Process Safety Risk Management x Property Insurance Risk Management in Braskem S/A Marcus Vinícius Machado Braskem S/A [email protected] Renata Nascimento de Campos OCS – Odebrecht Administradora e Corretora de Seguros [email protected] ABSTRACT O gerenciamento de riscos dos seguros da Braskem auxilia a quantificar os ganhos financeiros em segurança de processos através da sistemática de preparação para as inspeções de seguro, também chamadas de auditoria. Esta sistemática visa a evolução da avaliação dada pelos inspetores da avaliação de seguros, gerando como conseqüência um maior poder de negociação frente às seguradoras, pois as plantas encontram-se num nível melhor de segurança de processos, ocasionando assim uma redução dos prêmios do seguros, quando o mercado encontra-se em situação favorável para redução de taxas. Como os itens avaliados numa inspeção de seguros são muito relacionados com os quesitos de segurança de processos, conseguimos, desta forma, avaliar a evolução do gerenciamento de segurança de processos. 1. Introdução A quantificação dos ganhos obtidos com o desenvolvimento e a consolidação de uma cultura em Segurança de Processos é um desafio que é colocado a todos aqueles que trabalham na área. Afinal, trabalhar sempre com o sentido de desenvolver o comprometimento com a segurança de processos, fomentando o desenvolvimento de habilidades que permitam a sustentabilidade do sistema de gestão, a disciplina no cumprimento dos processos em conjunto com o aprendizado oriundo de experiências passadas, dentro ou fora da organização, exige grandes esforços. Esforços esses que, na maioria das vezes, não apresentam ganhos que podem ser mensuráveis de forma tão objetiva. Quantificar os ganhos obtidos com revisões periódicas de estudos de riscos de processo (que exige uma quantidade relevante de horas de trabalho de técnicos, engenheiros e especialistas), não é tão simples como se apresentar os ganhos na melhoria de qualidade na especificação de um determinado produto, ou na descoberta de uma nova maneira de obter o mesmo produto utilizando-se menor quantidade de energia. Quando falamos em ganhos financeiros em segurança de processos, torna-se mais difícil ainda a sua quantificação, pois atualmente os conceitos mais modernos de quantificação de ganhos não conseguem demonstrar ganhos financeiros com a evolução da segurança de processos, e uma das formas encontradas para facilitar esta quantificação foi através da contratação dos seguros. Para algumas empresas, cujo processo de contratação de apólice de seguro para grandes riscos é feita com base na observação dos aspectos prevencionistas (com o foco na verificação nos sistemas de proteção contra incêndio), e não apenas nos aspectos mitigadores, a quantificação objetiva desses ganhos é facilitada. Isso acontece porque a avaliação feita pelos seguradores considera a existência de uma cultura em segurança de processos como um dos fatores determinantes para a definição do custo do seguro da planta. Desta forma, à medida em que melhora-se a condição de segurança de processos na fábrica, melhora-se a possibilidade de reduzir os custos provenientes da contratação de seguros. 2. Contratação de Seguros dos ativos da empresa Diferentemente do que ocorre no Brasil, no mercado internacional, os seguros para empresas químicas, petroquímicas e óleo & gás pertencem ao que chamamos de mercado de Energy. Geralmente, o seguro de Property ou All Risks é o seguro que possui maior apólice e o maior prêmio a ser pago, pois este tipo de seguro é destinado a proteger os ativos contra todos os riscos de origem súbita e imprevista, que podem causar danos à planta petroquímica. Durante o processo de contratação ou renovação da apólice engenheiros das seguradoras e resseguradoras realizam auditorias nas plantas, que podem levar de 1 a 4 dias dependendo do tamanho da planta, com o intuito de: 1) Verificar o estado do bem que está sendo segurado e coletar informações da planta para fins de cotação da apólice; 2) Colher informações a respeito da existência de um sistema de gerenciamento de