Homem e Natureza em Ludwig Feuerbach Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Universidade Federal do Ceará Reitor Prof. Jesualdo Pereira Farias Vice-Reitor Prof. Henry de Holanda Campos Editora UFC Diretor/Editor Prof. Antônio Cláudio Lima Guimarães Conselho Editorial Presidente Prof. Antônio Cláudio Lima Guimarães Conselheiros Profa. Adelaide Maria Gonçalves Pereira Profa. Angela Maria R. Mota de Gutiérrez Prof. Gil de Aquino Farias Prof. Italo Gurgel Prof. José Edmar da Silva Ribeiro Série Filosofia Coordenação Editorial Coordenador Prof. Odílio Alves Aguiar Membros Prof. Abel Lassalle Casanave Prof. André Duarte Prof. Cláudio Boeira Prof. Edmilson Azevedo Prof. Eduardo Jardim Prof. Guido Imaguire Prof. José Maria Arruda Profa. Maria Aparecida P. Montenegro Prof. Tarcísio Haroldo Pequeno Eduardo F. Chagas Eduardo Chagas Deyve Redyson Redyson Deyve MarcioGimenes Gimenes de Marcio dePaula Paula (Organizadores) (Organizadores) Homem e Natureza em Ludwig Feuerbach Fortaleza 2009 Homem e Natureza em Ludwig Feuerbach © 2009 Copyright by Eduardo F. Chagas, Deyve Redyson e Marcio Gimenes de Paula [Organizadores] Impresso no Brasil / Printed in Brazil Efetuado depósito legal na Biblioteca Nacional Todos os Direitos Reservados Edições – UFC Av. da Universidade, 2832 (Fundos) – Benfica – Fortaleza – Ceará CEP: 60020-181 – Tel/Fax: (85) 3366.7766/3366.7499 Internet: www.editora.ufc.br – E-mail: [email protected] Divisão de Editoração Coordenação Editorial Moacir Ribeiro da Silva Revisão de Texto Maria Vilaní Mano e Silva Normalização Bibliográfica Perpétua Socorro Tavares Guimarães – CRB – 3 801 Capa Mariano Sousa Programação Visual Luiz Carlos Azevedo Catalogação na Fonte Bibliotecária Perpétua Socorro Tavares Guimarães CRB 3 801/98 H 765 Homem e natureza em Ludwig Feuerbach./ Eduardo F. Chagas, Deyve Redyson e Marcio Gimenes de Paula [organizadores]. – Fortaleza: Edições UFC, 2009. 304 p. ISBN: 978-85-7282-367-8 (Série Filosofia, 8) 1. Feuerbach, Ludwig 1820 – 1872 2. Socialismo 3. Ideologia Alemã I. Chagas, Eduardo F. II. Redyson, Deyve III. Paula, Marcio Gimenes de IV. Título CDD: 335.4 Agradecimentos Nossos agradecimentos ao Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe – UFS, ao Grupo de Pesquisa em Ciências da Religião da UFS – GPCR, especialmente ao Prof. Dr. Marcio Gimenes de Paula (UFS), pelo acolhimento de diversos alunos, professores e interessados pela filosofia da religião, em especial pela filosofia de Ludwig Feuerbach, e pela organização do I Congresso Internacional Feuerbach em Aracajú-Sergipe, ocorrido entre os dias 17 a 19/06/2009. Agradecemos também ao PROCAD – PUCRS/UFC, em destaque ao Prof. Dr. Konrad Utz (UFC), pelo apoio ao I Colóquio Feuerbach: Religião, Homem e Natureza, realizado em Fortaleza, de 02 a 06/03/2009, na Universidade Federal do Ceará – UFC, bem como aos alunos pesqui sadores J osé Aldo (UFC), André Bonfim (UFC) e Regiany Gomes (UECE) pela divulgação e execução deste evento. Agradecemos à Pós-Graduação em Filosofia da UFC, de modo especialmente cordial ao Prof. Dr. Odílio Aguiar, que nos apoiou com financiamento de recursos para a publicação deste livro. Finalmente, o nosso estimado agradecimento à Profa. Dra. Adriana Serrão, da Universidade de Lisboa, e ao Prof. Dr. Deyve Redyson (UFPB), bem como a nossa profunda gratidão a todos os professores que colaboram com um artigo, sem os quais este livro não seria possível. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO . ................................................... 11 1 FEUERBACH E A APOTEOSE DA VIDA Adriana Veríssimo Serrão . ................................................ 15 1.1 Ler Feuerbach Hoje .................................................... 15 1.2 As Primeiras Formulações: a Encarnação da Razão na Humanidade ......................................................... 