Os limites da filosofia e a sua estetização em Friedrich

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V Seminá
inário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSC
Car
19 a 23 de outubro de 2009
OS LIMITES DA
A FILOSOFIA E A SUA ESTETIZAÇ
ÇÃO EM
FRIEDRICH SCHLEGEL
Thiago das
as Chagas Santos
Mestrado – Universid
rsidade Federal de
São C
Carlos (UFSCar)
dedallu
[email protected]
1 §. Num fragmento
nto de 1798, Schlegel expõe a seguinte idéia: “Para
“
a filosofia
crítica toda filosofia e po
poesia terão de ser combinadas”
141
. Nest
este fragmento se
entrecruzam inúmeras ques
uestões que nos permitem, em certa medida,
a, compreender o
lugar filosófico que Friedr
edrich Schlegel ocupa na constelação chamad
ada de Idealismo
Alemão, ao mesmo tempo
po que nos aclara os motivos da crítica ao sseu pensamento,
assim como a negação de su
sua participação nesta mesma constelação. A ppergunta sobre o
porquê de filosofia e poes
esia, para a filosofia crítica, devam se comb
mbinar nos leva a
investigação sobre a constru
trução de seu pensamento filosófico bem como
mo as tentativas de
solução aos problemas do Id
Idealismo alemão.
A problemática em
m torno da questão da aproximação entre fil
filosofia e poesia
pode ser pensada, em Schle
hlegel, por duas vias: primeiro por conta de um imperativo de
formação, em que a idéia
ia de unidade surge como necessidade para
ra a conquista do
homem completo, sendo ne
necessário a união de todas as formas da cult
ultura142; segundo,
por conta de um limite dda filosofia, o que levaria à uma aproxim
imação da poesia
procurando uma melhorr forma de expressão do absoluto. Para S
Schlegel, como
tentaremos mostrar aqui,, nã
não se trata de uma valorização da poesia em detrimento da
experiência filosófica, e nem mesmo o contrário, mas da busca por uma
ma harmonia, uma
unidade num mundo ondee a cultura se encontra estilhaçada143. Para Schle
hlegel o que já foi
feito enquanto ambas estava
avam separadas, já está acabado, é algo passado
ado, deve-se agora
unificá-las144. É este sentido
tido que vem expresso no famoso fragmento 11
116 da Athenäum,
onde se define a poesia rom
romântica como poesia universal progressiva
va, sendo que seu
141
PhL, IV, 232, KA XVII,
II, p. 214.
Como nota Claudio Cian
iancio, o que resta de Schlegel não é tanto uma elaboraç
ação e antecipação de
um novo sistema filosófico, e sim a reflexão filosófica da condição de dilaceração doo homem moderno, e
a consequência disto para a filoso
osofia. Friedrich Schlegel, crisi della filosofia e rivelaz
lazione, p. 14.
143
Geschichte der europ
opäischer Literatur. KA XI, p. 10. Apud. Ansgar
ar Maria Hoff, Das
Poetische der Philosophie, Bonn
onn, 2000, p. 20. “Eles estão inseparavelmente ligados,
os, uma árvore, cujas
raízes é a filosofia e o mais belo
lo fruto é a poesia. Poesia sem filosofia é vazia e super
erficial, filosofia sem
poesia permanece sem influência
cia e é barbarismo.”
144
Idéias, 108. Dialeto dos
os Fragmentos, p. 158.
142
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destino não é apenas reunir
nir os gêneros que se encontram separados daa ppoesia e colocála, a poesia, em contato com a filosofia e retórica:
Quer e ta
também deve ora mesclar, ora fundir poesia e prosa,, ge
genialidade e crítica,
poesia-dda-arte e poesia-de-natureza, tornar viva e sociável a ppoesia, e poéticas a
vida e a sociedade [...] E no entanto, é também a que mais pode
po oscilar, livre de
todo inte
nteresse real e ideal, no meio entre o exposto e aquele
le qque expõe, nas asas
da reflex
lexão poética, sempre de novo potenciando e multiplic
licando essa reflexão,
como um
uma série infinita de espelhos. [...] O gênero poético ro
romântico ainda está
em devir
vir; sua verdadeira essência é mesmo a de que só podee vir
v a ser, jamais ser
de mane
neira perfeita e acabada. [...] O gênero poético românti
ntico é o único que é
mais do que gênero e é, por assim dizer, a própria poesia
sia: pois, num certo
sentido,
o, toda poesia é ou deve ser romântica.145
Este fragmento, que
ue mais soa como um manifesto romântico, um programa, nos
dá uma medida exata de co
como a questão da unidade entre filosofia e poesia deve ser
abordada, assim como nos fornece, de modo sucinto, as temáticas
as que definem o
primeiro romantismo (Früh
rühromantik). A poesia romântica, parece as
assim, ser aquele
lugar catalisador, espaçoo dde unidade, de mescla, de fusão, ora mesc
esclar ora fundir,
tornando poéticas a vidaa e a sociedade, assim como lugar de red
redobro, espelhos,
potenciação da reflexão, e llugar de oscilação. Seu estado é o devir, dee nnão acabamento,
e isto toma sentido quando
do observamos que a produção de Schlegel nã
não passa de uma
série de projetos, fragmento
ntos e esboços.
