Dra.Márcia S.Sousa Chefe Centro Obstétrico Coord. Clínica Ginecológica HU-UFMA Introdução A hemorragia no terceiro trimestre da gestação é uma grave ameaça à saúde e vida do binômio materno-fetal Junto com hipertensão e infecção, as hemorragias são responsáveis pela maioria das mortes maternas Introdução As hemorragias da segunda metade da gravidez são menos freqüentes que as da primeira metade. Provavelmente devido a fixação já consolidada da placenta no útero As origens do sangramento são variadas, por isso as dificuldades de diagnóstico são freqüentes e o médico tem que conhecer todas as prováveis causas desta eventualidade patológica Causas Obstétricas Placenta prévia DPP Rotura de vasa prévia Rotura do seio marginal Rotura uterina Placenta circunvalada Vasa Prévia Seio Marginal da Placenta Imagem do seio marginal proeminente na margem lateral esquerda do esquema placentário do slide (mostrado em congresso). Fluxo venoso marginal dentro do espaço interviloso. Placenta Circunvalada Rotura Uterina Causas Não Obstétricas Sistêmicas : coagulopatias Cervicais : ectopia,erosão,pólipos,displasias,tumores benignos e malignos Vaginais : lacerações,vaginites,varizes,tumores benignos e malignos Causas Cervicais Ectopia Erosão Câncer Pólipo Concluímos então que... Existem muitas doenças que são acompanhadas de hemorragia, na segunda parte da gravidez, por isso o diagnóstico diferencial é laborioso e cheio de armadilhas Introdução Normalmente, a placenta insere-se no fundo uterino Às vezes, a inserção da placenta não é aquela esperada e ela pode inserir-se no segmento inferior – parcialmente ou totalmente “placenta mal inserida” ou “placenta praevia” – o nome provém do latim prae via – na frente Introdução Consiste na implantação da placenta no segmento uterino inferior, até 2cm do orifício interno do colo, que permanece após a 28ª semana gestacional Podendo ou não estar abaixo da apresentação fetal Incide em 0,5 a 1,5% das gestações, isto é, 1:200 nascimentos Classificação Completa ou total : a placenta oclui completamente o orifício cervical interno(OCI) Parcial : a placenta oclui parcialmente o OCI Marginal : a placenta atinge a borda do OCI ,mas não o ultrapassa Lateral : a placenta dista menos de 2cm do OCI , sem margeá-lo Fatores de Risco Idade materna avançada Multiparidade Cesárea anterior Curetagens uterinas Cirurgias uterinas Extração manual da placenta Gestação gemelar Tabagismo Patologias que deformam a cavidade uterina (malformação,miomatose) Miomatose e Gravidez Miomatose e Gravidez M F M PC Miomatose e Gravidez Miomatose e Gravidez Miomatose e Gravidez Diagnóstico Clínico Sangramento vaginal vermelho vivo, indolor, de início e cessar súbitos , caráter intermitente e progressivo,aumenta com as contrações Exame especular : visibilizar origem do sangramento Exame abdominal : bcf presentes , útero indolor , tônus uterino normal Diagnóstico Ultrassonográfico Exame de escolha para diagnóstico com acurácia de 95% Ideal é a avaliação por via transvaginal Freqüentemente fetais anômalas observam-se apresentações Sem a presença do sangramento, o diagnóstico ecográfico é feito com segurança após a 28ª semana gestacional O tratamento depende... da quantidade de sangramento uterino anormal da idade gestacional e conseqüente viabilidade do feto da quantidade de placenta sobre o colo uterino da posição do feto da paridade (número de nascimentos anteriores) da presença ou ausência do trabalho de parto Conduta de 24 a 34 semanas Dexametasona Dose : 24mg , fracionada 12mg IM 24 /24h ou 6mg IM 12/12h (2 dias) Repetir corticóide na vigência da resolução (antes de 34 semanas) se dose anterior aplicada há mais de 3 a 4 semanas Inibição da ameaça de Parto Prematuro : paciente hemodinamicamente estável, STV leve, feto prematuro extremo Conduta de 24 a 34 semanas Interrupção da gestação se : Há comprometimento da vitalidade fetal Sangramento profuso Maturidade fetal presente : pesquisar a partir de 35 semanas Trabalho de parto Parto preferencial : cesárea Conduta de 35 a 37 semanas Internamento até o parto Repouso Estabilização hemodinâmica Correção dos índices hematimétricos : manter hemoglobina > 10g/dl Avaliação da vitalidade fetal : CTG 2x semana ou diária se houver STV ativo Uso de corticóide Conduta ≥ 37 semanas Interrupção da gestação Cesárea Sangramento abundante Comprometimento da vitalidade fetal Placenta prévia total ou parcial Placenta marginal ou lateral com colo desfavorável Parto vaginal