17 1.3 Do Modelo Teórico da Vida à Essência como Totalidade de Vida . ................................................... 21 1.4 Da Filosofia da Sensibilidade à Filosofia da Vida .............. 26 1.5 Uma Apoteose da Vida .............................................. 30 2 A MAJESTADE DA NATUREZA EM LUDWIG FEUERBACH Eduardo F. Chagas . ........................................................37 3 TESIS PROVISIONALES PARA UNA FILOSOFÍA CON FUTURO. LA ANTROPOLOGIA DE L. FEUERBACH FRENTE AL NIHILISMO Luis Miguel Arroyo .........................................................67 4 UMA FILOSOFIA PARA O FUTURO: SEMELHANÇAS E DISTÂNCIAS ENTRE FEUERBACH E NIETZSCHE Deyve Redyson .............................................................85 5 L´ANIMA E LA SENSIBILITÀ IN LUDWIG FEUERBACH Francesco Tomasoni ..................................................... 113 5.1 L’Anima Nella Filosofia Tedesca del Settecento ............ 113 5.2 Anima e Spirito Nei Gedanken .................................. 119 5.3 Peculiarità Dell’individuo Sensibile .............................. 122 5.4 Anima e Monade ..................................................... 127 5.5 Il Desiderio e L’Impossibilità ...................................... 130 6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE MORTE E IMORTALIDADE EM FEUERBACH Marcio Gimenes de Paula . ..............................................133 6.1 Introdução .............................................................. 133 6.2 A Figura de Deus nos Pensamentos sobre a Morte e a Imortalidade ..................................................... 138 6.3 Tempo, Espaço, Vida, Espírito e Consciência nos Pensamentos sobre a Morte e a Imortalidade ................ 145 6.4 Conclusão . ............................................................. 148 7 DIE BEDEUTUNG VON LUDWIG FEUERBACHS ETHIK DER LEIBLICHKEIT FÜR DEN NACHMETAPHYSISCHEN DISKURS UM MENSCHENRECHTE 8 Ursula Reitemeyer .......................................................153 SENSIBILIDADE EMANCIPATÓRIA: SCHELLING, FEUERBACH E MARX A CONTRAPELO DA TRADIÇÃO Rosalvo Schulz ............................................................171 8.1 O Dilema e Algumas Pistas de Superação . ................... 171 8.2 A Suspeita de Schelling ............................................ 180 8.3 Feuerbach: em Busca do Corpo Perdido ...................... 185 8.3.1 Confronto com a filosofia desencarnada ................... 185 8.3.2 Primazia do ser em relação ao pensar enquanto 8.4 postura crítica fundamental . .................................. 191 Marx: em Busca da Verdadeira Riqueza ....................... 196 8.4.1 Afirmação da humanidade dos sentidos e o caráter crítico do trabalho vivo . ............................. 196 8.4.2 Uma nova concepção de riqueza ............................ 201 8.4.3 Desafio: um novo pensamento filosófico .................. 205 9 NI IDEALISTA NI MATERIALISTA, COMUNISTA: NUEVAMENTE FEUERBACH Patrícia Carina Dip ........................................................213 9.1 El Cristianismo se Dice de Muchas Maneras .................. 213 9.2 La Destrucción de una Ilisión ..................................... 217 9.3 El Amor es de Por sí Ateo: Feuerbach Crítico de Kierkegaard ........................................................ 223 9.4 El “Caso Feuerbach” en la Recepción Marxista ............. 229 9.5 Feuerbach Hoy ........................................................ 235 10 FEUERBACH, CRÍTICA DA RELIGIÃO, CRÍTICA DA MODERNIDADE José Crisostómo de Souza ...............................................241 10.1 Materialismo/Naturalismo versus Subjetivismo/Egoísmo, Cristão/Moderno ..................... 244 10.2 Os Predicados Substancializados e o Essencialismo/Idealismo de Feuerbach ......................... 251 10.3 A Essência Genérica contra o Ceticismo e o Individualismo Modernos .......................................... 