Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro Campus Realengo – Curso de Bacharelado em Farmácia TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO BACHARELADO EM FARMÁCIA “FATORES ASSOCIADOS AO ABANDONO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE NO BRASIL” Aluna: Glasiele Siqueira Costa Orientadora: Profª Drª Débora Leandro Rama Gomes Rio de Janeiro, 23 de março de 2013. FATORES ASSOCIADOS AO ABANDONO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE NO BRASIL FACTORS ASSOCIATED WITH TUBERCULOSIS TREATMENT DROPOUT IN BRAZIL Glasiele Siqueira Costa1, Débora Leandro Rama Gomes1 1 Curso de Bacharelado em Farmácia – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) – Campus Realengo. E-mail: [email protected] COSTA&GOMES, 2013 Página 1 RESUMO A tuberculose (TB) é um dos principais problemas de saúde pública no Brasil, com números de incidência e mortalidade alarmantes. A adesão ao tratamento é o principal foco para a interrupção do ciclo de transmissão da doença, pois alcançando a cura não há fonte de contágio nem resistência bacteriana à terapia medicamentosa. Desta forma, este trabalho teve como objetivo analisar os fatores associados ao abandono do tratamento da tuberculose e apresentar a estratégia DOTS para estimular a adesão ao mesmo. As causas do abandono do tratamento da TB mostraram-se multifatoriais, podendo ser relacionadas, principalmente, aos serviços de saúde, ao processo do tratamento e ao paciente, sendo este último de mais difícil resolução. Finalmente, somente com a implantação de novas medidas de controle da doença, com avanços no desenvolvimento de novos fármacos e com a atenção integral pelos profissionais de saúde será possível diminuir o abandono do tratamento da TB não somente no Brasil, mas em todo o mundo. PALAVRAS-CHAVE: Tuberculose; Tratamento; Abandono. COSTA&GOMES, 2013 Página 2 ABSTRACT Tuberculosis (TB) is one of the major public health problems in Brazil, with alarming incidence and mortality numbers. Adherence to treatment is the main focus for the interruption of the disease transmission cycle ― since once the cure is achieved, there is no source of infection or bacterial resistance to drug therapy. Therefore, this work aimed to analyse the factors associated with TB treatment dropout and to present the DOTS strategy to stimulate the adherence to TB treatment. The causes of TB treatment dropout proved to be multifactorial and may be primarily related to health services, the process of treatment and the patient ― the latter one with more difficult resolution. Finally, only with the implementation of new TB control measures, with advances in the development of new drugs and with full attention by health professionals it will be possible to reduce the TB treatment dropout not only in Brazil but all around the world. KEYWORDS: Tuberculosis; Treatment; Dropout. COSTA&GOMES, 2013 Página 3 INTRODUÇÃO A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa causada pelo bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) Mycobacterium tuberculosis, também denominado bacilo de Koch (BK), sendo a principal espécie patogênica do gênero Mycobacterium. Ela é transmitida por inoculação, ingestão de alimentos contaminados ou inalação por via aérea de partículas infectantes suspensas no ar através de um indivíduo contaminado a outro sadio. O BK chega aos alvéolos pulmonares onde pode ser destruído na porta de entrada do organismo, graças à imunidade inata. Porém, também pode permanecer em estado de latência, nesse caso o hospedeiro não elimina a infecção, mas apenas a controla. Com isso, o micro-organismo permanece dormente, ou seja, se replica intermitentemente com seu metabolismo alterado gerando um grande reservatório de TB e por último é capaz ainda de se multiplicar, isso na sua forma ativa, podendo evoluir para outros órgãos. Portanto, essa doença é um grave problema de saúde pública em nível mundial (MENDES & FENSTERSEIFER, 2004). De acordo com estudos realizados pelo Ministério da Saúde, foram notificados 6,2 milhões de casos de TB no mundo em 2010 e o Brasil se encontra entre os 22 países responsáveis por 80% dos casos dessa doença (BRASIL, 2012). A taxa de incidência média da doença no Brasil foi de 38,6/100 mil habitantes em 2008 e de 37,2/100 mil habitantes em 2010 (WENDLING et al.., 2012). A taxa de abandono do tratamento é alta, cerca de 17% e a taxa de cura não ultrapassa 75% (CHIRINOS & MEIRELLES, 2011). Esses índices estão distantes da meta nacional proposta pelo Ministério da Saúde: 85% de cura e menos de 5% de abandono (PAIXÃO & GONTIJO, 2007). Esses números podem estar relacionados à condição de vida da população e, como qualquer outra doença infecciosa, a áreas de grandes concentrações populacionais. Também podem estar associados à miséria, desemprego, más condições de moradia e de alimentação, à falta de saneamento básico adequado, baixa escolaridade, ao abuso de álcool, tabaco e de algumas outras drogas, à coinfecção com o vírus HIV e ao abandono do tratamento. Portanto, a soma desses fatores facilita a proliferação da TB e sua prevalência (MENDES & FENSTERSEIFER, 2004; BRASIL, 2012). Segundo HECK et al. (2011), embora essa doença seja grave ― podendo levar à morte ―, ela é tratável (com quase 100% de cura) com medicamentos de baixo COSTA&GOMES, 2013 Página 4 custo e alta eficácia, quando em associações adequadas, na dose correta e por tempo suficiente. Além disso, a TB tem seu tratamento executado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo orientado pelas diretrizes do Plano Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), que é responsável pelas normas de prevenção, diagnóstico, tratamento e distribuição dos medicamentos, os quais são gratuitamente oferecidos a todos os pacientes devidamente registrados nas Unidades de Saúde (US). CAMPANI et al. (2011) e BRASIL (2012) acrescentam que, além do tratamento eficaz, o diagnóstico rápido e seguro, como a radiografia de tórax, a baciloscopia e a cultura de escarro, são medidas fundamentais para quebrar a cadeia de transmissão e controlar a doença. O esquema terapêutico para o tratamento da TB consiste na associação de várias drogas: Rifampicina (R), Isoniazida (H), Pirazinamida (Z), Etambutol (E), Levofloxacina (L), Terizidona (T), Estreptomicina (S) e Etionamida (Et). No Brasil, é padronizado adequando-se às características clínicas de cada indivíduo e histórico do tratamento anterior. É composto pelo Esquema I (2RHZE/4RH) para novos casos (exceto para a meningoencefálica), Esquema II (2RHZE/7RH) para casos de TB meningoencefálica e Esquema para Multirresistência (2S5ELZT/4S3ELZT/12ELT), tendo especificidades quando o tratamento é realizado em crianças menores de dez anos (BRASIL, 2010). Entretanto, mesmo com o tratamento acessível e quase totalmente eficaz, os números de casos e índices de mortalidade ainda são alarmantes. A baixa adesão e a interrupção do tratamento acarretam na resistência à terapia, diminuindo, assim, a eficácia da mesma e o controle da doença (PAIXÃO & GONTIJO, 2007). O abandono do tratamento da TB está associado a vários fatores, como aspectos relacionados aos serviços de saúde (atendimento e experiências do tratamento anterior, evidenciando a falta de comunicação entre os profissionais de saúde e o paciente), ao processo de tratamento da doença (realizado por um longo período, podendo causar efeitos adversos), aos aspectos sociodemográficos (relacionado a indivíduos com menor grau de escolaridade), ao uso de drogas, como o álcool, à coinfecção com outras doenças, mais especificamente pelo vírus HIV e o cuidado em saúde, fundamentando-se na relação entre o profissional de saúde e o paciente (CAMPANI et al., 2011). Assim, um dos principais focos no que diz respeito à TB é visar à redução das taxas de abandono do tratamento, já que a interrupção do mesmo leva a uma maior disseminação do bacilo, pois os doentes permanecem como fonte de contágio, além de contribuir para a COSTA&GOMES, 2013 Página 5 resistência adquirida da terapia, o que colabora para a dificuldade no processo de cura aumentando o tempo e custo do tratamento (CHIRINOS & MEIRELLES, 2011). Como estratégia mundial e com o objetivo de estimular a adesão ao tratamento e o uso correto da medicação, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou, em 1993, o Tratamento Diretamente Observado de Curta Duração, denominado DOT’S da sigla em inglês Directly Observed Therapy Short-Course, que inclui o Tratamento Supervisionado. Em 1998, essa estratégia foi oficializada no Brasil por intermédio do PNCT. O DOT’S continua sendo uma das principais estratégias para que se alcance a meta de cura de 85% dos casos de TB com o intuito de diminuir a taxa de abandono como preconizado pelo MS, evitar o surgimento de bacilos resistentes e possibilitar um efetivo controle da TB no país (VIEIRA e RIBEIRO, 2008; RODRIGUES et al., 2010). Ainda que o esquema de tratamento para a TB possua alta eficácia, a adesão ao tratamento é comprometida devido a grande quantidade de fármacos administrados, ao tempo de duração da terapia e a possibilidade de eventos adversos, o que acarreta em uma variação da efetividade da terapia de 55% a 85%. Desta forma, há a necessidade de pesquisa de novos fármacos (CEZAR, 2009). Além do mais BRANCO et al (2012) acrescenta que as novas moléculas antiTB devem ser ativas contra cepas multirresistentes (MDR-MT) e extensivamente resistentes (XDRMT) e ainda serem passíveis da utilização com drogas antirretrovirais em pacientes que possuam a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA, ou AIDS em inglês) ocasionadas pelo retrovírus da Imunodeficiência Humana (HIV, do inglês Human Immunodeficiency Virus). Desta forma, esse estudo teve como objetivo principal identificar e analisar os fatores associados ao abandono do tratamento da TB no Brasil. Adicionalmente, visouse apresentar a estratégia DOTS para a redução das taxas de abandono. Com isso, espera-se também contribuir para a adequação dos planos terapêuticos e criação de medidas eficientes para melhorar a adesão ao tratamento. A