AUTOR ARTIGOCONVIDADO ACADÊMICO MARKETING SOCIAL RESPONSÁVEL Por Adriana R. Ferreira [email protected] coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda PUC - Goiás Quando a ênfase no produto já não cria diferencial mercadológico, administrar a imagem da organização passa a fazer parte das ações estratégicas de marketing. Imagem entendida aqui, como conceitua Bueno (2009), como representação mental de uma organização que evidencia o que os públicos pensam sobre a empresa. Essa percepção da imagem é gerenciada por estratégias de Marketing Institucional, como bem expõe Gil Nuno Vaz em sua obra “Marketing institucional: o mercado de ideias e imagens”. A palavra institucional, explica o autor, é usada para indicar as iniciativas através das quais uma empresa procura fixar junto ao público uma imagem positiva da organização. Para tanto visa associar o seu nome a determinados valores e conceitos consagrados pela opinião pública. O interesse pela sociedade, pelas causas que afetam nossa qualidade de vida e convivência social, é um dos conceitos que as organizações têm REVISTA PANORAMA 02 edição on line num.III - agos.2012 ISSN 2237-1087 buscado associar às suas marcas na intenção de valorizá-las. Para tanto, tem se apoiado nas técnicas do Marketing Social para construir uma imagem positiva. Fortemente disseminada na Inglaterra e na Austrália, a estratégia de Marketing Social, explica Moreira (2008), igualmente conquista adesão no cenário brasileiro. Estudo realizado com 114 das 500 maiores empresas do Brasil,cita a autora, revelou que 25% dessas empresas já realizam ações de Marketing Social e 32% estão se preparando para realizar. O estudo também revela os seguintes dados: 91% dos consumidores concordam totalmente que é importante que as empresas apóiem causas sociais, 74% deixariam de usar um produto para usar outro similar com mesmo preço que tenha parceria com uma ação social. A pesquisa também demonstrou que o Marketing Social gera impacto positivo em vendas, com aumentos variando entre 13 e 116%. Os dados confirmam o parecer de Pringle e Thompson que afirmam que ARTIGO AUTORACADÊMICO CONVIDADO o Marketing Social “[...] é uma forma efetiva de melhorar a imagem corporativa, diferenciando produtos e aumentando tanto as vendas quanto a fidelidade.” (2000, p.3). Além disso, destacam os autores, ações de Marketing Social ajudam a empresa a estabelecer bons relacionamentos com funcionários, fornecedores e órgãos do governo. As ações sociais geram atributos positivos para a imagem da empresa porque demonstram à sociedade que a missão da organização não se restringe apenas a manter com a sociedade uma parceria comercial. Projetos de Marketing Social deixam claro que a empresa se reconhece como elemento do corpo social com condições de contribuir para a melhoria desse corpo, quer seja atacando um problema como a fome, a carência de assistência médica e educacional, quer seja contribuindo para alterar comportamentos 4 prejudiciais à sociedade, como o racismo e a discriminação, quer seja mobilizando as pessoas por uma causa, como o combate à dengue, a importância da preservação do meio ambiente etc. O marketing social “[...] sustenta que a organização deve determinar as necessidades, desejos e interesses dos mercados-alvo, e então proporcionar aos clientes um valor superior, de forma a manter ou melhorar o bemestar da sociedade.” (KOTLER; ARMOSTRONG apud ZENONE, 2006, REVISTA PANORAMA 03 edição on line num.III - agos.2012 ISSN 2237-1087 p. 67). Sendo assim, as ações de Marketing Social focam o grupo social. Portanto, seu interesse é pelos valores, crenças, costumes e comportamentos que permeiam a vida social, a coletividade. Em tempos de competitividade acirrada uma imagem positiva pode diferenciar uma empresa de outra e ganhar a preferência do consumidor, conferindo maior sustentabilidade aos negócios da organização. Mas é preciso deixar claro que ser sustentável exige das empresas equilíbrio entre os três vetores da orientação social: lucro financeiro, satisfação do cliente e atendimento ao interesse público. (GIGLIO apud ZENONE, 2008). Essa integração é que confere às empresas condições efetivas para a formação da goodwill, termo que faz referência à boa imagem institucional. O Marketing Social, “[...] como técnica cujo objetivo é influenciar a ordem social, quer seja para reafirmá-la, quer seja para transformá-la” [...] (ZENONE, 2006, p.66), pode, então, contribuir para a formação da goodwill, mas não pode fazê-lo isoladamente das demais práticas da organização. O Marketing Social não pode, então, ser utilizado por qualquer instituição que vise agregar o valor da responsabilidade social à sua marca. Para atuarem como formadoras e fortalecedoras da goodwill, as ações sociais da empresa precisam encontrar uma organização que, no mínimo, cumpra com sua AUTOR CONVIDADO responsabilidade mercadológica. econômica