EFEITO DA HERBIVORIA E TAMANHO FOLIAR NO - PDBFF

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EFEITO DA HERBIVORIA E TAMANHO FOLIAR NO ESFORÇO REPRODUTIVO DE Piper sp. (PIPERACEAE) Anacy Miranda, Caroline Arantes, Heloísa Dantas Brum & Thiago Queiroz INTRODUÇÃO flores ou frutos mais próximos (Larcher, A herbivoria é uma interação 1986). Neste caso, a planta pode ter seu antagonista que pode ser considerada esforço reprodutivo afetado pela taxa de como uma forma de predação que não herbivoria na folha mais próxima à leva à morte da presa (Begon et al., 2006), inflorescência, pois haverá uma menor sendo caracterizada pelo consumo de quantidade de fotossintatos disponível partes vegetais por animais. Os efeitos da para o investimento na produção de flores herbivoria nas plantas dependem da parte e frutos. da planta que foi consumida. No caso de Na Costa Rica, uma espécie do consumo de folhas, por exemplo, a gênero Piper, apresentou menor esforço redução da área fotossintetizante pode reprodutivo em inflorescências opostas às reduzir a alocação de recursos para a folhas parasitadas por galhas (L. Lopes, produção de flores (Begon et al., 2006). com. pess.). Nesse contexto, escolhemos A alocação de recursos nas plantas uma espécie de Piper sp. (Piperaceae), pode ocorrer em diversos níveis (Larcher, com inflorescências do tipo espiga e 1986). Os produtos da fotossíntese são disposição oposta às folhas (Ribeiro et al., constantemente translocados dos tecidos 1999), como modelo de estudo para fotossinteticamente ativos para os locais responder às seguintes perguntas: (1) A onde serão utilizados ou armazenados. No área consumida na folha oposta à nível do indivíduo, os carboidratos inflorescência sintetizados nas folhas podem ser reprodutivo em Piper sp.? Nossa hipótese translocados para partes distantes das é que quanto maior a proporção de área folhas, como as raízes. Em algumas consumida espécies, os recursos sintetizados em uma inflorescência, menor será o esforço folha são utilizados em grande parte nas reprodutivo. Nossa previsão é que quanto influencia na folha o esforço oposta à maior a área consumida da folha oposta à possuíam flores em toda a sua extensão e, inflorescência menor será o volume da portanto, já haviam atingido seu volume inflorescência. E (2) a área da folha oposta máximo. Determinamos o volume das à inflorescência influencia o esforço inflorescências a partir do volume do reprodutivo em Piper sp.? Nossa hipótese cilindro. Estimamos a área foliar e a área é que quanto maior a folha oposta à consumida de cada folha delimitando o inflorescência maior será o esforço contorno da folha e o contorno das áreas reprodutivo. Nossa previsão é que quanto consumidas sobre uma folha de papel maior a área foliar da folha oposta à milimetrado. Para a análise dos dados, utilizamos inflorescência, maior será o volume da inflorescência. um modelo linear misto (MLM) considerando a área foliar total e a área MATERIAL & MÉTODOS foliar consumida como variáveis preditoras Desenvolvemos o estudo em uma do volume da inflorescência. Ainda em área de terra firme localizada na Reserva campo, observamos que havia uma ampla do km 41 a cerca de 80 km ao norte de variação nos tamanhos das inflorescências Manaus (2°30’S; 59°52’O). A espécie entre os indivíduos, por isso consideramos modelo Piper sp., assim como outras cada indivíduo como um bloco. O MLM espécies do gênero, se caracteriza pelo estima a variação entre inflorescências da hábito arbustivo e ocorrem principalmente mesma planta e entre plantas (DP). O em áreas alteradas (Ribeiro et al., 1999). coeficiente Amostramos 85 inflorescências em 17 magnitude do efeito das variáveis indivíduos de Piper sp. na beira da estrada preditoras, e o valor de t testa se o ZF‐3. Em cada um desses indivíduos coeficiente é diferente de zero. medimos o diâmetro e o comprimento (precisão RESULTADOS de 0,5 mm) de cinco inflorescências com flores abertas e do teste representa a Um total de 85 inflorescências e as às folhas opostas correspondentes foram inflorescências medidas. As inflorescências medidas nos 17 indivíduos amostrados na coletamos as folhas opostas beira da estrada. A proporção média da entre indivíduos. Entretanto, a variação área foliar consumida foi de 4,9 ± 8,8%. Os nos indivíduos (DP = 0,31) foi maior que a indivíduos amostrados apresentaram uma variação entre indivíduos (DP = 0,20; ampla Figura 1). variação no volume das inflorescências no mesmo indivíduo e 3