Sangramento discreto Feto com boa vitalidade Placenta marginal ou lateral com colo favorável Complicações Maternas Hemorragia, choque e morte Aumenta o potencial de infecção ou embolia (coágulos sangüíneos) Acretismo placentário Sangramento vaginal pós-parto Atonia uterina Complicações Fetais A prematuridade é a principal complicação (bebês com menos de 36 semanas de gestação) A perda de sangue fetal pode ocorrer por causa do descolamento da placenta durante o trabalho de parto Prognóstico O prognóstico materno é excelente quando as mães sob risco e que estão exibindo sinais e sintomas, são tratadas apropriadamente por meio da hospitalização e realização de cesárea A taxa de mortalidade infantil é de 15% a 20%, cerca de dez vezes mais do que nas gestações normais cesariana é o método de parto preferido, pois tem provado ser o fator mais importante na redução das taxas de mortalidade de mães e bebês Introdução É o descolamento da placenta antes da expulsão fetal OMS: DPP constitui-se no descolamento da placenta, normalmente implantada, no período da 20ª semana até antes do parto Placenta prévia é o principal diagnóstico diferencial da DPP Sinonímia Abruptio placentae Apoplexia útero-placentária Gestose hemorrágica Epidemiologia 0,5-1,5% das gestações > 20 semanas > 30% das hemorragias do 3º trimestre Etiologia (fatores de risco) HAS Crônica e DHEG Traumas Cordão curto Movimentação excessiva do feto Multiparidade Idade > 35anos Negras DPP em gestações anteriores Tabagismo e Alcoolismo Fisiopatologia Hemorragia decidual inicia o descolamento Hematoma retroplacentário Extravasamento de sangue e aumento do coágulo 20% dos casos: hematoma é contido no espaço retroplacentário = “hemorragia oculta” Sangue+Útero = irritação = hipercontratilidade Útero edemaciado, arroxeado = “Útero de Couvelaire” Grau variado de sofrimento até óbito fetal CIVD materna Fisiopatologia Ainda em 1911 Couvelaire demonstrou que o processo de descolamento da placenta é, de fato, uma vasodilatação dos capilares da placenta e do útero, com difusão sanguínea consecutiva “A tragédia acontece nos capilares” ficadica# de Couvelaire ;) As grávidas que sofrem descolamento de placenta normalmente inserida, provavelmente tem uma genética relacionada com a fragilidade capilar. As primeiras modificações são relacionadas com a hipertensão Sucessão das fases fisiopatológicas Fase I: O distúrbio circulatório consta num espasmo précapilar, com circulação baixa e fenômenos anóxicos ao nível dos capilares. Ocorre uma estagnação circulatória, dilatação e permeabilização sucessiva dos vasos, que permite a passagem de plasma e das hemácias Circulação Placentária Sucessão das fases fisiopatológicas Fase II: É a fase de descolamento propriamente dito, o miométrio sofre lesão irreversível. Por conta da anóxia, a fibra muscular trabalha em anaerobiose e a contração vai prolongar-se. A ritmicidade fisiológica acaba virando tonicidade – aparece o útero duro, consistência de madeira (útero “lenhoso”) Sucessão das fases fisiopatológicas Fase III: A intensidade e a extensão das lesões, podem causar, em alguns casos,eventos que podem por em perigo a vida da mãe: O estado de choque Distúrbios de coagulação Classificação do DPP Grau 1: Assintomático + exame USG revela hematoma Grau 2: Sinais clássicos de DPP: hipertonia uterina + sofrimento fetal + Sangramento vaginal leve ou moderado Grau 3: Sinais de choque hipovolêmico+ hipertonia uterina Morte fetal 3A: sem coagulopatia 3B: com coagulopatia Coagulopatia A coagulopatia pode advir do hiperconsumo local, na composição de extenso coágulo retroplacentário, exaurindo o organismo materno de fibrinogênio e de outros fatores de coagulação Outro mecanismo decorre da passagem de tromboplastina para a circulação materna, levando à coagulação intra-vascular disseminada Coágulo Retroplacentário Diagnóstico Diferencial Tratamento • Amniotomia: Realizá-la em feto morto ou ausência de risco de prolapso de cordão Descompressão do hematoma Redução da tromboplastina para circulação materna Melhor avaliação da perda de sangue e do líquido amniótico Tratamento Via de Parto: Cesariana de urgência Via vaginal quando o diagnóstico for feito já na expulsão – usar fórceps de alívio Feto morto: via vaginal (?) Histerectomia: ausência de contratilidade pós-parto (Útero de Couvelaire) Útero de Couverlaire Tratamento Coagulopatias: Plasma Fresco Congelado Plaquetas Choque Hipovolêmico: concentrado de hemácias Obrigada!