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Legenda/foto: Equipe do Hospital do Câncer IV, no Rio de Janeiro.
Cuidados paliativos melhoram qualidade de vida dos pacientes
Governo discute com AMB a regulamentação da especialidade
de Medicina Paliativa até o início de 2005
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), cuidados paliativos são uma
abordagem para melhorar a qualidade de vida dos pacientes que enfrentam
doenças com risco de morte e de seus familiares. A Medicina Paliativa trabalha
com a prevenção e o alívio do sofrimento a partir do diagnóstico. O Instituto
Nacional de Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, já dispõe de uma unidade
especializada em cuidados paliativos: o Hospital do Câncer IV. A meta das
autoridades de saúde é difundir e implementar a experiência no Sistema Único de
Saúde (SUS) e buscar a regulamentação da especialidade de Medicina Paliativa
até o início de 2005. No ano que vem, também vai acontecer no Brasil um
encontro internacional sobre Medicina Paliativa, com a participação de Eduardo
Drueira, responsável por essa área na OMS.
O Hospital do Câncer IV foi inaugurado no bairro carioca de Vila Isabel em
novembro de 1998, como o Centro de Suporte Terapêutico Oncológico (CSTO).
Este ano, recebeu o nome de Hospital do Câncer IV. Essa unidade dispõe de 56
leitos. Por ano, realiza cerca de 4.800 atendimentos ambulatoriais e de
emergência e em torno de nove mil consultas domiciliares. O Hospital do Câncer
IV é o único no estado do Rio a atuar nessa especialidade. Além dele, alguns
centros de alta complexidade no resto do País realizam esse tipo de atendimento.
As equipes do Hospital do Câncer IV são formadas por médicos,
fisioterapeutas, psicólogos e assistentes sociais. Eles identificam problemas de
ordem física, psicossocial e espiritual no paciente. Não são apenas conseqüências
das doenças, mas também dos efeitos colaterais de tratamentos como a
quimioterapia. Entre esses efeitos, estão a falta de ar, as náuseas, a dor, a febre,
o desânimo e a depressão. Cerca de 70% das pessoas que têm câncer sentem
dor.
A falta de apetite é um dos sintomas mais comuns que acompanham as
vítimas de câncer. Ela acontece principalmente devido às alterações metabólicas.
Além da própria doença, fatores como a diminuição ou ausência das atividades
físicas, a manifestação de dor e as alterações no estado psicológico podem
contribuir para que o paciente sinta pouca ou nenhuma vontade de comer.
Quando ele sofre de falta de apetite, a equipe de cuidados paliativos entra com
alguns recursos, como distraí-lo na hora da alimentação, oferecer pequenas
quantidades de comida várias vezes ao dia e enriquecer a dieta com alimentos
variados, como vitaminas de frutas misturadas com carne e legumes. Tentar
manter o paciente bem alimentado é um dos valiosos cuidados paliativos.
Atenção integral – Para o diretor do Hospital do Câncer IV, Maurílio Martins, a
grande mudança em relação aos cuidados paliativos é que nos últimos anos eles
passaram a ser ministrados em todas as etapas do tratamento. “Antes, só os
doentes em estado terminal recebiam tais cuidados. Hoje, estendemos isso a
todos os pacientes”, afirma Maurílio.
A Medicina Paliativa é considerada, na atualidade, um apoio essencial para
a Oncologia (especialidade médica que trata o câncer). Maurílio Martins diz que a
melhora na qualidade de vida do paciente é sensível graças a esses cuidados.
“Nosso objetivo é fazer com que o paciente sofra o mínimo possível”, explica o
diretor do Hospital do Câncer IV.
O uso da Medicina Paliativa no tratamento de doenças graves está
diretamente ligado à Política Nacional de Humanização do SUS (HumanizaSUS) e
ao princípio da integralidade do Sistema Único de Saúde. “Não tratamos apenas
um tumor ou uma doença. Damos atenção total ao paciente. Trabalhamos com
todos os enfoques possíveis”, afirma Martins.
Nesse contexto, a atenção psicossocial tem papel ativo, de apoio tanto ao
paciente quanto à própria família. As equipes podem colaborar para desfazer
mitos em relação ao câncer. “O preconceito em relação à doença acaba
provocando o isolamento do paciente. Muitas pessoas ainda acreditam que o
câncer é uma doença contagiosa”, exemplifica Maurílio Martins.
Um fator psicossocial que pesa no tratamento, segundo o diretor do
Hospital do Câncer IV, é a depressão. “Diversos pacientes acham que a vida deles
acabou porque descobriram que estão com câncer”, relata o médico.
“Infelizmente, no Brasil, uma parte considerável dos pacientes descobre a doença
já em um estágio avançado. Porém, na fase inicial, a maior parte dos cânceres é
tratável”, afirma. “Precisamos investir cada vez mais em ações de prevenção e
informação”, completa. Na opinião de Maurílio Martins, os avanços da Medicina –
como os cuidados paliativos – permitem que os pacientes com câncer possam
viver mais e com qualidade.
A atenção integral inclui, além dos cuidados médicos e da assistência
psicológica à vítima da doença e a seus familiares, um serviço de caráter social. O
assistente social informa o paciente sobre os direitos que lhe são assegurados
pela lei. Poucos pacientes sabem de benefícios aos quais têm direito, como a
aposentadoria por invalidez, o auxílio-doença, a isenção de alguns impostos e o
saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
O Congresso Internacional de Cuidados Paliativos e Dor – Humanização:
uma questão de respeito, realizado em outubro no Rio de Janeiro, serviu para o
lançamento de fundamentos importantes para a implementação da Medicina
Paliativa no Brasil.
Um dos resultados foi a criação da Academia Nacional de Cuidados
Paliativos. “Queremos reivindicar junto à Associação Médica Brasileira (AMB) o
reconhecimento da Medicina Paliativa como especialidade médica”, adianta
Maurílio Martins. Nos Estados Unidos e na Europa, a Medicina Paliativa já
conquistou esse status. A expectativa do diretor do Hospital do Câncer IV é de que
o reconhecimento no Brasil aconteça até o início de 2005.
Durante o Congresso, o Ministério da Saúde – por meio do Inca – e o
governo da Espanha firmaram um convênio para capacitação de médicos
brasileiros em cuidados paliativos. Profissionais do Inca farão um estágio no
hospital espanhol Gran Canária. “A melhor concepção de cuidados paliativos da
Europa está no Gran Canária”, elogia Maurílio. O diretor conta que o Inca pretende
assinar também convênios com países como o Reino Unido e a França, bastante
desenvolvidos nas técnicas de cuidados paliativos.
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