Figura 1. Variação no volume das inflorescências (cm ) em cada indivíduo de Piper sp. amostrados. Os quadrados indicam a média e as barras verticais indicam os valores mínimos e máximos dos volumes. Não houve relação entre o volume da inflorescência e a área foliar (coeficiente = 7,58 x 10‐3; t = 0,588; p = 0,558) e entre o volume da inflorescência e correspondente a interação entre área foliar e a área foliar (coeficiente = 2,98 x 10‐3; t = 1,545; p = consumida 0,127; Figura 2), entre o volume da (coeficiente = 2,23 x 10‐3; t = 0,952; p = inflorescência e a área foliar consumida 0,345; Figura 3). Figura 2. Relação entre o volume da inflorescência e a área foliar em Piper sp. Cada gráfico representa um indivíduo (A ‐ T). . Figura 3. Relação entre o volume da inflorescência e a área foliar consumida em Piper sp. Cada gráfico representa um indivíduo (A ‐ T). DISCUSSÃO Na população inflorescência, de Piper indicando que sp. possivelmente os recursos utilizados para estudada, o esforço reprodutivo não o desenvolvimento da inflorescência não depende da área foliar oposta à venham apenas da folha oposta. Pode ser que exista uma distribuição dos produtos Geralmente os fotossintatos da fotossíntese para as outras partes da produzidos nas folhas mais baixas em uma planta e que a alocação ocorra no nível do planta são translocados para o sistema ramo. A alocação de recursos entre a folha radicular (Larcher, 1986). Isso indica que a e a inflorescência oposta observada em translocação de recursos pode se dar em outra espécie de Piper na Costa Rica (L. diferentes proporções dependendo da Lopes, com. pess.) pode não representar distância da área fotossintetizante para a uma regra para o gênero e a alocação de área de consumo. Ainda assim, mesmo recursos pode que todas as partes de uma planta depender, por exemplo, do número de recebam a mesma quantidade de luz e estruturas reprodutivas presentes no apresentem a mesma taxa fotossintética, mesmo ramo. a translocação de fotossintatos pode ser para a reprodução É importante considerar a grande diferente em função das diferentes variação no volume das inflorescências, demandas por recursos que partes tanto nas inflorescências do mesmo distintas da mesma planta possuem, já indivíduo quanto entre indivíduos. Isso que, por exemplo, ramos com flores têm indica que a alocação de recursos não uma maior demanda por recurso que ocorre de maneira equivalente para todas ramos vegetativos. as partes da planta, e que o esforço Neste estudo, o tamanho da reprodutivo pode ser influenciado por inflorescência não dependeu da área outros por consumida por herbívoros na folha oposta. exemplo, uma alocação diferencial de Os graus de herbivoria que encontramos recursos de acordo com a idade e posição foram baixos, considerando que, em das folhas nos ramos, já que a taxa florestas tropicais cerca de 11% da fotossintética diminui com a idade da biomassa vegetal é consumida por folha, mas aumenta com a incidência herbívoros (Coley & Aide, 1991). Portanto, luminosa que cada folha recebe (Larcher, a intensidade de herbivoria pode não ter 1986). sido suficiente a ponto de manifestar um fatores. Pode ocorrer, efeito significativo no volume das inflorescências. Além disso, a espécie pode REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS possuir um mecanismo de compensação Begon, M.; J.L. Harper & C.R. Townsend. como aumento de produtividade por área 2006. Ecology: from Individuals to fotossintética (Begon et al., 2006), que faz Ecosystems. com que, até determinado grau de Publications, Oxford. herbivoria, não ocorra redução no esforço Blackwell Scientific Coley, P.D. & T.M. Aide. 1991. Comparison reprodutivo. Outra explicação para isso é of que para algumas plantas, quando há temperate and tropical broad‐leaved translocação de fotossintatos das folhas forests, pp. 25‐50. Em: Plant‐animal para outras regiões da planta, as Interactions: Evolutionary Ecology in estruturas reprodutivas têm preferência Tropical and Temperates Regions (P.W. diante de outras partes vegetativas Price; (Larcher, 1986). Fernández, & W.W. Benson, eds.). Sugerimos que estudos futuros herbivory and T.M. defenses Lewinsohn; in G.W. John Wiley & Sons, New York. realizem a investigação do padrão de Larcher, W. 1986. Ecofisiologia Vegetal. alocação recursos em escala maior, como Editora Pedagógica e Universitária por exemplo, no nível do ramo. Ou ainda LTDA, São Paulo. experimentos em condições controladas, Ribeiro, J.E.L.S.; M.J.G. Hopkins; A. testando se indivíduos da mesma espécie Vicentini; C.A. Sothers; M.A.S. Costa; utilizam a mesma estratégia de alocação J.M. Brito; M.A.D. Souza; L.H.P. de recursos em locais sombreados e Martins; L.G. ensolarados. Assunção; E.C. Pereira; C.F. Silva; M.R. AGRADECIMENTOS Mesquita & L.C. Procópio. 1999. Flora Agradecemos a Lu pela orientação da Reserva Ducke: Guia de Identificação e ajuda com as análises estatísticas e ao Zé das Plantas Vasculares de uma Floresta pela ajuda nas correções. de Terra‐Firme na Amazônia Central. INPA‐DFID, Manaus. 816 p. ORIENTAÇÃO: Luciano Lopes Lohmann; P.A.C.L. 
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