metodologia do presente estudo consistiu na pesquisa bibliográfica com levantamento de dados da literatura científica já existente no período de 2002 a 2012. A pesquisa foi realizada através de documentação indireta com busca no banco de dados do Pubmed, Periódicos CAPES, LILACS e do Scientific Electronic Library Online (Scielo), utilizando as seguintes palavras-chave com ou sem combinações COSTA&GOMES, 2013 Página 6 entre si: tuberculose, abandono e tratamento. Também foi realizada busca de estudos realizados pelo Ministério da Saúde em sites governamentais. A TUBERCULOSE A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa causada pelo bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) Mycobacterium tuberculosis, também denominado bacilo de Koch (BK), sendo a principal espécie patogênica do gênero Mycobacterium. As micobactérias são compostas por uma parede celular altamente lipídica contendo principalmente ácido micólico. São normalmente encontradas no solo ou na água, entretanto o homem infectado ou doente é o seu hospedeiro natural (ISEMAN, 2009). Possuem um tempo de multiplicação lento e embora sejam classificadas como Gram-positivas não são coradas pela coloração de Gram. Para serem coradas, utilizase geralmente a técnica de Ziehl-Neelsen e de Kinyoun, que consiste na utilização de fucsina, que confere coloração vermelha às micobactérias. Possuem a caracterísica de resistirem ao descoramento com solução de álcool-ácido, por isso são denominadas “bacilos álcool-ácido resistentes” (BAARs). A forte presença de ácido micólico é a responsável resistência à descoloração por álcool-ácido. Além disso, também confere resistência à ação de agentes químicos e antibióticos. De acordo com o MINISTÉRIO DA SAÚDE (BRASIL, 2004), a TB é transmitida através do ar, por gotículas contendo bacilos de individuo com TB pulmonar, tosse, espirro ou mesmo quando se fala em voz alta. Essa doença infecciosa atinge principalmente os pulmões, porém pode infectar qualquer outro órgão. Outra forma de transmissão é através da manipulação de lesões na pele ocasionadas pelo M. tuberculosis, através de aerossóis gerados pelo desbridamento dessas lesões ou na troca de curativos. Além disso, já foram descritas infecções através de manipulação tissular em autópsias (ISEMAN, 2009). SILVA & BOECHAT (2004) afirmaram que, após o contato com o M. tuberculosis, é possível ocorrer três desfechos: o controle do micro-organismo na porta de entrada (devido à imunidade inata), o estabelecimento da doença ativa e a TB latente. Nesse último caso, o organismo responde controlando a doença, porém não a elimina. Ocorre a alteração do metabolismo da micobactéria e sua replicação descontinuada, gerando um grande reservatório da doença (Figura 1). COSTA&GOMES, 2013 Página 7 Figura 1. Estágios de infecção por M. tuberculosis. Fonte: Adaptado de KOUL et al., 2012. O desenvolvimento da infecção após a inalação do bacilo e o surgimento do quadro clínico está associado à resposta imunológica do hospedeiro. É importante ressaltar que o bacilo não produz toxinas: a infecção gerada e o comprometimento tissular característicos da doença são causados pela própria resposta imunológica do doente ao micro-organismo. O início da infecção ocorre quando a micobactéria consegue ser fagocitada pelas células fagocíticas no interior do organismo. Sendo os macrófagos as primeiras células de defesa a serem infectadas e, uma vez dentro da célula, a micobactéria pode ser eliminada ― o que depende da quantidade inalada e da virulência do mesmo ― ou ela permanece dentro de um fagossoma, onde encontra um ambiente nutritivo para sua sobrevivência, sendo capaz de se replicar. Na verdade, a tática do bacilo consiste na sua capacidade de evitar que o fagossomo em que se encontra se funda ao lisossomo primário (ISEMAN, 2009). O BK consegue evitar a formação do fagolissomo através da inibição dos canais de Ca++ e do recrutamento e montagem de proteínas que medeiam a fusão. Essa resposta imune acontece devido à hipersensibilidade e gera uma destruição tecidual. Porém, durante o início da infecção primária em indivíduos que não COSTA&GOMES, 2013 Página 8 apresentam sensibilização, os bacilos se proliferam nos macrófagos dos alvéolos e nos espaços aéreos acarretando em uma bacteremia e semadura de múltiplos locais, nesse caso não há manifestações clínicas específicas, normalmente é brando, similar a uma gripe. Após 3 semanas de infecção, ocorre uma resposta, e assim os macrófagos se tornam bactericidas, isso ocorre em função de citocinas produzidas por outras células, como as células T que além disso elimina o Macrófago que não está sendo efetivo para que outros macrófagos possam ser eficazes para o controle da infecção. Em muitas pessoas essa resposta paralisa a infecção antes de se tornar significativa ou ocorrer uma destruição tecidual. Porém em casos de imunossupressão ou idade avançada há uma destruição tecidual pela cavitação e caseação. A reexposição aos bacilos procede a uma rápida resposta defensiva, porém com uma maior necrose tecidual (SILVA & BOECHAT, 2004; MCADAM e SHARP, 2010). O sistema imunológico consegue impedir que ocorra o desenvolvimento da infecção em 95% dos casos. Nos 5% restantes, o bacilo consegue alcançar o parênquima pulmonar ou linfonodos, onde se multiplicam acarretando em um quadro de TB primária. O quadro de TB pós-primária ocorre quando o indivíduo já apresenta uma imunidade desenvolvida através da recidiva da doença seja por uma reativação endógena ou por uma reinfecção exógena, sendo mais comum a forma pulmonar da doença. As manifestações clínicas mais comuns são febre baixa vespertina com sudorese, debilitação física, falta de apetite e perda de peso. Na forma pulmonar manifesta-se dor torácica, tosse seca inicialmente com posterior expectoração podendo acompanhar ou não escarro hemoptoicos (MCADAM, 2010). Os maiores números de casos de TB são na forma pulmonar, todavia há a possibilidade de se estabelecer um quadro de TB extrapulmonar, podendo coexistir com o anterior. Isso ocorre porque o bacilo pode infectar vários tecidos como o linfático, gastrointestinal, nervoso, ou mesmo o ósseo, e ainda há a disseminação generalizada chamada TB miliar, que é muito grave. A forma extrapulmonar ocorre principalmente em indivíduos imunossuprimidos, acometendo especialmente pacientes HIV-positivos, sendo essa coinfecção a principal causa de mortes em pacientes portadores deste vírus. Outro fato importante é o desenvolvimento de cepas multirresistentes (MDR-MT), quando o BK é resistente à isoniazida e rifampicina simultaneamente, ou extensivamente resistentes (XDR-MT), quando o BK é resistente a qualquer uma das fluoroquinolonas ou a uma ou mais de três drogas injetáveis de segunda linha (capreomicina, canamicina e amicacina), as quais possuem tratamento menos eficiente e com graves efeitos adversos (BRANCO et al., 2012). COSTA&GOMES, 2013 Página 9 Para a prevenção da doença, deve-se realizar o controle dos contatos, ou seja, pessoas próximas ao doente, principalmente na forma pulmonar. Todos devem comparecer ao serviço de saúde para realização de exames. Além disso, também se utiliza como prevenção a quimioprofilaxia e a vacinação BCG (BRASIL, 2002). Segundo PINEDA et al. (2004), a quimioprofilaxia é desempenhada pelo uso de isoniazida em pacientes não infectados pelo BK (quimioprofilaxia primária) ou mesmo para se evitar o desenvolvimento da doença em indivíduos infectados, a quimioprofilaxia secundária. A isoniazida é utilizada nesse caso já que é comprovado que diminui em 40 a 80% as chances de indivíduos infectados desenvolverem a doença. Já que a sua concentração sistêmica após 2-3 horas da administração é maior em até 90 vezes da concentração necessária para eliminação dos bacilos, assim ela possui poder bactericida relacionado a ação esterilizante. Cabe ressaltar que não há risco de resistência da bactéria já que ela está presente em um número reduzido nas lesões, não sendo tão significativo para que ocorra uma seleção dos mutantes naturalmente resistentes a essa droga (BRASIL, 2002). A quimioprofilaxia primária é indicada para recém-nascidos em contato com focos tuberculínicos ativos, não havendo a necessidade da vacinação. Após três meses, se faz a prova tuberculínica. Caso o resultado seja negativo, interrompe-se a administração de isoniazida e vacina-se a criança com BCG. Caso o resultado seja positivo, continua-se o uso por mais 3 ou 6 meses. Enquanto a quimioprofilaxia secundária é indicada para indivíduos já infectados, ou seja, com prova tuberculínica (PT) fortemente reativa, em adultos e adolescentes maiores de 10 anos, sendo necessário se atentar para a idade que é diretamente proporcional a hepatotoxidade. Em crianças em contato com casos bacilíferos, com PT maior que 5 mm e não vacinados com BCG, vacinadas há mais de dois anos e condição imunossupressora. Para PT maior que 10 mm em crianças vacinadas com BCG há menos de dois anos. A outra forma de prevenção é a vacinação com BCG, que é uma vacina atenuada indicada para crianças de 0 a 4 anos, sendo preferencial em crianças menores de 1 ano de idade, de acordo com a Portaria nº 452, de 6 de dezembro de 1976, do Ministério da Saúde. Ela não protege indivíduos previamente infectados pelo bacilo, apenas realiza a proteção contra as formas mais graves da doença, como a meningoencefalite tuberculosa e a TB miliar (BRASIL, 2011). COSTA&GOMES, 2013 Página 10 TRATAMENTO DA TUBERCULOSE A TB é uma doença curável em quase 100% dos casos novos, desde que o paciente realize o tratamento adequadamente, de acordo com a orientação médica. No Brasil, o tratamento é realizado através de esquemas terapêuticos de acordo com o caso clínico do doente. O PNCT é responsável pelas normas de prevenção, diagnóstico, tratamento e de distribuição dos medicamentos, que são gratuitos aos pacientes registrados e que possuam um acompanhamento clínico pelas Unidades de Saúde (CAMPOS, 2007). O tratamento adequado consiste em uma dose correta, por um tempo suficiente e com as associações adequadas, o que evita a resistência