PRODUÇÃO DE ÁCIDO INDOL ACÉTICO POR BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS ASSOCIADAS À CANA-DE-AÇÚCAR Marisângela Viana Barbosa1, Fernando José Freire2, Júlia Kuklinsky-Sobral3, Michelangelo de Oliveira Silva4, Diogo Paes da Costa5, Maria Camila de Barros Silva5 & Pedro Avelino Maia de Andrade5 Introdução Tendo em vista a posição de destaque na economia mundial, a cultura da cana-de-açúcar está freqüentemente inserida em programas de pesquisas, que buscam a introdução de características de interesse agronômico, como a resistência a pragas e patógenos ou aumento de produtividade [1]. Neste contexto, as bactérias promotoras do crescimento vegetal têm apresentado potencial aplicação agrícola, uma vez que a interação destes microrganismos podem beneficiar a planta hospedeira por diferentes mecanismos, tais como a fixação biológica de nitrogênio, sendo estas bactérias conhecidas como diazotróficas, produção de reguladores de crescimento vegetal, como o ácido indol acético, ou a produção de antimicrobianos, entre outros [2, 3, 4]. Assim, a prospecção de diferentes mecanismos de interação bactéria-planta poderá beneficiar a utilização destes microrganismos na agricultura, buscando o crescimento da produtividade com sustentabilidade. Portanto, o objetivo deste trabalho foi selecionar bactérias diazotróficas associadas a variedades de canade-açúcar com capacidade de produzir ácido indol acético (AIA). Material e métodos A. Linhagens bacterianas Foram analisadas 51 linhagens de bactérias diazotróficas isoladas de folhas, raízes e rizoplano de plantas de cana-de-açúcar, pertencentes à coleção de culturas bacterianas do Laboratório de Genética e Biotecnologia Microbiana (LGBM) da Unidade Acadêmica de Garanhuns (UAG/UFRPE) (Tabela 1). B. Seleção de bactérias produtoras de ácido indol acético (AIA) A seleção das bactérias diazotroficas produtoras de AIA foi realizada por um método colorimétrico que é específico para caracterização de produção do fitohormônio. As colônias isoladas foram inoculadas em meio líquido TSA 10% (Trypcase Soy Agar), suplementado com 5mM do aminoácido triptofano, e incubados sob agitação (120rpm) a 280C, na ausência de luz, por 24h. Em seguida, 500µL da cultura bacteriana foram acrescidas de 500µL do reagente de Salkowski (2% de FeCl3 0,5M em 35% de ácido perclórico) e incubadas por 30min a 280C, na ausência de luz. Os experimentos foram realizados em triplicatas e o resultado positivo foi caracterizado pela formação de uma coloração rósea. Durante os experimentos, foi utilizado como controle positivo a linhagem EN303 (Pseudomonas oryzihabitans), bactéria diazotrófica endofítica de soja, produtora de auxina, solubilizadora de fosfato inorgânico e fixadora de N2 [5]. Resultados e discussão A identificação de linhagens bacterianas diazotróficas com capacidade de produzir ácido indol acético foi caracterizada pela presença da coloração rósea devido à oxidação de compostos indólicos por sais férricos contidos no reagente Salkowski [3]. A intensidade da coloração rósea depende da concentração de AIA presente no meio, sendo possível observar, mesmo visualmente, uma diferenciação entre as linhagens, que variou do laranja ao rosa mais intenso (Fig. 1A). Foi observado que das 51 linhagens de bactérias diazotróficas avaliadas, de folha, raiz e rizoplano de canade-açúcar, 78% foram capazes de produzir AIA em meio de cultura suplementado com o aminoácido triptofano, que é um precursor da via biossintética do AIA [6]. Resultado semelhante foi observado por KUSS [7], que encontrou __________________________________ 1. Aluna de Graduação em Agronomia da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, s/n, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. E-mail: [email protected] 2. Professor Adjunto do Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 3. Professora Adjunta da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, s/n, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. 