261 11 FEUERBACH Y KIERKEGAARD: HACIA LA HUMANIZACIÓN DE LO DIVINO Maria José Binetti . .......................................................271 11.1 Introducción ........................................................... 271 11.2 G. W. F. Hegel: sobre la Superación Efectiva de las Regiones ............................................................ 272 11.3 L. Feuerbach y la Comunidad de lo Jumano-Divino ....... 279 11.4 S. Kierkegaard y la Singularidad de lo Jumano-Divino .... 284 11.5 Algumas Conclusiones .............................................. 290 12 BIBLIOGRAFIA . .....................................................293 APRESENTAÇÃO Diversos factores terão concorrido para dissipar a penumbra que durante décadas envolveu a figura de Ludwig Feuerbach e ofuscou o seu lugar de direito na história da filosofia, vindo lentamente a libertá-lo do estigma de pensador negativo, confinado ao papel de fundador do ateísmo e demolidor da filosofia especulativa. Ao mesmo tempo, a fun­dação de uma Sociedade Internacional – a Societas ad Studia de Hominis Condicione Colenda – Internationale Gesellschaft der Feuerbach-For­ scher – promovendo a realização periódica de encontros, veio estimular a análise criteriosa dos textos e a discussão de aspectos menos aten­di­dos da obra. Re­cor­dem-se al­gumas destas temáticas: a “filosofia do futuro” (Ludwig Feuerbach und die Philosophie der Zukunft, Bielefeld, 1989); a proposta de uma racionalidade sensível (Sinnlichkeit und Rationalität, Reisenburg, 1991), a ética da solidariedade 11 ....... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Homem . . . . . . . . .e . . Natureza . . . . . . . . . . em . . . . .Ludwig . . . . . . . .Feuerbach ........... Determinante para a renovação dos estudos feuerbachianos foi a publicação da edição crítica de suas obras completas, incluindo a correspondência e grande parte dos inéditos, finalmente acessíveis na versão original. Os Gesammelte Werke (Berlin, Akademie Verlag, 1967 e ss.) dirigidos por Werner Schuffenhauer, sob os auspícios da Aca­de­mia das Ciências de Berlim, apresentam o texto das primeiras edições, depurado das simplificações e da sobreposição de variantes que caracterizava a edição dos seus discípulos e primeiros biógrafos, Wilhelm Bolin e Fried­ rich Jodl (Sämtliche Werke, Bd. I‑X, Stuttgart, 1903‑1911), expressamente organizada com a intenção de divulgar ao grande público um Feuerbach “populari­za­do”. Também os Werke in sechs Bänden (Frank­furt am Main, Suhrkamp, 1976), muito úteis como instrumento de trabalho, são, por partirem de uma selecção do editor Erich Thies, insu­ficientes para o conhecimento da produção total de Feuerbach. (Solidarität oder Egoi­smus, Zurique, 1992), a concepção da história e da his­to­rio­grafia (L. Feuerbach und die Ge­schichte der Philosophie, Nápoles, 1994); a releitura de Feuerbach à luz das novas pro­­ble­má­ticas suscitadas pelo fenômeno da mundialização (Identität und Pluralität in der globalen Gesellschaft. Ludwig Feuerbach zum 200. Geburtstag, Berlin, 2004). A crescente difusão do pensamento feuerbachiano far-se-ia sentir também fora do contexto alemão, nomeadamente em am­biente de língua portuguesa, quer através das traduções de alguns dos principais escritos, quer da or­ga­nização de dois encontros: Pen­sar Feuerbach. Colóquio Comemo­rativo dos 150 anos da publicação de “A Essência do Cristianismo” (1841‑1991) (Lisboa, 1991) e O Homem Integral. An­tro­po­logia e Utopia em Ludwig Feue­rbach (Lisboa, 1997). 