bacteriana e também propicia a cura do doente. No início do tratamento, já há uma redução da transmissibilidade da doença, que está presente desde os primeiros sintomas respiratórios. Há muito tempo, considerou-se que depois de 15 dias de tratamento o doente já não transmitiria mais a doença. Entretanto, atualmente se sabe que isso é somente quando o paciente não possui risco de resistência, nem história de tratamento anterior e ainda quando há melhora clínica (BRASIL, 2011). O tratamento da TB deve possuir três objetivos, de acordo com a localização do bacilo e seu desempenho metabólico. O primeiro é ter atividade bactericida precoce, já que eliminando o maior número possível de bacilos rapidamente diminuirá a transmissibilidade da doença no início do tratamento. Os medicamentos com maior atividade bactericida precoce são H, S e R. O segundo objetivo é ter aptidão para prevenir a emersão de bacilos resistentes, ou seja, cada população de BK tem proporção específica de resistência natural aos diferentes antimicobacterianos. Por isso, são utilizados esquemas terapêuticos com associações de vários fármacos antiTB, levando-se em conta que bactérias resistentes naturalmente a uma droga podem ser sensíveis a outra utilizada. E, por último, possuir atividade esterilizante, já que uma esterilização adequada evita que a doença reincida após o término do tratamento (BRASIL, 2011). CHAMBERS (2007) afirmou que as micobactérias são naturalmente resistentes aos fármacos por possuírem um lento crescimento em comparação ao de outras bactérias, o que torna fármacos antiTB ineficazes. Além disso, há micobactérias que podem estar em um estado de dormência, as quais ou são destruídas lentamente ou se tornam resistentes aos fármacos. Há também o fato de que são organismos COSTA&GOMES, 2013 Página 11 intracelulares, podendo sobreviver e persistir no interior de macrófagos, escapando do contato com o antimicrobiano. Outra barreira é a sua parede rica em lipídios, sendo muitas vezes impermeável a esses fármacos. Em 2009, devido ao aumento da resistência primária à isoniazida (de 4,4% para 6,0%) constatado pelo II Inquérito Nacional de Resistência aos Fármacos antiTB, realizado no período de 2007 a 2008, o PNCT reviu o esquema de tratamento anti-TB e foram realizadas mudanças. Uma delas é a introdução de um quarto fármaco, o etambutol no esquema básico na fase intensiva do tratamento (esquema 2RHZE/4RH2 primeiros meses). A outra é a adoção da associação dos quatro fármacos em dose fixa em apenas um comprimido para a fase do tratamento intensivo, tendo doses menores de pirazinamida e isoniazida (BRASIL, 2009; CONDE et al., 2009). Essas mudanças tem o intuito de aumentar a adesão ao tratamento, já que devido à mudança da apresentação farmacêutica, o número de comprimidos a serem ingeridos é menor, gerando uma maior comodidade ao paciente na administração. Devido ao acréscimo do quarto fármaco, a expectativa é que a efetividade do tratamento aumente, diminuindo a multirresistência bacilar, que é quando o paciente se torna resistente a dois ou mais fármacos (BRASIL, 2009). Essas recomendações são indicadas pela OMS e utilizadas por muitos países para adultos e adolescentes, porém para crianças (menor de 10 anos) continua o esquema RHZ. Uma mudança do Esquema consiste na anulação do Esquema I reforçado (2RHZE/4RHE) para retratamento e do Esquema III (3SZEEt/9EEt) para falência. Para retratamento da doença, será empregado o Esquema básico até o resultado dos exames de cultura, identificação e teste de sensibilidade. Casos de falência devem ser avaliados rigorosamente e então receberão o Esquema Padronizado para Multirresistência ou esquemas especiais individualizados, de acordo com o resultado do teste de sensibilidade realizado. O esquema básico é empregado em adultos e adolescentes (maior de 10 anos), para casos novos dessa faixa etária e está representado no Quadro 1. É indicado também para todas as formas de TB pulmonar e extrapulmonar (exceto a forma meningoencefálica), aos coinfectados ou não pelo vírus HIV; para o retratamento da doença independente do tempo decorrido ou para o retorno após a descontinuidade com doença ativa em adultos e adolescentes (BRASIL, 2011). COSTA&GOMES, 2013 Página 12 Quadro 1 - Esquema básico para tratamento da TB em adultos e adolescentes (maior que 10 anos). Regime Fármacos RHZE 2RHZE – fase intensiva Faixa de peso Unidade/dose/dia 20 a 35kg 2 comprimidos 36 a 50 kg 3 comprimidos Meses 150/75/400/275 comprimido em dose fixa combinada 2 >50Kg 4 comprimidos 1 comprimido ou 20 a 35kg cápsula de 300/200mg ou 2 comprimidos de 150/75* 1 comprimido ou RH cápsula de Comprimido ou 4 RH - fase de manutenção cápsula de 36 a 50 kg 300/200 300/200mg + 1 comprimido ou cápsula de ou de 150/100 ou 4 150/100mg ou 3 comprimidos de comprimidos de 150/75* 150/75* 2 comprimidos ou cápsulas de >50Kg 300/200mg ou 4 comprimidos de 150/75* OBS: *As apresentações em comprimidos de Rifampicina/isoniazida de 150/75mg estão substituindo as apresentações de R/H 300/200 e 150/100 e deverão ser adotadas tão logo estejam disponíveis. Fonte: Adaptado de BRASIL, 2011. COSTA&GOMES, 2013 Página 13 O esquema básico para crianças (2RHZ/4RH) possui as mesmas indicações que o esquema anterior, porém esse esquema só é realizado em crianças menores de 10 anos, como está representado no Quadro 2. O tratamento continua com os três medicamentos: Rifampicina, Isoniazida e Pirazinamida por dois meses e apenas Rifampicina e Isoniazida por mais 4 meses. O uso de Etambutol em crianças pode ocasionar uma neurite ótica, que é uma reação adversa relacionada a esse fármaco nessa faixa etária (CONDE et al., 2009). O esquema de tratamento para a forma meningoencefálica em adultos e adolescentes (Quadro 3) é indicado para casos novos ou retratamentos (maiores de 10 anos). Além de ser recomendado o uso juntamente com corticosteróide. Para essa forma de TB em crianças, é preconizado utilizar o esquema básico para crianças, prolongando-se a fase de manutenção (BRASIL, 2009; CONDE et al., 2009). Quadro 2 - Esquema básico para o tratamento da TB em crianças (<10 anos). PESO DO DOENTE FASES DO TRATAMENTO FÁRMACOS Até 20kg (mg/kg/dia) >21kg a >36kg a 35kg 45kg (mg/dia) (mg/dia) > 45kg (mg/dia) R 10 300 450 600 H 10 200 300 400 Z 35 1000 1500 2000 4 RH fase de R 10 300 450 600 manutenção H 10 200 300 400 2 RHZ fase de ataque Fonte: BRASIL, 2011. COSTA&GOMES, 2013 Página 14 Quadro 3 - Esquema para o tratamento da TB na forma meningoencefálica em adultos e adolescentes. Regime 2 RHZE fase Intensiva Fármacos Faixa de peso Unidade/dose RHZE 20kg a 35kg 2 comprimidos 36kg a 50kg 3 comprimidos 150/75/400/275 Meses comprimido em dose fixa 2 > 50kg 4 comprimidos combinada 1 comprimido ou cápsula 20kg a 35kg de 300/200mg ou 2 comprimidos de 150/75* 1 comprimido ou 7RH fase de manutenção RH cápsula Comprimido ou de 300/200mg + 1 cápsula de 300/200 ou de 36kg a 50kg comprimido ou cápsula 7 150/100 ou de 150/100mg ou 3 comprimidos comprimidos de de 150/75* 150/75* 2 comprimidos ou cápsulas de > 50kg 300/200mg ou 4 comprimidos de 150/75* Fonte: BRASIL, 2011. COSTA&GOMES, 2013 Página 15 Para a forma multirresistente (TBMR), é preconizado o esquema 2S5ELZT / 4S3ELZT / 12ELT, o qual S corresponde a estreptomicina, E ao etambutol, L ao levofloxacina, Z à pirazinamida e T à terizidona. Esse esquema (Quadro 4) é indicado para casos de resistência aos fármacos rifampicina e isoniazida, ou juntamente com outros de primeira linha, falência do esquema básico e por último por intolerância a dois ou mais fármacos. Esses fármacos podem gerar ainda reações adversas, o que compromete a adesão ao tratamento. Entretanto, a maioria dos pacientes chega ao fim do mesmo sem manifestar reação adversa relevante, nesse caso não há necessidade de descontinuar ou substituir o Esquema de tratamento, sendo classificada como reações adversas menores. Entretanto, há outra classificação que são as reações adversas maiores, as quais acarretam em interrupção da terapia AntiTB, correspondem de 3 a 8% dos casos e estão associadas a alguns fatores de risco como idade, dependência química ao álcool, desnutrição, doença hepática e coinfecção pelo vírus HIV (BRASIL, 2011). Os Quadros 5 e 6 apresentam as reações adversas relatadas de acordo com cada fármaco, segundo sua classificação em menores e maiores. SÁ et al. (2007) expuseram que os efeitos adversos menores acontecem em 5 a 20% dos casos, não tendo necessariamente realizar mudanças na terapêutica. Os efeitos maiores acontecem em 2 a 8% dos casos, acarretam em uma alteração ou interrupção do tratamento, e ainda demandam atendimentos especializado em Unidades de Referência para o tratamento da TB. Além disso, da conduta preconizada a fim de abolir essas reações, já que prejudica a adesão a terapia empregada. O Quadro 7 expõe o mecanismo de ação de cada fármaco sendo importante para a compreensão dos efeitos adversos relatados. Cabe ressaltar a importância da orientação ao paciente dos possíveis efeitos indesejáveis e o seu retorno ao serviço de saúde caso desenvolva algum para que sejam tomadas as medidas necessárias. COSTA&GOMES, 2013 Página 16 Quadro 4 - Esquema para o tratamento da TB na forma multirresistente. Regime Fármaco Faixa de peso Dose Até 20 kg 15 a 20 mg/kg/dia 21 a 35 500 mg/dia 36 a 50 750 a 1000 mg/dia >50 1.000 mg/dia Até 20 kg 20 a 25 mg/kg/dia 21 a 35 400 a 800 mg/dia 36 a 50 800 a 1200 mg/dia >50 1.200 mg/dia Até 20 kg 7,5 a 10 mg/kg/dia 21 a 35 250 a 500 mg/dia intensiva 36 a 50 500 a 750 mg/dia 1ª etapa >50 750 mg/dia Até 20 kg 35 mg/kg/dia 21 a 35 1000 mg/dia 36 a 50 1.500 mg/dia >50 1.500 mg/dia Até 20 kg 15 a 20 mg/kg/dia 21 a 35 500 mg /dia 36 a 50 750 mg/dia >50 750 a 1000 mg/dia Até 20 kg 15 a 20 mg/kg/dia 21 a 35 500 mg/dia 36 a 50 750 a 1000 mg/dia >50 1.000 mg/dia Estreptomicina Etambutol 2S5ELZT Fase Levofloxacina Meses 2 Pirazinamida Terizidona 4S3ELZT Fase Estreptomicina intensiva 2ª etapa 20 a 25 mg/kg/dia Etambutol Até 20 kg 400 a 800 mg/dia 21 a 35 800 a 1200 mg/dia 36 a 50 1.200 mg/dia >50 COSTA&GOMES, 2013 Página 17 4 