Educação Especial: O Apoio do Computador para Alunos em Processo de Desenvolvimento da Leitura e da Escrita Profala.com 15/01/2008 Este artigo procura abordar a importância do computador como recurso pedagógico na educação de crianças com deficiências Delton Aparecido Felipe, Paula Edicléia França Bacaro e Anair Altoé Resumo: Este artigo explicita o uso do computador como recurso pedagógico no processo de ensino e aprendizagem de alunos com necessidades educacionais especiais no desenvolvimento da leitura e da escrita. Relata atividades que oportunizam aos mesmos uma maior interação com a máquina, visando seu desenvolvimento cognitivo, social e cultural. Faz-se objetivo principal deste trabalho apresentar dados de um projeto de ensino, desenvolvido com alunos da classe especial, em um laboratório de informática de uma escola pública de Maringá no Paraná. O desenvolvimento da leitura e da escrita foi apoiado pelo software “escritor” e páginas da Internet. O resultado encontrado destacou a importância da utilização do computador e da Internet como recurso pedagógico no processo de construção do conhecimento desses alunos. INTRODUÇÃO A leitura e a escrita fazem parte da vida de todo ser humano. Além de ser útil e agradável é também fator de sobrevivência, pois é necessária para o desenvolvimento intelectual das pessoas de modo a interagir com mais eficiência nos aspectos financeiros, culturais e sociais. As informações, na maioria das vezes, chegam ao homem por meio da leitura, sendo esta fundamental para seu desempenho no trabalho, na escola, na rua, já que faz parte do seu dia-a-dia. O conhecimento se dá de diversas maneiras, mas seu principal veículo é a leitura, é por meio dela que o homem analisa, faz comparações, reflete e, conseqüentemente, atinge um grau mais elaborado de conhecimento. O ato de ler e de escrever é um processo cognitivo, mas a busca por seu desenvolvimento depende, muitas vezes, de como ele acontece. Devemos procurar maneiras, caminhos alternativos, que possibilitem o aprendizado da leitura, respeitando o tempo de cada aluno, fazendo com que ele supere a sua própria limitação. Mais ainda quando nos defrontamos com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais. A importância de apoio a estes alunos fica mais evidente. Isto porque eles necessitam de apoio pedagógico diferenciado, que atenda ao seu nível de compreensão e especialmente seu ritmo e tempo para a realização das atividades. Alliende (1987, p. 37), neste sentido, ressalta que o aluno “[...] que confia em si mesmo tende a enfrentar as dificuldades com menos medo e consegue recuperar-se de alguns fracassos com certa facilidade”. Portando, segundo o referido autor, é importante que o aluno se sinta seguro para que a aprendizagem ocorra. Deve-se, também, partir do princípio que todo aluno apresenta ritmos de aprendizagem diferentes e que o conhecimento ocorrerá por meio da interação entre o aluno e o objeto, uma vez que cada experiência é única. Muitas vezes, os fracassos e os prognósticos de “déficit intelectual” são diagnosticados como permanentes, fazendo com que o aluno se recuse a ler e a escrever por medo de errar. O erro pode ser visto pelo professor como uma etapa do processo de construção de aprendizagem. Neste sentido, deixa de ser obstáculo à aprendizagem do aluno. Passa a ser um espaço de discussão e elaboração de novos conceitos. No processo de avaliação, quando o aluno apresenta muitos erros, interioriza o fracasso e recebe o estigma de aluno que não aprende ou, então, é designado como portador de “déficit intelectual”. No entanto, importa considerar que a eles não foi dado o direito de participar de outras oportunidades de aprendizagem, diferentes daquelas corriqueiras e rotineiras de sala de aula. O “déficit intelectual” pode não ser, de fato, permanente. Talvez seja possível reverter este prognóstico com atividades que interessem ao aluno e não causem a ele constrangimentos, por causa da má grafia ou uma leitura lenta. Para tanto, devemos entender como o processo de leitura e de escrita pode ser encaminhado e como o computador e a Internet, por meio de uma metodologia adequada, direcionada, podem atender às necessidades dos alunos e colaborar com o processo de ensino e de aprendizagem. A LEITURA, A ESCRITA: APORTES