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Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014
V Enebio e II Erebio Regional 1
JOGOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DA DIVERSIDADE E CLASSIFICAÇÃO
DOS ANIMAIS: O "CARA A CARA" DOS INSETOS
Jéssica Dos Santos Viana (Bolsista POGRAD-UFF)
Mariana Lima Vilela (Faculdade de Educação UFF)
Sandra Escovedo Selles (Faculdade de Educação UFF)
RESUMO
Este trabalho se insere entre as atividades do Projeto “Produção de recursos didáticos
para o Ensino de Ciências e Biologia” do Laboratório de Ensino de Ciências da FEUFF.
Tem como objetivo a elaboração de um material didático de caráter lúdico que
contribua para o ensino sobre a Diversidade e Classificação de Insetos, tema usualmente
tratado com ênfase em terminologia e memorização. O material será utilizado em
turmas do segundo segmento do Ensino Fundamental, em diálogo com professores da
escola básica. Para a elaboração do jogo foram tomados como referências livros de
Entomologia do Ensino Superior e o Jogo Infantil “Cara a Cara”.
PALAVRAS-CHAVE: Jogo didático, classificação biológica, biodiversidade, insetos
O ensino da Biodiversidade pode se apresentar sob diferentes enfoques nas
abordagens didáticas formuladas por professores de Ciências e Biologia, ou nos
materiais curriculares, tais como os livros didáticos. Nos currículos escolares de
Ciências e Biologia encontramos a noção de Biodiversidade como fundamental para a
compreensão de conceitos ecológicos do estudo dos ecossistemas, como por exemplo,
as cadeias e teias alimentares, a dinâmica de populações e relações entre os seres vivos.
A Biodiversidade também aparece nos currículos escolares em uma perspectiva mais
naturalista, isto é, com abordagens didáticas que focalizam a descrição e classificação
dos diversos grupos de seres vivos. A abordagem naturalista da Biodversidade pode ter
um caráter mais morfológico descritivo, ou pode ser atravessado por concepções
evolucionistas, enfatizando as relações filogenéticas de classificação biológica.
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Dentre todas essas abordagens em torno do tema da Biodiversidade, aquelas que
focalizam a Classificação Biológica são as que talvez mais se apresentem de forma
enfadonha e desinteressante tanto para professores, quanto para os alunos. Em geral,
estudar a classificação dos seres vivos na escola envolve um trabalho excessivamente
descritivo e o emprego de um vocabulário de difícil compreensão, o que acaba por
reforçar a aprendizagem pela simples memorização. Embora o estudo da Classificação
Biológica possa ter tantos argumentos contrários à importância e necessidade de sua
presença nos currículos da escola básica, defendemos que conhecer não apenas a
maneira como os seres vivos são organizados e classificados pela Ciência, mas também
como e por quê os cientistas classificam os seres vivos, é relevante para a formação dos
estudantes. Se uma das finalidades da escola é desconstruir uma visão mítica da Ciência
na Sociedade, aproximar os alunos dos procedimentos científicos é uma das estratégias
possíveis de envolvê-los criticamente nos processos de produção de conhecimentos
científicos.
A partir dessa problemática sobre o ensino da Classificação Biológica,
apresentamos neste trabalho a produção de um jogo didático que foi construído com o
objetivo de contribuir para a formulação de estratégias de ensino sobre a Biodiversidade
e Classificação Biológica que valorize a vivência de procedimentos científicos de forma
lúdica, sem enfatizar a terminologia e a memorização. O trabalho se insere entre as
atividades do Projeto “Produção de recursos didáticos para o Ensino de Ciências e
Biologia” do Laboratório de Ensino de Ciências da FEUFF, que tem como objetivo
produzir e utilizar recursos didáticos na escola básica em diálogo com os professores
que atuam em turmas de Ensino Fundamental e Médio. A seguir relatamos o processo
de elaboração do jogo.
Escolhemos trabalhar com invertebrados, pois este grupo apresenta grande
diversidade e é muitas vezes tratado com abordagens que enfatizam a memorização de
nomes, tornando o ensino desinteressante e de difícil apreensão. Entre todos os
invertebrados, os insetos, além de serem os mais abundantes, são talvez os mais
conhecidos e apresentam muitas relações com o cotidiano. Por isso, trabalhar a
classificação a partir de algo que já é conhecido e que carrega valores, tais como
admiração ou repúdio, é um dos aspectos que contribui para tornar os conceitos mais
contextualizados. A partir de um “pano de fundo” de conhecimentos prévios dos alunos
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sobre os insetos é mais viável construir outras visões sobre os insetos, das quais, a visão
científica de classificação biológica ganha relevância no ensino de Ciências.
Uma das referências para a produção do jogo foi a Chave de Classificação
Biológica do livro “Entomologia para você” (CARREIRA, 1980) ao lado de “Zoologia
dos Invertebrados” (BARNES, 2005). A partir da Chave de classificação foi possível
elencar hierarquicamente os critérios de classificação das ordens de insetos e
complementá-las ou simplificá-las a partir das informações desse livro texto.
Outra referência para a produção do nosso recurso didático foi o Jogo infantil
“Cara a cara”. 1 Este jogo trabalha com critérios de caracterização de personagens. Seu
objetivo é, através de perguntas e raciocínio lógico, descobrir o personagem do seu
adversário. Então com essas informações decidimos criar o “Cara-a-cara dos insetos”
para descobrir através de perguntas e raciocínio lógico, qual seria a ordem de inseto
escolhida pelo adversário. O jogo “Cara-a-cara” pode ser facilmente adaptado para ser
utilizado como exercício de classificação de qualquer conjunto de objetos. (Mendonça,
Moretti e Lopes, s/d). Assim, adaptamos as suas regras associando-as às informações
das características dos insetos.