7,5 a 10 mg/kg/dia Levofloxacina Até 20 kg 250 a 500 mg/dia 21 a 35 500 a 750 mg/dia 36 a 50 750 mg/dia >50 35 mg/kg/dia Pirazinamida Até 20 kg 1000 mg/dia 21 a 35 1.500 mg/dia 36 a 50 1.500 mg/dia >50 15 a 20 mg/kg/dia Terizidona Até 20 kg 500 mg /dia 21 a 35 750 mg/dia 36 a 50 750 a 1000 mg/dia >50 Etambutol 12ELT Fase de Levofloxacina manutenção Terizidona Até 20 kg 20 a 25 mg/kg/dia 21 a 35 400 a 800 mg/dia 36 a 50 800 a 1200 mg/dia >50 1.200 mg/dia Até 20 kg 7,5 a 10 mg/kg/dia 21 a 35 250 a 500 mg/dia 36 a 50 500 a 750 mg/dia >50 750 mg/dia Até 20 kg 15 a 20 mg/kg/dia 21 a 35 500 mg /dia 36 a 50 750 mg/dia >50 750 a 1000 mg/dia Fonte: Adaptado de Brasil, 2011. COSTA&GOMES, 2013 Página 18 12 Quadro 5 - Relação dos efeitos adversos menores associados ao fármacos AntiTB. Efeito adverso Provável(eis) fármaco(s) responsável(eis) Conduta Reformular o horário da administração da Rifampicina medicação (duas horas Náusea, vômito, dor Isoniazida após o café da manhã ou abdominal Pirazinamida com o café da Manhã); Etambutol considerar o uso de medicação sintomática; e avaliar a função hepática Suor/urina de cor avermelhada Prurido ou exantema leve Dor articular Neuropatia periférica Hiperurecemia sem sintomas Rifampicina Orientar Isoniazida Medicar com anti- Rifampicina histamínico Pirazinamida Isoniazida Isoniazida (comum) Etambutol(incomum) Pirazinamida Medicar com analgésicos ou antiinflamatórios não hormonais Medicar com piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50 mg/dia Orientar e dieta hipopurínica Orientar dieta hipopurínica Hiperuricemia com Pirazinamida artralgia Etambutol e medicar com alopurinol e colchicina, se necessário Cefaleia, ansiedade, euforia, insônia Isoniazida Orientar Fonte: BRASIL, 2011. COSTA&GOMES, 2013 Página 19 Quadro 6 - Relação dos efeitos adversos maiores associados aos fármacos AntiTB. Efeito adverso Provável(eis) fármaco(s) responsável(eis) Conduta Exantema ou hipersensibilidade De moderada a grave Rifampicina Isoniazida Pirazinamida Etambutol Estreptomicina Suspender o tratamento; reintroduzir os medicamentos um a um após a resolução do quadro; substituir o esquema nos casos reincidentes ou graves, por esquemas especiais sem a medicação causadora do efeito Psicose, crise convulsiva, Encefalopatia tóxica ou coma Isoniazida Suspender a isoniazida e reiniciar esquema Especial sem a referida medicação Neurite óptica Etambutol Hepatotoxicidade Pirazinamida Isoniazida Rifampicina Hipoacusia Vertigem, nistagmo Trombocitopenia, leucopenia, Eosinofilia, anemia hemolítica, Agranulocitose, vasculite Estreptomicina Suspender o etambutol e reiniciar esquema especial sem a referida medicação é dose-dependente, e quando detectada precocemente, reversível. Raramente desenvolve toxicidade ocular durante os dois primeiros meses com as doses recomendadas. Suspender o tratamento; aguardar a melhora dos sintomas e redução dos valores das enzimas hepáticas; reintroduzir um a um após avaliação da função hepática; considerar a continuidade do EB ou EE substituto, conforme o caso Suspender a estreptomicina e reiniciar esquema especial sem a referida medicação Rifampicina Suspender a rifampicina e reiniciar esquema especial sem a referida medicação Nefrite intersticial Rifampicina Suspender a rifampicina e reiniciar esquema especial sem a referida medicação Rabdomiólise com mioglobinúria E insuficiência renal Pirazinamida Suspender a pirazinamida e reiniciar esquema especial sem a referida medicação Fonte: BRASIL, 2011. COSTA&GOMES, 2013 Página 20 Quadro 7 - Mecanismo de ação dos fármacos AntiTB. Fármaco Mecanismo de ação A isoniazida age inibindo a síntese de ácido micólico, um componente essencial da parede celular do M. tuberculosis. É um pró-fármaco que necessita ser ativada pela enzima catalase/peroxidase (KatG) do M. tuberculosis, consequentemente a forma ativada constitui Isoniazida um complexo com duas outras proteínas que inibem a formação de ácido micólico da parede celular, causando a morte do bacilo. O mecanismo mais comum de resistência à isoniazida consiste em mutações na KatG, que diminuem sua atividade, impedindo a conversão do prófármaco em seu metabólito ativo. A rifampicina age inibindo a síntese de RNA. Ela inibe a transcrição gênica da micobactéria por se ligar a subunidade beta da RNA polimerase DNA dependente, o que impede a síntese de RNA Rifampicina mensageiro (RNAm) e consequentemente de proteína pelo bacilo também, produzindo morte celular. A resistência à rifampicina ocorre devido à mutação do gene rpoB, o gene da subunidade beta da RNA polimerase. A Pirazinamida é captada pelos macrófagos e age contra micobactérias que se encontram no ambiente ácido do lisossomo. É um pró-fármaco que necessita ser ativado pela enzima da bactéria pirazinamidase convertendo a ácido pirazinóico. O mecanismo de ação e o alvo da pirazinamida ainda é pouco conhecido. Supõe-se que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva, seja convertida em ácido pirazinoico pela pirazinamidase e atinja altas concentrações no Pirazinamida citoplasma bacteriano em virtude de um ineficiente sistema de efluxo. O acúmulo de ácido pirazinoico diminui o pH intracelular a níveis que causam a inativação de enzimas, como a ácido graxo sintase I, fundamental para a síntese dos ácidos graxos e, em consequência, prejudicando a biossíntese do ácido micólico. A resistência à pirazinamida decorre de mutações no gene pncA, que codifica a enzima pirazinamidase e impede a conversão da pirazinamida para a forma ativa. COSTA&GOMES, 2013 Página 21 O etambutol inibe as arabinosiltransferases micobacterianas, codificadas pelo operon embCAB que estão envolvidas na reação de Etambutol polimerização de arabinoglicano, componente essencial da parede celular da micobactéria. A resistência ao etambutol desenvolve-se de maneira lenta e provavelmente acontece por mutação do gene embB. É um inibidor irreversível da síntese proteica. Porém, não se conhece o mecanismo exato. Primeiramente ocorre a entrada do fármaco pela Estreptomicina membrana. Dentro da célula ocorrem ligações a proteínas específicas da subunidade S12 dos ribossomos e assim impedem a síntese proteica. A resistência ocorre por mutação do gene que codifica o gene da proteína ribossômica S12. Fonte: Katzung, 2007 capítulo 27, p. 697-701. NOVAS PERSPECTIVAS PARA O TRATAMENTO DA TB A resistência ao tratamento da TB está crescendo gradativamente em países desenvolvidos e em pacientes HIV positivos, principalmente. O bacilo possui uma frequência de mutantes naturalmente resistentes principalmente à isoniazida e rifampicina ou ambas simultaneamente. Essa resistência ocorre devido a mutações genéticas sendo naturais em populações do bacilo, devido também a quimioterapia inadequada, prescrições incorretas e falta de medicamentos tuberculostáticos, acarretando em uma seleção de cepas resistentes (SOUZA et al., 2006). Diante disso, há a necessidade de novas drogas para combater a TB que tenham uma menor duração de tratamento, que sejam eficazes para cepas multirresistente, mais simples com a diminuição do número de comprimidos, com uma dose de menor frequência e que possam ser administrados com o mínimo possível de interações medicamentosas e eventos adversos (CEZAR et al., 2009). O pouco interesse de indústrias farmacêticas para o desenvolvimento de novos fármacos, já que os fármacos empregados para o tratamento da TB atualmente foram descobertos há décadas, se explica devido a essa doença acometer principalmente países subdesenvolvidos, o que não gera um retorno lucrativo satisfatório à pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas, entretanto devido à coinfecção com o HIV e ao COSTA&GOMES, 2013 Página 22 surgimento de cepas resistentes a TB também passou a acometer indivíduos em todo o mundo inclusive em países desenvolvidos (BRANCO et al., 2012). No estudo de VILLEMAGNE et al. (2012), foi realizada uma revisão dos últimos 10 anos de fármacos novos em estudo clínico para o tratamento da TB (Figura 2). Na fase III, dos ensaios clínicos estão as fluoroquinolonas gatifloxacina e moxifloxacina, as quais são comercializadas desde 1999 para o tratamento de infecções do trato respiratório. O mecanismo é que as fluoroquinolonas atingem especificamente a topoisomerase II do DNA girase das micobactérias e possuem melhor atividade in vitro em comparação às antigas fluoroquinolonas ciprofloxacina e ofloxacina. O objetivo destes estudos é avaliar a eficácia e segurança da gatifloxacina e moxifloxacina e a possibilidade de reduzir o tempo de tratamento da TB de seis para quatro meses. Na fase II, está a TMC207 é uma diarilquinolina pertencente a uma nova classe de drogas antiTB, possui como mecanismo de ação a inibição do ATP sintase da micobactéria. Em testes de fase II em pacientes MDR-MT mostrou-se eficiente tanto na expectoração do muco como na conversão da cultura em comparação com o placebo, na fase 3 serão realizados teste para avaliar eficácia em pacientes XDR-MT. Ainda na fase II da classe do Nitroimidazol está o Metronidazol comercializado para tratamento de protozoários e infecção por bactérias anaeróbicas, por isso é testada preferencialmente em cepas de MT não-replicante, porém em 1999 em testes in vitro e in vivo foram observadas pouca atividade tanto quando administrado sozinho ou em combinação com a isoniazida. Atualmente, está sendo explorado o impacto do acréscimo dele no regime farmacológico de segunda linha (VILLEMAGNE et al., 2012). Outro fármaco nessa fase é o PA824, que é um nitroimidazol de segunda geração. Essa classe mantém sua característica antimicobacteriana mesmo em condições de anaerobiose, o mecanismo de ação da PA-824 começa com a ativação e geração de espécies reativas que atacam alvos ligados à biossíntese de lipídeos da parede celular e de proteínas do bacilo. In vitro apresentou elevada atividade contra cepas da MT sensíveis e resistentes, in vivo mostrou eficácia comparável a isoniazida porém com menor toxicidade e apresentou efeito sinérgico com outros fármacos antiTB de primeira escolha, entretanto isoladamente apresentou