TEÓRICOS A leitura, segundo Alliende (1987) requer do aluno uma atitude ativa de participação. O aluno, ao ler, reconstitui as palavras, como se as ouvisse, dá a elas a entonação e o ritmo que deseja. O ato de ler motiva o cérebro a ter pensamentos e criatividade, isto colabora para que o leitor não apenas reproduza a leitura, mas a interprete à sua maneira ou conforme a sua necessidade. Os alunos com dificuldade de leitura e, conseqüentemente, de escrita fazem uma leitura codificada. Este tipo de leitura prejudica o seu interesse. Entretanto é necessária, pois, para se alcançar um nível compreensível do conteúdo do texto lido, é preciso promover o desenvolvimento das habilidades de leitura. Estas habilidades estão relacionadas à fluência e à compreensão da leitura. Mas é preciso que se respeite o ritmo próprio de cada aluno (Cagliari, 2003). O processo que busca uma leitura fluente e compreensível pelo aluno não precisa ser de aspecto maçante, como as leituras obrigatórias, mas pode estar vinculado a leituras de interesses pessoais, as quais fazem parte da vida social dos alunos. Ao ler e escrever, o aluno procura sentido, se não houver, sente-se desmotivado para continuar (Cagliari, 2003). Quando trabalhamos com alunos com necessidades educacionais especiais que apresentem problemas de aprendizagem na leitura e na escrita, é necessário motivá-los com textos de seu interesse e que façam parte do seu cotidiano. Neste processo, o aluno perceberá a importância que a leitura e a escrita representam para o seu desenvolvimento cognitivo ou intelectual. É necessário, também, que o aluno, mesmo com necessidades educacionais especiais, perceba o valor social da leitura e da escrita e a sua aplicabilidade. Cabe ao professor elaborar atividades de leitura que atendam ao interesse e às necessidades dos alunos. Cagliari (2003, p. 101) diz que “antes de ensinar a escrever é preciso saber o que os alunos esperam da escrita, qual julgam ser sua utilidade e, a partir daí, programar atividades adequadamente”. A escolha do material de leitura é importante porque ler e escrever vai além da aprendizagem das letras e das palavras. É necessário que o aluno encontre nas atividades sentido e aplicabilidade em sua vida cotidiana. A perspectiva de ver a importância da leitura através das funções que ela pode ter permite ao educador e a todos os que se empenham no desenvolvimento de um ser humano ligar a atividade de ler com as necessidades da pessoa. Deste modo, evita-se que a leitura seja uma simples destreza mecânica que tende a extinguir-se por falta de aplicabilidade e se chegar a focalizá-la como habilidade relacionada com os mais importantes aspectos da vida pessoal e social (ALLIENDE, 1987, p. 23). A leitura e a escrita são parceiras da aprendizagem, pois quando se lê surgem às produções da linguagem escrita, as quais são elaboradas no pensamento do leitor. Neste sentido, Alliende (1987, p. 23) diz que “a leitura apresenta ao leitor as palavras como seqüência de letras que lhe proporcionam uma imagem gráfica, a qual lhe permite reproduzir corretamente a escrita”. As informações que os alunos recebem por meio das leituras fazem com que os mesmos elaborem pensamentos e ações. Ao mesmo tempo, permitem aos alunos opinar sobre as mesmas. Lendo, aprendem a buscar diferenças e igualdades. Esta busca faz com que surjam questionamentos, os quais provocam desequilíbrio cognitivo no aluno, o qual favorece o seu desenvolvimento. O desequilíbrio cognitivo faz com que o aluno busque pelo equilíbrio, procurando outras informações que o ajudem na compreensão. Este exercício colabora com a construção do conhecimento (Valente, 1991). Ao analisar o processo de leitura e de escrita, podemos perceber outro dado significativo para o desenvolvimento dos alunos. Quando o aluno com necessidades educacionais especiais aprende a ler e escrever e tem compreensão de sua leitura e escrita, pode tornar-se mais autônomo, visto que pela leitura e escrita, ele representa ações e pensamentos. Esta autonomia colabora com o seu processo de socialização e comunicação ao alcançar uma melhor compreensão do universo em que vive. O inverso acontece quando o aluno com necessidades educacionais especiais apenas aprende a ler e escrever sem ter relação com o que lhe interessa, com