4. Doutorando do PPG em Ciência do Solo, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 5. Alunos de Graduação em Agronomia da Unidade Acadêmica de Garanhuns, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Bom Pastor, s/n, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. Apoio financeiro: CNPq e FACEPE. cerca de 80% de bactérias isoladas da rizosfera de arroz com a capacidade de produção de auxinas. Foi possível observar também que quando analisado a região da planta da qual a linhagem bacteriana foi isolada, a porcentagem de produtoras de AIA foi semelhante (Fig. 1B). Diversos trabalhos exploram a presença de mais de uma característica envolvida na promoção de crescimento vegetal por bactérias associadas às plantas, pois do ponto de vista biotecnológico, bactérias que possuam mais de uma característica para a promoção de crescimento vegetal, são almejadas e rastreadas para uma possível aplicação no campo objetivando o aumento da produção agrícola [3, 5, 8]. Portanto, as bactérias avaliadas no presente trabalho são linhagens adaptadas à região Nordeste e que podem ser, futuramente, aplicadas em campo, para aumentar a disponibilidade de nitrogênio e ácido indol acético para a planta hospedeira. [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] ROSENBLUETH, M.; MARTINEZ-ROMERO, E. 2006. Bacterial endophytes and their interactions with hosts. Molecular Plant and Microorganisms Interactions, 8: 827-837. MARCHIORO, T.E.L. 2005. Produção de ácido indol acético e derivados por bactérias fixadoras de nitrogênio. Tese de Doutorado, Pós-Graduação em Microbiologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. STURZ, A.V.; CHRISTIE, B.R.; NOWAK, J. 2000. Bacterial endophytes: potential role in developing sustainable systems of crop production. Critical Reviews in Plant Sciences, 19: 1-30. KUKLINSKY-SOBRAL, J.; ARAÚJO, W.L.; MENDES, R.; GERALDI, I.O.; PIZZIRANI-KLEINER, A.A.; AZEVEDO, J.L. 2004. Isolation and characterization of soybean-associated bacteria and their potential for plant growth promotion. Environmental Microbiology, 6: 1244-1251. PATTEN, C.L.; GLICK, B.R. 1996. Bacterial biosynthesis of indole-3-acetic acid. Canadian Journal of Microbiology, 42: 207220. KUSS, V. A. 2006. Fixação de Nitrogênio por Bactérias Diazotroficas em Cultivares de Arroz Irrigado. Rio Grande do Sul. Tese (Doutorado em Ciência do Solo). Curso de Pós-graduação em Ciência do Solo, Universidade Federal de Santa Maria. HALDA-ALIJA, L. 2003. Identification of indole-3-acetic acid producing freshwater wetland bacteria associated with Juncus effucus L. Cambridge Journal of Microbiology, 49: 781-787. Referências [1] CIDADE, P. A. D; GARCIA, O. R.; DUARTE, C. 2006. Morfogênese in vitro de variedades brasileiras de cana-deaçúcar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 41: 385-391. Tabela 1. Linhagens bacterianas, isoladas de folhas, raízes e rizoplano de plantas de cana-de-açúcar (Saccharum spp.), pertencentes à coleção de culturas bacterianas do Laboratório de Genética e Biotecnologia Microbiana da UAG/UFRPE. FOLHA RAIZ RIZOPLANO UAGC392 UAGC394 UAGC396 UAGC399 UAGC404 UAGC405 UAGC406 UAGC408 UAGC409 UAGC410 UAGC411 UAGC416 UAGC417 UAGC418 UAGC420 UAGC421 UAGC423 UAGC424 UAGC426 UAGC428 UAGC431 UAGC434 UAGC435 UAGC437 UAGC442 UAGC443 UAGC447 UAGC451 UAGC452 UAGC453 UAGC454 UAGC455 UAGC457 UAGC458 UAGC459 UAGC465 UAGC467 UAGC469 UAGC470 UAGC471 UAGC472 UAGC473 UAGC478 UAGC479 UAGC480 UAGC481 UAGC482 UAGC492 UAGC493 UAGC497 UAGC498 Figura 1. A) Gradiente de cores observadas nos testes de seleção de bactérias produtoras de AIA. 1: Cultura bacteriana com reagente de Salkowski - caracterizada como +++, resultado semelhante ao controle positivo; 2: Cultura bacteriana com reagente de Salkowski - caracterizada como ++; 3: Cultura bacteriana com reagente de Salkowski – caracterizada como +; 4: Controle negativo, meio de cultura sem inoculo bacteriano com reagente de Salkowski. 1Padrões de cores observados durantes os testes de seleção de bactérias produtoras de ácido indol acético (AIA); B) Freqüência relativa (%) de bactérias diazotróficas produtoras de ácido indol acético (AIA), associadas a folhas, raízes e rizoplano de plantas de cana-de-açúcar.