resultados inferiores comparado ao fármacos antiTB padrão (BRANCO et al., 2012). COSTA&GOMES, 2013 Página 23 Figura 2. Compostos AntiTB em desenvolvimento e seus alvos. Fonte: VILLEMAGNE et al. (2012). COSTA&GOMES, 2013 Página 24 O próximo fármaco é o OPC67683, conhecido como delamanina também pertence à nova geração de nitroimidazóis tem o seu mecanismo de ação similar ao anterior. In vitro ela apresentou alta atividade antimicobacteriana tanto em cepas resistentes quanto sensíveis aos fármacos de primeira escolha. Apresentou maior potência em comparação a isoniazida, rifampicina e PA824 além de ter sido observado excelente atividade em modelo intracelular. In vivo observou-se que a atividade foi mantida em ratos imunodeprimidos, o que aliado a não inibição de enzimas do citocromo P450 para tratamento de coinfectados por HIV, o que é vantajoso, já que fármacos antirretrovirais são metabolizados por essas enzimas. Atualmente a delamanida, é a molécula nova em estágio mais avançado de desenvolvimento para o tratamento antiTB (VILLEMAGNE et al., 2012). A SQ109 foi descoberta a partir da etilenodiamina e é ligada Ao grupo geranila e adamantila. Seu mecanismo de ação não está completamente elucidado: o que se parece é que ele está envolvido na inibição da biossíntese da parede celular. Apresentou elevada atividade in vitro contra cepas sensíveis e resistentes aos fármacos de primeira escolha, tem sua ação quatro vezes maior que a do Etambutol e comparável a isoniazida. In vivo curou camundongos infectados com uma concentração 100 vezes menos que a do Etambutol. Atualmente encontra-se em outros testes de segunda fase para avaliar a atividade em adultos com TB com baciloscopia pulmonar positiva (BRANCO et al., 2012). Outro fármaco nessa fase ainda é a linezolida da classe das oxazolidinonas. Ele é utilizado para o tratamento de patógenos Gram-positivos por infecções de pele, tecidos moles, pneumonia e bacteremia. Tem como mecanismo de ação a ligação a subunidade 23S ribossomal e assim limita o crescimento das bactérias pela inibição da síntese de proteínas logo no início da produção. Apresentou importante atividade antimicobacteriana in vitro e in vivo, porém efeitos adversos severos, como mielossupressão e neuropatia ótica e periférica, comprometeram a sua segurança no tratamento antiTB, o qual compreende, um longo período de exposição ao quimioterápico. Ela é utilizada como off-label e como agente de terceira linha em regimes combinados para tratar a MDR-MT ou XDR-MT (VILLEMAGNE et al., 2012). Sendo assim, foi realizada a obtenção da sutezolida a partir da estrutura da linezolida, a OPC 100480, buscando-se manter a atividade e diminuir a toxicidade da linezolida. In vitro a sutezolida tem potência comparável à isoniazida, possui atividade 4 vezes maior que a linezolida e apresentou atividade em cepas resistentes ao fármacos COSTA&GOMES, 2013 Página 25 antiTB de primeira escolha. Atualmente, está em fase de recrutamento para testes clínicos da fase II (BRANCO et al., 2012). Na fase I, está o AZD5847, derivado da oxazolidinona, tendo sido aprovado para os testes de segunda fase, quando serão realizadas as comparações com o Esquema Padrão de tratamento. Em fase pré-clínica está o DC-159a, pertecente a classe das fluoroquinolonas, o seu mecanismo de ação ainda está sob investigação, o que se sugere é que ele provavelmente afeta a replicação do DNA. In vitro e in vivo mostrou atividade contra cepas de micobactérias multirresistentes a quinolonas (QRMDR-MT) Por isso, tem sido proposto que o DC-159a podem ser um medicamento para o tratamento de substituição de casos MDR-QR. Atualmente encontra-se em estudos pré-clínicos adicionais. Mais um fármaco nesse caso é o SQ609, que é um derivado da diamina. In vivo foi capaz de inibir o crescimento bacteriano em 90% sem apresentar efeitos tóxicos. Está ainda em avaliação nos ensaios pré-clínicos (VILLEMAGNE et al., 2012). Já o BTZ043, pertencente a uma nova classe de compostos heterocíclicos contendo enxofre, chamado de benzotiazinona (BTZ), foi recentemente descrito como potentes agentes antimicobacterianos, apresentando in vitro uma inibição do crescimento micobacteriano que é explicada devido à presença de um ou dois grupos nitro na estrutura aromática e a presença do enxofre. Este fármaco apresenta como mecanismo duas abordagens, a inibição da síntese da parede celular, já que possui como alvo a enzima responsável por catalisar a reação de epimerização do precursor para a síntese da parede, e por ser um pro-fármaco é reduzido pela própria micobactéria se convertendo a um derivado nitroso que se liga covalentemente a esta enzima. Atualmente ainda está sendo avaliada em estudos pré-clínicos (BRANCO et al., 2012). Tem-se também como perspectiva para o tratamento de TB o DNB1, análogo do dinitrobenzamida, altamente eficaz conta cepas sensíveis e extensivamente resistentes. Apresenta o mesmo mecanismo do anterior, e ainda encontra-se em desenvolvimento. E por último o fármaco BDM31343, derivado do oxadiazol, vem sendo desenvolvido para inibir o mecanismo de resistência do bacilo ao fármaco de segunda linha etionamida, inibindo o repressor transcricional EthR que limita a expressão de EthA, expresso pela micobactéria, que ativa a etionamida. Também ainda está em estudos pré-clínicos (VILLEMAGNE et al., 2012). COSTA&GOMES, 2013 Página 26 O ABANDONO DO TRATAMENTO CONTRA A TB Sabe-se que a TB é um grave problema de saúde pública a nível mundial que permanece principalmente devido à má administração de programas de controle da TB, más condições de vida, ao aumento da população, migração e a prevalência de casos de HIV. (VENDRAMINI et al., 2007). De acordo com PINHEIRO et al. (2012), o Brasil em 2009 apresentou uma taxa de incidência da doença de 38 casos novos para cada 100 mil habitantes e taxa de mortalidade de 2,5 a cada 100 mil habitantes. O Rio de Janeiro é o estado com as maiores taxas do país, tendo taxas de incidência e mortalidade respectivamente 73,8 a cada 100 mil habitantes e 5,4 a cada 100 mil habitantes. Tendo as mesmas justificativas apresentadas pelos autores anteriores para esses índices elevados. Um dos principais desafios para o sistema de saúde brasileiro no que tange à TB é o abandono do tratamento, que acarreta em um aumento do estágio infeccioso da doença, elevando chances de transmissibilidade. Além disso, há a possibilidade de desenvolver bacilos multirresistentes, que ocorre quando a bactéria se torna resistente à rifampicina e isoniazida ou a uma terceira droga, que fazem parte do esquema terapêutico da TB. Portanto, é de suma importância o conhecimento dos fatores que culminam no abandono do tratamento impedindo a adesão à terapia (ALVES et al., 2012). O abandono do tratamento contra TB é considerado pelo MS quando o paciente não comparece a Unidade de Saúde após trinta dias da data aprazada para seu retorno (RODRIGUES et al., 2010). Para CORTEZI & SILVA (2006), é necessário, antes de ser declarado como abandono, que se realize uma procura do paciente por visita domiciliar ou através de um contato por telefone. O abandono do tratamento se encontra em vários níveis, que vão desde a desistência ou da administração irregular das drogas até a interrupção do tratamento, não realizando até o fim a terapia empregada. Normalmente, as causas relacionadas ao abandono estão associadas com o paciente, ao processo do tratamento empregado e aos serviços de saúde (FERREIRA et al., 2005). No estudo de ROCHA & ADORNO (2012) foi afirmado que as taxas de abandono estão muito superiores às preconizadas pelo MS, que é de 5%, pois no Brasil, em 2009 a taxa de abandono foi de 9,1%. Em estudos de CAMPANI e COSTA&GOMES, 2013 Página 27 colaboradores (2011), esses índices continuam altos variando de 8 a 17%. Este trabalho relatou ainda que o abandono ocorre mais frequentemente nos primeiros três meses do tratamento e em sua maioria são indivíduos do gênero masculino que tem a maior predominância ― em consonância com CHIRINOS & MEIRELLES (2011) que descreveram que a faixa etária predominante está entre 30 a 39 anos. FERRACIO e colaboradores (2007) também descreveram um maior percentual de abandono no início de tratamento, argumentando que nos primeiros dias da terapia o paciente se sente bem, obtendo um ganho de peso, o que aumenta a probabilidade do abandono. Assim, enfatiza a importância da adesão à terapia durante todo o tempo do tratamento, que tem duração de no mínimo 6 meses. Há uma diferença significativa do abandono entre o tratamento supervisionado (TS) e o autoadministrado, já que o primeiro é realizado com o acompanhamento da ingestão das doses da medicação, e assim há a possibilidade de correção imediata caso haja um abandono no início. Quanto ao tratamento não supervisionado o abandono só é constatado quando o paciente não comparece para retirar sua medicação, falta à consulta médica ou então quando ele próprio relata não estar fazendo uso das medicações, o que conduz a uma demora na intervenção pelos profissionais da equipe de saúde. Estatisticamente indivíduos não supervisionados abandonaram 2,41 vezes mais o tratamento (CHIRINOS & MEIRELLES, 2011). Mesmo a TB tendo o seu tratamento oferecido gratuitamente e sendo altamente eficaz, não há notoriedade do sucesso da terapia, devido ao uso irregular e ao abandono (CAMPANI et al., 2011). De acordo com ALVES et al. (2012), essa não adesão acentua-se quando não se baseia em um acompanhamento integral tanto na perspectiva dos principios do SUS, como a que considera o doente em sua singularidade, pelas ações de controle da doença. Acredita-se que o desempenho dessas ações pelas Unidades de Saúde da Família (USF) tenha intensa associação com fatores preditivos do abandono do tratamento. FILHO e colaboradores (2012) ressaltaram ainda que as políticas públicas possuem o desafio de prover a adesão à terapêutica e, para isso, é necessário que sejam disponibilizadas informações a respeito da doença, realizadas melhorias socioeconômicas e educacionais, estabelecido o vínculo familiar e de profissionais de saúde e proposição de um