Mas a unidade entre
tre a filosofia e a poesia, a fusão e a mescla,, nnão surge apenas
como imperativo de umaa manifesto artístico, mas tem seu fundame
mento numa clara
exigência filosófica, e umaa rápida olhada nas passagens onde tal unida
idade é tematizada
nos mostram uma aguda co
consciência da problemática do Idealismo e uuma tentativa de
solucioná-los146. Para Schl
chlegel tal exigência de unidade surge comoo imperativo que
decorre do Idealismo, e só com ele é possível. Ao olharmos para o di
diálogo Conversa
sobre a poesia veremos qu
que ali a unidade já é descrita como um cer
certo resultado do
Idealismo, assim como sóó ssendo possível nesta altura da história. Um
m dos expositores
no diálogo, Andréa, ao apr
apresentar sua comunicação sobre as épocass da arte poética
lembra que “poesia e filos
losofia, as mais elevadas forças do homem” podem agora se
145
Athenäum, 116, Op. cit
cit., p. 64-65.
Comentando uma destas
tas passagens, Rubens Rodrigues Torres aponta que só por conta disto “já
poderiam ser estudados pelo me
menos, como se vê, na qualidade de lúcidos coment
ntadores da filosofia
clássica alemã”, Novalis: o rom
omantismo estudioso, In. Novalis, Pólen,Fragmentos,, ddiálogos, monólogo,
p. 12. A passagem aludida porr R
Rubens se encontra numa carta (2 de dezembro) dee Schlegel
S
a Novalis,
onde se lê: “O principal mérito dde Kant e Fichte me parece o de que levam a filosofia
ia como que ao limiar
da religião e então a interrompe
pem”, KA, XXIV, p. 205. Apud. Marcio Suzuki, O gênio romântico,
Crítica e História da Filosofiaa eem Friedrich Schlegel, p. 152-153.
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engrenar “para se formarr e vivificar reciprocamente em eterna conflu
fluência”147. E um
pouco antes desta passagem
em, numa clara referência a Crítica da Razão Pura,
P
afirma:
A filoso
sofia conseguiu, em alguns poucos e ousados passos,
os, compreender a si
mesmaa e ao espírito do homem, em cujas profundezas descob
obriu a fonte primeva
da fantas
tasia e o ideal de beleza, podendo assim distinguir clar
laramente a poesia, a
48
cujas ess
essência e existência não havia até então se dedicado.148
A filosofia, que pode
p
ser lido aqui como o idealismo ttranscendental149
inaugurado por Kant, ao coolocar como meta demarcar os limites do con
conhecimento teve
que voltar sobre si mesma,
a, uma crítica da razão, uma crítica da filosof
sofia mesma, e só
assim pôde se compreender
der a si própria150, e pôde descobrir nas profund
undezas o ideal de
beleza e a fonte primeva dda fantasia, redescobrindo a poesia como exp
experiência que se
encontra no mais fundo do eu, e legitimando-a como lugar interessante
nte da experiência
humana. O Idealismo surg
urge como lugar de unidade, evento histórico
rico151 que parece
encontrar aquela unidade,
e, aquele ponto para onde tudo converge,
e, e fornecer um
elemento unificador da cultu
ultura.
“(...) idea
dealismo! Este surgiu exatamente do mesmo modo, como
co
que do nada, e
agora se constitui um ponto fixo também no mundo do espíri
írito, de onde a força
do home
mem pode se expandir para todos os lados em desenvol
volvimento crescente,
segura de nunca perder a si mesma ou ao caminho de volta.. A grande revolução
irá arreba
ebatar todas as artes e ciências. Vocês já a vêem atuand
ndo na física, onde o
idealismo
mo eclodiu na verdade mais cedo, por si mesmo, aind
inda antes de ter sido
tocado ppela varina mágica da filosofia. E este grande, prodi
odigioso evento pode
lhes serv
ervir, ao mesmo tempo, de indício sobre a secretaa ccoerência e íntima
unidadee de nossa época. O idealismo, que no aspecto prátic
ático nada é senão o
espíritoo ddesta revolução – suas grandes máximas, que devemos
os exercer e expandir
partindoo de sua própria força e liberdade – é no entanto, do po
ponto de vista teórico
– não importa
im
quão grande possa se mostrar também aqui –,, apenas uma parte,
um ramoo, uma modalidade de manifestação do fenômeno dee to
todos os fenômenos:
a humani
anidade lutando, com todas as forças, para encontrar seu
eu centro152
A história da human
anidade mostra-se como uma constante lutaa ppara encontrar o
centro, um elemento unifi
ificador onde tudo pudesse se convergir, e ppara Schlegel o
Idealismo é este evento hi
histórico para onde a história converge para
ra um centro e o
147
Conversa sobre a poesi
esia, p. 45.
Ibid., p. 45.
149
Em um de seus fragme
mentos (de 1806) presente nos Anos de aprendizadoo ffilosófico, Schlegel
escreve: "A dissolução da consc
sciência na poesia é necessário para um idealismo com
omo a divindade dos
elementos. <Idealismo é em si po
poesia>. PhL, KA XIX, 150, p. 172. Apud. Ansgar Maaria Hoff, op. cit., p.
21.
150
“O principio da crítica
ca deve ser se auto-críticar, para construir a si própria – <também a poesia
constitui a si mesma [...]” PhL,, IV
IV, 1182, KA XVIII, p. 294.
151
“Crítica – Poesia – Filo
ilosofia, evidência da sagrada tendência do alemão [...]