suas necessidades e seu cotidiano. O aluno, ao não ter compreensão e fazer uma leitura e escrita codificada, sem conexão e sem sentido, conseqüentemente, pode não alcançar a autonomia. É fundamental, também, que os alunos saibam, por meio do professor, que a escrita é pensamento e a leitura pode ser do seu próprio pensamento ou pensamento de outras pessoas. Isto faz com que os alunos percebam que a leitura tem fundamento, não representa um ato vazio e sem sentido. Não podemos deixar de destacar a importância que o professor representa neste processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Ele precisa ter sensibilidade e comprometer-se com a aprendizagem dos alunos. É necessário que o professor proponha objetivos e que aceite o desafio em nome da aprendizagem dos alunos (Parga, 2004). O COMPUTADOR NO PROCESSO DE LEITURA O trabalho docente para alunos com necessidades educacionais especiais é um desafio tanto nas salas de educação especial como em salas de ensino regular inclusiva. Com a diversidade de comprometimento mental, é necessário que o professor faça um estudo de caso para buscar o caminho, a metodologia de ensinar esses alunos. Este caminho pode ser usado de diversas maneiras, com várias ferramentas educacionais. A informática aplicada à educação, com uma proposta construcionista, pode ser utilizada no processo de ensino e de aprendizagem. Com o uso do computador pode-se elaborar diversas atividades pedagógicas (Papert, 1994). Neste sentido, o computador pode ser um grande aliado no processo de desenvolvimento da leitura e da escrita. Pois a imagem provoca o aluno a querer saber mais sobre a informação que está visualizando. O computador envolve-o por meio da variação de cores, movimento, imagens, que chamam a atenção do mesmo para novas leituras. Essas atividades de leitura proporcionam novo meio ou maneira do aluno expressar e de se relacionar, pois transmite várias informações, as quais possibilitam ao aluno melhorar sua comunicação. Promove o aluno a desenvolver novas habilidades do uso da máquina, que o levam a novas aprendizagens, as quais proporcionam diferentes formas de pensar e aprender. Pallof & Pratt (2002, p. 90), afirma que “quando os alunos envolve-se com um processo de aprendizagem em que a tecnologia seja utilizada eles aprendem não apenas sobre a matéria do curso, mas também sobre o processo de aprendizagem e sobre si mesmo”. Valente (1999) destaca que o computador armazena, representa e transmite informações. Estas informações possibilitam ao aluno a construção do conhecimento à medida que recebe as informações que são memorizadas e processadas pelos esquemas mentais. Quando o aluno está diante de um desafio ou problema que precisa ser resolvido, ele busca um novo conhecimento. Caso o aluno não obtenha conhecimento suficiente, busca outras informações que, são unidas ao conhecimento existente, possibilitam ao aluno a execução de sua tarefa. Outro fator interessante é que por meio do computador os alunos sentem-se mais livres e os erros tornam-se insignificantes. Apagar e fazer novamente torna mais divertido e menos traumático. Deste modo o erro colabora com o desenvolvimento da escrita do aluno. Quando o aluno percebe que errou, entra em conflito e se desequilibra. Ao buscar o equilíbrio novamente, ele reconstrói a palavra. Este processo proporciona ao aluno aprendizado, pois ele pensa, reflete, analisa e realiza sua ação diante da descoberta do erro. O computador, pela variedade de funções, permite ao aluno executar esta tarefa sem perceber sua real dimensão de aprendizagem (Valente, 1999). Geralmente, nas tarefas realizadas em sala de aula pelos alunos, percebe-se uma recusa em refazê-las, caso estejam erradas (Cagliari, 2003). No computador, dificilmente o aluno se recusa a corrigir a tarefa. E esta correção, geralmente, decorre da necessidade do próprio aluno quando percebe o erro. Em relação às atividades de programação, é importante ressaltar que, quando o aluno executa uma tarefa e percebe que não atingiu seu objetivo, reformula suas idéias, procura pelo erro e executa a tarefa de programação novamente. Quando o aluno com necessidades educacionais especiais atinge seu objetivo, sente-se motivado a efetuar outras tarefas. Neste processo, é fundamental a participação do professor. É