cuidado integral visando à adesão e consequente diminuição das taxas de abandono. COSTA&GOMES, 2013 Página 28 FATORES ASSOCIADOS AO ABANDONO DO TRATAMENTO DA TB O abandono do tratamento da TB está relacionado a diversos fatores que se associam a aspectos do próprio paciente, de serviços de saúde e ao processo do tratamento da doença. A fim de realizar a análise de todos esses fatores, foi necessário relacioná-los por autor (Quadro 8). Muitos autores relataram uma diversidade de causas, em seus estudos, para o abandono do tratamento, que podem estar atreladas ao local ou ao grupo de estudo utilizado para a pesquisa ― embora, em sua grande maioria, se correlacionem. Quadro 8 - Identificação dos fatores associados ao abandono do tratamento da tuberculose (relacionados por autor). AUTOR FATORES ASSOCIADOS AO ABANDONO DO TRATAMENTO -Baixa escolaridade CAMPANI et al. -Uso de álcool (2011) -Dependência de drogas -Coinfecção por HIV -Melhora clínica antes do término do tratamento CORTEZI & -Demora na sala de espera SILVA (2006) -Efeitos colaterais da medicação -Exclusão do mercado de trabalho -Sensação de melhora após os primeiros dias da terapêutica FERRACIO et al. -Falta de informações adequadas aos pacientes e seus (2007) familiares sobre a doença -Falta de confiança no serviço de saúde -Alcoolismo e Tabagismo MENDES & -Falta de recursos econômicos para alimentação e locomoção FENSTERSEIFER (2004) -Efeitos adversos do tratamento -Esquecimento na administração do medicamento -Revolta com a doença -Coinfecção por HIV OROFINO et al. (2012) COSTA&GOMES, 2013 -Uso de álcool -Coinfecção por HIV -Baixo nível socioeconômico Página 29 -Uso de álcool e/ou drogas ilícitas PAIXÃO & -Melhora clinica GONTIJO (2007) - Baixo nível socioeconômico -Efeitos colaterais dos medicamentos tuberculostáticos -Uso de drogas ilícitas -Falta de motivação RODRIGUES et -Baixas condições socioeconômicas al. (2010) -Falta de informação por parte dos profissionais de saúde -Falta de organização do serviço de saúde para o controle da TB -Falta de acesso ao serviço de saúde -Coinfecção por HIV -Falta de informação -Representações negativas relacionadas à doença e ao tratamento -Uso de álcool e/ou drogas ilícitas -Tabagismo -Crença de cura através da fé -Problemas socioeconômicos SÁ et al. (2007) -A intolerância medicamentosa -A regressão dos sintomas no início da terapêutica -A longa duração do tratamento -A grande quantidade de comprimidos a serem ingeridos -Problemas ligados ao trabalho desenvolvido por profissionais do PSF -Efeitos colaterais da medicação SOUZA & SILVA (2010) -Uso de álcool e/ou drogas ilícitas -Problemas socioeconômicos -Intolerância medicamentosa -Ilusão da cura antes da conclusão do tratamento -Falta de estrutura familiar -Uso de álcool e/ou drogas ilícitas WENDLING et al. (2012) -Melhora após o início do tratamento -Efeitos colaterais do tratamento -Tempo de espera prolongado para atendimento -Falta de organização do Serviço de Saúde -Dificuldade de acesso ao Serviço de Saúde COSTA&GOMES, 2013 Página 30 Como se pode observar, as causas do abandono do tratamento da TB são variadas, porém há fatores associados em comum que aparecem mais frequentemente, de acordo com os autores pesquisados. Para a realização de uma melhor análise desses fatores coube classificá-los de acordo com a natureza das causas, no que tange ao paciente, aos serviços de saúde e ao processo de tratamento da doença. Entretanto, para os fatores relacionados ao paciente houve a necessidade de subclassificá-los em cinco subgrupos, para uma análise mais precisa. 1. Serviço de Saúde Falta de informação por parte dos profissionais de saúde para com o paciente; Falta de confiança no serviço de saúde; Falta de organização do serviço de saúde para o controle específico da TB; Problemas relacionados ao trabalho desenvolvido por profissionais de Saúde da Família; Tempo de espera prolongado para atendimento; Dificuldade de acesso ao Serviço de Saúde; Falta de informações adequadas aos pacientes e seus familiares sobre a doença. SOUZA et al. (2009) afirmaram que uma equipe de saúde completa aumenta a qualidade e a organização do serviço tendo em seu estudo resultados positivos da adesão, além de uma relação mais estrita entre o médico e o paciente para que haja um aumento da confiança no serviço de saúde ou mesmo no próprio médico contribuindo para a melhoria da aderência ao esquema terapêutico. Ainda, SOUZA et al. (2009) observaram que todos os serviços de referência ofereciam aos pacientes do programa vale-transporte para a locomoção até o centro de saúde, já que a distância foi considerada um fator de risco para o abandono. Por outro lado, PAIXÃO & GONTIJO (2007) não sinalizaram a distância do centro de saúde como sendo um fator de não adesão, já que há pacientes que descrevem ter preferência quando são distantes de seus domicílios devido a TB ser uma doença estigmatizada e assim se sentem mais confortáveis. Sabe-se que a relação entre os profissionais de saúde com o usuário é muito importante para que se tenha uma melhor adesão ao tratamento, já que vários autores relataram que as informações adequadas oferecidas ao pacientes e aos familiares COSTA&GOMES, 2013 Página 31 sobre o tratamento por parte dos profissionais diminuem as chances de abandono. Assim é relevante ressaltar a importância da humanização dessa relação para que haja uma relação de confiança e respeito entre ambos (CHIRINOS & MEIRELLES, 2011; WENDLING et al., 2012). A estrutura física do serviço de saúde e a demora na espera para o atendimento também influenciam, pois não garantem a privacidade do paciente e desestimula o retorno do paciente ao serviço de saúde, o que também favorece para a descontinuidade do tratamento, principalmente em pacientes assintomáticos que se encontram no início do tratamento. Uma boa organização do atendimento com a redução do tempo de espera, atitudes que facilitem o acesso ao serviço de saúde e o treinamento para a capacitação permanente de profissionais são também fatores importantes também para uma boa adesão (BERGEL & GOUVEIA, 2005; RODRIGUES et al., 2010; WENDLING et al., 2012). ALVES et al. (2012) acrescentaram que os profissionais da saúde não devem se limitar apenas aos aspectos da doença, mas também fatores relacionados a seu entorno social aproximando a relação desses profissionais com o paciente se pautando em um cuidado baseado na integralidade, ele ainda enfatiza que um acompanhamento do tratamento pautado no contexto da integralidade com o fornecimento de vínculo, acolhimento e fornecendo assistência às necessidades e apoio para o enfrentamento da situação de adoecimento conduz ao sucesso da terapia. Destaca ainda uma necessidade de uma mudança no atendimento tradicional focado apenas na doença para um atendimento mais amplo, acolhendo as expectativas do paciente promovendo a autonomia do usuário no seu tratamento. Nesse sentido, SÁ e colaboradores (2007) ressaltaram que o conceito de abandono do tratamento não se adequa nesse contexto, uma vez que não são fatores relacionados ao paciente e sim ao serviço de saúde, pois alguns doentes interrompem o tratamento por muitas vezes não terem acesso aos medicamentos por deficiências na organização dos serviços, falta de material, de profissionais, ou pelo fato de que o posto se encontrava fechado. Assim o descuido não está relacionado ao paciente e sim ao serviço de saúde que não ofereceu possibilidades de acesso ao tratamento para a obtenção da cura. No estudo desenvolvido por SOUZA et al. (2009), foram analisados o cumprimento do protocolo e o nível de competência da equipe de saúde durante o ano COSTA&GOMES, 2013 Página 32 de 2006, que são marcados por altos índices de cura e alta adesão, em UBS de referência em Salvador para o tratamento da TB. Porém não atingiu o resultado que se esperava já que apenas 54,6% das unidades em análise alcançaram a taxa preconizada de cura evidenciando a existência de algumas fragilidades no desenvolvimento das ações. Assim, é necessário enfatizar a importância da aproximação e formação do vínculo do profissional com o paciente, uma melhor organização do atendimento, reduzindo o tempo de espera para as consultas e o treinamento em TB para uma boa adesão ao tratamento. Todavia, a capacitação dos profissionais não é por si só suficiente na sequência contínua na atenção à saúde dos usuários, havendo uma necessidade de uma educação permanente para que se obtenha conhecimento e seja possível oferecer subsídios necessários ao cuidado (WENDLING et al., 2012). 2. Processo do Tratamento Melhora clínica antes do término do tratamento; Efeitos adversos do tratamento; Esquecimento na administração do medicamento; Efeitos colaterais dos medicamentos tuberculostáticos; A intolerância medicamentosa; A regressão dos sintomas no início da terapêutica; A longa duração do tratamento; A grande quantidade de comprimidos a serem ingeridos; Ilusão da cura antes da conclusão do tratamento; Melhora após o início do tratamento. Embora PAIXÃO & GONTIJO (2007) tenham descartado as reações adversas como fator de risco para o abandono do tratamento, muitos autores concordam que a principal queixa associada ao tratamento é a intolerância medicamentosa relacionada a efeitos adversos da terapia, a grande quantidade de comprimidos para a ingesta e o tempo prolongado do tratamento. Além disso, por falta de informação prestada por parte dos profissionais de saúde há muitos relatos de pacientes que por se sentirem curados ainda no período do tratamento acabam interrompendo o mesmo, sendo necessário expor a necessidade de continuar a terapêutica. CORTEZI & SILVA (2006) observaram em sua pesquisa que 78,8% dos pacientes interromperam o tratamento entre o segundo e o quarto mês da terapia, período em que o paciente já apresenta COSTA&GOMES, 2013 Página 33 melhora dos sintomas. Isso demonstra a importância de uma orientação adequada por parte dos profissionais de saúde sobre o processo do tratamento, informando sobre a duração do tratamento, a importância do uso regular dos fármacos e as consequências da interrupção