..] Livro simbólico de
toda formação”, PhL, IV, 1159,, pp. 292.
152
Conversa sobre a poesi
esia, p. 52.
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filósofo crítico o único cap
apaz de realizar esta unidade. O reconhecimen
ento dos avanços
destes novos tempos por pa
parte de Schlegel são evidentes, pois para elee o filósofo crítico
é aquele que tudo sabe, que possui unidade em seu saber, um saber per
perfeito e acabado
em si mesmo153.
Somente
nte o filósofo crítico pode conhecer corretamente a si m
mesmo no todo e por
partes.. Somente ele pode reunir em si mais esp
espírito de ciência
[Wissenc
enchaftsgeist] que Fichte e mais sentido artístico [Kunst
nstsinn] que Goethe. Do filóso
ósofo crítico se pode dizer tudo o que os estóicos afirma
mavam do sábio154.
O momento é opor
portuno155. A filosofia crítica oferece uma ppossibilidade de
unidade, e o filósofo crítico
tico pode realizar a união de ciência e arte, po
pois somente este
filósofo pode olhar para si mesmo, e conhecer a si mesmo, no todo e por partes. Ele
pode reunir filosofia (mais
is espírito de ciência que Fichte) e arte (mais
is sentido artístico
que Goethe)156. Esta unidad
ade nada mais é do que Bildung157, formaçãoo ddo homem como
um todo, processo e resultad
ltado.
A Poesia
esia e o Idealismo são os centros da arte e da formaçã
ção (Bildung) alemã,
todos o ssabem. Mas aquele que o sabe, freqüentemente nãoo consegue
c
se lembrar
de quee o sabe. Toda verdade mais alta é completamente
te trivial, e, por isso
mesmo,
o, nada é mais necessário do que expressá-la sempree m
mais uma vez, e, se
possível,
el, de maneira paradoxal, de modo que não nos esqu
queçamos de que ela
está ali,
li, e que nunca poderá ser completamente declarada.158
Se vislumbra a parti
rtir destes textos que, para Schlegel, a unidade
de é um resultado
(formação), que só se efe
fetiva na “época da crítica”, por isso o filó
ilósofo crítico ser
chamado de sábio, poiss hhomem completo, o exemplo de homem formado. Neste
153
PhL, Beilage II, 20, KA
A XVIII, p. 520.
PhL, II, 157, KA XIX,, p.
p 84. Apud. Suzuki, op. cit., p. 189.
155
Cf. Über die Unverst
rständlichkeit, KS II, p. 236:“Enquanto isso eu obser
servava com íntima
satisfação os progressos da nossa
ssa nação; e que poderia eu dizer desta nossa época?? E
Esta época, na qual
temos também nós a honra e viv
viver; época a qual, para dizer em uma palavra, merece
ece o modesto porém
significativo nome de época crític
ítica, pois logo tudo deverá se criticado, com exceçãoo da
d própria época em
si. Tudo se tornará cada vez m
mais crítico, e os artistas poderão nutrir a esperança
nça de que a própria
humanidade se eleve em massa e aprenda a ler.” Cabe lembrar aqui o fragmento 86 daa Lyceum onde se lê:
“O fim da crítica, se diz, é forma
rmar leitores ! - Quem quer ser formado, que se formee a si mesmo. Isso é
indelicado, mas não há como m
mudar.” Dialeto dos fragmentos, p. 33. Não deixa de ser interessante a
importância que Schlegel dá à leitura
le
como avanço trazido pela época crítica. Nestaa época
é
teremos mais
leitores, leitores que sabem ler,, is
isto é, críticos.
156
Lyceum, 115 : “Toda a história da poesia moderna é um comentário contínuo
nuo ao breve texto da
filosofia; toda arte deve se tornar
nar ciência e toda ciência, arte; poesia e filosofia devem
em ser unificadas. op.
cit., p. 38. Cf. Dennis Thouard
ard, Friedrich Schlegel entre histoire de la poésie
ie et critique de la
philosophie, In: Littérature, n.12
.120, 2000, p. 45-58, principalmente o trecho intitulado
do L'alliance poésiephilosophie.
157
Para Schlegel a Bildung
ng é uma unidade e somente ela pode evitar uma desa
esarmonia, o excesso.
PhL, Beilage, II, 13, KA XVIII,
I, pp. 518.
158
Über die Unverständlic
lichkeit, KS II, p. 237
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imperativo de unificação,, nneste lugar de unidade, poesia e filosofia rep
epartem entre si o
supremo território de tudoo qque há de sublime e grande no homem159.
Embora cada uma,
a, poesia
p
e filosofia, tenham direcionamento di
diversos, ocupem
uma parte do todo, a unid
nidade se dá no centro160, na unidade da humanidade.
hu
Para
Schlegel a unidade do hom
omem como um todo leva à harmonia das for
formas da cultura.
Neste sentido ele pode dizer
zer que é filósofo e também não é filósofo.
