31 de Julho a 02 de Agosto de 2008 A UTILIZAÇÃO DE AGROTÓXICOS NA FLORICULTURA DO CARIRI CEARENSE Girlaine Souza da Silva Alencar (CEFET-CE) [email protected] Francisco Hugo Hermógenes de Alencar (CEFET-CE) [email protected] Paulo José Adissi (UFPB) [email protected] Resumo Este estudo analisou os agrotóxicos utilizados em uma Associação de produtores de flores e plantas ornamentais do Cariri cearense, incluindo Classe, indicação para o uso na floricultura e uso na Associação, dosagem recomendada e dosagem utilizada. Concluiu-se que 38,46% dos agrotóxicos utilizados não têm indicação para o uso na floricultura. Dos agrotóxicos indicados para o uso na floricultura, 25% das dosagens utilizadas estão acima da recomendada, 31,25% estão abaixo das dosagens recomendadas e 12,5% estão sendo usados em classes não recomendadas pela ANVISA. Desta forma, há uma necessidade urgente de um acompanhamento mais eficiente dos órgãos de extensão junto aos produtores de flores e plantas ornamentais do Cariri cearense. Abstract This study analyzed the pesticides used in an Association of producing of flowers and ornamental plants of Cariri from Ceará, including Class, indication for the use in the floriculture and use in the Association, recommended dosage and used dosage. It was ended that 38,46% of the used pesticides don’t have indication for the use in the floriculture. Of the suitable pesticides for the use in the floriculture, 25% of the used dosages are above recommended her, 31,25% are below the recommended dosages and 12,5% are being used in classes no recommended by ANVISA. This way, there is an urgent need of a more efficient attendance of the extension organs close to the producing of flowers and ornamental plants of Cariri from Ceará. Palavras-chaves: Agrotóxicos. Dosagens. Floricultura. IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008 1. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA O Ceará tem se destacado nos últimos anos como um importante produtor e exportador de flores e plantas ornamentais. Entre os anos de 1999 a evolução da área plantada cresceu 1152%, passando de 25 ha para 288 ha (Figura 1) e atualmente ocupa o 1º lugar nacional em exportações de rosas e o 2º em exportações de bulbos, rizomas, tubérculos e similares (SEBRAE, 2008). 288 310 260 206 210 ha 160 127 160 110 60 25 35 48 79 10 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Figura l - Evolução da área cultivada de flores no Ceará. Fonte: SAD/AGROPOLOS, 2007. Entretanto há poucos estudos o que se refere à demanda de agrotóxicos para o incremento desta produção. Sabe-se, porém, que o Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos e só no setor agrícola, cerca de 12 milhões de trabalhadores rurais são expostos diariamente a estes produtos (OLIVEIRA-SILVA apud VEIGA, 2007). Neste estudo, objetivou-se analisar os agrotóxicos utilizados em uma Associação de produtores de flores e plantas ornamentais do Cariri cearense, de acordo com os parâmetros recomendados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). IV CNEG 2 IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008 2. METODOLOGIA O método utilizado foi o estudo de caso por se entender que é a maneira mais apropriada para o delineamento e desenvolvimento desta pesquisa. O universo pesquisado foram 10 unidades de produtivas uma Associação de flores e plantas ornamentais do Agropolo Cariri, localizada no Distrito de Santa Fé, município de Crato – CE. As variáveis observadas foram as referentes aos produtos utilizados no manejo das culturas: classificação toxicológica, classificação ambiental, indicação para o uso na floricultura, classe e uso na Associação, dosagem recomendada e dosagem utilizada de acordo com a ANVISA. 