ele quem vai planejar e executar ações para que o aluno descubra o próprio erro ( Valente, 1991). Ao utilizar o computador, o aluno analisa, questiona as várias informações que recebe e este processo contribui na construção do seu conhecimento. Quanto mais o aluno interage com o computador, mais informações ele recebe, as quais colaboram para a construção do seu conhecimento (Valente, 1999). No caso dos alunos com necessidades educacionais especiais, esta interação com a máquina faz os alunos serem mais audaciosos, despidos de insegurança. Estes fatores contribuem com o seu desenvolvimento intelectual de maneira natural. A tentativa, o comando, a construção e a desconstrução do erro e a liberdade do ato de experimentar são ações que contribuem para o processo de ensino e aprendizagem. As atividades que os alunos realizam no computador podem explorar mais seu intelecto que as atividades repetitivas de alfabetização propostas em sala de aula. Para os alunos, as atividades realizadas no computador são sempre novas, visto que apresentam vários recursos a serem utilizados. Papert (1994, p. 70), diz que “é necessário que os professores desenvolvam a habilidade de beneficiarem da presença dos computadores e de levarem este beneficio para seus alunos”. Outro fator que, também, contribui neste processo é a ausência da avaliação, pois as atividades pedagógicas podem ser desenvolvidas em um ambiente em que os mesmos não se sentem avaliados pelo professor. Sem a preocupação da avaliação, os alunos se apresentam mais livres em suas atividades e o computador se torna o veículo onde o aluno executa tarefas, elabora pensamentos e ações sem medo de errar. Esta liberdade pode ser vista quando está relacionada ao uso da internet. O número de informações recebido é numeroso, e sobre os mais variados temas, o que possibilita ao aluno ler, pensar, refletir, procurar, ou seja, classificar o que lhe interessa. Cabe ao professor provocar os alunos a classificar tais informações. Esta ação é essencial no processo de aprendizagem, porque proporciona ao aluno a possibilidade da descoberta. A classificação é uma função cognitiva que o aluno precisa utilizar quando usa a Internet. Devido ao grande número de informações que recebe, necessita fazer uma classificação das mesmas. Esta classificação informacional proporciona ao aluno autonomia, fundamental para o seu desenvolvimento, sobretudo para os alunos com necessidades educacionais especiais, já que podem apresentar dificuldades em realizar escolhas ou manifestar opiniões. Esta atividade proporciona a este aluno, em especial, mais segurança, a qual, provavelmente, vai ajudá-lo nas tarefas diárias. Outra questão importante está na cooperação e socialização que o ambiente educacional informatizado oferece. O processo de navegação on-line proporciona aos alunos o despertar de suas potencialidades voltadas para o desenvolvimento coletivo, no qual um aluno ajuda o outro, esta cooperação se torna importante para o desenvolvimento pessoal de cada um. Wadsworth (1997) destaca que a interação social e a colaboração entre os colegas é essencial para o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos. O ambiente tecnológico informativo, no qual está presente a relação social colaborativa, possibilita aos alunos com necessidades educacionais especiais a descoberta de caminhos alternativos para vencer suas limitações físicas e, ainda, os ajuda a buscar uma vida social normal. Atualmente, em quase todos os encontros sociais de adolescente, podemos perceber o mesmo tópico de assunto, ou seja, a Internet. Neste sentido, Valente (1991, p. 64) apresenta sua contribuição, ao destacar que Antes mesmo, de sentir necessidade de desenvolver-se intelectualmente, o individuo deficiente tem grande necessidade de se comunicar com o mundo tanto de imitir quanto de receber informações do mundo exterior. E o computador tem desempenhado um importante papel nesta área. Além de todas as funções que o computador pode oferecer, há a importância da socialização que o ambiente computacional promove aos alunos. Para Santarosa (2001, p. 6-7), o “[...] computador é um instrumento privilegiado de mediação no processo de ensinoaprendizagem e de apropriação cognitiva [...] socioafetiva, da comunicação, entre outros”. Quanto maior