segurança de processos para que a seguradora possa fazer a avaliação do risco; 3) Caso necessário, recomendar ações para melhoria do risco, ou seja, aumentar a segurança do bem segurado e assim reduzir a probabilidade de um sinistro ocorrer. Por esta razão, quanto maior for o nível da cultura em segurança de processos de uma organização, menores serão as taxas aplicadas para a definição do prêmio de seguro, que são definidos baseados nos itens abaixo: Atividade Industrial Valor dos ativos Situação do mercado segurador Classificação de riscos (Risk Rating) A atividade industrial refere-se ao tipo de indústria do qual a fábrica faz parte, existem taxas de seguros diferentes para os diferentes tipos de indústria (mineração, siderurgia, automobilística etc). O valor dos ativos representam o valor das instalações seguradas. Construção civil, máquinas e equipamentos integram o valor dos ativos, que servirão como base para a definição do prêmio. A situação do mercado segurador é um fator que varia ano a ano, pois em períodos de crise o mercado segurador fica mais conservador, o que afeta diretamente na concessão de taxas para a renovação das apólices; A classificação de riscos, ou Risk Rating, é uma classificação dada pelos engenheiros das seguradoras, na qual eles pontuam as questões de segurança de processos, para então mostrar ao mercado segurador esta pontuação. Todas as informações fornecidas pelo segurados são levadas em consideração para o cálculo do Risk Rating, onde o quesito Gerenciamento é o que possui maior relevância (cerca de 50%). O Risk Rating varia de acordo com a qualidade dos itens que foram auditados e pode aumentar, ou diminuir, de acordo com o que é encontrado durante cada auditoria. Ou seja, uma boa classificação de riscos em uma primeira auditoria não garante que a nota será mantida em uma segunda auditoria. O Risk Rating é unicamente determinado pelas auditorias. Sendo assim, quanto melhor for o resultado da auditoria, maior será o Risk Rating e, consequentemente, a planta estará numa melhor posição em termos de segurança de processos quando for comparada a plantas similares ao redor do mundo. 2.1 Itens avaliados numa auditoria de seguros O fato de uma planta possuir um bom Risk Rating tem como conseqüência uma maior facilidade para reduzir o custo do prêmio do seguro. A seguir, a relação do que geralmente é avaliado pelos engenheiros das seguradoras: Itens de Avaliação Tópicos - Layout da fábrica - Layout da unidade Plantas e Edifícios - Tipo de construção - Utilidades - Armazenamento e Transporte - Salas de controle: Localização, design e proteção Controle e Proteção - Controle de processo - Isolamento e Emergency Shut-Down - Organização - Operações e Permissão de Trabalho - Manutenção e controle de contratados Gerenciamento - Inspeção - Engenharia e Gerenciamento de Mudanças - Atendimento à emergência - Safety e Segurança Patrimonial - Fireproofing Proteção contra Incêndio - Detetores de fumaça e de gás - Sistema de água de incêndio - Proteção fixa de incêndio Tabela 1: Itens avaliados durante uma inspeção da seguradora Como pudemos ver, muitos dos itens avaliados pelas seguradoras dizem respeito a normas internacionais OSHA, NFPA, Best Practices. Isso significa que, ao invés de simplesmente buscar se a planta possui um sistema de combate a incêndio e/ou uma equipe de brigada de emergência, atendendo às melhores normas (que continua sendo necessário independentemente do tipo de avaliação que está sendo aplicada) a metodologia busca identificar outros pontos relacionados com a forma preventiva de gerenciamento utilizadas nas empresas, como procedimentos de gerenciamento de mudanças, de permissão de trabalho, treinamento dos operadores etc. A seguir, um detalhamento maior sobre o que é analisado durante a auditoria: Localização da Planta: São avaliados os riscos naturais a que a planta está exposta (tais como terremotos, furacões, inundações, etc.); Planta e Edifícios: São avaliadas as questões de lay-out da planta e das áreas industriais (pode influenciar na magnitude de um evento, caso exista uma