3. DESENVOLVIMENTO 3.1. USO DE AGROTÓXICOS A diminuição ou perda de produtividade leva os produtores a utilizarem os agrotóxicos como forma de reverter à situação. Entretanto, o uso indiscriminado e dosagens inadequadas, poderão vir a causar sérios problemas à longo prazo nas culturas, como seleção dos agentes resistentes aos princípios ativos, elevar os riscos à saúde humana e ao ambiente. Apesar dos produtos da floricultura não serem consumidos, são muito manuseados pelos trabalhadores, uma vez que todas as fases do processo produtivo são manuais. E de acordo com Veiga (2007), a absorção dos agrotóxicos pode ser feita não apenas ingerindo os produtos contaminados, mas por via dérmica e inspirado pelos pulmões. Quanto às conseqüências ambientais, são incalculáveis, uma vez que se pode detectar a presença de resíduos de agrotóxicos em regiões distantes do planeta e sem nenhum tipo de agricultura, como nas polares, foram detectadas resíduos de inseticidas no tecido adiposo de mamíferos aquáticos (GRISOLIA, 2005). 4. RESULTADOS A maioria dos agrotóxicos utilizados tem indicação para o uso na floricultura, entretanto, estes produtos são usados para todas as culturas da Associação. Não levam em consideração a especificidade do produto para cada cultura. IV CNEG 3 IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008 Foram listados 26 agrotóxicos (Quadro 1), dos quais 10 não tem recomendação técnica para o uso na floricultura: Bravik 600 CE, Folidol 600, Isatalonil, Keltane CE, Kumulus DF, Previcur N, Sevin 480, Tamaron BR, Thiobel 500 e Trigard 750 PM. Dos 16 agrotóxicos com indicação para o uso na floricultura, 5 são utilizados dosagens abaixo da recomendada: Alto 100, Captan 500 Pm, Cofidor 700 GrDa, Manage 150 e Rubigan 120 CE. Destes, o mais preocupante é Cofidor 700 GrDa, cuja indicação é de 360g/100 litros dágua e se usa apenas 30g/100 litros dágua. Em relação às dosagens acima da recomendada, verificou-se 4 agrotóxicos: Cercobin 700 Pm, Decis 25 CE, Manzate 800 e Sanmite. Dentre estes o mais preocupante é Decis 25 CE, cuja indicação é de 30ml/100 litros dágua e se usa 100ml/100 litros dágua. A classificação toxicológica e a classificação ambiental dos agrotóxicos utilizados variam de I – extremamente perigoso/produto altamente perigoso até IV – pouco tóxico/pouco perigoso. Em geral, utilizam os produtos conforme a classe de cada um, porém, utilizam os produtos Thiobel 500 (não tem indicação para floricultura) e Vertimec como fungicida, entretanto, a classe destes produtos é acaricida e inseticida. pro duto Alto 100 Classificação Classificação Indicação para o toxicológica ambiental uso na floricultura – III medianamente II – Produto Classe Uso na Associação Do reco Crisântemo Fungicida Fungicida 15ml/10 Não Acaricida Acaricida inseticida inseticida Crisântemo Fungicida Fungicida 200g/10 Gladíolo e rosa Fungicida Fungicida 240g/10 Crisântemo, Fungicida Fungicida 70g/100 muito perigoso tóxico Bravik 600 CE I – extremamente * perigoso Decreto Registro 24.114/34 Cabrio top – III medianamente II – Produto muito perigoso tóxico Captan 500 I – extremamente * PM perigoso Decreto Registro 24.114/34 Cercobin IV 700 PM tóxico – pouco II – Produto muito perigoso gladíolo, hortência e rosa Confidor IV 700 GrDa tóxico Decis 25 CE III IV CNEG – pouco III – Produto Crisântemo Inseticida Inseticida 360g/10 Produto Gladíolo Inseticida Inseticida 30ml/10 perigoso – I – 4 IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008 Decis 25 CE medianamente altamente tóxico perigoso – III – I Produto medianamente altamente tóxico perigoso Gladíolo Inseticida Inseticida 30ml/10 Quadro 1 - Relação dos agrotóxicos utilizados, classe toxicológica, classificação ambiental, indicação para o uso na floricultura, classe, uso na dosagem utilizada. Fonte: ANVISA, 2006. Produto Dithane PM Folidol 600 Isatalonil Classificação Classificação Indicação para o toxicológica ambiental uso na floricultura IV – Pouco II – Produto tóxico muito perigoso II – Altamente II tóxico muito perigoso II – Altamente * tóxico Decreto – Produto Registro Classe Uso na Do Associação Crisântemo, gladíolo Acaricida e rosa fungicida Não Acaricida Acaricida inseticida inseticida Não