Constitu
ituição de toda humanidade, em contraposição ao filósofo.
fi
filósofo
fo e não sou filósofo.161
- Eu sou
A filosofia para Schl
chlegel não pode ser, assim, uma atividade desl
esligada da vida, e
devemos ler neste fragment
ento acima a definição de sua atividade filosófi
ófica, atividade do
homem inteiro, integral, po
por isso ele pode dizer que é filósofo e também
ém não é filósofo,
e falar da constituição dee ttoda humanidade, pois sua atividade como fi
filósofo não está
desligada de sua atividadee dde homem, e seu trabalho deve ser fruto de am
ambas as esferas,
sem isso, corre-se o risco de perder a positividade da vida162. A Bildung
ng, como lugar de
unidade e instrumento que
ue evita os excessos, conquista um lugar de destaque como
projeto do homem inteiro,, e isto, tanto o poeta quanto o filósofo, devem
m realizar.
Além da exigência
ia de unidade, de formação do homem inteiro
iro, a união entre
filosofia e poesia se devee também ao fato de ambas possuírem umaa ffraqueza, serem
insuficientes sozinhas. See a filosofia não deve existir separada, o todo
do da humanidade
em contrapartida do filósof
sofo163, a poesia também não pode caminhar so
sozinha, ambas se
complementam como quee ppara se potencializarem. O filósofo precisa
isa tanto do poeta,
quanto o poeta do filósofo.
fo. A filosofia se apresenta como insuficientee ppois não pode ir
até o pura e simplesmente
nte originário164, a completude de ambas pode
po fornecer ao
homem aquela experiência
cia que lhe é negada. Para Schlegel, ainda nnão há um claro
conceito de infinito, sendo
do que filosofia e poesia tentam combinar finit
nito e infinito, e a
159
Über die Philosophie.
ie. An Dorothea, p. 83. “Poesia e Filosofia são um todo indivisível,
eternamente vinculadas, ainda qu
que rara vezes juntas, igual a Castor e Pólux. Entre am
ambas se repartem o
supremo território de que há dee ggrande e sublime na humanidade. Mas no ponto centra
tral se encontram [...]
aqui, e no mais íntimo e mais sa
sagrado, o espírito está todo inteiro e poesia e filosofia
ofia são por completo
uma e mesma coisa e se acham uunidas.”
160
“As formas da filosofia
ia transcendental
t
são paralelismo e centralização”, PhL,
L, II, 294, KA XVIII,
p. 47.
161
PhL, II, 391. KA XVIII
III, p. 58. Ou como ele formula em seu curso de Filoso
sofia Transcendental:
produto de uma filosofia, de um
m ffilósofo e de sua vida. Transzendentalphilosophie,, KA
K XII, p. 78.
162
Para Körner, segundo Ciancio,
C
é esta a novidade filosófica que ele (Schlege
gel) tentou realizar, a
saber, uma filosofia inseparável
el da vida e da existência do filósofo e se configurando
ndo, sobretudo, como
sistema aberto. Claudio Ciancio,
o, op.cit., p. 10.
163
PhL, II, 391. KA XVIII,
II, p. 58.
164
PhL, IV, 650, KA XVIII
III, p. 248.
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poesia dá à matéria finitaa uuma forma infinita, a filosofia dá ao sujeito
to finito um objeto
infinito.165
Filosofia e poesia se potencializam e podem chegar ao lugar ond
onde elas sozinhas
não podem. Isto é possível
el pois a “poesia é a potência da poesia, a filo
ilosofia a potência
da poesia.”166. Se toda arte deva se tornar ciência e toda ciência arte,
te, isto é possível,
com vimos, com a filosofia
fia crítica, pois somente o filósofo crítico pod
ode conhecer a si
mesmo. Ao olhar para si mesma, a filosofia crítica descobre no ma
mais profundo do
homem a poesia, mas ain
ainda separada, e sua união com a filosofiaa ppassa a ser uma
exigência de unidade do ho
homem todo, da humanidade. A unidade, assi
ssim, é o supremo
acabamento da formação.
Neste sentido todos
dos os românticos são filósofos167, pois real
ealizam o projeto
crítico, na união entre po
poesia e filosofia, pois se dão conta que ci
ciência e arte se
interpenetram168. Schlegel
el acredita, assim, que na Crítica se chegaa ao
a momento da
formação completa, suprem
remo acabamento, e este acabamento se dá,, nnão pela via da
reflexão filosófica somente
nte, mas com a unidade total do homem com
como um todo. O
filósofo romântico, e enten
tenda-se também aqui o filósofo crítico, deve
ve ser não apenas
filósofo, mas também hom
mem, e isto significa trazer para a filosofia a positividade da
vida.
2. §. “Ali onde cessa
ce
a filosofia, a poesia tem de começar
ar [...]”169. Neste
fragmento de Schlegel se expressa que, além de uma exigência de
d um supremo
acabamento da formação do homem todo, a poesia torna-se importante
te a partir de uma
deficiência da filosofia, po
pois a filosofia possui limites, ela estanca em algum ponto e
neste ponto é que a necessi
ssidade da poesia se torna evidente. A poesia
ia nnão se torna um
remédio para todos os mal
ales da filosofia, mas se coloca como lugarr dde expressão de
uma experiência que a filo
ilosofia não pode alcançar por conta de seu m
método e de seus
objetivos. Manfred Frank ap
apresenta nestes termos esta questão:
Para diz
dizer alguma coisa determinada de forma que a m
manifestação desta
determin
inação se dissolva em indeterminação; para dizer algo
go como se não fosse
dizer ab
absolutamente nada é algo que só o poeta pode fazer
zer. Aqui, também, a
165
166
167
168
169
PhL, V, 138, KA XVIII,
III, p. 334.