for o acesso à informação, à comunicação, à interação, mais ampla será a socialização. O ambiente também colabora com a aprendizagem dos alunos. Para os alunos, os laboratórios de informática são lugares de entretenimento e diversão. Por meio de uma atuação pedagógica, podem ser utilizados como ambientes que promovem habilidades de comunicação oral e escrita que se elevam a registros de pensamentos mais elaborados (Papert, 1994). O computador pode oferecer mais segurança no que se refere à aprendizagem, cooperação, socialização, autonomia e independência. Contudo, necessita da atuação do professor que ao se fundamentarem em uma proposta construcionista de aprendizagem, organiza, por meio do computador, atividades que atendam as necessidades de aprendizagem do aluno. O computador sozinho não promove aprendizado, cabe ao professor a tarefa de instigar, provocar, questionar o aluno para que ele possa ver, refletir sobre as informações que recebe e elaborar conhecimento. O conjunto de informações, se devidamente trabalhadas, poderá possibilitar ao aluno a construção de seu conhecimento. É importante que a relação entre o professor e o aluno seja interpessoal, em um ambiente de comunicação efetiva e colaborativa (Pallof & Pratt, 2002). A seguir, descrevem-se os primeiros resultados da experiência realizada em um projeto de ensino em ambiente informatizado com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais. AÇÕES PEDAGOGICAS EM AMBIENTE INFORMATIZADO COM ALUNOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Este projeto de ensino foi realizado com alunos da Educação Especial, em processo de alfabetização, no laboratório de informática de uma escola estadual de Maringá. Foi elaborado após a vivência da regência de estágio da disciplina de prática de ensino do 3º ano do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, em 2004. O referido projeto foi institucionalizado pelas normas estabelecidas pela pró- reitoria de ensino, por meio do processo nº 631/2005 sob o título “Uso do Computador com Alunos da Educação Especial”. Foi desenvolvido no período letivo de março a dezembro de 2005, coordenado pela Profª. Dra Anair Altoé e ministrado por duas alunas do Curso de Pedagogia da UEM. O grupo de alunos que formou a turma era composto por cinco meninos e duas meninas. O menino mais jovem tinha 11anos e o mais velho 17. A menina mais jovem tinha 14 anos e a mais velha 17. Analisando os dados apresentados pelos relatórios de avaliação dos alunos, disponibilizados pela escola, todos os alunos foram encaminhados para a sala de Educação Especial vindos de vários estabelecimentos de ensino da cidade. As análises dos relatórios de diagnóstico apresentado pela escola indicam que os alunos apresentam problemas de aprendizagem, por isso foi feito encaminhamento para a classe especial como diagnóstico final. Percebemos que, nos relatórios, é destacada a necessidade de um atendimento especial para as dificuldades apresentadas pelos alunos no processo de avaliação, as quais encontram-se claramente explicitadas nos instrumentos de registro da escola, localizados na pasta de documentos do aluno. Os dados das fichas de diagnóstico constituíram-se o material que subsidiou a metodologia de ação para a realização deste projeto. METODOLOGIA DE AÇÃO As atividades do projeto foram propostas com os objetivos de: utilizar a informática aplicada à educação para o aprimoramento de conhecimentos e habilidades para o uso do computador, mais especificamente a Internet e o software “Escritor”, no processo de leitura e escrita com alunos da Educação Especial; oportunizar aos alunos o acesso e a utilização do uso do computador em atividades de sala de aula; socializar e dinamizar atividades em ambientes informatizados que possam contribuir com a melhoria do processo de leitura e escrita. Com base nos objetivos, organizamos atividades de leitura e escrita que possibilitaram o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem dos alunos em ambiente informatizado. Neste sentido, o professor assessorou o aluno durante a realização de suas tarefas, negociando, facilitando, instigando, acompanhando, ajudando-o em suas necessidades. Os encontros foram realizados semanalmente com uma carga horária de 80 minutos. As atividades de leitura e escrita