Fungicida Fungicida Não Acaricida Combate reco Fungicida 200g/10 24.114/34 Kelthane CE Kumulus DF Manage 150 Manzate 800 II – Altamente II tóxico muito perigoso IV – Pouco – Produto – IV Pouco tóxico perigoso II – Altamente II tóxico muito perigoso – III – * Produto Registro medianamente Decreto tóxico 24.114/34 Orthene 750 IV BR tóxico Pirate III – Pouco III – nematóide Não Acaricida Acaricida fungicida fungicida Crisântemo Fungicida Fungicida 100g/10 Crisântemo, Fungicida Fungicida 180g/10 Acaricida Acaricida 100g/10 inseticida inseticida Acaricida Acaricida inseticida inseticida Fungicida Fungicida gladíolo, rosa, Produto hortência e orquídea Crisântemo, rosa perigoso – medianamente II – a Produto Crisântemo, rosa muito perigoso 50g/100 tóxico Previcur N IV – Pouco tóxico III – Produto Não perigoso Quadro 1 - Relação dos agrotóxicos utilizados, classe toxicológica, classificação ambiental, indicação para o uso na floricultura, c recomendada e dosagem utilizada (Continuação). Fonte: ANVISA, 2006. Produto Classificação Classificação Indicação para o Classe Uso na Do toxicológica IV CNEG ambiental uso na floricultura Associação 5 reco IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008 Rovral SC IV – Pouco tóxico Rubigan 120 III CE medianamente III – Produto Crisântemo Fungicida Fungicida perigoso – II – 100m d Produto Rosa Fungicida Fungicida 60ml/10 Crisântemo Acaricida Acaricida 75ml/10 Não Inseticida Inseticida Não Acaricida Acaricida inseticida inseticida Acaricida Acaricida inseticida inseticida muito perigoso tóxico Sanmite I – extremamente I – perigoso altamente Produto perigoso Sevin 480 SC Tamaron BR Thiobel 500 III – * Registro medianamente Decreto tóxico 24.114/34 II – Altamente II tóxico muito perigoso II – Altamente II tóxico muito perigoso – – Produto Produto Não fungicida Trigard 750 II – Altamente II PM tóxico muito perigoso Vertimec III medianamente tóxico – II – – Produto Produto muito perigoso Não Acaricida inseticida inseticida Cravo/crisântemo/ro Acaricida Acaricida sa inseticida inseticida 50ml/10 fungicida Quadro 1 - Relação dos agrotóxicos utilizados, classe toxicológica, classificação ambiental, indicação para o uso na floricultura, c recomendada e dosagem utilizada (Continuação). Fonte: ANVISA, 2006. IV CNEG 6 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil ,17, 18 e 19 de agosto de 2006 5. CONCLUSÔES Este estudo analisou os agrotóxicos utilizados em 10 unidades de produção de flores e plantas ornamentais de uma Associação de flores e plantas ornamentais do Cariri cearense. E apesar de terem assistência técnica, oferecida por órgão de extensão, 38,46% dos produtos utilizados não têm indicação para o uso na floricultura e dos produtos utilizados com indicação para floricultura, em 25% as dosagens utilizadas estão acima da recomendada em 31,25% estão abaixo da dosagem recomendada e 12,5% estão sendo usados em classes não recomendadas pela ANVISA. Os agrotóxicos utilizados de maneira e quantidades inadequadas poderão aumentar as vulnerabilidades socioambientais, contaminando os trabalhadores e o meio ambiente, além de aumentar a suscetibilidade das culturas a agentes patogênicos, uma vez que as dosagens utilizadas não são compatíveis com as dosagens recomendadas e nem com a classe da cultura cujo produto é utilizado. 6. REFERÊNCIAS ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Brasil. Disponível em http://www4.anvisa.gov.br/AGROSIA/asp/frm_dados_agrotoxico.asp. Acesso em 08/08/2006. GRISOLIA, Cesar Koppe. Agrotóxicos, mutações, câncer & reprodução. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 2005. SEBRAE - Exportação de flores e plantas cresce 25% no primeiro bimestre do ano Disponível Em: http://www.sebraesc.com.br/novos_destaques/oportunidade/default.asp?materia=13899 Acesso em: 10/01/2008 VEIGA, Marcelo Motta. Agrotóxicos: eficiência econômica e injustiça socioambiental. Ciência e saúde coletiva, Março 2007, vol. 12, nº 1, p 145-152. ISSN 1413-8123.