do mesmo. Cabe ressaltar ainda que esses fatores relacionados ao processo do tratamento são frequentemente relatados nos estudos analisados, cabendo aos profissionais de saúde responsáveis diretamente pelo tratamento se atentarem ao paciente em alterações que possam ocorrer nele e em possíveis efeitos adversos dos medicamentos. Também é relevante oferecer informações sobre a doença ou ações educativas sobre o processo da terapia advertindo sobre a ocorrência de possíveis efeitos colaterais e reações adversas decorrentes da terapia ressaltando a importância de levá-la até o fim tornando o paciente protagonista do processo terapêutico e detentores de conhecimento, para que assim possa minimizar os riscos do abandono do tratamento (ALVES et al., 2012). RODRIGUES et al. (2010) advertiram ainda para uma atenção maior a pacientes co-infectados por HIV/TB, pois nesse grupo as interações medicamentosas e as reações adversas são maiores se comparadas aos indivíduos HIV negativo. ROCHA & ADORNO (2012) destacaram a toxicidade da terapia, sendo importante observar sinais clínicos indicativos como o comprometimento hepático (icterícia). Nesse caso deve-se suspender a medicação para que se realize uma investigação e para que haja a substituição dos responsáveis pela reação. É afirmado também que o tratamento possui graves eventos adversos que varia de um leve desconforto gastrintestinal à hepatotoxicidade grave, o que acarreta muitas vezes na interrupção ou alteração da terapia. Há casos em que esses eventos são piores que os sintomas da doença, o que significa que os pacientes devem vencer mais um desafio que é o tratamento (SOUZA & SILVA, 2010). 3. Relacionado ao paciente 3.1. Hábitos de Vida Alcoolismo Uso de drogas ilícitas Tabagismo COSTA&GOMES, 2013 Página 34 Os hábitos de vida do paciente também requerem atenção dos profissionais de saúde. Embora tenham poucos fatores, são comumente citados nos estudos e contribuem largamente para a descontinuidade do tratamento e podem acarretar em outros problemas de saúde como a hepatotoxicidade nesses pacientes. O alcoolismo é citado amplamente em todos os estudos, seguido pelo uso de drogas ilícitas, sem especificação pelo tipo de droga, em sua maioria, associado ao alcoolismo, e por último o tabagismo que variam em sua frequência em cada estudo. Há muitos estudos que correlacionam o álcool com um risco elevado de evento adversos da terapia antiTB e também da AIDS, aumentando chances de toxicidade e possibilidade de perda da eficácia. O uso abusivo provoca desordens orgânicas, impossibilitando a adesão e regularidade do tratamento (FILHO et al., 2012). Os pacientes que são usuários de drogas possuem dificuldades relacionadas com o processo de dependência química e assim não investem em seu autocuidado recorrendo menos ao suporte social para o tratamento da doença, o que é causado pelo seu comportamento de autonomia, independência e hostilidade, longe de querer procurar ajuda, isso ocorre tanto em um tratamento autoadministrado quanto em supervisionado (RODRIGUES et al., 2010; SOUZA & SILVA, 2010). Esse consumo de drogas muitas vezes se relaciona ao escapismo, pelo esquecimento da realidade enfrentada, superação de sentimentos de frustração, solidão e medo de morte (FILHO et al., 2012). Assim nota-se o quanto é necessário o monitoramento frequente, apoio e compreensão, além da promoção de informações acessíveis e condições para o estabelecimento de um vínculo entre usuário e profissional da saúde, para que se obtenha uma terapia bem sucedida com a cura do indivíduo e redução das taxas de abandono do tratamento (ROCHA & ADORNO, 2012). 3.2. Aspectos Socioeconômicos Baixa escolaridade Não residir com familiares Exclusão do mercado de trabalho Falta de recursos econômicos para alimentação e locomoção Baixas condições socioeconômicas Falta de informação Problemas socioeconômicos COSTA&GOMES, 2013 Página 35 Falta de estrutura familiar O aspecto socioeconômico é um dos mais importantes índices para abandono do tratamento, uma vez que os grupos com esse baixo índice é mais propício a contrair a TB sendo relatado que esse fato se manifesta na percepção que os doentes têm, interferindo nos problemas de saúde. Nesse âmbito, é essencial a integralidade na equipe de saúde para detectar essa realidade do paciente e assim fornecer subsídios para que ele não interrompa o tratamento, como por exemplo, por falta de locomoção para casos de tratamento supervisionado (RODRIGUES et al. 2010). SOUZA & SILVA (2010) observaram que por muitas vezes por esses pacientes possuírem renda familiar comprometida acabam descontinuando o tratamento por não poderem ficar afastados do trabalho, se este tiver como consequência a diminuição dos vencimentos. Ou mesmo por estarem debilitados devido à doença e assim acabam tendo dificuldade de gerarem renda para a família. Além disso, a baixa escolaridade dificulta a autopromoção de saúde, por isso é importante que os profissionais de saúde realizem uma adequação da linguagem para um melhor entendimento da doença e sua gravidade (CORTEZI & SILVA, 2006). Outro fator relacionado é a falta de informação vinculada a situações de pobreza responsáveis, na maioria dos casos, por altos números de casos de TB. Como o fato da falta de conhecimento por muitos sobre recursos e a gratuidade do tratamento da TB oferecidos pelo SUS, presentes em todas as suas Unidades Básicas. Além disso, é fundamental informar e dar acesso a informação a população sobre forma de transmissão e prevenção da doença, principalmente por ser um grupo de alto risco a essa infecção. Para ALVES et al. (2012) a ausência de uma educação em saúde transformadora contribui para a desmotivação na busca da melhora em seu estado clínico, sendo de fundamental importância ações educativas para o doente e sua família. A estrutura familiar também contribuiu para a falta de adesão ao tratamento. Embora PAIXÃO & GONTIJO (2007) tenham descartado como um fator associado admitiram estar descrito em diversos outras pesquisas. A importância está no fato de fato de que uma organização familiar adequada gera laços emocionais, o que também é relatado por WENDLING et al. (2012) fazendo com que o doente crie um maior autocuidado obtendo vontade de ser curado. Além disso, essa relação exige que o indivíduo se molde as às novas requisições do meio, seja administrando o COSTA&GOMES, 2013 Página 36 medicamento de maneira adequada, comparecendo ao médico, o que pode alterar a funcionalidade familiar. Portanto nem sempre a família gera apenas aspectos positivos na sequência da terapêutica (MENDES & FENSTERSEIFER, 2004). 3.3. Aspectos Psicológicos Revolta com a doença Falta de motivação Representações negativas relacionadas à doença e ao tratamento A baixa autoestima O processo de adoecimento não se restringe a características biológicas somente, o que não é diferente para os casos de adoecimento por TB, que possuem uma diversidade de fatores sendo importante se levar em conta a relação que o indivíduo apresenta com a doença e o tratamento (PROGRAMA DE CONTROLE DA TUBERCULOSE NO MUNICÍPIO DE JACAREÍ, 2004). Em estudos realizados por MENDES & FENRTERSEIFER (2004), houve registros de abandono do tratamento por mudanças sentimentais e comportamentais negativas em relação a doença, carregadas por medo, sendo referente ao impacto do processo de adoecimento associados ao impacto emocional relacionado a doença, esta expõe o indivíduo como frágil atingindo o jeito de ser e altera o relacionamento com outras pessoas. No abandono do tratamento possuem rebeldia como forma de negação da doença. Cabe ressaltar ainda que por a TB ser uma doença associada a baixas condições de vida, miséria e a vícios tornam-a como uma enfermidade estigmatizada no que se refere a um preconceito inerente a doença juntamente com o receio da relação perante a sociedade, e assim o individuo se rotula culpado por estar doente. Portanto, é imprescindível um acompanhamento psicológico em pacientes que se encontram nesse perfil para que ele consiga aceitar a doença e para realizar um acompanhamento do tratamento e das possíveis consequências da doença (PROGRAMA DE CONTROLE DA TUBERCULOSE NO MUNICÍPIO DE JACAREÍ, 2004). COSTA&GOMES, 2013 Página 37 3.4. Doenças Associadas Coinfecção por HIV Alcoolismo O cuidado no tratamento a paciente com coinfecção TB/HIV é mais complicado que em pacientes que são apenas portadores de TB, já que a expectativa de vida desse paciente não é boa, uma vez que não se conhece a cura para o vírus HIV mesmo com os avanços tecnológicos nessa área. E assim o abandono do tratamento ocorre devido à descrença na sua melhora ou mesmo por falta de autoestima para completar a terapia. Existe ainda o fato que durante o tratamento as reações adversas são maiores nesses pacientes, por isso a adesão adequada é considerada um desafio, já que a quantidade de comprimidos para administração é elevada com maiores chances de eventos adversos. Portanto, para a escolha do esquema antirretroviral deve-se avaliar a intolerância, toxicidade e a adesão do paciente. É relatado ainda que há um programa de atendimento domiciliar terapêutico em uma Unidade de Referência de Belém, composto por uma equipe multiprofissional para pacientes que se encontram impossibilitados de se locomoverem até a unidade de saúde, sendo assim Rodrigues et al. (2010) ressalta que esse Programa deveria ser utilizado pata reduzir o abandono do tratamento em casos de coinfecção (RODRIGUES et al., 2010). Além disso, MENDES & FENSTERSEIFER (2004) confirmaram que a AIDS pode acompanhar o processo tuberculoso assim como diabetes mellitus, o alcoolismo, a doença hepática e renal, além de outras doenças serem motivos do agravamento do quadro da TB. Em indivíduos menos favorecidos, a coinfecção compromete a capacidade produtiva, tornando o mesmo incapaz de garantir seu sustento. Muitas vezes esses indivíduos acabam dependendo de auxílio governamental ou não governamental para sobreviver. Cabe enfatizar que esses aspectos acarretam na baixa qualidade de vida do indivíduo, afetando a cura da doença e o controle