foram organizadas para atender aos interesses e às necessidades dos alunos quanto ao uso da Internet, do jogo e do processo de ler e escrever. Sendo assim descreve-se as atividades na Internet: • Cadastro de todos os alunos em site de e-mail gratuito, a fim de ressaltar a importância de sua identidade pessoal e comunicar-se com pessoas. Esta atividade foi realizada nos primeiros encontros devido à necessidade dos alunos saberem um pouco mais sobre si mesmo e o outro. • Trocas de e-mail entre os próprios alunos, com alunos de o ensino regular e outros. Além do exercício de leitura e escrita as trocas de email possibilitava a comunicação, e também como no grupo há alunos introvertidos, poderia ajuda-los a comunicar-se com mais desprendimento. • Uso de sites de pesquisa, onde buscaram por assuntos de seu próprio interesse. As pesquisas proporcionaram aos alunos saberem mais sobre aquilo que lhes interessava e servia também de conteúdo para o exercício de escrita. • Participação em chat de pesquisa. Este exercício foi uma maneira de fazer os alunos entenderem que podem se expressar e verbalizar seus desejos e opiniões, não apenas naquele momento, mas também no seu cotidiano. No site de jogo, as atividades foram: • Utilização do site “fliperama” por apresentar por escrito as instruções do modo como jogar. Portanto, foi necessário que se procedesse à leitura das instruções para se alcançar sucesso no jogo. Este site foi escolhido para trabalhar com os alunos o exercício da leitura e também a importância do texto informativo. No processo de ler e escrever: • Utilização do software “Escritor” (editor de texto), possibilitou o registro das idéias elaboradas pelos alunos no processo de criação de textos escritos. Os textos derivaram das leituras de contos ou artigos informativos encontrados em páginas da Internet. Este software tem características importantes: a correção ortográfica não é simultânea como ocorre no Word, principalmente com palavras acentuadas, sendo assim, é preciso trabalhar ortograficamente cada palavra com uma leitura atenta, caso necessário reconstruir a palavra novamente, recorre-se ao dicionário. Este software, também, apresenta as ferramentas em ícones coloridos com facilidade de visualização e identificação pelos alunos. Inicialmente foi trabalhada cada atividade separadamente em vários encontros para que os alunos pudessem conhecer e manusear as ferramentas. Depois trabalhou-se o exercício de escrita no “Escritor”, derivadas de leituras de pesquisas realizadas nos sites, datas comemorativas e ou leituras de histórias ou contos. O tempo destinado aos jogos era os 20 minutos restantes de cada aula, dependendo do término das atividades anteriormente propostas. Os e-mails eram enviados quando os alunos manifestavam interesse. A utilização do software “Escritor” e das páginas infantis da Internet foi proposta na metodologia do projeto inicial. Porém, como os alunos estão na pré-adolescência e adolescência, as páginas infantis da Internet não foram utilizadas porque os alunos não se interessaram pelos seus conteúdos. No entanto, os jogos foram incluídos, por meio de uma manifestação dos alunos. Por isso, incluímos as outras atividades acima que, de certa forma, contribuíram no processo de ensino e de aprendizagem dos alunos. Nestas atividades os professores participantes do projeto mantiveram a postura de facilitadores do processo de ensino e de aprendizagem. Nesta perspectiva o professor precisa sair da postura estática e baseada na continuidade e migrar para a postura dinâmica baseada na inovação (Santos, 2003). Gerenciando cada ação, possibilitando aos alunos pensarem, refletirem sobre cada atividade realizada. RESULTADOS O relato verbal das professoras participantes do projeto e da professora regente da sala especial indicou que os objetivos propostos foram alcançados. O nível de leitura e da escrita foi alcançado com êxito. Pois se verificou que os alunos atingiram um maior nível de leitura, e aqueles que não sabiam ler sentiram-se, pelo uso do computador, encorajados a aprender a ler e escrever. A forma de escrever, que muitas vezes fora considerada como “má grafia” ou “caligrafia feia”, causava nos alunos vergonha e desânimo em produzir textos. O computador permitiu que os alunos logo percebessem que o