautado na teoria positivista em sua vertente funcionalista e na formação do seu comprometimento ético-político com as minorias sociais. Seminário de Araxá Segundo Netto (2006, p. 164), o I Seminário de Teorização do Serviço Social foi realizado em Araxá (MG), no período de 19 a 26 de março de 1967. Entre outros temas, o documento de Araxá, publicado pelo CBCISS (1986, p. 32), trata dos níveis da microatuação e da macroatuação do Serviço Social. O nível da microatuação discute a prática profissional voltada para a prestação de serviços diretos. Para tanto, o “[...] Serviço Social, como técnica, dispõe de uma metodologia de ação que utiliza diversos processos” (CBCISS, 1986, p. 30), Entendendo-se que uma prática da microatuação está relacionada aos processos de trabalho com a comunidade por meio das técnicas: Caso, Grupo e Comunidade. No processo da macroatuação por sua vez, o Serviço Social está voltado para a política e o planejamento. “Essa integração supõe a participação no planejamento, na implantação e na melhor utilização da infraestrutura social” (CBCISS, 1986, p. 31). O SERVIÇO SOCIAL E A PRÁTICA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ■■ A vertente marxista remete à profissão a consciência de sua inserção na sociedade de classe e que, no Brasil, vai configurar-se, em um primeiro momento, como uma aproximação ao marxismo, sem o recurso do pensamento de Marx, por autores como Althusser, por exemplo. 111 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O Seminário de Teresópolis O II Seminário de Teorização do Serviço Social foi promovido pelo CBCISS, de 10 a 17 de janeiro de 1970, em Teresópolis. O tema desse seminário era a metodologia do Serviço Social. As formulações de Teresópolis “[...] apontam para a requalificação profissional do assistente social, definem nitidamente o perfil sócio técnico da profissão e a inscrevem conclusivamente no circuito da ‘modernização conservadora’ [...]” (NETTO, 2006, p. 192). O roteiro do trabalho do seminário foi entregue a 103 assistentes sociais que foram convidados a participar do encontro. Desses profissionais, 33 estiveram presentes. Os selecionados foram escolhidos a partir dos seguintes critérios: ■■ Interesse pelo estudo da Teoria do Serviço Social, realizações ou vivências. ■■ Profissionais, representatividade de instituições nacionais, públicas e privadas. ■■ Tempo de formatura e procedência regional. Esse roteiro era dividido em quatro temáticas: 1) Teoria do Diagnóstico e da Intervenção Social – A Intervenção em Serviço Social. 2) Diagnóstico e Intervenção em Nível de Planejamento, incluindo situações globais e problemas específicos; 3) Diagnóstico e Intervenção em Nível de Administração. 4) Diagnóstico em Nível de Prestação de Serviços Diretos a Individuais, Grupos, Comunidades e Populações. Vinte e um documentos versando sobre o roteiro entregue previamente foram recebidos pelo CBCISS. O seminário desenvolveu-se nas seguintes etapas: 1. Apresentação da proposta sobre a Pesquisa em Serviço Social no Brasil. 2. Análise e debate em plenário de 3 documentos sobre o tema 1. o serviço social e o processo de questionamento da prática profissional V 3. Divisão em 2 grupos de trabalho – A e B. 4. Neste documento, temos o triunfo da perspectiva modernizadora A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional - Charles Toniolo de Sousa Para ter acesso ao artigo na íntegra, acesse: <http://pt.scribd.com/doc/25131167/A-pratica-do-Assistente-Social-conhecimento-instrumentalidade-e-intervencao-profissional-Charles-SOUSA>. Considerações Finais Dessa forma, caro(a) aluno(a), podemos concluir que o período militar foi responsável pelo rompimento com o pensamento tradicional do Serviço Social, pautado na teoria positivista, em sua vertente funcionalista e na formação do seu comprometimento ético-político com as minorias sociais. Dentre os conteúdos estudados, destaca-se a Reconceituação do Serviço Social Brasileiro, que se torna um marco histórico a partir da mobilização dos assistentes sociais em prol do rompimento com o conservadorismo. Para refletir sobre a prática profissional e repensar nova metodologia, realiza-se o 1˚ Seminário de Teorização do Serviço Social, em Araxá (MG), evento histórico no processo de “teorização” e “reconceituação” do Serviço Social brasileiro, que propôs ações profissionais mais vinculadas à realidade social e política do país. Organizado pelo Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços O SERVIÇO SOCIAL E A PRÁTICA PROFISSIONAL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Este artigo tem por finalidade apresentar uma reflexão sobre a prática profissional do Assistente Social, reconhecendo suas dimensões, com o objetivo de situar a instrumentalidade do Serviço Social bem como seu arsenal técnico-operativo. Em seguida, serão apresentados, de forma sucinta, alguns dos principais instrumentos de trabalho utilizados pelos Assistentes Sociais no exercício da prática profissional, bem como algumas considerações finais. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 113 Sociais, o evento reuniu 38 assistentes sociais de vários estados brasileiros, produzindo o “Documento de Araxá”. Outro evento importante que dá sequência ao Seminário de Araxá (MG, 1967), idealizado para ser uma continuidade do processo histórico, foi o “Seminário de Teorização do Serviço Social”, realizado em Teresópolis (RJ, 1970). Esse seminário tinha como objetivo estudar a “metodologia do Serviço Social”. O seminário reuniu 35 assistentes sociais, divididos em dois grupos, para compor os estudos e reflexões acerca das perspectivas teóricas e metodológicas da profissão. E, ao contrário do seminário de Araxá, o de Teresópolis não produziu um documento final. O Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais, instituição responsável pelo evento, publicou os relatórios de cada grupo separadamente. Podemos concluir esta unidade dizendo que desde a década de 70, mais precisamente final daquela década, o Serviço Social brasileiro vem construindo um projeto profissional comprometido com os interesses das classes trabalhadoras. Foi por uma somatória de movimentos articulados com os interesses da sociedade que o Serviço Social deu um salto qualitativo mediante um processo de ruptura teórica e política. Considerações Finais 1. Faça uma análise crítica, em até 15 linhas, de como o período da Ditadura Militar influenciou o Serviço Social. 