FPL, 1027, KA XVI, p. 170. Apud. Ansgar Maria Hoffe, op. cit., p. 20,
PhL, II, 352, KA XVIII,
II, p. 54.
PhL, V, 712, KA XVIII,
III, p. 380.
Idéias, 48, op.cit., p. 150
50.
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filosofia
fia encontra o seu complemento, de fato, a sua conclus
lusão, na poesia. Em
nenhum
m lugar Schlegel determinou a função da arte mais
is claramente do que
numa liç
lição privada de 1807: "Deve ser levado a pensar, qu
que a necessidade de
poesiaa bbaseia-se na obrigação de apresentar o infinito, quee emerge a partir da
imperfei
feição da filosofia".170
Em seu curso de filosofia
fil
transcendental Schlegel afirma quee a filosofia tende
para o absoluto, a atividade
de filosófica visa o absoluto, e seus elementos
os são consciência
e infinito171.
Assim, a fi
filosofia tende para o absoluto, o infinito,
to, mas não pode
apresentá-lo, e de certa form
orma a poesia pode se aproximar mais, e aqui
ui reside o sentido
da completude. A poesia
ia pode ser a forma de expressão que a filo
ilosofia não pode
construir, e é neste itinerário
ário que podemos observar que a própria filosof
sofia deve também
se esteticizar172, e não apena
enas buscar um remédio na poesia pois,
A filoso
sofia 'estanca e tem de estancar' diante da vida, 'po
'pois a vida consiste
exatame
mente nisto, que não pode ser compreendida'. A vvida não pode ser
alcançad
ada por nenhum conceito. Diante desse 'inefável', a fi
filosofia deve deixar
de serr um
uma pálida visão esquemática, um produto artificial,
l, para
p
se tornar saber
efetivo,
o, uuma obra de arte.173
O que subjaz a este
te texto de Suzuki é a idéia de que para Schleg
legel a construção
filosófica é artificial e porr iisso deve ser devolvida à vida transformando
ndo-se em obra de
arte. A vida se apresenta co
como este não conhecido, o que não pode serr cconhecido, o que
não pode se compreendido
do e esgotado, e nenhum conceito pode dar con
onta disto, apenas
uma expressão alegórica,, qque é território da arte, pode se aproximar m
mais e mais deste
inefável de que fala Suzuki
uki. O que Schlegel quer mostrar aqui é a nece
ecessidade de uma
aproximação entre filosofia
fia e vida, filosofia como produto de um filós
ilósofo e sua vida,
uma completude, pois não
ão se pode definir e nem conceituar o univer
verso, mas apenas
intuir e revelar174. A expres
ressão alegórica da arte pode ser definida naqui
quilo que Manfred
Frank nomeou como o dize
izer algo como se não fosse dizer absolutament
ente nada ou dizer
algo determinado de form
rma que isto se dissolva em indeterminação
ão, ou seja, uma
aproximação que não esgot
ote ou tente definir conceitualmente, um jogoo dde aproximar-se
e distanciar-se. Schlegell ppode afirmar, assim, que toda beleza é al
alegórica e todo
170
Manfred Frank, The philosophical
ph
foundations of early german romanticis
icism, p. 218-219.
Transzendentalphiloso
osophie, KA XII, p. 04; 11.
172
PhL, II, 601, KA XVII
III, p. 79. “ Em uma crítica da filosofia, a filosofia dev
deve necessariamente
ser considerada arte.”
173
Suzuki, op. cit., p. 96.
174
Idéias, 150, op.cit., p.. 164.
1
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conhecimento é simbólico175
, pois do mais elevado, por ser inexprimí
imível, só se pode
falar alegoricamente176. Ne
Nestes termos que Victor-Pierre Stirnimann no
nota que,
Se o absoluto
abs
não pode ser representado em si mesmo, o pont
onto de enlace entre o
absoluto
uto e o finito é o quase-representável, podendo-se evocá
cá-lo à medida que se
apresent
ente como parcial e provisório, mero indicadorr dde uma presença,
continua
nuamente em processo de montagem e desmontagem177.
O infinito é tarefa
fa comum da arte e da filosofia, mas os meio
eio utilizados são
finitos, e ele é a essência ddo belo e da verdade, arte e filosofia se encon
contram aqui, pois
verdade e beleza são os fi
fins positivos para o artistas178, e isto també
bém se aplica ao
filósofo, pois o filósofo tam
ambém deve ser um artista; se o absoluto é ind
ndemonstrável em
si mesmo179, deve-se buscar
car uma outra forma de expressão e a beleza tor
torna-se meio pois
a experiência do belo é uma
um impressão total, o belo, na medida que é, um absoluto180.
Portanto, a filosofia está co
completa na arte, pois na beleza somos confron
rontados com uma
estrutura cujo significado nnão pode ser esgotado por nenhum pensamen
ento, desta forma,
a experiência da beleza, um
uma riqueza inesgotável, torna-se símbolo, se
segundo Manfred
Frank181, daquilo que na ref
reflexão é a irrecuperável fundação da unidade
de, aquilo que nos
escapa, é assim, pelo vié
viés da arte, que Schlegel pode defender uuma experiência
alegórica do infinito, que se define como uma experiência alegórica daa vverdade.