da AIDS (CORTEZI & SILVA, 2006). FILHO et al. (2006) advertiram que em pacientes coinfectados com o vírus HIV em uso de anti-TB e antirretroviral é recomendado que se realize um acompanhamento com supervisão periódica durante a autoadministração dos fármacos reafirmando medidas profiláticas e preventivas, juntamente com o vínculo, informações esclarecedoras e ocorrência de efeitos colaterais para um maior adesão sem interrupção da terapia. COSTA&GOMES, 2013 Página 38 3.5. Crenças Religiosas Crença de cura através da fé Há casos em que o paciente opta por abandonar o tratamento e recorrer para alcançar sua cura a um poder divino, na fé, e assim despreza as consequências desse ato. SÁ e colaboradores (2007) expuseram que isso ocorre muitas vezes pelo sistema de saúde não suprir a necessidade de tratamento integral, no aspecto emocional e afetivo desse paciente em relação a doença. Esses pacientes devem ser conscientizados, já que o pensamento religioso nesse contexto se torna um obstáculo para a adesão ao tratamento e assim aumenta a possibilidade de contágio com outras pessoas, uma vez que a TB é uma doença infectocontagiosa. Muitas vezes, o sentimento de impotência devido a uma doença transmissível, além da administração de fármacos antiTB com efeitos desagradáveis faz com que as pessoas apelem ao sobrenatural e acreditem que podem ter seus problemas resolvidos milagrosamente ou até mesmo para se obter um suporte para aguentar o sofrimento do processo da doença ou para adquirir conforto emocional (ROCHA & ADORNO, 2012). ESTRATÉGIA DOTS PARA EVITAR O ABANDONO DO TRATAMENTO DA TB As taxas de abandono do tratamento da TB, como se pode observar, ainda são altas, muito distante da preconizada pela OMS, que preconiza taxa inferior a 5%. Em 1993, como uma estratégia mundial, devido ao panorama mundial da doença, a OMS recomendou o directly observed therapy short-course (DOTS), que é um conjunto de estratégias político-administrativas para reduzir o abandono e estimular o uso correto da medicação ― consideradas como uma das melhores intervenções relacionadas ao custo-benefício (TERRA & BERTOLOZZI, 2008; VIEIRA & RIBEIRO, 2008). A estratégia DOTS foi implantada no Brasil em 1998, incorporada ao PNCT da TB, sendo implementada gradativamente nos municípios como estratégia inserida no Sistema Único de Saúde (SUS) (GAZETTA et al., 2007). A estratégia DOTS é composta por cinco pilares: (i) detecção de casos novos através da baciloscopia entre sintomáticos respiratórios; (ii) tratamento padronizado de curta duração, diretamente observado e monitorado em sua evolução; (iii) fornecimento regular de drogas; (iv) sistema de registro e informação que assegure a COSTA&GOMES, 2013 Página 39 avaliação do tratamento; (v) compromisso político, colocando o controle da TB como prioridade entre as políticas de saúde (SÁ et al., 2007; VENDRAMINI et al., 2007). Como um dos pilares, se encontra o Tratamento Supervisionado (TS), que corresponde a uma importante ferramenta para a adesão da terapêutica (SILVA et al., 2007). Além de favorecer a conclusão da terapia, o TS é realizado normalmente no domicílio do paciente ou no próprio serviço de saúde. Abrange ainda a avaliação do perfil sociocultural e econômico do paciente com sua participação no plano terapêutico, observação da ingestão de medicamentos pelo profissional de saúde ou outro responsável, suporte psicológico ao doente e família, busca de sintomáticos respiratórios, entre outros. Cabe ressaltar que a adesão ao tratamento depende também do vínculo e do acolhimento estabelecido pelo profissional de saúde como paciente durante essa prática (GONZALES et al., 2008). SOUZA & SILVA (2010) relataram em sua pesquisa que outro ponto positivo do TS se refere ao reconhecimento do paciente de estar recebendo um atendimento diferenciado, mais integral, o que ocasiona uma conscientização perante a continuidade do tratamento acompanhado do vínculo com o profissional de saúde que realiza o atendimento supervisionado e assim reforça ainda mais essa conscientização. PAZ et al. (2012) afirmaram que o TS deve ser realizado com pelo menos três observações por semana nos dois primeiros meses e uma por semana até o fim do tratamento. Sendo um fator essencial para a adesão ao tratamento e por aumentar a alta por cura. Outra vantagem desse tipo de tratamento apontado por FERREIRA e colaboradores (2005) é que há a possibilidade de se identificar o problema no início, o que possibilita uma ação corretiva imediata. Em comparação com o tratamento não supervisionado, o problema só seria detectado na ausência do paciente para retirar suas medicações, falta nas consultas médicas ou quando o próprio admite não estar seguindo corretamente a terapia como preconizado, o que acarreta na demora para a intervenção da equipe de saúde. Eles enfatizam ainda que o TS não deve ser visto apenas como supervisão da administração dos medicamentos, pois compreende ainda a garantia do registro de dados e informações para um melhor controle da efetividade do tratamento, além de aumentar o envolvimento entre o profissional de saúde, serviço e o paciente, o que facilita a identificação de bacilíferos e tratamento aumentando o impacto do Programa de Controle da Tuberculose. De acordo com BRASIL (2006), embora haja um registro de um aumento progressivo sendo de 3% em 1998 expandindo para 68% em 2005, a cobertura COSTA&GOMES, 2013 Página 40 populacional dessa estratégia no Brasil vem se implementando e se expandindo lentamente. Porém, os benefícios gerados por essa estratégia são notórios. Na região do Tocantins foi realizada uma pesquisa com 886 pacientes sob DOTS e 3.917 sob tratamento auto-administrado. Foram verificadas algumas diferenças importantes, como nas taxas de abandono dos pacientes DOTS que foi de 2.2% contra 11% dos pacientes não DOTS. As taxas de cura respectivamente foram de 79% e 56%, o que justifica a importância e necessidade de se aumentar a cobertura dessa estratégia. Em consonância com o estudo acima, SÁ et al. (2007) ressaltaram que o DOTS culmina em progressos significativos para o controle da doença, comprovados por melhoras nos indicadores epidemiológicos, os quais registram que as taxas de abandono do tratamento são reduzidas, assegurando o acesso aos medicamentos abrangendo casos de TB multirresistente. Contudo, a estratégia DOTS se depara ainda com problemas em sua implantação, que variam de regiões, cidades e de estados. Entre as dificuldades, há a necessidade de se fortalecer o trabalho na atenção básica, já que as ações de controle devem ser implementadas nesse nível de atenção. Assim, o PNCT conta com estratégias do Programa de Saúde da Família (PSF), para uma expansão das ações do controle da TB, tendo como instrumento de trabalho o domicílio e a família (SILVA et al., 2007). Outros problemas apontados por PAZ et al. (2012) foram inerentes ao SUS, como a escassez de recursos humanos e financeiros, o que acarreta em uma dificuldade operacional para empregar essa estratégia. Por isso, ainda existem muitos pacientes em tratamento autoadministrado, como apresentado pelos autores, o qual atinge a maioria dos pacientes das Unidades de Saúde analisadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A TB configura-se como um problema de saúde pública em nível mundial, com reduzidas taxas de cura e índices de incidência elevadas. Além disso, mesmo o tratamento sendo eficaz em quase a totalidade dos casos, os números referentes ao abandono do tratamento continuam crescentes, o que justifica a criação de programas eficazes no controle da doença. O presente trabalho também mostrou os avanços no tratamento da TB e a importância de incentivos para o estudo de novos fármacos com menos efeitos adversos e com uma menor duração do tratamento, já que este último é um dos principais fatores que levam ao abandono da terapia. COSTA&GOMES, 2013 Página 41 O abandono do tratamento foi relatado como um grave problema no que tange ao desenvolvimento de multirresistência e a permanência do indivíduo como fonte de contágio e a continuidade da disseminação da doença. Os fatores que acarretam na interrupção da terapia são multifatoriais, o que dificulta o controle da TB, podendo ser associados (i) às características dos serviços de saúde na atenção ao usuário, (ii) ao processo do tratamento da doença (com ausência dos sintomas no início da terapia e a presença de efeitos adversos) e (iv) por último, fatores pessoais que se referem ao doente, como hábitos de vida, condições socioeconômicas, aspectos psicológicos, associações de doenças e crenças religiosas. Finalmente, a partir da análise desses fatores, observou-se a importância de uma atenção integral ao doente pelos profissionais de saúde, com a criação de um vínculo para que sejam observadas as necessidades do indivíduo, pautado em um serviço de saúde humanizado. Foi relatada também a estratégia DOTS, recomendada pela OMS para o controle dessas taxas de abandono. Esta estratégia possui o tratamento supervisionado (TS) como um dos principais pilares para se diminuir a taxa de abandono. Cabe ressaltar que nos serviços de saúde que possuíam o TS, as taxas de abandono foram menores e as de cura maiores em comparação com os que possuíam apenas o autoadministrado. Além disso, é importante também a capacitação e atualização dos profissionais de saúde por meio de programas de educação permanente, para que estes possam ofertar um serviço de maior qualidade aos usuários. COSTA&GOMES, 2013 Página 42 REFERÊNCIAS ALVES, R. S.; SOUZA, K.M.J.; OLIVEIRA, A.A.V.; PALHA, P.F.; NOGUEIRA, J.A.; SÁ, L.D. Abandono do tratamento da tuberculose e integralidade da atenção na estratégia saúde da família. Texto contexto - enferm., vol.21, n.3, p. 650-657. 2012. BERGEL, F.S.; GOUVEIA, N. Retornos freqüentes como nova estratégia para adesão ao tratamento de tuberculose. Rev. Saúde Pública, vol.39, n.6, p. 898-905. 2005. BRANCO, F. S. C.; PINTO A. C.; BOECHAT, N. A Química Medicinal de Novas Moléculas em Fase Clínica para o Tratamento da Tuberculose. 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