2. Explique de que maneira a profissão foi incorporada à esfera da burocracia e tecnocracia. 3. Faça uma análise crítica do Serviço Social e processo de questionamento da prática profissional, em até 10 linhas. Material Complementar Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64 José Paulo Netto Editora: Cortez Sinopse: O que ocorreu no Serviço Social brasileiro nos anos sessenta a oitenta? Que processos determinaram a extraordinária renovação experimentada por ele? Como e por que os assistentes sociais desenvolveram, neste período, concepções e propostas tão diferentes? Quais as relações entre esta renovação e a ditadura militar? Como a teorização do Serviço Social se relaciona com a cultura e sociedade brasileiras? A estas indagações pretende responder de forma rigorosa e original. Com uma sólida fundamentação histórico-crítica, a argumentação do autor (conhecido ensaísta de filiação marxista) percorre os principais documentos do Serviço Social, analisando-os na sua estrutura interna e na sua vinculação com o processo histórico-social e político-ideológico vivido pelo país no pós-64. Além do golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar Carlos Fico Editora: Record, 2004 Sinopse: O autor, Carlos Fico, oferece ao leitor não especializado uma espécie de guia para a compreensão do golpe de 1964 e da ditadura militar. Em relação ao golpe, especificamente, o autor reuniu uma seleção de documentos históricos esclarecedora. São 75 textos, quase todos na íntegra, muitos dos quais completamente desconhecidos, pois estão em livros que não circulam mais ou em publicações de acesso problemático. ‘Além do Golpe - Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar’ transporta o leitor para a agitada conjuntura de meados dos anos 1960 e apresenta a posição, entre outros, de personagens como Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek. Expõe e analisa, ainda, momentos decisivos, através de discursos que marcaram a história política brasileira em comícios marcantes - como os de Leonel Brizola na Cinelândia (23 de agosto de 1963) e na Central (13 de março de 1964); e o de João Goulart no Automóvel Clube (30 de março de 1964). Material Complementar 117 Conclusão Olá, chegamos ao final de nosso conteúdo! Após termos estudado sobre o surgimento de nossa profissão, podemos compreender qual é o propósito do Serviço Social e seu processo de institucionalização no Brasil. A institucionalização deu-se a partir da década de 1930, inicialmente, com a iniciativa de grupos privados, com a ação efetiva da Igreja católica, marcada à visão da caridade estabelecida por esta. Vimos também que a institucionalização do serviço social se deu em um momento peculiar, quando se exigem respostas a demandas colocadas pela classe trabalhadora emergente. Primeiramente, por meio dos serviços sociais, das ações desses grupos específicos. Depois, como resposta profissional qualificada, respaldada teórico e metodologicamente. Também estudamos o contexto sócio-histórico do cenário econômico e político em que se situava a profissão de assistente social e como esses fatores influenciavam a prática profissional. A profissão surge com o processo de industrialização e culmina com a ascensão da classe burguesa nas primeiras décadas do século XIX. Dessa forma, surge a necessidade de um profissional que se ocupasse da área social para assistir a classe proletária. Essa era uma das formas da classe dominante exercer certo “controle” sobre a classe proletária. O Serviço Social surgiu no Brasil, quando o país se encontrava rumo ao processo de industrialização, marcado por um intenso avanço significativo de desenvolvimento econômico, social, cultural e político, e, ao mesmo tempo, as relações sociais se tornam mais intensas pela própria dinâmica do sistema capitalista. É nesse contexto que o Estado toma uma série de medidas políticas sociais, como uma forma de enfrentamento das múltiplas questões sociais. A prática profissional era configurada para atender aos interesses da burguesia, que detinha o capital. E o Estado, tido como governo populista, conseguiu a adesão da classe trabalhadora, da classe média e da burguesia. Naquele momento, a profissão não tinha uma linha metodológica enquanto projeto profissional acerca da sua ação. Com o passar dos anos, a profissão foi se estruturando, com o processo de mobilização de representações de classe, em busca de uma qualificação profissional mais profícua da fundamentação teórica e metodológica do Serviço Social. E, assim, ao finalizar nossas Unidades, esperamos que você tenha conseguido aprofundar o conteúdo da disciplina tão marcante na história da nossa profissão. Forte abraço e muito sucesso em sua carreira profissional! Prof.ª Me. Aline Cristtine Marroco França Bertti Prof.ª Me. Maria Cristina Araujo de Brito Cunha Referências ABREU, M. M. Serviço Social e a organização da cultura: perfis pedagógicos da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2002. ABREU, M. M.; CARDOSO, F. G. Mobilização social e práticas educativas. 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