problema da caligrafia não existia mais. Por isso porque, sentiam- se livres para escrever. O computador eliminou a questão da “má grafia”. O que ficou então? Ficou a produção do texto, a criação e organização de idéias, a forma de usar as palavras corretamente na frase. Percebeu-se que os alunos compreenderam as leituras, e o uso do software “Escritor” possibilitou-lhes de uma maneira simples, o registro do conteúdo das mesmas. Este registro derivou da síntese de leituras, de e-mail, de sites pesquisados, de contos ou artigos informativos. Outro fator importante com relação à escrita foi observar que os alunos apresentaram-se mais preocupados com a forma da escrita correta. Nesse sentido, foi possível observar, no desempenho dos alunos, uma melhora significativa na ortografia. Os e-mails, no início, eram trocados entre os alunos e professores do projeto, depois de alguns encontros, foram encaminhados para pessoas distantes do seu convívio. Mandaram e-mail para outros professores da escola, programas de televisão, amigos, parentes. Percebeu-se a liberdade de ação e confiança que os alunos alcançaram nas atividades desenvolvidas durante a execução do projeto. As pesquisas on-line fizeram com que os alunos tivessem mais liberdade de exploração do computador e das informações que puderam encontrar na Internet, o que contribuiu com o processo de desenvolvimento cognitivo, como também de socialização desses alunos. Foi possível observar que as informações possibilitaram a eles um aumento significativo de vocabulário e de assuntos novos que passaram a ser discutidos em sala de aula ou com outras pessoas. Estas pesquisas oportunizaram ainda, aos alunos a aprendizagem do ato de realizar consultas com uma certa organização e objetivo. Nesses momentos, foi interessante observar a capacidade de comparação que demonstraram ante as informações, visto que quando faziam as buscas dos temas de pesquisa, liam, analisavam, comparavam e, às vezes, eram solicitados a definir e escolher algo que haviam encontrado e que de certa forma lhes interessava, contribuindo com o processo pessoal de construção do conhecimento. As participações em chat de pesquisa fizeram com que os alunos lessem mais e percebessem que suas opiniões faziam diferença. Isto possibilitou aos alunos mais autonomia. O site “fliperama”, além de proporcionar diversão, ajudou no desenvolvimento da leitura. O aluno precisou ler as instruções do jogo, caso contrário não conseguiria jogar. O site possibilitou, também, aos alunos, a compreensão da importância e da necessidade das instruções e a conseqüente leitura das regras do jogo, e não apenas visualizar o jogo. Era preciso mais precisão do que em outras instruções que fazem parte do nosso cotidiano. Apesar de todo o preconceito de que são vítimas, da especificidade e dificuldade de cada aluno, percebeu-se que, diante do computador e da Internet, eles puderam mostrar seu interesse e dedicação nas atividades propostas. Portanto, acreditamos que os alunos alcançaram um nível mais elaborado de leitura, assim como, compreenderam a importância e a necessidade da leitura para solucionar questões relativas a problemas do seu cotidiano. CONSIDERAÇÕES FINAIS A sociedade, quando se depara com uma pessoa com necessidades educacionais especiais, se compadece dela, o mesmo acontece com alguns professores. O afeto que destacamos aqui é inverso. Não queremos e nem aceitamos a penalização. Certamente, acreditamos que a razão deve ser ensinar bem, proporcionar aprendizagem, seja com alunos da rede regular inclusiva ou com os alunos das salas de Educação Especial. A estes alunos especiais, devem ser proporcionados ambientes de aprendizagem, ricos em interação social, cooperação, informação por meio das quais possa ter oportunidade de construir o conhecimento, ganhar agilidade, confiança para que, no futuro, possam ser pessoas ativas e independentes. O trabalho do professor pode se tornar mais difícil com alunos com necessidades educacionais especiais encaminhados de salas de ensino regular. Quando chegam, os alunos sentem-se marginalizados e estigmatizados por não saber ler e escrever. As alternativas pedagógicas e a atitude do professor, nesse momento, são fundamentais para o processo de desenvolvimento do aluno. Há necessidade, primeiramente, de