Boletim Econômico – Edição nº 87 – outubro de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira – Assessor econômico Os bancos públicos e o financiamento para a retomada do crescimento econômico 1 O papel dos bancos públicos para impulsionar o crédito e a infraestrutura do país Usados nos últimos anos para impulsionar o crédito a consumidores e empresas e financiar obras de infraestrutura, os bancos públicos estão no centro do debate durante e após as eleições presidenciais. A candidata reeleita, Dilma Rousseff (PT), aposta na emissão de dívida pública para capitalizar as instituições financeiras federais e na redução de juros liderada pelos bancos oficiais. Já a oposição, principalmente o PSDB defende as parcerias público-privadas e o maior envolvimento do mercado financeiro para ampliar o financiamento privado no país. Num cenário de baixo crescimento econômico, juros altos e inflação superando o limite da meta, os bancos públicos foram os principais responsáveis pelo avanço do crédito. Segundo o Banco Central, o volume de crédito das instituições financeiras oficiais representava 19,04% do PIB (Produto Interno Bruto) em março de 2011. Em setembro deste ano, o montante correspondia a 30,08% do PIB. O crédito dos bancos privados, no entanto, ficou praticamente estagnado, passando de 26,35% para 26,68% do PIB na mesma comparação. Parte do avanço dos bancos públicos foi obtida por meio da política de corte de juros nas linhas oficiais de crédito que entrou em vigor em 2012. A medida diminuiu o spread bancário – diferença entre as taxas cobradas do tomador final e as usadas para captar recursos –, mas a redução foi 2 compensada pelo aumento no volume de empréstimos e financiamentos desses bancos. A polêmica entre o governo e a oposição Outra política para alavancar o crédito dos bancos públicos foi a injeção de quase R$ 400 bilhões em títulos públicos para reforçar o capital dessas instituições, que vendem os papéis no mercado financeiro e aumentam o volume de recursos disponíveis para empréstimo. A maior parte, R$ 339 bilhões, foi destinada ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que financia o investimento de empresas privadas. Desse total, R$ 169 bilhões foram repassados desde 2011. Para o governo, a transferência de papéis do Tesouro aumenta o poder das linhas de crédito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que financia a compra de bens de capital (máquinas e equipamentos usados na produção), exportações e investimentos em inovação. Essa política, no entanto, é criticada pela oposição por aumentar a dívida bruta do Tesouro Nacional. No programa de governo, o PSDB considera que a emissão de títulos públicos para bancos oficiais pressiona os juros da economia para cima e põe em risco a administração da dívida pública interna. O texto expressa ainda preocupação com os critérios de concessão de empréstimos 3 oficiais, que podem beneficiar projetos políticos em vez de aumentar o crescimento da economia. Para continuar a financiar os investimentos, a oposição vai apostar no maior envolvimento dos bancos privados e do mercado de capitais no financiamento dos projetos. Os créditos subsidiados seriam concedidos somente a empreendimentos sem condições de serem financiados por recursos privados, mas que gerem benefício para a sociedade. No restante dos casos, as parcerias público-privadas e o mercado financeiro, por meio de títulos privados e de ações, forneceriam recursos para as obras de infraestrutura. A Presidente reeleita Dilma Rousseff defende a continuidade do fortalecimento dos bancos públicos. Em eventos de campanha recentes, a candidata afirmou que apenas os bancos públicos são capazes de fornecer recursos para infraestrutura, a casa própria e a agricultura familiar com longo prazo de carência e de pagamento. Ela considerou essencial a atuação da Caixa Econômica, do Banco do Brasil e do BNDES para manter o fluxo de financiamento para esses setores. De acordo com Dilma, os bancos privados têm importância na economia, mas atualmente somente os bancos públicos tornam viáveis, na velocidade necessária, os programas habitacionais e boa parte dos investimentos federais. Somente em obras de mobilidade urbana, ressaltou a candidata, as construtoras investiram R$ 143 bilhões nos últimos quatro anos por meio de créditos com juros subsidiados. 4 O papel dos bancos públicos na economia divide os especialistas. Muitos entendem que a redução de juros pelos bancos públicos pode, no médio e no longo prazo, pôr em risco a saúde financeira dessas instituições. Os bancos oficiais têm custos mais altos que os das instituições privadas. Eles não têm muita condição de reduzir a taxa de juros a não ser com sacrifício de solidez econômica. Em relação ao aporte de títulos públicos para o BNDES, o mecanismo traz riscos não apenas para a dívida pública, mas peca pela falta de transparência e de fiscalização dos projetos financiados. Os financiamentos com subsídio são protegidos pelo sigilo bancário. Sabese apenas para onde vai o dinheiro, mas não como ele é aplicado pelo tomador. Se uma empresa recebe dinheiro com subsídio, a sociedade deveria saber por que ela recebeu. Outros especialistas em mercado financeiro não enxergam outra saída para alavancar o crédito no país a não ser o reforço na participação dos bancos públicos. Se o papel dos bancos públicos for reduzido, o que pôr no lugar? Os bancos privados não emprestam em longo prazo no Brasil. É verdade que o nível de investimento na economia hoje está baixo, mas poderia estar pior não fosse a ação das instituições oficiais. Outro ponto importante é que se os bancos federais estivessem com alta inadimplência, essa política poderia ser questionada. Só que eles estão com níveis menores de inadimplência que os das instituições privadas, então não se tratam de erros na concessão de empréstimos. 5