proximidade entre as plantas quer facilite a ocorrência do efeito dominó). Além disso, outras informações como as características construtivas, e confiabilidade dos sistemas de utilidades, armazenamento e transporte também são verificadas; Controle e Proteção: São avaliados os sistemas de proteção existentes na sala de controle (tais como resistência a explosão e pressurização de sala de controle e sistema de detecção de incêndio/fumaça em galerias de cabos). A existência de um programa de gerenciamento de alarmes é verificada na avaliação dos sistemas de controle existentes na planta, bem como a confiabilidade dos sistemas de isolamento e emergência; Gerenciamento: Trata-se do item de maior peso na determinação do Risk Rating. A avaliação é iniciada desde a verificação da estrutura organizacional, passa pelo processo de recrutamento e formação de novos empregados, práticas operacionais (procedimento de troca de turno, by-pass de sistemas de segurança e liberação de serviços, programa de reciclagem de operadores e atualização de manuais e procedimentos operacionais). Além disso, a avaliação do item Gerenciamento busca na área de manutenção a identificação das práticas que permitem a gestão da integridade da planta (acompanhamento do back-log de cada especialidade, programa de manutenção preventiva, teste de válvulas de alívio, qualificação dos técnicos, etc.) e das empresas contratadas. A área de engenharia também é envolvida, dado que a atualização dos documentos de engenharia, a gestão de mudança das instalações e a adoção de ferramentas de análise de riscos não poderiam deixar de ser verificadas. Práticas desenvolvidas pela área de segurança ocupacional (auditoria de permissão de trabalho e a gestão do plano de resposta a emergência, por exemplo) também estão no escopo do item Gerenciamento. Apesar de não ser a realidade das plantas localizadas em território brasileiro esse item ainda avalia as práticas que são desenvolvidas pela área de segurança patrimonial, pois a entrada de pessoas não autorizadas em áreas industriais pode ser a causa raiz de grandes acidentes; Proteção Contra Incêndio: São verificadas quais dispositivos de proteção contra incêndio, existem na planta (tais como fireproofing, sistemas de detecção de gás e fumaça, hidrantes e sistemas de proteção fixa instalados na planta). Importante citar que a auditoria de seguro não se restringe apenas à entrevistas com representantes de cada área para a obtenção das respostas aos itens descritos acima. Parte da agenda dos auditores contempla uma vistoria na área industrial e na sala de controle, onde na maioria das vezes constata-se a consistência das respostas que são dadas nas entrevistas. Se durante a vistoria de área são encontradas drenos e vents sem caps, ou se os desenhos disponibilizados na sala de controle não estiverem atualizados, ou se o sistema de gestão de jumps não estiver atualizado nada adiantará informações dadas durante as entrevistas. Ou seja, desvios encontrados na vistoria realizada pelos auditores têm peso na avaliação do Risk Rating e ainda poderão ser origem de recomendações de melhoria. Devido à estreita proximidade entre Gerenciamento de Segurança de Processos e Seguros All Risks, existe a oportunidade de promover melhorias em Segurança de Processos através do atendimento às sugestões/recomendações das seguradoras, como tem ocorrido nos últimos anos. Consequentemente, existe a oportunidade de se quantificar a evolução do gerenciamento de segurança de processos de cada planta através do Risk Rating. 