12 ................................................................................................ Apresentação ....... Estes marcos decisivos na evolução da literatura feuerbachiana são, por sua vez, já sinal de um interesse mais fundo. É compreensível que uma época pós-sistemática como a nossa esteja apta a aderir a um estilo de escrita disperso e multifacetado e mais receptiva a reconhecer a atualidade do pensamento de Feuerbach, seja no plano dos princípios de uma filosofia do humano integral, seja na vertente crítica, que lhe é correlativa, dos pro­cessos teóricos e reais de de­su­ma­­nização. Assim, os grandes temas que estruturam a viragem da filosofia operada por Feuerbach no século XIX, apelando a um filosofar radicado no pulsar efetivo da vida, ou nas teses centrais da sua antro­pologia concreta, como a invenção do corpo próprio, a inter­sub­­jectividade, ou a estrutura dialógica da existência, não emergiram apenas de uma curiosidade erudita, mas vêm sendo reelaborados, sobretudo por encontrarem eco na cons­ciência atual. O Congresso Feuerbach, organizado pela Universidade Federal de Sergipe, que ocorreu em Aracaju, em junho de 2009, integra-se plenamente neste movimento de renovação hermenêutica que procura apreender, sem ideias pré-concebidas, as articulações de uma ampla visão do mundo. Mantendo-se em aberto outras possíveis abordagens, os estudos que agora se publicam no presente volume de Atas definem algumas orientações bem definidas na mais recente investigação. Uma congrega as explorações da categoria central de Sinnlichkeit, na dupla vertente antropológica e estética, reforçando a tese de que a sensibilidade – à falta de melhor correspondência para a tradução do termo alemão – não se reduz a uma faculdade humana, mas identifica todo o ‘sensível’ na plenitude de suas manifestações. Outra linha, que incide na proposta de uma reforma da filosofia como filosofia para o futuro, é o mesmo que dizer projeto prático e político para o futuro da Humanidade, em cujo centro se encontra o indivíduo real, de carne e osso, e as suas relações como ser genérico. Se por via da psicologia religiosa Feuerbach oferece uma visão do homem como ser uno, mas em iminente tensão, também a antropologia da sensibilidade, que supera os dua­lismos tra­di­cionais ao fundar-se na ontologia, não conduz, em contrapartida, à qualquer absolutização do humano. Os limites colocados por Feuerbach ao antro- 13 ....... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Homem . . . . . . . . .e . . Natureza . . . . . . . . . . em . . . . .Ludwig . . . . . . . .Feuerbach ........... Se a viragem para a existência e a ontologia da sensibilidade não ofe­recem especiais dificuldades de aceitação pela comunidade filosófica, assumidas que foram por múltiplas cor­rentes posteriores de cariz antimetafísico, sobre a doutrina feuerbachiana da religião continuam a impender mal-entendidos que distorcem a intenção de reconduzir a dimensão objetiva da religião aos mecanismos subjetivos que lhe dão origem. Uma conexão claramente evidenciada no conjunto de comunicações que lhe são dedicadas, levando-nos a compreender melhor a tese segundo a qual na base da atitude religiosa se encontram necessidades humanas, nomeadamente, o desejo de não morrer, raiz da ideia de imor­ta­lidade e das configurações do divino. pocentrismo são evidenciados no quadro da am­bi­valência entre a defesa da indivisível unidade do ser humano e, ao mesmo tempo, da condição finita de um ser inteiramente de­pendente do fundamento da vida. A Natureza, princípio omipresente ao longo do percurso intelectual de Feuerbach, representa, para a subjetividade concreta e aberta ao mundo o outro polo da existência integral. Devemos saudar a iniciativa deste primeiro Congresso sobre Feuerbach no Brasil, pautado pelo rigor científico e pela participação de reputados especialistas de vários países. Neste volume, em que alguns leitores poderão encontrar estímulo para iniciar o contato com Ludwig Feuerbach, outros descobrirão, decerto, importantes motivos de reflexão. Adriana Conceiçao Guimaraes Verissimo Serrão 14 ................................................................................................ Apresentação .......