Analisando a Chave de classificação de insetos, inicialmente julgamos que não
seria adequado fazer um jogo com todas as ordens de insetos. Então selecionamos
aquelas que seriam as mais conhecidas no cotidiano e também aquelas cujas
características seriam mais facilmente eliminadas em relação às outras, para que o jogo
não tivesse o nível de detalhamento tão acentuado que os entomólogos utilizam para
classificação dos insetos.
As ordens de insetos consideradas mais adequadas para o jogo foram: Diptera,
Hymenoptera, Orthopthera, Blatodea, Phasmidea, Isoptera, Odonata e Hemiptera. O
motivo da seleção dessas ordens foi a facilidade de reconhecimento das características
que diferenciam cada ordens. As características escolhidas para distinguir as ordens
durante o jogo foram: o tipo de pata, o tipo de asa, o tipo de aparelho bucal, o tipo de
antenas e o tipo de desenvolvimento. Apesar das ordens possuírem certas semelhanças,
é difícil uma ordem possuir todas essas características em comum. Então a produção do
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Jogo infantil Cara a Cara produzido pela empresa Estrela.
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jogo utilizou esses critérios morfológicos para distinguir cada ordem, criando assim
uma chave de classificação adaptada ao jogo.
Para facilitar a elaboração da chave aplicável ao jogo, foi construída uma tabela
comparativa contendo os critérios de classificação (Figura 1).
Figura 1 – Critérios de classificação de insetos utilizados para a construção do jogo
A partir dos critérios da tabela, foram elaboradas cartas (Figura 2) contendo uma
imagem colorida, uma imagem em preto e branco e uma imagem do ciclo de
desenvolvimento de cada inseto, além das informações sobre o tipo de antenas, tipo de
asas, forma de alimentação e outras características dos insetos daquela ordem.
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Figura 2 – Cartas do jogo
Além disso, foram criadas cartelas de perguntas para a orientação do jogo a cada
rodada. Essas cartelas são muito importantes para o desenvolvimento da partida, pois
auxiliam na elaboração de questões. Como exemplo da utilização do jogo, podemos
demostrar as seguintes etapas de perguntas presentes na cartela e as respostas possíveis
ilustrando a dinâmica do jogo:
A) O jogador 1 faz a pergunta : “Possui asas membranosas?” E se o jogador 2
responder “não”, o jogador 1 vai abaixar todas as cartas das ordens que não
possuem asas membranosas.
B) Jogador 2: “Possui desenvolvimento holometábolo?” Se o Jogador 1
respoder “sim”, Então o jogador 2 abaixa todas as cartas que contém insetos
que não possuem desenvolvimento holometábolo, e assim o jogo prossegue.
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As regras do jogo foram produzidas a partir da leitura das regras do Jogo infantil
“Cara-a-cara” as quais foram modificadas e adaptadas para as Regras do jogo “Cara-acara dos insetos”. As regras ficaram da seguinte forma:
• O professor dará início ao jogo com o conjunto de dez cartas nas mãos e
distribuindo para cada jogador. Em seguida dividirá os jogadores em duplas ou
em grupos e assim cada jogador/grupo irá receber a quantidade especifica de
cartas e a lista de questões com as perguntas para serem feitas para o adversário.
Após a divisão de cartas, o professor irá anexar as cartas viradas para baixo,
sorteá-las e distribuí-las para cada grupo/jogador. Então a partida terá início com
o jogador fazendo as perguntas que estão em uma lista de questões tentando
adivinhar a ordem de insetos presente na cartela do “adversário”.
• As respostas só podem ser “sim” ou “não” e assim vice-versa com o outro
“adversário”.
• O jogador tem direito de fazer apenas uma pergunta por rodada e responder
corretamente, caso ao contrário não conseguirá marcar pontuação na rodada.
• Se o jogador tiver um palpite sobre a ordem do seu adversário, pode tentar
adivinhar a qualquer momento, porém se o palpite estiver errado, perderá a
partida.
• Se o jogador adivinhar corretamente em qualquer momento durante a partida ele
vence.
• O vencedor da partida será aquele que acertar a ordem certa do adversário.
• É importante que durante a partida cada jogador anote cada pergunta que foi
escolhida, observando a sequência e assim se acontecerem problemas no final da
partida, os jogadores vão conseguir identificar onde foi o erro.
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• Ao final do jogo, o professor deve conversar com os estudantes sobre dúvidas,
dificuldades e outros assuntos sobre o jogo.
Considerações finais
Neste trabalho, apresentamos a produção de um jogo que busca contribuir para o ensino
de classificação biológica no ensino de Ciências. Destacamos o valor da aprendizagem
dos modos de produção do conhecimento científico na escola, como parte da
desconstrução de uma visão mítica do empreendimento científico. Por sua vez, optar por
trabalhar com insetos apoia-se tanto por sua importância biológica e humana quanto
pela presença desses no mundo cotidiano, no qual inclui-se o mundo vivido pelos
alunos.
A adaptação de um jogo como o “Cara a cara” bastante divulgado há várias décadas
mostra-se um recurso produtivo que o professor pode utilizar, mobilizando experiências
cotidianas dos alunos para que vivenciem em situações de ensino. Considerando a
especificidade do conhecimento específico sobre os insetos e as características de suas
turmas, cabe ao professor fazer os ajustes que julgar necessários.
Referências
CARREIRA, M. Entomologia para você. São Paulo,Nobel:1980.
BARNES, R. Zoologia dos Invertebrados . São Paulo, Roca : 2005.
MENDONÇA , MORETTI & LOPES.
Cara a cara: reino animal. Instituo de
Biociências da USP. Disponível em: http://www.ib.usp.br/md/arquivos/regras.pdf
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