3. Auditoria na Braskem SA Em 2008, cinco plantas do negócio de PP e PE da Braskem SA foram inspecionadas dentro do processo de renovação da apólice de seguro. A Braskem produz petroquímicos básicos (eteno, propeno, benzeno etc) como primeira geração, além da segunda geração, na qual é a líder na América Latina, que produz polietileno, polipropileno, PVC e CloroSoda. A organização já se encontrava em processo de construção e evolução da sua cultura em Segurança de Processos, desde o ano de 2005, quando os primeiros procedimentos corporativos relacionados ao assunto foram elaborados e emitidos. Nessa mesma época, foi iniciado um plano de treinamento dos seus colaboradores em ferramentas de análise de riscos, além da instituição de um responsável, em cada planta, pela condução dos assuntos relacionados à Segurança de Processo. Outras iniciativas foram desenvolvidas na seqüência. Por exemplo: Atendimento (parcial ou total, dependendo de cada planta) às recomendações e sugestões geradas nas inspeções anteriores; Busca de sinergia com outros programas já existentes na organização, Melhoria do “housekeeping” das áreas industriais (manutenção da limpeza de área, eliminação de “short-boltings”, correção na sinalização de equipamentos e áreas desativadas, por exemplo); Desenvolvimento de procedimentos de recrutamento, seleção e reciclagem de colaboradores, explorando as parcerias existentes com centros de formação técnica e universidades; Padronização do procedimento de permissão de trabalho (tipos de formulários diferentes para cada tipo de serviço – frio, quente e espaço confinado); Desenvolvimento de auditorias de permissão de trabalho, com relatórios semanais e mensais, para análise crítica das lideranças e definição ações para possíveis necessidades de correção; Melhorias no procedimento de gestão de jumps; Redimensionamento da brigada de emergência de cada planta, com possibilidade de apoiar umas as outras em caso de grandes ocorrências, Controle do back-log da manutenção (por especialidade); Identificação de detectores de fumaça sob o piso de salas de controle; Em paralelo com a revisão e elaboração de procedimentos, foram realizados alguns investimentos, tais como instalação de fire-proofing em estruturas e bandejas de cabos próximas a bombas que movimentam hidrocarbonetos e atualização de sistemas de automação 4. Conclusões Como resultado das ações acima mencionadas, houve um aumento significativo do rating de três das cinco plantas que foram inspecionadas. Isto significa que, do ponto de vista dos representantes da seguradora, as plantas inspecionadas melhoraram a qualidade em segurança de processos. O quesito Gerenciamento, que é o mais importante para avaliação, pois apresenta o maior peso, também apresentou uma evolução significativa para 4 das cinco plantas, como mostra o gráfico abaixo: Gráfico 1: Evolução das notas do quesito gerenciamento Este aumento no risk rating é muito importante para a empresa para criar uma imagem melhor no que diz respeito a segurança de processos, o que é muito considerado durante a negociação da renovação do seguro. Em 2008, a taxa aplicada na apólice de All Risks da Braskem sofreu uma redução de 23,5%. Esta redução da taxa foi causada por uma séria de fatores, mas certamente o Risk Rating tem uma importância significativa para a definição da taxa. Consequentemente, o aumento do Risk Rating para as plantas de PE e PP ocasionaram uma redução de 14%, de acordo com o modelo de divisão de custos de 2008. O resultado obtido demonstra que ações desenvolvidas com o objetivo de aumentar a Segurança de Processo podem ser traduzidas em ganhos financeiros diretos por meio da negociação que envolve o processo de renovação da apólice de seguro. Considerando que ainda há espaço para o aperfeiçoamento de práticas, ao mesmo tempo em que outros investimentos estão sendo concluídos, espera-se que além do aumento do nível de segurança de processo das plantas, outros ganhos poderão ser alcançados na próxima renovação da apólice. É importante ressaltar que não há nenhuma relação direta entre o volume de investimentos feitos o atendimento às recomendações da seguradora e a porcentagem de redução de taxas. Como já mencionado, existem outros fatores envolvidos na definição do prêmio, como situação do mercado segurador, histórico de sinistros, valor dos ativos etc. Entretanto, a experiência nos mostra que a melhoria no gerenciamento de segurança de processos nos traz resultados rápidos sem gastar grandes quantias de dinheiro, além de nos auxiliar a evitar a realização de grandes investimentos para remediar estragos causados por um acidente.