O alegó
górico é procedimento artístico, que extingue o finita
itamente apresentado
como aq
aquilo que não se entende, dirigindo nossa visão ppara o que não foi
aproveita
eitada por esta singular síntese. Alegoria (como pars pe
per toto para todas as
formass dde expressão artística) é, portanto, uma manifestação
ão necessária da não
apresent
entabilidade do infinito. Isso só pode acontecer poetic
eticamente. Poesia é,
nomeada
adamente, a expressão coletiva para aquilo quee é inexprimível, a
apresent
entação do não apresentado: o que, como tal, não podee ser apresentado em
qualquer
uer conceito especulativo182.
Não se deve portant
anto pensar que a poesia poderia, assim, subs
bstituir a filosofia
em certos temas, mas isto
sto é um pouco mais profundo e radical. Se tomarmos esta
questão em todas as suass cconsequências, veremos que isto leva Schleg
legel a redefinir o
próprio sentido de experiên
iência filosófica e de experiência crítica da ar
arte, pois tanto a
crítica artística quanto a filo
filosofia devem se modificar visando uma melh
elhor expressão do
175
176
177
178
179
180
181
182
Transzendentalphiloso
osophie, KA XII, p. 93.
Conversa sobre a poes
esia, p. 58.
Prefácio, Conversa sob
obre a poesia e outros fragmentos, p. 17.
PhL, V, 685, KA XVIII
III, p. 377.
PhL, Beilage, 71, KA XVIII,
X
p. 512.
PhL, II, 92, KA XVIII,
II, p. 26.
Manfred Frank, op.cit.,
it., p. 178.
Idem, p. 208.
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infinito, a arte deve ser enr
nriquecida pela filosofia e a filosofia enriquec
uecida pela arte, o
filósofo deve ser tanto artist
tista quanto o artista filósofo, e isto pois verdad
ade e beleza são a
mesma coisa, ou nas palavra
vras de Schlegel em seu curso de filosofia trans
anscendental:
Belezaa ccom consciência e realidade imaginária, é verdade.
e. Assim, verdade e
beleza sã
são uma coisa só; toda separação é somente relativa.. (I
(Isto é a essência do
183
Idealism
smo)
.
A forma da filosofia
fia e da arte passa a ser a de uma progressão in
infinita, que nada
mais é que a definição qu
que Schlegel dá à poesia romântica no famo
moso, e já citado,
fragmento 116 da Athenäum
äum, onde se diz que toda poesia é ou deve ser romântica, e se
Schlegel afirma que todos
os os românticos são filósofos o contrário ta
também pode ser
afirmado, pois o filósofo po
postulado por Schlegel é ou deve ser romântico
ico.
Ao postular uma progressão
pro
infinita Schlegel afirma que a experi
eriência humana é
incompleta184, e isto redund
nda numa incompletude do conhecimento, que nunca se torna
completo. Deste modo se
se torna claro a afirmação de que a arte
te e filosofia são
incompletas, pois se mostra
tra a impossibilidade de uma apresentação abso
bsoluta e completa
da verdade e da beleza.
Se o co
conhecimento do infinito é infinito em si, apenas,
as, portanto, sempre
incomple
pleto, imperfeito, mas ele também pode ser filosofiaa ddo que ciência que
não pode
ode nunca ser concluída, fechada e perfeita, que podee ssempre apenas lutar
por estes
stes grandes objetivos, e tentar todos os meios possíveis
eis para se aproximar
mais ee m
mais deles. É muito mais do que uma busca, ou um es
esforço no sentido de
uma ciên
iência do que em si uma ciência.185
Vai se delineando
do aquilo que os críticos contemporâneo
eos chamam de
antifundacionismo do prime
imeiro romantismo, pois ao postular uma exper
periência alegórica
da verdade, e isto devidoo eem partes à limitação do conhecimento hum
humano, ou o que
nomeamos aqui como limit
ites da filosofia, o pensamento de Schlegel va
vai de encontro às
filosofias que procuravam
m ffundações absolutas, ou um início absoluto
to para a filosofia,
para o conhecimento huma
mano. A primeira frase do curso de filosofiaa tr
transcendental é:
nós filosofamos – isto é um
m fato186, e este é o ponto de partida de Schleg
legel, que de início
nega um postulado absoluto
uto preferindo partir da constatação que filosofa
ofamos. Fica claro
que Schlegel pensa a filoso
osofia como uma atividade em curso de cons
nstrução do saber
absoluto, mas construçãoo que já é em si resultado, pois não há ppossibilidade de
183
184
185
186
Transzendentalphiloso
osophie, KA XII, p. 95.
“Pensa-se num finito cu
cultivado ao infinito, e pensará num homem”, Idéias, 98
98, op. cit., p. 157.
Philosophische Vorless
lessungen, Bd. I, p. 309.
Transzendentalphiloso
osophie, KA XII, p. 03.
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esgotabilidade, e sim sem
mpre aproximação, busca.
Esta progressão
ão infinita é uma
infinita aproximação, e esta
sta inconclusão do conhecimento não nos limit
mita ou impede de
fazer progressos, mas é ppor meio dela que é possível todo e qual
ualquer progresso
cognitivo, e assim, ao ultrap
trapassarmos a linha que demarca os limites do conhecido e do
desconhecido não estamoss pperdidos e jogados no reino do absurdo, mas
as estamos sempre
aqui e além dos limites.