e Como informa Zenone (2006), a empresa precisa estar em situação positiva de geração de lucro e de satisfação de seus públicos estratégicos para poder investir em Marketing Social de forma eficaz. Afinal, como poderá a empresa querer satisfazer as necessidades sociais da coletividade quando não consegue atender às necessidades de sua própria subsistência? Seria no mínimo contraditório e desabonador encontrar uma situação em que uma organização, por exemplo, não incentiva a escolarização de seus funcionários, mas, no entanto, mantém projeto de apoio à alfabetização de adultos em comunidades carentes. O Marketing Social (MS) responsável exige maturidade empresarial, pois assume a imagem como conseqüência de ações de importância social. O foco primordial deve ser a causa social e não o bônus de imagem que ela possa gerar. O MS deve ser assumido pelas empresas como uma ampliação de seus compromissos, não como ação alternativa de propaganda. Para obter retorno positivo de imagem por meio do Marketing Social, a marca precisa demonstrar mais do que um compromisso puramente monetário ou mecanicista com a sociedade, caso contrário corre o risco de ser vista como aproveitadora de problemas e causas sociais em vez de apoiadora para a resolução desses problemas. A REVISTA PANORAMA 04 edição on line num.III - agos.2012 ISSN 2237-1087 esse respeito Voltoni afirma que [...] a principal crítica que se faz ao Marketing Social é que a ‘intenção de vender’ diminui a legitimidade do interesse pela causa. À sombra dessa ideia está uma percepção de que, neste tipo de parceria, a empresa ganha mais do que oferece, tirando proveito comercial da comoção provocada pelas causas sociais. Marcas globalizadas, fortes e poderosas, é quase certo que Avon e MacDonald’s continuariam vendendo mais produtos se utilizassem suas estratégias de promoção habituais. A diferença é que as ações de Marketing Social beneficiam as organizações sociais, as causas e toda a sociedade. (VOLTONI apud MOREIRA, 2008, p.52) Zenone (2006) explica que o Marketing Social pode ser desenvolvido por meio de uma aliança estratégica entre a empresa e uma organização filantrópica ou beneficiente comprometida com a área de interesse social definida, ou a empresa pode agir diretamente em benefício da causa. Na primeira categoria estão práticas como a do Cartão Visa, parceiro da Fundação Ayrton Sena em ações de melhoria da qualidade da educação pública voltada para crianças e jovens. Cita-se, também, a iniciativa da Coca Cola Brasil, que mantém parceria com cooperativas de catadores de lixo e o programa da rede de drogarias Santa Marta, parceria da Apae em Goiás. Como exemplo da segunda forma AUTOR CONVIDADO de atuação cita-se a iniciativa da rede MacDonald’s, que mantém o Instituto Ronald McDonald, cuja missão é promover a saúde e a qualidade de vida de crianças e adolescentes com câncer. Também a ação dos Correios denominada Papai Noel dos Correios, cujo objetivo é envolver a comunidade na realização do sonho de natal de crianças carentes; e a do banco HSBC, que apóia a Pastoral da Criança no combate à desnutrição infantil. Essas organizações assumem o Marketing Social como parte de sua filosofia e não em substituição às ações de comunicação. Adotam o bem-estar social como objetivo estratégico focado na garantia dos direitos humanos e na equidade social e colhem, como resultado maior, a transformação social, a melhoria da qualidade de vida da sociedade. A contribuição à formação da goodwill é apenas uma conseqüência dessa postura. REFERÊNCIAS BUENO, Wilson da Costa. Comunicação empresarial: políticas e estratégias. São Paulo: Saraiva, 2009. FONTES, Miguel. Marketing Social: novos paradigmas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. MOREIRA, Fabiana Maria Dias de Campos. A ferramenta de marketing relacionado a causas. In: Estudos de Jornalismo e Relações Públicas. Faculdade de Jornalismo e Relações Públicas da Universidade Metodista de São Paulo. Ano 6, n. 11, 2008. PRINGLE, Hamish; THOMPSON, Marjorie. Marketing Social: marketing para causas sociais e a construção das marcas. São Paulo: Makron Books, 2000. TAVARES, Mauro Calixta. Gestão de Marcas: construindo marcas de valor. São Paulo: Harbra, 2008. VAZ, Gil Nunes. Marketing Institucional: o mercado de ideais e imagens. 2. Ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. ZENONE, Luiz Cláudio. Marketing Social. São Paulo: Thomson Learning, 2006 ALVARO DE MELO FILHO é Mestre em Design pela Universidade Anhembi Morumbi. Especialista em Publicidade e Áudio Visual – Ifiteg/UEG e em Formação de Professores para o Ensino Superior – UNIP. É professor na PUC-Goiás e UNIP, nos cursos de graduação em Publicidade e Propaganda/Marketing. Atua como sóciodiretor da empresa Logoweb Design de Marcas e, das franquias Colcci, HRC e Forum, em Goiânia. REVISTA PANORAMA 05 edição on line num.III - agos.2012 ISSN 2237-1087