elevar a auto-estima e a importância social do aluno, dar-lhe o sentido em aprender. Isto pode ser alcançado com atividades e o uso de ferramentas pedagógicas que possibilitem a construção do conhecimento. O computador, neste sentido, pode contribuir com o seu processo de desenvolvimento individual e, também, pode ser fonte de informação e inclusão digital e social. Como o interesse dos alunos em manusear o computador é significante, nada mais pedagógico que usar este interesse em favor do processo de ensino e aprendizagem dos mesmos. O respeito, a disciplina, o querer aprender, os sonhos que fazem parte de suas vidas são iguais a de qualquer aluno. Este fato nos esclarece a importância de desenvolver projetos com o uso do computador para os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais. O projeto, no início, foi elaborado para alunos com tais necessidades, diagnosticados com: déficits intelectuais, hiperatividade, síndrome de Apert, deficiência mental e motora, problemas de aprendizagem e outros mais. Entretanto as atividades foram propostas para alunos que queriam e desejavam aprender. Que buscavam ser aceitos na sociedade como pessoas capazes e independentes. É importante destacar que o projeto, como experiência, mostrou-nos que a aprendizagem acontece quando há comunicação, interação, comprometimento educacional, respeito e afetividade. Por meio de seu desenvolvimento descobrimos que a aprendizagem vai além do ensino das letras, consiste em estabelecer objetivos de ensino, planejar e proporcionar um ambiente plausível de aprendizagem físico e emocional. Os resultados apresentados indicam a importância do computador em atividades pedagógicas e a importância da atuação do professor neste processo de ensino e de aprendizagem. Com o uso do computador, os professores podem ser mais criativos, planejar atividades pedagógicas que interessem aos alunos e, desta forma, contribuir para a construção do conhecimento tanto do aluno como do professor. Cabe ao professor criar situações de ensino e aprendizagem em que o aluno procure pelas informações. Isto exige dos alunos a compreensão do que fez e ao mesmo tempo o que precisa fazer para alcançar o objetivo proposto. As atividades propostas pelo professor podem ser ricas em oportunidades, que desafiem o aluno, que permitam ao aluno ações de exploração, de interação, de compreensão. Estas atividades tornaram-se mais interessantes com o uso do computador, em um ambiente informatizado. Assim, entendemos que foi possível evidenciar que o computador pode contribuir com o processo de desenvolvimento psíquico de cada um e da socialização dos alunos, entretanto a atuação pedagógica do professor é fundamental nesse processo. REFERÊNCIAS: ALLIENDE, Felipe. A leitura: teoria, avaliação e desenvolvimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione, 2003. PALLOF, Rena; PRATT, Keith. Construindo comunidades de aprendizagem no ciberespaço: estratégias eficientes para salas de aula on-line. Porto Alegre: Artmed, 2002. PARGA, Márcia. O enlace desejo-inteligência na aprendizagem. In: SISTO, Firmino Fernandes, et al (org). Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagogico. Petrópolis, RJ: Vozes, 3 ed. p. 148-166, 2001. SANTAROSA, Lucila. Maria Costi. Entrevista. Integração. Brasília: Secretaria da Educação Especial, ano 13, n.23, p. 6-13, 2001. SANTOS, Gilberto Lacerda. A gestão de relações educativas apoiadas pelo computador por meio da pedagogia de projetos. In:______. (org). Tecnologias na educação e formação de professores. Brasília: Plano, p. 49-68, 2003. VALENTE, José Armando. Análise dos diferentes tipos de software usados na educação. In: ______. (org). O computador na sociedade do conhecimento. Campinas, SP: Unicamp/ NIED. p. 89-110, 1999. ______. Liberando a mente: computadores na Educação Especial. Campinas, SP: Gráfica Central da Unicamp, 1991. WADSWORTH, B. J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1997. Delton Aparecido Felipe: Mestrando em Educação pela Universidade Estadual de Maringá/Paraná Paula Edicléia França Bacaro: Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá/Paraná. [email protected] Anair Altoé: Doutora em Educação/PUC-SP; Docente do Programa de Pós- Graduação da Universidade Estadual de Maringá/Paraná. [email protected]