A alegaç
ação (contra Schelling e Fichte) de que toda posição para
pa além dos limites
do conhe
nhecível é transcendente, contradiz ela mesma e traz toda
oda filosofia para um
fim. [...]
...] Não se pode determinar a fronteira se não estiver
er dentro e do outro
lado. Por
P isso, é impossível determinar os limites do con
conhecimento se não
podemos
os, de alguma forma, (embora não reconhecendo) ir além
al desses mesmos
18
limites187
.
Schlegel pode afirm
irmar, assim, que a filosofia resulta de doiss eelementos, quais
sejam: a consciência quee ttemos de nós mesmo como incompletude,
e, ou como seres
finitos, e o infinito que nos
os esforçamos por completar.
E agora
ra temos os dois elementos que uma filosofia pode dar;
r; a saber: consciência
e o infin
finito. Estes são como os dois pólos em torno do qual gira
gir toda filosofia188.
Assim sendo, paraa Schlegel
S
uma proposição teórica não podee sser o alicerce da
filosofia, pois ela só se torn
torna significativa através da práxis, nós filoso
sofamos. Este é o
sentido de prova alternante,
te, ou de conceito alternante em Schlegel, pois
Na base
se da filosofia deve repousar não só uma prova alternant
ante, mas também um
conceito
ito alternante. Pode-se a cada conceito e a cada prova pe
perguntar novamente
por um cconceito e sua prova. Daí a filosofia ter de começar,, co
como a poesia épica,
pelo me
meio, e é impossível recitá-la e contar parte por par
arte de modo que a
primeira
ira parte fique completamente fundamentada e clara par
ara si. Ela é um todo,
e o cami
minho para conhecê-la não é, portanto, uma linha reta,
ta, mas um círculo. O
todo da
da ciência fundamental deve ser derivado de duas idéias,
id
proposições,
conceito
itos [...], sem recurso a outra matéria189.
Este é o sentido doo ceticismo
c
romântico que, como nota Manfred
red Frank, está em
simpática relação com a fil
filosofia crítica na medida que não assume qu
qualquer princípio
garantido mediante evidên
ências que teria como resultado o fato de qu
que nossa falível
convicção seria certa. A ffalibilidade de nosso conhecimento podee sser interpretada,
187
188
189
PhL, Beilage II, 23, KA
A XVIII, p. 521.
Transzendentalphiloso
osophie, p. 05.
Philosophische Vorless
lessungen, Bd. II, p. 407.
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argumenta Frank, como aa não conclusão de nosso prévio estado do cconhecimento190.
Frank nota que Schlegell ddesenvolve uma alternativa para abordagen
gens, como as de
Reinhold e Fichte, que pro
rocuram desenvolver uma filosofia baseadaa em um único e
absoluto primeiro princípio
ípio, sendo que sua alternativa foi a de uma
ma alternância ou
princípio recíproco (Wechs
chselgrundsatz), ou uma prova alternante ouu prova recíproca
(Wechselerweis) que opera
eram no pensamento191. Ao dizer que a essên
sência da filosofia
consiste em uma ânsia pa
para o infinito192,
Schlegel rompe com as filosofias que
postulavam um primeiroo princípio, pois tenta demonstrar que o aacesso a ele é
impossível, já que o anseio
eio pelo infinito é necessário para a humanid
idade193. Schlegel
procura demonstrar que qu
qualquer conhecimento absoluto é impossível,
el, isto alimenta o
projeto filosófico e poético,
co, já que a ânsia pelo infinito é que movimen
enta a experiência
194
humana em geral. Neste sen
sentido que segue a crítica que Schlegel faz a Fichte
Fi
, pois
Filosofi
ofia <em sentido estrito> não tem nem um primeiro
ro princípio, nem um
objeto,, nem uma determinada tarefa. A Doutrina-da
da-Ciência tem um
determin
inado objeto (Eu e não-Eu e suas relações), um pr
princípio definido e
portanto
to uma determinada tarefa195.
Schlegel chega a conclusão
con
de que uma filosofia que pretende se
seguir um método
de dedução a partir de um
m pprincípio fundamental ou é impossível ou dis
dispensável, e seu
projeto, assim como o de No
Novalis196, sempre foi orientado contra tais fundações.
fun
É o que
podemos ver em uma de sua
suas lições
Nossa fi
filosofia não começa como os outros com um primeiro
iro princípio - quando
a primei
eira proposição é como o centro ou o primeiro anel dee um
u cometa - o resto
com um
ma longa cauda de neblina [...] a nosso centro reside no meio. A partir de
um impprovável e modesto começo [...] a nossa filosofia vvai desenvolver em
constant
nte progressão e tornar-se um reforço que vai até ao pon
onto mais elevado do
conhecim
cimento humano e mostra a amplitude e os lim
limites de todos os
conhecim
cimentos197.
A filosofia, para Schlegel,
S
começa no meio, como um poem
ema épico, sendo
impossível apresentá-lo e adicionar pedaço por pedaço, de modoo qque o primeiro
190
Manfred Frank, op.cit.,
it., p. 180.
Idem, p. 36.
192
PhL, V, 1168, KA XVII
VIII, p. 418.
193
PhL, V, 1200, KA XVII
VIII, p. 420.
194
“Em meu sistema o primeiro
pr
princípio é realmente um Wechselerweis (pro
prova alternada). Em
Fichte um postulado e uma propo
posição incondicionada. PhL, Beilage II, 22, KA XVIII
III, p. 521.
195
PhL, I, 36, KA XVIII,
I, p.
p 07.
196
“Toda pesquisa para o primeiro princípio é absurdo - é uma idéia regulador
dora.” Novalis, NS II,
472, p. 254, apud. Manfred Frank
ank, op.cit., p. 33.
197
Philosophische Vorless
lessungen, Bd. II, p. 08-09.
191
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pedaço seria em si mesmo
mo completamente fundamentado e explicado
do198, a forma da
filosofia não seria mais a dde uma linha reta, mas cíclica199, já que a ffilosofia sempre
começa no meio, como o po
poema épico200. O conhecimento é situado em
m uma progressão
infinita e não possui nenhum
huma segurança, nenhum fundamento absoluto
uto, é isto que está
impresso na afirmação dee qque toda verdade é relativa201, e esta progressã
ssão infinita que é
expressa na imagem de um circulo, ou de uma filosofia ciclica202. Nestes
Ne
termos que
nas lições de filosofia transc
nscendental é definida a filosofia
Isto seri
eria quase uma definição de filosofia. Mas só pode
demos fazer isto se
começar
çarmos a filosofar, não se seguirmos um guia (...)
...) a filosofia é um
conhecim
cimento do conhecimento, por isso sempre deverá have
ver um conhecimento
conjunto
nto. A filosofia é um experimento e todos aqueles que
ue quiserem filosofar
devem,, pportanto, sempre começar do início (Na filosofia não
ão é como nas demais
ciências,
as, em que se continua do lugar onde outros pararam
am. A filosofia é um
conjunto
nto acabado em si, e todo aquele que quiser filosofar dev
eve começar)203.
A consciência da relatividade,
re
de sermos finitos e aspirarmoss o infinito, toma
forma na ironia romântic
tica, que se refere ao infinito alegoricame
mente, expondo-o
provisoriamente e de modo
do incompleto, e isto também no fragmento, co
como parte, como
pedaço arrancado que entra
tra em comunicação com todas as outras formas
as, pois
Um frag
ragmento tem de ser como uma pequena obra de arte,, totalmente
t
separado
do mund
undo circundante e perfeito e acabado em si mesmo
mo como um porcoespinho204.
A filosofia é uma ati
atividade individual, e esta é a forma da filosof
sofia moderna, e é
neste esforço individual, de um filósofo e sua vida, como um fragment
nto perfeito em si
com os espinhos apontados
os para todos os lados, que se encontra o sentid
tido de sinfilosofia
ou simpoesia, o filosofar em conjunto, pois só assim, com a unidade e co
comunicação dos
esforços, que se pode aspira
pirar o todo, a completude. No último fragment
ento da Athenäum
(ou penúltimo), Schlegel faz o convite para aqueles que aspiram começa
çar a filosofar:
198
PhL, Beilage II, 16, KA
A XVIII, p. 518.
Athenäum, 43, op. cit.,
t., p. 53.
200
Idem, 84, p. 60.
201
Transzendentalphiloso
osophie, KA XII, p. 95.
202
Para Manfred Frank (p.
(p 177) é isto que o diferencia daquela constelação
ão que comumente é
chamada de filosofia idealista,, ppois de certa forma o idealista detém algum princípio
io absoluto, quer seja
no início ou no fim do sistema,, e que pode ser cientificamente acessível.
203
Transzendentalphilos
losophie, KA, XII, p. 03.
204
Athenäum, 206, op.cit.,
it., p. 82.
199
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Exprimi
mi algumas idéias que indicam o centro, saudei a auro
urora segundo minha
visão, a partir de meu ponto de vista. Quem conhece o cam
minho faça o mesmo
segundo
do sua visão, a partir de seu ponto de vista205.
A filosofia é umaa ddecisão individual, de uma vida, e cada qua
ual deve buscar o
caminho a partir de seu po
ponto de vista. A experiência da sinfilosofiaa oou da simpoesia
que Schlegel buscou constr
struir com seus contemporâneos, e que encon
ontra o mais belo
exemplo na revista Athenä
näum, nada mais é do que a tentativa de apro
proximar filosofia
individuais, encetar um diá
diálogo, em busca de um enriquecimento mútu
útuo, em busca de
uma completude.
Enfim, se anteriorm
rmente definíamos a aproximação de filosof
sofia e arte, para
Schlegel, por conta de um
m pproposito superior de formação, agora podem
demos deixar mais
claro que esta ligação se faz necessária por conta de uma crítica às filoso
osofia que buscam
um primeiro princípio, o qque nos levou a idéia de que existe uma imp
impossibilidade de
uma apresentação do infin
finito por meio de um conceito especulativo,
o, e este seria os
limites da filosofia. Se ante
ntes assinalamos que a filosofia deveria buscar
car uma revelação
positiva ao unir filosofia e vvida, agora podemos acenar que para Schlege
gel a apresentação
positiva se daria por meioo dda arte, através de uma expressão alegóricaa ddo absoluto. Isto
nos leva a perguntar em qu
que sentido esta crítica aos limites da filosofia
fia e aproximação
entre filosofia e poesia lev
leva Schlegel a postular um outro sentido par
para a experiência
filosófica. Mas isto é uma
ma reflexão que não cabe neste momento, o que queríamos
apresentar termina aqui.
205
Athenäum, 155, op.cit.,
it., p. 164.
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